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Blog do Rodrigo - 1000 dias

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SHUFFLE Há 1 ano: Costa Rica Há 2 anos: Costa Rica

Agora sim, na Costa Rica!

Costa Rica, Cidade Neily, Zancudo

Orla de coqueiros na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica

Orla de coqueiros na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica


Há muito tempo que eu ouço falar das belezas da Costa Rica. Praias virgens, florestas verdejantes com rica vida animal, dezenas de parques nacionais espalhados pelo país e montanhas e vulcões com trilhas bem demarcadas. Não foi bem isso que vimos nas nossas primeiras horas no país, mas não demorou muito para encontramos a Costa Rica dos meus sonhos...

Mapa do sul da Costa Rica, da região de Zancudo e Pavones, com as estradas de acesso

Mapa do sul da Costa Rica, da região de Zancudo e Pavones, com as estradas de acesso


Na verdade, nossa primeira noite por aqui foi disputando espaço com centenas de sacoleiros e/ou amantes de rodeio. Toda essa área próxima à fronteira com o Panamá é uma Zona Franca e agora, num fim de semana já bem próximo do natal, muita gente do país corre para cá atrás de compras baratas. Os hotéis estavam lotados de vans que traziam gente da capital San Jose para dois dias de compras na fronteira. Compras de dia e rodeios de noite, ao que parece. Passamos ao lado de um arena entre as duas maiores cidades da região na nossa procura por um lugar para dormir que estava transbordando de gente.

Cruzando rio no caminho para as praias de Zancudo e Pavones, no litoral Pacífico da Costa Rica

Cruzando rio no caminho para as praias de Zancudo e Pavones, no litoral Pacífico da Costa Rica


Mas, enfim, encontramos um lugar em Cidade Neily para dormir e hoje cedo, enquanto tomávamos o café, as pessoas já saiam em direção à fronteira, enquanto outros ainda acordavam com cara de ressaca da noitada de ontem. Mas a luz do dia já começava a dar outra cara para o país, a primeira vez que víamos de verdade a Costa Rica, as montanhas ao longe, a mata ali perto, a estrada bem meia boca, comparada com a pista dupla da parte panamenha da Panamericana.

Plantação de Palmeiras Africanas no caminho para as praias de Zancudo e Pavones, no litoral Pacífico da Costa Rica

Plantação de Palmeiras Africanas no caminho para as praias de Zancudo e Pavones, no litoral Pacífico da Costa Rica


Passamos num supermercado e numa farmácia e, finalmente, pudemos seguir para nosso primeiro destino turístico no país, no qual queríamos ter chegado ontem. Fica no litoral do Oceano Pacífico (assim como boa parte dos países centroamericanos, a Costa Rica é banhada tanto pelo Pacífico como pelo Atlântico), bem próximo da fronteira com o Panamá. Aqui estão as praias de Pavones, muito procurada pelos surfistas, e Zancudo, mais apropriada aos banhistas.

Espelho d'água na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica

Espelho d'água na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica


Essa parte do litoral é acessada por estradas bem deterioradas, misto de asfalto acabado com terra esburacada. Por isso, são poucas as pessoas que vem para cá. Tanto que, ontem de noite, vários costarriquenhos foram incisivos para que não viéssemos pela noite, pois poderia ser perigoso. Cansados e prorizando a segurança, resolvemos gastar nossas últimas forças encontrando um hotel ali perto da panamericana mesmo, mas hoje, com a luz do dia, ninguém impediria a Fiona de chegar ao Oceano Pacífico!

O vasto Oceano Pacífico em Zancudo, no litoral da Costa Rica

O vasto Oceano Pacífico em Zancudo, no litoral da Costa Rica


Dito e feito! Vencemos os pouco mais de cinquenta quilômetros em uma hora e meia, passando por muita mata, rios e plantações de palmeira africana, de onde extraem óleo por aqui. Tão perto da maior rodovia do continente e tão longe do mundo e da civilização, era esse o nosso sentimento. Finalmente, chegamos na bifurcação entre as duas praias e acabamos optando pela praia de banhistas, a Zancudo. A Pavones, dos surfistas, ficou para amanhã, possivelmente...

A Pousada Sol y Mar em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica

A Pousada Sol y Mar em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica


Mais uma meia hora de buracos e chegamos na praia. A gente se instalou na pousada Sol y Mar, bem em frente à praia. na verdade, a única coisa que nos separa da areia é um sereno jardim de coqueiros. Agora sim, estava na Costa Rica da minha imaginação!

Cocos no nosso quintal em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica

Cocos no nosso quintal em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica


A praia é de areia escura, toda protegida por uma orla de coqueiros à se perder de vista. E o melhor de tudo, a água do mar não é gelada!!! Acho que é a primeira vez que nado no Oceano Pacífico de forma confortável, sem passar frio. Passamos uma meia hora dentro d'água sm vontade de sair e, quando saímos, não foi pela temperatura, mas pela fome!

Visão do nosso fim de tarde em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica

Visão do nosso fim de tarde em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica


Na própria pousada tem um simpático bar/restaurante, desses de telhado de palha. Serve para congregar estrangeiros, quase todos americanos, turistas ou moradores da região, que vem se encontrar por aqui nos finais de semana tomando uma cerveja gelada neste ambiente idílico, de frente ao mar e com uma constante brisa refrescante.

Belo fim de tarde na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica

Belo fim de tarde na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica


Toda essa mordomia pela bagatela de 45 dólares, com direito à chalé espaçoso, estamos mesmo é pensando em ficar outro dia inteiro por aqui mesmo. Amanhã cedo, corridinha na praia, que é ótima para caminhar. Banho de mar e de chuveiro no jardim. Almoço sadio refrescado pelo vento e sombra dos coqueiros, onde amarramos também uma rede para descansar do stress do dia no final de tarde. É... acho que vamos mesmo ficar!

Belo fim de tarde no Oceano Pacífico em Zancudo, no litoral da Costa Rica

Belo fim de tarde no Oceano Pacífico em Zancudo, no litoral da Costa Rica

Costa Rica, Cidade Neily, Zancudo, Praia

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Na Casa Redonda

Guatemala, Livingston

Chegando de volta ao nosso hotel, depois de muito caiaque, trilha e cachoeira (região de Livingston, na Guatemala

Chegando de volta ao nosso hotel, depois de muito caiaque, trilha e cachoeira (região de Livingston, na Guatemala


Ontem pela manhã, ainda na cidade de Livingston, o Chris veio nos encontrar com seu barco para nos levar à “Round House”, sua pousada na beira do rio Dulce, longe de tudo e de todos. Nós havíamos ligado para lá na noite anterior, combinando com ele a carona e a estadia por lá. Essa foi uma valiosa dica do nosso amigo velejador Gaston, que sempre passa por lá no seu caminho para Rio Dulce, quando está fugindo dos furacões ou simplesmente indo passar umas férias na Europa. O Gaston havia dito para passarmos uns dias na cidade de Livingston mesmo, mas que não poderíamos deixar de passar uns dias na Round House também, escondida pela densa mata, longe de qualquer cidade ou estrada e bem em frente ao rio. Não resistimos á tentação e nem ao conselho!

A caminho da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala

A caminho da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala


O pier da Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala

O pier da Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala


O Chris é um inglês que já se mudou para a Guatemala há uns dez anos, sempre aqui na área do rio Dulce. Nas suas idas e vindas pelo rio, uma casa arredondada (e caindo aos pedaços) lhe chamava a atenção. Estava muito bem localizada, mas os donos quase nunca apareciam. Há uns dois anos, junto com um sócio americano, teve a chance de comprar a tal casa e, depois de uma boa reforma, a região ganhou uma nova e excelente opção de hospedagem: a Round House. Junto com sua bela e simpática namorada holandesa, a Dani, eles administram a pousada e a estão ampliando aos poucos, transformando-a num verdadeiro oásis a meio caminho entre Livingston e os lagos que alimentam o rio Dulce.

Olha o trânsito na frente da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala

Olha o trânsito na frente da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala


Maravilhoso entardecer sobre o rio Dulce, em frente à Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala

Maravilhoso entardecer sobre o rio Dulce, em frente à Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala


Nós chegamos em plena Semana Santa, o feriado mais movimentado da América Central. É uma semana de férias e o turismo interno movimenta e lota todos os hotéis, principalmente aqueles na região do litoral. Já antecipamos grandes dificildades para nós, que nunca reservamos nada, para os próximos dias. Mas não aqui na Round House. O Chris e a Dani não gostam do tipo de movimento que essa semana trás e evitam reservas. Preferem descansar e estar prontos para as semanas seguintes, de movimento normal. Mas abriram uma exceção para nós. Para nós e para a Serena, uma simpática italiana que trabalha em um hostal em Livingston, mas resolveu tirar um fim de semana sabático. Ela também aguardava pelo Chris ontem de manhã e fomos todos juntos à Round House, onde a Dani nos esperava.

