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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
As ruínas conhecidas como Cliff Palace, uma cidade inteira sob a rocha, no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Sempre gostei muito de história das civilizações. Egípcios, assírios, hititas, persas, gregos, romanos e todos esses que contribuíram com a nossa civilização ocidental. Mas, por um motivo misterioso, talvez pelo “exotismo” das dita cujas, eram as civilizações pré-colombianas que me fascinavam. Devorei, ainda no início da adolescência, um livro que havia lá em casa, coleção da Life, que tratava de incas, astecas e maias, além de outras menos conhecidas, como toltecas ou olmecas. Quantas vezes já não perdi horas imaginando sobre como seria a nossa América se os europeus não tivessem desembarcado por aqui...
O belo Centro de Visitantes do Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Muito frio do lado de fora do centro de Visitantes do Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Sempre me marcou o fato de que essas civilizações se concentraram nos Andes e na faixa que vai de Honduras à região central do México. Em todo o resto do continente, índios vivendo em ritmo semi-nomádico, no doce estado da selvageria. Dos nossos tupis aos esquimós, passando por apaches e comanches, a vida dependia do arco, da flecha e da vara, da choupana, da tenda e do iglu. Saber onde estavam as frutas, raízes, peixes ou capivaras. No que é hoje os Estados Unidos, teria sido apenas a “conquista do oeste”, já em pleno século XIX, que teria trazido luz à escuridão naquelas imensas vastidões das planícies centrais.
Enfrentando a neve e o frio no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Fiona nas estradas congeladas do Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
O único “porém” nesse meu tosco entendimento era uma foto meio borrada num obscuro livro de história da 7ª série, mostrando algumas construções em adobe e cuja legenda afirmava ser dos “pueblos”, no sudoeste dos Estados Unidos. Pueblos? Isso era nome de uma cidade, de uma tribo, de um povo ou o quê? Quem eram e o que fizeram? O sudoeste americano é enorme, onde exatamente viviam? Pois é, o tal livro obscuro não falava nada disso. Era apenas aquela foto borrada, a legenda incompleta e nada mais...
As surpreendentes ruínas pueblas no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Tanto tempo mais tarde, depois de passar pelas gloriosas ruínas de incas, maias e astecas, eis que me deparei novamente com os misteriosos “pueblos”. Para me mostrar de uma vez por todas que, mesmo antes de Colombo, existia muito mais entre a Terra do Fogo e o Alasca que minha vã filosofia podia imaginar. Se o que vimos hoje não pode ser classificado como “civilização”, já não saberia mais definir essa palavra pomposa.
Visitando ruínas pueblas no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Ruínas pueblas no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Pelo menos, a surpresa não foi só minha. Também os exploradores espanhóis se surpreenderam. Logo depois de dar cabo e conquistar as civilizações mais famosas do novo mundo, eles continuaram seu caminho para o norte, sempre à procura do bendito vil metal. Mas aqui, nas regiões semidesérticas onde se encontram o Novo México, Arizona, Utah e Colorado, eles não encontraram ouro. Ao invés disso, se depararam com cidades-fantasma feitas de adobe, centenas de casas geminadas que muito lhe lembravam seus antigos povoados na Espanha. Por isso, não hesitaram em batizar essas cidades, e o povo que ainda vivia em algumas delas, de “pueblos” (povoado, em espanhol).
Ruínas de uma pequena cidade puebla numa toca natural na rocha do Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
O nome pegou e assim ficou batizado essa civilização que, um dia, apareceria de relance no meu livro de história. Hoje, aqui no Mesa Verde National Park, foi o dia de iluminar um pouco da minha infinita ignorância e aprender um pouco sobre esse povo. “Mesa Verde” é o nome desse grande platô no sudoeste do Colorado, bem próximo da famosa e única fronteira quádrupla dos Estados Unidos, onde esse estado se encontra com os outros três já citados acima. Essa foi a região focal dos pueblos e algumas de suas ruínas mais fascinantes e bem preservadas estão nesse parque nacional criado exatamente para ajudar a preservá-las.
Interior de habitação puebla no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Ontem já tínhamos entrado no estado, vindos do Monument Valley, no Arizona. Dormimos em Cortez, quase na entrada do parque e hoje, enfrentando muito frio e neve, já estávamos cedinho no novíssimo Centro de Visitantes, na portaria do parque, aprendendo sobre os pueblos. Como sempre, boas exibições, muita informação e guarda-parques atenciosos. Mas queríamos mesmo era “botar a mão na massa”, ver com os próprios olhos as famosas cidades construídas dentro de reentrâncias na rocha ou cavernas rasas. Com muito cuidado, a Fiona nos levou pelas estradas congeladas até o alto do planalto, da Mesa Verde, onde há 800 anos florescia uma civilização em pleno coração dos Estados Unidos, muito antes de Lincoln, Washington ou Colombo. Uma legítima civilização pré-estadunidense (para usar um termo tão querido das nossas esquerdas...)
