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Ivancley (10/07)
Ana Christ (10/07)
Uau! Que emocionante!!! Imagino a loucura que não deve ser ver duas ped...
Ivancley (10/07)
Vamos lá,estou ansioso para conhecer as Américas com vcs,conhecer Carib...
Ivancley (09/07)
Fico curioso para saber os valores que se gasta para fazer esse tour...Es...
Vinicius (08/07)
A historia das Malvinas ou Falklands, é bastantes interessante, Port Sta...
Correndo num fim de tarde fantasmagórico nos campos de altitude, na região de São José dos Ausentes - RS
Dia completamente nublado por aqui, exatamente como dizia a previsão. Não passeamos mas curtimos bastante o visual fantasmagórigo dos vultos das araucárias semi-escondidos pelas densas nuvens, sombras perdidas com aquele formato característico no meio do branco infinito. Ou então a imagem bucólica dos carneiros pastando a grama verdinha, até eles cobertos pela neblina.
Ovelhas pastam tranquilamente na neblina, na região de São José dos Ausentes - RS
Se aquecendo na lareira do hotel na região de São José dos Ausentes - RS
Ficamos passeando de uma lareira à outra para tentar aliviar a fria umidade que entrava pelos ossos. Café da manhã tardio seguido por um almoço substancioso nos primeiros minutos da tarde. Comi tanto e tão bem que doeu a consciência e fiz a promessa de um exercício vespertino, pelo menos para queimar parte das calorias adquiridas.
Com a Ana e o Orley no restaurante do hotel na região de São José dos Ausentes - RS
Antes de cumprir a promessa, ainda deu tempo de se despedir do casal gaúcho que conhecemos ontem, o Orlei e a Ana, fotógrafos, nadadores, escaladores, triatletas, aventureiros, enfim, gente muito boa, da mesma tribo que nós. Depois, enquanto fazia a árdua digestão, trabalho no quarto quentinho e acolhedor.
Início do cooper até o Monte Negro, ponto mais alto do Rio Grande do Sul, na região de São José dos Ausentes
Por fim, no meio da névoa fria mesmo, temperatura de 8-9 graus, parti em uma corrida bucólica até o canyon e o Pico do Morro Preto, distantes 5 km do hotel fazenda onde estamos. Estrada de terra, apenas vacas, ovelhas e aves a me observar no meio da pista desviando das poças e me movimentando bastante para tentar driblar o frio. Todos nós envoltos naquele manto branco, eu só conseguia ver os próximos 50 metros. Araucárias, pinheiros, campo aberto, açudes, pântanos, visual estremamente ermo. Lembrei-me de filmes de lobisomem na Inglaterra, fiz força para ouvir mas não escutei nenhum uivo estranho.
Na beira do canyon Monte Negro em dia de muita neblina na região de São José dos Ausentes - RS
Cheguei inteiro ao canyon e, conforme esperado, nada se via. Apenas se ouvia. O ruído da água lá embaixo e do vento à minha volta. É muito estranho estar tão perto de um precipício enorme, de uma vastidão quase infinita e não poder ver nada, exceto aquele branco infindável. Fiquei alguns minutos por ali, contemplando aquele vazio invisível até que a Ana chegasse. Ela veio de Fiona e caminhou os últimos 400 metros de trilha. Tiramos algumas fotos e voltamos juntos para o carro.
A Ana caminha pela neblina nos campos mais altos do estado do Rio Grande do Sul, na região de São José dos Ausentes
De lá, ela voltou dirigindo e eu correndo novamente, agora morro abaixo. Mais uma vez me diverti cm a paisagem embaçada à minha volta. Coisa de filme. De lobisomem, hehehe! Já com a noite caindo cheguei ao hotel. Direto para um copinho de cachaça ao lado da lareira e, de lá, para o chuveiro quente.
Placa indicativa do Pico do Monte Negro, na região de São José dos Ausentes - RS
Hoje foi mais frio do que ontem e amanhã será mais frio do que hoje, provavelmente com menos nuvens. Tudo em direção ao clímax de domingo. Assim esperamos, assim torcemos. Quem sabe, rola até uma corridinha no meio da neve...
Correndo num fim de tarde fantasmagórico nos campos de altitude, na região de São José dos Ausentes - RS
As casas coloridas da cidade de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Para nós que somos tão acostumados com a geografia paranaense, o reflexo e a tentação de dizer “Paranaguá” era grande, mas era mesmo para “Paraguaná” que estávamos indo, uma pequena península com forma de cabeça humana que fica no extremo norte da Venezuela. Há poucas dezenas de milhares de anos, era mais uma das ilhas que pontuam a costa nesse ponto, como Aruba ou Curaçao, mas a combinação de correntes marítimas e ventos tratou de construir, ao longo do tempo, uma estreita ponte que a liga ao continente. A ilha virou península!
Península de Paranaguá, extremidade norte da Venezuela, quase encostando em Aruba! Nós passamos pelas cidades históricas no centro da península, pelo balneário de Adicora e nas lagoas coloridas do norte
Falando em Aruba, do alto da maior montanha de Paraguaná, em dias de céu limpo, se pode ver muito bem a ilha holandesa. Até parece que foi ontem que estivemos por lá, e não há 17 meses. A tentação de revê-la, mesmo que de longe, foi grande, mas o dia não estava tão claro assim e a caminhada até o alto da bela montanha iria requerer umas cinco horas, tempo que não tínhamos, infelizmente. Sem essa alternativa, poderíamos nos concentrar nas outras tantas atrações que Paraguaná oferece, como as vilas históricas, as lagoas coloridas repletas de pássaros avermelhados e o litoral dos sonhos para quem gosta de kite e wind surf.
O Cerro de Santa Ana, maior montanha da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela. Lá do alto, pode-se ver Aruba!
Foi a proximidade com as Antilhas Holandesas que marcou a história de Paraguaná. Por aqui passava o comércio, legal e ilegal, entre as ilhas e a Venezuela, desde os tempos de colônia até os de república. Ricas comunidades de comerciantes se estabeleceram e ainda hoje se pode admirar as pequenas vilas onde eles moravam. Esse foi o caminho que decidimos seguir, dando a volta pelo interior da península, passando ao lado do morro Santa Ana, o mais alto de Paraguaná e, finalmente, seguindo para o litoral e as lagoas coloridas.
Observando a igreja de Santa Ana, cidade histórica na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
A igreja de Moruy, pequena cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Cada uma das vilas tinha sua pracinha central e a charmosa igreja, entre elas algumas das mais antigas ainda de pé no país. Nós fomos fazendo nosso tour, tirando nossas fotos e fazendo as contas para controlar o combustível do carro. Principalmente agora que tínhamos decidido pelo caminho mais longo, para poder passar nas pequenas vilas. Estávamos bem no limite para podermos voltar até Coro quando descobrimos um pequeno posto ali mesmo. Melhor... com diesel! Finalmente, poderíamos abastecer pela primeira vez no país e ver com os próprios olhos como é encher o tanque gastando apenas 15 centavos de dólar. Atenção! Não estou falando do preço de um litro, mas de todos os litros necessários para encher o tanque da nossa Fiona.
Enchendo o tanque com 2,80 bolívares, ou 12 centavos de dólar, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Praça central da pequena Santa Ana, cidade histórica na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
O preço do combustível é uma das facetas do chavismo, bolivarianismo ou socialismo do século XXI, alguns dos termos usados para descrever o sistema político e econômico implantado no país por Hugo Rafael Chávez, o carismático e polêmico líder que governou a Venezuela por quase quinze anos, desde 1998 até sucumbir frente ao câncer no final do ano passado.
A igreja de Buena Vista, cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Após uma pujante década de 70, alavancada pelos altos preços do petróleo, a Venezuela enfrentava uma grave crise econômica na década de 80, depois da derrocada dos preços do barril de óleo enquanto os gastos internos continuavam os mesmos. A Venezuela se endividou e não tinha como pagar seus débitos. Na campanha presidencial do final da década, o tradicional político Carlos Andrés Perez prometeu repelir políticas neoliberais de corte de gastos, mas assim que venceu e assumiu o governo, parece ter mudado de ideia e recorreu ao FMI. O trágico resultado foi um aumento da pobreza e descontentamento social que culminou com manifestações em Caracas, reprimidas com violência e que resultaram em mais de cem mortos.
