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Julio Cesar (31/10)
Rodrigo/Ana, Bela viagem. Parabéns. Estou planejando ir para Machu Pic...
Kina (28/10)
Oi Poul, td bem? Meu 1o mergulho equipado na vida foi em Aruba (2000)......
ERLAINE (27/10)
QUE GOSTOSO VER TUDO ISSO AI,TENHO 32 ANOS E VIVI ATE OS 30 EM PENEDO ALA...
adriano (23/10)
arenbepe lugar marailhoso de se ficar parabens pelas fotos !...
Lurdes (22/10)
oi Rodrigo um feliz aniversário atrasado mesmo,que vc tenha muita saúde...
De volta ao México! (em Monterrey, no norte do país)
Há exatos 295 dias, no dia 26 de Março de 2012, entrávamos nos Estados Unidos e deixávamos o México para trás, lá na agitada e famosa fronteira de Tijuana e San Diego. De lá para cá, rodamos muito por Estados Unidos e Canadá, voamos para Caribe, Groelândia e Bermudas, mas não botamos mais os pés na nossa querida América Latina. A saudade estava batendo forte, uma vontade louca de voltar às origens e hoje esse dia chegou! De volta àquela parte do continente onde nosso coração bate mais forte.
Chegando perto da fronteira EUA-México, na região de Laredo, ao sul de San Antonio, no Texas
Na verdade, era para ter sido ontem. Mas nossa programação atrasou e achamos por bem dormir no lado norte da fronteira. Um pouco de cuidado e juízo não faz mal à ninguém e essa parte da fronteira mexicana não tem a melhor fama, principalmente para se dirigir e noite. Então, ficamos mesmo em Laredo e, hoje cedo, sem muita pressa, estávamos prontos para cruzar o Rio Grande. A passagem pelo lado americano da fronteira foi tranquilíssimo, oficiais muito simpáticos e interessados no nosso carro brasileiro (sempre a Fiona!). Do lado mexicano também foi tranquilo, mas aqui tivemos uma certa burocracia para percorrer...
Cruzando a fronteira entre EUA e México, em Laredo, no Texas. Lá estão as bandeiras de Canadá e Estados Unidos, mas onde está a do Brasil?
Só para já irmos nos acostumando com as próximas fronteiras. Entre EUA e Canadá, quase não há papeis. Os vistos estando em ordem, a Fiona passa direto. Aqui no México, é preciso uma licença para o carro, que custa 50 dólares. Além disso, é preciso deixar um depósito de cerca de 400 dólares (deixamos no cartão) que é devolvido quando saímos do país. Vamos tomar cuidado para não repetir o mesmo erro de 295 dias atrás e só passar uma fronteira que tenha o Banjercito, único banco que opera com esse depósito. O seguro para o carro, conseguimos por internet mesmo. Ninguém checa isso, mas caso tenhamos algum acidente, mesmo que sejamos vítimas e não culpados, a gente fica preso se não tiver o seguro, pelo menos até que o processo acabe e demonstre oficialmente que não somos os culpados, o que pode levar algumas semanas. Ninguém quer ficar preso numa prisão mexicana por tanto tempo...
Nosso trajeto de San Antonio até a fronteira, que fizemos ontem e, de lá, já no México, até Monterrey
Depois de passada a fronteira, necessitávamos do bom evelho dinheiro mexicano, os pesos. Para isso, só indo no centro de Nueva Laredo para encontrar um ATM. Basta alguns minutos para verificarmos que estamos mesmo de volta á América Latina: trânsito caótico e barulhento, carros velhos, cachorros andando livres pelas ruas e gente pobre com cara de pobre nas calçadas. É claro que também há gente pobre nos Estados Unidos. Mas lá, eles não tem caras de pobres, apenas caras de que não tomam banho há um bom tempo.
O Rei do Cabrito, local do nosso primeiro jantar mexicano desde março do ano passado!(em Monterrey, no norte do México)
Outras característica, essa bem mais mexicana do que da América Latina em geral, é a quantidade de soldados e policiais nas ruas. Estacionei o carro a um quarteirão do banco e, nesse espaço, cruzei com vários. Mas, o mais “interessante” foi, ao esperar na fila, ver duas camionetes com gente armada até os dentes e com uma metralhadora montada na carroceria com calibre suficiente para derrubar um helicóptero estacionar bem em frente e de lá descer um comandante, para entrar na fila do ATM também. Até ofereci meu lugar, mas ele recusou polidamente. Apesar das armas e máscaras, eles são muito simpáticos. Nos dois meses que passamos aqui, na ida, fomos sempre muito bem tratados. Mais do que isso, sempre foram genuinamente curiosos conosco, na maior educação. Hoje, não foi diferente! Enfim, ao retirar meu dinheiro, com tantos “seguranças” ali fora, não poderia me sentir mais seguro...
Delicioso jantar de carne de cabrito, em Monterrey, no norte do México
Em seguida, estrada para Monterrey, a terceira maior cidade do país. Quase três horas de estrada e engarrafamento da hora do rush na periferia da grande metrópole e entrávamos na cidade. Agora, sem a internet da AT&T, já não temos PriceLine e o Lonely Planet passa a ser, novamente, nossa primeira fonte de informações. Além disso, o mapa que alimenta nosso GPS também caiu bastante de nível. A gente conseguiu ele de graça, na internet. Não dá para reclamar, mas também já não podemos confiar muito. Mesmo assim, tomando o devido cuidado com as direções erradas e o trânsito mais complicado, chegamos á área de hotéis, no centro histórico, e encontramos um para nós. A partir de agora, chega de motéis de rede, voltamos às pousadas! Motel, no México, já é mais “parecido” com os nossos.
Muito bem recebidos na cozinha do "Rei do Cabrito", em Monterrey, no norte do México
Para celebrar nossa volta ao país e ao mundo latino, fomos a um belo restaurante ali do lado, especializado em carne de cabritos. A decoração, bem ao estilo mexicano, aquela coisa meio exagerada, como as novelas. Assim, vamos entrando cada vez mais no clima. A carne estava deliciosa e fomos até convidados para entrar na cozinha e fotografar. Outra coisa muito boa foi o legítimo suco de laranja, espremido na hora! Nada de suco de caixa, nunca mais! A acolhida calorosa no restaurante, o jeito informal do garçon, a clientela que fala alto e a propina de apenas 10%, era desse tipo de coisas que estávamos com saudades. Meio dia por aqui e já estamos nos reacostumando com nossa velha América Latina com sangue nas veias. Adoramos esse país. Viva Mexico!
Muito bem recebidos pelos donos da cozinha do "Rei do Cabrito", em Monterrey, no norte do México
1000dias no alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro é uma cidade com muitos superlativos. Um deles é o fato de estar no município o maior parque urbano do planeta! Estou falando do Parque Nacional da Tijuca, que se espalha pela cidade e foi criado em 1961, mas cujas origens estão no reinado do imperador Dom Pedro II, um século antes.
Parque Nacional da Tijuca, o maior parque dentro de uma cidade do mundo, no Rio de Janeiro
Mapa do Parque Nacional da Tijuca, maior parque urbano do mundo, no Rio de Janeiro. Ele é dividido em 4 setores e hoje nós fomos ao Setor Pedra da Gavea
Naquele tempo, boa parte da vegetação nativa que cobria as montanhas do rio de Janeiro já havia sido devastada. Primeiro, para se aproveitar a madeira nas carvoarias e residências da cidade. E depois, para abrir espaço para plantações de cana-de-açúcar e, principalmente, café. O resultado foi que as fontes de água que vinham dessas montanhas e abasteciam a então capital federal começaram a secar. Felizmente, estudiosos da época conseguiram compreender a origem do problema. Mais felizmente ainda, nosso simpático imperador, antecipando a consciência ecológica que só apareceria muitas décadas mais tarde, resolveu fazer o replantio das florestas destruídas, quase que inteiramente com vegetação nativa. O resultado é essa maravilha que vemos ainda hoje, a maior área verde dentro de uma cidade no mundo. Já com 150 anos de idade, a mata cresceu e, para olhos leigos e desinformados, até parece uma floresta primária. Mas é secundária sim, plantada por Dom Pedro II e protegida desde então.
