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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Portón de Campo, principal porta de acesso nas muralhas da antiga Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Depois de quase três dias explorando a capital uruguaia, estávamos prontos a sair de carro pelas estradas do país, em busca de suas famosas cidades praianas, a leste, mas também do tesouro colonial de Colonia del Sacramento, a oeste. A pequena cidade às margens do Rio da Prata, quase em frente a Buenos Aires, do outro lado do rio, é um dos polos turísticos do Uruguai, perdendo em número de visitantes apenas para a capital e para o resort de Punta del Este. Uma mistura de Ouro Preto e Tiradentes (todas essas cidades prosperaram na mesma época!), Colonia, por sua história e charme, é ponto de visita obrigatório para quem deseja conhecer minimamente o Uruguai e entender um pouco a alma do país.
Com os pais em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai, afmirando o Rio da Prata
Restaurante tradicional em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Eu e a Ana já tínhamos passado pela cidade poucos dias atrás, antes de encontrarmos meus pais em Montevideo. Foi uma passagem rápida, uma tarde apenas, com o intuito de já encontrar e reservar um hotel para este fim de semana. Viajando agora com os pais, não queremos ficar nos arriscando a ter de dormir no carro! Colonia del Sacramento é sempre uma cidade muito concorrida, principalmente nos finais de semana. A maioria dos visitantes vem para um day-tour e retornam para a capital, mas há também aqueles que preferem ficar mais tempo e aproveitar a tranquilidade, o charme e boa gastronomia da cidade. Enfim, nós já estávamos garantidos com nosso hotel e foi só chegarmos diretamente até ele no final da manhã, depois das duas horas ou 200 km desde a capital até aqui. Viemos por duas noites e, devidamente instalados bem próximos do centro histórico, logo saímos para caminhar pelas antigas ruas de pedra e mergulharmos na história da cidade onde começou o Uruguai.
Caminhando em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Em ladrilhos portugueses, o mapa da antiga Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Como todos aprendemos em nossas aulas de história no colégio, o mundo foi dividido entre Espanha e Portugal, através do Tratado de Tordesilhas e com a bênção do papa, no final do séc. XV. Os monarcas dos outros países não deram muita bola para esse tratado e o rei da França até declarou: “Mostrem-me o testamento de Adão!”, mas o fato é que, naquela época, Portugal e Espanha eram as grandes potências marítimas da Europa e, ao menos durante o próximo século, realmente dividiram o mundo entre eles. A costa africana, brasileira e indiana para Portugal e a maior parte do Novo Mundo, além do arquipélago das Filipinas, para a Espanha.
Angigo mapa do estuário do rio da Prata, em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Caminhando em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
O problema é que o Tratado de Tordesilhas era muito vago e dava margem a diversas interpretações. Além disso, com a união ibérica entre 1580 e 1640, período em que Portugal e Espanha tinham o mesmo monarca, essa divisão do mundo perdeu o sentido, já que todas as terras pertenciam ao mesmo rei. Quando a união foi desfeita, portugueses haviam avançado, e muito, os antigos limites. O antigo tratado voltou a valer, mas as cláusulas vagas eram usadas pelos dois lados. Por exemplo, ele estabelecia que o limite estaria a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, mas Cabo Verde é um arquipélago com várias ilhas. A qual ilha ele se referia? Além disso, o próprio conceito e extensão de “légua” podia ser discutido. Em suma, tinha interpretação para todos os gostos e, ao final, a prática acabou atropelando a teoria e, em muitos casos (o Brasil é a prova disso!), o famoso Tratado de Tordesilhas acabou virando letra morta.
Basílica do santíssimo Sacramento, em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Antiga construção portuguesa em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Pois bem, voltemos então para a nossa Colonia del Sacramento, localizada no Rio da Prata. Na interpretação mais conservadora do tratado, era território estritamente espanhol. Mas, com a separação das duas nações ibéricas em 1640 e o valor estratégico dessa região, não faltavam teóricos portugueses a defender que a área era, de direito, portuguesa. Soma-se a isso a grande oportunidade econômica que surgira ao final do séc. XVII para estabelecer aí um centro de contrabando e os portugueses não mais titubearam. Em 1680, vindos do Rio de Janeiro, fundaram o povoado de Nova Colonia do Santíssimo Sacramento, às margens do Rio da Prata e bem em frente à já centenária cidade de Buenos Aires, do outro lado do rio, a 50 km de distância.
