0
Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
Alaska Anguila Antártida Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Falkland Galápagos Geórgia Do Sul Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Islândia Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Uruguai Venezuela
Como em todas as ilhas caribenhas no leste do arquipélago, existem dois ...
Depois da seção de "esportes radicais" pela manhã, resolvemos fazer al...
Hoje retornamos ao Recife. Passamos 5 dias muito agradáveis por lá há ...
Sheila Moralles (07/10)
Olá Rodrigo e Ana, o máximo o Alaska!! E por acaso, tem algum barco que...
Guto Junqueira (02/10)
Rodrigo, belo resumo da história das explorações polares há 1 século...
Tereza (30/09)
Muito bom, parabéns! Para visitar esse local paga alguma coisa?...
vera (30/09)
Adorei seu blog , ams aidna não entendi direito como fazer um roteiro de...
Rodrigo Freire (29/09)
Oi Rodrigo, Parabéns pelo blog, tenho lido tudo! você poderia me dar ...
Preparando-se para fazer snorkel ma maravilhosa Carlisle Bay, ao sul de Bridgetown, em Barbados
Como em todas as ilhas caribenhas no leste do arquipélago, existem dois mares aqui em Barbados: o “cândido” Mar do Caribe e o “mighty” Oceno Atlântico. O primeiro é para relaxar, pegar uma praia, admirar a cor esmeralda. As costas sul e oeste estão voltadas para ele e são onde estão localizados os resorts, o porto e a capital. O segundo, esse é para se respeitar, ver de longe, onde apenas os mais corajosos se aventuram. A costa leste da ilha está voltada para ele. Uma costa acidentada, poucas praias, muitas pedras e falésias.
Chegando à Bathsheba, na costa leste de Barbados
Nossa programação de hoje nos levou a esses dois mares, de belezas diferentes, mas igualmente encantadores. Começamos o dia seguindo a dica dos novos amigos, Rosa e Roberto, que conhecemos ontem. Fomos para Carlisle Bay, baía de águas calmas e areis claríssimas, já bem próxima da capital Bridgetown. Seria a mesma praia que a Ana teria tido sua aula de Stand-up Paddle, cancelada pela manhã pelo professor que temia a chuva e o vento.
Pesca com rede e casa sobre o mar na bela Carlisle Bay, ao sul de Bridgetown, em Barbados
Pronto para o snorkel em naufrágio em Carlisle Bay, ao sul de Bridgetown, em Barbados
Pelo contrário, ao menos de manhã tivemos um belo sol e o vento não chegou a movimentar as águas da tranquila baía. A pouco mais de 100 metros da praia, justo quando o mar começa a ficar um pouco mais fundo, lá está um belo naufrágio ainda bem conservado, mas já tomado pela fauna e flora marinha. Profundidade não passando dos sete metros e água razoavelmente transparente faz desse naufrágio um local perfeito para snorkel ou mergulho.
Fazendo snorkel em naufrágio nas águas rasas de Carlisle Bay, perto de Bridgetown, capital de Barbados
Nós, felizes de economizar mais de 100 dólares cada um, tratamos de fazer snorkel, ao mesmo tempo em que um grupo fazia seu mergulho com garrafas. Primeiro fui eu, enquanto a Ana tomava seu sagrado sol na praia e tomava conta das nossas coisas. Ali fiquei uma boa meia hora, indo para o fundo, fotografando, explorando o naufrágio, nadando atrás dos peixes e cardumes, tirando a atenção dos mergulhadores.
Fazendo snorkel em naufrágio nas águas rasas de Carlisle Bay, perto de Bridgetown, capital de Barbados
Peixes nadam na proteção de naufrágio em Carlisle Bay, perto de Bridgetown, capital de Barbados
Mais tarde foi a vez da Ana, sem máquina fotográfica, mas encontrando até uma tartaruga. Uma delícia de manhã, saudável e ensolarada no Mar do caribe, essa gigantesca piscina cuja beleza que impressiona até mesmo os astronautas que passam a mais de 200 km de altura. Alguns deles já disseram que, pelo menos lá de cima, esse é o mais belo mar da Terra.
Bela escultura comemorando o fim da escravidão, na estrada próxima à Bridgetown, capital de Barbados
Visto o Mar do Caribe, agora era a vez do Oceano Atlântico. Para isso, tínhamos de achar o início da estrada que nos levaria até lá. Bastou ficar olhando o mapa por alguns segundos que já apareceu um simpático casal de Barbados para nos dar todas as dicas e direções. E quando souberam que éramos brasileiros, até presente ganhamos. Pois é, pelo menos na nossa experiência, o povo daqui tem sido muito hospitaleiro.
A tri-centenária St John's Parish, no caminho para Bathsheba, na costa atlântica de Barbados
E assim cruzamos o país de oeste à leste. Ainda antes de descer do lado de lá, no alto das encostas que caracterizam a costa leste da ilha, paramos na belíssima e tri-centenária St John’s Parish, uma igreja anglicana. Escolheram bem o local para sua igreja, esses britânicos. Dali se tem uma ampla e linda vista do Oceano Atlântico e da estreita e verdejante planície litorânea. Junte-se a isso a serenidade natural de uma igreja e tem´se deliciosos momentos de paz e contemplação lá encima. Perfeito!
Sob o belo órgão da igreja St. John, no caminho para Bathsheba, na costa atlântica de Barbados
Oceano Atlântico visto da St John's Parish, no caminho para Bathsheba, na costa leste de Barbados
Lá embaixo, seguimos até a pequena cidade e praia de Bathsheba. Mar sempre agitado, apenas surfistas mais experientes estão dentro d’água. Afinal, mais do que areia, o chão é de pedras e corais. Mas, visualmente, a praia e toda a costa são muito bonitas, um ar selvagem, digno da fama de bad boy que o Oceano Atlântico tem por esses lados do nosso continente.
Praia rochosa e com muitas ondas em Bathsheba, na costa leste de Barbados
Pensativa, observando a praia e a chuva em Bathsheba, na costa leste de Barbados
O tempo agora chuvoso e a fome que apertava o estômago acabaram de tirar qualquer intenção de entrar no mar. Ao contrário, seguimos diretamente par um tradicional restaurante dali, o “Round House”. Aí, com uma magnífica vista do oceano, almoçamos comida típica de Barbados, um delicioso filé de flying fish acompanhado de uma torta de macarrão com queijo. Hmmm!
Flying fish e torta de macarrão com queijo, comida típica de Barbados em Bathsheba, na costa leste da ilha
Enfim, um ótimo dia de despedidas dessa pequena e movimentada ilha caribenha. Amanhã cedo voamos para Antigua e Barbuda, nação formada por duas ilhas no norte da cadeia de ilhas que pretendemos visitar nesse mês de Junho que começa amanhã. Depois de lá, sempre na direção sul, vamos pular de ilha em ilha até chegar aqui em Barbados novamente, para pegar nosso voo de volta aos Estados Unidos. Mas vai demorar! Felizmente, ainda temos mais um mês inteirinho de “Mares do Caribe” e “Oceanos Atlânticos” para explorar!
Passeio em Bathsheba, na costa leste de Barbados
Formações rochosas no arenito de Vila Velha - Paraná
O tempo mudou hoje! Ainda está frio, mas o céu azul muda a cara de tudo. Continuamos andando com nossos afazeres pré-viagem por aqui, mas conseguimos tirar algumas horas para ir conhecer o Parque de Vila Velha, uma das principais atrações turísticas do Paraná. Fica no município de Ponta Grossa, a cerca de uma hora de carro daqui, em direção ao interior.
Placa explicativa do Parque de Vila Velha,no Paraná
Eu, tão viajador, já morando no Paraná há mais de sete anos, ainda não conhecia. Uma vergonha! A Ana já havia estado lá algumas vezes, mas já há bastante tempo. Quando eu cheguei no Paraná, em 2002, nos primeiros seis meses, viajava quase todos os finais de semana, para conhecer as praias, parques, cachoeiras e cidades históricas aqui perto. Mas este parque, naquela época, estava fechado. E assim ficou por dois anos. Quando reabriu, estava cheio de regras para visitação. Isso me deixou meio irritado e fui sempre adiando uma ida para lá.