Hora do lanche na Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala

Hora do lanche na Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala


Nadando no rio Dulce, emfrente à Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala

Nadando no rio Dulce, emfrente à Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala


A pousada é realmente uma delícia! Descemos pelo píer e uma passarela e escada de madeira nos levam a um edifício redondo, todo de madeira também, já no meio das árvores. No andar de baixo, uma grande e confortável sala de estar com um charmoso bar no meio. Não há paredes, apenas folhagens de árvores que protegem as laterais. No andar de cima, outra área de estar que dá acesso aos quartos que a circundam. Um charme só! As refeições (café, lanche e jantar) são preparadas e servidas ali mesmo, no andar de baixo, sempre comida muito saudável.

A deliciosa 'living room' da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala

A deliciosa "living room" da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala


Com a Dani, uma das donas da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala

Com a Dani, uma das donas da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala


Nossa rotina era de muito bate-papo na salona de estar, deitado em alguma rede ou sentado em algum sofá, intercalado com mergulhos no rio ali na frente, ora enfrentando a corrente rio abaixo, ora enfrentando a corrente rio acima, por causa da maré que entrava. A única coisa chata era que, nesses dias de Semana Santa, o tráfego de barcos aumenta bastante. Assim, além de me desviar dos patos e garças que nadam e voam por ali às dezenas, também tinha de me preocupar com os barcos. Enfim, nada que não pudesse ser administrado. A opção era fica ali perto do píer mesmo, caso da Ana, ou nadar até o meio do rio e não dar bola para os barcos, o que era o meu caso.

Reencontrando o Antoine, no pier fo Hotelito Perdido, em um tributário do Rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala

Reencontrando o Antoine, no pier fo Hotelito Perdido, em um tributário do Rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala


A Serena, nossa companheira de caiaque em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala

A Serena, nossa companheira de caiaque em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala


Nossa primeira ideia era passar apenas uma noite por ali, mas foi paixão a primeira vista e vimos que seria difícil ir embora. Depois da delicosa primeira refeição e das conversas já regadas à cerveja, já não tivemos mais dúvidas: ficaríamos outo dia” Uma paraíso desse merecia, certamente!

Andando de caiaque em afluente do rio Dulce, perto do nosso hotel Round House, na reguão de Livingston, na Guatemala

Andando de caiaque em afluente do rio Dulce, perto do nosso hotel Round House, na reguão de Livingston, na Guatemala


Durante passeio de caiaque, encontro com garça em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala

Durante passeio de caiaque, encontro com garça em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala


E assim foi, 48 horas de muita saúde e diversão. O dia começava com um bom mergulho, antes que os barcos começassem a passar, seguia com o café da manhã, pausa para leitura, muita conversa, cerveja gelada, mais mergulhos, agora com barcos, lanche delicioso, a sagrada hora da siesta, mais mergulho com barcos, cerveja, pôr-do-sol, conversa mole, jantar deliciso, cerveja com um toque de tequila e, com a lua quase cheia, mais mergulho no rio, sem barcos, barulho da selva ao longe (selva, de noite, é bem barulhenta!) e pensamento nos tubarões-touro, conhecidos por subirem até aqui, apesar de não haver registro de ataques. Eu não queria ser o primeiro, mas também não deixaria um medo infantil me privar de um mágico mergulho noturno num rio iluminado pela lua. Mas, pelo sim, pelo não, e pelo tal medo infantil, não me enrolava muito na água, não, hehehe.

Cabana em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala

Cabana em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala


A paradisíaca cachoeira perto da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região  de Livingston, na Guatemala

A paradisíaca cachoeira perto da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala


A única quebra na rotina foi um grande passeio de caiaque que fizemos hoje. Eu e a Ana em um caiaque duplo e a Serena nos acompanhando, em um caiaque simples. Subinos o rio Dulce cerca de um quilômetro e entramos em um afluente, aí já bem longe do movimento chato de barcos. Mais alguns minutos e chegamos a outro hotel famoso por aqui, o Hotelito Perdido, onde reencontramos um amigo feiro em Livingston, o francês Antoine, um ótimo papo. Foi só o tempo de recuperarmos o fôlego e retomamos o caminho, um longo percuso ainda à frente. Nossa ideia era chegar até o fim desse afluente, mais uns seis quilômetros de remadas. Sempre atravessando um bucólico e tranquilo cenário, águas calmas e garças voando ou nos observando.

A paradisíaca cachoeira perto da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região  de Livingston, na Guatemala

A paradisíaca cachoeira perto da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala


Refrescando-se em uma bela cachoeira, depois de muito caiaque e uma trilha para lá chegar (perto de Livingston, na Guatemala)

Refrescando-se em uma bela cachoeira, depois de muito caiaque e uma trilha para lá chegar (perto de Livingston, na Guatemala)


No fim do rio, bem mais longe do que havíamos antecipado, a Serena já teve de voltar. Ela tinha de pegar um barco de volta à Livingston, onde trabalho a esperava. Já eu e a Ana, amarramos nosso caiaque por lá e, carregando os remos, fizemos uma trilha de cerca de um quilômetro até uma belíssima cachoeira que nos havia sido indicada pelo Chris.

Felizes da vida, depois de chegar na cachoeira em afluente do rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala

Felizes da vida, depois de chegar na cachoeira em afluente do rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala


Andando de caiaque em afluente do rio Dulce, perto do nosso hotel Round House, na reguão de Livingston, na Guatemala

Andando de caiaque em afluente do rio Dulce, perto do nosso hotel Round House, na reguão de Livingston, na Guatemala


Incrível como as expectativas influem no nosso conceito final de algum lugar. Essa cachoeira, por exemplo: tanto o Chris como o Antoine disseram que ela era mais ou menos, que o caminho para se chegar lá, remando pelo rio, era mais interessante. Então não esperávamos muito. Eis que ali chegamos e adoramos! Água verdinha e refrescante, vinda diretamente das montanhas. Uma ótima piscina para nadar! Para quem não esperava muita coisa, não poderia ter sido melhor a surpresa. Por mais de meia hora, nós nos refestelamos no poço e na cachoeira, fazendo valer todo o esforço de ter chegado até lá.

Noite regada à tequila, com o Chris, um dos donos da nossa pousada no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala

Noite regada à tequila, com o Chris, um dos donos da nossa pousada no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala


Olha só o tamanhozinho da garrafa de tequila, no bar da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala

Olha só o tamanhozinho da garrafa de tequila, no bar da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala


Na foto de satélite abaixo, aparece marcado o local da Round House, o afluente do rio Dulce que percorremos por inteiro, o local onde deixamos nossos caiaques e a cachoeira deliciosa. No zoom máximo, é até possível ver nosso hotel e a própria cachoeira. Afastando um pouco a imagem, aparecerá Livingston e é fácil perceber aonde está localizada a Round House, logo após o canyon cheio de curvas no final do rio Dulce.


Ver rio Dulce num mapa maior

Foi com dor no coração que deixamos a Casa Redonda. Facilmente passaríamos outros dias por lá, em companhia tão agradável e ambiente tão gostoso. O Chris, além de ter feito (e estar fazendo!) um ótimo trabalho na Round House, como engenheiro, arquiteto, marceneiro e faz tudo, tudo o mais ecologicamente responsável possível, também é um cervejeiro de mão cheia. Ele tem uma micro-cervejaria ali mesmo e nossas longas conversas sobre a vida no país, a violência, o desenvolvimento da região, o turismo e até mesmo sobre a vida animal das redondezas (assunto em que a Dani é expert!) era sempre acompanhada de cerveja da melhor qualidade. Quem é que quer deixar um lugar desses, com comida, bebida, rio e cachoeiras para nadar, muita sombra e brisa correndo por uma sala aberta e cheia de sofás e almofadas?

Com o Chris e seu sócio, donos da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala

Com o Chris e seu sócio, donos da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala


Hora da partida da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala

Hora da partida da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala


É... mas tínhamos de seguir em frente. Em Rio Dulce nos esperava a Fiona e, do outro lado da fronteira, era chegada a vez de conhecermos Honduras, o único país que ainda não estivemos aqui na América Central. Afinal, cruzamos o país em apenas poucas horas, na subida para o Alaska. Não dá para dizer que já conhecemos. Mas agora sim, vamos ver o país com a devida calma. Honduras, aí vamos nós!

A caminho de Rio Dulce, depois de quatro dias em Livingston, na Guatemala

A caminho de Rio Dulce, depois de quatro dias em Livingston, na Guatemala

Guatemala, Livingston, cachoeira, caiaque, Rio

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Pelo Sertão Afora

Brasil, Bahia, Mangue Seco, Sergipe, Pontal, Feira de Santana

Estrada cruzando o sertão da Bahia em direção à Chapada Diamantina

Estrada cruzando o sertão da Bahia em direção à Chapada Diamantina


Hoje deixamos Mangue Seco e o mar para trás. Depois de tanto tempo na costa, desde Vitória no Espírito Santo até a fronteira de Bahia e Sergipe, já era hora de voltarmos ao interior. Serão três semanas no sertão, até voltarmos para a costa em Recife, em tempo de voarmos para Fernando de Noronha, no dia 10 de dezembro.

