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Joannie J (28/06)
Eu sou ciumento. Eu não consigo ir nas minhas férias por cinco semanas....
Paulo Pereira (27/06)
Juliana (24/06)
Kadu (23/06)
Caro, boa noite. Gostei muito de seu blog, sou professor de geografia, so...
jacqueline linhares (22/06)
em que periodo do ano Quixada está em chuva? Não conheço o local, mas ...
Degustação de vinhos na vinícola Don Laurindo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
A primeira tarefa hoje foi cuidar da Fiona. Logo cedo, atravessei a cidade do Íbis até a concessionária Toyota de Caxias para resolver o problema da luz do painel. A solução foi a troca do filtro de combustível e mais uns testes eletrônicos para deixar ela em ordem. Fiquei sabendo que esse é um problema recorrente nos carros de algumas linhas da Toyota nessa época de frio. Somente nos últimos dias, tiveram de "atender" mais de vinte camionetes. Aproveitei para perguntar sobre o uso do querosene e me disseram que não há problema, aliás, muito pelo contrário, ajuda muito no frio, não só como anticongelante, mas também para manter todo o sistema mais limpo, inclusive o próprio filtro. Tenho a impressão que vou ter de usar muito neste próximo mês...
Almoçando galeto no famoso Di Paolo, em Bento Gonçalves - RS
Com a Fiona novinha em folha partimos para Bento Gonçalves, vizinha de Caxias. Ali fica o Vale dos Vinhedos, região que concentra as melhores vinícolas do Brasil. É um saboroso programa turístico passear pela região, visitando as vinícolas e degustando seus vinhos. Além disso, a paisagem do vale é muito bonita e bucólica. Até parece que estamos na Itália. Aliás, a região é de colonização italiana e foram eles que trouxeram as técnicas e o gosto pelo plantio de uvas e produção de vinho.
Barris de carvalho da vinícola Don Laurindo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
Cavas da Casa Valduga, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
Colonização italiana, não poderia faltar a boa comida também. Nós chegamos lá bem na hora do almoço e para quem não tinha tomado café da manhã, a fome era grande. Além disso, é recomendado que se faça o passeio pelas vinícolas (e degustação de vinhos!) depois de uma boa refeição. Unindo o útil ao agradável à fome, fomos diretamente para o famoso restaurante Di Paolo, reconhecido como o melhor galeto da região. O que não é pouco, para uma região que é considerada a "pátria" do galeto no Brasil. Enfim, nos empanturramos de frango na brasa e de muito suco de uva. Uma delícia!
De touca, durante tour pelas cavas da Casa Valduga, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
De touca, durante tour pelas cavas da Casa Valduga, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
De lá, estômago bem forrado, seguimos para as vinículas. Nossa idéia foi a de visitar, dentre tantas e tantas vinícolas, uma das pequenas e uma das grandes, para poder variar. Nas visitas, temos a chance de aprender sobre o processo de produção, tipos de uva, o que as distingue e, principalmente, sobre os sabores contidos em uma taça de vinho. Ao final, seção de degustação de vinhos variados, sempe começando pelos mais suaves e terminando nos mais encorpados.
Degustação de vinhos na Casa Valduga, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
Dentre as pequenas, escolhemos visitar a Don Laurindo e, entre as grandes, a Casa Valduga. São duas vinículas cujos vinhos já conhecíamos e estávamos curiosos para vê-los mais de perto. Foram ótimas escolhas e não resistimos, nas duas vinículas, a fazer algumas compras ao final da degustação. Na Don Laurindo, tivemos uma visita "diretoria", já que éramos os únicos naquele momento. Aprendemos desde técnicas de plantio das parreiras (na horizontal e na vertical) até as benéficas propriedades do barril de carvalho e da rolha de cortiça. Na casa Valduga, agora num grupo de oito pessoas, já nos sentíamos "conhecedores" quando os mesmos assuntos eram tratados. Vimos a linha de produção e as grandes e charmosas cavas da vinícola. Foi jóia, um passeio e tanto!
Degustação de vinhos na Casa Valduga, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
Como bônus, passeamos pelas pequenas estradas do vale, cruzando e fotografando suas partes mais bucólicas. Na época da produção das parreiras, de janeiro à março, deve ficar ainda mais bonito!
A paisagem bucólica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
Já no escuro, viemos para Nova Petrópolis. Resolvemos usar essa cidade para explorar a região, incluindo Gramado e Canela. Nessa época de frio, muito concorrida por aqui, tudo fica mais caro e a simpática Nova petrópolis é uma ótima opção para quem deseja um pouco mais de calma na mesma região. O hotel que escolhemos foi uma ótima dica do Felipe, amigo da família lá de Caxias, dona do restaurante Gran Piacere. O nome é Pousada da Neve. Já que não tivemos a sorte de ver a neve aqui no sul, pelo menos no nome do hotel a encontramos, hehehe!
Degustação de vinhos na vinícola Don Laurindo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves - RS
Chegando a bela região de Bariloche, nos Andes argentinos
Ontem de tarde, depois do nosso chá galês em Gaiman (ver último post), estava na hora de pegar estrada novamente. Tínhamos um longo caminho até Bariloche, 850 km cruzando a Patagônia, primeiro de leste a oeste e depois de sul a norte, já pertinho dos Andes. Para quem conhece a Patagônia, sabe que essa é uma das regiões mais desabitadas do continente. Mas, mesmo aqui, há lugares mais e menos populados. A costa do Atlântico e a região andina têm sim suas cidades importantes. Já o interior, justamente a região que precisávamos cruzar, aí não vive quase ninguém. É uma região de estâncias, algum tipo de gado e muito, mas muito pouca gente mesmo.