Formações rochosas no arenito de Vila Velha - Paraná
Finalmente, hoje foi esse dia. O parque está muito bem estruturado. Aventura, absolutamente nenhuma. Mas não se pode reclamar dos visuais. Incríveis. É só dar 400 milhões de anos para a natureza e, com certeza, ela vai nos presentear com algo. Nesse caso, enormes torres de arenito, com formas variadas, fruto do trabalho de geleiras (pois é, geleiras por aqui!), água e muito vento. As torres formam labirintos, mas não se pode mais caminhar entre elas. Há uma trilha demarcada, de cimento, que devemos percorrer, sempre acompanhados de um monitor. É o preço que se paga pelo vandalismo anterior à reforma do parque quando, em poucos anos, as pessoas estavam destruindo o que a natureza havia feito com aquela paciência toda. As torres tinham sobrevivido aos dinossauros, mas não sobreviveriam a nós. Que beleza...
Garrafa de Coca-Cola, em Vila Velha - Paraná
O caminho de cimento nos leva à várias das formações. Além da mais famosa de todas, a "Taça", fiquei muito impressionado com outra, a "Garrafa de Coca-Cola". Incrível, a semelhança. Difícil acreditar que é natural. Bom, tirando as pichações que sobraram dos tempos dos vândalos e o tal caminho de cimento, tudo é natural sim. Algumas coisas com 400 milhões de anos (as torres) e outras com 10 anos (o mato nativo que cresceu novamente onde antes se caminhava). A Ana, que conheceu o parque quando havia mais liberdade de deslocamento, ficou meio decepcionada. Mas entende a necessidade de se controlar o acesso dos vândalos.
A Taça, símbolo do Parque de Vila Velha, no Paraná
Além das "torres", o parque também tem as "furnas". São fenômenos geológicos em que a água se infiltra pelo solo, cria grandes cavernas, o piso fica oco e acaba desabando sobre essa cavernas. Assim, são enormes buracos no solo, parcialmente preenchidos pela água. A mais bonita delas, Furnas I, tem mais de 100 metros de profundidade, 50 deles inundados, formando um lago de águas escuras lindo de se ver, lá de cima. O buraco, em formato circular, paredes quase verticais, deve ter uma diâmetro de uns 60 metros. Nadar, nem pensar, infelizmente. Primeiro, porque é proibido. Segundo, porque não há como chegar lá embaixo, exceto pulando. O elevador que lá existe está fechado há 10 anos. Por fim, a água é gelada. A monitora disse que estava a 8 graus. Fiquei meio desconfiado. Talvez não fosse assim, tão gelada, mas que é bem fria, isso dá para sentir lá de cima.
Visão da Furna I, em Vila Velha - Paraná
A vantagem que tivemos indo lá hoje, plena quinta-feira, dia de trabalho para pessoas normais, é que só havíamos nós. Nos dias mais cheios, chega a dar mil pessoas. Soma-se a isso o caminho de cimento e certamente eu estaria bem decepcionado. Mas, sendo a visita VIP, foi ótimo. Primeiro, poder esticar as pernas, sair da cidade e chegar perto da natureza novamente. E depois, estar num lugar tão distinto como Vila Velha. Valeu!
Lagoa Dourada, em Vila Velha - Paraná
Maravilhoso pôr-do-sol nos alagados entre Roraima e Amazonas
Mais um longo dia de viagem pela frente, mais de 600 km entre os estados de Roraima e Amazonas, deixando Boa Vista e chegando em Presidente Figueiredo, a cidade das cachoeiras. Esse foi o nosso programa de hoje.
Placa com indicações para Manaus e Venezuela, em Boa Vista - RR
Assim, logo depois de um bom café da manhã, deixamos Boa Vista para trás. Engraçado dirigir numa cidade onde há placas que apontam para outros países. No caso da capital de Roraima, para dois países: placas para a Guiana e placas para a Venezuela. Por falar em Roraima, aí no sul nós costumamos dizer o nome de forma errada. Dizemos Rorãima, como se houvesse um "~" sobre o "a", coisa que não há. O certo é dizer Ro-rai-ma com o "a" da sílaba central bem aberto mesmo.
Vegetação e paisagem típicas do sul de Roraima, na viagem para Presidente Figueiredo - AM
A estrada entre os dois estados está sendo refeita e os primeiros 150 km estão um tapete. A partir daí, trechos com muitos buracos se alternam com trechos de terra. O ritmo cai e, para ajudar o tempo a passar, podemos admirar a bela paisagem do estado, com vastas planícies cheias de buritizais alagados e montanhas ao fundo. Uma vastidão! Quanta coisa para ser explorada. Há também muitas fazendas no caminho, principalmente de criação de bois.
Buritizal, muito comum no sul de Roraima, na viagem para Presidente Figueiredo - AM
Passamos pelo entroncamento com a Perimetral Norte, uma estrada planejada desde a década de 70 que ligaria o Amazonas ao Amapá, passando por Roraima e Pará. Uma estrada bordeando a fronteira norte do Brasil. Apenas algumas partes chegaram a sair do papel. Todos os mapas mostram que o trecho entre Roraima e o rio Trombetas, no Pará, existe. Para nós, seria uma mão na roda. Mas, por aqui, ninguém nunca ouviu falar dessa estrada. Na verdade, ela existe só até a fronteira com o Pará. Depois, não passa de um picadão. Nossa última esperança se esvaiu quando passamos nesse entroncamento e perguntamos num posto. Quem sabe na próxima geração? Bem, vendo pelo lado bom, a natureza e a floresta agradecem. Com certeza, a ausência de estradas ajudou bastante na conservação...
Um dos muitos grandes rios no o sul de Roraima, na viagem para Presidente Figueiredo - AM
Passado o entroncamento, seguimos ainda com estrada precária até o monumento que marca a passagem da linha do Equador. Estávamos de volta ao hemisfério sul! O monumento é meio mixuruca, nada comparado com aquele no Amapá. Mas é sempre legal cruzar o Equador. Linha imaginária, sentimento meio psicológico, eu sei. Mas é legal mesmo assim, hehehe. A próxima vez vai ser mais legal ainda, pois será no país que tem esse mesmo nome: Equador! Acho que lá para Setembro...
Marco da linha do Equador, durante viagem entre Boa Vista, em Roraima e Presidente Figueiredo - AM
Depois das fotos no meio do mundo, seguimos até a entrada da reserva indígena dos índios Waimiri Atroari, onde a estrada fica boa novamente. É uma grande reserva que começa em Roraima e vai até o Amazonas. São 130 km de asfalto para cruzá-la por inteiro. Na década de 70, quando a estrada foi construída, os índios não quiseram que ela atravessasse suas terras. O resultado foi trágico! Guerra contra o exército brasileiro. Num episódio muito pouco conhecido da nossa história, cerca de duzentos soldados foram mortos por flechas envenenadas. Obviamente que o número de índios mortos foi bem maior e a tribo quase foi extinta. Tudo por uma bendita estrada... Ao fim da guerra, muita negociação e a estrada foi construída. Mas ela só funciona durante o dia. Ninguém deve parar no meio da reserva e fotos e filmagens são fortemente desaconselhadas. Nossa... fico imaginando que os operários dessa obra devem ter pedido um bom adicional de periculosidade, não?
Entrada da reserva indígena entre Roraima e Amazonas
O sol estava se pondo enquanto atravessávamos a reserva. Logo depois de uma chuva, havia dois arco-íris incríveis do nosso lado esquerdo enquanto do lado direito, as cores do fim de tarde sobre os terrenos alagados e buritizais foram de uma beleza inesquecível. Talvez, o mais belo entardecer da nossa viagem até agora. Absolutamente fantástico!