Despedida de Mangue Seco (BA), na travessia para  Pontal (SE)

Despedida de Mangue Seco (BA), na travessia para Pontal (SE)


Logo cedo, o Givaldo foi nos buscar de barco. Que tristeza deixar Mangue Seco... Mas, é assim que tem sido em todos os lugares e já estamos acostumados. Durante a travessia para Sergipe o Givaldo foi dando uma aula de pescaria e de técnicas de navegação de barcos pesqueiros. Aula prática, pois tinha um pesqueiro à vela ali do lado, apostando corrida com a gente.

Barco à vela de pescador, durante a travessia Mangue Seco (BA) - Pontal (SE)

Barco à vela de pescador, durante a travessia Mangue Seco (BA) - Pontal (SE)


A Fiona nos esperava e logo deixamos Sergipe para trás. Vamos voltar com mais tempo depois de Noronha! Voltamos para a Bahia e seguimos rumo à Feira de Santana, o principal entroncamento rodoviário do estado. Parece que todas as estradas passam por lá. Pois é, até Feira a viagem foi tranquila mas depois, um trânsito infernal até a bifurcação da estrada, uns 60 km depois. A grande maioria dos caminhões seguem pela BR-116, em direção ao sul do país. E uns poucos felizardos seguem na Salvador-Brasília. Estrada muito boa e vazia. Uma reta só!

Mapa da nossa viagem entre Mangue Seco e Lençóis (BA)

Mapa da nossa viagem entre Mangue Seco e Lençóis (BA)


Não demorou muito e já estávamos em pleno sertão. Vegetação totalmente distinta daquela do litoral. Ao invés de coqueiros, cactus! Lá fora, longe do confortável ar condicionado da Fiona, 37 graus!!!

Vegetação de caatinga no interior da Bahia

Vegetação de caatinga no interior da Bahia


Primeira visão da Chapada Diamantina, em Lençóis - BA

Primeira visão da Chapada Diamantina, em Lençóis - BA


No fim de tarde, avistamos a Chapada Diamantina, com sua silhueta inconfundível Emocionante revê-la! Já estive aqui 3 vezes, a primeira há vinte anos, a última há dez anos. É um lugar especial, sem dúvida. Quando algum gringo me pergunta qual lugar deve conhecer no Brasil, a Chapada Diamamntina sempre, sempre, sempre está na minha lista. Seja de dez lugares, de cinco ou de três.

Visão de Lençóis - BA

Visão de Lençóis - BA


A gente se instalou na Pousada Casa da geléia e fomos passear e jantar nas simpáticas ruas de paralelepípedo de Lençóis, a mais famosa cidade da região. Cidade histórica, casario antigo, pousadas e restaurantes charmosos. Uma graça!

Casario antigo em Lençóis - BA

Casario antigo em Lençóis - BA


De noite, já na pousada, tivemos uma longa conversa com o Lúcio, grande conhecedor da região. Ele nos ajudou a montar um roteiro de dez dias por aqui. E não achem que é muito não! É pouco! Acho que seria preciso um mês para explorar tudo o que o parque e a região oferecem: cachoeiras, montanhas, cavernas, lagos subterrâneos, caminhadas e até um mini-pantanal. Além de várias cidades históricas e charmosas e muita comida boa. O lugar é o paraíso do turismo. Pelo menos, do turismo que eu gosto de fazer...

Roda de capoeira em Lençóis - BA

Roda de capoeira em Lençóis - BA


Então, é isso. Amanhã começamos nosso tour pela Chapada. Depois, teremos só mais dez dias para cruzar o sertão. Mas, como já disse, depois de Noronha, voltaremos à ele.

Tomando vinho em rua charmosa de Lençóis - BA

Tomando vinho em rua charmosa de Lençóis - BA

Brasil, Bahia, Mangue Seco, Sergipe, Pontal, Feira de Santana,

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De Volta à Praia

Porto Rico, Fajardo, Luquillo

Ana aproveitando a sombra para ler sobre USVI, em para de Luquillo - Porto Rico

Ana aproveitando a sombra para ler sobre USVI, em para de Luquillo - Porto Rico


Nosso plano hoje era ir conhecer Culebra e a praia Flamenco, considerada a mais bonita do país. Culebra é uma ilha a cerca de uma hora de barco, na costa leste de Porto Rico. Antigamente, junto com outra ilha, Vieques, era conhecida como Ilhas Virgens Espanhóis.

Confusão para abordagem do Ferry para Culebra - Porto Rico

Confusão para abordagem do Ferry para Culebra - Porto Rico


São três ferries diários indo para lá, saindo aqui de Fajardo. O primeiro horário de saída é às 9 da manhã. Seguindo as recomendações aqui da nossa pousada, chegamos ao porto com uma hora de antecedência. Doce ilusão! As passagens já se haviam esgotado fazia tempo e, mesmo assim, havia uma enorme fila para um possível ferry extra. Hoje é sábado e nós subestimamos isso. Famílias inteiras indo para lá passar o dia, toda a farofa acomodada em isopores e coolers. Uma enorme confusão no porto. Basicamente, um programa de índio (com todo o respeito!).

Desistindo do Ferry para Culebra - Porto Rico

Desistindo do Ferry para Culebra - Porto Rico


Não dava para encarar e partimos para o plano B: ir à praia em uma cidade aqui pertinho, chamada Luquillo. Não poderíamos ter tomado decisão melhor! Praia super tranquila, muito sol, água limpa, bonita e com temperatura agradável. Aliás, é impressionanmte como a água do mar em Porto Rico é mais quente que nas Bahamas e em Turks e Caicos.

Playa del Sur, em Luquillo - Porto Rico

Playa del Sur, em Luquillo - Porto Rico


A praia é toda ladeada de palmeiras que fornecem sombras refrescantes. A gente se aboletou em uma delas e lá ficamos por várias horas, se revezando em corridas pela praia, natação no mar, leitura do guia sobre nosso próximo destino e um soninho também. Horas preguiçosas e deliciosas, sob medida para nos ajudar a nos recuperar da correria dos últimos dias. E que fique registrado: o trecho da praia entre Playa del Sur e Luquillo é dos mais bonitos da viagem! Escapamos da farofa e caímos no paraíso.

Porto Rico, Fajardo, Luquillo, Praia

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O Primeiro Vídeo

Brasil, Paraná, Ilha do Mel, Superagui

Para quem ainda não viu, segue o link no youtube do nosso primeiro vídeo postado lá, feito com muito carinho e zelo pela Ana. Ficou super profissa! Podem clicar que não é vírus!!!

http://www.youtube.com/watch?v=NtpZyYBXyQo

Brasil, Paraná, Ilha do Mel, Superagui, Praia

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Estradas

Brasil, Minas Gerais, Tabuleiro (P.E. Serra do Intendente), Milho Verde (P.E. Pico do Itambé)

Estrada sendo construída, entre Serro e Milho Verde - MG

Estrada sendo construída, entre Serro e Milho Verde - MG


Nossa manhã foi de trabalho em Milho Verde. Muito texto, fotos e briga com a internet. O plano inicial de partir logo cedo acabou mudando para depois do almoço, na própria Pousada do Moraes, a mais tradicional da cidade. Partimos sem visitar nenhuma das muitas cachoeiras da cidade. Foi de cortar o coração, ver as fotos e placas indicativas, algumas a poucos minutos de caminhada. É fogo! Cada buraco desse estado merece alguns dias de exploração. Estamos quase querendo lançar o "10mildias.com" ou então o "1000dias por toda as Minas Gerais".

Falando em buraco, isso foi o que não faltou hoje, na estrada. Quase 20 km até Serro, mais outros 60 km até Conceição do Mato Dentro e outros 20 km até o distrito do Tabuleiro, já na beira da Serra do Cipó e da mais alta cachoeira de Minas Gerais. Todas as estradas de terra, mas por parte delas em via de serem asfaltadas.

Muita gente trabalhando, quebrando pedras, rasgando morros, aplainando estradas. É a natureza sendo domada aos nossos olhos. Em alguns pontos, ela parece estar sendo violentada. Largas estradas passando por onde apenas trilhas serpenteavam entre as rochas. A cena de um trabalhador destruindo as pedras com uma britadeira chocou meus olhos. Pedras que ali estavam a milhões de anos, sendo erodidades pela água e vento numa escala geológica sendo obliteradas em minutos pela máquina. Foi triste de ver.

Ao mesmo tempo, quando vemos a alegria das pessoas do asfalto estar chegando perto de casa, ficamos com o coração dividido. Não é fácil ter de levar o filho doente nas costas através de trilhas e carrapatos ou enfrentar horas de estrada de terra poeirenta todos os dias para se ir à escola. O progresso urge e o passado fica para trás, como não poderia deixar de ser...

Igreja em Serro - MG

Igreja em Serro - MG


Em breve o asfalto vai ligar Conceição até Serro, e Serro até Diamantina. Quero só ver o que vai acontecer com Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras com a chegada do asfalto... As mudanças vão se acelerar, com certeza. As décadas de 70 e 80, ainda próximas hoje, vão ser coisa do século passado. E quem passar daqui a um ano ou dois não vai precisar de uma Fiona para transitar com conforto e nem encher seu carro com camadas e camadas e camadas de poeira.

