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E as estradas de Terra Ronca para Cavalcante em Goiás na Chapada dos Vea...
Diana (11/07)
Olá Rodrigo! Gostaria de saber que estrada é essa que liga o Maranhão ...
Os Terraços de Moray, laboratório agrícola dos incas, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Nosso próximo destino no Valle Sagrado foram as Salinas de Maras, um pitoresco vale onde o sal é extraído continuamente, de forma comunal, desde a época dos incas. Apesar de já ter viajado por aqui antes, confesso que nunca tinha ouvido falar desse incrível lugar até um mês atrás, quando começamos a planejar o que faríamos na região de Cusco.
A bela paisagem no caminho para as Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
A bela paisagem no caminho para as Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Há 23 anos, quando vim ao Peru, contratei um dos day-tours tão comuns para conhecer o Valle Sagrado. Mas, num tempo tão curto, normalmente esses tours se atêm às atrações mais conhecidas, como Pisac e Ollantaytambo. E nós, daquela vez, ainda tínhamos de tomar o trem para Machu Picchu no final da tarde. Resultado: passamos batidos por Maras.
Em meio a um vale, surgem as Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
As Salinas de Maras,com suas centenas de piscinas para produção de sal, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Mas não dessa vez, donos do nosso próprio tempo, percurso e meio de transporte! Assim, pegamos a estrada de Pisac até Urubamba, a maior e mais sem graça cidade do Valle e tomamos o caminho de volta para Cusco, na estrada que fecha o looping do Valle Sagrado. Mas logo pegamos um desvio, estrada de terra, assim que subimos a serra ao lado de Urubamba. Acima dos 3.500 metros de altitude, percorremos um platô cercado por belíssimas paisagens, montanhas nevadas ao fundo, acelerando a Fiona contra o céu de fim de tarde. Por fim, alguns quilômetros adiante, uma rachadura no platô apareceu, o vale onde se escondem as salinas.
As Salinas de Maras,com suas centenas de piscinas para produção de sal, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Os terraços e piscinas das Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Lá de cima, a visão de centenas de piscinas brancas, formando prateleiras na montanha. A luz do sol ainda iluminava parte delas e aceleramos ainda mais para chegar até lá para tiramos fotos e caminharmos pela estranha paisagem saída de algum filme de ficção científica.
Maravilhado com as Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Impressionada com a beleza das Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
E assim foi. Aproveitamos os últimos raios de sol (que se põe mais cedo em meio aquele vale profundo) para caminhar entre as tais piscinas e fotografar. Uma fonte de água salgada nasce na parte mais alta do vale e há muitos séculos os homens construíram cuidadosamente a rede de terrações por onde a água escorre, de piscina para piscina. Aos poucos, vai evaporando e deixando o sal para trás. De tempos em tempos, as piscinas são esvaziadas e o sal coletado. Depois, deixam a água correr novamente e o ciclo recomeça. Simples e engenhoso assim! Com o frio do final da tarde, aquele branco todo à nossa volta combinava com neve, mas era sal mesmo! O mesmo sal já usado pelos incas e, possivelmente, antes deles!
Com o Gustavo, nas Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Caminhando pelas Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Depois, de volta ao alto do vale, aonde o sol ainda batia, aceleramos novamente, querendo ainda ver uma última atração: os terraços agrícolas de Moray, outra surpresa para mim. Será que as atrações desse país não tem fim, hehehe!!! De novo, mais uma corrida contra o tempo, a Fiona acelerando nas estradas de terra desse cantinho perdido do mundo, escondido entre as montanhas andinas.
Chegando aos incríveis terraços de Moray, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Os Terraços de Moray, laboratório agrícola dos incas, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Mas o esforço valeria a pena! Meia hora de caminhos e chegamos ao parque arqueológico, quase sem luz e quase sem turistas. Estudiosos ainda não tem certeza, mas a desconfiança é grande de que Moray era um centro de estudos agrícolas dos incas, para desenvolvimento de novas sementes adaptadas á diferentes climas e altitudes. Aqui no país, já estamos acostumados a observar montanhas transformadas em uma série de terraços para cultivo de plantas, mas aqui os terraços não estão em montanhas. Ao contrário, foram feitos em um grande platô, tem a forma de arenas circulares, algo parecido com um enorme “espaçoporto”. A primeira vez que os vemos é fascinante!
Chegando perto dos terraços agrícolas de Moray, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Alguns dos muitos tipos de milho que existem no país, nas Salinas de Maras, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Estudos mostram que as diferenças de incidência solar e de vento fazem com que a temperatura média chegue a variar mais de dez graus entre os terraços mais altos e mais baixos. Daí a conclusão de que diferentes sementes eram testadas e desenvolvidas em diferentes condições “controladas”, para depois serem distribuídas pelo império, cada uma para a região onde fosse melhor adaptada.
Minúsculos, o Rodrigo e o Gustavo caminham ao lado dos terraços agrícolas de Moray, do tempo dos incas, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Turistas meditam no centro dos círculos de Moray, no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Nós aproveitamos a luz do céu já sem o sol e depois, o lusco-fusco que precede o anoitecer para caminhar por ali, quase sentido a energia que parece emanar dos círculos concêntricos. Não resistimos à tentação de nos sentar no centro deles e esperar a noite cair, tentando imaginar tudo o que já se passou por ali nos últimos séculos, quantas pessoas que passaram e viveram ali, antigas cerimônias e o céu estrelado sobre nossa cabeças. Realmente, um lugar muito especial.
Bem no centro dos círculos de Moray, admirando e sentindo o mágico entardecer no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
Devidamente reenergizados, tomamos novamente o rumo de Urubamba, cruzando o altiplano novamente, a Fiona o único carro por ali, rebanhos de ovelhas, vacas e lhamas no caminho, todos imaginando de onde viriam aqueles intrépidos e distintos viajantes, a gente curtindo cada minuto ou encontro naquelas isoladas estradas. De Urubamba, finalmente seguimos para Ollantaytambo, onde ainda tivemos de enfrentar um congestionamento para entrar na pequena cidade. O problema era a enorme fila de turistas saindo da cidade, que só tem uma via de acesso. Depois que eles saíram, nós entramos, direto para nosso hotel que já estava marcado. Amanhã, teremos várias horas para conhecer as famosas ruínas da cidade para, no meio da tarde, seguirmos de trem para Aguas Calientes. Até aqui, nossa programação segue de vento em popa!
Bem no centro dos círculos de Moray, admirando e sentindo o mágico entardecer no Valle Sagrado, perto de Cusco, no Peru
O belíssimo rio de águas azuladas de Ys Falls, no interior da Jamaica
Corações partidos, deixamos nosso hotel e novos amigos em Negril e seguimos adiante em nosso giro pela Jamaica. O destino final, hoje, era o litoral sul do país, um lugar com o singelo nome de Treasure Beach. Aparentemente, muito mais tranquilo que as praias do norte.
Despedindo-se do Bert (Chico) em Negril, na Jamaica
Mas tínhamos uma escala a fazer. Era no interior da Jamaica, nossa primeira investida no “country side” do país. As cachoeiras de Ys Falls, supostamente uma das mais belas da Jamaica e uma atração menos turística também. Ys? Pois é, nome meio estranho... A pronúncia é “Uai-És”, como se fossem duas letras separadas...