Lindo arco-íris no finzinho da tarde, na estrada entre Roraima e Amazonas
Chegamos no escuro numa Presidente Figueiredo bem movimentada com o feriado de páscoa. Não foi fácil achar uma pousada mas, ao fim, conseguimos. E amanhã nos mudaremos para a Pousada das Pedras, que era onde queríamos ficar, do figuraça do Pimenta, conhecido de todos os viajantes descolados que passam por aqui. Logo o feriado acaba e teremos a tranquilidade de conhecer essa terra abençoada com tantas cachoeiras e cavernas.
Uma das barreiras sanitárias entre Roraima e o Amazonas
No cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Devidamente instalados no topo do Cerro Piltriquitrón, a 2.260 metros de altura, tínhamos todo o tempo do mundo para admirar a paisagem deslumbrante que nos cercava, uma visão completa de 360 graus. O céu azul, o calor do sol e o lanche em nossas mãos faziam essa tarefa ainda mais prazerosa, frio e fome já não sendo mais fatores a considerar. Naquele momento, estávamos sós nesse belo mundo, como se fôssemos dois viajantes recém chegados a uma Terra sem pessoas. O casal que também caminhava para o cume, talvez uma hora atrás de nós, estava escondido por uma encosta íngreme, o seu último desafio para também chegar ao cume.
O Cerro Tronador, o mais alto da região, visto do cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
O vulcão Osorno, no lado chileno, visto do cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Lá embaixo, dois quilômetros sob nossos pés, perdida no meio do vale, a pequena El Bolsón. Dali saímos no início da manhã e a pequena mancha urbana era o único lembrete que a tal Terra que visitávamos não era assim, “sem pessoas”. Mas não era para o fundo do vale que olhávamos agora, mas para as montanhas muito mais além. O Piltriquitrón reina absoluto na região ao seu redor, todas as montanhas próximas abaixo de seu cume. Mas a essa altitude, podemos enxergar muito mais longe. E lá no horizonte, bem afastadas, duas montanhas ainda mais colossais nos olhavam de cima, impassíveis. Para o norte, a 100 quilômetros de distância, mas perfeitamente visível com esse céu limpo, o Cerro Tronador. Mais de um quilômetro acima de que nós, ele sim é o rei dessa parte da Argentina, a mais famosa montanha de Bariloche. Na direção noroeste, ainda mais longe e do outro lado dos Andes, o magnífico vulcão Osorno, um dos mais conhecidos do Chile. Com quase 2.700 metros de altura e com aquele belo e típico formato cônico dos vulcões, ele é visível de todas as direções, seja aqui da Argentina, seja de pleno Oceano Pacífico. Ainda vamos passar por lá, no nosso caminho de volta para o norte, em pouco mais de um mês.
Por mais que se suba, sempre há alguém mais alto do que nós! (no cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina)
Paraglider sobrevoa linda paisagem patagôniaca no alto do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Não só esses gigantes nos chamaram a atenção com suas distintas formas contra o céu azul. Algo menor e muito mais próximo também era um ímã para nossos olhos. Movia-se no céu azul, mas não era um pássaro. Não, na verdade era outro lembrete da presença humana por aqui. Silenciosos, tampouco eram aviões! Nada disso! Eram afortunados praticantes de paraglider! Como nós, resolveram aproveitar as condições meteorológicas favoráveis para um “passeio” pelas montanhas. No caso deles, bem acima delas! Não sei de onde saltaram, mas sei que correntes de ar e térmicas favoráveis os levaram lá para cima e eles podiam ver o Piltriquitrón e toda a paisagem próxima de um ângulo bem favorável. Tranquilamente, deslizavam pelos céus, nos enchendo de inveja e também de possibilidades de fotos fantásticas. Afinal, não é todo dia que se pode fotografar essas “aves humanas” contra um background tão espetacular, montanhas nevadas cercando um vale encantado preenchido por florestas viçosas e um enorme lago azul. Eu e a Ana ficamos ali, hipnotizados por aquele momento mágico, quase que sem respirar para não atrapalhar o voo daquelas pessoas. Eles iam e voltavam, para um lado e para o outro, para cima e para baixo e eu só posso imaginar o que se passava em suas mentes com aquele verdadeiro cinema em 3D sob seus olhos e pés. Existirá algum lugar mais belo nesse planeta para se fazer um voo desses?
Aproveitando o dia lindo, diversos paragliders voando na região do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
No cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Aos poucos eles foram baixando, um verdadeiro enxame de asas coloridas. Agora já estavam lá embaixo e isso nos lembrou que também nós precisávamos descer. Quase no mesmo momento, finalmente chegou aquele casal ao cume. Depois de tanto tempo, foi estranho ouvir outras vozes humanas em nosso pequeno e infinito universo particular. Chegaram na hora certa! Chance de tirarmos fotos mútuas, casais posando solos no topo da montanha. Uma breve e agradável conversa (encontros em lugares assim são sempre interessantes!) e era hora de descer!
Atravessando trecho de neve na volta do cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Atravessando trecho de neve na volta do cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Para baixo, diz a lenda, todo santo ajuda. Ainda mais em um lugar assim, onde tínhamos agora toda a paisagem a nossa frente (quando subíamos, ela estava nas nossas costas!). Já não mais parávamos para respirar ou recuperar o fôlego, mas simplesmente para admirar a paisagem cinematográfica à nossa frente. A única preocupação foi atravessar aquela passagem mais difícil, mãos ajudando os pés. Depois, foi só diversão. A maior delas, talvez, atravessar os campos de neve. Aproveitando o calor do sol, era estranho e engraçado caminhar sobre a neve vestindo roupas quase tropicais!
Mangueira de coleta de água em riacho na região do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Voltando do cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
A neve ficou para trás e chegamos novamente ao trecho com trilha bem demarcada e ao riacho que abastece o refúgio com água pura e gelada. Cruzar o longo trecho de planalto ainda foi mais agradável do que na subida, todo o nosso pensamento concentrado apenas em desfrutar aquele momento e não mais preocupado em achar o caminho até o cume da montanha. Não demorou muito e já víamos o refúgio lá embaixo, conforto e cerveja nos esperando, a cereja do bolo do grande dia que vínhamos tendo.
Interior do refúgio do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Mensagens budistas decoram o refúgio do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
E assim foi. Chegamos e entramos no refúgio para logo ficarmos amigos da guarda-parque que está tomando conta dele nessa temporada. Outra moça, assim como havia sido no refúgio San Martín, na caminhada que fizemos em Bariloche. Essas argentinas são mesmo “porretas” e isso só me faz admirá-las ainda mais. Passam semanas aqui nesses rincões isolados, longe da civilização e das pessoas, mas perto da natureza. Mantém os refúgios limpos e aconchegantes e, nesse caso específico, ainda cuidam da manufatura da cerveja! Isso mesmo, ali estava todo um aparato para produzir cerveja e eu e a Ana tratamos de experimentá-lo. Ela não estava tão gelada como havíamos sonhado, mas deliciosamente saborosa.
Depois do cume, a merecida cerveja no refúgio do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Gato aproveita o aconchego do interior do refúgio do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Então, foi o momento de descansarmos e degustarmos cada minuto. Junto conosco, além da simpática anfitriã, um gato preguiçoso, feliz por estar dentro do refúgio aquecido. Uma enorme janela enfeitada com bandeirolas tibetanas nos possibilitava a vista das montanhas e do vale lá embaixo. Tanto estímulo só nos fez decidir passar da primeira para a segunda garrafa de um litro. Um lugar e um momento como esse merecem, isso não se discute!
Cerveja feita no próprio refúgio do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Com o espírito duplamente elevado, era hora de descermos um pouco mais para caminharmos no Bosque Tallado. Na sombra dos pinheiros, os antigos troncos mortos agora transformados em esculturas mais parecem espíritos da floresta. Com a devida ajuda dos litros recentes de cerveja artesanal, não foi difícil imaginar histórias, criar personagens e dar vazão à imaginação. Mais uma vez, fizemos nossa reverência ao artista que teve essa brilhante ideia de transformar um bosque morto em um verdadeiro jardim de esculturas.