Igreja em Serro - MG

Igreja em Serro - MG


Bem, nós viemos com toda a paciência, enfrentando os buracos e observando as máquinas aplainarem as montanhas de Minas. Passamos pela simpáticas Serro e Conceição, cidades históricas cheias de belas igrejas e viemos até o distrito de Tabuleiro, nos hospedar em um Hostel, bem perto do parque estadual que abriga a mais nalta cachoeira de Minas, com mais de 250 metros de altura. Depois do descanço de três dias, já estamos com saudade de nos banhar em cachoeiras. E vamos matar essa saudade com estilo!

Ana com os Gustavos, no Hostel de Tabuleiro - MG

Ana com os Gustavos, no Hostel de Tabuleiro - MG


No hostel, de noite, tomando um vinhozinho para ajudar a enfrentar o frio e comendo um queijinho que trouxemos de Serro, considerado o melhor de Minas Gerais, conhecemos dois Gustavos. Um é o dono do hostel. O outro trabalha na ONG da Estrada Real. Juntos, nos deram uma aula sobre a Serra do Cipó e seus atrativos. Durante a conversa, planejamos um roteiro puxadíssimo para os próximos dias, uma verdadeira maratona para conhecer o "máximo do mínimo" da região. Vamos ver o quanto dá certo...

Brasil, Minas Gerais, Tabuleiro (P.E. Serra do Intendente), Milho Verde (P.E. Pico do Itambé), Estrada, Parque, Serro

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Chegando à Carretera Austral

Chile, Chile Chico, Cochrane

A bela Laguna Verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

A bela Laguna Verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


Depois do almoço e passeio pela simpática Los Antiguos, na Argentina, foi a hora de enfrentarmos mais uma fronteira nessa nossa jornada pelas Américas. Já foram mais de cem nesses quatro anos, em aeroportos, portos e, principalmente, fronteiras terrestres entre as diversas nações do nosso continente. Na verdade, contando com a passagem de hoje, já cruzamos 123 alfândegas e acho que um dia vou fazer um post só sobre isso. A passagem de hoje também transformou a dupla Argentina-Chile na nossa campeã empatada de cruzamento de fronteiras durante os 1000dias. Hoje foi a oitava vez que passamos de um país ao outro, mesmo número de trânsitos entre Canadá e EUA (incluindo o Alaska!). Mas a dupla sul-americana deve atingir a liderança isolada, pois ainda precisamos voltar ao Brasil, ou seja, pelo menos mais uma vez vamos cruzar de um país ao outro, no caso, do Chile à Argentina.

Mapa mostrando todo o percurso da Carretera Austral e os acessos a esta estrada do lado argentino. Nós viemos por Chile Chico, o acesso rodoviário mais ao sul. Caminhando e de bicicleta, é possível chegar diretamente em Villa O'Higgins

Mapa mostrando todo o percurso da Carretera Austral e os acessos a esta estrada do lado argentino. Nós viemos por Chile Chico, o acesso rodoviário mais ao sul. Caminhando e de bicicleta, é possível chegar diretamente em Villa O'Higgins




Isso quer dizer que já estamos bem experientes nessa chatice toda. Papéis, documentos, checagens, etc... Em alguns lugares é mais fácil e simples, em outros, mais complicado e demorado. Entrar no Chile costuma cair na segunda categoria, pois eles são muito estritos com a entrada de alimentos e materiais orgânicos. Mas, de novo, já temos experiência com isso e já vamos logo preenchendo todos os formulários conhecidos e abrindo o porta-malas da Fiona, torcendo para que uma olhada baste e não seja necessário passar as malas pelo raio-X. A torcida funcionou e até que passamos rapidamente, para padrões chilenos. Los Antiguos e nossa querida Argentina ficaram para trás e nós entramos na pequena cidade de Chile Chico, a primeira dentro do Chile.

Chegando a Chile Chico, nossa porta de entrada para o Chile e sua Carretera Austral

Chegando a Chile Chico, nossa porta de entrada para o Chile e sua Carretera Austral


Uma charmosa alameda em Chile Chico, cidade chilena na fronteira com a Argentina e porta de entrada mais ao sul para a Carretera Austral

Uma charmosa alameda em Chile Chico, cidade chilena na fronteira com a Argentina e porta de entrada mais ao sul para a Carretera Austral


Assim como Los Antiguos, Chile Chico também fica às margens do lago Buenos Aires. Só que do lado de cá da fronteira ele muda de nome, passando a ser chamado de General Carrera. Até bem pouco tempo atrás, a única maneira de se chegar por estradas até a cidade era pelo território argentino. A alternativa para os chilenos mais patriotas era vir de balsa desde Rio Ibañez, na costa norte do lago General Carrera. Mas também essa rota é relativamente nova e, antes disso, a própria Rio Ibañes igualmente só era acessível através do território argentino. Na verdade, toda essa região do Chile era praticamente isolada do resto do país e mesmo cidades maiores como Coyhaique ou Cochrane só eram servidas por pequenos aeroportos ou barcos que tinham de enfrentar fiordes estreitos e gelados. O caminho para se chegar aqui eram mesmo as estradas argentinas.

O lago General Carrera, em Chile Chico, cidade chilena na fronteira com a Argentina e porta de entrada mais ao sul para a Carretera Austral

O lago General Carrera, em Chile Chico, cidade chilena na fronteira com a Argentina e porta de entrada mais ao sul para a Carretera Austral


O lago General Carrera, em Chile Chico, cidade chilena na fronteira com a Argentina e porta de entrada mais ao sul para a Carretera Austral

O lago General Carrera, em Chile Chico, cidade chilena na fronteira com a Argentina e porta de entrada mais ao sul para a Carretera Austral


Foi quando, no final da década de 70, os chilenos resolveram construir sua “Carretera Austral”, um caminho com pouco mais de 1.200 km de extensão ligando Puerto Montt, então a fronteira rodoviária sul do país, com Villa O’Higgins, no coração da patagônia chilena, entre enormes glaciares, montanhas, vulcões, florestas e um intrincado sistema de lagos e fiordes. Não é a toa que esta estrada demorou tanto tempo para sair dos planos e virar realidade, paisagens quase intransponíveis no seu caminho. Hoje ela própria se tornou uma atração turística e milhares de viajantes vêm de longe para conhecê-la, dirigir e pedalar em suas curvas, subidas e descidas. Nós somos apenas mais dois deles e a nossa porta de entrada para chegar até o famoso caminho foi Chile Chico.

A estrada de ripio que liga Chile Chico à Carretera Austral, no sul do Chile

A estrada de ripio que liga Chile Chico à Carretera Austral, no sul do Chile


Nosso estreito caminho margeia o lago General Carrera a caminho da Carretera Austral, no sul do Chile

Nosso estreito caminho margeia o lago General Carrera a caminho da Carretera Austral, no sul do Chile


Eu vou falar dessa região do sul do Chile e da Carretera Austral no próximo post, mas o fato é que percorrê-la por inteiro sempre esteve nos nossos planos, desde que saímos de Curitiba em 2010. No nosso roteiro, fazia mais sentido percorrê-la de sul a norte e, por isso, queríamos entrar no país o mais próximo possível de sua extremidade austral, em Villa O’Higgins. Observando o mapa da fronteira entre Argentina e Chile, logo se percebe que são inúmeras as possibilidades de se chegar à Carretera Austral vindos do leste e que a passagem mais ao sul é exatamente esta que cruzamos, de Los Antiguos a Chile Chico. Na verdade, se estivéssemos sem a Fiona, apenas mochilas nas costas e, quem sabe, um par de bicicletas, poderíamos ter cruzado até mesmo mais ao sul e já sairmos em Villa O’Higgins. É uma rota bem aventureira, partindo de El Chaltén e envolve duas travessias de balsa (onde não passam carros!) e muitos quilômetros de caminhadas (ou pedaladas). Enfim, com a Fiona não era uma opção. Então, optamos por essa mesmo de Chile Chico, o que vai nos obrigar a dirigir para o sul um pedaço para depois retornarmos pelo mesmo caminho.

O lago General Carrera, o maior do país, no sul do Chile

O lago General Carrera, o maior do país, no sul do Chile


O maior lago do país, General Carrera, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

O maior lago do país, General Carrera, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


O maior lago do país, General Carrera, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

O maior lago do país, General Carrera, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


Além de ser a entrada mais ao sul para carros, tínhamos um outro estímulo para vir por este caminho: ficamos sabendo que esse novíssimo trecho de estrada ligando Chile Chico à Carretera Austral é um dos mais belos da patagônia chilena. Quando a Carretera Austral foi construída, toda uma rede de estradas vicinais e de acesso também foram pensadas e implementadas. São outros 1.200 km de pequenas estradas de rípio ligando o caminho principal à vilas mais isoladas e cidades na fronteira. Foi só nesse milênio que Chile Chico finalmente se uniu ao resto do país, pelo menos através de um caminho rodoviário totalmente chileno. A estrada bem estreita e curvilínea em alguns pontos serpenteia ao lado do lago General Carreras, subindo e descendo encostas e outros acidentes naturais. Mesmo quase sem trânsito de veículos, é muito prudente usar a buzina antes de várias dessa curvas sem visibilidade e sem espaço de passagem para dois carros mais largos, como é o caso da Fiona.

