0
Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
Alaska Anguila Antártida Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Falkland Galápagos Geórgia Do Sul Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Islândia Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Uruguai Venezuela
Mais de 15 anos frequentando Ubatuba e não é que eu descobri um mundo n...
Há quase três anos, no dia 4 de Março de 2011, eu e a Ana cruzávamos ...
O grande líder da revolução haitiana que se iniciou em finais do séc ...
RUBENS WERDESHEIM (13/12)
Belíssimo lugar .Acrescentando ,a familia real brasileira descende da ar...
Lorena (12/12)
Olá! Descobri o blog de vocês há pouco tempo e amei! Pretendo fazer o ...
Ariane (12/12)
Olá! Amei esse lugar. Sou carioca e amo Curitiba. Eu e o noivo estamos ...
Fernanda Sortanji (10/12)
Olá! Tenho acompanhado a viagem de vocês! Fantástica! Sei que algumas ...
Jacques (05/12)
Olá Rodrigo! Estou pensando em ir a Denver em 20 Março e talvez alugue...
O movimentado show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Estou ficando velho. Música eletrônica não é da minha época. Acho que começou a aparecer nos últimos anos de faculdade, quando já não tinha muito tempo para baladas. Depois, o tempo foi passando, a moda veio chegando, nomes se consagrando, grandes festivais, as famosas raves, mas nunca participei do movimento.
Chegando à Foundation para assistir o show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Mas, quis o destino, casei-me com alguém que sempre gostou da bendita música eletrônica. A convivência com a Ana começou a me fazer aturar esse novo tipo de “arte”. Depois, com o tempo, até comecei a gostar um pouco também, mas sem entender patavínia. Os grandes nomes desse tipo de música, para mim, são como os nomes da nova geração de atores da Globo ou essas modelos que aparecem todos os dias na capa do UOL ou do Terra: nunca vi mais gordos. Talvez por isso, nem me importei quando a Ana, há poucos dias, exclamou entusiasmada: “O Paul van Dyke vai tocar aqui em Seattle!!!”
Fantasias de Halloween na noite do show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Diante da minha reação pouco entusiasmada, ela pacientemente explicou. É um dos maiores DJs da história. Nascido e crescido na antiga Alemanha Oriental, só conseguia ouvir música pirateada por baixo do Muro de Berlin. O muro caiu e van Dike foi um dos precursores dessa nova arte, ganhador de inúmeros prêmios e cultuado mundo afora!
Fantasias de Halloween na noite do show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Bom, diante disso, tratamos de refazer nossa agenda. Saímos de Seattle para uma volta pelos parques nacionais próximos e voltamos a tempo de assistir o show na noite de hoje, 31, em pleno Halloween. Com direito a voltar ao “nosso” Hyatt pelo mesmo ótimo preço conseguido pelo PriceLine, menos da metade do preço de balcão. E ainda tivemos a sorte de, ao retornar à cidade, reencontrar nossos amigos colombianos, que rodam a América na Lunita, a simpática Kombi verde.
Reencontro com nossos amigos Kombianos em jantar no restaurante giratório da Space Needle, em Seattle, no estado de Washington, nos Estados Unidos
Jantamos todos no restaurante giratório da Space Needle, com direito a vinho e uma vista fantástica das luzes da cidade. Depois, novas despedidas (acho que já é a quarta vez!) e um até breve nesse pequeno continente que ambas as expedições exploram incansavelmente.
Prontos para o show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Dali para o hotel e de lá, após nos “esquentarmos” no delicioso rum de Barbados que tem viajado bastante conosco, de van para a boate onde ocorreria o show. Foi ali que percebemos que estaria todo mundo fantasiado. De bruxas, vampiras, motoqueiros, monstros, jogadores e o que for. Afinal, era noite de Halloween!
O movimentado show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Depois de 10 minutos na fila nos divertido com as fantasias, na nossa vez de entrar, fomos barrados. Ali, só com passaporte, nada de carteiras de motorista ou cédulas de identidade. Não tem problema! Ligamos para o hotel, eles vem nos buscar, pegamos nosso passaporte, a Ana improvisa um disfarce também e nós finalizamos o Mount Gay (o já saudoso rum de Barbados). Voltamos para o show mais prontos do que nunca.
DJ Paul van Dyke em ação, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Agora, o simpático porteiro nos passa na frente da fila e logo nos divertimos lá dentro. A música não demora a começar e, perto da meia-noite, aparece o alemão em grande estilo. Para minha agradável surpresa, ele parece uma pessoa normal. Nada de estrelismos ou esquisitices. Melhor ainda, faz uma música de excelente qualidade!
Mulheres fantasiadas de 5o Elemento animam o show do DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
A Ana me dizia: “Tá vendo? Isso é música eletrônica de verdade! É bom ou não é?”. Não tinha como negar, era muito boa mesmo. E assim continuou pelas próximas duas horas ininterruptas. Muita música, muitas luzes, muita gente feliz. No alto da boate, para animar ainda mais a noite, uma punhado de mulheres cheias de saúde, fantasiadas de 5º elemento, pouca roupa e muita pele, dançavam sem parar. Na pista, vampiras e anjas disputavam um bruxo enquanto um motoqueiro flertava com a diaba.