Cenário da estrada cortando as longas extensões patagônicas, do interior rumo aos Andes, na Argentina
Como já disse em outros posts, nessa época o dia vai longe por aqui, perto das 10 da noite (ou no caso, da tarde). Então, mesmo já sendo depois das 5 da tarde quando saímos de Gaiman, ainda tínhamos muitas horas para dirigir com a ajuda da luz do dia. De nada adianta cruzar uma região linda e grandiosa como a Patagônia se o fazemos de noite! Embora o Googlemaps mostre diversas estradas cruzando a Patagônia de leste a oeste, na verdade poucas delas são asfaltadas. Um bom mapa de papel ajuda bastante nessa hora e nos dá uma visão muito melhor do todo. Ali onde estávamos, nossa única opção era fazer a travessia patagônica pela rodovia 25, pelo menos até onde vai o asfalto. Aí, onde começa a terra, mudamos para a 62, também asfaltada, que nos leva até a rodovia 40, a mais famosa e emblemática da Patagônia. Por ela seguimos até Bariloche, sempre no asfalto. A rodovia 40, ou ruta 40, é a estrada que liga a Argentina de norte a sul, sempre ao lado dos Andes. Já percorremos vários trechos dela na região de Salta e Mendoza. Mais tarde, quando voltarmos do casamento na Ilha do Mel, vamos percorrê-la até o sul do país. Aí sim virão os trechos de terra, pois ela ainda não foi asfaltada na sua totalidade.
Mas, voltando à nossa travessia patagônica de agora, há vários outros caminhos na região, inclusive algumas rotas mais curtas, mas todos de terra. Mal consigo imaginar as belezas de cada uma dessas estradas, mas o fato é que agora estamos com tempo contado e o asfalto é nossa melhor e mais rápida opção. Uma rápida pesquisa nos fez achar o único lugar para dormirmos no caminho, bem no meio do país: Los Altares. Uma vilazinha que mal se percebe da estrada e onde há um posto afiliado à ACA, o Automovel Clube Argentino. Ali há um camping e uma pequena pousada. Passou a ser nosso objetivo do dia.
Cenário da estrada cortando as longas extensões patagônicas, do interior rumo aos Andes, na Argentina
Logo que deixamos Gaiman a estrada já ficou deserta. Uma hora dirigindo e dá para contar nos dedos o número de carros que cruzamos. Típico das estradas patagônicas. Outra coisa bem típica, e isso em todas as estradas do país, são altares ao Gauchito Gil, o santo gaúcho mais popular na Argentina. A gente já percebe de longe, aquele monte de pequenas bandeiras vermelhas ao lado da estrada. E não tem nada a ver com o MST ou com o PT. É apenas mais uma homenagem ao santo protetor. Ele também está presente nas estradas aqui, mesmo que não haja movimento de carros. Para nós, depois de tanto dirigirmos nas estradas hermanas, já passou a fazer parte do nosso cotidiano.
Altar para Gauchito Gil, tradição nas estradas argentinas (entre Gaiman e Los Altares, na Patagônia)
Por fim, a paisagem patagônica típica: uma planície infinita, levemente ondulada, coberta por vegetação baixa. Longas, quase intermináveis retas e um horizonte sem fim. Ausência de cidades, casas ou carros. Essa é a Patagônia. E então, no meio daquela vastidão toda, um acidente geográfico. Pode ser um vale, uma montanha, um rochedo. Como está no meio dessa planície sem fim, esse acidente geográfico ganha ainda mais destaque, fica soberano no meio de uma paisagem em que nada rivaliza com ele, pelo menos até onde os olhos alcançam. E olha que os olhos alcançam longe!
O belo cenário da região de Los Altares, no interior da Patagônia, na Argentina
O belo cenário da região de Los Altares, no interior da Patagônia, na Argentina
Bom, foram horas dirigindo assim, sem nenhum contato com a civilização (exceto pela própria estrada) até que os enormes rochedos que deram o nome à região de Los Altares apareceram no horizonte. Outra meia hora dirigindo e lá chegamos, a Fiona ávida por combustível e nós por um lugar para dormir. O cenário era de uma beleza magnífica, principalmente depois de 100 quilômetros de “nada”. O cara do posto feliz em nos receber, raros que são os clientes por aqui. Hoje, por sinal, além de nós um grupo de motoqueiros. Celular ou internet, nem pensar. Cartão de crédito? Tá brincando? Tem de ter dinheiro vivo mesmo! Serve para o quarto, para o diesel e para o bife de lomo!
Deixando Los Altares, no interior da Patagônia, rumo a Bariloche, nos Andes, Argentina
Deixando Los Altares, no interior da Patagônia, rumo a Bariloche, nos Andes, Argentina
De noite, um céu estrelado que pouca gente conhece, digno dos céus que vimos a bordo do Sea Spirit, em alto-mar. Pela manhã, uma serenidade quase celestial, o barulho do rio ecoando nos grandes paredões que nos cercam. A vontade é de passar mais um dia por aqui, caminhar e explorar um pouco, sentir a calma que flutua sobre Los Altares. Esse foi um dos últimos refúgios dos índios tehuelches na guerra de conquista e extermínio que o governo central moveu contra eles no final do séc. XIX. Hoje, os poucos habitantes daqui são seus descendentes, ainda habilidosos para trabalhar com a pedra e a madeira, alegria do punhado de turistas que passam por aqui e compram artesanato.
Deixando Los Altares, no interior da Patagônia, rumo a Bariloche, nos Andes, Argentina
Mas tínhamos de seguir em frente. Com os rochedos de Los Altares sumindo no nosso retrovisor, estávamos novamente no meio do nada. Depois, um rio aqui, um vale ali, outra pedra ali. Até que, no horizonte, montanhas começaram a aparecer. Montanhas de verdade, com “m” maiúsculo. Eram os Andes. Imperiais, como sempre. Antes deles, picos menores, a cordilheira pré-andina. Chegávamos à ruta 40.
Deixando Los Altares, no interior da Patagônia, rumo a Bariloche, nos Andes, Argentina
Daqui para o norte. Estrada lindíssima, passando por lagos azuis, florestas bem verdes, vales quase encantados, montanhas nevadas ao fundo. Agora sim, estamos na Patagônia Andina, região de Bariloche. A cada curva, mais um cartão postal. Não é a toa que a ruta 40 tem a fama que tem. Passamos por Esquiel, também de origem galesa e El Bolsón, coração da Patagônia hippie e alternativa. Quando estivermos indo para o sul, em pouco mais de uma semana, vamos passar com calma por aqui. Hoje, foi só de passagem, fotos e muita inspiração só da janela do carro. Nosso objetivo era mesmo Bariloche. E aí chegamos, ainda com tempo de luz para achar um hotel, dar uma boa volta pela cidade e nos encontrar com a Rowan, que chega bem de noite. Fica para o próximo post...