Painel informativo sobre os pueblos e sua prática de morar em tocas na rocha do Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Como todas as civilizações que se prezem, os pueblos começaram a sua história como um povo nômade, vindos provavelmente da região do Alaska. Depois do frio do norte, o clima do sudoeste americano lhes pareceu bem ameno e por aqui se assentaram. O contato com povos mais ao sul trouxe avanços tecnológicos, da tecelagem à cerâmica. Trouxe também o know-how do cultivo do feijão e, principalmente, do milho, a santa planta do novo mundo. Agora, já não mais dependiam da caça e da coleta para sobreviver, a colheita de cada ano lhes garantia suprimentos para os meses de inverno. Mais do que isso, anos bons lhe garantiam alimentos para anos ruins. Enfim, com a agricultura, podiam se estabelecer de vez, concentrar-se em outras atividades e empreendimentos que definem aquilo que chamamos de civilização.
Ruínas pueblas nas encostas de pedra do Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Por volta do ano 600 os pueblos já eram completamente sedentários. Suas rotas de comércio se espalhavam para o México, atingindo até Teotihuacan. Suas moradias, para se protegerem do frio no inverno e do calor no verão, além do vento quase constante naquelas alturas, eram subterrâneas. A porta vinha pelo teto, uma escada dando acesso ao interior da residência. A população crescia e as casas foram se aglomerando, grudadas umas às outras, como colmeias. Para alimentar tanta gente, a agricultura também se desenvolveu. As plantações eram em encostas viradas para o sol, para aproveitar ao máximo a luz e o calor. Mesa Verde era apenas um dos polos de uma civilização que se expandia por uma região muito mais ampla.
Escavação arqueológica no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Mas o clima mudou. Mais frio no inverno, menos chuva no verão. O sol parecia mais fraco. A população de Mesa Verde tentou se adaptar aos novos tempos. Menos colheitas, menos comida, mais guerras pelos recursos escassos. Contra a insegurança e o frio, as cidades se mudaram para as cavernas nas encostas, voltadas para o sol, de difícil acesso e fácil defesa contra possíveis inimigos. Construções com mais de 100 cômodos foram feitas nessas reentrâncias nas rochas. As maiores construções feitas no território atual dos estados Unidos até o século XIX. Isso mesmo! Foi apenas no início da era dos arranha-céus, no tempo de nossos bisavós, que as construções de nossa civilização ocidental superaram em tamanho as construções dessa outra civilização perdida no tempo e em fotografias borradas de livros de história.
Antiga habitação puebla no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Mas a mudança no clima foi mais persistente do que puderam aguentar ou se adaptar esse antigo povo das américas. O sol que os alimentara por séculos, agora os penalizava por décadas. Nem mesmo um templo construído em sua homenagem e fervor pôde mudar o destino. Os pueblos tiveram de abandonar suas magníficas cidades e migrar novamente. Foram mais para o sul, se espalharam e, nessa nova migração, boa parte de sua cultura e tradição se perderam. Mesmo assim, hoje em dia são diversos povos americanos que alegam ser seus descendentes diretos. Lendas e tradições orais parecem confirmar isso. Para o índios atuais, eles são os “anasazi”, os antigos, os anciões. Vieram das terras altas em tempos imemoriais, cheios de sabedoria e experiência em tratar com a natureza.
Uma cidade inteira sob a rocha no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Ruínas de um antigo templo no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Já as suas cidades e templos, ficaram perdidos e escondidos dos olhos humanos por quase 600 anos até que, no início do século XX, foram redescobertas por vaqueiros. Os mais belos exemplares daqueles pueblos que já haviam sido vistos por desbravadores espanhóis no século XVI. Mas, sem dúvida nenhuma, são essas ruínas da Mesa Verde, cidades encrustadas nas rochas, penduradas sobre abismos, as mais impressionantes. Seja para cawboys do do início do século XX ou turistas do século XXI, a primeira vez que as vemos é emocionante. Um cenário saído de algum filme de ficção científica, alguma civilização de outro planeta. Mas não, são daqui mesmo, da nossa América.
Encontro com brasileiros no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Mesmo com o frio de hoje, foi um prazer ter estado lá hoje. Iluminados pelo sol, pudemos sentir o mesmo calor aconchegante que eles sentiam há séculos atrás. Visitamos as primeiras habitações, ainda subterrâneas, no alto do platô. Visitamos o misterioso templo do sol, aparentemente inacabado, fruto do trabalho conjunto das diversas comunidades que se uniram para tentar apaziguar o deus que, aos poucos, parecia lhes abandonar. Visitamos as mágicas e inacreditáveis cidades nas encostas de pedra onde, para nossa grata surpresa, encontramos um simpático casal de brasileiros, paranaenses de coração, mas moradores do Texas. Mais no final da tarde, foi o sol se esconder e tivemos a real dimensão do desafio que era viver por ali naquelas condições, frio de rachar, mesmo no conforto do mundo moderno. Pois é, para ter vivido e prosperado por tantos séculos num ambiente como esse, não tenho dúvida, os pueblos eram mesmo... civilizados. Para mim, agora, são muito mais do que aquela antiga e surrada fotografia. Maias, astecas e incas estão em boa companhia...
As surpreendentes ruínas pueblas no Mesa Verde National Park, no Colorado, nos Estados Unidos
Muito bom, gostei, no Brasil é difícil achar pessoas que repassam cultura e conhecimento adquirido, principalmente de outro país.
Resposta:
Oi Anderson
Legal que vc tenha gostado! Eu adoro história e sempre gosto de aprender sobre os países onde viajamos para, depois repartir isso com que nos segue.
Um abs
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