Show do famoso DJ Paul van Dyke, em Seattle, estado de Washington, nos Estados Unidos
Pena que, como tudo nesse país, regras são regras. Duas da manhã e fim de show. A galera pediu bis. O simpático alemão voltou e queria tocar. Percebe-se logo que faz aquilo por amor e não só por dinheiro ou profissionalismo. Mas os donos da casa não deixaram. Luzes acesas, hora de voltar, sem choradeiras. Não demorou muito e nossa van já vinha nos buscar. A música eletrônica, pelo menos no padrão Paul van Dike, ganhou mais um fã...
Entrada da caverna Temimina, no PETAR
O programa de hoje foi no Núcleo Caboclos, onde estive hospedado há vinte anos. Fica no município de Apiaí, a 30 km daqui. Estrada de terra, quase uma hora de viagem. Saímos cedinho, para encontrar o Edson já em Apiaí, onde ele mora. De lá, mais uns 20 km de asfalto até nova estrada de terra, descendo até o Caboclos. Por ser assim, tão isolado, ele é muito menos frequentado.
Montanhas entre Apiaí e Iporanga
Caminho entre Apiaí e Iporanga
Lá chegando, uma desagradável surpresa: a Fiona tinha um pneu furado. O barulho do ar vazando podia ser ouvido de longe. Conto sobre isso no post seguinte. A trilha para a Temimina tem cerca de três kms. Trilha de verdade, se comparada com as trilhas do dia anterior. No meio do mato e da mata. O Edson foi abrindo caminho pelas folhagens e teias de aranha e nós atrás dele. Após a chuva dos últimos dias, os únicos rastros na trilha eram dos animais que estiveram por lá nas últimas horas. Vimos rastros de porcos, roedores e de onças. Muito rastro de onça. Inclusive com filhote. Tenho certeza que elas nos observavam. O cheiro de urina, para marcar território, ainda estava fresco. Mas, infelizmente, não conseguimos ver nenhuma.
Vencida a mata densa, as onças e uma íngreme descida com ajuda de cordas chegamos à mais bela das cavernas da região. A entrada da Teminina é absolutamente linda. Um rio sereno margeando um paredão de pedra, um desabamento do lado direito, o teto de pedra a quarenta metros de altura, bastante luz entrando pelo lado do desabamento. Conforme seguíamos o rio, a caverna vai se fechando. A visão da enorme a larga boca da caverna é inesquecível. Do teto, gigantescos estalactites desciam, em formas grotescas. Pareciam raízes de árvores, principalmente quando cobertos de musgos ou bromélias.
Entrada da caverna Temimina, no PETAR
Seguindo caverna adentro, ela se mantém ampla, larga e alta. Lá dentro, o rio continua a correr sereno, formando verdadeiras praias de areia lá dentro. Algumas pobres sementes, inclusive de palmiteiros, tiveram o azar de germinar lá dentro, naquela escuridão eterna. Crescem albinos e duram enquanto durarem as reservas energéticas da semente. São uma visão incomum, quase surreal, dentro de uma caverna.
Próximo às paredes, diversos espeleotemas. Os que me chamam mais a atenção são os ninhos de pérolas. Um branco e outro, não muito longe dali, vermelho. Mas, o que mais me chamou a atenção foi o "chuveirão". Como o próprio nome diz, um verdadeiro chuveiro, com fluxo de água constante, caindo de uma altura de 5 metros sobre uma pequena banheira circular. É possível jurar que aquilo foi feito pelo homem. Perfeito demais! Mas é apenas mais uma dessas formações de caverna, que a natureza faz tão diligentemente num piscar de olhos de 50 mil anos . Com esse tempo todo, dá para ela caprichar nas formas...
Saída da Teminina, no PETAR
Apesar da concorrência forte e dos percalços do dia (meu tênis arrebentou, esqueci a lanterna, o pneu furou, entre outras coisas), esse foi nosso passeio predileto aqui no Petar. Tanto a bela trilha como a caverna maravilhosa, a única das que estivemos agora que eu ainda não conhecia. Para coroar tudo, a visão desse chuveiro por lá foi espetacular!
Só faltou homenagear o Edson, nosso guia nesses dois dias. Logo se acostumou conosco e entendeu o nosso humor. Nas trilhas, nos divertíamos contando e rindo das nossas próprias piadas e tiradas. As onças devem ter se assustado com aquelas três figuras passando por aquela trilha molhada, rindo uns dos outros. Perdemos a onça mas não perdemos a piada!
Mergulhando no pequeno cenote Blue Hole, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Hoje foi dia de deixarmos as vilas do estado de Toledo, no sul de Belize, para trás e seguirmos até San Ignacio, já quase na fronteira com a Guatemala. Um longo caminho e boa parte dele, o trecho até Dangriga, por estradas já conhecidas.