Fazendas e agricultura no belo cenário andino na orla do lago General Carreira, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

Fazendas e agricultura no belo cenário andino na orla do lago General Carreira, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


Fazendas e agricultura no belo cenário andino na orla do lago General Carreira, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

Fazendas e agricultura no belo cenário andino na orla do lago General Carreira, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


Fazendas e agricultura no belo cenário andino na orla do lago General Carreira, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

Fazendas e agricultura no belo cenário andino na orla do lago General Carreira, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


Enfim, estávamos loucos para conhecer a tal estrada. Mas ainda conseguimos segurar nossa ansiedade e passarmos pouco mais de uma hora conhecendo a própria Chile Chico, uma pequena vila bem simpática e cheia de alamedas. O General Carreras está sempre ali, ponto de referência e alvo de fotos. É exatamente esse grande lago que, com sua enorme quantidade de água, gera uma espécie de microclima na região que favorece o plantio de frutas dos dois lados da fronteira. No lado chileno, ao longo dos pouco mais de 60 km de estrada até a Carretera Austral, foi comum vermos fazendas e plantações espremidas entre o lago e a estrada.

A Ana busca os melhores ângulos para fotografar as belezas da Carretera Austral, no sul do Chile, região de Chile Chico

A Ana busca os melhores ângulos para fotografar as belezas da Carretera Austral, no sul do Chile, região de Chile Chico


A bela Laguna verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

A bela Laguna verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


Depois de percorrermos a cidade e tirarmos nossas fotos, ainda com combustível suficiente para chegarmos à Cochrane, botamos o pé (e as rodas) na estrada. Poucos minutos depois e já estávamos longe de qualquer sinal de civilização, apenas o belíssimo lago ao nosso lado. Aí, com toda a calma do mundo, até porque o rípio e as curvas não permitiriam de outra forma, fomos percorrendo os 60 km de rípio, máquina fotográfica sempre a postos.

A bela Laguna verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

A bela Laguna verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


A bela Laguna verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

A bela Laguna verde, no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


A parte mais bela desse trecho é quando nos afastamos um pouco do lago General Carreras para contornarmos um outro lago, bem menor dessa vez. É a Laguna Verde, a cor das suas águas em profundo contraste com o azul escuro do lago Carreras. Mesmo menor, ela é ceifada de ilhas e a paisagem fica ainda mais bela. A vontade era parar por ali mesmo, armar nossa barraca e passar mais tempo nesse lugar tão belo e isolado.. Mas não tínhamos planejado isso e nem trazido comida extra. Então, tivemos de nos satisfazer apenas com as fotos mesmo.

Atravessando região andina no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile

Atravessando região andina no caminho entre Chile Chico e a Carretera Austral, no sul do Chile


A Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile

A Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile


Por fim, chegamos ao fim do lago e da estrada de acesso. Isso queria dizer duas coisas: primeiro, que tínhamos chegado à Carretera Austral. Segundo, que nosso companheiro de viagem, agora, deixaria de ser o lago, que ficou para trás, e passaria a ser o rio Baker, que nasce no General Carreras e desemboca no Oceano Pacífico. Suas águas são ainda mais belas que as do lago, uma mistura quase mágica entre o azul e o verde, algo que nos parecia impossível num rio desse tamanho.

A incrível cor azul do rio Baker, escoadouro do lago General Carrera, ao lado da Carretera Austral, no sul do Chile

A incrível cor azul do rio Baker, escoadouro do lago General Carrera, ao lado da Carretera Austral, no sul do Chile


A incrível cor azul do rio Baker, escoadouro do lago General Carrera, ao lado da Carretera Austral, no sul do Chile

A incrível cor azul do rio Baker, escoadouro do lago General Carrera, ao lado da Carretera Austral, no sul do Chile


A vista pode ter ficado mais bonita, mas a estrada não. Agora já estávamos na Carretera Austral, com um trânsito bem maior que em sua estrada de acesso. O resultado é um rípio bem desgastado, costelas de vaca intermináveis e uma dó danada dos amortecedores da Fiona. Aparentemente, esse é o pior trecho da estrada nesse quesito e, com muita paciência e ritmo ainda mais lento, seguimos para o sul até Cochrane.

Rio Baker, caudaloso, azul e gelado, ao lado da Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile

Rio Baker, caudaloso, azul e gelado, ao lado da Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile


Cenário florido na Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile

Cenário florido na Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile


A última tarefa do dia foi encontrar um lugar para dormir. Mesmo com apenas 3 mil habitantes, Cochrane é uma “metrópole” regional e possui várias pousadas. A Carretera Austral chegou aqui em 1989, finalmente ligando a cidade com o resto do país. Hoje, quase todos os visitantes são turistas percorrendo a famosa estrada. Na terceira ou quarta tentativa, encontramos um lugar bem acolhedor, a casa de uma família que imigrou da antiga Iugoslávia. Aí encontramos não apenas um quarto bem quentinho, mas também uma cozinha para fazermos nosso jantar.

A simpática dona da nossa pousada em Cochrane, no sul do Chile

A simpática dona da nossa pousada em Cochrane, no sul do Chile


O charmoso fogão da nossa pousada em Cochrane, no sul do Chile

O charmoso fogão da nossa pousada em Cochrane, no sul do Chile


Agora sim, alimentados e acomodados, nos sentíamos em plena Carretera Austral. Amanhã, seguiremos até Villa O’Higgins, passando no caminho por Caleta Tortel. São dois dos maiores símbolos dessa região tão bela e isolada que apenas nos últimos vinte anos se ligou ao resto do país. Para sorte dos visitantes que aqui chegam!

Em Cochrane, placa de distâncias da Carretera Austral, no sul do Chile

Em Cochrane, placa de distâncias da Carretera Austral, no sul do Chile

Chile, Chile Chico, Cochrane, Carretera Austral, Estrada, Lago, Patagônia

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Corcovado: Trilhas, Rios, Praias e a Rotina no Parque

Costa Rica, Osa

A neblina dá ares de mistério ao Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

A neblina dá ares de mistério ao Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


O Parque Nacional Corcovado tem uma área grande demais para ser explorada a pé, a não ser para pesquisadores que têm meses a sua disposição. Para visitantes mais “comuns”, como nós, é preciso escolher uma área do parque, para nela se concentrar nos exíguos dias de permanência na região. A área do parque é dividida em alguns “núcleos” que podem receber turistas e, felizmente para nós, um deles, o núcleo Sirena, tem em sua pequena área tudo aquilo que o visitante está procurando: trilhas na mata, acomodação, rios, praias e, acima de tudo, a rica fauna que todos procuram quando vêm para cá.

Em praia de Bahía Drake, pronta para viajar para o  Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Em praia de Bahía Drake, pronta para viajar para o Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Em Bahía Drake, esperando o barco para o Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Em Bahía Drake, esperando o barco para o Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Como expliquei no post anterior, pode-se chegar ao núcleo Sirena através de uma árdua caminhada de dia inteiro vindo de Carate, na área de Puerto Jimenez, ou diretamente de barco, a partir de Bahía Drake. Na verdade, há um terceiro caminho, outra caminhada de dia inteiro, cruzando a península pelo seu interior. Alguns viajantes mais intrépidos chegam por aí e se vão pela trilha de Carate. Para quem tem tempo, parece uma boa alternativa, conhecendo as várias facetas do parque. De qualquer maneira, seriam dois dias inteiros só de caminhadas e nós não tínhamos esse tempo. Optamos pelo acesso de barco para poder passar pouco mais de um dia apenas ao redor do núcleo Sirena, fazendo nossas explorações. Para quem tem um pouco mais de dinheiro no bolso, pode-se voar para lá também! Sirena tem um rústico aeroporto de pista de grama que acomoda pequenos aviões. Vimos e ouvimos dois deles pousando e decolando no meio da selva, numa exótica cena que nos lembra filmes de Indiana Jones...

Em Bahía Drake, embarcando para o Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Em Bahía Drake, embarcando para o Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


De barco, a caminho do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

De barco, a caminho do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Para nós, que optamos pelo barco, o dia começa cedo. Pouco depois das cinco da manhã já estamos de pé, ainda em Bahía Drake. Uma curta caminhada nos leva até a praia, ainda vendo o sol nascer. Na pequena cidade, os poucos hotéis mais chiques e também algumas agências de viagem organizam tours ou excursões de um dia até Sirena. Os barcos partem um pouco depois das seis, chegam ao parque 07:30 e, no início da tarde, dependendo do horário da maré, trazem os turistas de volta. Levam seus guias e comida para o lanche, caminham por algumas das trilhas e dão aos visitantes um gostinho do parque. No nosso barco, éramos os únicos que íamos para ficar, levando roupas, barraca, sacos de dormir e comida para as refeições. Estávamos indo com um grupo de hoje e voltaríamos com um grupo de amanhã. Sempre seguindo as valiosas dicas do nosso amigo guia que encontramos em Puerto Jimenez.