Nosso longo caminho pela orla carioca, do Leme até a Barra, na entrada do Parque Nacional da Tijuca, setor Pedra da Gavea
Com a Álvaro e o Valentín, no início da trilha para subir a Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
A criação do parque no inicio da década de 60 apenas federalizou e oficializou de vez essa proteção. Com quase 4 mil hectares de área, é o menor parque nacional do país, mas ao mesmo tempo, estando dentro da 2a grande metrópole brasileira, é o mais visitado do Brasil, com cerca de 2 milhões de turistas anuais.
Mapa da trilha para subir a Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Com o Álvaro e o Valentín no trecho de mata da trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
O Parque Nacional da Tijuca não é uma área contínua, mas formado por quatro setores distintos. Serra dos Pretos Forros, ao norte, Floresta da Tijuca, onde estão as montanhas mais altas do município, Serra da Carioca, onde está o Corcovado, e o Setor da Pedra da Gávea e Pedra Bonita, essa última famosa por ser o ponto de onde se salta de asa delta no Rio de Janeiro.
Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Na trilha da Pedra da Gávea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Pois bem, na nossa outra passagem pela cidade, ainda no início dos 1000dias, nós demos um bom passeio na Serra da Carioca, quando fomos ao Corcovado e à Estrada das Paineiras (post aqui) e também à Pedra Bonita, para voar pelos ares do Rio (post aqui). Mas ficou faltando subir na Pedra da Gávea de onde, muitos nos disseram, se tem a melhor vista da Cidade Maravilhosa. Essa trilha já estava entalada na nossa garganta faz tempo, mas hoje, dia de muito sol e céu azul, condições ideais para se admirar a paisagem carioca, tivemos a nossa chance. Para melhorar, estamos numa segunda-feira! Ou seja, nada de concorrer com multidões! Então, acompanhados de nossos amigos espanhóis que estão visitando a cidade, o Álvaro e o Valentín, para lá seguimos, quase 20 kms pela orla carioca, do Leme até o início da Barra da Tijuca.
Saindo da mata, a vista começa a aparecer, na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Com o Álvaro e o Valentín na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
A paisagem montanhosa carioca vista na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
A Pedra da Gávea é o maior monolito rochoso ao lado do mar do mundo. Com a base formada de gnaisse e o topo de granito, o enorme bloco de pedra se ergue a 842 metros de altitude, ou seja, mais de 100 metros mais alta que o famoso Corcovado, já incluído aí também a altura do Cristo Redentor. Tão grande assim, não é de se estranhar que ela possa ser vista de quase toda a cidade. Tanto que sua forma característica já apareceu como pano de fundo em várias de nossas fotos, não importa o bairro onde estivéssemos. Ela só não é mais alta que as maiores montanhas na Floresta da Tijuca, como o Pico do Papagaio (quase mil metros de altura) e o campeão, o Pico da Tijuca, com 1.022 metros de altitude. Mas essas montanhas estão mais distantes do mar e formam um grande maciço ou aglomerado, ao contrário da Pedra da Gávea, que se posiciona sem concorrentes próximos, o que lhe aumenta muito a imponência.
A longa praia da Barra vista da Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Alpinistas escalam parede na Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
Do mar, é o primeiro ponto que se vê para quem chega ao Rio de Janeiro. Tanto que teria sido aí que os fenícios teriam deixado inscrições comemorativas de sua passagem pela região, 3 mil anos atrás. Essas inscrições tornaram-se famosas já no início do séc. XIX, uma prova de que aquele intrépido povo comerciante da antiguidade teria chegado até aqui, do outro lado do Atlântico. Os escritos foram até traduzidos e ainda hoje alimentam essa improvável lenda urbana. Mas estudiosos mais sérios afirmam que se trata apenas de uma falsificação grosseira criada naqueles tempos para inflar o orgulho da nação que acabava de nascer com a independência de Portugal. Tanto que não há registros anteriores dessas inscrições. Outra questão é que a própria inscrição faz referência ao povo “fenício”. O problema é que os fenícios não se chamavam de fenícios. Esse termo só foi criado pelos gregos tempos depois. É como encontrar alguma moeda romana dos tempos de Julio Cesar com a inscrição “45 a.C.”, sendo que Jesus não havia nem nascido ainda…
Subindo o trecho conhecido como "Carrasqueira", na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
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Cada vez mais altos na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Lá embaixo, a praia da Barra da Tijuca
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Bom, alheios a essas histórias milenares, o que nos interessava mesmo era fazer a trilha e chegar até lá em cima. O carro fica estacionado já na entrada do parque onde termina a estrada e começa a trilha. Não é um caminho longo, cerca de 1.670 metros de comprimento. Mas não se engane pela curta distância, o problema maior está na altitude que se ganha. O início da trilha se encontra abaixo dos 200 metros de altura, ou seja, são quase 700 metros para cima! Para subir o Pico da Tijuca, por exemplo, é possível chegar de carro até os 650 metros de altitude! Com todo essa ganho de altitude, o tempo estimado para a subida fica entre 2 e 4 horas, dependendo da saúde e disposição que quem está subindo.
São Conrado visto do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
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No alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
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Admirando a vista do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
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Logo no início, uma placa nos mostra o mapa da trilha e os principais pontos de referência. Um deles, logo no início, é uma pequena cachoeira. Deixamos para passar por lá na volta, o lugar ideal para tomar um banho depois de todo o esforço da subida. Preferimos seguir em frente e encarar logo o longo e íngrime trecho de subida na mata. Como já disse, era uma segunda-feira e a trilha estava totalmente vazia. Mas subindo pela mata não é difícil perceber o efeito da passagem das multidões durante os finais de semana. A trilha está se erodindo e a manutenção não tem sido eficiente. Com certeza, deveria ser determinado um número máximo de visitantes diários que a trilha possa comportar. Enquanto a medida não é implementada, o negócio é vir para cá em dias de semana e que não estejam chovendo!
A magnífica vista do Rio de Janeiro que se tem na parte alta da Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca
A magnífica vista do Rio de Janeiro que se tem na parte alta da Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca
Embora esteja erodida, o caminho não é difícil de seguir. Digo, não há bifurcações. Subimos, subimos e subimos, sempre na sombra da mata. Por fim, por volta dos 500 metros de altitude, chegamos a uma grande rocha chamada Pedra do Navio e, um pouco mais adiante, à Praça da Bandeira. Aí a subida amaina um pouco e chegamos à única bifurcação do caminho. Placas sinalizam a direção correta. Os outros caminhos são trilhas menos conhecidas que se juntam aqui para subir até o cume.
Morro dos Dois Irmãos e Arpoador vistos do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
A Lagoa Rodrigo de Freitas, Leblon, Ipanema e Copacabana vistos do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
A mata finalmente se abre, as árvores começam a escassear e temos nossas primeiras vistas mais amplas. É a Barra da Tijuca que aparece atrás da folhagem, lé embaixo. Quando vemos o mar é que temos a noção da altitude que ganhamos, ou do quanto já subimos trilha acima!. A partir daí a trilha contorna a montanha no sentido anti-horário e passamos a ver também as ilhas oceânicas e o bairro de São Conrado. O que vemos tamém, agora com a visão bem limpa, é o trecho final da montanha, um bloco de rocha maciço, quase sem vegetação. Uma enorme parede que atrai alpinistas mais experimentados. Ainda bem que a trilha não segue por ali, mas passamos um bom tempo admirando dois escaladores ganhando altitude na rocha bem lentamente.
No alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
No alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro. O Corcovado, mais baixo do que nós, aparece ao fundo
Esbanjando vitalidade no alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
Por fim, seguimos adiante e chegamos ao trecho mais temido dessa trilha: a Carrasqueira. É um trecho onde a trilha acaba e devemos subir um barranco de pedra e terra com uns 20 metros de altitude e inclinação próxima dos 70 graus. É aqui que muita gente desiste e resolve voltar. Pior é quando decidem tentar, mas travam no meio do caminho. Depois, para descer ou subir, é um parto, só com muita ajuda e estímulo. Há boas agarras nas rochas para os pés e mãos e o segredo está em não pensar e nem olhar para baixo. Para quem faz isso, não vai ver apenas os 20 metros até a base da Carrasqueira, mas também os outros 600 metros até o mar, lá embaixo. Fascinante para alguns, amedrontador para outros. Se houver uma queda, dificilmente passaremos do nível da Carrasqueira, mas não é isso que os olhos e as penas trêmulas parecem pensar quando veem São Conrado lá embaixo.