Viagem de Blue Creek, em Toledo, no sul de Belize, até San Ignacio, passando pelo Blue Hole e pela capital, Belmopan
A partir daí, estradas novas para nós. Nesse trecho, tínhamos programado duas paradas. A primeira delas, justamente a que mais aguardávamos, era no Blue Hole National Park. Não confundir com aquele outro Blue Hole, que fica em alto mar, no litoral de Belize! Esse aqui fica em terra firme mesmo e, talvez pelo nome, tínhamos muitas expectativas.
Pessoas nadam no pequeno cenote Blue Hole, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Mas, chegando lá, ficamos meio decepcionados. Nada que se possa comparar ao primo mais famoso. É uma pequena piscina natural, água meio azulada, sob a qual se esconde uma caverna. Mas, acostumados que estamos com os cenotes mexicanos, com água praticamente transparente, achamos esse aqui meio turvo.
Nadando no pequeno cenote Blue Hole, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Enfim, foi só um problema de expectativas exageradas. A água estava muito gostosa e deu para nos refrescarmos. Eu até mergulhei dentro da caverna, a pouco mais de 8 metros de profundidade. Mas sem lanterna e com visibilidade de poucos metros, não tive muita vontade (e nem coragem!) de me enfiar muito, não! A caverna ainda não foi explorada, pelo menos não nesse lado do rio. No outro lado, corrente abaixo, mergulhadores seguiram cerca de 800 metros, sempre em pequenas profundidades, até atingirem a caverna de St. Herman.
Mergulhando dentro da caverna no cenote Blue Hole, um parque ao sul de Belmopan, capital de Belize
Pois é, essa é a outra atração desse pequeno parque nacional que fica a uns 15 quilômetros ao sul de Belmopan, a capital do país. A caverna de St Herman está aberta à visitação e um trecho de 200 metros pode ser feito sem guias. A gente alugou uma lanterna, juntamos com uma nossa e fomos explorá-la.
Chegando á St Herman's Cave, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Com pouca luz, não deu para admirar muito as formações, mas a graça aqui era outra: estarmos sós em uma caverna, coisa que há muito não fazíamos. Seguimos pela trila que é demarcada até o ponto onde uma placa adverte sobre a necessidade de um guia. Aí, já sem triha, seguimos um pouco mais, apenas pelo sabor da emoção. Apagamos as luzes, ficamos um pouco na escuridão total, teorizamos sobre como seria voltar se nossas luzes falhassem e, antes que isso acontecesse, voltamos à segurança da trilha e, mais ainda, á sempre maravilhosa e reconfortante luz do sol.
A boca da caverna St Herman's Cave, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Depois disso, ainda deu tempo de fazer uma trilha pela mata, subindo até o ponto mais alto do parque, onde há um mirante. Mas não pudemos ficar muito por lá pois ainda tínhamos estrada pela frente.
A boca da caverna St Herman's Cave, ao sul de Belmopan, capital de Belize
De volta à Fiona, alguns quilômetros à frente demos carona para um policial. Trabalha em Belize City, mas mora em San Ignacio. Perguntamos o porquê e ele não titubeou: “Belize City é muito perigosa!”. Por isso ele prefere gastar quase quatro horas de transporte todos os dias...
Passeio na St Herman's Cave, ao sul de Belmopan, capital de Belize. A partir daqui, só com guia!
Mas hoje foi menos, com uma carona na Fiona! Com ele no carro, ganhamos um guia para nossa passagem por Belmopan. Ali fica a academia da polícia, onde ele fez seu treinamento e, por isso, conhece a cidade. Não que haja muito para ver... Demos a volta no grande quarteirão central, onde estão o Palácio do Governo, algumas embaixadas, alguns ministérios, a rodoviária e, claro, a academia de polícia, mostrada com orgulho pelo nos carona. Não encontramos nada que realmente merecesse uma foto e seguimos viagem, para o trecho final até San Ignacio.
Observando formação na St Herman's Cave, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Chegamos aqui no final da tarde, nos instalamos no centro mesmo (a cidade é famosa pelos seus hotéis rurais...) e já temos programação para amanhã: vamos conhecer as impressionantes ruínas mayas de Caracol, a 80 quilômetros de estrada de terra daqui, boa parte delas feita com escolta do exército. Só para aumentar a emoção, hehehe
Subindo em mirante no alto de uma colina no parque do Blue Hole, ao sul de Belmopan, capital de Belize
Cachoeira de Santo Isidro, no Parque Nacional da Serra da Bocaina - SP
Ontem de noite, quando chegamos à pacata São josé do Barreiro, tivemos que rodar bastante pela pequena cidade até achar alguma pousada que parecesse estar funcionando. Encontramos a simpática Pousada do Régis e fomos logo desmaiar, tentando nos recuperar da correria dos últimos dias e nos antecipar da correria dos dias vindouros.