Propaganda nos muros de Moruy, pequena cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Foi nesse clima cada vez mais tenso que um até então desconhecido militar, o Coronel Chávez, tentou um golpe militar no início de 1992. Várias instalações militares foram tomadas no interior do país, mas o objetivo de capturar o presidente Andres Peres e tomar as principais bases da capital falharam. Chávez acabou desistindo do golpe, ordenando a rendição dos revoltosos e evitando um banho de sangue. Mas negociou em troca um pronunciamento na TV quando, enfim, tornou-se conhecido na nação e conseguindo a simpatia de amplos setores da sociedade, decepcionados com os níveis de corrupção e ineficiência então vigentes no governo.
Flamingos e culhereiros na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Culhereiros na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Mesmo preso, Chávez ajudou na organização de uma nova tentativa de golpe, no final daquele ano. Dessa vez, os revoltosos foram mais aguerridos e o número de mortes aumentou bastante. O governo conseguiu controlar a situação, mas o desgaste político era cada vez maior. Com forte pressão da sociedade, Carlos Andres Perez sofreu um processo de impeachment dois anos mais tarde.
Um culhereiro na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Nas eleições seguintes, foi eleito outro político tradicional, Rafael Caldeira. Entre as promessas de campanha, uma ampla anistia aos revoltosos de 1992. Promessa cumprida, Chávez e outros líderes foram postos em liberdade, mas impedidos de voltar ao exército. O governo de Caldeira também fracassou em melhorar a situação econômico-social da Venezuela e, nas próximas eleições, o agora político Chávez foi o grande vencedor. Agora de forma legal, chegava ao poder, com amplo apoio das classes menos abastadas, inclusive da classe média.
Culhereiro sobrevoa a Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Chávez não perdeu tempo. Convocou eleições para uma assembleia constituinte e obteve uma grande vitória eleitoral para composição dessa assembleia. Em pouco tempo, o país tinha uma nova constituição, o primeiro passo rumo ao “bolivarianismo”. Ao mesmo tempo, preços internacionais favoráveis para o petróleo possibilitaram ao governo multiplicar os gastos sociais, melhorando a vida das camadas mais pobres e, ao mesmo tempo, consolidando seu apoio. Ao mesmo tempo, as enormes receitas de exportação de petróleo lhe permitiram praticamente zerar o preço do combustível no mercado interno, aumentando ainda mais sua popularidade. O chavismo que se iniciava agradava a muita gente. Mas também incomodava, produção de alimentos em plena derrocada...
A colorida Laguna Cumaraguas, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Enfim, assunto para um próximo post. O fato é que, apesar dos inúmeros problemas derivados do tal socialismo do século XXI, encher o tanque com apenas 15 centavos nos faz bem felizes. E foi com o tanque cheio que seguimos para o litoral, para a cidade de Adicora. Antes de descermos por lá, seguimos mais ao norte, para lagoas famosas por suas cores e pelas cores dos pássaros que neles vivem. A alimentação rica em camarões pinta as penas dos flamingos e colhereiros de vermelho. É nessa hora que sentimos mais falta de um bom zoom na nossa máquina fotográfica, mas, enfim, “fazemos o que podemos”!
A colorida Laguna Cumaraguas, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Além dos pássaros, também a água ganha cores, dependendo do ângulo de incidência da luz do sol. Um espetáculo, quase um arco-íris avermelhado nas águas salgadas da lagoa que também é uma salina.
Chegando à Adícora, cidade no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Agora sim, de volta à Adicora, a praia onde o vento nunca para. Para aqueles que sabem ler o vento, difícil imaginar lugar melhor. A cidade está em uma pequena península e, embora o vento esteja dos dois lados, as ondas ficam apenas do lado sul. Nesse lado ficam os praticantes de kite surf, enquanto os amantes do Wind surf preferem as águas mais calmas da parte norte.
O farol de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Depois de passearmos um pouco pelas areias e admirar os esportes náuticos e a arquitetura da pequena vila, acabamos tomando a decisão de continuar a viagem. A ideia original era dormir por ali mesmo, mas resolvemos voltar para Coro e seguir para o sul, para a Serra de San Luis, região que exploraremos amanhã. Do mar para a montanha, do calor para o frescor, ainda conseguimos chegar a tempo de observar o pôr-do-sol lá de cima, numa paisagem e ambiente completamente diversos daqueles onde tínhamos passado todo o dia de hoje. E olha que são apenas 100 quilômetros entre um lugar e outro, dois mundos completamente diferentes.
As casas coloridas da cidade de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Há apenas três dias no país e já andamos por metrópoles e cidades históricas, o maior lago do continente e um autêntico deserto, uma praia onde o vento nunca para e montanhas úmidas onde cresce vegetação tropical e precisamos de casacos. A viagem na Venezuela, onde encher o tanque do carro não custa nada, está mais intensa do que nunca!
O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela
Observando as pinturas rupestres na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
O ser humano chegou há muito tempo na Baja California. A data não é precisa, mas há evidências de que eram caçadores de mamutes. Ou seja, foi mesmo há muito tempo! Uma época em que o clima na península era outro e, consequentemente, a vegetação e a fauna também. O tempo passou, a vegetação passou, os mamutes passaram e os humanos... ficaram! Na falta de mamutes e do que fazer, passaram a pintar paredes. Hehehe, isso já é brincadeira, mas realmente os humanos por aqui passaram a fazer pinturas rupestres. E que pinturas! As mais belas e impressionantes que vimos nesses 1000dias pela América.
As incríveis pinturas rupestres na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
As pinturas mais antigas medidas são de 9.200 anos atrás. Representam pessoas e animais, além de algumas formas abstratas também. Chamam a atenção dois aspectos. Primeiro, são pinturas em tamanho natural e até mesmo aumentadas. A não ser que fosse uma raça de gigantes. Segundo, muitas pinturas estão em lugares altos, com três, quatro e até cinco metros de altura. Não deve ter sido fácil chegar até lá. Mas as pinturas lá estão, o que mostra que alguém chegou. É... será que eram mesmo gigantes?
Chegando à Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
Tudo isso começamos a aprender logo cedo, numa visita ao pequeno museu da cidade. Fomos ali pedir informações sobre os passeios pelas redondezas, principalmente pelo deserto Vizcaino. Ali nos explicaram que são duas as áreas abertas à visitação. Uma é a Sierra de Santa Marta, de onde uma trilha de cerca de uma hora nos leva até uma gruta cheia de pinturas rupestres. A outra é a Sierra de San Francisco, já no caminho para o norte, com possibilidades de passeios de 15 minutos e também de três dias. Melhor, é na parte alta do deserto e lá há um hotel econômico para se dormir. Então, após confabularmos, decidimos nosso roteiro: hoje iríamos à Santa Marta e voltaríamos para dormir por aqui. Amanhã iríamos de mala e cuia para San Francisco.
A Fiona atravessa o deserto na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
O rapaz do museu, que trabalha para o Inah, o Instituto Nacional de Antropologia e História, responsável por todas as áreas com pinturas rupestres no país, não só nos vendeu os ingressos para entrar em Santa Marta como, por rádio, já providenciou um guia, que é obrigatório. Por fim, nos fez um mapa para mostrar como chegar até lá.
Subindo a Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
Assim, voltamos pouco mais de 20km pela estrada que viemos ontem e entramos no deserto para quarenta quilômetros de estradas de terra. Fazia tempo que a Fiona não entrava numa dessa e ela já estava com coceira nas rodas! Os primeiros 30 km são um estradão, mas os 10 km finais são bem mais lentos, desviando das pedras e cactos. Visual maravilhoso de deserto, ainda mais dentro da bolha de ar condicionado da Fiona.
Admirando a beleza da Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
Por fim, chegamos as poucas casas que formam Santa Marta e aí encontramos nosso guia, o Nacho, experiente morador da região. Andamos de carro mais uns poucos quilômetros e seguimos à pé vale adentro e depois morro acima. Mais uma vez, era um visual de tirar o fôlego, cada vez com mais cara de filme de faroeste. E aí, na parte final da trilha, quanto mais subíamos, mas se ampliava nosso cenário, mundão grande sem porteiras, Baja California em todo seu esplendor.
A grande gruta com pinturas rupestres na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
Já no alto do morro chegamos a uma encosta cavada, quase uma gruta, um lugar estratégico para se proteger do vento e das intempéries e se ter uma visão completa de todo o vale. Foi o ponto que os antigos e misteriosos habitantes da área, povo nômade por natureza, escolheu para fazer suas pinturas.
As enormes figuras humanas nas pinturas rupestres da Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
A primeira visão impressiona. Lá no alto, numa parede totalmente inatingível sem o auxílio de andaimes ou coisa parecida, dezenas de figuras de animais e pessoas, algumas com cerca de 2,5 metros de altura. As cores ainda estão fortes, principalmente o vermelho e o negro, embora também se possa discernir o branco e o amarelo.
