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A Fiona em pleno Salar de Uyuni, na Bolívia
Finalmente, chegou o dia de cruzar o mítico Salar de Uyuni. Essa gigantesca planície de sal a 3.600 metros de altitude tem a superfície tão lisa que podemos dirigir sobre ela em todas as direções de olhos fechados por vários minutos e o único perigo é bater o carro em outro carro cujo motorista também esteja com os olhos fechados! Hehehe, seria como ganhar na loteria, mas já aconteceu!
Primeiras horas da manhã no infinito Salar de Uyuni, na Bolívia
Saímos de Puerto Chuvica em direção norte. O caminho? Simplesmente miramos no vulcão Tunupa, do outro lado do salar, e fomos para lá. "Mas não vamos para a ilha Incahuasi?" - perguntei ao Cristobal. "Vamos!" - respondeu - " Daqui a pouco ela aparece aí na frente."
Mildias no Salar de Uyuni, na Bolívia
Salar de Uyuni, na Bolívia
E assim fomos seguindo, algumas vezes parando para tirar fotos da imensidão branca, outras vezes dirigindo com os olhos fechados e sem as mãos no volante, outras vezes acelerando para ultrapassar os 100 km/h. O Tunupa ía crescendo preguiçosamente no horizonte quando, de repente, uma pequena mancha apareceu na mesma direção. A mancha também foi crescendo e agora parecia uma minúscula montanha. Mais alguns minutos e podíamos finalmente distingui-la: era uma ilha! Uma ilha perdida no meio do oceano branco, a ilha de Incahuasi, nosso primeiro destino.
Chegando à ilha Incahuasi, no Salar de Uyuni, na Bolívia
Ao contrário do Tunupa, Incahuasi cresceu rapidamente no nosso horizonte e logo estávamos lá. Ela é um dos principais pontos turísticos do Salar e quando lá chegamos já haviam mais alguns jipes com seus turistas. Advinha quem? Da excursão dos brasileiros que conhecemos na primeira noite! Hehehe, o salar pode ser grande mas o mundo é pequeno!
A Isla Incahuasi, no Salar de Uyuni, na Bolívia
No alto da Isla Incahuasi, no Salar de Uyuni, na Bolívia. Atrás não é neve nem nuvens, é sal!
Deixamos a Fiona estacionada em frente à ilha e fomos fazer a trilha que nos leva até o topo de Icahuasi, a uns 50 metros de altura. A vista lá de cima é magnífica, 360 graus de oceano branco à nossa volta. Além disso, a paisagem da própria ilha também é interessante, repleta de cactus por todos os lados, alguns deles milenares. Mas, mais interessante que os cactus são as formações rochosas, claramente coralíneas. Isso mesmo, antigos corais! Tem até um enorme arco que podemos caminhar por baixo e por cima. Prova que o altiplano boliviano, antes dos Andes, já foi bem mais baixo e de que o mar já andou por lá, conforme tínhamos visto nos cartazes do Parque Cretáceo lá de Sucre. Incahuasi já foi uma grande formação de corais no meio do mar. O tal arco teria sido um excelente ponto de mergulho!
Admirando o salar do alto da Isla Incahuasi, no Salar de Uyuni, na Bolívia
Um grande arco de coral na Isla Incahuasi, no Salar de Uyuni, na Bolívia. Prova de que tudo isso já foi mar!!!
Feita a visita e tiradas as fotos, voltamos para a Fiona e seguimos agora em direção leste, para a cidade de Uyuni, aonde deixaríamos a Krasna e o Cristobal. Mais uma vez, para seguir o caminho a chave era marcar um ponto no horizonte e seguir para lá. Quase uma hora mais tarde cruzando as vastidões brancas chegamos perto do fim (ou começo?) do salar. Alí está o mais tradicional Hotel de Sal e, em seguida, uma parte mais molhada do salar, com pequenas poças d'água que o fazem ainda mais bonito. O pequeno povoado de Colchani marca o início de "terra firme" e de lá são mais uns 20 km para Uyuni. Ali deixamos nossos companheiros, almoçamos e buscamos informações que nos ajudem a chegar até o Chile.
Em verde a nossa rota desde a Laguna Colorada até as travessias pelo Salar de Uyuni
Pois é, ainda queríamos chegar até o Chile, mas logo percebemos que já tinha ficado tarde demais para se chegar lá hoje. Assim, o nosso destino passou a ser o pequeno povoado de Llica, na extremidade oeste do salar. Seriam mais 150 km de travessia pelas vastidões brancas, dessa vez só nós dois a bordo da Fiona. É uma rota muito menos usada do salar, já que bem poucos turistas seguem para lá, e portanto quase sem marcas de pneu.
Adesivo do 1000dias no Salar de Uyuni, na Bolívia
Mesmo assim, seguimos em frente. Sabíamos mais ou menos o rumo. O Tunupa ficaria à nossa direita, lá pela metade do caminho. Primeiro, seguimos até o Hotel de Sal tradicional. Compramos umas cervejas para comemorar (ainda não tem bafômetro no salar!), apontamos o nariz para frente e seguimos. Num ambiente desse, onde as referências são montanhas a centenas de quilômetros de distância e todo o resto é uma planície branca e sem formas, tempo e distância enganam bem. Cinquenta minutos numa direção e topamos um jipe. O gentil motorista corrigiu um pouco nossa rota e apontou umas montanhas no horizonte: "É para lá!". E para lá seguimos. Outros 50 minutos no meio do nada, sem viva alma pela frente (nem por trás, nem para os lados!), já perto de umas ilhas bem próximas da borda do salar e cruzamos mineradores de sal. Mais informação, mais uma correção de prumo e, dessa vez, apontamos para o lugar certo. Finalmente, encontramos rastros que aos poucos se tranformavam em estrada e, mais alguns minutos, chegamos à Llica. Tínhamos atravessado o salar de ponta à ponta! Experiência absolutamente inesquecível!
Parte molhada do Salar de Uyuni, na Bolívia
Em Llica, instalamo-nos na simples e única hospedaria aberta da cidade e descolamos os últimos pollos con papas fritas do restaurante local. Só dançamos com o chuveiro do hotel, que estava queimado. Só água fria (gelada!). Mais um dia sem banho... Ainda bem que no frio a gente não sua, hehehe. Estamos quase no fim da nossa jornada. Falta, amanhã, conseguir seguir a confusa rota que leva à fronteira com o Chile, cruzando mais um salar, o Coipasa, bem menor que o gigantesco Uyuni, mas ainda de tamanho de meter respeito. Vamos ver como nos saímos...