Placa indicativa do Parque Nacional da Serra da Bocaina - SP
Hoje cedo, já saímos de mala e cuia para o Parque Nacional da Serra da Bocaina. De lá, seguiríamos diretamente para o litoral fluminense, via Bananal. Para se chegar ao parque, são 25 quilômetros de estrada de terra, em "pécimo" estado, como dizia o cartaz que vimos. Nem está tão ruim assim, comparado com outras estradas que vimos por aí. Para a Fiona, mamão com açúcar. Para variar, cruzamos vários valentes fuscas pela estrada. A estrada vai serpenteando morro acima, de maneira quase sempre suave. A vista é linda, lá do alto. Olhando para baixo, parece um mar de ar (estranho, né? Mas é o que parece...) e o vale do Paraíba lá embaixo, no fundo, com o rio serpenteando para lá e para cá. Já quase no parque, há várias pousadas, mais chiquetosas. Várias tem até um serviço de busca de hóspedes lá em São José do Barreiro.
A parte de cima da Cachoeira de Santo Isidro, no Parque Nacional da Serra da Bocaina - SP
No parque, muitas informações sobre a Trilha do Ouro, que desce a serra em direção à Mabucaba e Parati. Quase toda a descida ainda tem o calçamento de dois séculos, feito por mão de obra escrava. Como já escrevi em outro post semana passada, quando estive na parte de baixo do parque, eu já fiz essa trilha e recomendo. Não estava sabendo o quanto ela está popular nesses dias de hoje. Só no feriado foram mais de cem pessoas descendo a trilha, quase sempre em grandes grupos, mas também há os aventureiros solitários.
Nadando na Cachoeira de Santo Isidro, no Parque Nacional da Serra da Bocaina - SP
Eu e a Ana, por uma questão de logística e de tempo, só fomos até a Cachoeira Santo Isidro, bem próxima da portaria. Parece uma pintura, de tão bonita. E parece uma geladeira, de tão fria. Das cachoeiras do parque, é a mais atrativa de se nadar, pelo seu grande poço. Foi o que eu e a Ana fizemos, ignorando mais uma vez o frio da água.
Cachoeira de Santo Isidro, no Parque Nacional da Serra da Bocaina - SP
Depois, descemos a serra e o "mar de ar" novamente, parando para um rápido lanche em São José. Na sequência, seguimos de carro até Bananal e Getulândia, já no estado do Rio. Esta é a estrada dos tropeiros, a antiga ligação entre Rio e São Paulo, antes da construção da Dutra. A estrada passa por várias fazendas, algumas ainda com suas belas casas centenárias, reminiscências de uma época de ouro da região, quando a cultura do café floresceu por aqui fazendo fortunas. O cultura do café acabou por exaurir a terra e se mudou para novas áreas, como o interior paulista, no final do séc XIX e início do XX. Deixou para trás essas magníficas e decadentes fazendas. Muitas delas, nesses últimos tempos, se reencontraram no turismo e fazem a festa de quem quer um gosto de vida na fazenda com muito estilo e história.
Região da Serra da Bocaina próximo à São José do Barreiro - SP
Nós viemos até Parati, no mesmo hotel em que estivemos antes. Amanhã, vamos para o Pouso da Cajaíba, sem esquecer do fiorde brasileiro, o Saco do Mamanguá! Beleza, vamos encontrar muitas. Acesso à internet, isso já não sei...
Fazendo um lanchinho em São José do Barreiro - SP
Chegando em Tijuana e na fronteira com os Estados Unidos!!!
Ontem, dia 24, ainda no alto da maravilhosa Sierra de San Francisco e em pleno Deserto Vizcaino, iniciamos nossa longa viagem para Tijuana, já na fronteira entre México e Estados Unidos. E a primeira etapa dessa longa viagem só durou cinco minutos! É o tempo que leva para dirigir os 3 km entre nosso hostal, onde tínhamos nos despedido da simpática Jadira, até a Cueva del Ratón, onde já nos aguardava o nosso guia, que tem o sugestivo nome de Refugio.
Com a simpática Jadira, gerente do nosso hostal na Sierra de San Francisco, na Baja California - México
Refugio, nosso guia na Cueva Ratón, na Sierra de San Francisco, na Baja California - México
A tal cueva tem esse nome porque quando foi redescoberta, em finais do século XIX, pensou-se que uma das figuras ali pintadas parecia um rato. Ledo engano, que deve ter feito o milenar artista tremer em sua cova. Não, não era um rato, mas um puma! Esse e outros animais estão ali, magistralmente desenhados por artistas de muitos milhares de anos atrás que deixaram para nós marcas de sua cultura e sociedade há tanto desaparecidas.
Incríveis pinturas rupestres na Cueva Ratón, na Sierra de San Francisco, na Baja California - México
De novo, foi emocionante ter estado lá, diante dessa arte que ainda parece tão presente, ao mesmo tempo que evoca um passado tão distante. Outra vez, o mistério das pinturas estarem em paredes e tetos altos, inacessíveis sem uma boa plataforma. E, outra vez também, a figura do misterioso feiticeiro, túnica metade negra, metade vermelha e um capuz que faz seu rosto ficar escuro. Deve ter sido uma pessoa importante e poderosa, esse cara.