Desembarcando rm praia do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Desembarcando rm praia do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Chegando ao Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Chegando ao Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Quinze minutos depois de termos deixado Bahía Drake para trás e após passarmos pelo último dos hotéis mais chiques, começamos a bordear a área do parque. A densa mata ainda estava envolta na neblina da manhã, um ar de mistério no ar, uma terra virgem a ser explorada. No trecho final, o piloto da lancha tem de ser habilidoso para driblas as fortes ondas do mar, a última “defesa” do parque para que possamos, enfim, desembarcar.

Caminhando na mata para o lodge Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Caminhando na mata para o lodge Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Mapa de trilhas da área de Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Mapa de trilhas da área de Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Não há sinais de civilização na praia, exceto por umas poucas pegadas. Bem no ponto que descemos, uma falha na mata mostra ser a entrada de uma trilha. Por ali chegam os caminhantes que vieram de Carate. A trilha se embrenha para o interior, quase dois quilômetros no meio da mata para chegar até as casas e abrigos que formam o núcleo de Sirena. Já nesse caminho, para quebrar logo o gelo, tivemos um emocionante encontro com a fauna local. Mas isso é assunto para o próximo post, dedicado inteiramente ao maior atrativo do Corcovado: a possibilidade de ver de perto a vida animal em seu próprio habitat.

Caminhando na pista do aeroporto da estação Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Caminhando na pista do aeroporto da estação Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Caminhando em trilha do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Caminhando em trilha do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Chegando à sede do núcleo Sirena, somos recebidos por um guarda-parque que nos mostra o local, o mapa de trilhas e as regras a serem seguidas durante nossa estadia. Por exemplo, nada de caminhar de noite! Depois das seis, todo mundo ali, ao redor do lodge! Nada de dar sorte ao azar!

AS várias barracas no lodge Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica. A nossa é a primeira da direita, em primeiro plano

AS várias barracas no lodge Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica. A nossa é a primeira da direita, em primeiro plano


Cozinhando um delicioso jantar na cozinha do lodge Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Cozinhando um delicioso jantar na cozinha do lodge Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Sirena tem um número limitado de camas em dormitórios para receber visitantes. Mas, como já havia nos avisado o guia em Pueto Jimenez, é muito melhor ficar na barraca mesmo. A razão: o intenso calor que faz por ali! Os quartos são muito quentes e as barracas, armadas em um cômodo sem paredes, mas com teto para nos proteger da chuva, ficam bem mais arejadas. Principalmente porque podemos montá-las sem a parte de cima, já que estamos sob um teto. Fica só a parte de tela para nos proteger dos insetos. É engraçado ver, dez ou doze barracas montadas pela metade, apertadas nessa pequena varanda, o interior de cada uma completamente a vista para quem passar ali do lado.

Comendo um saboroso frango xadrez no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Comendo um saboroso frango xadrez no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Temos acesso a banheiros com água corrente e a uma grande cozinha comunitária, melhor local para socializar com os outros visitantes, principalmente na hora do jantar, quando estão todos ali. A Ana resolveu inovar dessa vez e preparou para o nosso jantar um delicioso frango xadrez. Tínhamos também arroz e suco, uma verdadeiro banquete para aquelas condições. Depois do dia inteiro de caminhadas, não poderia ter sido melhor. As outras refeições (café da manhã e lanches) foram todos feitos à base dos tradicionais sanduíches. Saíamos para percorrer as trilhas com duas pequenas mochilas, uma para a máquina fotográfica e outra para o lanche e comíamos no meio da mata mesmo, ou ao lado do rio, ou na extensa praia, sempre com o cuidado de trazer o lixo de volta.

Flores vermelhas se destacam em meio ao verde da floresta do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Flores vermelhas se destacam em meio ao verde da floresta do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Árvore multi-centenária no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Árvore multi-centenária no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Uma vez instalados, estudamos bem o mapa de trilhas. São diversas delas, para todas as direções, com extensão de poucos quilômetros. Com um pouco de planejamento, é possível combiná-las em loops de forma a quase não repetir caminhos. Algumas trilhas seguem ainda mais para o interior, outras nos levam até a praia e algumas vão em direção aos dois rios que marcam os limites do núcleo Sirena.

Rio Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica. O aviso é por causa dos tubarões e dos crocodilos!

Rio Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica. O aviso é por causa dos tubarões e dos crocodilos!


O rio Sirena, frequentado por crocodilos e tubarões, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

O rio Sirena, frequentado por crocodilos e tubarões, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Um dos rio é o que deu nome a essa área: Sirena. É o mais caudaloso e nadar ali é proibido, além de não ser mesmo muito recomendável. A razão é simples: suas águas são frequentadas por crocodilos e tubarões. Isso mesmo, tubarões! Quando a maré está enchendo, os tubarões-touro entram rio adentro procurando alimento; Não é muito sábio estar em seu caminho. Normalmente, apenas as grandes marés lhe dão espaço para cruzar pela foz, mas nunca é bom arriscar. Além disso, mesmo que eles não estejam por lá, tem sempre o risco dos crocodilos. Assim, o melhor é apenas caminhar pela sua orla, olhos atentos para ver se observamos algo mais “interessante”.

Procurando tubarões-touro na foz do rio Sirena, Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Procurando tubarões-touro na foz do rio Sirena, Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Garças na foz do rio Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Garças na foz do rio Sirena, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


O outro rio é o Claro. Com menos água, é por ele que cruzam os caminhantes que vem de Carate. Na maré baixa, claro!. Um pouco mais acima, no leito, pedras e corredeiras afastam tubarões e crocodilos e formam belas piscinas naturais, convite irrecusável para um bom mergulho. Aí relaxamos no final da tarde do nosso primeiro dia no parque, depois de muitos quilômetros de trilhas percorridas. Tanto gostamos que arrumamos tempo para voltar no dia seguinte, antes da nossa volta, para um novo e refrescante mergulho.

O rio Claro, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

O rio Claro, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Nadando no belo e seguro rio Claro, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Nadando no belo e seguro rio Claro, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Aliás, além do rio Claro, a única outra opção para se refrescar são os chuveiros do lodge. A extensa praia de mar também é tentadora, mas nadar aí não é aconselhável Tanto pelas pedras como pelos tubarões-touro que, dizem, estão sempre por ali. Percorrendo as várias trilhas, passamos algumas vezes pela praia e aí observamos um inesquecível pôr-do-sol. Desses de cinema, o sol entrando devagarinho na água, a densa mata atrás de nós, natureza pura de todos os lados. Tudo isso a sós, eu, a Ana e aquele pedaço maravilhoso de mundo chamado Corcovado. A trilha sonora era de pássaros e macacos, cantando e gritando. Um espetáculo!

Caminhando na praia do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Caminhando na praia do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Trilha nos leva até o mar, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Trilha nos leva até o mar, no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Do alto de um 'mirante', observando a longa praia do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Do alto de um "mirante", observando a longa praia do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Nesses nossos dois dias em Sirena, creio que haviam umas outras cinquenta pessoas por lá. De noite, no lodge, fica movimentado. Mas quando saímos às trilhas, ficamos completamente sós (estou me referindo a seres humanos!), cruzando pessoas apenas a cada 30 ou 40 minutos, todos envoltos em suas próprias explorações. Pelo histórico e pelo que observamos, a área é bem segura, tanto com relação aos animais como a outros “perigos” também. Por exemplo, nesses dois dias, lá estavam dois grupos de mulheres, estudantes em San Jose. Vieram caminhando sem guias, cada grupo com cinco meninas, e por aqui perambulavam para lá e para cá, sem que ninguém as molestasse. Era até meio surreal caminhar no meio da mata por uma hora sem ver ninguém (exceto os bichos) e, de repente, cruzar com elas em sentido contrário, cinco moças de biquíni voltando do rio. “Será que estamos no meio de uma mata primária nos confins da Costa Rica, ou estamos em um resort?”, era a dúvida que vinha na minha cabeça, diante daquela situação inusitada.

Curtindo o entardecer no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Curtindo o entardecer no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Um belíssimo pôr-do-sol na costa do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Um belíssimo pôr-do-sol na costa do Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica


Enfim, essas cerca de 30 horas no parque foram suficientes para percorrermos quase todas as trilhas, algumas mais de uma vez, e observarmos uma incrível quantidade de animais selvagens. Essa é, sem dúvida, a parte mais emocionante da viagem! Do momento em que pusemos os pés na praia até a hora de retornar, esperando junto com os barqueiros até que a maré enchesse e pudéssemos partir, a vida selvagem sempre esteve ao nosso redor, no alto das árvores, no solo da floresta, voando, caminhando ou nadando, Assunto para o próximo post!

Admirando o mágico pôr-do-sol e o céu colorido de 50 tons de laranja no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Admirando o mágico pôr-do-sol e o céu colorido de 50 tons de laranja no Parque Nacional Corcovado, na Península de Osa, no sul da Costa Rica

Costa Rica, Osa, Corcovado, Parque, Sirena, trilha

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Chuva no Sertão!