Paisagem campestre chegando em Ys Falls, no interior da Jamaica
Uma das grandes dificuldades de viajar na Jamaica é lidar com os “hustlers”. São uns chatos que aparecem do nada assim que botamos o pé fora do hotel e ficam nos empurrando todo o tipo de produto, dos legais aos ilegais, além dos seus serviços de guia. Aos poucos, vamos aprendendo a dispensá-los rapidamente, mas eles realmente são profissionais. Mesmo de carro, basta eu encostar em qualquer rua, movimentada ou não, e já aparece alguém de bicicleta ou de moto batendo no nosso vidro para nos “ajudar”.
Entrada meio cara em Ys Falls, no interior da Jamaica. No ganja!
Hoje foi um bom exemplo. Saindo de Negril, ainda paramos num supermercado. O bastante para termos de dispensar uns cinco deles. Até aí, normal. Depois, pegamos estrada. Temos um mapa jóia do país, mas as estradas são pouco sinalizadas, principalmente quando cruzam pequenas cidades. E foi cruzando uma delas, já meio perdidos, encostados numa rua secundária de um bairro periférico que apareceu essa figura, de moto. Esperou pacientemente que eu abrisse o vidro para nos mostrar aonde estávamos e perguntar aonde íamos. Ao ouvir sobre Ys Falls, perguntou se não tínhamos ouvido que a estrada estava interrompida um pouco mais adiante. Alguém havia sido atropelado e a população, revoltada, fechou o trânsito, atacando os carros que tentassem passar. Conforme eu insistia em seguir, os relatos aumentavam: portavam machetes e atiravam pedras nos carros. Ofereceu-se para nos mostrar a estrada para uma outra cachoeira, ainda mais bonita. “Okay, vamos atrás de você” – disse, aparentemente me rendendo.
O bonito rio de Ys Falls, no interior da Jamaica
Mas, na primeira oportunidade, ele foi para um lado e eu segui para outro, feliz de me livrar do vodu. A Ana estranhou e perguntou se eu não estava com medo do tal piquete. “Piquete? Você só pode estar brincando...”
O belíssimo rio de águas azuladas de Ys Falls, no interior da Jamaica
Sem mais hustlers ou piquetes pela estrada, fomos achando nosso caminho até Ys Falls. Longe da praia, numa região bem bucólica, cavalos pastando tranquilamente em campos e montanhas ao fundo. Enfim, longe dos turistas também! Doce ilusão... Foi chegar à cachoeira e o estacionamento do local já dizia tudo. Dezenas de vans de agências. Ao lado da bilheteria, uma loja de souvenirs e um restaurante, todos cheios de seus clientes trazidos diretamente dos all-inclusives.
Salto de cipó em Ys Falls, no interior da Jamaica
Bom, readequadas as expectativas, seguimos em frente. De trenzinho! Pois é, do estacionamento e bilheteria (16 dólares por pessoa!), seguimos de trenzinho até o rio onde estão as quedas, num percurso de três quilômetros. Aí chegando, depois de atravessar uma área de piqueniques, basta seguir por uma passarela de madeira que vai subindo ao lado do curso do rio e suas quedas. Vamos passando por piscinas naturais e quedas d’água, algumas repletas de pessoas, outras vazias. Geralmente porque o banho está proibido por ali, pela ausência de salva-vidas.
Feliz, depois do salto de cipó em Ys Falls, no interior da Jamaica
É, demorou um pouco para as expectativas serem reajustadas mesmo. Mas, enfim, foram. O rio é lindo, águas bem azuis, e as cachoeiras e poços que se formam também. Numa das piscinas até montaram um cipó do Tarzan, para nos atirarmos no poço. Devidamente vestidos de luva. Uma super estrutura, para poder receber gente de todas as idades e todos os pesos.
Uma das cachoeiras em Ys Falls, no interior da Jamaica
Aparentemente, chegamos na hora de pique, nosso trenzinho cheio, assim como os poços e as quedas d’água. Mas, passado um hora, já havia bem menos gente e tudo estava muito mais agradável. Depois de um bom banho e salto de cipó, pegamos sozinhos um trenzinho para voltar. Almoçamos ali mesmo, uma deliciosa jerk chicken, prato típico do país. É um frango preparado com temperos fortes e picantes. Uma delícia!
Refeição típica: jerk chicken e Red Stripe(em Ys Falls, no interior da Jamaica)
Depois de Ys, seguimos para Treasure Beach. Deixamos a estrada principal que contorna a ilha para trás e entramos em estradas menores que conduzem a esta parte do litoral. Final de tarde bem prateado, nuvens chuvosas e passageiras tentando dominar os céus da Jamaica, assim foi o cenário da nossa chegada à praia. Realmente,. Depois do agito e dos resorts dos dias anteriores, finalmente chegamos num lugar mais tranquilo. Diretamente para o Jake, o mais famoso hotel do tranquilo vilarejo.
Belo entardecer visto do Jake, nosso hotel em Treasure Beach, na Jamaica
Muitíssimo bem instalados, ainda pegamos um pôr-do-sol dourado com vista para um litoral bem mais rochoso. Aproveitando também a primeira internet estável que encontramos pelo caminho! O dia de amanhã promete tranquilidade...
Aproveitando a internet no Jake, nosso hotel em Treasure Beach, na Jamaica
Fiona a caminho do Salar de Uyuni, na Bolívia
O início da manhã foi de despedidas. Os bravos ciclistas alemães partiam no sentido oposto, contra o vento e ganhando altitude. O que lhes dava ânimo era a descrição pormenorizada que eu tinha feito da piscina de água quente, algumas lagunas à frente. O objetivo deles hoje é chegar até lá e, quem sabe, tomar um banho noturno!
Ciclistas alemães continuam sua travessia do Salar de Uyuni, na Laguna Colorada - Bolívia
Para o mesmo lado que nós partia o grupo de turistas que estava em três jipes . Entre eles, os três brasileiros e também um chileno amigo do Cristóbal. Como todos os grupos que viajam através de uma agência, o plano deles era fazer o percurso em 3 dias. A gente queria chegar já hoje em Uyuni, sem mais delongas, por isso a despedida.
Formações rochosas no caminho entre a Laguna Colorada e o Salar de Uyuni, na Bolívia
Demos a volta na Laguna Colorada, tiramos mais fotos desse lugar fenomenal e seguimos em frente, por entre montanhas, vulcões fumegantes e aquela paisagem desoladora e magnífica de outro planeta. Num trecho do altiplano surgem formações rochosas que parecem brotar do chão, com formas as mais variadas possíveis. Outro ponto obrigatório para fotos, ainda mais com a paisagem cheia de neve que temos nessa época.
Laguna Honor, umas das lagunas altiplânicas no caminho para o Salar de Uyuni, na Bolívia
A partir daí, começamos a passar numa sequência de lagunas, cada uma mais bonita do que a outra, mas todas com dois pontos em comum: nomes estranhos e centenas de flamingos em suas águas. A mais interessante delas é a Laguna Hedionda, onde podemos chegar muito perto dessas aves avermelhadas e até das mais jovens, que ainda são acizentadas. Para quem gosta de observar pássaros, difícil imaginar lugar melhor na Terra!