Pinturas rupestres na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
As figuras humanas, sempre com os braços levantados, são homens e mulheres, feiticeiros e caçadores, em grupo ou sozinhos. Os animais são principalmente veados e pumas, mas também se vê tartarugas, arraias e outros animais do mar. Não ali, mas em outras grutas foram encontradas pinturas de tubarões e baleias. Vimos as fotos. São incríveis!
Dois feiticeros com uma estranha figura negra ao centro, em pinturas rupestres na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
Mas essas que vimos hoje também são. Principalmente pelo realismo. Os feiticeiros vestem togas e capuzes multicoloridos. A musculatura dos braços é bem definida. Impossível não passar um tempo tentando imaginar o exato momento em que foram pintadas. Quem eram essas pessoas, pintores e pintados? O que faziam, o que pensavam? Quais os seus medos e crenças? Para onde foram? Essas cavernas foram frequentadas por milhares de anos e depois, simplesmente abandonadas. Por quê?
O Nacho, noso simpático guia na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
O local onde elas estão é um convite a reflexão. A vista maravilhosa e a brisa fresca que bate em nossos rostos são uma benção e a vontade é ficar lá por muito tempo. De alguma maneira, a impressão que se tem é que quase podemos ver, ouvir e sentir os antigos frequentadores. Uma sensação muito difícil de descrever. Só estando lá...
Flor de cactus na Sierra de Santa Marta, região de San Ignacio, no deserto Vizcaino (Baja California - México)
Voltamos para San Ignacio entusiasmadíssimos com a visita e com as pinturas. E muito felizes por saber que amanhã tem mais, lá em San Francisco. Por hoje, ainda no final de tarde, ainda pudemos aproveitar os cenários da própria cidade de San Ignacio.
O oásis na região de San Ignacio, na Baja California - México
Ela fica em um vale verde, um verdadeiro oásis no meio do deserto. Subimos com a Fiona numa verdadeira estrada de cabras até o alto de um platô do lado da cidade e pudemos admirá-la de cima, uma visão bem clara do oásis que a cerca. Lá de cima, a igreja da antiga missão fica até pequena naquela imensidão toda. Foi um belo fim de tarde em pleno deserto Vizcaino.
San Ignacio vista do alto, na Baja California - México
A missão de San Ignacio, na Baja California - México
Amanhã será ainda melhor, pois vamos dormir no deserto, no pequeno Pueblo de San Francisco, a mais de 1000 metros de altitude. Mal podemos esperar...
Ave de rapina voa nos ares de San Ignacio, na Baja California - México
Pequena ilha na Baía de Camamu - BA
Onze anos atrás Barra Grande era muito menor. Tanto que não havia nem escola de nível ginasial. Ruim para as crianças, bom para os viajantes mais intrépidos. Isso porque havia um "barco dos estudantes", que partia de madrugada de Barra Grande em direção à Maraú, a "capital" da península. No caminho, ia parando nos pequenos lugarejos para apanhar mais crianças para levá-los todos à escola. A gente podia pegar uma "carona" nesse barco, conhecer a belíssima Baía de Camamu e, de quebra, assistir ao cinematográfico nascer-do-sol na baía. Lembro de ter sido maravilhoso, uma das grandes experiências daquela viagem.
Passeio de escuna na Baía de Camamu - BA
Dessa vez, estava imaginando levar a Ana nesse passeio. Doce ilusão. Os mais jovens nunca ouviram falar deste barco. Os mais velhos, que se lembram dele, dizem que já não há mais. Claro! Barra Grande já tem escolas ginasiais. É o progresso...
Fim de tarde na Baía de Camamu - BA
O programa alternativo foi pegar um barco de passeio mesmo, uma escuna. O passeio começa às dez da manhã e retorna às quatro da tarde, em tempo para se ver outro pôr-do-sol na Ponta do Mutá. Passa por quatro ilhas e dá uma boa ideia da beleza da baía, de suas águas e suas margens. Como estamos fora de temporada (ainda...), a escuna estava bem vazia, apenas nós, quatro mineiros bem figuras, um casal de baianos em lua-de-mel e um outro casal, ele paulista e ela de Joinvile. Ao longo do passeio ficamos todos amigos.
Explorando o banco de areia Coroa Vermelha, na Baía de Camamu - BA
Começamos pela Coroa vermelha, um banco de areia que surgiu no meio da baía, bem estreito e comprido. Uma visão idílica, aquela língua de areia no meio das águas esverdeadas. Só falta o coqueiro no meio da ilha. Muito lindo mesmo!
Segurando a Pedra Furada, na ilha de mesmo nome, na Baía de Camamu - BA
Depois, a ilha da Pedra Furada. Adivinha por quê? Nessa ilha tem até uma casa onde um caseiro vive para tomar conta da pequena propriedade, um gramado, uma praia, uma rede de balanço e um punhado de pedras furadas. Stress total...
Nadando nas águas transparentes da Baía de Camamu - BA
Descansando na escuna durante passeio na Baía de Camamu - BA
Falando em stress, também não podemos reclamar, deitados na escuna e, de tempos em tempos, aportando em alguma ilha maravilhosa e dando um mergulho numa água cuja temperatura beira a de uma banheira. Depois da Pedra Furada, ainda passamos em outras três ilhas, cada uma mais paradisíaca que a outra.
Mangue e coqueiros na Baía de Camamu - BA
Numa delas almoçamos e tivemos a grata surpresa de saber que os mineiros eram cantores de mão cheia e que tinham até um violão. Foi uma festa!
Escalando a "escada" da nossa escuna na Baía de Camamu - BA
A preocupação era tanta que tive até de inventar alguma moda. Dado à proezas esportivas, optei por escalar a corda-escada da escuna e saltar lá de cima. Uma delícia.
Escalando a "escada" da nossa escuna na Baía de Camamu - BA
Saltando da escuna na Baía de Camamu - BA
Por fim, voltamos para Barra grande e, de lá, direto para o pôr-do-sol, que estava ainda mais bonito do que ontem. Espetáculo gratuito e diário da natureza. Para melhorar, só se for seguido de uma fogueira na praia. E para melhorar ainda mais, só se houver mineiros cantores, com um ótimo repertório e com o violão de uma paulista músico que também estava conosco. É... tivemos essa sorte.
Tradicional jogo de futebol no fim de tarde na Ponta do Mutá, em Barra Grande, na Península do Maraú - BA
Pôr-do-sol na Ponta do Mutá, em Barra Grande, na Península do Maraú - BA
Com um dia assim, não dá para sentir falta do barco da escola...
Fogueira e cantoria na Ponta do Mutá, em Barra Grande, na Península do Maraú - BA
Gigantescos alerces em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Na nossa viagem ao longo da Carretera Austral, aqui no sul do Chile, um nome era sempre recorrente: Douglas Tompkins. Muito mais conhecido por essas bandas do que em sua própria terra natal, os Estados Unidos, esse milionário americano é fonte de amor e ódio em terras patagônicas, um modelo para conservacionistas e alvo predileto de desenvolvimentistas e nacionalistas.
Parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Cachoeira escorre em encosta do parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Fundador de marcas famosas como a “The North Face” e “Esprit”, há tempos que Tompkins se desfez de suas participações nessas companhias para, segundo ele, “deixar de vender coisas que as pessoas não precisam”. Desde então, todas as suas energias (e o dinheiro também) são devotadas à preservação da natureza na região patagônica. Desde jovem, quando viajou, subiu montanhas e explorou rios da região, Tompkins é apaixonado por esse lado do planeta e hoje não poupa esforços na luta por sua conservação. A partir da década de 90, Tompkins e sua esposa, antiga CEO de outra marca famosa, a “Patagonia”, compram propriedades dos dois lados da cordilheira andina com o intuito de formar grandes áreas contínuas de preservação. Nelas, Tompkins desenvolve grandes parques privados, alguns dos maiores do mundo, e depois os transforma em Parques Nacionais, devolvendo a área aos países onde estão. Um bom exemplo disso é o Parque Nacional Corcovado, no Chile. O outro é o Pumalín, também no Chile, uma área privada em vias de ser transformada em parque nacional.
A trilha dos alerces no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
A espessa vegetação do parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Atualmente, é uma outra área sua que está no centro das controvérsias: o Vale de Chacabuco. Nós passamos bem perto dele quando entramos no Chile na região de Cochrane, início da nossa jornada pela Carretera Austral. Tompkins comprou o vale de uma companhia belga que o explorava com a terceira maior criação e ovelhas do país. Claramente, o vale havia sido sobre explorado e já não conseguia dar lucro aos antigos proprietários. Tompkins comprou a área e se desfez de todo o gado ovino e bovino que aí vivia. Depois, mandou que cada planta que não pertencesse à flora original fosse arrancada de lá. O plano é fazer o vale voltar ás condições que tinha antes da chegada de colonizadores. Antigos animais, como huemuls e guanacos já estão voltando, assim como pumas. E quem não está nada contente são os vizinhos rancheiros e a antiga mão-de-obra da fazenda. Para eles, é seu meio de vida que está sendo destruído. A popularidade de Tompkins na região e na cidade de Cochrane não é das melhores...