Brasil, Piauí, Oeiras

A chuva chega no sertão! (na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI)

A chuva chega no sertão! (na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI)


Há doze mil anos, a Serra da Capivara era um lugar muito diferente do que é hoje. Uma floresta viçosa e tropical ocupava o espaço onde está a caatinga. Por onde hoje andam calangos e mocós, podia se ver preguiças com quatro metros de altura e tatus do tamanho de fuscas. Ambos atentos para não serem atacados por tigres dente de sabre. A razão dessa enorme alteração foi a mudança do clima na região e a consequente diminuição da quantidade de água. Com menos água, menos vida. Simples assim.

A grande planície de caatinga no pé da Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

A grande planície de caatinga no pé da Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Ainda hoje é fácil perceber por onde corriam os rios. Há canyons e vales por todos os lados e é fácil notar sua ação nos paredões de pedra. Sim, os mesmos paredões de pedra erodidos e esculpidos pela ação dos antigos rios continuam por aqui, como que para nos lembrar que o tempo passa, que as coisas mudam.

Subindo a longa escada que nos leva ao alto de um dos rochedos da Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Subindo a longa escada que nos leva ao alto de um dos rochedos da Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Pois não é que hoje a chuva veio e encheu o sertão de sons e cheiros? Veio em quantidade suficiente para dar vida aos pequenos riachos que hoje correm onde antes havia rios "eternos". Veio para nos lembrar que a Capivara já teve seus dias de Diamantina.

A chuva faz a alegria das crianças na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

A chuva faz a alegria das crianças na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Veio para a nossa alegria e para a alegria dos sertanejos. Afinal, não são apenas os rochedos que estão aqui desde o tempo em que a Capivara era úmida. Os homens também, seja com suas pinturas rupestres, seja com sua dura vida na atual caatinga. Foi muito legal ter estado aqui hoje, ser testemunho da chuva e da alegria das pessoas com a água que caía do céu.

Bromélia cresce na caatinga, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Bromélia cresce na caatinga, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Para nós, não poderia ter sido melhor. Primeiro, subimos um mirante numa quase imterminável "escada de marinheiro". Lá de cima, foi impressionante ver a chuva que caía ao longe no sertão. Parecia que a caatinga ficava mais verde a cada minuto.

Com a chuva, um riacho ganha vida na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Com a chuva, um riacho ganha vida na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Depois, fomos caminhar com o Rafael em uma parte mais ao norte do parque. Ele nos levou para uma trilha, no canyon do Inferno, que para nós foi o paraíso. Havia um riacho correndo pelas pedras! No fundo do canyon, música para nossos ouvidos: o mágico som de uma cachoeira!

Pequeba e mágica cachoeira no fundo de canyon do Inferno, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Pequeba e mágica cachoeira no fundo de canyon do Inferno, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Pois é, durante milênios essa cachoeira nunca secava. Agora, ela corre apenas alguns dias do ano. E nós estávamos lá para testemunhar isso! A visão da pequena cachoeira no fundo de uma gruta iluminada por uma clarabóia foi uma das cenas mais bonitas e emocionantes que vimos por aqui!

Caminhando na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Caminhando na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


A chuva e a umidade encheu a mata de borboletas, brancas e amarelas. Mocós e catitus também apareceram. Foi uma festa!

Caminhando com as borboletas na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Caminhando com as borboletas na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Além disso, fomos ver também mais tocas e suas pinturas. As priemiras a serem estudadas pela Niède Guidon. Todas elas na beirada de antigos rios, cenários que deveriam ser parecidos com o que vimos tantas vezes nos rios da Chapada Diamantina. Hoje, o vale está lá embaixo, sem água. Quer dizer, hoje, bem hoje, até ouvimos um pouco da água que passa lá embaixo. Um tênue fantasma de outrora. Mas que, de alguma forma, acaba dando mais vida às pinturas que temos à nossa frente. Tudo ficou mais real. Para completar, só faltou cruzarmos com uma preguiça gigante...

Painel de pinturas rupestres na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Painel de pinturas rupestres na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI


Visitar a Serra da Capivara foi uma experiência e tanto. Valeu cada minuto. Era três da tarde quando partimos rumo à Oeiras, antiga capital do estado. Mas nossas mentes ficariam naquela serra mágica ainda por um bom tempo...

Pequena gruta no fundo do canyon do Inferno, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Pequena gruta no fundo do canyon do Inferno, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI

Brasil, Piauí, Oeiras, Parque, trilha

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O País de Gales das Américas

Argentina, Gaiman

Decoração de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Decoração de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Quando eu era criança em meados da década de 70, mesmo antes de aprender a ler e escrever, encantava-me com um livro que tínhamos em casa sobre a “Seleção Brasileira de Todos os Tempos”. Claro que o assunto era futebol e eu já conhecia a escalação de cor e salteado, além de cada uma das fotos, figuras e desenhos do livro. Lá estavam Pelé e Garrincha, Djalma e Nilton Santos, Ademir da Guia e Didi, Gilmar e Leônidas da Silva, entre outros. Fotos e desenhos das diversas Copas do Mundo e de jogos dessas lendas do futebol ilustravam o livro e um desses desenhos sempre me chamou atenção. Era o Garrincha, na Copa de 58, passando por um zagueiro vestido de vermelho, braço e perna esticados para tentar derrubar ou segurar o brasileiro. Era o zagueiro de uma estranha pátria chamada “País de Gales”. Um país que não aparecia nos mapas de geografia. Um país que, apesar de ter o nome “país” no próprio nome, não era exatamente um “país”. Mas que tinha uma seleção de futebol na Copa do Mundo. Como assim???

Centro de informações, em castellano e galês! (em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina)

Centro de informações, em castellano e galês! (em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina)


Placa com informações turísticas de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Placa com informações turísticas de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Mais velho aprendi que o Reino Unido era um “grande país” formado pela união de quatro “países menores”: Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e o tal País de Gales. Todos com uma certa autonomia interna, mas unidos sob um mesmo governo. Para complicar ainda um pouco a situação, ainda temos a Grã-Bretanha que é a mesma coisa que Reino Unido, mas sem a Irlanda do Norte. É mais uma denominação geográfica (da mesma ilha que dividem Escócia, Inglaterra e País de Gales) do que política. O fato é que, na prática, muita gente usa como sinônimos Inglaterra (apenas um dos países, o mais forte histórica e politicamente, que compõe o Reino Unido), Grã-Bretanha (a ilha) e Reino Unido. Por fim, para fechar esse assunto de futebol, esse esporte nasceu no Reino Unido e desde que a FIFA foi criada, os países que compõe o Reino Unido tem grande força no corpo diretivo dessa organização. Além disso, tem direito de participar de jogos internacionais (e da Copa do Mundo) representando seus próprios países, e não a união deles (o Reino Unido). Suas seleções só se juntam para disputar as Olimpíadas!

Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


O oásis verde ao redor de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

O oásis verde ao redor de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Mudando de pato para ganso, o final do século XIX e início do século XX foi um período de muita migração, especialmente de países europeus e asiáticos para os novos e grandes (geograficamente falando!) países que se formavam. Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e Austrália receberam milhões de pessoas que vinham da Europa, Japão e Oriente Médio, imigrantes que ajudaram a formar e moldar a alma desses novos países, dando-lhes força braçal, cultural e intelectual para se tornarem as pátrias que hoje são. O Brasil, sem dúvida, foi um dos maiores destinos desses imigrantes, tendo recebido e formado enormes colônias de japoneses, árabes, alemães e italianos, e outras menores de ucranianos e espanhóis e até algumas curiosidades, como austríacos, finlandeses e mesmo americanos, entre outros. Sempre fui curioso pelo fato de não termos recebido imigrantes oriundos das ilhas britânicas, afinal de lá também saiu uma quantidade considerável de famílias em busca de uma nova pátria. Imaginava que a resposta seria a língua, que esses imigrantes preferiram países como EUA, Austrália e Canadá, onde também é falado o inglês.

Entrada de antigo túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Entrada de antigo túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Explorando um antigo e escuro túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Explorando um antigo e escuro túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


O aspecto tétrico, quase assombrado do antigo túnel ferroviário de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

O aspecto tétrico, quase assombrado do antigo túnel ferroviário de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Pois bem, vamos agora juntar o pato com o ganso com os 1000dias! Estamos agora viajando pela Argentina, um dos países que também recebeu grandes levas de imigrantes naquele período. Mais especificamente, estamos na Patagônia, deixando a Península Valdés e rumando para Bariloche, do outro lado do país. E eis que, aqui nessa região perdida do planeta com uma densidade demográfica parecida com da Amazônia (ou seja, não tem quase ninguém!), encontramos toda uma região colonizada por imigrantes do País de Gales! E não estou falando de uma vilazinha perdida não, são várias cidades, algumas grandes e com força econômica, como Trelew e a própria Puerto Madryn (os dois nomes vem da língua “welsh”, ou galês, falada lá no País de Gales). Não vieram para o Brasil, mas vieram para o nosso vizinho Hermano, aqui na distante Patagônia. E como todos sabemos, aqui na Argentina se fala o bom e velho espanhol e não o inglês. Então, que história é essa?