Admirado com a altura das pinturas rupestres na Cueva Ratón, na Sierra de San Francisco, na Baja California - México
O mesmo misterioso feiticero está na Cueva Ratón, na Sierra de San Francisco, na Baja California - México
Meia hora de visita e reverência e estávamos prontos para os próximos 800 km de estradas. A parte norte da península da Baja California é menos interessante que a parte sul e resolvemos atravessá-la rapidamente, depois de termos ficado quase 10 dias na parte meridional. Alguns quilômetros de estrada de terra precária nos levaram até o asfalto e daí para a estrada principal, que nos levaria até a fronteira. Nesse trecho, mesmo apesar do longo caminho à frente, impossível não parar para tirar mais umas fotos do cenário maravilhoso. As montanhas e canyons da Sierra de San Francisco e a vastidão da planície desértica à nossa frente, lá embaixo. Uma pintura!
O magnífico visual da Sierra de San Francisco, na Baja California - México
A enorme planície desértica de Vizcaino vista do alto da Sierra de San Francisco, na Baja California - México
Bom, descemos para a planície e seguimos em direção à costa do Pacífico. Nesse trecho, aí sim vimos aquele deserto que todos temos em nossas mentes, cheio de areia e quase sem vegetação. Mas não demorou muito e chegamos à Guerreiro Negro, já na orla do mar e cidade que marca a fronteira dos estados de Baja California (onde está Tijuana) e Baja California Sur, onde tínhamos ficado todo esse tempo. A placa animadora no final da cidade marcava 699 quilômetros para Tijuana e 407 km para San Quintin, onde pretendíamos passar a noite.
Atravessando o deserto Vizcaino a caminho de Guerrero Negro, na Baja California - México
Em Guerrero Negro, já mais "perto" de Tijuana, na Baja California - México
Dois desafios nos esperavam até lá. O primeiro, as constantes barreiras do exército para revistar os carros. Passamos por umas cinco, entre ontem e hoje. Algumas mais rápidas, outras demoradas, mas sempre muito simpáticos e curiosos conosco. O segundo, a total ausência de postos de combustível. Depois de uns 30km de Guerreiro Negro, lá veio a placa: “Próximo posto – 217 km”! Ô loco! Ainda bem que o tanque da Fiona é grande! Assim que vimos a placa, comecei a controlar, pelo computado de bordo, o cálculo de autonomia do carro. No início, era um número parecido com a distância do posto. Mas foi só tirar o pé do acelerador que a autonomia foi aumentando e, quando enfim chegamos ao posto, o computador ainda marcava uns 60km!
Um dos muitos postos de vistoria do exército na Baja California - México
No trecho final da estrada de ontem, o deserto ficou para trás e a paisagem foi sendo tomada pelo verde. Finalmente, depois de tanto tempo sem ver cidades, elas apareceram, uma grudada na outra, crescendo na beirada da estrada, já com cara de cidades americanas. Até aqui, a menos de 300 km da fronteira, eles chegam aos montes em busca de praias e “exotismo”. Parte da cultura já foi adotada, inclusive a dos eficientes motéis de beira de estrada. Num deles, em San Quintin, a gente se instalou para um respiro depois de tanto asfalto.
Região de San Tomás, área de produção dos melhores vinhos do México (próximo à Enseñada, na Baja California)
Hoje saímos para uma etapa mais curta, depois de ficar até tarde no nosso quarto. Pouco mais de duas horas de estrada e chegamos à Enseñada, uma cidade que só cresceu de verdade quando aí foi instalado um hotel-cassino construído para os americanos na década de 30, época da famosa Lei Seca. Oitenta anos antes a pequena cidade havia sido ocupada pelo flibusteiro americano William Walker, que a declarou capital da República da Baja California. Esse louco foi expulso pelos mexicanos e tentou de novo criar sua república escravocrata na América Central. Chegou a conquistar e governar a Nicarágua, mas acabou sendo capturado pela marinha inglesa e entregue aos hondurenhos, que o fuzilaram.
Tomando um bom vinho mexicano em Enseñada, na Baja California, no México
Enseñada hoje recebe milhares de americanos, muitos dos quais chegam em cruzeiros. Um aspecto bem mais interessante da cidade é que ela fica no centro da principal região vinícola do país. Ou seja, é fácil encontrar um bom vinho nos diversos cafés e restaurantes da cidade. Nós prestamos nossa homenagem a isso, parando para almoçar e bebericar um pouco, vinho nacional, é claro!
Delicioso almoço e ótimo vinho em Enseñada, na Baja California, no México
De volta ao asfalto, seguimos pela famosa autoestrada que liga Enseñada à Tijuana. É uma belíssima estrada costeira, mas o tempo não ajudou. Depois de tatos dias de sol, chovia hoje. Brincamos que era o México triste com a nossa partida. Hmmmmm...