Laguna Hedionda, lar de centenas de flamingos, no caminho para o Salar de Uyuni, na Bolívia
É impressionante a quantidade de grandes lagunas e de água nessa região que beira os 4 mil metros de altitude. Isso me fez lembrar algo que li nesses dias. Pouca gente no Brasil sabe mas houve uma guerra na América do Sul de porte e importância tão grandes como a "nossa" Guerra do Paraguai. E praticamente na mesma época! Foi a chamada "Guerra do Pacífico", com o Chile lutando contra as forças combinadas de Peru e Bolívia. Eu ainda vou falar dessa guerra mais para frente, quando voltarmos ao norte do Chile em alguns dias. Mas o fato é que a Bolívia perdeu sua saída para o mar nesta guerra, território que passou a ser chileno, e nunca mais se conformou com isso. Até hoje a relação entre os dois países é meio estremecida por causa desse fato.
Observando os flamingos da Laguna Hedionda, a caminho do Salar de Uyuni, na Bolívia
Observando os flamingos da Laguna Hedionda, a caminho do Salar de Uyuni, na Bolívia
Pois bem, no final da década de 70 e início de 80 houve uma negociação entre os dois países que quase mudou novamente a geografia da região. O Chile queria devolver parte do território conquistado para a Bolívia, que voltaria a ter acesso ao mar, mas em contrapartida queria toda a região da Laguna Colorada para ele. Para turismo? Não!!! Queria usar essa água sagrada das lagunas para suas minas de cobre, um processo de exploração que pede muita áua. Nossa... imagina! Queria ver algum ecologista da época ir argumentar com o Pinochet, no auge do seu poder, que não se deveria fazer isso... Bom, graças à Deus e ao Peru, que entrou na negociação e acabou melando tudo que isso não aconteceu e as lagunas continuam lá encima, maravilhosas, para quem tem a sorte de passar por lá.
Um "zorro", ou raposa, vem nos observar no caminho entre as lagunas altiplânicas e o Salar de Uyuni, na Bolívia
Alguns vulcões ainda estão ativos no altiplano boliviano (a caminho do Salar de Uyuni)
Depois das lagunas chegamos ao nosso primeiro salar da região, o Chiguana. AInda no alto, antes de baixar até ele, duas imagens surpreendentes. A primeira foi a de um trem cruzando o salar. O trem deveria ter uns 200 metros de comprimento. Mas no meio daquela imensidão branca, ele praticamente sumia, ficava ridiculamente minúsculo. É até difícil localizá-lo na foto que acompanha esse post. A segunda foi a visão do Tunupa, no horizonte. O Tunupa é um vulcão que fica no extremo norte do Salar de Uyuni. A gente chegava pelo lado sul e ainda estávamos muito longe do início do Salar de Uyuni. Mas o Tunupa já estava lá, ao alcance dos nossos olhos, a mais de 200 quilômetros de distância. Visão incrível desse vulcão de 5.400 metros de altura, quase 2 mil metros acima do salar. Como já disse em outro post, tamanhos e distâncias nos enganam por aqui.
Um longo trem fica minúsculo ao atravessar o Salar de Chiguana, ao sul do Salar de Uyuni, na Bolívia
Nosso Hotel de Sal em Puerto Chuvica, no Salar de Uyuni, na Bolívia
Cruzamos o Salar de Chiguana e, mais uma hora ou duas chegamos à Puerto Chuvica, na extremidade sul do Salar de Uyuni. Aí, por causa do horário, refizemos nossos planos e deixamos a travessia de Uyuni, passando pela ilha Incahuasi para amanhã. Achamos um lindo refúgio feito de sal e aí nos instalamos, bem em frente ao gigantesco salar. É incrível estar num lugar onde o chão e as paredes são feitos de sal. Passamos um final de tarde contemplativo no meio desse mundo que é tão exótico para nós, tomamos algumas cervejas e fomos dormir embalados nas nossas camas de sal. Amanhã, finalmente, será o dia de enfrentar esse oceano branco à nossa frente!
Brindando com a Krasna e o Cristóbal no Hotel de Sal de Puerto Chuvica, no Salar de Uyuni, na Bolívia
Mapa com as principais atrações de Noronha. Em preto, a menor BR do Brasil. Em vermelho, as estradas de terra e em amarelo algumas das trilhas
A ilha de Fernando de Noronha pode ser pequena, mas não é tanto assim não. As pousadas não estão perto das praias e não é tarefa fácil usar apenas os pés para se chegar até elas.
Chegando na Praia do Leão em Fernando de Noronha - PE
Uma estrada, a menor BR do Brasil, atravessa a ilha de norte a sul ligando a Baía de Sueste ao Porto de Santo Antônio, passando pelo aeroporto e ao lado da Vila dos Remédios, a maior vila da ilha. Passa também ao lado dos "bairros" de Floresta Velha, Floresta Nova e Vila dos Trinta, onde estão a maioria das pousadas da ilha. A partir desta estrada partem estradas de terra para as praias mais famosas, como a da Cacimba, da Conceição e do Leão. Com o sol à pino, caminhar nessas estradas é bem árduo, já que quase não há sombras e nem se pode ver o mar em muitos trechos. Enfim, para os mais esportistas, é possível correr por elas, sabendo que o prêmio será chegar em uma praia paradisíaca. Para as praias mais distantes, como a do Sancho e a do Leão, partindo da Vila dos Remédios, serão uns 40 minutos de corrida e muito suor..
Admirando a paisagem da Praia do Leão em Fernando de Noronha - PE
As alternativas são alugar um bugue, o que custa pouco mais de 100 reais por dia, fora o combustível que é o mais caro do Brasil (o litro da gasolina beira os 4 reais), ou tomar um táxi (bugue também). Boa parte dos preços das corridas varia entre 15 e 25 reais. Mais barato é pegar a única linha de ônibus da ilha, que percorre toda a BR e que custa 3,10 reais. Mas para as praias que ficam distantes da BR, essa não é uma alternativa. Em tempo, nos movimentados dias da semana do reveillon, o aluguel de um bugue chega a estratosféricos 400 reais por dia! Tudo pela liberdade de se ir e vir quando quiser e, claro, pelo status! Se o preço é esse, é porque tem gente que paga...
Últimas luzes na Praia do Leão em Fernando de Noronha - PE
As praias do Mar de Dentro, quando a maré não está alta, podem ser visitadas através de uma longa trilha pela costa. Muita gente acaba fazendo isso uma vez. Mas, no retorno, se rendem para o táxi. Outros, que estão em rápida visita, contratam o Ilha Tour, que os levam para conhecer todas as praias em apenas um dia, em comboio. Não precisam se preocupar com o transporte, mas também nunca conhecerão uma praia deserta, pois estão sempre acompanhados de outros 20-30 turistas. Cada um, cada um...
Fim de tarde na Praia do Leão em Fernando de Noronha - PE
Por fim, quando contratamos mergulhos, as empresas vêm nos buscar nas pousadas e nos levam para o porto. Ao final do mergulho, nos trazem de volta.
Pôr-do-sol na Praia do Leão em Fernando de Noronha - PE
Hoje, após o maravilhoso mergulho na Corveta, fomos conhecer a Praia do leão, no Mar de Fora. De uma tacada só, utilizamos quatro dos meios de transporte. Fomos de táxi e curtimos um delicioso fim de tarde por lá. Depois, caminhamos até a Baía do Sueste (outra praia no Mar de Fora). Ali, eu e a Ana tomamos o ônibus de volta para Floresta Velha, onde está nossa pousada. O Haroldo, aproveitando as temperaturas um pouco mais amenas do horário, enfrentou os pouco mais de 4 km correndo, com direito à vista e contorno da pista do aeroporto. E assim, vamos todos conhecendo e reconhecendo esse pedaço do paraíso...