Exploração de sal no Salar de Uyuni, na Bolívia
Praia repleta de lobos-marinho em Stromness, na Geórgia do Sul
Nossa caminhada de hoje terminou em um estranho lugar chamado Stromness, exatamente onde Shackleton finalmente conseguiu abrigo e ajuda para seus amigos deixados para trás há quase 100 anos. O cenário que ele encontrou naquele tempo, uma estação baleeira a pleno vapor com mais de 100 pessoas morando no local difere bastante do que vimos, prédios decrépitos e caindo aos pedaços frequentado apenas por pinguins, lobos e elefantes-marinho. Qual, afinal, é a história desse e de outros lugares parecidos espalhados pela costa norte da Geórgia do Sul?
A antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Elefante-marinho descansa em Grytviken, na Geórgia do Sul
Um desses lugares é Grytviken, para onde seguimos na tarde de hoje. As mesmas ruínas, mas pelo menos limpas de detritos e destroços mais perigosos para que turistas possam se aproximar e ver de perto como funcionavam essas verdadeiras máquinas de matar e processar baleias. Grytviken foi o primeiro, o maior e o último a deixar de funcionar entre todos os postos baleeiros da Geórgia do Sul, que tiveram seu auge na década de 20 e fecharam definitivamente as portas no início dos anos 60. Sua história resume bem o que passou com as outras estações baleeiras.
Um antigo barco da estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Pontas explosivas de arpão para matar baleias expostas no museu de Grytviken, na Geórgia do Sul
No final do séc. XIX o óleo de baleia era cada vez mais utilizado, desde na fabricação de cosméticos como sabonetes e loções até para a iluminação pública, passando pela produção de explosivos de nitroglicerina. Com a demanda cada vez maior, cresceu também a pesca comercial desse grande cetáceo, sendo desenvolvidas técnicas cada vez mais precisas e armamentos ainda mais mortíferos para abater as baleias. Pontas de arpão aliaram-se a granadas e cada vez menos os animais tinham chance de escapar depois de serem atingidos. Esse desenvolvimento tecnológico deu-se principalmente na Noruega, aonde baleias já vinham sendo caçadas há séculos, mas jamais nessa escala. Não demorou muito para que esses animais praticamente sumissem dos mares do norte.
As ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Busto do Capitão Larsen, fundador de Grytviken, na Geórgia do Sul
As baleias podem ter sumido de lá, mas a demanda por seus subprodutos só aumentava, assim como o preço pago por eles. Eis que, então, o norueguês Carl Larsen, ao participar de uma expedição cientifica nórdica aos mares do sul, percebeu que havia muitas baleias por aqui. Voltou para casa e não descansou enquanto não arrumasse financiamento para instalar na Geórgia do Sul a primeira estação baleeira nessa parte do mundo. Deu trabalho, mas ele conseguiu. O ano era 1904 e a nova instalação foi batizada de Grytviken.
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Um antigo baleeiro encalhado em Grytviken, na Geórgia do Sul
Os primeiros anos de operação foram absolutamente “fantásticos”. Para os investidores, claro! O retorno chegava a ser de 35% ao ano! É claro que uma bonança dessa logo atraiu a concorrência e, em poucos anos, já eram outras cinco estações operando na ilha. No início, nem precisavam ir longe para achar as baleias que eram abundantes ao redor da ilha. A preferida era a “right whale”, a nossa “franca”. O “right” quer dizer “certa”. “Certa” porque ela era lenta e nadava sempre próxima à superfície, sendo muito fácil de ser arpoada. Naquela época, baleias mais rápidas ainda conseguiam fugir de seus caçadores. Mas a tecnologia trabalhava a favor dos homens e logo a propulsão dos barcos baleeiros melhorou e possibilitou que todos os tipos de baleia fossem caçadas.
Fotos da antiga estação baleeira de Grytviken ainda em funcionamento, na década de 50, na Geórgia do Sul
Diagrama em japonês sobre como aproveitar uma carcaça de baleia, exposta no museu de Grytviken, na Geórgia do Sul
A técnica era, desculpe-me a expressão, “desumana”. Uma baleia era arpoada com aquele arpão-granada que a deixava fora de ação, mas ainda viva. Os baleeiros, então, injetavam ar na baleia, para que ela não afundasse. Depois, colocavam uma bandeira e um beep sobre seu corpo e iam caçar mais baleias. Depois de matar quantas pudessem carregar, recolhiam suas cargas pelo mar e as guinchavam para a estação na Geórgia do Sul. Aí eram levantadas por guindastes para terra firme onde finalmente morriam. Eram cortadas, fatiadas, e aproveitadas ao máximo, a gordura, a carne e até os ossos. Muitos dos baleeiros se compadeciam do seu sofrimento, especialmente um espécie que parecia chorar quando era arpoada. Mas o dinheiro falava mais alto. Um bom dinheiro.
As ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Chegando a Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
A matança só aumentava, ainda mais quando mais companhias entraram no negócio, operando diretamente em alto-mar e usando as instalações da Geórgia do Sul apenas para estocar. Baleias com mais de 30 metros de comprimento foram mortas e “industrializadas” em Grytviken. No seu primeiro ano de operação, foram 183 baleias mortas. Em 1931, foram 40.201 mortas em toda a região. As próprias empresas perceberam o exagero, notaram que estavam matando a sua galinha dos ovos de ouro. Resolveram, voluntariamente, impor-se cotas. Mas elas vieram tarde demais. As baleias estavam praticamente extintas nos mares do sul.
Um altivo lobo-marinho na praia de Stromness, na Geórgia do Sul
Na praia da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Para piorar sua situação, essa superprodução havia baixado bastante os preços dos derivados de baleia. Por mais eficiente que fosse a exploração, o custo de encontrar as poucas baleias existentes elevava o preço final. Produtos semelhantes apareciam para disputar com os derivados de baleia. As empresas começaram a fechar suas operações. Grytviken foi a que mais resistiu. Tinha gordura para queimar. Gordura nos dois sentidos. Gordura monetária acumulada nos anos de bonança e gordura de lobos e elefantes marinhos, que ela também começou a operar. Mesmo assim, as coisas não iam bem.
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Lobo-marinho não parece se importar com a placa na antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
O fundador, Larsen, não chegou a ver esses anos negros. Morreu a bordo de um navio, ainda na década de 20, procurando por baleias em novas regiões do oceano. Grytviken resistiu até o início dos anos 60, quando foi comprada por japoneses. Por dois anos, tentaram fazer com que ela ainda desse dinheiro. Mas no fim, perceberam que o futuro estava mesmo nos navios-fábrica, que matam e já processam a baleia ali mesmo. Produtividade ao máximo. Finalmente, Grytviken foi abandonada. Um lugar onde já moraram 500 homens, muitos acompanhados de suas famílias, agora era deixado para trás. O mesmo destino das outras estações.
Ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Deixando a antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Meio século se passou desde então. Cinquenta anos para que o tempo e o mau tempo agissem sobre aquelas construções de metal. Vento, frio, chuva, neve e maresia, todos unidos para devolver à natureza aquilo que um dia foi dela. Se ela já fez isso nesse meio século, imagina só daqui a 500 anos. Ou 5 mil. Isso não é nada, é apenas um piscar de olhos no tempo das coisas. Enfim, só podemos ver como está agora. E imaginar como vai estar depois...
Chegando a Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
A boca aberta do elefante-marinho é mais efetiva do que a placa em Stromness, na Geórgia do Sul
E agora, bem, como eu já disse, parece uma cidade fantasma. Inacessível para nós, humanos. Os perigos lá dentro são tão grandes que as autoridades proibiram a entrada. Para nós, humanos. Hoje, quando chegamos a Stromness, uma névoa cobria o local, emprestando-lhe um aspecto ainda mais tétrico. Gosto de imaginar o lugar quando Shackleton lá chegou. Mas não imagino a fábrica de processamento de baleias. Apenas a casinha do administrador, lareira acesa, café na mesa e ele com a cara mais incrédula e estupefata do mundo ao ver aqueles 3 homens barbudos à sua porta, vindos sabe lá de onde. O resto, a tal fábrica, prefiro vê-la como está hoje, caindo aos pedaços.
Pinguins não parecem se incomodar com o barco encalhado na praia de Grytviken, na Geórgia do Sul
Elefantes e lobos-marinho ocupam as ruínas de Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
Mas o lugar não está deserto. Muito pelo contrário. Pinguins, elefantes e lobos marinhos circulam por lá à vontade. Fosse há um punhado de décadas atrás, também eles seriam “processados”. Mas hoje, aquele território lhes pertence. De direito!
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Placas informativas espalhadas pela antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Grytviken só não está igual porque foi feito um grande esforço para fazê-la segura aos turistas. Aqui podemos transitar mais perto das antigas instalações. Painéis informativos espalhados pelo local explicam cada passo do processamento das baleias. Ao mesmo tempo, entre um prédio e outro, ou então na praia, ossos de antigas baleias continuam espalhados por lá. Nas primeiras décadas de funcionamento, apenas a gordura dos animais era processada e o resto, a carcaça, era deixada ali mesmo, para a natureza. Os ossos, mais resistentes ao tempo, continuam ali para nos lembrar do que aconteceu naquele lugar.
Ossos de baleia ainda são comuns em Grytviken, na Geórgia do Sul
Elefantes-marinho descansam em Grytviken, na Geórgia do Sul
Nosso tempo em Stromness foi só aquele para esperar que os zodiacs nos levassem a todos de volta ao Sea Spirit. Enquanto isso (fomos na última leva), tivemos tempo para ver, fotografar e refletir. A quantidade de vida que há hoje onde ontem só havia morte é impressionante. Impossível não sorrir em ver a ironia da situação. A população de lobos e elefantes marinhos já se recuperou desde aqueles tempos sombrios, mas a de baleia ainda não. Mas ver aquela praia escura cheia de pinguins e lobos nos dá uma esperança que elas também, um dia, voltarão.
Tarde de sol em Grytviken, na Geórgia do Sul
Indicações na trilha para o The Quill, em Statia - Caribe
Tem lugar onde a gente toma um café e depois vai caminhar na praça. Em outros, damos um pulo na praia. Coisa normal, do cotidiano. Praças, praias e, por aqui, vulcões, coisas do dia a dia, todo mundo acostumado...
Início da trilha para a subida do The Quill, em Statia - Caribe
Aqui no Caribe, principalmente nesta região, as ilhas são todas de origem vulcânica e o progenitor, em muitos casos, ainda está lá, cheio de saúde, meio dorminhoco. Ninguém se assusta. Assim era em Montserrat, uma pequena e pacata ilha muito parecida com essas que temos visitado (ainda vamos lá, numa outra temporada caribenha dentro desses 1000dias!). Por gerações e gerações o vulcão era só parte da paisagem, um ponto de referência. Até que, um belo dia, no final da década de 90, acordou e mudou para sempre a vida de todos. Acabou com a capital da ilha, expulsou quase toda a população do país e voltou a dormir. Simples assim. De nada adiantou toda a tecnologia do séc. XX, cientistas do mundo inteiro, canais de TV, etc... Numa hora dessa, voltamos a ser o que sempre fomos perto das grandes forças: formiguinhas indefesas.
A floresta no fundo da cratera do The Quill, em Statia - Caribe
Bom, aqui em Statia, felizmente, o The Quill anda dormindo profundamente nos últimos quinze séculos. O bastante para uma densa floresta se desenvolver nas encostas da montanha e, principalmente, no fundo da cratera. Ali, um microclima particular se encarrega de criar muita umidade, quase 3 mil mm de chuva por ano que, aliado à terra fértil, sustenta árvores grandes e pesadas. Do lado de fora, faz tempo que o homem branco devastou a floresta e agora ela cresce novamente, de pouquinho em pouquinho.
Cratera do The Quill, em Statia - Caribe
Pois então, eu e a Ana tomamos calmamente nosso café e seguimos em direção ao The Quill, palavra que vem do holandês e significa algo como "pinico". Uma longa rua asfaltada segue diretamente para as encostas do vulcão e nos leva para o início da trilha. Esta nos leva gentilmente através da mata renovada da montanha, ganhando altitude aos poucos. No caminho, pequenas lagartixas e o carangueijo ermitão, uma espécie engraçada que carrega sua casa nas costas. Quando ele se sente ameaçado, se espreme nela e vira uma bola. Os menores, parecem uma bola de pinqueponque. Os maiores, de tênis. Neste formato, simplesmente rolam montanha abaixo, tentando escapar. Muito engraçados!
Equilibrando-se sobre a cratera do The Quill, duzentos metros abaixo de nós! (em Statia - Caribe)
Sempre na sombra, seguimos até a parte mais baixa da crista do vulcão, a uns 430 metros de altura. Aí, a primeira vista da grandiosa caldeira. Como já disse antes, não é uma caldeira vermelha, de fogo, mas verde, de mata. O cenário deveria ser bem diferente há dois mil anos!
No alto do The Quill vive um galo! (em Statia - Caribe)
Além da beleza do cenário, algo mais nos chamou a atenção! O guardião da cratera nos esperava: um orgulhoso e vistoso galo de penas vermelhas. Não sei se ficou ali esperando alguma comida ou apenas nos vigiando, mas não parou de nos observar, desfilando suas belas penas entre nós. Sujeito engraçado!
Uma das dezenas de cobras que vimos na caminhada ao The Quill, em Statia - Caribe
Deste ponto saem três trilhas: a primeira, mais curtinha, para um mirante; a segunda para o fundo da cratera; e a terceira para o ponto mais alto da crista, chamado Mazinga, com exatos 600 metros de altura. Por esta última seguimos, ávidos por chegar ao ponto mais alto da ilha. Mas o nosso ritmo teve de diminuir bastante. Primeiro porque a trilha ficou bem mais rústica, serpenteando entre pedras e árvores na estreita crista. Mas principalmente pela enorme quantidade de cobras malhadas, com pouco mais de um metro de comprimento, não venenosas. A Ana foi se apavorando com elas quase tanto quanto elas conosco. Devemos ter visto umas cinquenta. Ao final, para mim, já eram como minhocas. Mas não para a Ana, que não conseguia se acostumar. Enfim...
A neblina encobre a Ana, na encosta do cume falso do The Quill, em Statia - Caribe
Pouco antes de chegar, o tempo fechou, muita neblina. Chegamos ao ponto onde havia a placa do tal de Mazinga e verificamos que se podia subir mais. A trilha ficou mais rústica ainda. Mas, na crista estreita, não tem como errar. Abrindo caminho nas folhagens, chegamos ao que parecia ser o pico, uma grande pedra se destacando do resto. Mas, eis que a neblina abriu um pouco e verifiquei que ainda havia outro ponto mais alto, um cocurucho à frente. A Ana resolveu ficar e eu segui, questão de orgulho. Dez minutos mais tarde, chegava aos 600 metros de altura. Junto comigo chegou uma mensasem de celular do primo Haroldo, que viaja pela região de Chamonix, na França. Naquele mesmo momento, estava a 3.600 metros de altura, dizia a mensagem. Isso é que é coincidência!!!
Incrível figueira na cratera do The Quill, em Statia - Caribe
Voltei para a Ana, enfrentamos as cobras novamente e voltamos ao ponto inicial, agora para descer para a cratera. Fica a 280 metros de altura e tem árvores gigantes, verdadeiras maravilhas da natureza, dignas de contemplação e adoração! Árvores que já existiam quando escravos fugidos das plantations usavam a cratera como esconderijo. Aliás, que dureza ser escravo numa ilha pequena... Fugir para onde???
Belo fim de tarde em Oranjestad, em Statia - Caribe
Voltamos para a crista e de lá para a cidade, em tempo para admirar o belo fim de tarde. E com muita fome! Afinal, um passeio pelo vulcão pede um bom jantar, não? Amanhã, despedida do mar, da ilha e de volta a Siint Maarten. Nossa temporada caribenha se aproxima do fim. Chega de sol, praias e... vulcões.
O orgulhoso guardião do The Quill, em Statia - Caribe
Banho de mar matinal em Santa Teresa, no litoral do Pacífico na Costa Rica
Chegou o dia de partir do nosso delicioso refúgio na praia de Santa Tereza, o hotel Ranchos Itauna. Como sempre acontece no dia que deixamos à praia, o dia amanheceu lindo, sol radiante. Assim, apesar da longa viagem pela frente, quando a Ana falou que queria dar um último mergulho, nem deu para argumentar. De manhã cedo a maré está vazia e uma grande piscina se forma bem em frente aonde estamos. Impossível resistir...
Preparando-se para entrar no mar pela manhã, em Santa Teresa, no litoral do Pacífico na Costa Rica
Depois, hora das despedidas. Primeiro da nossa simpática companheira de quarto, a alemã Catherine. Depois, do senhorio, o astríaco Peter a a carioca Fátima. E da filhinha Sofia, claro!
Com a alemã Catherine, nossa companheira de quarto em Santa Teresa, no litoral do Pacífico na Costa Rica
O tempo foi passando e já desistimos de chegar na Nicarágua ainda hoje. Sem esse objetivo, achamos que ainda daria tempo para um típico programa de surf town: café da manhã bem sadio na padoca. Muito bom!
Com o Peter e a Fátima, donos do Ranchos Itaúna em Santa Teresa, no litoral do Pacífico na Costa Rica
Bom, finalmente colocamos o pé na estrada. O primeiro trecho até que foi rapidinho, a mesma estrada que nos trouxe até aqui do ferry. Mas depois, para a minha infeliz surpresa, descobrimos que a estrada que segue para o norte da península de Nicoys é quase toda de terra. O ritmo imaginado para a viagem foi impossível de ser seguido e tudo o que podíamos fazer era admirar a bela paisagem do golfo ao nosso lado.
A rua principal de Santa Teresa, surf town da costa pacífica da Costa Rica
Enfim chegamos à ponte que atravessa o finalzinho do golfo, presente de Taiwan para a Costa Rica. Na sua inglória luta com a China continental nas relações públicas internacionais, Taiwan adora esses tipos de presentes... Dali seguimos para nossa velha conhecida rodovia Panamericana. Felizmente, segúíamos para o norte, livre, e não para San José, engarrafado!
Exibir mapa ampliado
Na bifurcação quarenta quilômetros ao norte, pegamos a Rodovia 4. Mais ou menos por aí, finalmente, batemos o recorde de latitude norte da Fiona. Foi só agora que deixamos Cartagena (Colômbia!) para trás! Mais meia hora e chegamos ao Parque Nacional Tenorio, bem próximo à cidade de Bijagua. Fomos até a entrada do parque já sem esperanças de entrar, pois já era tarde para um passeio. Mas amanhã, às oito da manhã, faça chuva ou faça sol, voltamos! Finalmente, vamos conhecer o Rio Celeste, a principal atração do lugar, já que o tal vulcão Tenório, faz tempo, está com o acesso fechado. A pouco mais de um quilômetro do parque encontramos uma simpática pousada, com direito até à jacuzzi. Um bom lugar para passar a noite. Nesse lugar, só chegam turistas de carros. E na nossa pousada, lá estavam o alemão Lutz e o casal suiço Marcel e Alice, com seus carros alugados. Depois de um jantar em conjunto, o bom e velho arroz com feijão que também é muito tradicional por aqui, combinamos: amanhã vamos todos juntos ao parque.
Nosso quarto no Parque Nacional Tenorio, na Costa Rica
"Por milhares de anos, provavelmente, as pinturas do Lajedo permaneceram intactas, perenes e mudas testemunhas de uma cultura desaparecida; símbolos de rituais, de sobrevivência, de árduas lutas; representações da mentalidade, das esperanças e dos sonhos de grupos humanos há muito desaparecidos na amplidão do tempo.
Habitantes de um mundo sem divisões políticas, suas pinturas estão repletas de sentido universal, memórias atávicas de todos os homens, herança de nossa ancestralidade".
Pinturas rupestres no Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
Estivemos hoje, no caminho entre Galinhos e Mossoró, no Lajedo da Soledade, próximo à cidade de Apodi, interior do Rio Grande do Norte, quase fronteira com Ceará. É mais uma região onde se encontram fósseis de animais pré-históricos, principalmente da megafauna, como preguiças gigantes e trigres dente-de-sabre, e pinturas rupestres com milhares de anos de idade, deixadas por paleoíndios há muito desaparecidos. Logo na entrada do parque há um museu bem informativo. E na entrada do museu, um texto que eu gostei muito, do qual reproduzo alguns trechos mais marcantes, e para mim muito significativos, no início e no final deste post.
Com a Ana, da pousada Ilha do Pisassal, em Galinhos - RN
Antes de lá chegar, tivemos de deixar a tranquila Galinhos. Despedimo-nos da simpática Ana, da Pousada Ilha do Pisassal, que tinha nos recebido tão bem e que se esmeirava em nos fazer bem alimentados no café da manhã e tomamos o barco de volta a Pratagi, onde estava a nossa Fiona. Mais uma vez, deliciosas reminiscências da Ilha do Mel.
A caminho do barco para deixar Galinhos - RN
No barco com toda a nossa bagagem dos dois dias em Galinhos - RN
A estrada para o interior cortou uma enorme área de exploração de petróleo. A própria estrada é obra da Petrobrás. Aos poucos, vamos nos acostumando com a exótica figura de bombas de petróleo instaladas no meio da caatinga. O Rio Grande do Norte é o maior produtor de óleo em terra do Brasil.
Lajedo da Soledade, em Soledade, região de Apodi - RN
Passamos por Apodi e fomos direto ao distrito de Soledade. Lá, já no museu, nos providenciaram um guia, o Cézar, para nos levar ao Lajedo. Um grande campo de rochas caucárias formado sob o mar que há muito recuou, deixando as rochas e sedimentos sobre o efeito das intempéries. O resultado foi que vários canais, pequenos canyons, se formaram nas rochas. Esses canais formam pequenas tocas que serviam de abrigo aos habitantes de outrora. Eles se aproveitavam do teto, das paredes e mesmo do piso para deixar suas marcas.
O Cézar nos mostra o Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
O resultado é um tesouro arqueológico, belas pinturas rupestres que nos contam um pouco a história desse povo e nos faz tentar imaginar quem eram e como viviam. A região já era seca e quente e, provavelmente, só era usada nos meses de chuva por esse povo de características nômades. Ali faziam seus rituais e representavam seus sonhos e angústias. Essas pinturas acabaram por perpetuá-los (pelo menos até hoje!), uma ligação direta com um passado que já teria desaparecido por completo, não fosse por essas incríveis pinturas.
Pintura de lagarto no teto de uma toca bem baixa no Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
São formas geométricas, calendários e contagens. São figuras humanas e também de animais, maravilhosamente representados. Há uma arara que é uma obra de arte! Muitas figuras de mãos que denotam que esse povo deveria ser de pequena estatura, prova de uma vida difícil com poucos alimentos.
A bela pintura da Arara, no Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
Ali do lado há outro sítio, chamado Olho d'Água, uma espécie de armadilha para animais. Eles íam ali beber água, caíam na piscina e de lá não saíam. Azar deles, sorte nossa! Acabaram virando fósseis e hoje podem ser estudados por nós. Gigantescos animais que um dia dominaram essa região. Pelo porte, são prova inequívoca que o sertão já foi muito mais úmido, com uma vegetação muito mais densa.
Observando o Olho d'Água, local onde foram encontrados muitos fósseis no Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
Puxa... quando é que vão inventar a máquina do tempo? Eu não pensaria duas vezes em trocar os nossos 1000dias pela América por 1000dias pelos últimos 100 mil anos...
Explorando toca no Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
Fileira de pássaros voando em direção ao sol, pintura rupestre no Lajedo da Soledade, região de Apodi - RN
Há uma mensagem nas ravinas coloridas de pinturas. Uma mensagem de outra época, de outros homens que, no ato de se perpetuarem, parecem gritar, maravilhosamente humanos: "Estivemos aqui! Cuidem de nós!"
Devil's Bay, ao lado de The Baths, em Virgin Gorda - BVI
Nessa viagem eu e a Ana estamos sempre fotografando e filmando. Depois, quando conseguimos sentar e respirar, escrevemos, caprichamos nos posts. Mas podem ter certeza: são dezenas e dezenas de momentos, de paisagens, de situações, de pessoas que nós não conseguimos registrar. Situações que, por si só, mereceriam um post, um filme, muitas fotos. É incrível e, ao mesmo tempo bem triste, a nossa impossibilidade de registrar tudo que mereceria ser registrado. Às vezes, queria ter o Woody Allen e o James Cameron, cada um com uma equipe, nos acompanhando e registrando tudo, com suas visões privilegiadas e faro aguçado. Não tenho, claro.
Ao longo do dia, sempre que não consigo tirar a foto que queria (nossos olhos são tão infinitamente superiores às nossas câmeras...), faço apontamentos mentais, imagino como descrever aquilo num post. Mas, essas situações se sucedem e, ao final do dia, preguiçoso, literariamente incapaz, quando muito posso escolher duas ou três situações e tentar, mal e porcamente, descrevê-las. Sempre durmo com uma espécie de culpa, de dever não cumprido. Não basta dizer que eu tentei (e eu tento!). Queria conseguir.
Enfim, já me acostumei com esse sentimento e posso conviver com ele. Melhor ter as poucas fotos e posts que temos do que não ter nada (o que já me aconteceu em outras viagens e, isso sim, é imperdoável). Como alternativa, quando passo por esses momentos marcantes, tomo consciência disso naquele mesmo instante. Tento aproveitá-los ao máximo, curti-los intensamente e fazer um esforço mental para guardá-los, solidamente, em minha memória. Quando faço isso, tenho sempre a impressão que será para sempre. Doce ilusão. Numa viagem como essa, por tantos lugares especiais e com dias tão intensos, esses momentos especiais se sucedem, vários ao dia. O que era algo "inesquecível" num dia, passa a ser uma vaga lembrança na semana seguinte. E depois, acaba se perdendo. Não tudo, claro! Mas, podem ter certeza, vários momentos, várias situações se perderam e vão se perder. Triste. Mas foram eternos durante algum tempo, pelo menos. Como já dizia o poeta: a eternidade é fugaz.
Magnífico fim de tarde nos Dois Irmãos, em Fernando de Noronha - PE
Depois do dia incrível ontem, alguém poderia achar difícil manter o mesmo padrão no dia seguinte. Não aqui em Noronha! Fizemos o mergulho considerado por muitos o mais bonito de Noronha, fomos à praia apontada por várias revistas como a mais bonita do Brasil e assistimos a um pôr do sol que é cartão postal no Brasil inteiro.
Fernando flutuando sobre cardume durante mergulho na Lage Noronha, em Fernando de Noronha - PE
Pedras Secas é um ponto de mergulho no Mar de Fora, bem mais agitado que o Mar de Dentro. O nome vem do fato que algumas pedras de duas formações que ficam bem próximas entre si chegam a aflorar (aparecer na superfície). São as Pedras Secas I e II. A visibilidade facilmente ultrapassa os 50 metros, há incríveis formações de coral, que tomam a forma de tocas, túneis e pequenas cavernas e a quantidade de vida marinha é inacreditável. O mergulho é raso e é possível passar muito tempo por lá explorando vários recantos sem a necessidade de descompressão. O limite é o ar em nossas garrafas.
Pasagem sobre corais durante mergulho nas Pedras Secas, em Fernando de Noronha - PE
Depois de fazermos o primeiro mergulho na Lage Noronha, um ponto que ainda está sendo desenvolvido e no qual vimos muitos peixes, um tubarão limão e uma linda arraia Chita, seguimos para as Pedras Secas com o ambicioso plano de fazer a travessia e conhecer as duas formações num mesmo mergulho.
Pasagem sobre corais durante mergulho nas Pedras Secas, em Fernando de Noronha - PE
A correnteza não ajudou muito, dificultando nossa locomoção. Mesmo assim, todos ficamos impressionados com as formações de Pedras Secas II, principalmente a "caveira", um conjunto de cavernas e janelas no coral que, vistas de determinado ângulo, parecem uma caveira. O mergulho é mesmo lindo. Junto com as centenas de peixes, a gente fica dançando com a corrente admirando a rica vida marinha, as formações de corais e as ondas que quebram logo acima de nós. Qaindo terminamos de ver Pedras Secas II o ar do Haroldo tinha acabado e ele teve de voltar. Eu e a Ana seguimos com o Fernando para nos esbaldar em Pedras Secas I. Mais vida marinha, mais formações, mais água inacreditavelmente limpa.
Subida do mergulho nas Pedras Secas, em Fernando de Noronha - PE
Praia do Sancho vista de cima, em Fernando de Noronha - PE
No almoço, fugimos dos altos preços e comemos num restaurante por quilo bem conhecido, o Flamboyant. De lá, táxi para a incrível Praia do Sancho. A gente chega por cima, numa falésia com 50 metros de altura. De lá, pode-se observar a pequena baía de areias amareladas e águas verde-transparentes. Talvez não seja a mais bonita do Brasil (até porque isso não existe!), mas certamente está na lista das mais belas.
Descendo para a Praia do Sancho, em Fernando de Noronha - PE
O acesso também é incrível. Descemos através de uma fenda nas falésias, fruto das fraturas que ocorreram com o rápido resfriamento das rochas vulcânicas que formaram a ilha há 5 milhões de anos. Com a ajuda de escadas de bombeiro, vamos atravessando e descendo a rocha até chegarmos à praia. Difícil imaginar cenário mais paradisíaco! Lá embaixo, 400 metros de areia para que o haroldo pudesse treinar para suas maratonas. Depois, todos fizemos sorkel perto das pedras. Com a temperatura agradável da água, além, é claro, da transparência, pode-se ficar horas por ali vendo peixes coloridos, lagostas e, com sorte, até golfinhos.
Correndo na praia do Sancho em Fernando de Noronha - PE
De lá seguimos à pé até o mirante do Boldró, principal ponto de onservação na ilha do espetáculo diário do pôr-do-sol. Aqui, a visão dos Dois Irmãos no fim de tarde consegue fazer tudo ficar ainda mais belo. Em uma certa época do ano, o sol se pôe exatamente entre eles!
Fim de tarde no mirante do Boldró, em Fernando de Noronha - PE
Dia cheio e maravilhoso novamente que nos preparou para o tão ansioso mergulho do dia seguinte: finalmente, a Corveta por dentro!
Voltando do mergulho na Corveta, em Fernando de Noronha - PE
Entrando na Colômbia, na cidade de Ipiales
Nosso plano hoje era sair cedinho para a Colômbia e já chegar na cidade de Popayan ou, pelo menos, Pasto, já a quase 100 km da fronteira. Mas, ficamos só nas boas intenções... Na verdade, até que acordamos cedinho, mas toda a nossa manhã foi gasta na procura do nosso celular.
Paisagem equatoriana chegando perto da fronteira com a Colômbia
Voltamos até Mitad del Mundo, para ver se não tínhamos deixado lá. De nada adiantou o pente fino no carro, no hotel ou na metade do mundo. Foi-se. Evaporou-se. Escafudeu-se. E, dessa vez, nem podemos colocar a culpa no Lampião, como fizemos na fronteira entre Alagoas e Sergipe, quando perdemos o outro celular. Uma pena, pois a Ana já estava ficando craque nele. Bom, pelo menos vamos economizar na conta telefônica... Quanto às nossas cabeças, felizmente estão muito bem presas aos nossos pescoço!
Viagem entre o Equador e Colômbia
Enfrentamos então nossas últimas horas de bonitas e complicadas estradas equatorianas. Muitos caminhões, muitas curvas. Chegando mais perto da fronteira, o trânsito diminuiu e o ritmo melhorou. Enchemos o tanque do carro uma última vez para aproveitar o preço (cinquenta centavos por litro!) e nos despedimos do país.
Vista do belo vulcão Cayambe, na viagem entre o Equador e Colômbia
Cruzar a fronteira foi, mais uma vez, relativamente tranquilo. Não estão muito acostumados com carros brasileiros por aqui e chamamos bastante a atenção. Agora, já estamos os três regularizados na Colômbia, eu, a Ana e a Fiona. Mas, para ela, vamos ter de comprar um seguro daqui a 10 dias, já que o nosso brasileiro está chegando ao final do prazo.
Chegando à fronteira entre Equador e Colômbia
Já com o dia terminando, dormimos mesmo na tranquila Ipiales, quase ao lado da fronteira. Amanhã, numa viagem que promete ser muito bonita, vamos até Popayan, por uma estrada que já foi considerada muito perigosa por causa da ação da guerrilha mas que hoje é bem tranquila, dizem os colombianos. A conferir...
Chegando à fronteira entre Equador e Colômbia
Admirando a lua quase cheia do final de tarde no Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
O dia chega cedo aqui na Costa Rica. Cinco e meia e o céu já está claro. Foi nessa hora que acordei, no nosso quarto na pousada Descanso. Aí, no friozinho das primeiras luzes, fiquei esperando o Francisco vir me chamar conforme tínhamos combinado. Seis horas e ele, depois de já ter corrido seus 40 minutos diários, bateu na porta. Vinte minutos mais tarde e eu já estava na administração do parque para pagar os extorsivos 40 dólares por pessoa. São 15 por dia, mais 10 para dormir no refúgio.
Início da caminhada de 20 km ao pico Chirripó, o mais alto da Costa Rica
Depois, foi o tempo de fazermos algumas compras de comida e tomar um saboroso café da manhã na pousada, com direiro a frutas e granola. Finalmente, o Francisco nos levou de carro até o início da trilha, 2 quilômetros acima por estrada, a pouco mais de 1.500 metros de altitude. À partir daí, ficava tudo por conta de nossas pernas. Eram 9 horas da manhã quando demos nossos primeiros passos.
Muito barro no início da trilha no Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Eu carregava uma mochila maior, com os sleepings, material de cozinha e comida, além de roupas. A Ana, com uma mochila menor, levava roupas e a máquina fotográfica. Apesar do pouco peso, a manhã nunca é a praia da Ana e o início foi bem sofrido para ela. Principalmente porque, apesar dos 40 dólares, a trilha estava, neste ponto, em péssimas condições. Muito escorregadia pela quantidade de barro. Ladeiras que ficam eternamente na sombra de árvores se transformam em verdadeiros tobogãs depois da época das chuvas. Aí ficou bem claro porque a corrida de ida e volta ao refúgio é feita em Fevereiro.
Trekking no Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Mas, aos poucos, a gente foi esquentando os músculos, a trilha foi melhorando e tudo ficou muito mais agradável. Uma longa subida através da mata, aqui e ali com pontos mais abertos onde podíamos admirar a bela paisagem tropical ao nosso lado. A cada quilômetro uma placa nos avisava do nosso avanço, na distância e na altitude. Assim, em cada curva tínhamos a esperança de ver a placa lá na frente. Quando aparecia, era um alívio, um sinal concreto do nosso avanço.
Trekking no Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Assim fomos seguindo, protegidos primeiro pela sombra e depois pela quase eterna neblina que cobre um longo trecho da mata, dando à floresta um aspecto fantasmagórico. Passamos a barreira dos 2 mil metros, motivo de celebração. Cruzamos com gente descendo, nos dando dicas valiosas sobre a trilha à frente. Finalmente, chegamos na metade do caminho, quilômetro 7, perto dos 2.500 metros de altitude. Aí há um pequeno refúgio com portas trancadas, mas com uma gostosa varanda com uma mesa para fazermos o nosso lanche. É também o primeiro ponto com água potável.
Após 4 km de subida e barro, chegamos à entrada do Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Revigorados, seguimos em frente. Chegamos à temida subida do km 8 onde a inclinação da subida aumenta bastante. Depois, alguns quilômetros quase planos, já acima dos 3 mil metros, onde a vegetação se abre bastante e podemos admirar as montanhas à nossa volta. Mais uma subida rápida e árdua e chegamos ao Monte Sin Fé, 3.200 metros. Puxa... ainda falta 4 quilômetros para o refúgio e já estamos quase na altitude dele? A explicação está logo à frente. Temos de descer um vale e é aflitivo ver a trilha serpenteando morro acima lá do outro lado. Não é à tôa que, quando chegamos ao fundo desse vale, onde está o último e precioso ponto de água potável, a próxima encosta se chama "Cuesta de los Arrependitos". Aqui, não tem mais volta, não adianta se arrepender!
Lanche na metade do caminho para o campo base do pico Chirripó, na Costa Rica
Incrível como a altitude e ar mais rarefeito se fazem sentir para quem não está aclimatado (como é o nosso caso!). Os passos cansam muito mais do que cansavam poucas horas atrás. Caminhar a 3 mil metros de altitude é três vezes mais pesado do que a 1.500 metros. Ter essa experiência no mesmo dia deixa tudo muito claro! E pensar que há poucos meses, no Equador, eu estava tirando de letra os 5 mil metros. Mas essa temporada ao nível do mar acabou com a nossa aclimatação...
