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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Palácio Cruz e Souza, antiga sede do governo estadual, hoje museu histórico, na Praça XV de Novembro, centro de Florianópolis, Santa Catarina
Hoje chegou o dia de deixarmos Florianópolis e seguirmos para o norte, para nossa chegada inexorável a Curitiba depois de quatro anos na estrada. Mas ainda tínhamos um último programa por aqui. Depois de passar 10 dias na ilha, depois de termos conhecido e passeado em todas as capitais brasileiras, ainda mais hospedados a apenas 15 minutos de caminhada do centro, era inadmissível que não fôssemos dar uma olhada na parte histórica da cidade. Como já disse em outro post, para nós mesmos, até agora, e para muitas pessoas que visitam Florianópolis, o centro da cidade é apenas um lugar de passagem, quando chegamos e quando partimos da ilha. Foi exatamente assim todas as outras vezes que estivemos em Florianópolis, antes dos nossos 1000dias. Mas dessa vez, não deixaríamos passar!
Mercado Público de Florianópolis, Santa Catarina
Foi um passeio bem gostoso. Um quilômetro até lá, duas horas explorando ruas, praças, mercados, igrejas e monumentos históricos, e a volta para casa passando pelo mirante do cais, para tirar nossas últimas fotos da ponte Hercílio Luz. Além do passeio pelo centro, foi também um passeio pela história da cidade. E confesso que essa história me surpreendeu, muito mais interessante e movimentada que eu podia imaginar.
Mercado Público de Florianópolis, Santa Catarina
Interior do Mercado Público, no centro de Florianópolis, Santa Catarina
Começamos as explorações pelo Mercado Público, algo que gostamos de fazer em todas as grandes cidades. Por aqui, como não poderia deixar de ser, a parte forte são dos produtos que vem do mar. Peixes, camarão, polvos, ostras, tudo fresquinho, todos os dias. O prédio é de 1899, portanto já é, por si só, uma atração turística. Além do interesse em ver o que se vende por ali, talvez mais interessante ainda seja ver o movimento de pessoas, desde cidadãos comuns moradores da cidade até turistas com suas máquinas fotográficas, desde os que ali trabalham até estudantes e poetas que frequentam seus restaurantes.
Venda de frutos no mar no Mercado público de Florianópolis, Santa Catarina
Venda de ostras no mar no Mercado público de Florianópolis, Santa Catarina
Do Mercado para um prédio ainda mais antigo e emblemático: a antiga alfândega, construída em 1876. Naquela época, era muito comum aportarem por aqui navios de carga e de passageiros vindos diretamente do exterior. Ao lado do prédio, onde até a década de 70 estava o mar, agora há uma praça movimentada, o Largo da Alfândega, criada sobre um trecho aterrado da baía sul.
Antigo prédio da Alfândega, no centro de Florianópolis, Santa Catarina
Ali pertinho, a arborizada Praça XV, centro da cidade e ao redor da qual se concentram prédios históricos, como o Palácio Cruz e Souza, antiga sede do governo estadual, e a catedral metropolitana. A poucos quarteirões da praça também estão duas outras igrejas históricas e centenárias: a Igreja de São Francisco e a igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Todas com nítidas influências açorianas.
Arte nas ruas do centro de Florianópolis, Santa Catarina
Dentro da praça, além de monumentos e bustos que homenageiam catarinenses famosos, a principal vedete é uma figueira frondosa com quase 150 anos de idade. Cantada em prosa e verso por escritores e artistas locais, é na sua sombra que se reúnem aposentados para ler, descansar e jogar conversa fora. Uma delícia de praça, para passear, explorar, fotografar ou simplesmente descansar. Há 350 anos, a cidade nascia exatamente aqui e, desde então, a história de Florianópolis, do estado e até do país, passa por ela.
Catedral Metropolitana de Florianópolis, Santa Catarina
A ilha já era ocupada por índios há milhares de anos e começou a ser frequentada por europeus desde os primeiros anos do séc. XVI, importante ponto de parada e referência na rota para o estuário do Prata ou mais além, até o sul do continente. Aqui eram recebidos amistosamente pelos índios carijós, da família tupi, que viviam da pesca e agricultura rudimentar. A real ocupação colonizatória só veio em 1675, quando o bandeirante paulista Francisco Dias Filho se instalou na ilha fundando o povoamento de Nossa Senhora do Desterro, mais tarde simplificado apenas para “Desterro”, bem onde hoje estão a Praça XV e a catedral.
Igreja Nossa Senhora do Rosário e São benedito, no centro de Florianópolis, Santa Catarina
Igreja de São Francisco de Assis, região central de Florianópolis, Santa Catarina
Cansado da vida de expedições exploratórias e de caça aos índios, o bandeirante resolveu se fixar na ilha, trazendo consigo sua família e mais de 100 pessoas. Como chegou aqui no dia de Santa Catarina, assim foi batizada a ilha. A esta altura, os índios daqui já estavam escasseando, capturados e levados como escravos para São Vicente e São Paulo. Haviam sido presa fácil para os bandeirantes como o próprio Francisco. Afinal, numa ilha, para onde iriam fugir? Quanto ao temido Francisco, ele tinha decidido abandonar a vida de bandeirante, mas continuava o valentão de sempre. Por várias vezes, enfrentou e derrotou piratas que aportavam por aqui inadvertidamente, roubando-lhe navios e cargas. Tanto fez que eles acabaram por voltar na calada da noite, apenas para se vingar. Em 1887, o velho bandeirante foi capturado e executado em frente à igreja que havia construído, enquanto os piratas pilhavam o povoado e violentavam suas filhas.
Caminhando no centro de Florianópolis, Santa Catarina
O evento sangrento foi um golpe no desenvolvimento de Desterro que só foi retomado com o impulso de povoamento estimulado pela metrópole portuguesa em meados do século seguinte. Milhares de açorianos chegaram e se instalaram em diversas partes da ilha. A cidade de Desterro se tornou um dos principais polos de irradiação e desenvolvimento do sul do país, em tempos coloniais e imperiais. Mas o nome da cidade não agradava muito a seus habitantes. “Desterro” é a terra para onde somos enviados quando somos expulsos do nosso país, está associado à tristeza, punição e saudade. Mas políticos e governantes não conseguiam chegar a um consenso sobre um novo nome até que, em meio à discussão, eventos históricos inesperados mudariam para sempre a vida da cidade.
Palácio Cruz e Souza, antiga sede do governo estadual, hoje museu histórico, na Praça XV de Novembro, centro de Florianópolis, Santa Catarina
Vivíamos o início da nossa República, logo após o golpe militar que derrubou Dom Pedro II. Nosso primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, não aguentou a pressão e acabou por renunciar. O seu vice, Floriano Peixoto, assumiu. Homem de temperamento forte, ele se negou a seguir a constituição e convocar novas eleições. Começou a governar com a mão-de-ferro, atraindo contra si uma série de forças políticas que nada tinham a ver entre elas, como antigos monarquistas, republicanos puros, federalistas e civilistas. O clima político ficou tenso e explodiu no sul a Revolução Federalista, a mais sangrenta já ocorrida em território nacional. Maragatos contra Pica-paus, foi uma barbárie mútua com massacres dos dois lados. A batalha se dava principalmente no Rio Grande do Sul, mas também em Santa Catarina e Paraná. Ao mesmo tempo, na capital federal, explodia a Revolta da Armada. “Armada” era o nome que se dava à Marinha antigamente. Formada principalmente por elementos da nobreza, a Armada se ressentia da perda de poder gozada nos tempos do Império para o Exército, formado majoritariamente por elementos da nascente burguesia, agora nos tempos de República. De seus navios, bombardearam fortes no Rio de Janeiro enquanto alguns poucos barcos conseguiram escapar do cerco e saíram da Baía da Guanabara. Vieram para o sul, para se juntar às tropas federalistas.
Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis, Santa Catarina
Estávamos no final de 1893 e Frederico de Lorena, comandante dessa esquadra, resolveu conquistar e se instalar em Desterro. As tropas governistas da cidade até esboçaram resistência, mas acabaram por se render. Desterro foi declarada a capital da nova República dos Estados Unidos do Brasil em 14 de Outubro daquele ano. Mas a confusão política dentro das forças de oposição eram enormes, o ódio entre elas quase tão grande como aquele em relação a Floriano Peixoto. Essa total desunião deu tempo a Floriano para se reorganizar e comprar uma nova esquadra para enfrentar a Armada rebelde.
Caminhando na praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis, Santa Catarina
O combate se deu em 16 de Abril de 1894. Na batalha entre os navios, foi até usado uma nova arma, o torpedo. Foi apenas a terceira vez na história das guerras que esse “moderno armamento” havia sido utilizado. E foi o bastante para inutilizar o Aquidaban, o maior orgulho da Armada rebelde. Sem o poderoso barco para protegê-la, Desterro caiu rapidamente, mesmo que a revolução federalista ainda continuasse por muitos meses no Rio Grande do Sul. O governo de Floriano enviou para o estado um interventor militar, Moreira Cesar, mais conhecido como o “corta-cabeças”, tal a sua ferocidade. Ele fez jus ao apelido e promoveu uma verdadeira caça às bruxas na capital catarinense. Muitas dezenas, talvez centenas de pessoas, foram fuziladas sumariamente. Por meses a fio, o clima era de medo e angústia nas ruas de Desterro, todos temendo a todos.
Leitura de livro na sombra da figueira centenária, na praça XV de Novembro, região central de Florianópolis, Santa Catarina
Aniquilada a oposição, os governistas propuseram um novo nome para a cidade: Florianópolis, para honrar o presidente da república, o mesmo que havia ordenado a sangrenta repressão. O nome foi aclamado na assembleia e ratificado pelo novo governador, Hercílio Luz, o mesmo que, décadas mais tarde, se empenharia tanto na construção da ponte que liga a ilha ao continente. Embora hoje o “puxa-saquismo” dessa mudança de nome salte aos olhos, quem na época poderia ser contra? Teria de se ver com o “corta-cabeças”. Enfim, mais de um século mais tarde, embora haja gente que defenda isso, não penso que o nome deveria ser mudado novamente. Em compensação, mais do que nunca, prefiro me referir à velha Desterro por sua simpática alcunha, Floripa, e esquecer da homenagem ao duro presidente.
A famosa e amada figueira centenária, na Praça XV de Novembro, no centro de Florianópolis, Santa Catarina
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