Caminhando em trilha no topo da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro
1000dias no topo da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro
Enfim, com todo o cuidado, vencemos esse obstáculo. Depois da Carrasqueira, tudo parece fácil e não demora muito para chegarmos ao cume e às vistas mais incríveis que eu já tive do Rio de Janeiro. A área no topo da montanha é bem grande e nós ficamos andando de um lado para o outro, vendo a Barra para o oeste, o Corcovado, o Pão de Açúcar, Niteroi, a Baía da Guanabara e as praias de Copacabana e Ipanema para o leste e as ilhas de Cagarras para o sul. Simplesmente, deslumbrante!
No ponto mais alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro, admirando a vista para o lado da Barra da Tijuca
No alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro, admirando a vista da Barra da Tijuca
Tínhamos levado lanche lá para cima e comemos como reis. Foi engraçado ver o Corcovado abaixo de nós, como se estivéssemos voando. Para o norte, o Pico da Tijuca era nitidamente mais alto. Lá no fundo, as montanhas da Serra dos Órgãos, nosso próximo destino, elas sim muito mais altas do que nós. Oa s nossos pés, a Barra da Tijuca, praia enorme com o Recreio lá no fundo. A urbanização relativamente recente e bem organizada no início do bairro e as muitas lagoas ao longo de toda a sua extensão nos saltavam aos olhos.
Barra da Tijuca vista do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
As lagoas da Barra da Tijuca vistas do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
Conosco, lá no alto, uns 10 outros felizardos. Será que esse povo não trabalha? Hehehe, olha só quem fala! Conversamos com alguns. Um deles me disse que passar a noite ali é a coisa mais linda do mundo, céu estrelado ou lua cheia, Ver os fogos de reveillon, então, nem se fala. Ficamos com vontade. Mais um programa para futuro. Só não podemo esquecer de trazer um bom saco de dormir, pois de noite fica bem frio.
No alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro, admirando o Maciço da Tijuca, ponto mais alto da cidade
Com o Álvaro e o Valentín no alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro. Ao fundo, o Maciço da Tijuca
Mais de hora lá no alto, chegou a triste hora de descermos. Uma última volta para ter uma visão de 360 graus da cidade. Realmente, é uma questão difícil determinar de onde se tem a vista mais bela do Rio. Mas não tenho dúvidas que o alto da Pedra da Gávea é um dos mais sérios concorrentes a este título. É claro que tudo depende da clareza do dia e hoje tivemos um dia espetacular. Então, pleo menos para os 1000dias, o título fica mesmo por aqui, com a Pedra da Gávea, a mais bela vista da mais bela cidade do mundo. Não é pouco…
O Valentín no alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
ilhas Cagarras vistas do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
Bom, chega de babação de ovo, vamos descendo. Só relaxamos quando passamos novamente pela Carrasqueira. Apesar do nosso temor, descer o barranco de pedras se mostrou mais fácil do que subi-lo. Talvez porque já conhecíamos o caminho e sabíamos exatamente o que nos esperava. O fato é que descemos e, depois disso, logo estávamos na mata novamente, na Praça da Bandeira e na Pedra do Navio. Depois, já quase lá embaixo, o barulho gostoso de água corrente e a pequena cachoeira para um banho rápido e restaurador. Pleo menos hoje, não havia muita água. Mas já estava bom demais para nos refrescar. Ainda mais quando imaginamos que estamos tomando um banho de cachoeira praticamente no coração da cidade. Incrível!
Trecho da trilha no alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
A comunidade da Rocinha vista do alto da Pedra da Gavea, no Rio de Janeiro
De volta para o carro, já era quase fim de tarde. Aproveitamos os últimos momentos do dia para irmos à praia ali do lado, conhecer a famosa Barraca do Pepê. Esse era o apelido de uma figura conhecidíssima no Rio de Janeiro, o esportista Pedro paulo Lopes. O Pepê foi um dos pioneiros do surfe na cidade, ainda no início da década de 70, quando era adolescente (ele nasceu em 1957) e acabou por se tornar um dos 20 melhores surfistas do mundo no final daquela década.
Reabastecendo a água na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Banho merecido numa pequena cachoeira na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Banho merecido numa pequena cachoeira na Trilha da Pedra da Gavea, no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro
Foi ele também um dos primeiros praticantes de voo livre na cidade. Também nesse esporte ele se destacou, sagrando-se campeão mundial da modalidade no Japão, em 1981. Mesmo com toda a fama, os esportes não davam muito dinheiro naquela época e ele esteve que se virar por aqui para poder sobreviver. Acabou abrindo a barraca de lanches na praia que começava a se urbanizar de verdade na quela época, a Barra da Tijuca. Notabilizou-se por popularizar na cidade o estilo de vida de comida natural, muitas frutas e alimentos integrais. Sua barraca logo se tornou um point de surfistas, atletas e praticantes de voo livre.
O ex-jogador e futuro senador romário dá uma entrevista na Barraca do Pepê, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
O ex-jogador e agora senador Romário dá uma entrevista na Barraca do Pepê, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro
Infelizmente, chama que arde mais forte se apaga mais rápido, diz o o ditado. Pepê voltou ao Japão dez anos mais tarde para tentar o bicampeonato mundial e faleceu em um acidente no esporte que tanto amava. Acabou por virar uma lenda carioca. Até o pedaço da praia onde está a sua barraca ganhou o seu nome (ou apelido) e ainda hoje reúne a mais bela e sarada juventude do Rio, além de artistas globais que batem ponto por aí.
Depois da Pedra da Gavea, um delicioso coco gelado na Barraca do Pepê, na barra da tijuca, no Rio de Janeiro
Depois da subida da Pedra da Gavea, descanso merecido na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro
Hoje, quem lá estava era mais uma das lendas cariocas, o baixinho Romário, em plena campanha para se tornar senador pelo estado. Se tiver o voto das torcidas que já representou (Flamengo, Vasco e Fluminense), se elege até Papa por aqui. Senador, vai ser fichinha para ele.
Um lindo fim de tarde na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro
Um lindo fim de tarde na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro
Tomamos nosso coco gelado e admiramos um fantástico pôr-do-sol que coloriu de vermelho e laranja os céus desse bairro que há tempos se tornou a meca da nova burguesia da cidade. Para nós, foi o final de dia perfeito para um dia perfeito. Mais um dia carioca para não esquecermos nesse P.S. dos 1000dias!
Uma das mais famosas barracas de praia no Rio de Janeiro, o Pepê, na Barra da Tijuca
Delicioso jantar no Perlan, restaurante giratório de arquitetura moderna em Reykjavik, capital da Islândia
Depois de sete dias intensos pelo país, quase 2 mil quilômetros de estradas ao redor da ilha, incontáveis cachoeiras, fontes termais, geleiras, caminhadas por montanhas e vulcões e até um mergulho em águas geladas, era a hora de comemorarmos tudo isso. Nada melhor que um bom restaurante na capital Reykjavik seguido por algumas cervejas em um pub da moda na cidade.
Tratamos de tirar a mão do bolso e investir num bom restaurante. Até então, exceto por um delicioso almoço em Myvatn, nossas refeições por aqui tinham se limitado a cafés da manhã nos hostels, lanches corridos na estrada, alguma torta em pequenos cafés. Um vinho aqui ou ali numa noite fria, comprados em supermercados. Afinal, o ritmo de viagem era frenético, muita coisa para se ver e fazer em pouco tempo. Mas não hoje! Depois de percorrermos as atrações do Golden Circle, voltamos à capital ainda com a luz do dia e tratamos de achar um bom restaurante. Para mais tarde, já tínhamos marcado encontro com o Kevin, nosso simpático e excelente guia de mergulho na fenda que divide a América da Europa. Agora, ele seria nosso guia na night de Reykjavik.
