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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Garimpeiros da época da Corrida do Ouro, em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
O ano era 1896 e o lugar era um canto perdido e quase inexplorado do noroeste do Canadá, com verões curtos e invernos polares. Mês de Agosto, um pouco antes das primeiras neves. Os riachos ainda não estão congelados e, num deles, um dos raros habitantes daquelas vastidões topa com uma pedra brilhante e amarelada. No início, ele não parece acreditar, mas não demorou muito para ter certeza: era ouro! A notícia corre como um pavio aceso pela região. Pouco tempo depois e eram centenas a prospectar pelos cursos d’água ao redor do original, o Klondike, que acabou emprestando o seu nome para a Corrida do Ouro que se seguiu.
Arquitetura típica de faroeste em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Tão fria e tão remota era essa região que durante toda a estação, a notícia não saiu dali. Mas, no verão seguinte, quando o equivalente a 50 milhões de dólares atuais em ouro passaram pelo porto de Seattle, na costa oeste americana, aí a notícia ganhou o mundo. Em questão de semanas e já eram dezenas de milhares de pessoas de todas as partes, mas principalmente dos Estados Unidos, largando casa e emprego para correr ao novo El Dorado, atrás da possibilidade de se enriquecer em um golpe de sorte. Era a Klondike Gold Rush, a última grande corrida do ouro da história.
Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Junto àqueles que buscavam o ouro, seguiram os que buscavam o “ouro” de quem achasse ouro: comerciantes, construtores, prostitutas, burocratas, etc... Se hoje já é difícil chegar a esta região, imagina naquela época, sem carros, estradas ou aviões. A principal rota era chegar ao Alaska de barco, percorrer à pé o longo e gelado caminho até ultrapassar as montanhas e, daí em seguida, seguir pelo rio Yukon em barcos improvisados, aproveitando a corrente do rio. Em questão de meses, grandes cidades surgiram: Skagway, que se converteu no principal porto do Alaska, e Dawson City, a cidade nascida bem em meio à região mineira.
Visita ao interessante museu de Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Essa última, criada logo após a descoberta de 1896, chegou aos 500 habitantes no final daquele inverno, enquanto a notícia ainda estava circunscrita à região, mas chegou aos 30 mil habitantes já na primavera de 1898, no auge da corrida pelo ouro. Mais parecida com uma grande favela no início, logo o dinheiro do ouro, com a ajuda dos incêndios que teimavam em destruir a cidade, ajudou a refinar as suas ruas e construções, a tal ponto de Dawson ganhar o apelido de a “Paris do Ártico”. Obviamente, um exagero sem tamanho, mas dá uma ideia de como a cidade se transformou. Na verdade, ela não ficou parecida com a cidade francesa, mas com as cidades americanas do tempo do faroeste., cheia de sallons, bordéis e calçadas de madeira por onde transitavam novos ricos ou recém-chegados cheios de esperanças.
Bicicleta centenária, importante meio de transporte já no final do séc XIX em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Geringonça centenária para esquentar os pés e enfrentar o frio do inverno em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
A semelhança com o faroeste americano parava por aí, pois a polícia canadense era bem rigorosa com relação às leis e às ordens. O controle já começava na fronteira, onde não entravam armas de fogo e as pessoas só entravam com um ano inteiro de mantimentos, já que ainda não havia estrutura para tanta gente na região do ouro. Para irritação dos americanos, além dessa exigência, ainda era preciso pagar um imposto de importação sobre todos esses víveres, de 25%. Pessoas com histórico criminal eram barradas ali mesmo! Já em Dawson, a única contravenção “tolerada” era a prostituição. Ao contrário, num mundo em que de cada 10 pessoas, oito eram homens, a existência de uma “válvula de escape” era muito benvinda!