Atravessando o Bosque Tallado na trilha do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Uma das esculturas do Bosque Tallado na trilha do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
Depois desse mergulho no mundo do imponderável, era hora de voltarmos à realidade. Felizmente para nós, nesse caso a realidade se materializou na forma da nossa querida Fiona, pronta para nos levar através da estrada empoeirada com todo o conforto e ar condicionado. Realmente, descer aquilo a pé, a esta altura, seria uma quebra de clima danada! Sorte também teve um grande grupo de turistas israelenses para quem demos carona. Meia hora mais tarde e estávamos de volta à nossa pousada e lar em El Bolsón. Amanhã pegamos estrada novamente, sempre rumo ao sul. Mas antes disso, outra noite de sono bem dormida e outro café da manhã que serve como um estímulo para despertarmos. Que assim seja!
Parada para admirar a paisagem na volta do cume do Cerro Piltriquitrón, em El Bolsón, na Argentina
As famosas montanhas Piton, em Soufriere, no sul de Santa Lúcia, no Caribe
Dentre todas as ilhas caribenhas, Santa Lúcia foi aquela em que os eternos rivais, franceses e ingleses, mais lutaram pela posse, resultando em dezenas de trocas de soberania. Como nas ilhas vizinhas, os índios Caribs conseguiram impedir os espanhóis de se instalarem, mas não resistiram à “onda” seguinte, 150 anos mais tarde, de colonizadores franceses. Estes fundaram diversas viras no litoral caribenho de Santa Lúcia, inclusive a cidade de Soufriere. Mais para o norte, foram colonizadores ingleses que se instalaram.
Vista para a Piton do nosso hotel em Soufriere, no sul de Santa Lúcia, no Caribe
Dirigindo em Soufriere, região das montanhas Piton, no sul de Santa Lúcia, no Caribe
A partir da segunda metade do séc XVIII os ingleses viram na ilha um grande valor estratégico, principalmente por estar tão próxima da principal ilha francesa da região, Martinica. Assim, diversas vezes conquistaram Santa Lucia, mas por força de tratados ou negociações, acabavam por devolvê-la novamente aos franceses. Assim foi durante a Guerra dos 7 Anos, Revolução Americana, Revolução Francesa e Guerras Napoleônicas. A posse definitiva para a Inglaterra só veio em 1814. Mas os costumes franceses na população já estavam tão arraigados que quase todas as cidades ainda mantém seu nome francês enquanto que a língua oficial da ilha só foi mudada na metade do século. Mesmo assim, até hoje, quando conversam entre si, a língua mais falada em Santa Lúcia é o “patois”, uma espécie de francês creolle.
A deliciosa praia de Chastanet, em Soufriere, no sul de Santa Lúcia, no Caribe
São franceses também os nomes das mais famosas montanhas de Santa Lúcia e do leste do Caribe: a Petit Piton e a Gros Piton. De origem vulcânica, tem uma forma piramidal quase perfeita, se erguendo a 750 metros de altura, dois enormes “icebergs verdes”.. Ficam na costa sudoeste da ilha, próximas à cidade de Soufriere e são o mais famoso cartão postal do país.
Snorkel em meio a cardume na praia de Chastanet, em Soufriere, sul de Santa Lúcia
Maravilhoso snorkel na praia de Chastanet, em Soufriere, sul de Santa Lúcia
Acordamos hoje ansiosos para vê-las sob a luz solar (só a tínhamos visto de noite, maravilhosas!) e fotografá-las. Não nos decepcionamos! O dia estava lindo e, a todo momento, onde quer que estivéssemos, parávamos para vê-las e admirá-las “Puxa vida! Estamos mesmo aqui, em Santa Lúcia!” – foi minha exclamação ao longo do dia...
Maravilhoso snorkel na praia de Chastanet, em Soufriere, sul de Santa Lúcia
Logo no nosso café da manhã, já pudemos admirar a “Petit”, porque a “Gros” se escondia atrás dela. Depois, no nosso caminho para praia de Chastanet, passando por uma estrada bem alta, ali tivemos a melhor visão, dessa vez das duas montanhas. Foi só quando chegamos à bela praia que elas sumiram, escondidas por um rochedo. Mas não por muito tempo!
Snorkel na praia de Chastanet, em Soufriere, sul de Santa Lúcia, com vista para as montanhas Piton
A praia é mesmo bela, mas melhor ainda é o snorkel que se pode fazer ali. Perfeito! Temperatura e visibilidade ideais, peixes coloridos e cardumes, diversos tipos de corais e de crustáceos. Além disso, a profundidade variava dos dois metros aos trinta metros. Ou seja, tinha para todo gosto! Obviamente que fui me divertir nas grandes profundidades! Com uma água limpa dessa, sem perceber e já estava ultrapassando os vinte metros. Muito legal!
Atravessando caverna submarina durante snorkel na praia de Chastanet, em Soufriere, sul de Santa Lúcia
Uma sereia na saída de caverna submarina durante snorkel na praia de Chastanet, em Soufriere, sul de Santa Lúcia
Mas o melhor ainda estava por vir. Primeiro, nadamos até o fim do rochedo para, mais uma vez, admirar as Pitons. Visão inspiradora! Depois, no próprio rochedo, descobrimos várias cavernas submarinas. Agora, minha diversão passou a ser atravessá-las. Primeiro, com cuidado, vendo se o fôlego era suficiente. Depois, já mais seguro, parando no meio para tirar fotos. Um espetáculo! Uma delas não tinha saída. Então, nadava o mais para dentro que podia e, de lá, ao olhar para a saída, aproveitava aquela visão mágica. Mas não podia me enrolar muito não, pois o ar me esperava lá do lado de fora! Enfim, foram quase duas horas de muita diversão (e muito fôlego!).
Praia de Soufriere, no sul de Santa Lúcia, no Caribe
Admirando a magnífica Petit Piton, em Soufriere, no sul de Santa Lúcia, no Caribe
No finalzinho da tarde fomos até a cidade, caminhar pelo centro. Mais vistas incríveis da Petit Piton, dessa vez com uma luz ainda mais bonita. E na praça central da cidade, um momento de silêncio para as várias pessoas que foram ali guilhotinadas. Afinal, em 1792 a ilha ainda era francesa e estávamos em plena revolução! Ai daqueles suspeitos de conspirar contra o novo regime...
Praça central em Soufriere, onde ocorriam as execuções por guilhotina durante a Revolução Francesa (em Santa Lúcia, no Caribe)
Nosso maravilhoso pôr-do-sol atravessando a temida Drake Passage
Engana-se que achou que nossa última grande emoção programada para essa viagem à Antártida tenha sido o “polar plunge”, o salto nas águas geladas descrito no último post. Não, esse não foi o último desafio. Ainda restava um, bem à nossa frente. Estou falando da famosa Drake Passage, nome dado ao trecho de oceano que separa a península antártica da América do Sul. Para chegar a Ushuaia, na Terra do Fogo, local do nosso desembarque final, temos de cruzar essa temida região de mares bravios.
Navegando nas tranquilas águas da Drake Passage, entre a Antártida e a América do Sul
O roteiro mais comum dos barcos que levam turistas à Antártida parte de Ushuaia e segue diretamente para a península antártica. Neste caso, os passageiros enfrentam a Drake Passage duas vezes, uma na ida e outra na volta. Muitas vezes, a experiência da ida e tão ruim que alguns passageiros resolvem pagar um pouco mais e retornam da Antártida de avião. Nosso caso foi diferente. Ao invés de embarcarmos em Ushuaia, começamos nossa viagem de Buenos Aires e seguimos diretamente para as Malvinas, Geórgia e Antártida. Em outras palavras, demos a volta na Drake Passage. Mas agora na volta, não tinha remédio: tínhamos mesmo de cruzar bem pelo meio da famosa passagem.