Chegando a bela região de Bariloche, nos Andes argentinos
Praia na Ilha do Cardoso - SP
Madrugamos hoje em Curitiba para poder sair bem cedinho em direção à Cananéia e de lá para a Ilha do Cardoso. Já tínhamos deixado a Fiona pronta na noite anterior então, era só se levantar e partir. Tudo bem que só tínhamos dormido duas ou três horas... Mas como já disse, só tínhamos que levantar e partir.
Rio na Ilha do Cardoso - SP
E assim foi, nós crentes que tínhamos driblado o tempo chuvoso. Afinal, toda essa semana estávamos mesmo parados em Curitiba. Assim, podia cair canivete que para nós não importava. Agora, segunda-feira, a previsão era de sol finalmente! E a nossa previsão era de estrada novamente.
Fim de tarde no Marujá, na Ilha do Cardoso - SP
Mas faltou combinar com São Pedro. Em Cananéia ventava e chuviscava. Os únicos loucos que chegavam à cidade numa segunda cedo chuvosa para seguir para o Cardoso éramos nós. Como o barco de linha só sairia de tarde (R$ 53,00 por cabeça, só a ida. Para moradores é só R$ 5,00!!!) e demoraria 3 horas para chegar, a opção era fretar uma voadeira. Preço: R$ 180,00! Na temporada, sempre achamos gente para rachar esse preço, mas não era o caso numa segunda fria e chuvosa. Esse preço para ir e o mesmo para voltar. Ou perder o dia esperando o barco de linha para chegar no Cardoso no fim do dia.
Piquenique na ponta sul da Ilha do Cardoso - SP. Paraná ao fundo.
Aí, bateu aquela dúvida. Nós já tínhamos estado no Cardoso dois anos antes. As memórias estavam frescas. Em Ribeirão, próximo destino, o céu estava azul, nos chamando. Conversa aqui, conversa ali, resolvemos rifar a Ilha do Cardoso.
Cachoeira na Ilha do Cardoso - SP
Mas ficam aqui as dicas: o Cardoso é maravilhoso e uns dias no Marujá (principal vila da ilha) valem muito à pena; de manhã, caminhada na praia, de tarde, cerveja olhando as canoas no canal, de noite forrozinho; para quem gosta de água doce, também há rios e cachoeiras na ilha (chega-se lá de barco ou caminhando algumas horas); uma longa e gostosa caminhada para o norte leva à praias cada vez mais bonitas.
Indo de voadeira ver Sambaquis na Ilha do Cardoso - SP
Por isso, ter chegado até Cananéia e não ter ido até o Cardoso foi difícil. Principalmente depois de rever as fotos da última vez que lá estivemos. Mas, quando voltarmos, a ilha ainda vai estar lá...
Escuna que faza ligação de Cananéia à Ilha do Cardoso - SP
A grotesca paisagem vulcânica, pouco mais de um ano após a erupção do vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Desde que saímos do Brasil e atravessamos o Paraguai, sul da Bolívia e norte da Argentina para chegarmos ao Chile que os vulcões se tornaram uma constante em nossos horizontes. Ao longo de toda a costa do Pacífico, do Chile à América Central, essas enormes montanhas em forma de cone, algumas adormecidas, outras bem vivas, são personagens centrais da história das regiões onde estão e dos povos que ali habitam ou habitaram.
O Vulcão de Fogo, próximo à Antigua, na Guatemala
Para nós brasileiros, que não temos nada parecido em casa, essas incríveis formações geológicas ainda exercem um fascínio maior, pelo seu exotismo. Bom, no caso meu e da Ana, depois de ver quase cem deles em cerca de cinco meses, posso dizer que já estamos meio acostumados. Mas, é só nos distrairmos um pouco e o gigantesco vulto do vulcão na janela já nos impressiona novamente.
A grandiosa paisagem com duas encostas vulcânicas observadas do vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Aqui em Antigua não apenas um, mas vários imponentes vulcões cercam a cidade. Dois ativos e dois dormentes, tem para todos os gostos. Um tem o sugestivo nome de Volcán del Fuego, pois é muito fácil observar, principalmente de noite, nos períodos mais ativos, as luzes das lavas e faíscas que ele expele. Muitas pessoas escalam o seu vizinho, o tranquilo Acatenango, para poder observar o “fuego” do vizinho com mais segurança.
Início da caminhada no vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Outro vulcão, também em repouso, se chama Volcán del Agua. Ficaríamos tentados a imaginar que esse é menos perigoso que seu irmão raivoso. Triste ilusão. Na verdade seu nome vem do fato que volta e meia uma enorme enxurrada desce lá de cima arrasando tudo em seu caminho. A explicação é que uma lagoa se forma em sua cratera com a água das chuvas. Quando enche muito, ela transborda, destrói parte da parede da cratera e milhões de litros de água descem as encostas se transformando numa corrente de barro e pedras mortal.
Fenda por onde passava o rio de lava do vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
O quarto vulcão é o Pacaya, que entrou em erupção há pouco mais de um ano. Nos meses que antecederam a erupção explosiva, rios de lava desciam as encostas e faziam a alegria dos turistas. Vimos fotos incríveis de pessoas a poucos metros da corrente de pedras ardentes, sorrisos estampados em suas faces. Alguns meses depois da explosão (maio de 2010), os rios de lava secaram e esfriaram, mas suas marcas ainda estão bem claras.
Com o Byron, que nos guiou no vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Com tantos vulcões à nossa disposição, tínhamos de visitar algum! Escolhemos o Pacaya, com uma caminhada mais tranquila e um cenário mais, como posso dizer? ... vulcânico! Fica a cerca de 40 min de carro de Antigua e, no caminho, passamos por entre o Vulcão de Fogo e o Acatenango. Ao perguntar sobre o caminho a seguir no estacionamento onde estava a Fiona ficamos conhecendo o simpático Byron, que se ofereceu para ir conosco. No caminho, ainda foi nos dando informações e contando histórias da região, principalmente sobre as inundações causadas pelo Vulcão de Água.