Chegando com chuva em Tijuana, na fronteira do México com os Estados Unidos
Bom, entramos na mais famosa cidade fronteiriça do continente embaixo de muita água. Tanto ouvimos falar dessa cidade e de seus perigos que a chegada foi uma surpresa. Afinal, é uma cidade grande e organizada, avenidas largas e trânsito tranquilo. Chato mesmo, só a chuva.
Dirigindo no centtro de Tijuana, na fronteira do México com os Estados Unidos
A gente se instalou num hotel recomendado pelo guia e, já de noite, saímos para jantar. Mas acabamos saindo depois da hora e foi uma luta achar restaurante aberto. De qualquer maneira, dirigimos por quase uma hora pela cidade, entre as 10 e as 11 da noite, sem nenhum problema. Qualquer resquício de temor desapareceu de vez. Pelo menos para nós, Tijuana foi uma cidade tão tranquila como qualquer outra. Bom, vamos ver amanhã, quando passaremos pela fronteira. Parece que é ali perto que as coisa “rolam”...
Campo florido próximo à Cueva Ratón, na Sierra de San Francisco, na Baja California - México
A cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Quando chegamos à Calgary, dois dias atrás, logo ficamos amigos do gerente do hotel. Ele até nos deu um desconto, em reconhecimento a termos chegado tão longe. Foi ele também que, ao descobrir que o próximo destino seria Banff, nos alertou: esse fim de semana era prolongado, por causa do feriado na segunda-feira, e o parque e hotéis da região estariam lotados, além de muito caros. Calgary inteira iria para lá...
Artista de rua na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Então, naquela mesma noite, nosso amigo Priceline fez o melhor que pode e achou um hotel para nós em Kenmore, cidade a 20 quilômetros de Banff e melhor lugar para achar hotéis depois que a primeira opção se esgota. Também não estava muito barato, mas pelo menos estávamos garantidos dentro da enorme concorrência. A região do parque é a grande opção de viagens para o pessoal daqui, já que a praia mais próxima está a mais de mil quilômetros de distância!
Com a famosa Polícia Montada, na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Saímos na sexta na hora de almoço e já deu para perceber, pelo movimento da autopista dupla, que o destino é mesmo popular. Se já estava assim àquela hora, imagina no final da tarde... Viagem curta, menos de uma hora e chegamos à simpática Kenmore. Vários hotéis gigantes, prontos para aproveitar a demanda. A gente se instalou, pegamos umas dicas sobre o que ver e fazer no parque com o pessoal do hotel e nos mandamos. Logo na saída de Kenmore já está a entrada do parque. Pagamos 9 dólares por pessoa (já estou com saudade do nosso super passe anual, lá dos Estados Unidos), que é válido para permanência até as 16 horas do dia seguinte e entramos no famoso Banff National Park.
Charmoso restaurante na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Esse parque foi criado no início do século passado para proteger uma área de natureza e fauna exuberante, entre lagos, montanhas e canyons. O centro nevrálgico do parque é a charmosa cidade de Banff, que muito lembra a nossa Gramado ou Campos de Jordão, pela arquitetura, clima, lojas e restaurantes. No Canadá, muitos parques nacionais tem cidades dentro da sua área, como foi o caso de Waterton, daqui e em Jasper, um pouco mais ao norte.
Comendo delicioso fondue na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Achamos um estacionamento para a Fiona, nos armamos de mapas e informações no centro de turismo e seguimos diretamente aos restaurantes, pois estávamos morrendo de fome. Não conseguimos resistir a um que anunciava deliciosos fondues, mesmo ainda não sendo de noite. Foi a melhor decisão do dia! O fondue de queijo estava absolutamente maravilhoso, talvez o melhor que comemos nesses 1000dias pelas américas, O clima frio ajudava ainda mais, assim como a paisagem e arquitetura alpina ao nosso redor.
Um dos muitos painéis explicativos sobre ursos no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
O belo lago de Minnewanka, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
A Ana ainda queria a sobremesa, mas consegui convencê-la a deixar para mais tarde. Afinal, pelo menos em teoria, tínhamos ido até lá para ver lagos e montanhas... Seguindo o conselho do hotel, fomos de carro para o lago Minnawanka, para uma caminhada pela sua orla. Água bem verde e fria, paisagem maravilhosa. Muitos avisos para tomar cuidado com os ursos. Estamos em plena temporada das berries, petisco delicioso para eles, e várias trilhas ficam com restrições. Aqui no Canadá, nessas épocas, algumas trilhas só podem ser percorridas por grupos de no mínimo quatro pessoas. Se estamos em dois, temos de esperar no início da trilha por mais pessoas. Só o spray não adianta!