Nosso maravilhoso pôr-do-sol atravessando a temida Drake Passage
Não há navegador no mundo que não conheça esse lugar ou, ao menos, sua má fama. É muito provavelmente o trecho mais perigoso de todos os oceanos da Terra. Uma procura rápida no YouTube vai mostrar diversos vídeos de navios grandes e pequenos sendo castigados por ondas enormes. Tudo dentro dos barcos deve ser amarrado e os passageiros passam um dia inteiro trancados em seus quartos, boa parte deles passando muito mal. Pode parecer ruim, mas para mim era uma das atrações dessa viagem e eu torcia para ter uma verdadeira experiência por aqui, na Drake Passage. A não ser que esteja de ressaca, não costumo passar mal em alto-mar e ansiava para passar por esse “teste”. A coisa mais parecida que já tinha vivenciado tinha sido a travessia de barco entre as duas ilhas que formam a Nova Zelândia, num distante ano de 1998. Bem no dia da nossa travessia (viajava com um primo pelo país, de carro), o mar tinha virado e nenhum barco se atrevia a fazer a travessia. Apenas um, o maior deles, com capacidade para centenas de passageiros e carros, se aventurou. Dois terços dos passageiros passaram mal e por onde andávamos dentro do navio havia gente vomitando. Jamais esquecerei da cena de uma família toda, pais e dois filhos, vomitando juntos. “Família que vomita junto permanece junta”, já diz o velho ditado. Enfim, estava imaginando algo parecido para essa nossa travessia pelo Drake...
Novamente em alto-mar, descansando no salão do Sea Spirit
Tudo tranquilo na ponte de comando do Sea Spirit, já ao final da Drake Passage, chegando à América do Sul
São pouco mais de 800 km entre a Antártida e a Terra do Fogo. É onde se dá o encontro dos dois maiores oceanos da Terra, o Atlântico e o Pacífico. Por aí circula a corrente marinha circumpolar antártica. Esse verdadeiro “rio marinho” tem a força de 600 rios Amazonas. É isso mesmo, SEISCENTAS vezes mais água se movimentando que no rio mais caudaloso do mundo. Não foi sempre assim, claro. Antártida e América do Sul se acomodavam juntas no grande continente austral de Gondwana. Quando ele começou a se partir, há pouco mais de 100 milhões de anos, esses dois continentes se separaram, mas a península antártica sempre esteve muito próxima do sul da América do Sul, separados apenas por um mar raso. Flora e fauna se comunicavam entre os dois vizinhos próximos. Até que, 40 milhões de anos atrás, a geologia do local mudou. A passagem se aprofundou bastante possibilitando que enormes correntes marinhas fluíssem por aí desimpedidas. Era o nascimento da tal corrente gelada circumpolar que praticamente aprisionou o frio polar sobre a Antártida. Até então, esse frio seguia para o norte e de lá retornava com o calor dos trópicos. A Antártida ainda vivia sob um clima subtropical. Mas a criação da Passagem de Drake e da corrente circumpolar selou seu futuro gelado. Situação que segue inalterada até hoje.
Um verdadeiro mar de comandante na nossa travessia da Drake passage, entre a Antártida e a América do Sul
Um verdadeiro mar de comandante na nossa travessia da Drake passage, entre a Antártida e a América do Sul
Talvez por isso que foram precisos outros 300 anos desde que Magalhães descobriu o Oceano Pacífico através do estreito que leva seu nome (entre a Terra do Fogo e o continente americano) para que os navegadores se aventurassem ainda mais ao sul, explorando as águas turbulentas que marcam o encontro do Atlântico com o Pacífico. O primeiro a ir parar lá, levado pelos ventos, foi um dos maiores navegantes de todos os tempos, o pirata-corsário inglês Francis Drake, ainda no séc. XVI. Por isso o nome Drake Passage. Mas ele tratou de sair de lá rapidinho. Exploradores mesmo, só muito mais tarde...
Nossa posição atravessando a Drake Passage, já a meio caminho entre a Antártida e a América do Sul
A cada seis horas, um novo boletim sobre as condições do tempo, mar e ventos
Pois bem, e agora era a nossa vez! Todo mundo com um olho no mar e outro na previsão de tempo. O Sea Spirit recebe previsões atualizadas e detalhadas a cada 6 horas e disponibiliza esses dados, na forma de mapas e gráficos, para os passageiros. Foi quando, para alívio geral e tristeza minha, configurou-se a notícia. Justo o nosso dia de travessia caiu naqueles menos de 5% de dias em que o mar se acalma por lá. Mais do que isso, ele se acalmou de verdade, de um modo que tripulantes que já passaram por ali dezenas de vezes nunca haviam visto.
Nosso maravilhoso pôr-do-sol atravessando a temida Drake Passage
A temível e terrível Drake Passage mais parecia um lago. A Drake Passage virou o Drake Lake. Isso nos deu tempo para curtir a viagem, fazer festas, passear pelo navio, ler livros e jornais, beber e se divertir e até admirar um esplendoroso pôr-do-sol. Mas não posso negar que fiquei meio decepcionado. Ao reclamar com um dos guias dizendo que eu preferiria um mar bravio, ele me lançou um olhar que misturava surpresa, indignação e desprezo e respondeu: “Você não tem ideia do que está falando!”. É... fiquei mesmo sem a ideia da verdadeira Drake Passage. Motivo para voltar?
Aproveitando o conforto e tranquilidade do quarto para ler um livro, no Sea Spirit, a caminho de Ushuaia
Caminhada até os Chutes du Carbet, no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Nosso dia começou de maneira meio estranha. Eram duas da manhã, a Ana já no sétimo sonho na cama ao meu lado, eu trabalhando um pouco no computador com as fotos dos últimos dias quando tive a nítida impressão de alguém abrir a porta dos fundos do nosso chalé. Levantei-me na hora para ir averiguar e aporta estava fechada. Mas não trancada! Sai do lado de fora, olhei e nada. “Deve ter sido o vento”, imaginei. Pois logo pela manhã haviam carros de polícia na porta do gite em que estávamos. Durante a madrugada, alguém entro no chalé ao lado do nosso e, enquanto a moça lá dormia, o invasor pegou seu lap top e carteira. Ela acordou com ele lá dentro ainda, mas rapidamente o gatuno se mandou. Essa é a vantagem de trabalhar até tarde! A simpaticíssima proprietária do gite, uma belga que falava muito bem espanhol, estava consternada. Enfim...
O oceano visto do alto do Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Agora, com ela de olho em sua propriedade, voltamos para a praia para mais uma caminhada e mergulho saudáveis, sensação de estar na nossa querida Praia Vermelha, lá em Ubatuba. Sempre com a ressalva de que aqui, a água é muito mais transparente! Foram quarenta minutos de máximo aproveitamento, mas tínhamos de seguir viagem, pois ainda havia muito por ver em Basse Terre.
A primeira visão da majestosa 2a Queda dos Chutes du Carbet, no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Queríamos seguir para a ponta sul da ilha e, aconselhados pela nossa amiga belga, fomos seguindo no sentido horário, dando a volta em Basse Terre. Logo estávamos na costa ocidental dessa “asa” esquerda da ilha, Grande Terre do outro lado do braço de mar.
Mapa em 3-D do arquipélago de Guadalupe
Na verdade, Guadalupe não é apenas uma ilha, mas um arquipélago. A ilha principal é dividida em duas “asas”, Basse Terre, montanhosa, do lado oeste, e Grande Terre, plana, do lado leste. À sudeste está Marie Galante (que nome lindo!), bem grandinha também. Ao sul de Basse Terre estão as Les Saintes, muito populares entre turistas, e do lado leste esta La Désirade, a menos visitada de todas. Nosso plano é dar um pulinho em Marie Galante, um bate e volta de um dia. O que mais me atraiu foi o fato de que a ilha só recebe turistas que falam francês, pois ninguém fala inglês por lá. Mas ainda não sabemos que vamos ter tempo...