Últimas luzes na Praia do Leão em Fernando de Noronha - PE
O Dave traz mais passageiros de volta ao Sea Spirit, depois de visita a Stromness, na Geórgia do Sul
Se alguém me dissesse, um mês atrás, que estava viajando de Stromness para Grytviken, eu iria imaginar que essa pessoa deveria estar em algum recanto da Dinamarca, Suécia ou Noruega, mas jamais na América do Sul! Pois é, vivendo e aprendendo... E olha que eu não estaria tão errado assim. Sim, os dois lugares ficam sim na América do Sul, mais precisamente, na pequena ilha chamada Geórgia do Sul. Uma ilha que pertence aos ingleses, mas que, na prática, foi colonizada por noruegueses! Bingo! Daí esses nomes nórdicos...
A antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
O Dave traz mais passageiros de volta ao Sea Spirit, depois de visita a Stromness, na Geórgia do Sul
Nas primeiras décadas do séc. XX, o governo inglês vendeu licenças a várias companhias norueguesas para se instalarem na ilha e praticarem a pesca e processamento de baleias e focas. Essa foi a primeira ocupação efetiva dessa pequena ilha quase perdida no Atlântico Sul e, desde então, nomes noruegueses são comuns por lá, mesmo depois que as estações baleeiras foram fechadas em meados do século. E hoje, após repetir parte do caminho por terra de Shackleton até Stromness, nós embarcamos no Sea Spirit rumo a Grytviken, a “capital” da Geórgia do Sul.
Guindaste do Sea Spirit recolhe um zodiac no deck, em Stromness, na Geórgia do Sul
A água gelada e azul da baía de Stromness, na Geórgia do Sul
O tempo havia estado fechado durante toda a manhã, enquanto fazíamos nossa caminhada. Mas na hora de embarcarmos no Sea Spirit, já em Stromness, o sol apareceu, assim como o céu azul. Quase sem vento, as águas da baía de Stromness estavam paradas, formando um grande espelho natural que só era desmanchado pelo vaivém dos zodiacs que transportavam os passageiros de terra firme para o navio.
O Bart limpa suas botas antes de entrar no Sea Spirit, em Stromness, na Geórgia do Sul
Limpando os pés antes de entrar no Sea Spirit, em Grytviken, na Geórgia do Sul
Ao chegar no Sea Spirit, a rotina de sempre. Enquanto limpávamos e desinfetávamos nossas botas para poder entrar no interior do Sea Spirit, os marinheiros já nossos amigos se ocupavam em “guardar” os zodiacs no deck do navio. Faça frio, faça vento, faça neve, lá estão eles fazendo seu trabalho, sempre com a ajuda do guindaste do barco.
Os marinheiros do Sea Spirit que sempre nos auxiliam a entrar e sair dos zodiacs, em Stromness, na Geórgia do Sul
Navegando por um estreito canal perto de Stromness, na Geórgia do Sul
O Sea Spirit começou sua curta viagem de hoje e o almoço já estava servido para os famintos passageiros. Aproveitando o dia lindo que agora fazia, aproveitamos para comer do lado de fora, lá no deck superior, com direito à linda paisagem da ilha à nossa frente. Com o tempo limpo, quem apareceu o longe foi o Mount Paget, montanha mais alta da Geórgia do Sul. Com 2.935 metros de altura, realmente é uma montanha imponente, considerando que nós estávamos ao nível do mar. É como se fossem quatro Corcovados, um em cima do outro. Foi escalado pela primeira vez em 1964, por uma equipe militar britânica. É uma escalada técnica, com muito gelo e neve no caminho.
As mais altas montanhas da Geórgia do Sul, como o Mount Paget, na região de Stromness
As mais altas montanhas da Geórgia do Sul, como o Mount Paget, na região de Stromness
Depois do almoço e do Mount Paget ficar para trás, chegamos a baía de Grytviken, um punhado de casas espremidas entre o mar e montanhas majestosas. Essa é a tal “capital” da ilha, onde vivem poucas dezenas de pessoas de forma permanente e muitos pesquisadores durante o verão e primavera. Um pouco mais ao fundo, na mesma baía, as ruínas da antiga estação baleeira. Foi para lá que seguimos.
Navegando ao lado das mais altas montanhas da Geórgia do Sul, entre Stromness e Grytviken
Aproveitando o sol para almoçar ao ar livre no deck do Sea Spirit, saindo de Stromness, na Geórgia do Sul
O primeiro programa foi visitarmos o cemitério para prestar nossas homenagens ao mais ilustre “hóspede” do local, Sir Ernest Shackleton. Vou falar disso no próximo post. Depois do cemitério, fomos caminhar pelas ruínas e alguns poucos prédios restaurados ou conservados.
Chegando a Grytviken, na Geórgia do Sul
Tarde de sol em Grytviken, na Geórgia do Sul
Entre eles, destaca-se a bela igreja que já é centenária. Carl Larsen, o fundador do posto baleeiro mandou fazê-la lá na Noruega e trazê-la para cá. Imaginou que um pouco de religiosidade serviria para aplacar os ânimos de tantos homens vivendo juntos por tanto tempo em espaço tão pequeno e longe de suas mulheres e famílias. Eram poucos os que tinham o privilégio de trazer suas esposas e filhos para cá. Então, trouxeram a igreja que é o principal cartão postal da cidade.
A bela igreja construída pelos noruegueses em Grytviken, na Geórgia do Sul (foto de Brian Myers)
Visitando a igreja norueguesa em Grytviken, na Geórgia do Sul
A bela igreja construída por baleeiros noruegueses em Grytviken, na Geórgia do Sul
Além da igreja, um pequeno museu e correio, que só abre quando chegam os navios com turistas. Receber uma correspondência da Geórgia do Sul não é para qualquer um! O museu conta a história e mostra artefatos da exploração baleeira da ilha e da breve ocupação argentina durante a Guerra das Malvinas. Mesmo para quem não admira a caça de baleias, é sempre interessante ver as fotos terríveis e ficar certo que aquilo realmente acontecia.
Interior da igreja norueguesa em Grytviken, na Geórgia do Sul
O museu e o correio de Grytviken, na Geórgia do Sul
Felizmente, não acontece mais e hoje a paz reinava nesse lado esquecido do mundo. Elefantes-marinho dormiam na praia, pinguins passeavam ao lado de um antigo barco baleeiro encalhado, turistas caminhavam entre ruínas de uma antiga fábrica e a tarde se punha sobre um oceano de águas azuis. Era a hora de voltarmos a bordo porque o dia de amanhã também será longo, com direito a mais desembarques, caiaque, pinguins e elefantes. Sem contar o jantar com um prato especial: rena assada. Isso mesmo... renas, daquelas que puxam o carro do Papai Noel. Assunto para os próximos post, depois de falar da epopeia de Shackleton.
O sol de fim de tarde esquenta o Sea Spirit ao lado de Grytviken, na Geórgia do Sul
AS Baianas, em festa de rua em Cachoeira, no Recôncavo Baiano - BA
Para alegria nossa e dela própria, o dia começou bem cedo com um super banho da Fiona. Ele estava precisando, depois de tanta terra, areia e principalmente maresia. Banho por dentro e por fora, com direito à vaselina por baixo do carro, para proteger um pouco as borrachas e metais do mar e ar inclementes.
Merecido banho completo da Fiona em Salvador - BA
Duas horas e meia de banho mais tarde, voltei para casa para encontrar a Ana, a Livia e o Wilson para juntos seguirmos ao Recôncavo, para as cidades vizinhas de Cachoera e São Félix e, no caminho, ainda passar em Santo Amaro, terra de Dona Canô e seus dois filhos famosos.
Com a Livia e o Wilson na Igreja Matriz em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano - BA
Recôncavo é o nome que se dá à toda área ao redor da Baía de Todos os Santos. Essa foi a primeira fronteira agrícola do Brasil, ocupada há mais de 450 anos. Cresceu para abastecer a então capital do Brasil colônia, Salvador e de lá, exportar seu excelente tabaco e também o açúcar para todo o mundo. A mais conhecida cidade da região é a pequena Cachoeira, que ainda preserva dezenas de prédios históricos com 200, 300 e até 400 anos de história. A cidade foi fundada pelos filhos do lendário Caramuru, o Robison Crusoé português que foi salvo pelos índios e acabou se casando com a filha do chefe, a bela Paraguaçu. Pois é, como forma de "agradecer" os índios, os filhos do casal praticamente extinguiram a população indígena, criaram as primeiras plantações de cana-de-açúcar e fundaram Cachoeira.
Prédio histórico em Cachoeira, no Recôncavo Baiano - BA
A cidade me lembrou bastante as cidades históricas mineiras. Com a diferença que, enquanto as mineiras estavam apenas começando, Cachoeira já tinha quase 200 anos de história e tradição. As ruas são de paralelepípedo, as casas são coloridas e prédios históricos como igrejas e a antiga cadeia pública se destacam. Entre eles, há um antigo convento do séc XVIII, agora transformado em pousada e restaurante mas que mantém todo o charme de outrora. Ali comemos o mais famoso prato típico da região, a manissoba. É uma espécie de feijoada sem feijão, que é substituído pelas folhas do pé de mandioca. É preciso saber fazer e cozinhar porque essas folhas, em seu estado natural, são venenosas. Achamos todos uma delícia!
Almoçando no antigo Convento, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano - BA
A cidade fica na beira do rio Paraguaçu, já quase na baía de Todos os Santos. Do outro lado do rio, a vzinha São Félix, também cheia de construções históricas. Para chegar lá, uma enorme ponte de ferro, atração turística por si só, construída pelos ingleses há mais de 130 anos! De lá se tem a mais bela vista de Cachoeira e também se pode visitar a charutaria, cuja matéria-prima é o melhor tabaco do Brasil, ali do Recôncavo mesmo.
A famosa charutaria de São Félix, no Recôncavo Baiano - BA
Infelizmente para nós, estava fechada hoje, por causa do feriado. Em compensação, tivemos a sorte de presenciar uma festa de rua na cidade de Cachoeira, a festa de Nossa senhora da Ajuda, primeiro nome da cidade. A festa segue pelas ruas até a igreja do mesmo nome, a mais antiga da cidade, de 1595. É o que eles chamam por aqui de "Lavagem". Foi jóia ver as baianas em seus trajes típicos andando e dançando, acompanhadas de uma multidão bem eclética e animada. Não poderíamos ter deixado a Bahia sem ter visto uma festa assim!
Vestidos em movimento, durante festa de rua em Cachoeira, no Recôncavo Baiano - BA
Só faltou falar que na ida demos uma parada em Santo Amaro, maior e mais movimentada que Cachoeira. Logo na entrada, uma enome foto da centenária, lúcida e lulista Dona Canô. Difícil imaginar uma imagem mais digna.
Com o Wilson, em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano BA
Foi ótimo ter tido a companhia da Livia e do Wilson, dois soteropolitanos de carterinha. Foram horas e horas de conversa agradável, entre outras coisas sobre a Bahia e sua cultura, do futebol ao candomblé. Duas almas muito parecidas com as nossas, como outras que temos tido a sorte de encontrar nesse nosso continente tão diverso mas, ao mesmo tempo, com tantos pontos em comum.
Fotografando em São Félix, no Recôncavo Baiano - BA
Na orla do rio Paraguaçu, em São Félix, no Recôncavo Baiano - BA
Lago da Mina da Passagem em Mariana - MG
Em Janeiro deste ano, como parte da nossa preparação para a viagem, eu e a Ana fizemos a parte prática do nosso curso de mergulho em cavernas aqui em Mariana, na Mina da Passagem. Embora o Brasil seja um dos países mais agraciados do mundo em quantidade e qualidade de cavernas "molhadas", próprias para o mergulho, ainda é quase impossível mergulhar em cavernas de verdade por aqui. O IBAMA, "dono" das cavernas, exige plano de manejo para que se possa mergulhar nas cavernas. Os proprietários não tem dinheiro para fazer o plano, e muito menos para desenvolver a infraestrutura para essa atividade. A consequência é que temos cavernas lindíssimas, com água transparente, mas que não podem ser exploradas, a não ser em casos de pesquisa, em projetos previamente aprovados pelo IBAMA. Com pouquíssimas exceções em Bonito-MS, resta aos mergulhadores praticar essa atividade aqui em Mariana, onde há uma mina alagada, que não é caverna e onde o IBAMA não mete o bedelho.
Acesso para a Mina da Passagem em Mariana - MG
Novamente instalados na agradável e simpática Pousada da Serrinha, a meio caminho entre Ouro Preto e Mariana e ao lado da mina, partimos cedo para nossa segunda sessão de mergulhos em "cavernas". E o primeiro com nosso próprio equipamento. Já tínhamos usado ele em mergulhos no mar, lá no Caribe, mas seria a primeira vez que estaríamos usando na configuração de tanque duplo e usando a poderosa lanterna de canister, tão potente como um farol de carro.
Preparando-se para mergulhar na Mina da Passagem em Mariana - MG
Pronto para mergulhar na Mina da Passagem em Mariana - MG
O primeiro mergulho foi junto com o Dib, que é o responsável pela atividade de mergulho na mina. Foi ótimo mergulhar com ele, afinal não tínhamos mais praticado esse tipo de mergulho desde Janeiro. E mergulhar em cavernas é o tipo de atividade que exige estarmos totalmente seguros. Foi um mergulho tranquilo, entrando pelso túneis da mina, descendo e subindo andares, sempre atrás do cabo guia que nos mostra, de dez em dez metros, a distância e a direção para a saída.
Rodrigo mergulhando na Mina da Passagem, em Mariana - MG
O segundo mergulho foi só nós dois. Pela primeira vez nos aventuramos numa "caverna" sozinhos. Foi muito legal! Quando a Ana ía na frente, e normalmente ela ía, já que é mais prática do que eu com a carretilha, a visão dela nadando por entre os túneis e salas da mina era incrível. A força da lanterna e a água transparente possibilitavam visões lindas, meio fantasmagóricas meio mágicas da Ana flutuando, quase voando naquele ambiente extraterreste, saído de algum filme. Quando eu ía na frente, tinha sempre em vista o salvador cabo guia, que é nosso elo de ligação com o mundo e com a vida.
Ana colocando a carretilha em mergulho na Mina da Passagem, em Mariana - MG
Já que falei em "carretilha", deixa eu explicar: quando mergulhamos em cavernas, amarramos uma carretilha desde a entrada da caverna até a sua parte já escura, onde começa o cabo guia. O cabo guia não começa na entrada da caverna, onde ainda há luz, para não estimular manés e pessoas que não são treinadas a entrar caverna à dentro. No caso da mina, em Mariana, ainda há outro "filtro". Logo no início da parte escura, há um enorme cartaz com uma caveira desenhada "aconselhando" as pessoas não treinadas a não seguirem adiante.