Caminhada na orla do lago Minnewanka, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
De qualquer maneira, a trilha que percorremos não era das “perigosas”. Só uns poucos quilômetros bem light, para fazer a digestão do fondue. Interessante foi ver a história do lago. Queriam fazer uma represa por aqui, mas o movimento ecológico já era bem forte no início do século XX e conseguiu impedir o projeto por algumas décadas. Mas veio a 2ª Guerra Mundial e, com ela, regulações especiais. Aproveitando-se das leis de exceção, o Estado mandou às favas os ecologistas e fez a barragem, para gerar energia. Não sei as consequências ecológicas, mas a natureza acabou se adaptando e, no caminho, além de muitos outros turistas, cruzamos com uma fauna variada.
Esquilo nos observa atentamente no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Voltamos para Banff e fomos até o pé da montanha Sulphur Mountain. O nome vem das águas termais que vem da montanha. Embaixo, várias piscinas, devidamente exploradas por casas de banho. Mas nós queríamos era subir a montanha, pois a vista lá de cima tem fama de ser incrível. Nossa ideia era subir de bondinho, ou Gôndola, como chamam por aqui. Bem, era o nosso intuito, até descobrir o preço extorsivo da subida: quase 40 dólares por pessoa...
Bondinho para o alto da Sulphur Mountain, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Aí, já era demais! A alternativa era pouco menos de duas horas de caminhada até lá encima. A descida de gôndola é de graça, se for pela manhã ou no final da tarde. Para hoje, estava bem tarde para começarmos, então deixamos para amanhã cedo. Outro passeio bem caro é num ônibus especial pelas geleiras que ficam mais ao norte. Nós vamos até lá e fazer o passeio a pé mesmo, mas a Ana ainda posou para fotos na frente do tal ônibus. Com um pneu desse tamanho, deve ser difícil atolar...
Ao lado do veículo que leva turistas nas geleiras do Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Bem, sem subir de Gôndola ou a pé a Sulphur Mountain, restou para nós voltar para o centro da cidade para comer a tal sobremesa que não saia da cabeça da minha linda esposa: fondue de chocolate! Depois disso, de volta para o hotel. Amanhã, voltamos com disposição para subir a montanha e seguir viagem para Lake Louise. Vamos ver como será para achar hotel por lá...
Muito feliz com o fondue de chocolate na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Ipês floridos na fazenda em Ribeirão Preto - SP
Todos temos lugares especiais. Lugares que, pela sua beleza ou história, nos marcaram em algum momento de nossas vidas e que, para sempre, vão estar lá, na nossa memória, consciente ou inconsciente, como um ponto de referência na nossa geografia da vida, no nosso livro de lembranças, no nosso conjunto de valores.
Terrero de café na fazenda em Ribeirão Preto - SP
No meu caso, um desses lugares certamente é a Fazenda Cruzeiro. Bem próxima de Ribeirão Preto, ela era o ponto de encontro anual de meus avós paternos, de seus oito filhos e dos muitos netos que vieram, primeiro quatro, depois mais uns dez e por fim, vinte e cinco ao todo. Todos os meses de Julho, cada um dos filhos do meu avô vinha de sua cidade, São Paulo, Rio, Beagá e outras, trazendo sua própria família para passar o mês entre vacas, cavalos e galinhas, campos, matas e plantações de café, terreros, mirantes e colônias de trabalhadores rurais. Para as crianças, seria um mês inteiro de aventuras longe da cidade e próximo da natureza. Para as mães, um mês de muita conversa, jogos de cartas e muita cana e laranja descascada. Para os pais, dias de semana de trabalho em suas cidades e fins de semana relaxando com a família com os ares da roça.
Florada das jaboticabeiras em Ribeirão Preto - SP
Para mim, a epopéia anual começava com uma interminável viagem de 5-6 horas de carro, de BH a Ribeirão Preto. Lembro da alegria de entrar nos quilômetros finais, de terra, na estrada de acesso à fazenda. Aquele cheiro rural, esquecido quase há onze meses, invadia nossas narinas e começavam a tornar mais vivas as lembranças do ano anterior. Pouco depois, a visão reconfortante do terreiro de café era a prova final de que mais um mês de vida na fazenda estava apenas começando.
Bezerro mamando na fazenda em Ribeirão Preto - SP
No dia seguinte, começava a rotina que se seguiria nas próximas semanas. Leite tirado da vaca bebido no curral mesmo, todas as manhãs; passeios à cavalo de 2-3 horas explorando as redondezas e voltando em louca disparada para a cachoeira, sempre a um passo de um terrível e temível tombo; muita natação no açude da fazenda, junto com gansos e patos; perseguir e atazanar porcos no chiqueiro, galinhas no galinheiro e bezerros no curral; diversas brincadeiras com os primos de idade parecida no pomar e nas bananeiras; refeições comunitárias com as duas dezenas de familiares, saboreando a deliciosa comida da Maria, a nossa Tia Nastácia local; muita laranja, jaboticaba, cana, abacate e mangas por toda a temporada; enfim, uma vida saudável e interessante que todas as crianças do mundo deveriam ter.
Pasto na fazenda em Ribeirão Preto - SP
Um mês depois, de volta à escola e à tediosa vida de cidade grande, discutindo com colegas e professores as férias de cada um, era sempre inacreditável para mim que havia pessoas que só conheciam vacas e galinhas dos livros e revistas infantis. Não, não poderia ser...