Cruzando com riacho de águas puríssimas em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Muito verde (e algum vermelho!) em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Ainda mais depois que o milionário americano se envolveu numa verdadeira briga de cachorro grande. Como já expliquei em outro post, uma grande companhia pretendia construir várias hidrelétricas na região ao longo do rio Baker para produzir e enviar energia para o norte do Chile É claro que Tompkins, assim como todos os ecologistas do Chile, foi contra. Seguiu-se uma verdadeira guerra de relações públicas na região e no país. Centenas de outdoors foram espalhados ao logo de Aysén a favor e contra o empreendimento. Felizmente, a Hidroaysen parece ter perdido a batalha, mas ao longo da guerra ela fomentou bastante o sentimento anti-Tompkins na área, dando voz aos rancheiros e nacionalistas que são contra o fato de um gringo vir ao país comprar terras e despedir pessoas, além de quase criminalizar a “destruição” causada por ovelhas.
Caminhando em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Cruzando com riacho de águas puríssimas em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Enfim, não é uma discussão fácil, havendo bons argumentos para os dois lados. Nós mesmos os ouvimos ao longo da nossa viagem. Uma das melhores conversas foi com uma americana que conhecemos enquanto atravessávamos de balsa em direção a Villa O’Higgins. Ela já estava no país há meses, justamente produzindo uma reportagem sobre o assunto. Nós não a vimos mais depois disso, mas eis que, ao pesquisar mais sobre o tema para escrever este post, encontro o seu artigo. Achei muito bom e completo, ouvindo todas as partes envolvidas e dando uma noção muito mais clara do que está em disputa por aqui. Então, recomendo a todos que queiram saber um pouco mais, ler o tal artigo. Está em inglês é uma agradável e esclarecedora leitura: O link é http://www.theatlantic.com/features/archive/2014/09/the-entrepreneur-who-wants-to-save-paradise/380116/
Trilha dos alerces no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Placa informativa sobre alerces em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Bom, depois desse belo artigo, continuemos com a nossa viagem! Aqui ao lado de Chaitén está a primeira grande área protegida por Tompkins na patagônia: o parque Pumalín. Depois de mais de 20 anos de esforços de conservação, o parque se tornou um dos mais belos e com melhor infraestrutura do país. E olha que, no meio do caminho, Tompkins teve de enfrentar uma ameaça muito mais perigosa e impiedosa do que rancheiros ou hidrelétricas. Foi a erupção do vulcão Chaitén, que fica dentro dos limites do parque. O Pumalín teve de fechar suas portas por anos, teve florestas centenárias destruídas e estradas que sumiram do mapa. Mas muito trabalho depois e o parque reabriu suas portas, agora com uma atração a mais: um trilha até o alto do vulcão, além de um belo laboratório a céu aberto sobre como a natureza e a vegetação se recompõe após um evento como esse.
Placa informativa em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Um imponente alerce em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Ontem, nós fizemos essa trilha. Hoje, antes de fazermos o último trecho da Carretera Austral antes de chegarmos a Puerto Montt (próximo post), nós ainda tivemos a chance de dar mais uma olhada nesse parque exuberante. Entre as várias trilhas possíveis, escolhemos uma que nos daria nossa última chance de ver de perto as maiores árvores do continente, os alerces.
Caminhando na trilha dos alerces no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Tronco de alerce, árvore emblemática do parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Essa árvore magnífica é própria das encostas andinas subtropicais aqui do sul do Chile e da Argentina. Aliás, do lado de lá da cordilheira, nós até já tínhamos ido ao Parque Nacional Los Alerces (post aqui), mas as árvores que dão nome ao parque estão em uma parte quase inacessível da região, apenas para quem tem o tempo de fazer o passeio de barco. Nós não fizemos e vimos apenas um exemplar, ainda adolescente (talvez com uns 100 anos de idade...). Ou seja, ainda não conhecíamos alerces de verdade.
Um imponente alerce em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Venerando os belíssimos alerces, uma das maiores árvores das Américas, em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Essa árvore é um gigante, chegando aos 70 metros de altura. Era bem comum em toda essa área, mas no final do século XIX e início do XX, milhares de hectares de florestas foram queimados para dar lugar à pastagens no esforço colonizatório e de ocupação da região. Para piorar, por ter uma madeira de tão boa qualidade, os alerces eram duplamente procurados, tanto para construção de casas como para uma boa fogueira, mesmo em tempos de chuva. Suas tábuas chegaram a servir de dinheiro aqui no sul do Chile. O resultado dessa procura foi catastrófica para a árvore, que quase se extinguiu. Gigantes com mais de 3 mil anos de idade e 10 metros de diâmetro (numa descrição de Darwin) quase exterminados em apenas duas gerações.
Tronco de alerce coberto por plantas em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Tronco de alerce, árvore emblemática do parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Finalmente, na década de 70, o seu corte se tornou ilegal. E foi em Pumalín que alguns dos maiores exemplares sobreviveram, em um autêntico bosque de titãs. Para nós, impossível não relembrar os bosques de sequoias e redwoods que visitamos na Califórnia. Parentes distantes de porte semelhante, mas separados por um hemisfério de distância. O sentimento de andar entre elas e se maravilhar com esses seres quase sagrados é o mesmo: o mais completo deslumbramento com a força e beleza da natureza.
Tronco de alerce em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Um par de gigantescos alerces em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Uma trilha de menos de três quilômetros nos leva para o meio desses gigantes milenares. Infelizmente, no meio do bosque, não há espaço para, em uma única fotografia, captar todo o tamanho dessas árvores. Mas as fotos, ou a ausência delas, não é nada perto do que sentimos em estar ali, respirar o ar filtrado por suas folhas, ser molhado pelos pingos que caem de suas copas, admirar a verdadeira comunidade de vida que cresce em seus troncos. Desculpem-me rancheiros ou empresários, aqui só posso agradecer a este gringo excêntrico que veio gastar suas montanhas de dinheiro para preservar o patrimônio natural que não é só do Chile ou da humanidade. Não, nós estamos aqui provisoriamente. Esse patrimônio é do planeta. Repetindo uma frase de Lincoln e que Tompkins adora repetir: “As leis mudam. Os homens morrem. A terra fica”. Nessa polêmica, meu espírito já tomou seu partido faz tempo.
Venerando os belíssimos alerces, uma das maiores árvores das Américas, em trilha no parque de Pumalín, região de Chaitén, na Carretera Austral, sul do Chile
Visitando as dunas do Jalapão - TO, com a Serra do Espírito Santo ao fundo
Dois dias atrás, publiquei um post sobre algumas das maravilhas aquáticas do Jalapão, cachoeiras, rios e fervedouros. Hoje, foi dia de visitar algumas das belezas acima d'água, as chapadas, a Serra do Espírito Santo a as famosas dunas avermelhadas, formação única no Brasil.
A panificadora de Mateiros, no Jalapão - TO
Visitando o Centro Turístico de Mateiros, no Jalapão - TO
A gente tomou um café da manhã reforçado, preparou uns sanduíches e fechou nossa conta na simpática Pousada dos Buritis, em Mateiros. Antes de sair de viagem, ainda passamos na frutaria e na padaria da cidade (as únicas!), para nos abastecer para nosso acampamento. Afinal, a noite seria numa barraca na Prainha do Rio Novo, longe de qualquer restaurante. De frente à padaria, a nova praça da cidade, pronta mas não inaugurada, com um Centro de Turistas provisório, mas muito arrumado. Lá dentro, muitas informações sobre o parque, sua flora e fauna e também a população humana. Espaço para o incrível artesanato do Capim Amarelo, especialidade da região. Fomos muito bem atendidos e foi difícil tirar a Ana lá de dentro...
Quem disse que não tem vulcão no Brasil? (Jalapão - TO)
Enfim, partimos em direção à Serra do Espírito Santo, uma das muitas chapadas da região. Mas algo a torna especial: é da erosão dessa serra que vem a areia que forma as famosas dunas avermelhadas do Jalapão. Isso a fez a mais popular serra do Jalapão e a mais fácil de ser subida. Uma trilha muito bem demarcada nos leva até seu topo e , lá encima, à um mirante de onde se pode ver as dunas avermelhadas.