Placa meio "borrada", subaquática, advertindo mrgulhadores da Mina da Passagem, em Mariana - MG
Não é o nosso caso. Já somos treinados e devidamente certificados. E fizemos um mergulho jóia. Agora, mais do que nunca, estamos ansiosos para chegar numa caverna de verdade, feita pelas mãos da natureza e não pelas mãos do homem, onde se possa mergulhar. O que falta treinar agora, e talvez de um equipamento um pouco mais profissa, são as fotos. Com o tempo e treino, vamos melhorar...
Autofoto durante mergulho na Mina da Passagem, em Mariana - MG
Escada que dá acesso aos mergulhadores para o lago na Mina da Passagem em Mariana - MG
As casas coloridas da cidade de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Para nós que somos tão acostumados com a geografia paranaense, o reflexo e a tentação de dizer “Paranaguá” era grande, mas era mesmo para “Paraguaná” que estávamos indo, uma pequena península com forma de cabeça humana que fica no extremo norte da Venezuela. Há poucas dezenas de milhares de anos, era mais uma das ilhas que pontuam a costa nesse ponto, como Aruba ou Curaçao, mas a combinação de correntes marítimas e ventos tratou de construir, ao longo do tempo, uma estreita ponte que a liga ao continente. A ilha virou península!
Península de Paranaguá, extremidade norte da Venezuela, quase encostando em Aruba! Nós passamos pelas cidades históricas no centro da península, pelo balneário de Adicora e nas lagoas coloridas do norte
Falando em Aruba, do alto da maior montanha de Paraguaná, em dias de céu limpo, se pode ver muito bem a ilha holandesa. Até parece que foi ontem que estivemos por lá, e não há 17 meses. A tentação de revê-la, mesmo que de longe, foi grande, mas o dia não estava tão claro assim e a caminhada até o alto da bela montanha iria requerer umas cinco horas, tempo que não tínhamos, infelizmente. Sem essa alternativa, poderíamos nos concentrar nas outras tantas atrações que Paraguaná oferece, como as vilas históricas, as lagoas coloridas repletas de pássaros avermelhados e o litoral dos sonhos para quem gosta de kite e wind surf.
O Cerro de Santa Ana, maior montanha da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela. Lá do alto, pode-se ver Aruba!
Foi a proximidade com as Antilhas Holandesas que marcou a história de Paraguaná. Por aqui passava o comércio, legal e ilegal, entre as ilhas e a Venezuela, desde os tempos de colônia até os de república. Ricas comunidades de comerciantes se estabeleceram e ainda hoje se pode admirar as pequenas vilas onde eles moravam. Esse foi o caminho que decidimos seguir, dando a volta pelo interior da península, passando ao lado do morro Santa Ana, o mais alto de Paraguaná e, finalmente, seguindo para o litoral e as lagoas coloridas.
Observando a igreja de Santa Ana, cidade histórica na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
A igreja de Moruy, pequena cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Cada uma das vilas tinha sua pracinha central e a charmosa igreja, entre elas algumas das mais antigas ainda de pé no país. Nós fomos fazendo nosso tour, tirando nossas fotos e fazendo as contas para controlar o combustível do carro. Principalmente agora que tínhamos decidido pelo caminho mais longo, para poder passar nas pequenas vilas. Estávamos bem no limite para podermos voltar até Coro quando descobrimos um pequeno posto ali mesmo. Melhor... com diesel! Finalmente, poderíamos abastecer pela primeira vez no país e ver com os próprios olhos como é encher o tanque gastando apenas 15 centavos de dólar. Atenção! Não estou falando do preço de um litro, mas de todos os litros necessários para encher o tanque da nossa Fiona.
Enchendo o tanque com 2,80 bolívares, ou 12 centavos de dólar, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Praça central da pequena Santa Ana, cidade histórica na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
O preço do combustível é uma das facetas do chavismo, bolivarianismo ou socialismo do século XXI, alguns dos termos usados para descrever o sistema político e econômico implantado no país por Hugo Rafael Chávez, o carismático e polêmico líder que governou a Venezuela por quase quinze anos, desde 1998 até sucumbir frente ao câncer no final do ano passado.
A igreja de Buena Vista, cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Após uma pujante década de 70, alavancada pelos altos preços do petróleo, a Venezuela enfrentava uma grave crise econômica na década de 80, depois da derrocada dos preços do barril de óleo enquanto os gastos internos continuavam os mesmos. A Venezuela se endividou e não tinha como pagar seus débitos. Na campanha presidencial do final da década, o tradicional político Carlos Andrés Perez prometeu repelir políticas neoliberais de corte de gastos, mas assim que venceu e assumiu o governo, parece ter mudado de ideia e recorreu ao FMI. O trágico resultado foi um aumento da pobreza e descontentamento social que culminou com manifestações em Caracas, reprimidas com violência e que resultaram em mais de cem mortos.
Propaganda nos muros de Moruy, pequena cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Foi nesse clima cada vez mais tenso que um até então desconhecido militar, o Coronel Chávez, tentou um golpe militar no início de 1992. Várias instalações militares foram tomadas no interior do país, mas o objetivo de capturar o presidente Andres Peres e tomar as principais bases da capital falharam. Chávez acabou desistindo do golpe, ordenando a rendição dos revoltosos e evitando um banho de sangue. Mas negociou em troca um pronunciamento na TV quando, enfim, tornou-se conhecido na nação e conseguindo a simpatia de amplos setores da sociedade, decepcionados com os níveis de corrupção e ineficiência então vigentes no governo.
Flamingos e culhereiros na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Culhereiros na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Mesmo preso, Chávez ajudou na organização de uma nova tentativa de golpe, no final daquele ano. Dessa vez, os revoltosos foram mais aguerridos e o número de mortes aumentou bastante. O governo conseguiu controlar a situação, mas o desgaste político era cada vez maior. Com forte pressão da sociedade, Carlos Andres Perez sofreu um processo de impeachment dois anos mais tarde.
Um culhereiro na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Nas eleições seguintes, foi eleito outro político tradicional, Rafael Caldeira. Entre as promessas de campanha, uma ampla anistia aos revoltosos de 1992. Promessa cumprida, Chávez e outros líderes foram postos em liberdade, mas impedidos de voltar ao exército. O governo de Caldeira também fracassou em melhorar a situação econômico-social da Venezuela e, nas próximas eleições, o agora político Chávez foi o grande vencedor. Agora de forma legal, chegava ao poder, com amplo apoio das classes menos abastadas, inclusive da classe média.
Culhereiro sobrevoa a Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Chávez não perdeu tempo. Convocou eleições para uma assembleia constituinte e obteve uma grande vitória eleitoral para composição dessa assembleia. Em pouco tempo, o país tinha uma nova constituição, o primeiro passo rumo ao “bolivarianismo”. Ao mesmo tempo, preços internacionais favoráveis para o petróleo possibilitaram ao governo multiplicar os gastos sociais, melhorando a vida das camadas mais pobres e, ao mesmo tempo, consolidando seu apoio. Ao mesmo tempo, as enormes receitas de exportação de petróleo lhe permitiram praticamente zerar o preço do combustível no mercado interno, aumentando ainda mais sua popularidade. O chavismo que se iniciava agradava a muita gente. Mas também incomodava, produção de alimentos em plena derrocada...