Explorando um antigo e escuro túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Explorando um antigo e escuro túnel ferroviário em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Uma luz ao final do túnel, em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Uma luz ao final do túnel, em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Um grupo de estudantes se prepara para atravessar o antigo túnel ferroviário de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Um grupo de estudantes se prepara para atravessar o antigo túnel ferroviário de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Bom, é mais ou menos o contrário do que eu pensei. Na verdade, minha teoria funcionou com os irlandeses e eles realmente inundaram os Estados Unidos. Mas com os galeses, não foi bem assim. Em 1864 líderes galeses cansados do jugo político e cultural inglês sob o qual viviam decidiram incentivar a imigração de seus compatriotas. A ideia era fundar uma pátria longe da pátria, um novo País de Gales, um lugar onde poderiam falar sua língua tranquilamente (o galês é a língua mais antiga da Europa e não tem nada a ver com o inglês!), assim como exercitar e eternizar sua própria cultura, cada vez mais reprimida em casa. Um dos pré-requisitos para escolher o destino dessa imigração era justamente um país onde não se falasse inglês, essa língua tão “opressora”. Após muita procura, que incluiu até a Palestina, acabaram escolhendo a Patagônia, estimulados pelo governo argentino que queria ocupar suas novas terras e dava incentivos para quem se aventurasse por essas terras inóspitas.

Exemplos da arquitetura singular de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Exemplos da arquitetura singular de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Exemplos da arquitetura singular de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Exemplos da arquitetura singular de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


E lá vieram os galeses. Não sei por que o Brasil foi preterido, mas os primeiros anos incrivelmente difíceis devem ter feito os próprios galeses se perguntar: “Beth am Brasil?” (“porque não o Brasil?”, em galês). A Patagônia tinha um terreno e um clima muito piores do que tinham imaginado. Pior, nessa primeira leva de imigrantes, pouquíssimos eram agricultores, e era exatamente da agricultura que iriam depender para sua própria sobrevivência. Vários morreram de fome, especialmente crianças. Quem os salvou do fracasso total foram os índios patagônios, os tehuelches, com quem logo estabeleceram relações cordiais. Por fim eles se estabeleceram ao longo do vale do rio Chubut e construíram o primeiro sistema de irrigação da Argentina, criando um verdadeiro oásis verde com 10 quilômetros de largura em plena Patagônia, uma região semidesértica. Vinte anos mais tarde e a produção de trigo já era intensa e seus produtos ganhavam prêmios de qualidade nas feiras de Chicago e Paris. Com exceção de algumas cheias ocasionais do rio Chubut que destruíam casas e plantações, a colônia prosperou e se expandiu, criando “filiais” do outro lado da Patagônia, junto aos Andes. Mais gente chegava, não só do País de Gales, mas também oriundos de outros países. Calcula-se que o número total de imigrantes galeses combinadas todas as ondas migratórias tenha sido de pouco mais de 2 mil pessoas.

Jardim florido de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Jardim florido de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Jardim florido de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Jardim florido de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


A ligação entre o novo País de Gales e a pátria-mãe se manteve forte até o início da 1ª Guerra Mundial. Depois disso a imigração cessou. Os laços foram se dissipando. Na Patagônia, a antiga língua foi sendo esquecida pelas novas gerações, mantida viva apenas pelos avós teimosos. A ligação cultural estava prestes a desaparecer quando a celebração do centenário da chegada dos primeiros imigrantes reacendeu o pavio. Missões culturais, festas e festivais trataram de reavivar a memória de todos. Aos poucos, foi a vez do turismo dar a sua forcinha. De repente, ficou “cool” falar galês. As escolas da língua se multiplicaram. Mesmo os descendentes de outros povos acharam por bem mergulhar nessa cultura. Na pequena Gaiman, cidade-símbolo da Argentina galesa de hoje, as escolas passaram a ensinar nos dois idiomas.

Tradicionais Casas de Chá são o principal atrativo de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Tradicionais Casas de Chá são o principal atrativo de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Tradicionais Casas de Chá são o principal atrativo de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Tradicionais Casas de Chá são o principal atrativo de Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Chegamos ao dia de hoje com essa relação mais forte do que nunca. Há partidas de rugby entre times da Argentina e do País de Gales. Para quem quiser dançar tango em Londres, a melhor pedida é o centro de tradições galesas no centro da metrópole. Turistas vêm de todo o país e também de além-mar (especialmente galeses, claro!) para visitar pequenas pérolas como Gaiman, cidade com 5 mil habitantes em pleno vale do Chubut para poder apreciar um bom e legítimo chá inglês, que dizer, galês!

O belo rio que corta Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

O belo rio que corta Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina




Foi o que fizemos hoje! Depois do nosso último passeio na Península Valdés, dirigimos por cerca de 170 km deixando para trás Puerto Madryn e Trelew para seguir diretamente a charmosa Gaiman, ainda em tempo de nos esbaldar com um belo chá galês e seguirmos viagem pelo interior da Patagônia. Mas não foi só o chá que ocupou nosso tempo na pequena cidade, não.

Visita a uma Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Visita a uma Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Casa de Chá galesa em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina

Casa de Chá galesa em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina


Assim que chegamos ao Centro de Visitantes, já percebemos algo diferente. Todas as placas e informações são bilíngues, espanhol e galês. Como o conhecimento nosso nessa língua está meio enferrujado, ficamos mesmo no bom e velho espanhol. Nos armamos de mapas e folhetos e saímos a pé para um tour pela cidade. E a primeira coisa a fazer foi subir numa pequena colina de onde pudemos admirar a beleza da paisagem da região. O que mais chama a atenção é a ilha de verde em meio ao amarelo desértico da Patagônia. Aquele sistema centenário de imigração continua funcionando e as águas do rio Chubut deixam todo o vale verdinho. Lindo!

Receita de bolo galês em casa de Chá em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina

Receita de bolo galês em casa de Chá em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina


Pequeno dicionário galês em Casa de Chá em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina

Pequeno dicionário galês em Casa de Chá em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina


A segunda atração foi atravessar um túnel construído sob aquela mesma colina que tínhamos subido. É um antigo trem ferroviário, centenário também, construído para ajudar a escoar a produção de trigo da região. A linha de trem também foi obra dos imigrantes, uma das primeiras do continente. Hoje não há mais trem, mas o túnel é usado por pedestres que querem cortar caminho e não tem medo de escuro. E que estejam portando boas lanternas, pois o túnel não tem iluminação própria e, com seus 300 metros de extensão em curva, fica escuro como breu. É até meio amedrontador caminhar muito para dentro, especialmente para quem não tem lanternas como nós. Fizemos nossas fotos, brincamos com o eco e voltamos pela mesma entrada que tínhamos entrado. Para seguir mais adiante, só fazendo uso do tato. E como a Fiona nos esperava daquele mesmo lado, por ali voltamos. Ali estava um grupo de estudantes, devidamente acompanhados pelo professor, prontos para a travessia. Uma farra só, diversão e aula de história juntos. Teoria e prática, como sempre deveria ser!

Provando um tradicional chá galês, em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina

Provando um tradicional chá galês, em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina


Deliciosos pães e bolos galeses servidos com chá em restaurante em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina

Deliciosos pães e bolos galeses servidos com chá em restaurante em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina


Bom, do túnel para o centro da cidade. Especialmente nesses quarteirões centrais, a arquitetura é toda charmosamente galesa. Casas de tijolos envelhecidos, jardins floridos e muito bem cuidados, muitas placas escritas naquele idioma. A maioria delas anunciando a principal atração da cidade: as casas de chá. Cada uma mais atrativa do que a outra.

Interior de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Interior de Casa de Chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina


Provando um tradicional chá galês, em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina

Provando um tradicional chá galês, em Gaiman, cidade na Patagônia, na Argentina


Acabamos escolhendo uma e entramos. Foi como estar na Inglaterra (é o mais perto que conheço do País de Gales!). Pinturas e quadros decorativos na parede, assim como cardápios, todos nos lembram da pátria-mãe. O chá, acompanhado de uma verdadeira profusão de pães, tortas e doces, é uma delícia. Uma verdadeira refeição. Nós nos refestelamos. E aproveitamos para aprender umas poucas palavras em galês. Não é fácil. A quantidade de “w”, “y” e “LL” nas palavras impressiona. Acho que são as principais letras do alfabeto! E as palavras se juntam entre si, formando palavras maiores, gigantescas, impronunciáveis. Pelo menos para simples mortais brasileiros como nós. Uma verdadeira sopa de letrinhas. Enfim, foi uma delícia ter passado por aqui, o chá, a arquitetura, o verde dos jardins, a cultura e a história. Estávamos prontos e reabastecidos para a jornada que se seguiria: cruzar a patagônia de leste a oeste, metade hoje, metade amanhã, quando chegaremos a Bariloche. Vamos que vamos!

Hora do chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Hora do chá em Gaiman, cidade de colonização galesa na Patagônia, na Argentina

Argentina, Gaiman, comida, história, País de Gales, Patagônia

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