A vastidão do Jalapão - TO
Fiona nos espera no pé da Serra do Espírito Santo, no Jalapão - TO
Apesar do espanto das pessoas ao saberem que queríamos subi-la neste horário, perto do meio-dia, não nos amedrontamos. Afinal, o dia estava nublado e a serra nem é tão alta assim. Foram cerca de 35 min até lá encima. No caminho, cruzamos três pessoas descendo, os únicos outros seres humanos por ali. Tínhamos a serra só para nós! Uma vez lá encima e muitas fotos mais tarde, enfrentamos os 3 km de trilha completamente plana que nos levam até o outro lado da chapada, defronte ao campo de dunas lá embaixo. A visão é simplesmente magnífica!
Flôr de cerrado no alto da Serra do Espírito Santo, no Jalapão - TO
As planícies do Jalapão vistas do alto da Serra do Espírito Santo, no Jalapão - TO
Todo aquele lado da Serra do Espírito Santo está sofrendo uma acelerada erosão, pelo vento e chuva. A terra e areia arrancados da montanha se acumulam lá embaixo, na saída de um vale verdejante por onde corre um córrego de águas cristalinas. Milênios de acumulo formaram as incríveis dunas de cor avermelhada e areia fofa. O riacho que sai do vale é forçado a serpentear por entre essas montanhas de areia, para poder seguir seu curso. O resultado disso tudo é uma das mais belas paisagens que se pode ver no interior do Brasil.
No mirante do Espírito Santo, ponto de observação das dunas do Jalapão - TO
A Serra do Espírito Santo se erodindo, alimentando as dunas do Jalapão - TO
Lá do alto, as dunas nem parecem tão grandes assim. Mas o contraste da sua cor com o verde que as cerca é maravilhoso. Ficamos lá admirando, tentando entender em alguns minutos o que a natuleza levou milênios para fazer. Escalas geológicas de tempo tem sempre a capacidade de fundir minha cabeça, acostumada com segundos e minutos, e não com séculos e milênios. Mas, basta um golpe de vento mais forte e, com a ajuda da imaginação, podemos perceber uma certa poeira vermelha se levantar das encostas erodidas da montanha e se dirigir às dunas. É a nova geração de grãos de areia que chegam para substituir aqueles que estão sendo levados riacho abaixo, até o caudaloso Rio Novo, alguns quilômetros à frente.
Dunas do Jalapão - TO, vistas do alto da Serra do Espírito Santo
Muitas fotos, algumas mexiricas e bananas depois e decidimos que era hora de voltar pela trilha, descer a serra e ir até as dunas, para conhecê-las mais de perto. Alguns quilômetros pela estrada principal e chegamos até a estrada secundária, que nos leva até às dunas. No início dessa estrada, uma cancela. É o local do pagamento, cinco reais por pessoa. É o local também onde placas avisam: somente carros 4x4 além deste ponto!
Chegando nas dunas avermelhadas do Jalapão - TO
O pequeno riacho que margeia as dunas do Jalapão - TO
Pois bem, assim que pagamos apareceu uma S10, querendo entrar também. Um casal e seus dois filhos, moradores recentes de Palmas. O carro deles não era traçado e ele me perguntou se eu lhe daria apoio, caso necessitasse. Claro que sim! Mas, piloto experiente, não foi necessário. Ele veio acelerado, lutando contra a areia que teimava em agarrar o seu carro. Mas, valente, chegou até as dunas, para felicidade e orgulho dos filhos!
Caminhando nas dunas do Jalapão - TO
E assim, exploramos as dunas nós seis. O cenário não poderia ser mais idílico. Aquele riacho no pé das dunas parece ter sido pintado, de tão perfeiro que fica ali. Um quadro! E as dunas avermelhadas, então... Para nós, que acabamos de passar por tantas regiões de dunas no litoral nordestino, aquele tom fazia parecer que algo estava errado... Além disso, cadê o mar??? Não é à tôa que esta é a paisagem mais conhecida do Jalapão.
Explorando as dunas do Jalapão - TO
Ficamos até o último minuto possível. No nosso caso, isso significava o tempo necessário para chegar até a Cachoeira da Velha ainda com luz do dia, para armar nossa barraca. Chegado este momento, depois de muito andar e fotografar aquelas incríveis formações, acompanhamos nossos amigos até a estrada principal (mais uma vez, chegaram lá sem nossa ajuda). Lá encontramos três carros vindo em direção às dunas. Não só eles, mas uma procissão de mais de 30 pessoas, estudantes da UFT, caminhando esses cinco quilômetros de areia fofa. Todos com o intuito de assistir ao pôr-do-sol do alto das dunas, programa super tadicional do Jalapão. Mesmo em dias nublados...
Nas dunas do Jalapão - TO
A gente seguiu acelerado a longa viagem. Primeiro, até a ponte do Rio Novo, importante ponto de referência na interminável estrada encascalhada, e depois até a torre de celular, algumas dezenas de quilômetros à frente. É de lá que saí o "atalho" de 10 km de areia fofa em direção à estrada de acesso à Cachoeira da Velha. Nós, que não tínhamos cruzado com nenhum carro na última hora de viagem, desde a saída das dunas, vimos logo duas camionetes e algumas motos paradas ali. Eles nos informaram que, no atalho, cruzaríamos com mais alguns retardatários, provavelmente agarrados à areia da estrada, já que não eram traçados. Pois é, e no meio do atalho, por duas vezes tive de sair da estrada, para dar passagem aos carros 4x2 que vinham à toda, preocupados em não atolarem novamente. Valentes! Provavelmente, um grande grupo que passou o dia ali na Prainha do Rio Novo e na Cachoeira da Velha.
As famosas dunas avernelhadas do Jalapão - TO
Passado este breve momento de confusão, pudemos admirar a beleza do cerrado à nossa volta, onde todas as plantas estão florescendo, aproveitando o final do período de chuvas. Uma visão magnífica deste que é um dos mais importantes biomas de nosso país. Pena não podermos ficar mais tempo admirando, mas o o sol acabava de se pôr e nós ainda tínhamos uns dez quilômetros pela frente...
Flores no cerrado, no Jalapão - TO
Grand Canyon: grandiosidade de tirar o fôlego! (no Arizona, nos Estados Unidos)
O Grand Canyon não é nem o maior nem o mais profundo canyon do mundo, mas certamente é o mais famoso. Com mais de 400 quilômetros de comprimento e até 29 de largura, suas dimensões colossais impressionam qualquer pessoa que se aproxime de suas bordas. Por mais de 15 milhões de anos, o rio Colorado vem escavando através de diversas camadas de solo, desnudando cerca de dois bilhões de anos de história geológica da América do Norte, fazendo a alegria dos geólogos que tem ali o seu melhor laboratório de estudos do planeta. O clima do deserto não só preservou em perfeitas condições essas diversas camadas que agora podemos ver como também dá as cores amareladas e avermelhadas tão características do Grand canyon, algo que faz dele uma das mais belas e impressionantes paisagens da Terra.
A vista majestosa do Grand Canyon, no estado do Arizona, nos Estados Unidos
A vista majestosa do Grand Canyon, no estado do Arizona, nos Estados Unidos
Ao longo de milhões de anos, camada sobre camada de terreno foi se formando. Ao mesmo tempo, placas tectônicas se movimentavam e se chocavam, levantando montanhas e afundando continentes. O mar avançava e retrocedia até que, mais recentemente, um encontro de placas levantou toda essa área a mais de dois quilômetros de altitude, formando o Kaibab Plateau. Desde então, com uma paciência milenar, o rio Colorado e seus tributários vem escavando esse platô em seu caminho para o mar. Dependendo da época, se é mais úmida ou seca, do degelo de antigas geleiras ou de secas que podem durar décadas, o rio aumenta ou diminui de tamanho. Quanto mais água, mais rápida a erosão. Outro fator que determina essa velocidade é a camada de solo em que o rio se encontra. As rochas podem ser mais resistentes ou não, dependendo do processo de formação daquela camada específica. O rio Colorado já atravessou várias delas, deixando seu rastro de erosão nas paredes coloridas do canyon, cada cor ou tom representando uma camada e alguns milhões de anos de história.
Visitando a borda sul do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Visitando a borda sul do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Apenas no último piscar de olhos da história geológica chegou o ser humano por aqui. Isso representa alguns milhares de anos, que é o tempo em que nativos americanos aprenderam a viver nas condições nada fáceis do interior e arredores do canyon. Mais recente ainda é a “descoberta” do canyon para o mundo ocidental, o que aconteceu em meados do séc XVI por uma expedição espanhola. Mas, como não havia ouro por aqui, o canyon foi deixado para trás e, apenas duzentos anos mais tarde, passou a ser explorado novamente.
Muita neve na parte alta do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Foi apenas em 1869 que um grupo liderado pelo major John Powell conseguiu atravessar todo o canyon pelo leito do rio Colorado, numa épica expedição que durou quase dez meses. Novos aventureiros se seguiram e, atrás deles, começaram a chegar os turistas. Um deles, o presidente americano Theodore Roosevelt, passou a lutar por sua preservação. Uma reserva foi criada em 1906, tornando-se parque nacional em 1919. Infelizmente, a proteção não veio a tempo de impedir que animais como lobos, águias e leões da montanha fossem exterminados dali. Ruim para eles, bom para veados, cervos e cabras montesas e coelhos, que perderam seus implacáveis inimigos.
Muita neve na parte alta do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Ao menos, atividades como criação de animais e mineração foram proibidas e a beleza cênica do canyon continua indiscutível. Como estamos nos Estados Unidos, a infraestrutura para se conhecer e admirar essas belezas é invejável, assim como as possibilidades de fazê-lo. Pode ser no conforto do seu carro, num espetacular voo de helicóptero, caminhando sobre uma ponte de vidro que avança sobre o canyon ou fazendo um trekking até o interior do mesmo. Tudo depende do seu bolso e curiosidade.
Grand Canyon: grandiosidade de tirar o fôlego! (no Arizona, nos Estados Unidos)
O parque engloba os dois lados do canyon, mas é na parte sul, o South Rim, que está a melhor infraestrutura. Para lá vão a grande maioria dos milhões de turistas que visitam uma das sete maravilhas do mundo natural anualmente. São vários lodges quase na beirada do precipício, assim como restaurantes com uma vista de perder o fôlego. Uma trilha asfaltada também acompanha a borda do canyon por quilômetros, dando acesso a diversos mirantes com visões privilegiadas. Para quem quiser gastar um pouco menos, uma cidade perto da entrada do parque se desenvolveu, com várias opções de hospedagem e alimentação. Foi aí que nos hospedamos, ontem de noite, num concorrido hotel de rede. Dez minutos de Fiona e já estávamos na boca do canyon.
Grand Canyon: grandiosidade de tirar o fôlego! (no Arizona, nos Estados Unidos)
Hoje, tiramos o dia para percorrer as trilhas e a estrada que dão acesso aos mirantes do South Rim. Cada um mais belo e impressionante do que o outro. O inverno chegou com força aqui nesses últimos dias e nós tivemos uma bela amostra disso ontem de noite, com aqueles 17 graus negativos. Uma das consequências disso foi a neve que caiu na parte alta do canyon, pintando tudo de branco. Foi o bastante para fecharem o North Rim até a próxima primavera, mas aqui, do lado sul, tudo é mantido aberto o ano todo.
Turistas se aglomeram em um dos mirantes do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
A neve branca misturada com o terreno e as paredes vermelhas e amarelas conseguiu fazer uma paisagem já maravilhosa ficar ainda mais bonita. De mirante em mirante seguimos, nunca nos cansando de admirar e tirar fotos. A vontade que dá é sair voando por aquele infinito espaço vazio, como faziam as águias de antigamente. A opção para isso é fazer um dos voos de helicóptero, por pouco mais de 200 dólares.
Visita ao Parque Nacional do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Vista do rio Colorado, no mirante conhecido como Desert View, na borda sul do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Mas a nossa vontade era mais conhecer por baixo, pelo interior do que pelo ar. Para isso, a opção é botar o pé na trilha para enfrentar os cerca de mil metros de desnível entre a borda sul e o rio Colorado. Nosso medo era o frio, pois acampar a menos 17, ninguém merece. Mesmo querendo tanto usar nossa barraca nova, desse jeito estávamos quase desistindo dela e encarando o lodge que existe lá embaixo, opção bem mais cara. Outro medo era enfrentar o gelo e a neve da parte alta da trilha. Felizmente, uma conversa com o park ranger resolveu os dois problemas. Primeiro, a temperatura estava esquentando desde ontem e, embora ainda fosse negativa, não chegaria mais ao exagero de ontem. Segundo, lá embaixo é bem menos frio do que aqui e a previsão para a noite seguinte, perto do rio, era de apenas poucos graus negativos. Finalmente, o gelo do início da trilha poderia ser enfrentado com umas correntes com pregos que colocamos nos calçados. Poderíamos comprar isso no supermercado e, caso não as usássemos, poderíamos até devolvê-las e receber o dinheiro de volta. Coisa de país de 1º mundo...
Vista do rio Colorado, no mirante conhecido como Desert View, na borda sul do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
O sol ilumina as paredes do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Então, estava resolvido! Amanhã, caminharíamos até o rio para acampar lá embaixo! Passamos num supermercado para comprar a comida e estávamos prontos para a aventura. Mas antes disso, ainda hoje, ainda fechamos o dia no mais belo mirante do lado sul do canyon, o Desert View. De lá, podemos até ver o rio lá embaixo, pois dos outros mirantes o Rio Colorado está escondido dentro do canyon interior. A luz do fim de tarde tornava as cores ainda mais belas, o vermelho e amarelo das enormes paredes mais vermelhos e mais amarelos. Uma visão absolutamente mágica, anda mais com a neve na parte alta e o grande deserto ao fundo, que é o que dá nome a este mirante.
A incrível paisagem do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
No mirante Desert View, é possível observar o rio Colorado no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos
Amanhã cedo, então, pé na trilha. Logo cedo vamos passar no escritório que emite as permissões para se acampar, deixar a Fiona por lá e seguir de ônibus para o ponto inicial da trilha. Depois, para baixo todo santo ajuda, serão horas de caminhada tranquila e muitas fotografias. O tempo vai estar aberto e mal podemos esperar! Dezoito anos mais tarde e vou poder voltar ao fundo do Grand Canyon, dessa vez com tempo para desfrutar e na melhor companhia do mundo! Ahn... amanhã é 21 de Dezembro, dia do fim do mundo. Tem lugar mais especial para se estar num evento dessa envergadura? Aliás, também é o aniversário de 1000 dias da nossa viagem, Assunto para amanhã...
1000dias no Grand Canyon! (no Arizona, nos Estados Unidos)
Bloco de carnaval nas ruas de Holbox, a pequena ilha ao norte do yucatán, no México
Terminada a nossa temporada em Isla Mujeres, ainda sonhávamos com aquele lugar tranquilo que havíamos imaginado. Tínhamos ainda uma segunda chance: era outra ilha, ali pertinho, chamada Holbox. Fica na costa norte do Yucatán e, portanto, mais próxima das águas escuras do Golfo do México, ao contrário de Isla Mujeres, em pleno mar do Caribe. Enfim, era o que nosso guia alertava: não tão bonita, mas bem mais relaxada.
De ferry de Isla Mujeres para Cancún, estrada para Chiquila, de barco para Holbox. Das águas do Caribe para as águas do Golfo do México
Então, lá fomos nós, direto do porto em Cancún para a pequena Chiquila, de onde partem os barcos para Holbox. Aqui, não existe a mamata de passar com a Fiona, não. Ela fica nos esperando em um estacionamento perto do ancoradouro, exatamente como funciona na Ilha do Mel. Um bom sinal!
Ainda em Chiquila, onde pegamos o barco para a ilha de Holbox, no norte do Yucatán, no México, as informações sobre os tubarões-baleia
As águas mais escuras do Golfo do México, a caminho da ilha de Holbox, no norte do Yucatán, no México
Antes mesmo de embarcarmos, ali no píer mesmo, vários cartazes fazem propaganda da maior atração dessa ilha, responsável pelo boom de turismo que Holbox vem experimentando: os tubarões-baleia. Esse maravilhoso animal vem para as águas calmas de Holbox todos os anos, às dezenas. É um fenômeno único no mundo, tantos desses enormes animais juntos e próximos da costa, ao alcance de barros de pequeno porte. Foi criado um parque para proteger a espécie e esse fenômeno de congregação, com regras bem estritas para os visitantes. Apenas pequenos grupos na água, todo mundo de colete salva-vidas para evitar que se mergulhe e todos acompanhados com um guia. Proibido tocar nos tubarões e a ideia é deixar que eles se aproximem, se assim o desejarem. Cada vez mais gente vem para cá, para ter esse mágico encontro e hotéis e restaurantes estão se multiplicando na ilha para receber todos os turistas. Infelizmente para nós, chegamos cedo demais. A temporada deve se iniciar em Abril.
A caminho da ilha de Holbox, no norte do Yucatán, no México
Um belo pôr-do-sol nos recepciona nos dá as boas vindas à ilha de Holbox, no norte do Yucatán, no México
Bom, enquanto ela não chega, nós temos a nossa procurada tranquilidade! Os barcos aqui se parecem ainda mais com os da Ilha do Mel, se bem que bem mais rápidos. Com nossa tradicional latinha de cerveja gelada em mãos, fizemos a travessia sobre o mar de águas escuras e chegamos do lado de lá bem na hora de um magnífico entardecer sobre o mangue que toma conta de toda a face sul da ilha, voltada para o continente.
Uma legítima marquesita, guloseima irresistível para a Ana! (em Holbox, ilha ao norte do Yucatán, no México)
Outra boa notícia para nós foi descobrir que as ruas em Holbox são todas de areia. Mas, embora não haja carros normais, o trânsito de carrinhos de golfe é intenso. Não que exista campos por lá, mas é o único veículo de quatro rodas permitido por lá e muita gente tem o seu. Sinais de desenvolvimento. Da mesma maneira que a grande quantidade de hotéis na beira do mar, charmosos e caros. O efeito colateral do sucesso dos tubarões-baleia. Andando pelas ruas, observando a infraestrutura e conversando com as pessoas, deduzi que Holbox foi a ilha que procurávamos há uns cinco anos. Melhor que Isla Mujeres, que deve ter sido isso há 40 anos...
Bloco de carnaval nas ruas de Holbox, a pequena ilha ao norte do yucatán, no México
Depois de umas tentativas frustradas de hotéis ao lado da praia, demasiado caros, resolvemos tentar na rua de trás. Bingo! Menos da metade do preço! Encontramos nossa casa pelos próximos dias, a pouco mais de 100 metros da praia, que só vamos conhecer amanhã.
Apresentação de carnaval na praça central em Holbox, a pequena ilha ao norte de Yucatán, no México
Hoje, o programa foi caminhar para o centro, a dez minutos de onde estamos, para jantar em um dos muitos bons restaurantes e acompanhar o carnaval daqui. Não demorou muito para gostarmos muito mais desse daqui que do de Isla Mujeres. Nas duas ilhas, os blocos de carnaval ficam perambulando pelas ruas centrais, mas em Isla, a música vem de um carro com caixa de som e aqui, é ao vivo mesmo. Uma simpática banda dá um verdadeiro show, com seus batuques e instrumentos de sopro. Já os blocos, pelo menos no dia de hoje, eram formados apenas por mulheres. Cada bloco com sua fantasia, que suas integrantes produziram ao longo do ano com economias e esforços próprios. Muito legal!
Animação de carnaval em Holbox, pequena ilha ao norte de Yucatán, no México
Apresentação de carnaval na praça central em Holbox, a pequena ilha ao norte de Yucatán, no México
Mais legal ainda é a coreografia. Estava bem melhor ensaiada aqui em Holbox. O bloco para numa esquina, dança umas três ou quatro músicas e segue para a esquina seguinte onde, após um pequeno descanso, repetem tudo, sempre com a mesma animação. Algumas vezes, dois blocos se trombam em uma esquina. Aí, é o ápice! Para delírio da galera, eles se revezam, uma música cada um, cada grupo tentando mostrar mais animação e melhor coreografia. Quase como se competissem. Mas, ao final, são todas amigas e se cumprimentam e se beijam, antes de seguir, cada bloco, para uma nova esquina.
Uma das animadas bandas que tocou no carnaval da ilha de Holbox, no norte do Yucatán, no México
Demos sorte de chegar aqui bem na melhor noite do carnaval, nos disseram. Amanhã, já deve ser bem mais tranquilo. Aí, sem tubarão-baleia e sem carnaval, nada nos restará além de caminhadas na praia, alguma cerveja no fim de tarde e muito tempo para descansarmos e trabalharmos nos blogs. A tranquilidade que tanto queríamos... Só falta ver o mar do outro lado da ilha, onde estão os hotéis. Como será que é?
A incrível beleza das praias da ilha de Holbox, no norte do Yucatán, no México
Praia repleta de lobos-marinho em Stromness, na Geórgia do Sul
Nossa caminhada de hoje terminou em um estranho lugar chamado Stromness, exatamente onde Shackleton finalmente conseguiu abrigo e ajuda para seus amigos deixados para trás há quase 100 anos. O cenário que ele encontrou naquele tempo, uma estação baleeira a pleno vapor com mais de 100 pessoas morando no local difere bastante do que vimos, prédios decrépitos e caindo aos pedaços frequentado apenas por pinguins, lobos e elefantes-marinho. Qual, afinal, é a história desse e de outros lugares parecidos espalhados pela costa norte da Geórgia do Sul?
A antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Elefante-marinho descansa em Grytviken, na Geórgia do Sul
Um desses lugares é Grytviken, para onde seguimos na tarde de hoje. As mesmas ruínas, mas pelo menos limpas de detritos e destroços mais perigosos para que turistas possam se aproximar e ver de perto como funcionavam essas verdadeiras máquinas de matar e processar baleias. Grytviken foi o primeiro, o maior e o último a deixar de funcionar entre todos os postos baleeiros da Geórgia do Sul, que tiveram seu auge na década de 20 e fecharam definitivamente as portas no início dos anos 60. Sua história resume bem o que passou com as outras estações baleeiras.
Um antigo barco da estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Pontas explosivas de arpão para matar baleias expostas no museu de Grytviken, na Geórgia do Sul
No final do séc. XIX o óleo de baleia era cada vez mais utilizado, desde na fabricação de cosméticos como sabonetes e loções até para a iluminação pública, passando pela produção de explosivos de nitroglicerina. Com a demanda cada vez maior, cresceu também a pesca comercial desse grande cetáceo, sendo desenvolvidas técnicas cada vez mais precisas e armamentos ainda mais mortíferos para abater as baleias. Pontas de arpão aliaram-se a granadas e cada vez menos os animais tinham chance de escapar depois de serem atingidos. Esse desenvolvimento tecnológico deu-se principalmente na Noruega, aonde baleias já vinham sendo caçadas há séculos, mas jamais nessa escala. Não demorou muito para que esses animais praticamente sumissem dos mares do norte.
As ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Busto do Capitão Larsen, fundador de Grytviken, na Geórgia do Sul
As baleias podem ter sumido de lá, mas a demanda por seus subprodutos só aumentava, assim como o preço pago por eles. Eis que, então, o norueguês Carl Larsen, ao participar de uma expedição cientifica nórdica aos mares do sul, percebeu que havia muitas baleias por aqui. Voltou para casa e não descansou enquanto não arrumasse financiamento para instalar na Geórgia do Sul a primeira estação baleeira nessa parte do mundo. Deu trabalho, mas ele conseguiu. O ano era 1904 e a nova instalação foi batizada de Grytviken.
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Um antigo baleeiro encalhado em Grytviken, na Geórgia do Sul
Os primeiros anos de operação foram absolutamente “fantásticos”. Para os investidores, claro! O retorno chegava a ser de 35% ao ano! É claro que uma bonança dessa logo atraiu a concorrência e, em poucos anos, já eram outras cinco estações operando na ilha. No início, nem precisavam ir longe para achar as baleias que eram abundantes ao redor da ilha. A preferida era a “right whale”, a nossa “franca”. O “right” quer dizer “certa”. “Certa” porque ela era lenta e nadava sempre próxima à superfície, sendo muito fácil de ser arpoada. Naquela época, baleias mais rápidas ainda conseguiam fugir de seus caçadores. Mas a tecnologia trabalhava a favor dos homens e logo a propulsão dos barcos baleeiros melhorou e possibilitou que todos os tipos de baleia fossem caçadas.
Fotos da antiga estação baleeira de Grytviken ainda em funcionamento, na década de 50, na Geórgia do Sul
Diagrama em japonês sobre como aproveitar uma carcaça de baleia, exposta no museu de Grytviken, na Geórgia do Sul
A técnica era, desculpe-me a expressão, “desumana”. Uma baleia era arpoada com aquele arpão-granada que a deixava fora de ação, mas ainda viva. Os baleeiros, então, injetavam ar na baleia, para que ela não afundasse. Depois, colocavam uma bandeira e um beep sobre seu corpo e iam caçar mais baleias. Depois de matar quantas pudessem carregar, recolhiam suas cargas pelo mar e as guinchavam para a estação na Geórgia do Sul. Aí eram levantadas por guindastes para terra firme onde finalmente morriam. Eram cortadas, fatiadas, e aproveitadas ao máximo, a gordura, a carne e até os ossos. Muitos dos baleeiros se compadeciam do seu sofrimento, especialmente um espécie que parecia chorar quando era arpoada. Mas o dinheiro falava mais alto. Um bom dinheiro.
As ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Chegando a Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
A matança só aumentava, ainda mais quando mais companhias entraram no negócio, operando diretamente em alto-mar e usando as instalações da Geórgia do Sul apenas para estocar. Baleias com mais de 30 metros de comprimento foram mortas e “industrializadas” em Grytviken. No seu primeiro ano de operação, foram 183 baleias mortas. Em 1931, foram 40.201 mortas em toda a região. As próprias empresas perceberam o exagero, notaram que estavam matando a sua galinha dos ovos de ouro. Resolveram, voluntariamente, impor-se cotas. Mas elas vieram tarde demais. As baleias estavam praticamente extintas nos mares do sul.
Um altivo lobo-marinho na praia de Stromness, na Geórgia do Sul
Na praia da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Para piorar sua situação, essa superprodução havia baixado bastante os preços dos derivados de baleia. Por mais eficiente que fosse a exploração, o custo de encontrar as poucas baleias existentes elevava o preço final. Produtos semelhantes apareciam para disputar com os derivados de baleia. As empresas começaram a fechar suas operações. Grytviken foi a que mais resistiu. Tinha gordura para queimar. Gordura nos dois sentidos. Gordura monetária acumulada nos anos de bonança e gordura de lobos e elefantes marinhos, que ela também começou a operar. Mesmo assim, as coisas não iam bem.
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Lobo-marinho não parece se importar com a placa na antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
O fundador, Larsen, não chegou a ver esses anos negros. Morreu a bordo de um navio, ainda na década de 20, procurando por baleias em novas regiões do oceano. Grytviken resistiu até o início dos anos 60, quando foi comprada por japoneses. Por dois anos, tentaram fazer com que ela ainda desse dinheiro. Mas no fim, perceberam que o futuro estava mesmo nos navios-fábrica, que matam e já processam a baleia ali mesmo. Produtividade ao máximo. Finalmente, Grytviken foi abandonada. Um lugar onde já moraram 500 homens, muitos acompanhados de suas famílias, agora era deixado para trás. O mesmo destino das outras estações.
Ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Deixando a antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Meio século se passou desde então. Cinquenta anos para que o tempo e o mau tempo agissem sobre aquelas construções de metal. Vento, frio, chuva, neve e maresia, todos unidos para devolver à natureza aquilo que um dia foi dela. Se ela já fez isso nesse meio século, imagina só daqui a 500 anos. Ou 5 mil. Isso não é nada, é apenas um piscar de olhos no tempo das coisas. Enfim, só podemos ver como está agora. E imaginar como vai estar depois...
Chegando a Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
A boca aberta do elefante-marinho é mais efetiva do que a placa em Stromness, na Geórgia do Sul
E agora, bem, como eu já disse, parece uma cidade fantasma. Inacessível para nós, humanos. Os perigos lá dentro são tão grandes que as autoridades proibiram a entrada. Para nós, humanos. Hoje, quando chegamos a Stromness, uma névoa cobria o local, emprestando-lhe um aspecto ainda mais tétrico. Gosto de imaginar o lugar quando Shackleton lá chegou. Mas não imagino a fábrica de processamento de baleias. Apenas a casinha do administrador, lareira acesa, café na mesa e ele com a cara mais incrédula e estupefata do mundo ao ver aqueles 3 homens barbudos à sua porta, vindos sabe lá de onde. O resto, a tal fábrica, prefiro vê-la como está hoje, caindo aos pedaços.
Pinguins não parecem se incomodar com o barco encalhado na praia de Grytviken, na Geórgia do Sul
Elefantes e lobos-marinho ocupam as ruínas de Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
Mas o lugar não está deserto. Muito pelo contrário. Pinguins, elefantes e lobos marinhos circulam por lá à vontade. Fosse há um punhado de décadas atrás, também eles seriam “processados”. Mas hoje, aquele território lhes pertence. De direito!
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Placas informativas espalhadas pela antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Grytviken só não está igual porque foi feito um grande esforço para fazê-la segura aos turistas. Aqui podemos transitar mais perto das antigas instalações. Painéis informativos espalhados pelo local explicam cada passo do processamento das baleias. Ao mesmo tempo, entre um prédio e outro, ou então na praia, ossos de antigas baleias continuam espalhados por lá. Nas primeiras décadas de funcionamento, apenas a gordura dos animais era processada e o resto, a carcaça, era deixada ali mesmo, para a natureza. Os ossos, mais resistentes ao tempo, continuam ali para nos lembrar do que aconteceu naquele lugar.
Ossos de baleia ainda são comuns em Grytviken, na Geórgia do Sul
Elefantes-marinho descansam em Grytviken, na Geórgia do Sul
Nosso tempo em Stromness foi só aquele para esperar que os zodiacs nos levassem a todos de volta ao Sea Spirit. Enquanto isso (fomos na última leva), tivemos tempo para ver, fotografar e refletir. A quantidade de vida que há hoje onde ontem só havia morte é impressionante. Impossível não sorrir em ver a ironia da situação. A população de lobos e elefantes marinhos já se recuperou desde aqueles tempos sombrios, mas a de baleia ainda não. Mas ver aquela praia escura cheia de pinguins e lobos nos dá uma esperança que elas também, um dia, voltarão.
Tarde de sol em Grytviken, na Geórgia do Sul
Sorria, você está na Bahia! (fronteira de Itaúnas - ES com Bahia)
Apesar da noitada da véspera, o programa do dia do aniversário não deixou nenhum de nós até tarde na cama. Afinal, tínhamos uma longa caminhada até a Bahia.
Caminhada para Riacho Doce, na Bahia, saindo de Itaúnas - ES
Riacho Doce é o nome de uma praia e também de um riacho que marca a fronteira entre os estados da Bahia e do Espírito Santo. A partir dos quiosques da praia de Itaúnas, são cerca de 8-9 quilômetros pela praia para chegar até lá. Uma longa praia de mar tranquilo e faixa de areia larga, na maré baixa, e mar agitado e faixa de areia estreita na maré alta. Por isso mesmo, é recomendável fazer a maior parte da caminhada durante a maré baixa.
A caminho da Bahia, em Itaúnas - ES
Seguimos os três casais, eu e a Ana, o Rafa e a Laura e o Leo e a Karen caminhando, enquanto a Ana foi no seu carro, para nos encontrar lá. No caminho, logo que nos afastamos mais de um quilômetro dos quiosques, a praia fica completamente deserta de pessoas. Os únicos sinais de civilização são as poucas barracas rústicas que servem de garagem de canoas de pescadores. A gente não vê pessoas, mas vemos muitos pássaros e siris, sinais que podemos estar longe da civilização, mas não da vida. O mar, na maré baixa, forma várias piscinas naturais ao longo da praia e lugares para se refrescar não faltam.
Siri na longa praia entre Itaúnas - ES e a Bahia
Caminhada super agradável, conversa aqui, conversa ali e, quando percebemos, já estamos chegando. Somos recebidos por um par de barracas que servem peixe, algumas porções e cerveja e coco gelado. O riacho de águas escuras, por falta de água, se transformou numa aprazível lagoa. Na próxima chuva, deve comper a barragem de areia e chegar ao mar novamente.
Almoçando no Riacho Doce, fronteira da Bahia com Itaúnas - ES
Após umas duas horas de comida, cerveja, coco, conversa animada, muitas fotos e banho de mar e de lagoa, era hora de voltar. Com a maré já bem alta, as meninas voltaram de carro enquanto eu, o Leo e o Rafa seguimos intercalando passo acelerado com corridas. Mesmo assim, chegamos já bem no escuro.
Felizes da vida, no Riacho Doce, fronteira da Bahia com Itaúnas - ES
Mais tarde, na pousada, era a hora de celebrar meus 41 aninhos. A Ana preparou uma festa surpresa, com bolo, velinhas, bexigas e até presente! Com os padrinhos e sobrinhos presentes, além das amigas Ana e Tuquinha (gerente da pousada) e até de uma criança, o Klaivan (ainda vou checar como se escreve), a festa estava completa.
Soprando as velinhas em Itaúnas - ES
Foi um belo, sadio e inesquecível dia de aniversário, num pedaço de paraíso entre a Bahia e o Espírito Santo. Meus pensamentos se dividiram entre os parentes e entes queridos que não puderam estar presentes e sobre aonde será o próximo, de 42 anos. O futuro dirá...
Celebrando o aniversário com a amada esposa em Itaúnas - ES
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