A colorida Laguna Cumaraguas, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Enfim, assunto para um próximo post. O fato é que, apesar dos inúmeros problemas derivados do tal socialismo do século XXI, encher o tanque com apenas 15 centavos nos faz bem felizes. E foi com o tanque cheio que seguimos para o litoral, para a cidade de Adicora. Antes de descermos por lá, seguimos mais ao norte, para lagoas famosas por suas cores e pelas cores dos pássaros que neles vivem. A alimentação rica em camarões pinta as penas dos flamingos e colhereiros de vermelho. É nessa hora que sentimos mais falta de um bom zoom na nossa máquina fotográfica, mas, enfim, “fazemos o que podemos”!
A colorida Laguna Cumaraguas, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Além dos pássaros, também a água ganha cores, dependendo do ângulo de incidência da luz do sol. Um espetáculo, quase um arco-íris avermelhado nas águas salgadas da lagoa que também é uma salina.
Chegando à Adícora, cidade no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Agora sim, de volta à Adicora, a praia onde o vento nunca para. Para aqueles que sabem ler o vento, difícil imaginar lugar melhor. A cidade está em uma pequena península e, embora o vento esteja dos dois lados, as ondas ficam apenas do lado sul. Nesse lado ficam os praticantes de kite surf, enquanto os amantes do Wind surf preferem as águas mais calmas da parte norte.
O farol de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Depois de passearmos um pouco pelas areias e admirar os esportes náuticos e a arquitetura da pequena vila, acabamos tomando a decisão de continuar a viagem. A ideia original era dormir por ali mesmo, mas resolvemos voltar para Coro e seguir para o sul, para a Serra de San Luis, região que exploraremos amanhã. Do mar para a montanha, do calor para o frescor, ainda conseguimos chegar a tempo de observar o pôr-do-sol lá de cima, numa paisagem e ambiente completamente diversos daqueles onde tínhamos passado todo o dia de hoje. E olha que são apenas 100 quilômetros entre um lugar e outro, dois mundos completamente diferentes.
As casas coloridas da cidade de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Há apenas três dias no país e já andamos por metrópoles e cidades históricas, o maior lago do continente e um autêntico deserto, uma praia onde o vento nunca para e montanhas úmidas onde cresce vegetação tropical e precisamos de casacos. A viagem na Venezuela, onde encher o tanque do carro não custa nada, está mais intensa do que nunca!
O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela
Capivaras vivem às milhares no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Os “llanos” são uma grande planície no sudoeste da Venezuela que é alagada sazonalmente durante as cheias do rio Orinoco e de seus principais afluentes. É uma área de fauna abundante, com centenas de espécies de pássaros, répteis e mamíferos que se aproveitam da rica vegetação que se renova a cada ano. Qualquer semelhança com o nosso Pantanal não é mera coincidência, já que os ecossistemas são extremamente parecidos.
Chegando às planícies alagadas da região dos llanos, na Venezuela
A criação de gado é muito comum na região dos llanos, na Venezuela
Aliás, exatamente como o nosso Pantanal, a região se especializou na criação de gado, que também se adapta bem a esse tipo de terreno. Mas o potencial dessa incrível beleza da paisagem e, principalmente da fauna, não passaram desapercebidas dos fazendeiros locais e, na década de 90, popularizou-se o turismo em fazendas para se vivenciar um pouco dessa natureza exuberante.
Época de florada na região dos llanos, na Venezuela
Uma infinidade de espécies de aves vive na região dos llanos, na Venezuela
As grandes fazendas na região são conhecidas por “Hatos” e vários desses hatos se transformaram em destinos turísticos procurados por viajantes de todo o mundo que vinham para cá para passar vários dias. Pagavam em dólares por pacotes completos que incluíam todas as refeições, a estadia e os passeios em jipes e barcos. A mais famosa e tradicional dessas fazendas era o Hato Piñero e nós, viajando ainda com o livro-guia que tínhamos comprado para nossa viagem de 2007, tínhamos escolhido ela para conhecer os llanos. Mas o livro estava desatualizado...
Época de florada na região dos llanos, na Venezuela
Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Além de empreendimentos turísticos, esses hatos também eram grandes fazendas produtoras. Todo o setor passou por uma profunda crise nesses últimos cinco anos de regime chavista. Seja por oposição ao governo, seja pela dificuldade em produzir em um país com regras, preços e câmbio instáveis e desfavoráveis, principalmente porque todos os insumos são importados, a produção de alimentos declinou bastante. O setor passou a ser o novo alvo do presidente, que ameaçou com a nacionalização das terras, promessa que realmente cumpriu. Uma a um, todos os hatos foram expropriados. A consequência: fim da atividade turística e um declínio ainda maior da produção de alimentos.
Um vistoso lagarto logo na entrada do Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Um enorme jacaré no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Foi dessa situação que começamos a nos inteirar, ainda em Mérida. Felizmente, não chegamos a viajar as centenas de quilômetros até o Hato Piñero para dar de cara com uma porta fechada. O estranho é que seu site de internet continua a funcionar, com seus preços em dólares e tudo. Mas, como a própria fazenda, aparentemente está inativo já há alguns anos.
O google não sabe traçar a rota, mas na foto por satélite, podemos observar o Hato El Cedral (C). Saímos de Barinas (A) e depois seguiremos por San Fernado de Apure (D), a capital dos llanos
O que descobrimos também foi que um último Hato ainda estava funcionando, o El Cedral, o que acabou por definir nosso caminho para cruzar o país pela rota sul, onde está a fazenda. Normalmente, esses hatos requerem reserva antecipada, feita e paga em Caracas, mas como estamos em um período de vacas magras para o turismo em geral no país, fomos aconselhados a seguir diretamente para lá.
Um jacaré muito bem alimentado no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Cegonha no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Assim fizemos. Dormimos ontem em Barinas, já na metade do caminho, e hoje seguimos diretamente para a fazenda, onde chegamos no meio da tarde. Na entrada, demos de cara com soldados da Guarda Nacional, a mesma situação de todos os outros hatos “nacionalizados”. Mas esse aqui, como haviam nos dito, está mesmo funcionando. Porém, rnão estão mesmo acostumados com turistas chegando sem avisar. Telefona daqui, telefona dali e fomos autorizados a entrar. Viva, teríamos nossa chance de conhecer os llanos!
Criação de jacarés no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Criação de jacarés no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Os poucos quilômetros de estrada de terra que levam do portão da fazenda até a sede do Hato já foram uma bela amostra do que iríamos encontrar por ali, em termos de paisagem e vida animal. Capivaras, jacarés, iguanas, tartarugas e várias espécies de pássaros. Um verdadeiro show de natureza!
Uma pequena tartaruga no criadouro do Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Uma serpente no criadouro do Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Chegando à sede, fomos acomodados e nos explicaram como funciona o turismo por ali. Toda manhã e toda a tarde um caminhão sai com os turistas presentes para poder ver os animais. Um guia acompanha e vai explicando tudo. Como nós chegamos no final da tarde, teríamos de esperar até o passeio de amanhã de manhã. A vantagem é que, para o passeio de amanhã, só estamos nós dois, enquanto que no passeio de hoje havia um grupo de venezuelanos.
Uma enorme sucuri no serpentário do Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
A Ana tenta socializar com uma sucuri no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Já que não podíamos mais fazer um passeio hoje, o gerente do hato nos levou até o criadouro de animais, logo atrás da sede da fazenda. Lá, encontramos filhotes de tartarugas e jacarés que, quando mais velhos, serão soltos nos rios e lagos do hato El Cedral. Mas o que mais nos chamou a atenção, sem dúvida, foram as sucuris do serpentário. Uma delas, com mais de cinco metros, repousava tranquilamente perto da grade, permitindo até mesmo que a tocássemos, ela dentro e nós do lado de fora, claro! Deu até um arrepio de pensar em encontrar um animal desses, solto, nos terrenos alagadiços dos llanos.
O nosso jantar na primeira noite no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Preparando nosso jantar no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Depois da visita, fomos descansar na piscina da sede enquanto que, ali do lado, preparavam um churrasco que seria o nosso jantar de hoje. Foi quando aconteceu a coisa mais incrível do dia. Uma grande tempestade se aproximava, pintando o céu com um lindo tom de cinza. Antes da chuva, chegou uma forte ventania. Foi quando centenas de pássaros, grandes e pequenos, brancos e negros, das mais variadas espécies, aproveitaram para fazer suas revoadas e “brincar” com vento.
Uma tempestade se aproxima do Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Centenas de pássaros de variadas espécies aproveitam a ventania trazida por uma tempestade para fazer suas revoadas, no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Que coisa mais incrível! Jamais nos esqueceremos dessa cena. Ficamos ali, dentro da piscina, maravilhados com o show que acontecia sobre nossas cabeças. Aquela mescla de cores e sons em meio às acrobacias aéreas. As árvores ao redor da piscina também se encheram de aves que se empoleiravam para passar a noite, muitas vezes várias espécies em uma mesma árvore e até, em um mesmo galho. Que abundância de vida e de energia!
Da piscina, maravilhada, a Ana acompanha as revoadas de pássaros sobre nossas cabeças, no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Centenas de pássaros de variadas espécies aproveitam a ventania trazida por uma tempestade para fazer suas revoadas, no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Amanhã, então, já temos compromisso: bem cedinho, sol raiando, um passeio particular de caminhão pelas maravilhas do Hato El Cedral
Centenas de pássaros de variadas espécies aproveitam a ventania trazida por uma tempestade para fazer suas revoadas, no Hato El Cedral, na região dos llanos, na Venezuela
Aproveitando a beleza do mar em Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
As primeiras grandes potências coloniais do mundo moderno foram Portugal e Espanha, que dominaram os mares durante boa parte dos séculos XV e XVI. Aproveitando-se de sua supremacia marítima, ocuparam boa parte das Américas, além de entrepostos comerciais na costa africana e no sul da Ásia. Mas as nações ibéricas não souberam aproveitar as riquezas adquiridas em suas novas colônias para manter seu domínio, e já no final do séc XVI perderam a supremacia marítima para as potências emergentes, Holanda, França e Inglaterra.
A bela orla de Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
Aproveitando o sol em praia de Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
A Holanda se manteve como potência por poucas gerações e vem desse período suas colônias em terras americanas, como o atual Suriname e as Antilhas Holandesas. Já França e Inglaterra, essas disputaram pelos próximos dois séculos aquelas terras que não haviam sido ocupadas de maneira decisiva por Portugal e Espanha. O campo de batalha entre as duas nações ia da América do Norte à Índia, passando pelo Caribe. A África, nessa época, ainda escapava da corrida colonialista, aparentemente pela maior força das doenças africanas nos europeus do que vice-versa. Foi preciso a invenção da penicilina para que a África fosse colonizada, já no séc XIX.
Aproveitando o sol em praia de Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
Areia branca, coqueiros e mar azul: estamos perto do paraíso em Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
No Caribe, os espanhóis já haviam ocupado as quatro grandes ilhas, restando as menores para serem divididas entre as novas potências coloniais (se bem que os ingleses acabaram tomando a Jamaica enquanto os franceses tomaram metade de Hispaniola, o Haiti, dos espanhóis). Quanto às pequenas ilhas, essas que estamos viajando agora, viviam trocando de mão entre franceses e ingleses. Guadalupe, por exemplo, foi colonizada por franceses, mas por diversos períodos, esteve na mão dos ingleses.
Crianças se divertem no mar de Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
Como na grande maioria das ilhas caribenhas, foi a cultura da cana-de-açúcar que prosperou por aqui, sempre baseada no regime de plantations (grande propriedades) com muita mão-de-obra escrava, basicamente negros trazidos da África. Em Guadalupe, esses grandes senhores de terra eram colonizadores franceses e seus descendentes. Mas foi exatamente durante os períodos de dominação inglesa que a economia da ilha mais prosperava, já que passava a ter acesso aos ricos mercados da Inglaterra e de sua colônia (ou ex-colônia, dependendo da época), os Estados Unidos.
Visual caribenho em Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
Um desses períodos ocorreu durante a Revolução Francesa. Os senhores de terra em Guadalupe eram monarquistas, inimigos da República. Preferiram se unir aos eternos rivais ingleses que obedecer ao Governo Revolucionário em Paris. Pois Robespierre e companhia enviaram para cá um general que tratou de abolir a escravidão e formar um exército de negros. Expulsou os ingleses e guilhotinou boa parte da antiga aristocracia local. Victor Hugues, seu nome, também incentivava a pirataria, inclusive contra os barcos da mais nova nação e potência emergente, os Estados Unidos. Com isso, trouxe muita riqueza para Guadalupe, mas quase causou uma guerra entre França e Estados Unidos. Foi preciso que Napoleão chegasse ao poder para botar “ordem na casa”, inclusive reinstituindo a escravidão em Guadalupe e mandando Hugues de volta para casa.
A movimentada e charmosa marina de Sainte-François, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
A Inglaterra voltou a ocupar a ilha, que só passou a ser definitivamente francesa com os tratados assinados com o fim das guerras napoleônicas. Desde então, Guadalupe, mais francesa do que nunca, foi mudando de status, de colônia para província para departamento ultramarino, hoje com os mesmo direitos de qualquer departamento francês.
Maluco-beleza nos dá as boas-vindas em francês em praia de Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
E hoje fomos conhecer a parte mais francesa desse departamento, o litoral onde milhares de franceses da Europa vem passar suas férias anualmente. Souberam escolher bem! Praias de areias brancas, águas azul-esverdeadas numa confusão maravilhosa de tons, restaurantes com bons queijos e vinhos.
Começamos caminhando pelas praias de Sainte-Anne mesmo, aquele visual tipicamente caribenho, exatamente como manda o clichê. Foi só mesmo a fome para nos tirar da praia e nos colocar no carro rumo à vizinha Sainte-François, com mais opções de restaurantes construídos ao redor de uma marina repleta de barcos.
Criança se diverte no fim de tarde em Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
No fim de tarde, voltamos para Sainte-Anne, onde fomos recebidos na praia por um maluco-beleza que dedicou uma bela música para a Ana. A gente não entendia o que ele dizia, mas a boa intenção era clara! Até gravamos esse momento inesquecível, reage franco-caribenho da melhor qualidade!
Experimentando o Ti-punch em Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
Foi uma excelente despedida da querida Guadalupe. Amanhã viajamos para Dominica, logo cedo. Deixamos a Europa de volta à América. Mas não por muito tempo: em seguida iremos para Martinica, outro departamento francês que disputa com Guadalupe o título de destino caribenho mais querido dos parisienses.
Banho noturno de piscina em nosso hotel em Sainte-Anne, no litoral sul de Grande Terre, em Guadalupe
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