Caldeira de lava com pouco mais de um ano de idade, no vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Chegando ao Pacaya, é obrigatório a contratação de um guia local. Adivinha o nome do nosso? Byron! Pois é, acompanhados dos dois Byrons seguimos vulcão acima. O Byron do Pacaya foi nos contando sobre como foi a última erupção. Ele e vários outros colegas estavam em um mirante bem próximo, observando os rios de lava que pareciam estar maiores. Junto com els, um grupo de jornalistas. Foi quando começou a erupção, enormes pedras de fogo e cinzas ferventes sendo arremessadas pelo ares a centenas de metros de altura e caindo com força mortal. O grupo que estava lá perto mal teve tempo de pensar. Desceram em disparada a montanha, se desviando da chuva ardente, numa legítima e literal corrida pela vida. Um dos jornalistas não teve sorte, foi atingido e morreu.
Esquentando-se numa das fontes de calor no vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala. Sinal de que a lava ainda está ali perto!
Hoje o ambiente era mais tranquilo, exceto pelo forte vento e clima nebuloso. Quando mais subíamos, pior ficava. Cruzamos aquela paisagem absolutamente extraterrestre, nenhuma planta, nenhum verde, apenas pedras para todos os lados. O Byron nos mostrou o antigo leito do rio de lava e o ponto em que ele fez um túnel. Aliás, numa dessas câmaras a gente se abrigou por um tempo, um calor bem gostoso vindo da terra. De pensar que há pouco mais de um ano aquilo estava repleto de lava... Um pouco mais adiante e chegamos a uma reentrância na terra onde o calor era ainda maior. Com um espeto grande, é até possível fazer um churrasco! Mas, não indo tão fundo, o calor foi ótimo mesmo para esquentar nossas mãos semicongeladas!
Caminhando em meio à fantasmagórica paisagem vulcânica no vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Restos da última erupção do vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
Voltamos cruzando aquela incrível e desoladora paisagem novamente. A neblina conferia um ar ainda mais fantasmagórico ao local, apenas as cores de nossas roupas dando um pouco de vida na paisagem. Enfim, baixamos do nível das nuvens e o verde lá embaixo pareceu mais bonito e mágico do que nunca! É, eu gosto de vulcões. Mas gosto mais da vida!
Fenda criada por rio de lava em Junho de 2010, no vulcão Pacaya, próximo à Antigua, na Guatemala
O Mercado Municipal de Aracaju - SE
Há muito queria conhecer Aracaju. Primeiro por ser ela uma das capitais, junto com João Pessoa e Teresina, menos visitadas do Nordeste. Isso para mim é ponto positivo. Afinal, é menos afetada pelo turismo e deve ser mais autêntica. Estive em João Pessoa (há dez anos) e adorei. Sempre achei que sentiria o mesmo com a capital sergipana. Segundo porque todas as pessoas que conheço que estiveram aqui gostaram e recomendaram. Então, finalmente, chegou o dia.
Catedral de Aracaju - SE
Aracaju, e na verdade todo o estado de Sergipe, não é conhecida pelas suas praias. Também, é difícil competir neste quesito com Alagoas ao norte e Bahia ao sul. Aqui na capital a cor do mar é muito influenciada pelo rio Sergipe, então é algo entre o cinza e o marrom. Em compensação, a orla da cidade é super organizada e urbanizada. Toda cheia de praças, restaurantes, praças de esportes, casas de show, áreas de lazer e até lagoas. Nesta região, distante uns 8 km do centro, estão a maioria dos hotéis e baladas da cidade. Como Aracaju ainda é pequena, comparada com outras capitais, o trânsito não é pesado e é fácil e rápido transitar por suas avenidas.
A enorme ponte que cruza o rio Sergipe, em Aracaju - SE
Nós optamos por ficar no centro mesmo. Assim, pudemos passear à pé pela região central e usar a Fiona para ir até a Orla. Numa manhã de domingo, ressaca de natal, o centro estava completamente vazio. Passamos pelos prédios dos poderes executivo e legislativo, pela catedral e chegamos à Ponte do Imperador, um pier que se projeta sobre o rio Sergipe. De lá, uma bela vista para a ponte que liga o continente à Barra dos Coqueiros. Uma obra e tanto!
Passeando no Mercado Municipal de Aracaju - SE
Mas, o mais interessante deste passeio à pé foi a visita ao Mercado Municipal. Arquitetura interessante e um dos mais bem conservados do país, reminiscente das primeiras décadas do século passado. Foi o único lugar que encontramos movimento nesta manhã de domingo. Como já disse em um outro post, Mercados Municipais são sempre um dos melhores lugares a serem visitados. Aracaju não fugiu à regra.
Propaganda da organizada e desenvolvida orla de Aracaju - SE
No fim de tarde, voltando do passeio à cidade de São Cristóvão, fomos conhecer uma das praias da cidade, atravessando a ponte para a Barra dos Coqueiros. Praia enorme, sem muitos atrativos. Aí fomos conhecer a Orla, na região do Atalaia. Ficamos impressionados com a urbanização. De noite, voltamos lá para jantar. Fomos ao Cariri, um dos points mais conhecidos. Banda de forró, muita comida e clima praiano. Muito gostoso.
Bar-restaurante Cariri, na orla de Aracaju - SE
Enfim, um dia bem tranquilo para desacelerar um pouco nosso ritmo. Era o que estávamos precisando! Uma capital a mais na minha "lista", uma lacuna a menos no meu "currículo". Valeu Aracaju!
Admirando o rio Segipe, na Ponte do Imperador, em Aracaju - SE
Cruzando a Jamaica de carro
Deixamos Treasure Beach logo cedo, dispostos a atravessar a ilha da Jamaica, saindo da sua costa sudoeste para chegar ao seu litoral nordeste, passando pela capital Kingston no caminho. A primeira parte do trajeto seria por um emaranhado de estradas secundárias, passando por pequenas vilas, trechos montanhosos e asfalto de qualidade duvidosa. Depois de alguns dias, já estou “quase” craque de dirigir na mão inglesa. O “quase” é porque ainda tenho uma certa dificuldade de desviar dos buracos no caminho, acertando “quase” todos, hehehe.