Local perfeiro para descanso e reflexão no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Apesar de formarem uma mesma ilha atualmente, Basse Terre e Grande Terre tem histórias completamente distintas. Elas se encontram em arcos ou fissuras diferentes, no encontro de placas tectônicas que formaram quase todas as ilhas caribenhas. O arco externo, onde está Grande Terre, foi muito ativo antigamente e a ilha foi formada há muito mais tempo que Basse Terre. Tanto que houve tempo da erosão acabar com suas montanhas a ponto da ilha ficar submersa e servir de base para uma enorme formação coralínea. Depois, com o recuo do nível dos mares, ela emergiu novamente. Enquanto isso, Basse Terre foi formada muito mais recentemente (em tempos geológicos!) e por isso é cheia de altas montanhas, ainda sujeita a grandes terremotos e erupções vulcânicas que continuam transformando sua paisagem. Quis o destino que essas duas ilhas se unissem por um istmo, formando a tal “borboleta”. Os nomes é que parecem trocados, afinal Grande Terre é baixa e Basse Terre é alta... Mas é que a origem dos nomes está ligada à existência de ventos (muito fortes em Grande Terre a baixos em Basse Terre) e não às montanhas. Logo se vê que quem as nomeou eram marujos e não alpinistas!
Visita ao Parque Nacional em Basse Terre,região dos Chutes du Carbet, em Guadalupe, no Caribe
Nós percorremos toda a costa ocidental de Basse Terre até o sul, quando entramos, por uma pequena estrada, no Parc National de Gaudeloupe uma outra vez. Fomos em direção aos famosos Chutes du Carbet, nome dado a três enormes cachoeiras que despencam quase cem metros no caminho das montanhas para o mar. Paisagem digna das nossas Chapadas, só que em plena mata tropical. De um mirante se pode observar duas dessas cachoeiras (estão no mesmo rio!). Só que o tempo nublado tampou a mais alta delas, e só pudemos ver o 2º salto. Uma agradável caminhada de 30 minutos pela mata, subindo e descendo escadas nos leva até a base dela, de onde ela fica ainda mais impressionante.
Grand Etáng, um grande lago no meio da mata do Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Existe uma caminhada mais longa, que dura todo o dia, partindo do outro lado da montanha. A trilha leva ao alto do vulcão La Soufrière, que domina o sul da ilha e, na descida, passa por dois dos saltos dos Chutes du Carbet. Infelizmente, na nossa programação, não cabia essa caminhada. Uma tristeza! Vimos um grande grupo, já no final de tarde, todos com suas mochilas, entre os 50 e 60 anos, terminando essa caminhada. Os rostos indicavam uma sensação de conquista e o prazer de um dia duro na natureza. Todos, assim como a grande maioria dos turistas que vemos por aqui, franceses. É realmente um mundo completamente diferente das outras ilhas caribenhas que conhecemos, dominadas por turistas americanos e ingleses. Quanto à caminhada, um excelente motivo para programarmos outra viagem para Guadalupe...
Nadando em deliciosa piscina natural no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Depois de voltarmos para a entrada do parque, ainda tivemos tempo e disposição para descer 400 metros de pirambeira pela mata para chegarmos á Basin Paradise, uma belíssima piscina natural alimentada por uma cachoeira, cenário idílico no meio da mata tropical. Meia hora de prazer na água refrescante olhando aquela floresta ao nosso redor e tentando nos convencer que estávamos em pleno Caribe, numa pequena ilha perdida no meio do oceano. Nessa nossa vida de constante movimentação, temos que, de tempos em tempos, fazer uma “zoom out” virtual e nos olhar lá de cima, do espaço, para realmente entendermos aonde estamos. Uma espécie de contextualização geográfica, para valorizarmos ainda mais cada momento que estamos vivendo!
Banho refrescante na Basin Paradise, no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Voltamos pirambeira acima até o carro e voltamos para a estrada principal, na costa. De lá para a ponta sul de Basse Terre, para a pequena cidade de Tròis Rivières, de onde saem os barcos para as ilhas de Les Saintes. Elas estavam ali, ao nosso alcance. Mas foi o mais perto que pudemos chegar delas. Outro motivo para voltar à Guadalupe...
Preparando uma macarronada em Tròis Rivières, no sul de Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Dessa vez, tivemos mais trabalho para arrumar algum gite para dormir. Não temos mapas dessas cidades, nem GPS, nem endereços. São poucas as placas de propaganda, então não é fácil chegar até eles. Enfim, achamos e nos instalamos. Depois, corremos no mercado antes que fechasse. O menu de hoje foi uma bela macarronada, a Ana matando sua saudade de um fogão. Uma delícia o nosso lanchinho por aqui! Agora, uma boa noite de sono para, amanhã, visitarmos rapidamente a praia de areias negras aqui do lado e seguirmos viagem para o outro lado da “borboleta”, onde não há montanhas, mas venta bastante...
Deliciosa macarronada preparada pela Ana em Tròis Rivières, no sul de Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Escorregando pela Cachoeira do Escorrega, em Parati - RJ
Há dezoitos anos, ainda nos áureos tempos de estudante, fiz a travessia da Serra da Bocaina acompanhado apenas da minha mochila (a mesma que viaja comigo hoje!!!). Em tempos pré-internet, não foi fácil arrumar um mapa e dicas da trilha. Com muito custo, consegui que um amigo de um amigo desenhasse um mapa para mim, com alguns pontos de referência. A trilha começa em São josé do Barreiro, em São Paulo, no alto da serra e termina pertinho do mar, já no estado do Rio, na pequena localidade de Mambucaba, próximo à Angra dos Reis.
No poço do Tarzan, em Parati - RJ
Foram dois dias de caminhada, primeiro pelos campos no alto da Serra e depois pela sombra e umidade da Mata Atlântica, descendo a serra pelo caminho calçado de pedras feito por escravos dois séculos antes. No caminho, muitas cachoeiras e água limpa, pura e cristalina. Consegui que um amigo de Queluz me levasse até o início da trilha de carro, economizando uns bons quilômetros de caminhada. Depois, foi tudo na raça, à procura dos poucos pontos de referência que eu tinha. O mais importante e também a mais bela cachoeira da trilha e da região, a cachoeira do Veado, com muita água e mais de 100 metros de altura. Linda! Outro ponto de referência, inesquecível para mim, foi a Alameda dos Vagalumes, ao lado do lugar de acampamento. Só fui realmente entender a razão do nome quando anoiteceu... Nunca vi tantos vagalumes na minha vida. Foi realmente impressionante! Maravilhoso mesmo.
No poço do Tarzan, em Parati - RJ
Pois bem, era essa trilha que queria fazer com a Ana mas parece que não teremos tempo. Seria um trampo também, ter de deixar o carro lá em cima e depois, tentar voltar de ônibus para reencontrar a Fiona. Vamos ver se ainda conseguimos ir pelo menos na parte de cima do parque, semana que vem, depois do nosso pulo em Curitiba.
Antes disso, aproveitando o embalo do nosso dia maravilhoso na escuna do qual chegamos de volta às 15:30, fomos visitar a parte de baixo do parque, aqui pertinho de Parati, do lado da estrada de Cunha. Quando descemos a estrada ontem, no finalzinho, já estava escuro. A imagem que tínhamos do parque era a da queimada que tínhamos visto. Precisávamos mudar isso!
E assim foi. Subimos a estrada até a famosa cachoeira do Escorrega e de lá fomos ao Poço do Tarzan. Água fresca, bem gostosa, depois de passar o dia na água salgada do mar. A quantidade e diversidade de verde da mata atlântica, que cerca o rio em que estávamos, sempre impressiona. Foi um final de tarde delicioso. Mais ainda por ter sido no mesmo dia do passeio de escuna. Só mesmo um lugar tão especial como Parati para poder proporcionar duas experiências tão distintas num mesmo dia. E para completar, a cidade ainda é um charme!
Parati - RJ
Bom, voltando à Serra da Bocaina, o passeio serviu para nos deixar uma lembrança muito mais agradável do parque: em vez do fogo destruindo a vegetação, a água maravilhosa da cachoeira rodeada por uma viçosa mata atlântica, Viva a Bocaina! Depois deste post, fiquei com mais vontade ainda de ir com a Ana na parte alta do parque. Semana que vem...