Degustando taça de vinho no Perlan, restaurante giratório de arquitetura moderna em Reykjavik, capital da Islândia
Delicioso jantar no Perlan, restaurante giratório de arquitetura moderna em Reykjavik, capital da Islândia
O restaurante escolhido foi o Perlan, que em islandês quer dizer “Pérola”. É uma construção moderna, toda envidraçada e que fica no alto de uma colina próxima do centro da cidade. Para melhorar, as mesas ficam em uma plataforma giratória. Assim, durante toda a refeição, temos excelentes vistas da cidade e da baía onde ela está localizada.
Delicioso jantar no Perlan, restaurante famoso em Reykjavik, capital da Islândia
Normalmente, é preciso reserva para comer lá, mas como chegamos bem cedo, encontramos mesa. A gente, no nosso visual “mochileiro”, destoava um pouco do público presente, mas não importa, fomos logo pedindo vinho e entrada. O negócio era aproveitar aquela oportunidade única. E assim foi, um verdadeiro e saboroso banquete!
Nossa maravilhosa sobremesa no Perlan, famoso restaurante de Reykjavik, capital da Islândia
A vista estava mesmo magnífica, principalmente com as luzes de final de tarde. A comida também, até o fechamento com chave de ouro de uma sobremesa de dar água na boca, principalmente para quem gosta tanto de frutas como eu! Acompanhado de bom vinho, tudo era festa. Enfim, valeu cada centavo investido. Nossas aventuras nesse incrível país mereciam isso.
Vista de Reykjavik, capital da Islândia, do alto do restaurante giratório Perlan
Vista de Reykjavik, capital da Islândia, do alto do restaurante giratório Perlan
Em seguida, voltamos ao nosso hotel, deixamos o carro por lá e encontramos o Kevin na portaria. Caminhamos juntos para o centro e ele nos levou num delicioso pub irlandês. Para quem não conhece, os irlandeses se parecem com latinos, são animados, festivos, acolhedores. E assim era o pub, muita gente se confraternizando. Juntos, tomamos algumas Guinness (amo!!!) e outras cervejas irlandesas que ele conhecia. A conversa foi sobre mergulhos, sobre a vida na Islândia, sobre a história conjunta de irlandeses e islandeses. Enfim, foi muito gostoso. A melhor última noite que poderíamos ter nesse país. Amanhã, ainda tem um passeio rápido pela cidade e depois, direto para o aeroporto e para Orlando, nos EUA, onde nos espera a saudosa Fiona!
A catedral luterana de Reykjavik, capital da Islândia
Cachoeira do Encontro, no rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
A Cachoeira da Fumacinha fica no fundo de um comprido canyon na região de Brejão, distante quase 35 km de Ibicoara. Um trilha de cerca de 2 km leva até o leito de pedras do rio. Daí para frente, é por aí mesmo, de pedra em pedra, através de cada curva do canyon, até a cachoeira. Para conseguir fazer esse trajeto, o rio não pode estar muito cheio e nem as pedras podem estar molhadas.
Eram cinco da manhã quando partimos de Ibicoara, o dia começando a clarear e nuvens pesadas no céu, as montanhas escondidas na neblina. Pouco mais de meia hora mais tarde, já sob uma garoa fina, já estávamos na casa do Seu Luís, dono da fazenda Brejão. Era lá que deveríamos ter dormido, se tivéssemos conseguido organizar tudo ontem. Na casa, organizaram um café da manhã para nós enquanto a chuva caía mais forte lá fora, para preocupação do nosso guia Janu. Eram quase sete horas quando a chuva parou e a gente seguiu vale adentro, ainda de carro, alguns quilômetros até o início da trilha.
Rio avermelhado da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
Os 2 km de trilha passaram rápido e chegamos ao rio de águas bem avermelhadas, quase negras. Ele estava bem volumoso. Mais tarde, o Janu me disse que nunca havia subido o rio com tanta água. Já não chovia, mas as pedras estavam extremamente escorregadias. Fomos seguindo bem lentamente o Janu, que escolhia o melhor caminho sobre as pedras. Após termos de cruzar o rio algumas vezes e tirar as botas e meias para fazer isso, resolvemos seguir descalços mesmo. Além de escorregar bem menos, evitava o trampo de tirá-las e recolocá-las.
Um dos poços no rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
O ritmo aumentou bastante então, mas muitas horas já tinham se passado. Chegamos ao maior do poços do rio e o Janu disse que era melhor voltar, que não teríamos tempo de chegar. A paisagem era linda, paredes de pedra gigantes e o rio caudaloso, com pequenas quedas aqui e ali. Conversamos e decidimos seguir por mais uma hora. Não daria tempo de chegar, mas certamente poderíamos aproveitar mais aquele cenário grandioso.
Nadando na Cachoeira do Encontro, no rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
Seguimos então até a Cachoeira do Encontro, onde o canyon bifurcava. Até lá, tinham sido quatro horas de caminhada. Segundo o Janu, 3/4 do caminho. O rio cheio e as pedras escorregadias nos atrasaram muito. Ele disse também que, mesmo em condições ideais, o melhor mesmo é vir preparado para dormir no caminho, em uma toca. Enfim, ali lanchamos e tomamos um belo banho. A Cachoeira da Fumacinha, linda pelas fotos que vimos, resolveu se guardar desta vez. Um estímulo a mais para voltarmos a essa região maravilhosa chamada Chapada Diamantina.
Caminhando ao longo do rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
A volta foi mais rápida que a vinda e menos de 3 horas mais tarde já estávamos na casa do seu Luís novamente. Ali almoçamos e tivemos uma gostosa conversa com ele. Seu Luís nos contou que toda aquela região tinha sido desbravada pelo seu trisavô. As terras foram sendo divididas pela família até que seu pai ficou com a fazenda em que estávamos, a Brejão. O pai acabou vendendo a fazenda mas, anos mais tarde, Seu Luís conseguiu recomprá-la. Tem muita coisa lá dos tempos antigos. Inclusive, a tradição centenária de fazer uma pinga de alambique envelhecida no carvalho. Uma delícia! Ao final da conversa, eu que já tinha encomendado a pinga na noite anterior, quando voltávamos do Buracão, ganhei de presente uma garrafa dela. Hmmmmm! Estamos bem servidos por um bom tempo!
Caminhando ao longo do rio da Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
Voltamos para Ibicoara, deixamos o Janu por lá e seguimos de volta para Mucugê e de lá, para Igatu, a "cidade fantasma" da Chapada, toda de pedra. Já chegamos anoitecendo e fomos direto para a Pousada Pedras de Igatu, tão bem recomendada pela Mônica. Aproveitamos seu charme e conforto para descansar e nos recarregar para o dia seguinte, tão cheio de programações: explorar Igatu, visitar o Poço Azul e seguir até Feira de Santana, para fazer a revisão dos 20 mil km da Fiona.
Pé de abacaxi, na trilha para a Cachoeira da Fumacinha, região de Ibicoara, na Chapada Diamantina - BA
A valente Fiona enfrenta a neve do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Acordei cedo hoje na pequena Winthrop e, conforme tinha prometido para a Ana na noite anterior, fui comprar nosso café da manhã. A cidade fica perto do limite do North Cascades National Park. Quem nos deu a dica de dormir ali foi um dos oficiais da fronteira ontem, depois do imbróglio que nos custou mais de uma hora por lá. Queríamos fazer a estrada que cruza o parque durante o dia, para poder admirar a paisagem, e ele falou que essa seria a melhor cidade. Acertou na mosca! Cidade com cara de faroeste, muito popular no inverno com os esquiadores, ou no verão com os trekkers. Agora, fora de estações, hotéis baratos, mas igualmente simpáticos. O gerente do nosso, muito interessado na nossa jornada, nos indicou uma deliciosa pizzaria para o jantar. Pizza gostosa como eu já não comia há meses!