Antes de partir, olhamdo no mapa o longo caminho entre Treasure Beach e Port Antonio, na Jamaica
E assim, mapa na mão e algumas paradas para pedir informações e conseguimos chegar na estrada principal, aquela que dá a volta em toda a ilha. Aqui passamos numa Jamaica menos turística, mais autêntica, todos vivendo suas vidas independente de visitantes estrangeiros. Enfim, começávamos a ver uma Jamaica mais “jamaicana”...
Estrada secundária na região de Treasure Beach, no sul da Jamaica
A tal estrada principal também tem seus buracos e a situação só melhorou mesmo quando chegamos à autopista, uns 40 km antes da capital. Pois é, autopista mesmo, muitos carros, pista dupla, pedágio, mais uma peça para nos ajudar a montar esse quebra-cabeça chamado Jamaica.
Escolares caminham em rua de pequena cidade na Jamaica
Passagem tranquila pela capital Kingston e logo estávamos cruzando as Blue Mountains, rumo ao norte da ilha. Estrada bem estreita, cheia de curvas, daquela que temos de buzinar antes de cada virada. Com paciência (e fome!), chegamos ao litoral onde encontramos novamente uma estrada mais larga. Aí, tapetão até a pacata Port Antonio, local onde nasceu o turismo no país, já há muitas décadas.
Prédio da prefeitura de Port Antonio, no nordeste da Jamaica
Felizmente, o tal turismo logo migrou para Montego Bay, Ocho Rios e Negril, deixando Port Antonio relativamente à salvo dos grandes resorts e da descaracterização que eles trazem. Estamos agora na Portland Parish, considerada a mais bonita do país e, mesmo assim, uma das mais bem preservadas!
A movimentada praça central de Port Antonio, no nordeste da Jamaica
Aqui chegando, fomos direto nos alimentar, de frente a uma das muitas belas baías da região. Aí sim, de estômagos forrados, fomos procurar algum lugar para ficar. Finalmente, pudemos nos livrar dos hotéis mais caros e achamos uma Guest House super simpática, na península de Titchfield, a mais agradável vizinhança de Port Antonio. Ainda tivemos tempo de, caminhando, conhecer o centro da cidade, sua bela igreja anglicana, a movimentada praça e a marina que recebe veleiros do mundo inteiro. Depois de tantas praias e hotéis, foi uma delícia estarmos novamente em uma cidade normal, com gente normal.
A bela igreja anglicana Port Antonio, no nordeste da Jamaica
A ideia, amanhã, é ir logo conhecer a famosa Blue Lagoon e depois, dar uma passada rápida em alguma praia. Afinal, ainda queremos pegar estrada para ir dormir no alto das Blue Mountains, com vista para Kingston!
Céu de fim de tarde sobre o Mercado de Port Antonio, no nordeste da Jamaica
Paredes com quase mil metros de altura no Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
A pesar de ser a mais conhecida cidade de Chiapas, ao menos pelos turistas, San Cristobal não é a maior cidade do estado. Esse posto cabe à moderna capital, Tuxtla Gutierrez, uns 70 km a oeste da antiga capital colonial. E entre as duas, já bem pertinho de Tuxtla, está a mais velha cidade do sul do México, a pequena e simpática Chiapa del Corso.
Lanchas que levam turistas ao Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Apesar da rica história, o que mais atrai visitantes a esta cidade não é sua bela arquitetura, mas uma gigantesca fissura na Terra que está logo ali do lado, o famoso Canyon del Sumidero. Colossais movimentos tectônicos criaram essa incrível rachadura no planeta há milhões de anos. O rio Grijalva aproveitou o “atalho” no seu percurso de sul a norte e foi, ao longo de centenas de milhares de anos, deixando o Canyon ainda mais profundo. O resultado, hoje, é avassalador aos nossos olhos, na nossa ridícula escala humana.
A Praia dos Urubus, a caminho do Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Há pouco mais de 30 anos esse rio foi represado bem na saída do Canyon. Além da vital produção de energia que isso propiciou, outra consequência foi que o rio se tornou navegável por toda a extensão do Canyon, desde Chiapa del Corso até a barragem, Assim, todos os dias, dezenas de lanchas levam turistas desde a cidade até o Canyon, num percurso de quase 70 km, ida e volta, para poder admirar essa verdadeira maravilha da natureza. É a única maneira de conhecê-la lá de baixo e, apesar de ser no maior “esquemão turístico”, definitivamente vale a pena!
Chegando ao Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Ainda estávamos no meio da manhã quando chegamos na cidade. Na verdade, Chiapa del Corso e a visita ao Sumidero eram apenas uma pequena escala no nosso longo percurso planejado para hoje. O objetivo final do dia era chegar à cidade de Oaxaca (lê-se “Oarraca”), capital do estado de mesmo nome, mais de 600 km de distância de Tuxtla. Aqui no México, precisamos nos acostumar com grandes distâncias novamente...
Um enorme e ameaçador crocodilo na entrada do Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Para nossa surpresa, quando chegamos em Chiapa del Corso, descobrimos uma grande movimentação na cidade. Ela se preparava para uma grande festa. Aliás, são festeiros esses mexicanos. Todos os dias tem festa, é impressionante! Bom, a gente deixou a Fiona num dos grandes estacionamentos preparados para quem vinha à festa e seguimos ao embarcadeiro, pegar nossa lancha. Nós e mais vinte pessoas, todos devidamente vestidos de coletes salva-vidas, apenas na nossa lancha. E são dezenas de lanchas! Mas, como ainda era cedo, muitas ainda esperavam seus clientes e encontramos a maioria delas apenas na nossa volta, felizmente.
Nossa lancha chega ao Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Rapidamente a lancha nos leva através do rio, enquanto suas paredes laterais começam a crescer. Cem, duzentos, trezentos metros! O guia nos indica enormes formações rochosas, estalactites com mais de vinte metros de comprimento, perdidos, pequenininhos no meio daquelas paredes colossais. Passamos também por uma incrível praia com centenas de urubus e depois, para a alegria da Ana e de todos os turistas no barco, por uma pedra onde um enorme crocodilo esquentava-se ao sol. Crocodilo de proporções africanas! Um verdadeiro monstro pré-histórico!
Visita ao Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Mas, mesmo ele apequenava-se dentro daquele Canyon. As paredes cresciam ainda mais, seiscentos, oitocentos, mil metros de altura! enquanto, para baixo, a profundidade superava os cem metros. Foi neste ponto, conhecido como “castelo”, que a história conta que centenas de índios, mulheres e crianças inclusive, se atiraram no abismo para a morte certa para evitar que se tornassem escravos na mão de seus perseguidores espanhóis. Realmente, se a única opção que restar for o suicídio, aquele é um lugar perfeito, terminar a vida em garnde e alto estilo!
Formação conhecida como Árvore de Natal, com quase 200 metros de altura, no Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
Chegamos até a barragem e voltamos, passando mais uma vez por aquela incrível paisagem e tirar o fôlego. É impressionante! Magnífico! Aqui, mais do que nunca, nossas fotos não conseguiram captar a grandiosidade da cena. Confesso que, mesmo para olhos acostumados como os meus, é uma das paisagens mais grandiosas que já vi...
O belo Canyon del Sumidero, em Chiapa del Corso, no México
De volta à Chiapa del Corso, a festa que tínhamos visto apenas começando, agora seguia a todo vapor! As moças se vestiam em lindos vestidos cheio de cores enquanto os homens usavam máscaras e uma espécie de colmeia na cabeça. Centenas deles, vindos de todos os lados e se congregando na praça da igreja. O resultado final era lindíssimo, prato cheio para quem gosta de fotografar.
Muitas cores nas fantasias durante festa em Chiapa del Corso, no sul do México
Depois de larga sessão de fotos e de passeáramos por entre a multidão festiva, foi de cortar o coração irmos embora, mas longas horas de estrada nos esperavam. Felizmente, estradas bem melhores e mais rápidas que as que tomamos nos últimos dias. Que delícia é poder dirigir por mais de cinco minutos sem passar por um tope (lombada)!
Festa em Chiapa del Corso, no sul do México
E assim fomos seguindo e seguindo, enquanto a tarde passava e chegava a noite. No finalzinho do dia passamos por uma região conhecida como La Ventosa. Como diz o próprio nome, o vento era forte e interminável. Até balançava a Fiona. Aproveitando isso, construíram ali um parque eólico. O maior que já vi na vida, literalmente com milhares de moinhos. Visão incrível, por dezenas de quilômetros uma fileira interminável deles.
Crianças também se fantasiam em festa popular em Chiapa del Corso, no sul do México
Os últimos duzentos quilômetros fizemos no escuro mesmo. Aparentemente, as estradas no sul do país ainda são seguras pela noite. Chegamos à Oaxaca perto das nove da noite. Ainda não tínhamos ideia do quanto gostaríamos dessa incrível cidade...
O gigantesco parque eólico em La Ventosa, em Oaxaca, no México
Visitando o Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Para todos os brasileiros, mochileiros ou não, seguindo na rota por terra entre Brasil e Machu Picchu, La Paz é uma parada obrigatória. E nos poucos dias passados na capital boliviana para se aclimatar à altitude, sempre se reserva tempo para uma visita à uma das grandes atrações da cidade: a paisagem bizarra do Vale da Lua, ou Valle de la Luna, em espanhol.
Caminhando pelas trilhas e meandros do Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Foi assim comigo também, em 1990, no mochilão que fizemos em um mês para Bolívia, Peru e Amazônia. Depois das 24 horas de ônibus entre Santa Cruz de La sierra e a capital, saindo dos 600 metros e chegando aos 4 mil, precisávamos de tempo para descansar e para nos aclimatar. Então, nada melhor que um passeio com uma das inúmeras agências para o tal vale, bem light. Vamos de van, caminhamos um pouco e voltamos ao centro, ainda em tempo de passear por ali. O outro passeio também muito procurado é o Chacaltaia. Mas esse aí é assunto para o próximo post.
Chegando ao Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
De volta à La Paz, depois de 23 anos, mesmo já devidamente aclimatados e vindos do outro lado, queria voltar ao Valle de la Luna. Com a Fiona devidamente estacionada em estacionamento no conturbado centro da capital, resolvemos dar uma folga para ela e seguir de ônibus mesmo. O Valle de la Luna fica no mesmo vale de La Paz, só que mais abaixo. Já há algum tempo que a capital cresceu e praticamente engoliu sua antiga “distante” atração. Então, para chegar até lá, podemos ir de ônibus urbano mesmo. Trinta minutos conhecendo outras partes da capital pela janela, sempre indo para baixo, e somos deixados em frente à entrada do Valle de la Luna.
A estranha paisagem do Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
É difícil descrever a paisagem com palavras. Por muito tempo (e há muito tempo!) havia um grande lago por ali, sobre o qual material trazido pelos rios das montanhas ao redor foi se sedimentando em diferentes camadas. O lago secou e aquelas camadas sedimentares passaram a sofrer com a milenar erosão causada pelo vento e pela chuva. Diferentes camadas, mais duras ou mais moles, reagiram de forma diferente à esta erosão. O resultado é o que vemos hoje: essa paisagem bizarra formada por pequenos vales e canyons de aparência arenosa, divididos e pontuados por paredes e torres arenosas também, formando passagens estreitas, penhascos e barrancos, salões escondidos e curiosas formações rochosas.
Caminhando pelas trilhas e meandros do Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Observando o bizarro Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Quando passei por aí em 1990, podíamos caminhar por onde quiséssemos, desde que houvesse possibilidade para isso. Agora, e sabiamente, os caminhos se limitaram à trilhas oficiais, com escadas, passarelas, pequenas pontes e corrimão. São duas trilhas e percorrê-las é mais do que suficiente para se conhecer esse mundo estranho. Pelo menos no dia e horário que ali estivemos, quase não haviam outros turistas e estivemos sós, na trilha, quase todo o tempo. Tivemos todas as chances para fotografar e admirar a paisagem ao nosso redor.
Túneis escavados na rocha no caminho para o Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Feito o passeio, decidimos caminhar até um bairro ali do lado, perto do rio. Isso porque eu queria ver um túnel feito sobre a mesma rocha que forma o Valle de la Luna, uma das minhas fortes lembranças da antiga visita. Passamos pelos tuneis, saciei minha vontade e fomos encontrar um ponto de ônibus mais adiante. Trinta minutos mais tarde, dessa vez de subida, e voltávamos ao centro da cidade, em tempo para mais uma caminhada por ali. Com essas caminhadas e passeios de ônibus urbanos, fomos nos sentindo cada vez mais íntimos da cidade, tentando sentir um pouco como é viver por ali. Com apenas dois dias e meio para isso, é claro que não é possível, mas um gostinho, ao menos, dá para sentir!
Túneis escavados na rocha no caminho para o Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Ana participa de banda de jazz em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Sempre achei que algumas poucas cidades dos Estados Unidos eram especiais, diferentes das outras. Entre elas, San Francisco, Nova Iorque e New Orleans. As duas primeiras eu já conhecia e realmente são incríveis. Mas New Orleans e sua famosa Bourbon Street, cidade de origem francesa onde se respira o jazz, essa eu só conhecia pela fama. Desde o início da nossa viagem dos 1000dias, estava no topo da lista de cidades que queríamos passar aqui no Tio Sam. Finalmente, chegou a hora e esses dois dias por aqui apenas confirmaram as nossas expectativas. New Orleans é especial!
Despedida do Andrew, em frente à sua casa em Tuscaloosa, no Alabama - Estados Unidos
Chegando à Louisiana, no sul dos Estados Unidos
A gente saiu ontem pela manhã de Tuscaloosa, depois de nos despedirmos do Andrew e Jen e nos prometer que o próximo encontro não demorará outros 13 anos. Cruzamos o Alabama, passamos outra vez pelo Mississipi e chegamos à Louisiana, estado à beira do Golfo do México. Não demorou muito e já estávamos cruzando a longa ponte sobre o lago Ponchartrain que nos leva até New Orleans, na boca do rio Mississipi.
A longa ponte para chegar à New Orleans (que já aparece ao fundo!), na Louisiana - Estados Unidos
O Superdome, qie ficou famoso na época do Katrina (em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos)
Passamos pelo Super Dome, enorme ginásio coberto que ficou famoso na época do Katrina e fomos para o Garden District, onde estão as melhores opções de hospedagem na cidade, charmosas casas transformadas em hotéis e pousadas. Não demorou muito para descobrirmos que chegar à New Orleans às vésperas de um final de semana sem reserva não é uma boa. Em todos os hotéis que averiguamos até havia lugar para a noite de ontem, mas para a de hoje, estavam lotados. Finalmente, depois de uma hora de procura, achamos um hostal meio escondido, numa rua lateral. Ótima opção, preço razoável, localização excelente.
Casa típica do Garden District, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Afinal, além da vizinhança charmosa do Garden District, com suas casas centenárias, estávamos a um quarteirão da linha de bonde, o mais que simpático transporte para o French Quarter, o centro da cidade. Uns 10 minutos de bonde, ou trinta minutos de caminhada. É lógico que preferimos o bonde e assim foi nesses dois dias, bonde na ida e táxi na volta, já de madrugada.
Pegando o bonde em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
O simpático bonde de New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
New Orleans tem origem francesa, os primeiros colonizadores de toda a região ao longo do Mississipi. A cidade era a mais importante em todo o curso do rio, pois controlava sua foz e portanto, o acesso à navegação do Mississipi. Em 1760, com a derrota na Guerra dos 7 Anos, a França cedeu todas as suas colônias na América do Norte, a parte ao leste do Mississipi para a Inglaterra e ao oeste para a Espanha. New Orleans passou a ter um governador espanhol.
Homenagem aos grandes nomes do jazz em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Quarenta anos mais tarde, o cenário tinha mudado. Os Estados Unidos tinham conseguido sua independência e controlavam todo o território ao leste do Mississipi. O rio já era uma importante artéria de comércio, toda a produção ao oeste dos Apalaches fluindo por suas águas. Para o novo país, era essencial manter o acesso livre no rio. Enquanto isso, na Europa, a França vivia sob Napoleão, mais forte do que nunca, mas sempre às turras com a Inglaterra. Os franceses tinham acabado de perder sua mais rica colônia no Caribe, o Haiti, depois de uma violenta rebelião dos escravos (o Haiti foi o segundo país das Américas a conseguir sua independência, logo depois dos EUA). Napoleão tinha grandes planos para o Novo Mundo e isso incluía o Haiti e a Louisiana, região onde está New Orleans, então sob controle espanhol.
St Louis Cathedral, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Sob forte pressão francesa, os espanhóis acabaram cedendo toda a região novamente, num tratado secreto. Ao mesmo tempo, Napoleão mandou seus soldados reconquistarem o Haiti, que seria o centro do império francês nas Américas. A Louisiana serviria apenas para abastecê-lo. Para os americanos, um péssimo cenário, com uma grande potência logo ali do lado e controlando a foz do rio que já era vital para sua economia. Mas os planos de Napoleão foram vencidos pela febre amarela. Quase dois terços de seus soldados morreram no Haiti, depois de vitórias militares, mas sem saber lidar com a doença. Voltaram para casa de mãos abanando. Sem a posse da ilha, Napoleão já não via muito sentido na posse da Louisiana. Os americanos viram a grande oportunidade e se ofereceram para comprar a cidade e arredores. Para sua surpresa, Napoleão ofereceu muito mais: toda a região que ia da foz do rio até a fronteira atual com o Canadá, ao norte, e até as Montanhas Rochosas no oeste (claro que ninguém perguntou para os índios que ali moravam o que eles achavam do negócio...). Sem acreditar em tamanha sorte, os americanos não titubearam e fecharam negócio na hora. Por 15 milhões de dólares, duplicaram seu território e ainda garantiram a posse da tão ambicionada New Orleans. Junto com a terra, vieram algumas dezenas de milhares de católicos de origem francesa e espanhola, o que mudaria para sempre a composição da população americana, que na época era quase completamente protestante. Já Napoleão, usou todo o dinheiro da venda para financiar sua tão sonhada invasão da Inglaterra, o que nunca aconteceu. Muito pelo contrário, a França acabou ficando sem o Haiti, sem a Louisiana e sem Napoleão, vencido e preso pelos ingleses.
Banda de jazz toca nas ruas de New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
A posse da cidade era tão importante que foi justamente ali que se deu a principal vitória americana na guerra contra os ingleses, em 1811. A guerra terminou empatada, com algumas vitórias e derrotas para os dois lados. A capital, Washington, foi ocupada e queimada, mas New Orleans e o controle do rio resistiram ao ataque e, desde então, nada mais ameaçou a posse americana da região. Ao contrário, foi exatamente essa batalha que ajudou a cimentar o sentimento de nacionalidade americana entre os habitantes da região.
Homenagem a Louis Armstrong no parque que leva o seu nome, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Outro componente essencial de New Orleans foi sua população negra. Os espanhóis transformaram a cidade no seu centro de distribuição de escravos. Então, quando a cidade passou para as mãos dos americanos, os negros já eram sua maioria. Na Guerra da secessão, New Orleans começou ao lado dos confederados, mas foi logo conquistada pela União. O caldeirão de culturas da cidade, espanhola, francesa, americana e africana, católica e protestante acabou criando, entre outras coisas, o jazz, música-símbolo de todo o país. Criou também o “Madrigas”, ou carnaval americano. Nasceu numa praça de New Orleans, hoje chamada de Congo Square, único lugar da cidade, e provavelmente do país, onde a população escrava podia se divertir de forma permitida e oficial, por alguns dias. As festas que ali faziam continuaram depois da abolição da escravatura, sempre com muita música. Acabou virando um festival e o maior carnaval do país.
Marujos caminham na famosa Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Casa de shows na Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Nessa cidade passamos dois deliciosos dias. Íamos de bonde para o centro e caminhávamos pela Bourbon Street. A mais famosa rua da cidade está tomada de bares que oferecem cerveja barata e shows de reputação duvidosa, meninas na porta, sempre com pouca roupa, convidando solteiros e casados a entrarem e darem uma olhada. A concorrência é enorme, não só na oferta, mas também na demanda. Afinal, são milhares de pessoas caminhando por ali, desde marinheiros nos dias de folga até excursões de estudantes vindas de todo o país. Soma-se a isso turistas de todo o mundo, famílias caminhando juntas e os convidados das dezenas de casamentos que são realizados na cidade todos os finais de semana (New Orleans concorre com Las Vegas como centro “casamenteiro” mais querido do país) e tem-se a Torre de Babel misturada com Gomorra que é a Bourbon Street. Sempre ao som de jazz que escapa das dezenas de bares e das bandas que se apresentam pela rua.
Congo Square, um raro lugar de diversão para os escravos em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Para poder respirar um pouco, seguíamos para as ruas laterais, para admirar a arquitetura completamente distinta da cidade, nada de arranha-céus envidraçados e lojas de fast-food. Pelo menos, não ali no centro histórico. Aliás, falando em comida, come-se muito bem por ali, cozinha típica do sul. Nosso jantar na noite de hoje, no Irene´s, fez cada minuto de espera ter valido à pena, um verdadeiro banquete, não na quantidade, mas na qualidade da comida. Uma delícia! Já de dia, ficávamos com os sanduíches locais, conhecidos como po´boys.
Po-Boy e cerveja da Louisiana em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Imperdível também é um passeio pela orla do Mississipi, quase em frente à principal praça da cidade, a belíssima Jackson Square. Por ali passam réplicas dos famosos barcos com aquelas enormes rodas d’água na popa. Hoje esses barcos levam turistas rio acima, mas por dezenas de anos eram o transporte mais conhecido da região, um verdadeiro símbolo de uma época e da navegação no Rio Mississipi.
Vendedor de rosas na Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
O barco tradicional do Mississipi, que hoje faz passeios com turistas em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
De noite, a melhor pedida é seguir para a Frenchmen Street, a poucos quarteirões dali. A rua se parece com o que deveria ser a Bourbon Street antes de ser tomada pelos shows de reputação duvidosa. São vários pequenos bares, um ao lado do outro, tocando excelente música e com plateia bonita e animada. Para quem gosta de jazz, vai adorar. Para quem não gosta, vai aprender a gostar! São jovens e velhos, homens e mulheres, brancos e negros, todos se misturando em bandas ecléticas tocando música da melhor qualidade. O prazer em transitar entre esses bares foi o mesmo que tivemos em Memphis, quando estávamos no meio do Blues. Que delícia ver com os próprios olhos (e ouvir com os próprios ouvidos!) que existe muita música além do rock. Ou, para baixar o nível, além do sertanejo e do Michel Teló. Não só existe a música como também uma legião de fãs entusiasmados que sabem apreciá-la.
Muito jazz nos bares da Frenchman Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Muito jazz nos bares da Frenchman Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Falando em música, ainda de tarde tivemos a sorte de passar pela catedral da cidade, justo na hora em que a banda da Marinha se apresentava por ali, aproveitando a excelente acústica do interior da prédio. Igreja lotada para o concerto, no meio da multidão dois brasileiros deslumbrados pela oportunidade de ouvir clássicos do jazz tocados de forma primorosa por uma banda de mais de 50 marinheiros. Muito joia!
Interior lotado da St. Louis Cathedral, em dia de apresentação de banda da marinha (em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos)
Apresentação da banda da marinha na St. Louis Cathedral, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Amanhã cedo deixamos a cidade rumo à Flórida. Mesmo antes de sair daqui, já estamos com saudades. O clima festivo de New Orleans é contagiante, assim como o prazer de caminhar nas suas ruas charmosas onde as pessoas descansam em suas varandas e leem jornais na porta das casas, num ritmo de vida mais adaptado ao calor, sem o frenesi nova-iorquino, um tipo de ritmo baiano em pleno Estados Unidos. Só trocaram o axé pelo jazz...
Tarde de leitura em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Mais uma obra-prima da Ana!
Podem conferir no link abaixo que não é vírus.
http://www.youtube.com/watch?v=myc8YE2Jsrg&feature=channel
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