Placa de auto-ajuda colocada bem no meio da última grande subida (a "Encosta dos Arrependidos") para o refúgio no campo-base do Chirripó, na Costa Rica
Bom, enfim vencemos a Encosta dos Arrependidos e, daí para frente, foi um passeio até o refúgio, onde chegamos pouco depois das quatro da tarde. Visual magnífico de montanhas à nossa volta, principalmente o Pico Crestones, bem em frente ao refúgio. Bem parecido com as Prateleiras, lá no Itatiaia. Fomos recebidos por um guarda-parque que nos apresentou o enorme refúgio, a cozinha e área de convivência e o nosso quarto com dois beliches, mas apenas para nós.
Pausa para descanso depois de 10 km de subidas, no Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Não demorou muito para escurecer e esfriar. Doze graus do lado de dentro, seis graus do lado de fora. Afinal, estávamos a 3.400 metros de altitude, muito mais altos do que qualquer montanha no Brasil. A Ana cozinhou um delicioso macarrão para nós, com a ajuda do fogareiro de outras pessoas, já que o nosso teima em não funcionar em lugares mais altos. Enquanto ela cozinhava e socializava com as outras quinze pessoas no local, praticando o seu espanhol e seu inglês, eu utilizei a internet do refúgio (que chique!) escrevendo o texto que segue abaixo e que esteve postado esses dias como um post separado:
"Estamos agora a 3.400 metros. Caminhada de 15 km, saindo de 1500 metros. Nao foi facil!!!
Amanha, as 3 da madrugada, vamos ao pico ver o nascer do sol
Atualizacoes do site, talvez amanha de noite...
Brrrrrrrr, ta um gelo aqui em cima, no Parque Nacional Chirripo
Abs"
A lua paira sobre o Pico Crestones, no Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Nada como a tecnologia! Tive de escrever rápido porque já eram seis da noite, hora de fechar os computadores. As luzes (geração solar!) são apagadas às oito e, à essa hora, já estamos todos jantados e devidamente acomodados em nossas camas. Afinal, o dia amanhã vai começar cedo. Bem cedo! Para chegar ao pico em tempo de ver o nascer-do-sol, temos de começar a caminhar às três da madrugada! Para isso, temos de acordar uma meia hora antes...
Preparando o jantar no refúgio do Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
O nosso problema é que não temos relógio e muito menos despertador. Os nossos vizinhos de quarto não irão partir de madrugada, então não adianta contar com o barulho deles para acordar. O único meio de saber as horas é ligar a câmera fotográfica... Bom, vou fazer a programação mental e ver o que acontece. Já funcionou outras vezes, mas apenas para horas mais "civilizadas", à partir das seis da manhã. Veremos...
Lavando a louça no refúgio do Parque Nacional de Chirripó, na Costa Rica
Depois de 16 dias atravessando os Estados Unidos, estamos de volta ao Canadá. A despedida tinha sido na região dos Grandes Lagos, na província de Ontario, e agora estamos de volta ao país na província de Alberta, já quase no Pacífico.
Sede do Parque Internacional da paz, na fronteira de Canadá e Estados Unidos
A cidade de Waterton, na beira do lago no parque de mesmo nome, em Alberta, no Canadá
Entramos no país ontem de noite, na estrada que vem por dentro do Parque Internacional. Outra vez, a passagem pela fronteira foi super expedita e logo chegávamos à pequena cidade de Waterton, coração do parque de mesmo nome. Depois do longo dia de passeios, que incluiu até um inesquecível encontro com ursos, estávamos bem cansados e não demorou muito para desmaiarmos. Mas não por muito tempo porque hoje já tínhamos novas explorações para fazer.
No alto do Bear Hump, em Waterton Lakes National Park, em Alberta, no Canadá
Vista de Waterton e do lago, no Waterton Lakes National Park, em Alberta, no Canadá
O Waterton Lakes National Park é a metade canadense desse parque binacional. O forte daqui são os diversos lagos e um dos principais passeios é atravessar o maior deles, justamente onde está a cidade de Waterton, num barco para turistas. Do lado de lá, várias trilhas levam aos Estados Unidos, trilhas que só tem acesso pelo lado de cá. Como acabamos de chegar do outro lado da fronteira, ficamos meio com preguiça desse programa. Fomos até a orla do belo lago, caminhamos um pouco, tiramos fotos e seguimos para o Centro Turístico de Waterton, de onde sai a mais popular trilha daqui.
Filhote de cabra montesa, no Waterton Park, em Alberta, no Canadá
Ursos também são muito comuns por aqui e o nome dessa trilha é até uma homenagem a eles: “Bear Hump”, uma das mais visíveis características dos grizzlies e diferencial com relação aos ursos pretos. Felizmente, nessa trilha eles não costumam aparecer e nós pudemos seguir mais tranquilos, embora sempre com o Bear Spray à mão. Nem precisava, pois encontramos vários outros caminhantes por ela e o barulho conjunto de todos nós era mais do que o suficiente para manter qualquer urso afastado.
No alto do Bear Hump, em Waterton Lakes National Park, em Alberta, no Canadá
A trilha não é longa e, basicamente, sobre uns 200 metros verticais até o alto de um promontório de montanha, de onde se tem uma magnífica vista do lago que leva aos Estados Unidos. Difícil só foi aguentar o forte vento lá encima. Fora isso, foi só alegria e muitas fotos novamente. Lá embaixo, o lago mais parecia uma paisagem caribenha do que um gelado lago canadense. As aparências enganam...
Parece o Caribe, mas é o Waterton Lakes National Park, em Alberta, no Canadá
Feita a trilha, ainda fomos de Fiona até outra atração, o Red Canyon. Basta ver as fotos (ou ao vivo!) para perceber que, quem deu o nome, não precisou usar nenhuma imaginação para o batismo. Pena que o rio seja tão gelado... Ficamos mesmo só nas fotos. Depois, chega de parques e rumo à cidade grande. A última foi Chicago e, depois de tantos parques, já estávamos com saudade de uma selva de pedra. Calgary, aí vamos nós!
Caminhando no Red Canyon, no Waterton Park, em Alberta, no Canadá
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