Parati - RJ
Urso dscansa no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Por incontáveis milênios, a nossa espécie vagou pelas florestas e pradarias africanas, em “íntimo” contato com a natureza. Ali, mas do que nunca, fazíamos parte da cadeia alimentar de vários predadores. Ao mesmo tempo, era dessa mesma natureza que nos servíamos diretamente, através da coleta, extrativismo e, claro, caça de animais menores ou maiores do que nós. Ao longo de nada menos que 10 mil gerações, certamente foi incutido em nosso código genético, através do processo de seleção natural, um medo instintivo dessas enormes criaturas que poderiam nos ver como alimento. Ao mesmo tempo, a convivência com eles e com o meio ambiente que nos cerca também passou a ser uma característica da nossa espécie. Se assim não fosse, com certeza faríamos parte da longa lista de espécies que não se adaptaram ao meio ambiente e se perderam para sempre nos caminhos da evolução.
Perseguindo salmões no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Concentração para a pesca de salmão no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Então, em algum momento, há cerca de vinte mil anos, chegamos ao topo da cadeia. Uma vez ou outra, ainda éramos o almoço, mas passaram a ser as feras que se “preocupavam” mais conosco, e não o contrário. Ainda mais recentemente, um piscar de olhos dentro da nossa evolução como espécie, nos mudamos das matas para a cidade, para longe daquilo que sempre havia sido a nossa casa, a natureza. Pouca gente se dá conta que passamos apenas 1% do nosso tempo como espécie dentro da chamada “civilização”, enquanto os outros 99%, ou 200 mil anos, foi mesmo no mato. Muito pouco tempo para mudar nossas características forjadas à ferro e fogo, sob a chuva e sol ardente, correndo de leões, temendo as cobras pela noite e caçando mamutes durante o dia. Enfim, o sangue desses nossos esquecidos antepassados ainda corre forte em nossas veias.
Um urso a procura de salmões no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Um urso nada solitário no belo lago de Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Não é a toa que, quando à natureza retornamos, em breves viagens de fim de semana ou em longas temporadas de 1000dias pelas Américas, algo profundo e sincero, primitivo e empolgante nos toca. Admiração e respeito, temor e curiosidade, tudo se mistura quando, inconscientemente, voltamos ao nosso lar. O momento em que esse conjunto de sensações fica mais explícito é quando encontramos a vida selvagem, aqueles que dividiram o mesmo espaço conosco durante aqueles incontáveis milênios. De alguma maneira, são como nossos irmãos. É por isso que, mesmo com todo aquele medo que nos fez sobreviver como espécie, também temos a curiosidade de nos aproximar dos grandes animais, vegetarianos ou carnívoros, vê-los de perto, aprender como vivem e, num sentido mais amplo, aprender como vivíamos nós mesmos.
Um grande urso saboreia o salmão que acabou de pescar no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Detalhe das garras de um urso em Haines, no sudeste do Alaska
Imagino que o melhor lugar para sentirmos isso, ficarmos mais perto desse passado que ainda vive literalmente dentro dos nossos genes, seja nas savanas africanas, onde tudo começou. Quem já esteve lá volta transformado. Eu não tive essa chance, mas é uma das coisas que ainda farei na minha vida. Mas há outros lugares no mundo em que podemos ter uma experiência parecida. Dentre eles, certamente se destaca o Alaska. Aqui, ainda encontramos o mundo natural em seu esplendor. Selvagem, inexplorado, grandioso. É claro que a civilização também já chegou por aqui, mas basta dar alguns passos e já estamos mais perto de uma mata que de um shopping, de uma montanha que de um prédio, de um urso que de um ser humano.
Um urso a procura de salmões no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Gaivota observa as técnicas de pescador do urso, no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Pois é, desde que chegamos nessa terra longínqua, estivemos com alces, elks, veados, lebres, águias, coiotes, lobos e ursos. Todos animais que já estavam aqui, na Terra, muito antes de chegarmos. Enfim, a “casa” é nossa também, mas muito mais, deles. Não são apenas nossos irmãos, mas nossos irmãos mais velhos, a quem devemos muito respeito. Não é a toa que os primeiros ídolos de uma criança são seus irmãos (ou primos) mais velhos. São eles que sabem das coisas, são mais corajosos, são quem nos ensinam os segredos. Essa é a melhor tradução do que sentimos quando vemos esses animais caminhando livres pela natureza, aquela que foi e sempre será a nossa casa. Mas junto com a admiração e o respeito, vem o medo também. Irmãos mais velhos são mais fortes e mais sabidos. E também podem nos fazer mal.
Um grande urso saboreia o salmão que acabou de pescar no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Urso adolescente abocanha um salmão no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Mais do que nunca, essa combinação de respeito, admiração e medo vale para aqueles animais maiores do que nós, especialmente os que podem nos comer. Misteriosamente, são os que mais nos atraem. É preciso sempre achar o balanço certo entre esses dois sentimentos, a curiosidade e o medo. Com muito medo, acabamos não saindo de dentro de casa, assistindo tudo pela TV. Com excessiva curiosidade, acabamos virando almoço, como foi o caso de poucas pessoas, mas sempre em notícias muito alardeadas pela imprensa.
Nadando tranquilamente no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Um grande urso nada nas águas do rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Tivemos a oportunidade de ver predadores como ursos e lobos em diversas partes do Alaska. Mas em nenhum lugar foi como Haines. Aqui, uma combinação de fatores faz com que esse balanço entre curiosidade e medo possa pender, com segurança, muito mais para a primeira. Tudo por causa da quantidade farta de alimentos que nessa época, “nada” por aqui. São os salmões, subindo os cursos d’água em direção aos locais em que nasceram, poucos anos antes. Os ursos, assim como outros predadores, ficam no rio e, durante semanas, se refestelam. O excesso de comida faz com que fiquem mais calmos, baixem a guarda, aceitem a presença de outros animais, inclusive dos seus pares. Normalmente, grizzlies são animais solitários (com a notável exceção de uma mãe acompanhada de filhotes!), mas aqui pode-se vê-los em grupos, convivendo pacificamente. Um verdadeiro espetáculo, assisti-los no rio, nadando e se divertindo, enquanto pescam e se alimentam.
Pescadores aproveitam o rio Chilkat ainda sem ursos, em Haines, no sudeste do Alaska
Pescadores aproveitam o rio Chilkat ainda sem ursos, em Haines, no sudeste do Alaska
Muito interessante também é ver a convivência de ursos e homens. Dois predadores no topo da cadeia. Pois é, a maioria dos visitantes dessa época, aqui em Haines, não vem atrás dos ursos, mas dos salmões. São pescadores! Dividem o mesmo rio com os ursos. Com o devido respeito, é claro! Eles já sabem que o horário preferido dos ursos é no final da tarde. Então, basta chegar ao rio um pouco antes disso que vemos ele lotado de pescadores com suas longas cordas e varas. Aqui, pescam com a “fly fish” (não sei como dizer em português...) e observá-los nas águas verde-esmeralda do rio é um espetáculo em si só. Aí, de repente, vemos um pescador, meio ressabiado, se afastando do lugar que estava. Já sabemos! É um urso que chegou por lá. E assim continua, os ursos chegando e os pescadores cedendo seu espaço. A princípio, podemos pensar que são regras de convivência aprendidas nos últimos anos, tanto por ursos como por pescadores. Mas eu arrisco dizer que as regras são um pouco mais velhas. Tem 200 mil anos de idade. E é com lágrimas nos olhos, do fundo dos meus genes, que eu digo: é emocionante vê-las funcionando.
Um grande e obeso urso atravessa a estrada bem em frente à Fiona, em Haines, no sudeste do Alaska
O urso não parece se importar muito com a placa em Haines, no sudeste do Alaska
Assim como é emocionante poder estar a poucos metros deles, enquanto saboreiam seu salmão, ou nadam para poder pescá-los. Incrível a sua intimidade com a água. Se algum dia tiver que fugir um urso, não caia na bobagem de entrar num rio! Ele vai alcançá-lo, com certeza! Aliás, sair correndo ou subir numa árvore também não me parecem boa ideia. Se o urso quiser mesmo te comer, a melhor chance é pular de um penhasco ou então, sair no braço. Enfim, são poucas as chances. Por isso, não devemos jamais perder o respeito! Mesmo aqui, deixe um espaço para o urso. Essa é a principal regra de etiqueta no mundo deles. Ou então, fique dentro da Fiona! Com sorte, vai poder ver um cruzando a estrada bem na sua frente. Mas, o melhor mesmo é vê-los na água, entretidos, enquanto nós, na segurança de um barranco, a poucos metros do animal, a Fiona ali do ladinho, temos a mais pura e sincera alegria de estar ali. Com máquina fotográfica, claro!