Balsa faz a travessia através do Yukon River, em Dawson City, noroeste do Canadá
Foto centenária mostrando o movimento de Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá, no início do séc XX
Outras medidas para manter a ordem era um estrito horário de funcionamento de bares e sallons e a proibição de trabalhar no domingo. As regras funcionaram e Dawson, apesar da enorme população e quantidade de dinheiro circulando, era um lugar seguro para se viver. De qualquer maneira, a tal corrida do ouro durou só três anos. A grande maioria dos que aqui chegaram não conseguiram ficar ricos e, na primeira notícia de descobrimento de ouro mais além, na cidade de Nome, no Alaska, abandonaram a cidade, que passou a ter uma vida mais “tranquila”. A antiga exploração manual do ouro, quando os mineradores passavam horas a fio dentro de túneis apertados, queimando madeira para gerar calor e descongelar o solo para, somente aí, poder cavar, foi substituída pela exploração mecânica, agora conduzida por grandes empresas.
A Ana fica pequenininha perto da árvore, ao admirar as maravilhosas cores de Outono em parque de Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Ou seja, a exploração do ouro continuou, mas sem o mesmo ímpeto anterior. Dawson continuou, por muito tempo, como a principal cidade e capital do Território do Yukon, posto que hoje pertence à Whitehorse. A população de 30 mil habitantes minguou para poucos milhares. Mas hoje, a cada verão, outros milhares chegam, não atrás de ouro, mas sim de histórias, lendas e tradições. São os turistas, com suas máquinas fotográficas e jaquetas coloridas que agora movimentam a economia da cidade. Quando eles se vão, no final da temporada, Dawson volta ao velho ritmo, ruas serenas e tranquilas. Mas, para quem presta atenção, quase é possível ouvir o burburinho e a balbúrdia de 100 anos atrás. Afinal, as ruas e os prédios continuam os mesmos, e os ecos ainda estão por ali.
Caminhando em parque de Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Essa corrida do ouro, imortalizada no filme de Charles Chaplin, deixou profundas marcas culturais que duraram gerações. Se pensarmos bem, quando o inesquecível Carlitos fez seu filme, o evento tinha ocorrido menos de 30 anos antes! Foi um movimento que varreu os Estados Unidos e chegou a causar problemas em grandes cidades, como Seattle, que simplesmente ficou sem mão-de-obra suficiente, porque todos partiram para o norte. No caso dessa cidade, até o prefeito se mandou! É algo que, não tendo vivido na época, nos escapa à compreensão.
Igreja em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Caminhando ao lado do Yukon River, em Dawson City, no noroeste do Canadá
Aprendemos boa parte dessa história em visita ao simpático museu da cidade. Além das centenas de fotografias em preto e branco da época, mostrando claramente as próprias personagens da “corrida”, e dos muitos painéis explicativos, também podemos ver dezenas de objetos da época que, de certa maneira, nos fazem sentir um pouco mais próximos daquela realidade. A mim, chamou-me muito a atenção uma gerigonça para esquentar os pés durante o frio do inverno e também uma bicicleta centenária. Pois é, já naquela época, as bicicletas eram populares e muitos dos mineradores aproveitavam o período de inverno, quando lagos e rios congelavam, para pedalar de Dawson para o sul, numa jornada épica de centenas de quilômetros. Incrível!
Bicicleta estacionada em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Além do museu, circulamos bastante pelas ruas charmosas de Dawson, além de nos esquentarmos no mais tradicional sallon da cidade, com aquela típica porta de bar de faroeste e com diversas “figuras”, tocando no piano ou jogando sinuca. Foi uma tarde memorável!
jogando bilhar em bar-saloon em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
Antes de nos instalarmos no sallon, ainda tivemos tempo de transitar pelos parques e praças, que nessa época do ano ganham aquela cor especial, além de uma rápida visita à orla do Yukon, por onde chegavam e partiam as milhares de pessoas que passaram por aqui. Como bem havia dito o gerente do nosso hotel em Whitehorse, há duas semanas, Dawson é o paraíso dos fotógrafos. A gente percebeu isso. Não só de dia, mas pela noite também. Mas isso é outra história...
Delicioso show de música em bar-saloon em Dawson City, no Yukon Territory, noroeste do Canadá
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