Placa de rua em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Rancho Portugues, uma das mais antigas construções em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
A “oportunidade econômica” a que me referi foi criada pela própria estupidez das leis espanholas para sua colônias na América do Sul. Com o objetivo de ter um maior controle sobre os fluxos comerciais entre suas colônias americanas e a Europa e assim poder taxá-los, a Espanha decretou que todas as exportações e importações deveriam ser feitas através do porto de Lima, no Peru. Em termos práticos, isso praticamente inviabilizava qualquer empreendimento na área de Buenos Aires. Mesmo estando às margens do Rio da Prata, excelente para a navegação e muito mais perto da Europa do que o Peru, no Pacífico, todo e qualquer produto da região deveria seguir o longo, custoso e demorado caminho por terra até Lima. Para trazer produtos europeus, a mesma coisa. Não poderia haver melhor estímulo para que se tentasse enganar a coroa espanhola e apelar para o contrabando diretamente pelo Oceano Atlântico. É justamente aí que entram os portugueses e sua nova cidade na margem oriental do estuário do Prata. Isentos das leis espanholas, já que eram portugueses, poderiam trazer seus produtos até Colonia. Aí, um rápido contrabando através do Rio da Prata e pronto. Como já havia dito quando passamos em Buenos Aires, a capital argentina só prosperou devido ao contrabando, e a outra ponta desse comércio ilegal era justamente a pequena cidade portuguesa do outro lado do rio.
Entrada de antiga construção em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Entrada de casa em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Obviamente, as autoridades em Buenos Aires, ao menos as mais “corretas”, não gostaram muito dessa história. Assim, menos de um ano após a fundação da nova colônia portuguesa, uma expedição vinda de Buenos Aires conquistou a nova cidade. Mas as razões econômicas para a sua criação continuavam ali e, conversa daqui, pressão dali, um tratado devolveu a cidade à administração portuguesa. Os dois lados do rio estavam felizes e lucrando com essa situação. Um quarto de século mais tarde, uma guerra de sucessão na Espanha deu a chance para que os legalistas invadissem e conquistassem novamente a cidade portuguesa. Mas com o fim da guerra e nova pressão daqueles que ganhavam dinheiro com a situação, um novo tratado devolveu, mais uma vez, a cidade aos portugueses. Foi a época áurea de Colonia del Sacramento, meio século prosperando com as receitas advindas do contrabando.
Bicicletas, ótima maneira de se locomover em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Entrada do Museu Histórico Português, em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Finalmente, já na metade do séc. XVIII, a Espanha se convenceu da ineficiência econômica de centralizar todo o comércio de suas colônias americanas em Lima. Foi criado o Vice-reinado do Prata, com sede em Buenos Aires, e a cidade ganhou carta branca para comercializar diretamente com a Europa. Colonia, que já havia perdido sua força política daquele lado do rio, superada por Montevideo, agora perdia sua principal força econômica. Os espanhóis não tardaram a reocupara a cidade, em 1762. Mas o Tratado de Paris, no ano seguinte, resultado da Guerra dos Sete Anos, em que Espanha e França foram derrotadas por Inglaterra, devolveu ainda mais uma vez a cidade a Portugal. Dessa vez, o domínio não durou tanto tempo e os espanhóis voltaram novamente, em 1777.
As antigas muralhas de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
O principal portão de acesso nas muralas da antiga Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Em 1811 veio a guerra de independência do Uruguai e Artigas expulsou para sempre os espanhóis, da cidade e do país. Mas o herói uruguaio ganhou, mas não levou. Aproveitando o conflito entre unitaristas e federalistas nas forças argentinas, os portugueses voltaram à carga e reconquistaram o Uruguai e sua antiga Colonia do Sacramento. O ano era 1817 e, cinco anos mais tarde, ao serem expulsos do Brasil independente por Dom Pedro I, nosso país acabou herdando as terras uruguaias, agora com o nome de Província Cisplatina. Mas o país, definitivamente, não queria falar português. Em 1825 estourou uma rebelião e, três anos amis tarde, as forças brasileiras eram expulsas do país e admitiam a derrota. Colonia del Sacramento, agora uma cidade sem grande importância, nunca mais seria invadida. Pelo menos, por forças militares.
Museu dos Azulejos, fechado para almoço. Em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Momento de descanso durante passeio por Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
A vida continuou tranquila por lá pelo próximo século, a cidade crescendo e ficando bem maior do que a pequena península onde havia prosperado. Aliás, sua parte histórica foi relegada pelo poder público e ocupada pelo submundo do crime e prostituição, construções centenárias de desfazendo no tempo. Foi apenas na década de 60 que um visionário teve a brilhante ideia de reabilitar a área. Muitas das c0nstruções históricas foram restauradas ou reconstruídas, preferencialmente no mesmo estilo original e com o mesmo material de construção. O investimento deu certo e Colonia foi declarada Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco na década de 90. Um estímulo a mais para a nova invasão: de turistas e de infraestrutura pera melhor recebe-los, como hotéis e restaurantes.
Praça no centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Convidativas mesas de restaurante no centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Durante este final de semana, nós fomos apenas mais quatro “soldados” dessa nova invasão. Eu a Ana pudemos logo notar o movimento bem maior nas ruas do que aquele que havíamos visto dias antes. Fizemos muito bem em deixar o hotel reservado! Localizado a um quarteirão da antiga muralha da cidade, pudemos fazer todos os nossos passeios a pé. A parte colonial da cidade não é grande, algo com uns dez quarteirões, e bastam poucas horas de caminhada para se percorrer, em ritmo lento, todas as suas charmosas ruas de pedras e praças jardinadas.
Calçada sombreada em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Farol de 1857 construído sobre as ruínas ainda mais antigas do convento de São Francisco xavier, em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
São vários pequenos museus, como o Museu Português, o Museu Espanhol e o Museu do Azulejo. É possível comprar um ingresso que dá direito a entrar em todos eles, visitas curtas e interessantes. Outros pontos de interesse são o farol, com 150 anos de idade e construído sobre as ruínas de um convento da época colonial, as antigas muralhas da cidade e o portão de acesso através dessa antiga muralha e as antigas igrejas da cidade. Mas, sem dúvida nenhuma, o mais interessante é mesmo apenas caminhar nas ruas de pedra, muito tranquilas e bem cuidadas, e sentir a atmosfera de dois ou três séculos atrás.
Visitando antiga construção portuguesa em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Museu dos Azulejos, em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
A vista para o Rio da Prata, principalmente nos finais de tarde, é gloriosa. Melhor ainda se estivermos muito bem instalados em algum dos muitos restaurantes espalhados pelo centro histórico. Alguns mais caros, outros nem tanto, alguns mais chiques e charmosos, outros uma espécie de armadilha para turistas. A questão é saber escolher entre eles, pois há boas opções. Depois de 1000dias de viagem, e ainda mais acompanhados dos meus experientes pais, somos bons nessa arte e não temos do que reclamar. Comemos e bebemos muito bem nesses dois dias na cidade.
Carros antigos, parte do cenário de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Uma das igrejas históricas de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Com bastante tempo que tínhamos, também tivemos a oportunidade de conhecer a cidade fora dos muros. Aí também há atrações, como as praias e até uma Plaza de Toros. Mas isso é assunto para o próximo post! Isso e um encontro muito especial que tivemos na cidade. Uma dupla de brasileiros apenas começando uma longa viagem pelas Américas, de carro. Pois é, nós terminando, e eles começando. E o encontro foi aqui, em Colonia del Sacramento. Mais um motivo para consideramos essa pequena e charmosa cidade muito especial nesses 1000dias!
Passeando na parte histórica de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
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