Um grande urso nada nas águas do rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Recebendo a Bebel no aeroporto de Newark, em Nova Iorque, nos Estados Unidos
Em uma viagem tão longa assim, fica mais fácil para nós, pelo menos para organizar nossos pensamentos e expectativas, dividi-la em etapas. Por exemplo, acabamos de terminar mais uma etapa, pelo Caribe. Na verdade, essa etapa foi tão longa que a gente até dividia ela em “sub-etapas”, cada uma correspondendo a um grupo de ilhas entre as viagens de avião. Enfim, essa etapa do Caribe já é passado, ficou para trás...
Viajando de Fiona com a Bebel de Newark à Pennsylvania, nos Estados Unidos
Logo depois, veio a etapa nova-iorquina, quase quatro dias na grande metrópole. Uma pequena etapa “tampão”, dividindo essa do nosso giro pelo Caribe com outra etapa que acaba de começar, algo que ainda não tínhamos feito nesses 1000dias de viagem, experiência nova para nós. A Fiona está com mais um tripulante! Na verdade, mais “uma” tripulante! É a Bebel, minha querida sobrinha e afilhada, iniciando sua vida de adolescência.
Bebel aproveitando o sol e a piscina da casa da Amy e do Joe, na Pennsylvania, nos Estados Unidos
Já faz um tempo que a gente vem planejando isso, duas semanas pela Nova Inglaterra, quem sabe um pulinho no Canadá, se der tempo. Vai depender do nosso ritmo de viagem com ela, de como vamos administrar os interesses de uma menina de quase 13 anos com os de um casal que há 800 dias viaja pela América de carro, dividindo seu tempo entre atrações naturais e cidades atraentes que encontra pelo caminho. Juntos e devagarzinho, vamos construir nosso roteiro...
Despedida do nosso hotel e do nosso amigo Sabam, em Nova Iorque, nos Estados Unidos
No dia 5, logo depois do meio dia, deixamos Nova York, depois de calorosa despedida do nosso grande amigo na recepção do hotel, o indonésio Sabam. Ele nos deu dicas de passeios, linhas de metrôs e caminhos pela cidade. Ele nos deu internet, café da manhã e coquetel de boas-vindas. Mas do que isso, a cada passagem pela recepção, era uma simpatia só, sempre interessado nas nossas aventuras passadas e presentes. Saímos desse hotel, o Westin, completamente satisfeitos com a relação custo x benefício. Uma excelente opção para que vem à Nova York, pela localização, conforto e serviços oferecidos.
Trabalhando no trem de Nova Iorque à Princeton Junction, em New Jersey, nos Estados Unidos
Fomos para a Penn Station, de onde pegamos o trem para Princeton Junction, em direção à casa da Anita. Uma hora de viagem, muito bem aproveitadas para trabalhar, e chegamos à pequena cidade em New Jersey, onde a querida prima já nos aguardava na estação, junto com os filhos Luiza, Tomaz e Nina. Na sua casa, nos aguardava a Fiona, já há 40 dias longe de nós e imaginando que a tínhamos abandonado! Hehehe, nada disso! Tem muita estrada pela frente, Fiona!
Bebel aproveitando o sol e a piscina da casa da Amy e do Joe, na Pennsylvania, nos Estados Unidos
Nosso plano original era aproveitar o dia 6 para um day-trip à Philadelphia. Mas não demorou muito para mudarmos os planos. “Phili” vai ter de esperar um pouco mais. Nosso dia 6 foi de muita organização, na bagagem, na Fiona e na documentação do seguro do carro. Além disso, demos uma mão para a Anita, que partia de viagem com a família para uma temporada no Brasil. No final do dia, fui levá-los ao aeroporto, o mesmo que pegaríamos a Bebel no dia seguinte.
A Amy com o Mr. White, um dos 3 poodles de estimação, na sua casa na Pennsylvania, nos Estados Unidos
Renovar o seguro da Fiona foi um parto. Sempre o mesmo problema: seguro de carro brasileiro que inexiste no sistema americano é quase impossível. Consegui por mais dois meses, mas preciso procurar outra alternativa para depois disso. Vou pensar nessa abacaxi depois... Enquanto corria atrás disso, a Ana deu uma geral no nosso carro, deixou-o limpinho e organizado e pronto para receber a Bebel.
Fim de semana de sol, piscina e cerveja gelada na casa da Amy e do Joe, na Pennsylvania, nos Estados Unidos
Pois é, era 6 da manhã de ontem, dia 7, e já estávamos no aeroporto de Newark, onde ela chegou. Depois da festa da recepção, seguimos diretamente para a Pennsylvania, para passar o fim de semana na casa da Amy e do Joe. Os dois são muito amigos dos pais da Bebel, meu irmão Pedro e minha cunhada Íris. A Amy eu já conhecia fazia tempo, acabou virando amiga de toda a família. O Joe, só tinha estado com ele por uns 5 minutos, já há mais de 10 anos, quando visitavam o Brasil. Ambos trabalham com cinema e conhecem todos os ban-ban-bans de Hollywood.
Hora do almoço na varanda da casa da Amy e do Joe na Pennsylvania, nos Estados Unidos
Eles tem uma deliciosa casa de campo, na Pennsylvania, quase fronteira com o estado de New Jersey. Eles nos receberam de braços abertos, prontos para nos mimar por dois dias. E assim foi o primeiro final de semana da Bebel por aqui, na beira da piscina, excelente comida, muita mordomia e companhia não só nossa, mas também dos muitos amigos e conhecidos na casa da Amy a na cada da Ann, tia da Amy e também com uma deliciosa casa por ali, sempre cheia de pessoas interessantes.
A deliciosa casa da Amy e do Joe na Pennsylvania, nos Estados Unidos
Quem aproveitou muito também essa boa vida foram eu e a Ana. O Joe e a Amy nos trataram como reis, sem deixar faltar nada. Entre um churrasco preparado pelo Joe ou um café da manhã com frutas e granola preparado pela Amy, sem esquecer as cervejas geladas ao lado da piscina ou as caipirinhas no final de tarde, conversamos muito. O assunto variava de fofocas sobre os astros bonitões do cinema à dicas sobre o que ver ou fazer nos estados da Nova Inglaterra. O Joe conhece muito bem a região, pois a família vive em Vermont. Aliás, já estamos até com o endereço dos pais dele por lá. Ao final, até montamos um roteiro para os próximos dias, passando por Vermont, New Hampshire, Maine e Massachusetts. Vai ser difícil escolher entre tanta coisa para ver...
O trio de poodles da Amy e do Joe, na casa da Pennsylvania, nos Estados Unidos
Finalmente, também tenho de mencionar a companhia dos três poodles do casal, o Mr. White, Mr. Brown e Ms. Black. Nem preciso falar a cor deles, né? Eles ainda conseguem fazer aquela casa deliciosa ficar mais interessante, cada um com sua personalidade. Mas os agradecimentos vão mesmo à Amy e o Joe, que nos ajudaram à dar boas-vindas à Bebel e, ao mesmo tempo, nos fazer sentir em casa. Agora, estamos mais do que preparados, nós três, para amanhã iniciarmos nossa jornada pela Nova Inglaterra, uma das regiões mais belas dos Estados Unidos.
O Joe prepara um delicioso churrasco na sua casa na Pennsylvania, nos Estados Unidos
É... se inicia uma nova etapa dos 1000dias. Tempo para conhecer de novo a afilhada que eu conhecia como menina, mas que cada vez mais é uma moça. New England, there we go! (agora, com a Bebel por perto, vamos ver se melhoro minha pronúncia de inglês, pois o “accent” da afilhada é perfeito! Uma ótima influência para o padrinho...)
Com a Bebel na viagem de Newark à Pennsylvania, nos Estados Unidos
2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet