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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
A equipe completa dos 1000dias chega à Villa o'Higgins, no final da Carretera Austral, no sul do Chile. Eram 9:20 da noite!
Com cerca de 4.300 quilômetros de extensão de norte a sul e não mais de 350 quilômetros de leste a oeste, o Chile se espreme entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. É um território de grande diversidade climática e geográfica, desde os desertos do norte até as geleiras e fiordes no sul, do clima seco e árido do Atacama ao verde e úmido Aysén, na patagônia. Unir todos esses territórios distintos através de uma rede de caminhos e estradas nunca foi uma tarefa fácil.
Carretera Austral, ligando Puerto Montt a Villa O'Higgins num percurso de cerca de 1.250 km. O objetivo é, um dia, chegar a Punta Arenas
Carretera Austral atravessa mais um vale no sul do Chile
A área ao redor de Santiago, Valparaíso e Concepción, que juntas delimitam a região central do país e são as três maiores cidades do Chile, já estavam desenvolvidas e ocupadas desde tempos coloniais. A ocupação do norte veio com o desenvolvimento da mineração do cobre na segunda metade do séc. XIX e se consolidou com a vitória chilena na Guerra do Pacífico em 1883. Desde então, estradas e caminhos já ligam Santiago com Iquique e Arica, na fronteira com o Perú.
Carretera Austral, entre Cochrane e Puerto Yungay, no sul do Chile
Trafegando na Carretera Austral, entre Cochrane e Puerto Yungay, no sul do Chile
Na direção sul, a ocupação se acelerou com a derrota dos índios mapuches e a ocupação da Araucania (quando chegarmos lá, vou fazer um post sobre mais essa triste história de espoliação indígena), quase ao mesmo tempo da Guerra do Pacífico e que abriu o país até a região dos lagos, em Puerto Montt. Centenas de milhares de imigrantes europeus, principalmente alemães, vieram colonizar essas novas terras no final do séc. XIX. Também aí, já no início do séc. XX, caminhos e estradas ligavam a região à capital federal.
Chegando ao lago O'Higgins, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
O sol de fim de tarde nos recebe no lago e região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Preocupado em garantir sua soberania até o extremo sul do continente, o governo chileno fundou Punta Arenas em meados do séc. XIX e a cidade logo se tornou o único centro urbano naquela região. A ligação com o resto do país sempre foi marítima, já que havia um enorme território praticamente desocupado entre a cidade e Puerto Montt e Chiloé, dois mil quilômetros ao norte. Essa região, o norte patagônico chileno, é conhecida como Aysén. Também ela foi ocupada por um número diminuto de pioneiros que fundaram alguns poucos povoados. Mas eles nunca se desenvolveram muito, principalmente pelas dificuldades de comunicação com o resto do país. Inúmeros lagos, fiordes, rios caudalosos, montanhas, vulcões e geleiras impediam a construção de caminhos e a ligação marítima também era dificultada pelos rigores do inverno nos estreitos canais que separavam um verdadeiro labirinto de ilhas ao longo da costa.
Criação de ovelhas, muito comum ao longo da Carretera Austral, no sul do Chile
Encontrando trânsito na Carretera Austral, no sul do Chile
Criação de ovelhas, muito comum ao longo de toda a Carretera Austral, no sul do Chile
A solução para aquelas poucas comunidades que se desenvolveram em Aysén eram os caminhos através da vizinha Argentina. O problema, nesse caso, é que a relação entre os dois países nem sempre foi muito pacífica. Disputas sobre limites fronteiriços sempre dificultaram a vida dos dois vizinhos, desde meados do séc. XIX até tão recentemente como 1978, quando Argentina e Chile quase entraram em guerra total. Aliás, foi essa quase guerra, cujo motivo foi a disputa sobre umas poucas ilhotas na saída do Canal de Beagle, que finalmente tiraram do papel um plano de construção de uma estrada ligando Puerto Montt à Punta Arenas, totalmente dentro do território chileno. O país não queria mais depender da boa vontade do vizinho para abastecer suas próprias cidades do sul.
Vista frequente na Carretera Austral: valentes ciclistas trafegando pelo caminho, no sul do Chile
Vista frequente na Carretera Austral: valentes ciclistas trafegando pelo caminho, no sul do Chile
O Chile vivia sob a feroz ditadura do general Pinochet. Sem ter de dar satisfação para ninguém, ele decidiu que já era hora de construir a estrada que ele mesmo imaginara vinte anos antes, quando ainda era um oficial de pequena patente no Clube Militar. Com a ajuda de 10 mil soldados do exército, pôs em marcha os trabalhos da maior obra de engenharia do país, abrindo selvas, construindo pontes sobre rios, escavando montanhas e dando a volta em lagos e geleiras. A ferro e fogo (muitos soldados e operários morreriam nas obras), a estrada foi abrindo caminho no difícil terreno e, pela primeira vez, uma região de natureza exuberante e cenários grandiosos se abriu para viajantes e turistas, além dos próprios moradores locais, claro.
Informação importante: horário de funcionamento e localização dos postos de combustível ao longo da Carretera Austral, no sul do Chile
Na encruzilhada para Caleta Tortel, a importante informação com o horário das barcas em Puerto Yungay, no sul do Chile
As obras se iniciaram em 1976 e em 1982 foram entregues os primeiros trechos. Até 1989, a estrada se estendia quase 1.200 km ao sul de Puerto Montt, passando pelos principais povoados de Aysén, como Coyhaique e Cochrane. Os últimos 100 km até Villa O’Higgins foram entregues no início da década de 90. Além disso, toda uma rede de estradas vicinais também foi construída, totalizando outros 1.200 km. A última dessas estradas vicinais a serem entregues foi aquela que dá acesso a Caleta Tortel, um dos povoados mais pitorescos do país e também uma das principais atrações turísticas ao longo da Carretera Austral.
Trecho final da Carretera Austral, entre Cochrane e Villa O'Higgins. Note que Caleta Tortel fica justamente entre os Campos de Gelo Sul e Norte, na patagônia chilena
Essas estradas foram todas construídas em rípio, mas agora elas vêm sendo asfaltadas lentamente. Hoje, a extensão do asfalto chega a 350 km, quase todo ele nas vizinhanças da cidade de Coyhaique, a grande metrópole regional, com 50 mil habitantes em sua área urbana. O restante continua em rípio que, dependendo da época do ano ou condições meteorológicas, pode estar bem deteriorado. A manutenção tem de ser quase constante, pois o que não falta na região é chuva e neve. Isso quando não há erupções vulcânicas... Outro obstáculo formidável são os grandes lagos e fiordes. Quando não é possível contorná-los e são largos demais para se construir uma ponte, a solução é o uso de balsas. São quatro delas ao longo da Carretera: três para contornar o parque de Pumalin, no norte, e uma para se chegar a Villa O’Higgins, no sul.
Ciclistas enfrentam a chuva ba Carretera Austral, no sul do Chile
Muitas bicicletas na balsa de Puerto Yungay em direção a Villa O'Higgins, no sul do Chile
A beleza da região de Aysén tem atraído cada vez mais turistas à região. A própria Carretera Austral se tornou uma atração turística e milhares de ciclistas vêm pedalar por aqui todos os anos. Mesmo com esse fluxo crescente de pessoas, ainda é muito comum dirigirmos por muito tempo sem ver mais ninguém na estrada, especialmente longe das cidades. Por isso, para quem vem percorrê-la, é importante estar com o carro (ou bicicleta!) em ordem, tanques cheios e pneu sobressalente. Uma comidinha reserva também não faz mal a ninguém. Outra informação fundamental é saber os locais onde há postos de combustível e seu horário de funcionamento. E para quem vai se aventurar pelos trechos de balsa, em algumas se pode fazer reserva e em outras, deve-se chegar com antecedência. São poucos horários diários e as balsas não são grandes.
Plano futuro (2040) para a Carretera Austral, contornando o Campo de Gelo Sul pelo oeste e chegando à Puerto Natales e Punta Arenas. Para atravessar o labirinto de fiordes, seriam necessários 9 trechos de balsa
A segunda parte da estrada, aquela que chegaria até o extremo sul do país, à Puerto Natales e Punta Arenas, por enquanto, só está nos planos. A ideia é construí-la até 2040, mas muitos duvidam que os planos sairão do papel. Para que a estrada esteja plenamente em território chileno, ela teria de contornar o enorme Campo de Gelo Sul pelo oeste. O terreno é formado por dezenas de ilhas e está repleto de lagos e fiordes. Além disso, não há nenhum povoado no caminho. Calcula-se que seriam necessários nove “transbordos” (trechos de balsa) e mais 1.000 km de estradas. A alternativa, muito mais viável, é terminar a ligação de Villa O’Higgins com El Chaltén, já na Argentina, e por aí seguir até Puerto Natales pelo caminho que nós já fizemos nessa viagem. Felizmente, as relações diplomáticas entre Argentina e Chile parecem estar bem melhores ultimamente, tornando esse caminho o mais “inteligente”.
A balsa em Puerto Yungay, que nos leva ao último trecho da Carretera Austral, em direção a Villa O'Higgins, no sul do Chile
Na travessia de balsa, o arcoíris aponta a direção de Villa O'Higgins, no final da Carretera Austral, no sul do Chile
A Fiona se aperta na balsa de Puerto Yungay em direção ao final da Carretera Austral, em Villa O'Higgins, no sul do Chile
Com isso, uma região de natureza ainda quase virgem assim continuaria. Aliás, essa é a principal briga na região de Aysén ultimamente. Não contra a segunda parte da estrada, que ainda está no campo dos sonhos, mas contra a construção de um megaprojeto hidroelétrico, conhecido como Hidroaysén. Ele prevê a construção de 5 barragens ao longo do belíssimo rio Baker, aquele por onde passamos ontem. A energia elétrica produzida seria levada através de milhares de quilômetros de linhas de alta tensão para o norte do Chile, onde seria usada pelas grandes mineradoras. Obviamente esse projeto é muito polêmico e há diversos interesses envolvidos. Felizmente, é uma briga de cachorro grande, pois do lado daqueles que querem preservar, há também muita gente rica. Entre eles, o multi-milionário americano Douglas Tompkins, dono de fazendas e do maior parque de preservação privado do mundo na região. Ele não quer nem estradas e nem linhas de força em suas propriedades. Certamente, ainda vou falar dele nos próximos posts...
Carretera Austral na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Carretera Austral na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Enfim, esse megaprojeto começou a andar ainda no governo socialista de Bachelet, mas foi apenas no governo conservador de Piñera que se conseguiu a licença ambiental das obras da hidrelétrica. Enquanto passamos por aqui, o principal front da briga se dá no processo de obtenção da licença ambiental para as linhas de alta tensão. É comum vermos, ao longo da estrada, enormes cartazes de propaganda pró e contra o projeto e todos aqui tem uma opinião. Pelo menos com quem temos conversado, há mais gente contra do que a favor. Não só pela mudança na paisagem e nos ecossistemas, mas também pelos milhares de trabalhadores que virão para cá. E tudo isso para levar energia para o outro extremo do país e, ainda mais, para uma atividade tão agressiva com a natureza como é a mineração. Nós, obviamente, já tomamos o nosso lado! (veja o P.S no final desse post!).
A Carretera Austral serpenteia oela orla do lago O'Higgins, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Pois é, falando na gente, hoje fizemos nosso primeiro trecho por essa estrada tão famosa. Saímos de Cochrane e seguimos até Villa O’Higgins, passando por Caleta Tortel (assunto do próximo post!) e pela balsa sobre o fiorde Mitchell.
Geleira iluminada pela luz de fim de tarde na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Uma geleira bem próxima à Carretara Austral, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
A natureza é mesmo deslumbrante, muito verde e também o branco no alto das montanhas. As condições da estrada estavam bem melhores do que no pequeno trecho que fizemos ainda ontem, antes de Cochrane. Quase não havia as temíveis “calaminas” (o nome que se dá por aqui às costelas de vaca) e muito pouco trânsito também. De tanques cheios e já sabendo o horário da balsa em Puerto Yungay (que leva à Villa O’Higgins), pudemos nos planejar perfeitamente para passar um bom tempo em Tortel.
Chegando a Villa O'Higgins, onde termina a Carretera Austral, no sul do Chile
Chegando a Villa O'Higgins, onde termina a Carretera Austral, no sul do Chile
Na estrada, era mais comum cruzarmos com vacas e ovelhas do que com motoristas. Outra “espécie” bem comum foi a dos ciclistas que, carregando suas mochilas, percorrem os 1.250 km da Carretera Austral entre duas e quatro semanas. São valentes, enfrentam as calaminas, a poeira, subidas e descidas e os rigores do tempo. Muitos europeus, mas há também americanos, canadenses, chilenos, argentinos e até brasileiros. Na balsa para Villa O’Higgins, havia mais bicicletas do que carros!
Fim de tarde ao sul de Villa O'Higgins, onde termina a Carretera Austral, no sul do Chile
A última ponte da CArretera Austral, já ao sul de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Aliás, um dos trechos mais bonitos da estrada foi justamente o que liga a balsa à Villa O’Higgins. É o trecho mais novo e selvagem da Carretera Austral e a estrada passa, literalmente, entre diversas geleiras. Isso sem falar dos lagos e florestas. Quando chegamos á cidade, lá está a placa marcando o final da Carretera Austral. É um nome muito mais simpático que o nome original, que fazia homenagem ao ditador que a idealizou e construiu, Augusto Pinochet. Ainda é bem comum encontrarmos placas com o seu nome na estrada. Mas a placa final, essa que todos tiramos fotos, felizmente tem o nome novo e famoso: Carretera Austral.
Homenagem a Pinochet na estrada que foi construída durante seu governo, em Puerto Yungay, no sul do Chile
Chegando a Villa O'Higgins, onde termina a Carretera Austral, no sul do Chile
Porém, mesmo com a placa marcando o fim da estrada, ela continua por alguns quilômetros, indo ainda mais ao sul do que Villa O’Higgins. Na verdade, ela termina mesmo em um lago onde, duas vezes por semana, uma balsa faz a travessia. Normalmente, só para ciclistas e andarilhos, mas até cabe um carro ali dentro. Só para moradores locais, nos informaram. Esse é o início do caminho para El Chaltén, na Argentina. É por aqui que, num futuro próximo, quem sabe, carros também poderão seguir. Mas não hoje. Aqui foi o fim de nossa jornada para o sul. A partir de agora, começamos a percorrer toda a extensão da Carretera Austral de sul a norte, os 1.250 km entre Villa O’Higgins e Puerto Montt. Mas não começamos amanhã. Nada disso! Reservamos um dia inteiro para explorar essa pequena vila e, principalmente, o cenário grandioso que a cerca. Amanhã, descanso para as rodas da Fiona e muito trabalho para nossas pernas!
P.S Sete meses depois de passarmos pela Carretera Austral, veio a boa notícia: o conselho de ministros chilenos cancelou a licença ambiental para a construção das barragens da Hidroaysen. A empresa ainda recorre à justiça, mas no início de 2015 admitia em relatórios internos a seus acionistas que todo o investimento já realizado na região deve ser perdido. Pelo menos por hora, a maravilhosa região de Aysén está livre dessa barbaridade.
Placa de protesto contra a construção de hidroeléticas no rio Baker, na Carretera Austral, a caminho de Cochrane, no sul do Chile
Boa tarde. Vi seu blog ... e gostaria de saber se existe passagem de El Chaltén a Villa Ohiggins ... me parece que tem só não tenho conhecimento desse trajeto ... pois pretendo fazê-lo de moto. O norte da Argentina ... até o Peru CUSCO ... eu já fiz ... e agora estou querendo fazer a Carretera. Dai estou na busca dessa passagem informativa ... se puder me ajudar ... desde já agradeço e parabéns pelas fotos. At
Rapaz,
Fico muito contente em saber que os planos das hidrelétricas foram cancelados (pelo menos por agora). Espero que continue assim. Bom, tenho uma dúvida. Você falou um pouco das condições das estradas e eu já li gente falando que fez com carro que não era 4x4. O que você achou? Você acha que dá pra fazer com carro menor?
As estradas de terra da minha cidade são cheias de costelas de vaca, então com essas já estou acostumado :)
Abração,
Helder
Resposta:
Oi Helder
Com um pouco de paciência para andar mais devagar, dá para fazer essa viagem com um carro menor tranquilamente! Agora, que essas costelas de vaca são um inferno, isso são!
Grande abraço
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