Chegando ao North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Pois é, esse mesmo gerente me recebeu quando eu voltava do mercado com o nosso café da manhã. Dizia que neve nos esperava nas montanhas a frente. Pela conversa da noite anterior, já sabia que nós, brasileiros, adoramos neve. Checou a previsão do tempo e veio correndo me dizer que estava nevando no Washington Pass, pouco mais de 1.500 metros de altura, cerca de 30 quilômetros à frente na nossa rota para o oeste.
Começa a nevar na estrada que atravessa o North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Aceleramos nosso café (iogurte grego, granola, pão, Philadelphia e geleia) e botamos o pé na estrada, loucos de curiosidade para encontrar a sempre mágica neve. Ali onde estávamos não tinha nem cheiro de neve, céu claro e poucas nuvens. Difícil acreditar que ela estava poucas milhas adiante. Mas umas nuvens densas, quase uma neblina, cobriam as montanhas. “Deve ser ali”, imaginamos.
Vegetação coberta pela neve no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Bingo! Começamos a subir e o tempo foi fechando. Nada mais de céu azul. Algo estranho começou a preencher o ar. Quase um fantasma. O “fantasma” foi ficando mais denso. Já não tínhamos dúvidas: eram flocos de neve! Subimos um pouco mais e a neve começou a aparecer, acumulada na mata que nos rodeava. Pequenas manchas brancas aqui e ali. Não demorou muito e, sempre subindo, as árvores começaram a ficar brancas por inteiro. Igualzinho àqueles pinheiros de natal que vemos nos filmes. Só que aqui não era uma árvore, mas a floresta inteira! Lindo! Ao mesmo tempo, as manchas de branco ao no acostamento se tornaram morros de neve. E a estrada, limpa até então, também foi ficando branca, restando dois trilhos de asfalto no meio dela.
Dirigindo em estrada cheia de neve, no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Máquina para limpar neve no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Para nós, desacostumados com isso, parecia um sonho. Ou um cenário de filme. A neve continuava caindo, em flocos cada vez mais grossos. A estrada estava cada vez mais alta, assim como a neve ao seu redor. E os trilhos de asfalto sumiram, ficando apenas uma camada mais fina de branco por onde deveríamos seguir. No sentido oposto, aquelas máquinas de limpar neve, jogando o gelo branco para o acostamento. O nosso freio já não mais funcionava, o gelo sobre o asfalto demasiadamente escorregadio para o sistema ABS.
A valente Fiona enfrenta a neve do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Fiona em meio à neve do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Começamos a torcer para o tal do Washington Pass chegar logo. Dali em diante a estrada baixaria de novo, certamente com menos neve. Nosso medo era que fechassem a estrada. Pior ainda, era que a Fiona desse uma derrapada em algum barranco ou precipício. Eu dirigia devagar, freando apenas no motor. Mas, a preocupação era apenas uma parte pequena dos nossos sentimentos. A grande parte estava era emocionada com aquele cenário todo, algo que ainda não havíamos experimentado de verdade nesses 1000dias.
Brincando com a neve no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Muita neve no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Tínhamos pego neve na Argentina e no Sequoia National Park, na California. No Alaska também, lá no norte, acima do Círculo Polar Ártico. Mas nada como agora, pintando toda uma floresta de branco, neve grossa caindo, estrada branquinha por quilômetros a fio. Um cenário absolutamente encantador! Nem eu nem a Fiona acostumados com isso, mas vamos nos acostumando. Enquanto isso, muitas fotos e muitos “Ooohhh!!!”.
Em dia de muita neve, visitando o maravilhoso North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Pelo menos em teoria, lá do alto do Washington Pass teríamos uma bela vista das montanhas do North Cascades. Uma trila de pouco mais de um quilômetro nos levaria para um mirante. Mas, quando chegamos lá, era tanta neve que o estacionamento e a tal trilha estavam cobertos de neve. Assim como as montanhas e a nossa vista. Mas, sinceramente, quem se importava? Tudo já estava tão lindo, tão magnífico para dois brasileiros acostumados com praias e não com neve. Só o caminho até lá já tinha valido a pena, toda a pena! E com aquela neve toda caindo, o sensato mesmo era continuar e não deixar a Fiona ficar como outros carros por ali, cobertos de neve!
Pequena trilha na mata do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Assim, começamos a descer. A neve começou a diminuir, mas logo começamos a subir novamente, até outro pass. Mais baixo que o anterior, mas com muita neve também. Depois, voltamos abaixo dos 500 metros e a neve ficou lá no alto das montanhas. Pela próxima hora ou um pouco mais, só ficamos admirando os picos nevados longe de nós. Perto, o que víamos eram matas, lagos, cascatas e cachoeiras. Não é a toa que toda a região foi transformada num parque nacional.
Grande cachoeira no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Linda natureza, mas era mesmo a neve que mais nos impressionava. Fico imaginando que os gringos devem achar curiosa essa nossa atração pela neve, algo que para eles é tão normal. Mais ou menos como praias ensolaradas com águas quentes e mulheres lindas são para nós, enquanto, para eles, é algo de outro mundo. Tudo uma questão de costumes...
Dirigindo por uma floresta congelada no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Nós seguimos por toda a extensão da estrada, até chegar na grande rodovia que liga Seattle à Vancouver. Nosso sentido era continuar adiante, chegando ao litoral e pegando um ferry para a península de Olympia. Mas queríamos mais neve! Para isso, bastava seguir para uma estrada que entrava na parte norte do parque. Um detour de algumas dezenas de quilômetros que certamente valeria a pena.
Dia de muita neve na área do Mt Baker, no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
E valeu. Muito! Seguimos para a região do Mt Baker. O mapa está no post anterior. Lá está uma das poucas estações de esqui operando dentro de um Parque Nacional nos Estados Unidos. Mas, acho que a neve chegou antes do que eles estavam prevendo e a estação estava fechada, ainda. Para nós que não esquiamos, não fazia a menor diferença. O que queríamos ver era neve, e isso tinha lá de monte. Mais chance para brincarmos, tiramos fotos ou simplesmente curtirmos aquele momento. Ver neve caindo do céu é uma coisa mágica.
Está na hora de abrir a área de ski do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Muita neve na área do abrigo do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Ao final, já esteou até ficando craque em levar a Fiona através de uma estrada branquinha. As tais correntes fazem falta, mas com cuidado dá para se divertir. Acho que tivemos bastante sorte de poder dirigir por ali, nesse época e com tanta neve. Normalmente, e as placas indicam isso, só com correntes mesmo. Mas a neve veio tão de surpresa que não deu tempo deles fecharem a estrada, hehehe. Melhor para nós!
Lago na área do Mt Baker, no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Dia de muita neve na área do Mt Baker, no North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Já nas últimas horas do dia, depois de muita diversão, resolvemos que era hora de voltarmos. A fome apertava e paramos num delicioso e animado restaurante bem na entrada do North Cascades, nesse lado noroeste do parque. Muito bem alimentados, seguimos em frente, até a última cidade mais importante antes do ferry para Port Townsend, a cidade mais interessante da Olympia Peninsula, para onde seguimos amanhã. Quem diria... depois do ferry para Vancouver, achei que o próximo seria apenas sobre o rio Amazonas. Nada disso! Já temos um amanhã mesmo, e certamente outro, quando formos para Seattle. Da neve para um ferry, a Fiona está cada vez mais eclética e adaptável. E eu, nada como errar minhas previsões diariamente. São as surpresas e o inesperado que fazem a viagem uma verdadeira... viagem!
Decoração de Halloween em restaurante na saída do North Cascades National Park, no estado de Washington, noroeste dos Estados Unidos
Com o Pablo e a Andrea no restaurante Venezia, em Santiago, capital do Chile
No dia 3 de Fevereiro de 2011, quando tínhamos “apenas” 300 dias de viagem, tivemos um encontro insólito. Foi lá na Serra de Ibiapaba, no Ceará (post aqui). Ainda éramos viajantes inexperientes, pois ainda não havíamos saído com a Fiona do Brasil, e ficamos exultantes ao ver um carro chileno, uma Hilux também, em um estacionamento da cidade. A curiosidade nos fez ir lá conhecer o casal que fazia aquela viagem e foi assim que encontramos o Pablo e a Andrea.
Com o Pablo e a Andrea, juntos à famosa estátua de Nossa senhora no topo do Cerro San Cristobal, em Santiago, capital do Chile
Eles já tinham vários meses de estrada, muitas fronteiras nas costas, praticamente todos os países da América do Sul no retrovisor. Viajavam de uma maneira mais simples que nós, com um orçamento bem mais apertado e dormindo sempre no próprio carro, para economizar ao máximo e assim, poder conhecer mais lugares. Aliás, naquela época, conversando sobre custos, eles disseram que se tivessem as nossas economias, viajariam por dez, e não por três anos, hehehe.
Chegando ao tradicional bar La Piojera, em Santiago, capital do Chile
Pois é, passamos o dia juntos no Parque Nacional de Ubajara (que saudades daquele lugar! Veja o post aqui!) e cada dupla seguiu o seu caminho, nós para o norte e eles para o sul. Mas o contato pela internet nunca mais foi perdido. Poucos meses depois eles chegavam a Curitiba, onde ficaram hospedados na casa da mãe da Ana. Aí encontraram uma outra personagem que tanto amamos: a Diana.
A Andrea, nossa amiga chilena, passeia com a saudosa Diana nas ruas de Curitiba, no Paraná, em Maio de 2011
Quando eu conheci a Ana, em 2006, ela já tinha uma linda cadela, uma espécie de perdigueiro misturada com dog alemão, uma combinação que nunca mais vimos em lugar nenhum. A combinação exata, nunca vamos saber, pois ela foi achada na rua, ainda muito nova. O fato que ela era bela de chamar a atenção, muita gente na rua e nos parques querendo saber que cachorro era aquele. Para melhorar, era amável como ela só, apesar do tamanho, sendo incapaz de fazer mal a uma mosca. Eu logo me afeiçoei a ela e não demorou para que a considerasse, também, a minha cadela. Não perdia a chance de levá-la para passear, seu momento mais feliz do dia.
O Pablo, nosso amigo chileno, descansa com a saudosa Diana durante passeio pelas ruas de Curitiba, no Paraná, em Maio de 2011
A Andrea, nossa amiga chilena, passeia com a saudosa Diana nas ruas de Curitiba, no Paraná, em Maio de 2011
Por isso, esse foi um motivo de tristeza quando iniciamos nossa viagem. A Diana ficou para trás. Até pensamos em trazê-la conosco, inspirados no pessoal do Viagens Maneiras, mas ao final, desistimos. Algumas vezes, pelo Skype, até conseguimos “falar” um pouco com ela, a Diana latindo quando ouvia nossa voz. Enfim, a tristeza maior era que um câncer crescia dentro dela. Sempre achamos que ainda daria tempo de voltar a vê-la, mas não deu. Porém, nesse meio tempo, eis que nossas amigos chilenos estiveram em casa e, todos os dias, religiosamente, saíam com a Diana, De longe, emocionados, acompanhamos pelas fotos. Era lindo ver a alegria dela, novamente nas ruas.
O Pablo, nosso amigo chileno, descansa com a saudosa Diana durante passeio pelas ruas de Curitiba, no Paraná, em Maio de 2011
Enfim, ela se foi, em paz, enquanto desfrutávamos da nossa longa viagem. Mas aquelas fotos ficaram, acompanhando nosso imaginário ao redor das Américas. E agora, chegando à Santiago, tivemos a grande alegria de rever nossos amigos queridos, os mesmos lá do Ceará, os mesmos dos passeios com a Diana, enfim, aqui, na casa deles.
Caminhando pela Calle Ahumada, no centro de Santiago, capital do Chile
O Pablo e Andrea saíram ontem de tarde da cidade onde hoje moram para vir a Santiago. A gente se encontrou de noite, no hostel. Como já estávamos instalados e com a diária paga, deixaram que ficássemos nesta noite por aqui. Mas já combinamos que hoje iríamos para a casa da mãe do Pablo, onde também vai ficar a Fiona guardada enquanto viajamos para a Ilha de Páscoa.
Com a Andrea, subindo de funicular o Cerro San Cristobal, em Santiago, capital do Chile
Hoje cedo, já estavam no hostel novamente, para nos ciceronear por Santiago, cidade onde o Pablo nasceu e cresceu, cidade onde a Andrea estudou. Não preciso dizer o quanto o nosso dia foi melhor por causa disso. Além da super companhia, eles já sabiam aonde ir e como ir. Nos deram aulas de história e geografia, costumes e culinária, enfim, turbinaram nosso aprendizado sobre o país. Caminhando com eles por esse cenário urbano, parecia que havia sido ontem, nossa última caminhada juntos, por cachoeiras perdidas no Ceará (veja o post aqui). A mesma companhia, dois cenários tão diferentes. É a magia de uma grande viagem como essa.
O Pablo e a Andrea no topo do Cerro San Cristobal, em Santiago, capital do Chile
No meio da tarde, a Andrea voltou para casa. Tinha uma consulta marcada, pois está grávida, contagem regressiva para o grande acontecimento. O Pablo continuou a nos guiar e acompanhar, também dormindo na casa da mãe. No nosso circuito chileno, que se estende pelos próximos meses, misturado com a Argentina, já temos mais um ponto obrigatório de parada: a cidade de Rengo, onde moram. Afinal, viajar é muito mais do que conhecer lugares. É conhecer pessoas.
Com o Pablo e a Andrea, observando a cidade de Santiago, capital do Chile, do alto do Cerro San Cristobal
As famosas "repúblicas" de Ouro Preto - MG
O dia começou com o sofrimento necessário, na cadeira da dentista. Agora, só falta mais uma "visita". Depois, só no fim da viagem! Obaaa!!! A Sony e a Nikon já estão nas devidas manutençoes, portanto estamos sem máquinas. Na sexta a Nikon fica pronta e a Sony, só quando voltarmos do sul. Começo a montar o "dossiê" que enviarei ao consulado do Canadá. Visita ao antigo escritório, para rever os ex-colegas de trabalho. E a vida vai seguindo aqui em Curitiba...
No site, hoje faço homenagem às cidades históricas que passamos nestes 400 dias de viagem. Sempre charmosas e interessantes, com certeza são um dos focos desse nosso passeio pelas américas...
A jóia do litoral fluminense, a deliciosa Parati, tão boa para relaxar, comer bem, ouvir boa música, visitar galerias, voltar ao passado. Que o futuro nunca chegue!
Parati - RJ, vista do mar
Tiradentes se destaca, mesmo dentro do grupo das incríveis cidades históricas mineiras. Difícil é ir embora...
Igreja Matriz de Sto. Antonio, em Tiradentes - MG
Longe do agitado centro comercial de Porto Seguro se esconde um local tranquilo e pitoresco...
Casario no centro histórico de Porto Seguro - BA
Salvador dispensa apresentações. Nas cercanias do centro histórico, cada alto de morro e cada ângulo nos reservam panoramas maravilhosos
Santo Antônio visto do Pelourinho, em Salvador - BA
Olinda! O nome vem exatamente dessa expressão: Oh...linda!!!" Já encantava há séculos...
Casas coloridas em Olinda - PE
Triunfo, no interior de Pernambuco, assim como diversas cidades do sertão nordestino, tem um casario antigo charmoso e bem preservado.
Casario colorido em Triunfo - PE
São Luís, com suas casas revestidas de azulejos para proteger do calor intenso. Fundada por franceses mas com forte influência arquitetônica lusitana
Rua com sobrados restaurados no centro histórico de São Luís - MA
Alcântara, do outro lado da baía, longe da confusão da capital, verdadeiro refúgio da tranquilidade. Imperdível!
Na bela praça central de Alcântara - MA
Pirenópolis, cidade histórica goiana, capital nacional das cavalhadas.
Cavalgadas em época de folia em Pirenópolis - GO
Caminhando na Calle Jaen, em La Paz, capital da Bolívia
A cidade de La Paz nasceu no alto, em pleno Altiplano. Localizada a meio caminho entre os dois lados da América Espanhola, o Peru no lado do Pacífico e a Argentina do lado do Atlântico, não demorou muito para que os colonizadores e exploradores que percorriam essa longa rota decidissem fundar uma cidade de apoio naquela região. Mas também não demorou para perceberem que o local escolhido era muito frio, acometido constantemente por ventos gelados e num altitude que judiava dos pulmões. Então, trataram de mudar a nova cidade para um vale logo ali do lado, protegido dos ventos e quase 500 metros mais baixo que o altiplano.
A majestosa Plaza Murillo, em La Paz, capital da Bolívia
Desde então, La Paz cresceu e desenvolveu-se de uma maneira singular. Em quase toas as grandes cidades do mundo, os ricos preferem as partes mais altas da cidade, enquanto a classe mais pobre é empurrada para baixo, ou para a “baixada”. Em La Paz, é o contrário. Os pobres moram no alto. A cidade alcançou novamente o altiplano, aos 4 mil metros de altitude. Aí está o subúrbio de “El Alto”. É a parte mais “popular” da capital. Os ricos, por sua vez, continuaram a descer o vale, cada vz mais para baixo, quase 1.000 metros abaixo de El Alto. É onde estão os condomínios de alto padrão, clubes exclusivos e lojas requintadas.
Caminhando nas ruas de La Paz, capital da Bolívia
Hora do rush em La Paz, capital da Bolívia
Ligando tudo isso, a famosa avenida El Prado, que apesar de receber vários nomes ao longo de toda a sua extensão, é apenas uma. Corre sempre no fundo do vale e para ela seguem quase todas as outras ruas e avenidas. Em La Paz, apesar do trânsito complicado, ninguém se perde: basta descer que se chega no Paseo El Prado.
La Paz, capital da Bolívia, no fundo do vale e aos pés dos Andes
Todas as principais atrações estão próximas da grande avenida, a começar pela rodovia que liga El Alto ao centro e nos leva ao início da El Prado. Ainda lá no alto, a visão que se tem da capital boliviana preenchendo todo o vale, as montanhas nevadas dos Andes ao redor, é simplesmente fenomenal. É a imagem que nunca esqueci da La Paz que conheci há 23 anos, e será a imagem que vou me lembrar pelos próximos 23. Lá de cima, quase se percebe a verdadeira piscina de oxigênio e calor que é o vale e muito me estranha que os experimentados espanhóis não tivesse escolhido esse local logo na primeira tentativa.
Prado, a principal avenida de La Paz, capital da Bolívia
A catedral de La Paz, capital da Bolívia
Bem, seguindo pela Prado, chegamos na zona do centro. Aí está a grande Igreja São Francisco, a mais bela da capital, em plena avenida. Um pouco acima, o Mercado Negro, o maior mercado a céu aberto da capital. Aí, compra-se de tudo. Barato e, muitas vezes, de procedência meio duvidosa. Mas é muito interessante percorrer parte de suas ruelas e nos integrar ao frenético movimento de compra e vende ou, simplesmente, de observação. É fácil também se perder entre tantas barracas, mas como já disse, na dúvida, desça e chegará ao Prado!
Passeando no Mercado Negro, principal mercado ao ar livre de La Paz, capital da Bolívia
Fazendo amigos em La Paz, capital da Bolívia
Mas, se não se perder, siga para a rua mais famosa entre os turistas que visitam La Paz: bem pertinho do Mercado Negro está a Calle de las Brujas, onde se encontra todo e qualquer produto para magias, feitiçarias, encostos e benzeduras. É claro que, com tantos turistas, também não faltam pousadas, bares e restaurantes. Depois de navegar pelo “mar de bolivianos” no mercado, aqui predominam loiros e olhos azuis. Olhos não que não conseguem deixar de fitar as lhamas mumificadas vendidas por várias das lojas daquela rua.
Lhamas mumificadas à venda na região da Calle de las Brujas, em La Paz, capital da Bolívia
Nessa região estivemos, de dia e de noite. Primeiro, para ver as lojas e o público. Depois, atrás de boa comida em algum restaurante charmoso. Sucesso nas duas empreitadas! E, de quebra, ainda conhecemos o Museu da Coca, estrategicamente colocado onde mais passam turistas.
Lhamas mumificadas à venda na região da Calle de las Brujas, em La Paz, capital da Bolívia
Mas a nossa casa em La Paz não estava por aí, mas do outro lado do Paseo Prado. É onde está a Plaza Murillo, a principal da cidade. Na praça, o Palácio do Congresso, a Catedral e outros prédios imponentes, além das pombas que fazem a alegria da criançada e dos velhinhos.
Loja de produtos mágicos na Calle de Las Brujas, em La Paz, capital da Bolívia
A famosa e movimentada Calle de las Brujas, em La Paz, capital da Bolívia
Da outra vez que estive aqui, ficamos em um hotel a um quarteirão dessa praça. Eu queria voltar ao mesmo lugar, pela tradição e nostalgia. E assim fizemos! Encontramos um lugar no hotel Torino, o mesmo que, em uma noite fria de julho de 1990, assisti ao jogo final da Copa daquele ano. Era a reedição da final da copa anterior, Argentina x Alemanha. Claro que iniciei o jogo torcendo pelos germânicos. Mas como todos os outros hóspedes ali presentes eram europeus que também torciam pelos alemães, acabei virando argentino, sul-americano! Ao final, num pênalti roubado, venceu a Alemanha. A tristeza inicial logo foi substituída pela alegria, ao ver os jogadores hermanos chorando de tristeza. Mas, confesso, foi de partir o coração quando decidimos caminhar pela cidade logo depois do jogo e vimos dois portenhos abraçados, bêbados e chorosos, andando pela rua. Aí sim, senti-me mais perto da tragédia...
Pátio central do hotel Torino, em La Paz, capital da Bolívia
Enfim, achamos quarto no Torino. Infelizmente, o quarto que havíamos ficado, e toda aquela ala, foram desativados, Ficavam ao redor de um pátio entral, bem grandes e esbanjando uma decadência charmosa. Agora, o pátio virou restaurante e os quartos, salas de reuniões. Os novos quartos são cubículos em um prédio ao lado. Endim, tudo pela tradição, aí mesmo nos hospedamos.
A charmosa Calle Jaen, em La Paz, capital da Bolívia
Também desse lado do Paseo Prado está a charmosa Calle Jaen, a mais bem conservada rua dos tempos coloniais e do séc. XIX. Muitas das antigas casas foram transformadas em pequenos museus. Antes de nos instalarmos em um restaurante com uma mesinha na calçada, para saborear um bom vinho, percorremos os museus e os que mais me interessaram contavam um pouco da história de Murillo, aquele que dá nome à praça, e da briga boliviana por um acesso ao mar.
A charmosa Calle Jaen, em La Paz, capital da Bolívia
No primeiro, aprendi que Murillo foi o líder de um movimento de independência. Por algum tempo, tiveram sucesso, governando La Paz e prometendo democracia e igualdade racial. Mas as tropas enviadas de Cusco esmagaram a rebelião e todos os seus líderes foram presos, julgados, condenados e executados. Murillo foi o primeiro deles, mas o que mais me impressionou foi um outro, de quem me esqueci o nome. Os condenados eram garroteados, mas nesse, com um pescoço mais fino que o normal, o garrote não funcionou. Depois de apertar ao máximo, o carrasco quase morre de susto quando o condenado se levantou e disse ainda estar vivo. Trataram então de enforcá-lo, mas eis que, ao abrir o cadafalso, a corda arrebentou e o condenado saiu andando novamente. Aì, os espanhóis resolveram não mais arriscar: a pobre vítima foi degolada.
A majestosa Plaza Murillo, em La Paz, capital da Bolívia
No segundo, podemos ver antigos mapas em que a Bolívia ainda tinha mar, antes da Guerra do Pacífico, quando o Chile venceu Peru e Bolívia, quitando dessa suas praias e portos. Os bolivianos nunca se conformaram e a ideia do museu é manter viva a luta, não deixar que as novas gerações se esqueçam do “legítimo” direito boliviano de ter soberania sobre uma faixa de mar, por mais estreita que seja. Ler jornais da época e ver fotos dos combatentes ajuda a manter o clima aguerrido.
garoto boliviano na loja de sua mãe no Mercado Negro, em La Paz, capital da Bolívia
Enfim, foram dois dias intensos por aqui, na movimentada capital boliviana. Faltou falar de uma das grandes atrações, o Valle de la Luna, mas vou fazer um rápido post apenas sobre ele. Mas, já posso adiantar: pessoas me perguntam o que acho de La Paz. Bem, eu gosto de lugares em que eu me sinto bem. E eu me sinto bem em La Paz! Mudaria alguma coisa? Sim, diminuiria o número de fotos que vejo do presidente, em outdoors, faixas e cartazes. Tirando isso, acho La Paz uma joia, um mundo diferente e uma experiência cultural difícil de encontrar em outro lugar!
O presidente está em todos os lugares! (em La Paz, capital da Bolívia)
Mapa de Porto Rico
Estamos de carro novamente! Dessa vez, dirigindo do lado certo da estrada, he he he. Deixamos San Juan um pouco depois das 11 da manhã. Pelo avançado da hora, desistimos de fazer El Yunque hoje e deixamos ele para depois, sexta ou sábado. É um parque nacional numa das áreas montanhosas de Porto Rico, cheio de cachoeiras, piscinas naturais e flora e fauna abundante. Tem fama de ser lindo e, até por isso, participa da eleição das Sete Maravilhas Naturais do mundo. Estou bem ansioso para conhecê-lo e por isso vamos nos programar de chegar lá bem cedinho.
Assim, resolvemos inverter o nosso trajeto e seguir em direção ao oeste, primeiro. Ali está outra das atraçoes da ilha que queria muito ver: o maior e mais famoso radiotelescópio do mundo, Arecibo. Já apareceu em vários filmes de Hollywood, inclusive do 007. Basicamente, é um telefone para conversar com ETs. Só ainda não conseguimos que alguém atendesse a linha do lado de lá...
Arecibo só abre à tarde para visitação. De manhã, o programa era visitar umas cavernas ali perto. O problema é que, no meio do caminho, checamos que os dois parques são fechados às terças. Que beleza!
Partimos então para o plano C, ir direto ao litoral sudoeste do país, onde há o melhor ponto de mergulho. Sim, eu sei, vocês já estão pensando: "Mergulho, de novo? Esses caras só sabem fazer isso?" Pois é... mas é que estamos no Caribe, fazer o quê? Os Andes e as Montanhas Rochosas vão chegar...
Bom, além do melhor ponto de mergulho, vamos também numa das praias mais bonitas do país e em Ponce, a cidade com o centro histórico mais belo de Porto Rico. Depois, tentamos Arecibo novamente, El Yunque e uma ilha, Culebra, lá no outro lado do país, litoral leste.
E assim fizemos. Cruzamos o país no nosso Hyunday, enfrentendo muitas montanhas e estradas apertadas e curvilíneas, dessas que só passam um carro por vez. Cruzar com caminhão ou ônibus escolar é um stress. Com jeitinho, vai. A parte central da ilha é toda cheia de montanhas, a mais alta delas chegando a cerca de 1.400 metros de altura. Passamos ali do lado. A vista, quando as nuvens permitiam, era deslumbrante: montanhas com uma vegetação luxuriante, rios de águas bem transparentes, um convite para o banho. Mas acabamos não parando já que queríamos chegar aqui a tempo de marcar o mergulho para amanhã.
Placa de aviso de Tsunami em La Parguera - Litoral Sudoeste de Porto Rico
E "aqui" é La Parguera, uma vilazinha bem simpática, cheia de pousadas, hotéis e botecos que devem ferver nos feriados ou no verão. Mas hoje está tudo bem tranquilo, meio que com cara de abandonado. A cidade não tem praias, mas está numa baía, cercada por mangues. Amanhã vou ver melhor, tirar fotos e poder descrever mais precisamente. O que já deu para ver é que é uma região passível de sofrer terremotos e tsunamis! Deu para ver na foto, né?
Amanhã, teremos um dia corrido. Mergulho de manhã, praia (meia hora daqui) de tarde e Ponce (meia hora também, mas na direção oposta!) de noite. No outro dia, Arecibo e as cavernas. Depois, para o leste e avante! Tudo isso é possível porque temos rodas! Dá uma liberdade... E não saiu caro: menos de 50 dólares por dia, incluindo todo o seguro e o GPS também.
Inicio da manhã, início da volta na Ilha
Eu e a Ana adoramos a Ilha do Mel. Afinal, foi onde começamos a namorar e onde nos casamos (veja as histórias em http://www.icasei.com.br/roana). Posso dizer que a conhecemos bem , várias de suas pousadas e muitos dos seus personagens. Como ela está bem perto de Curitiba, a gente vinha para cá sempre que podia e até fizemos um curso de surf (ou tentamos) nas suas praias. Foi numa semana em que as famosas "paralelas" rolaram soltas, fazendo a festa dos surfistas locais e de outras cidades também (a notícia se espalha logo e todo mundo corre para cá!).
Pois bem... o que fazer por aqui, então? Primeiro, o mais óbvio, rever e se despedir dos amigos. Tomar o delicioso suco "Seu Angelo", na pousada do Tissot (Astral da Ilha), ser muito bem tratado pelo Zeco e sua equipe, na Grajagan, bater papo com o Rômulo e o Carlinhos na Bee House, enfim refazer, uma última vez, pelo menos nos próximos 1000 dias, as coisas que adoramos por aqui.
Mas, eu ainda queria fazer algo novo, diferente. E resolvi convidar a Ana para dar uma volta na Ilha inteira, em apenas um dia. Cansativo, mas uma proeza memorável. Não é para qualquer um. A parte "gorda" da Ilha, quase toda uma reserva biológica e onde está a Fortaleza dos Remédios, tem cerca de 17 km de perímetro, um dos quais é mangue. Nos outros 16, praias quase sempre desertas, pelo menos de humanos. Queria dar essa volta e depois, caminhar até a praia de Encantadas e voltar nadando até Brasílía. E, no caminho, ainda subir o Morro da Baleia e o Morro do Farol.
Ana aproveitando os primeiros raios de sol, na volta da Ilha
Partimos bem cedo para a empreitada. Tivemos duas grandes sortes nesse dia. Primeiro, a maré, que era de lua, estava no seu ponto mais baixo às 9 da manhã, bem na hora que atingimos a região de mangue. Atravessá-lo ficou muito mais fácil. Em segundo, não é a época das terríveis butucas. Perto de novembro, elas tornam a vida de qualquer um que se aventure por aquele lado da Ilha um verdadeiro inferno. Falo por experiência própria. Ser atacado por dezenas delas, por horas a fio, atravessando um mangue é de lascar! Bom, hoje não era o caso e a nossa travessia transcorreu sem problemas. Muito pelo contrário, tiramos fotos lindas, nclusive da parte mais difícil, na travessia do mangue quase seco pela maré baixa. E ainda tivemos a chance de observar uma fauna variada. Cobras(coral, passeando pela areia!) e lagartos, siris e carangueijos, botos e tartaruga (morta, coitada), gaviões, gaivotas e urubus. E até mesmo um par de flamingos rosas (ou seriam garças?).
Pássaros rosas aproveitando a maré baixa
Foram 4 horas de caminhada, quase 20 km desde a Grajagan até o istmo e, de lá, contornando no sentido horário, até a Fortaleza. Lá, abençoadas cervejinhas para relaxar e subimos, renovados, o Morro da Baleia. Embalados, fomos direto até o Farol, uns 5km a frente. Sempre filmando e fotografando muito. O dia, variando constantemente entre nublado e ensolarado, nos fornecia sombra e belos momentos para fotografias. Por fim, já satisfeitos com o que tínhamos feito e visto até então e iluminados pela sombra do farol, decidimos que aquilo já era o suficiente. Encantadas e a travessia aquática até Brasília (que recomendo muito aos que sabem nadar) ficaram para o dia 999 da viagem. Para o dia 4 já estava bom demais! Nossos pés agradeceram...
Atravessando o mangue na maré seca
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