Refrescando-se no açude da fazenda em Ribeirão Preto - SP
É para esse lugar especial que volto agora para passar alguns dias. Muito mudou, infelizmente: o café se foi e virou cana, antigas cocheiras, currais e chiqueiros não existem mais, mal vejo patos e galinhas, o terreiro de café está vazio. Os carroções puxados por quatro burros viraram tratores e agora são caminhões de cana sem graça que fazem muita poeira. Os primos cresceram, os tios envelheceram. Mas a união anual ainda existe. A família e a fazenda se enchem de bisnetos, as casas agora oferecem mais banheiros. As refeições continuam deliciosas (apesar da nossa Tia Nastácia já ter partido) e muito concorridas.
Estrada das mangueiras na fazenda em Ribeirão Preto - SP
A alma da fazenda mudou. Mas continua a mesma. É aqui que vou passar alguns dias enquanto repasso, com muito gosto e nostalgia, muitos e muitos anos pela minha memória.
Pôr-do-sol na fazenda em Ribeirão Preto - SP
Fazendo a imigração para entrar no Haiti
Deixamos boa parte da nossa bagagem guardada no hotel em Santo Domingo e hoje, logo cedo, estávamos prontos para viajar ao Haiti. Vamos passar uns oito dias no país e retornar à República Dominicana pelo norte. Depois de alguns dias por lá, voltamos à capital dominicana para recuperar nossas coisas e daqui, seguimos para uns dias de descanso em Punta Cana. Como vamos viajar muito de ônibus nesse período, resolvemos seguir mais “leves” para facilitar nossos deslocamentos.
Viagem de ônibus entre Santo Domingo (Rep. Dominicana) e Port-au-Prince (Haiti)
O primeiro desses deslocamentos era exatamente o mais longo e aguardado deles: quase oito horas de viagem entre as capitais dos dois países, num trecho de pouco menos de 400 quilômetros e algumas burocracias a serem vencidas na fronteira. Ônibus confortável, mas bem cheio, com direito à filmes na televisão e um “saboroso” café da manhã, com macarrão, carne e feijão, servido logo na saída de Santo Domingo. Até por isso, no início da viagem, a rodomoça pede, em três línguas, que o banheiro seja usado apenas para fazer pipi. Qualquer coisa mais “grave”, deve-se avisar ao motorista e ele vai parar no primeiro banheiro disponível, na estrada. Foi com esse singelo aviso que pudemos começar a praticar nosso francês e também o “creolle”, a língua mais falada no Haiti e aparentada com o francês. Falada lentamente ou lida, até dá para entender. Mas falada rapidamente, é como se fosse grego...
Em Santo Domingo (Rep. Dominicana), abordando nosso ônibus para Port-au-Prince, capital do Haiti
Café da manhã servido no ônibus entre a República Dominicana e o Haiti
Boa parte dos passageiros era haitiana, de modo que já quase não mais ouvíamos a língua espanhola. Quase todos eles trabalham na República Dominicana, país que ainda oferece muito mais oportunidades que o Haiti. Mas o coração ainda permanece do lado de lá da fronteira e é fácil ver a alegria estampada no rosto deles por estarem voltando para o Haiti, para visitar parentes ou cuidar de alguma coisa. Não apenas a língua diferencia os povos dos dois países. Bastaram dois dias em Santo Domingo para aprendermos a reconhecer, na população negra, quem é haitiano ou dominicano. No nosso ônibus, isso estava, literalmente, na cara. A miscigenação entre brancos e negros foi muito maior do lado dominicano, ao longo da história. Mas, mesmo entre a população negra, as feições africanas são muito mais marcantes na população haitiana.
Lendo sobre o Haiti no ônibus entre a República Dominicana e Port-au-Prince, a capital do país
O ônibus entre a República Dominicana e o Haiti teve até exibição de filme com Antonio Banderas
O tempo passou rápido, com tanta coisa para ver na TV, ler nos livros ou simplesmente refletir sob o país que estávamos prontos para conhecer. Logo estávamos na fronteira, uma região bonita, na orla de grandes lagos. Foi só ao passar pelo lado dominicano que recebemos nossos passaportes de volta, que vinham em poder da rodomoça. No lado haitiano, a desorganização já esperada, nada muito diferente do que encontramos em tantas outras fronteiras latino-americanas. Pode ser desorganizado, mas não foi demorado. Logo tínhamos o tão esperado carimbo haitiano em nossos passaportes, assim como os primeiros “gourdes”, a moeda local. Por fim, podíamos cantar bem alto, pensando no Caetano: “O Há-i-tiiiiiii, é a-quiiiii!”.
Posto de fronteira entre a Rep. Dominicana e Haiti
Chegando ao posto de fronteira entre a Rep. Dominicana e Haiti
Começamos a passar por povoados e é fácil perceber que mudamos de país. As habitações são mais rústicas, a população é basicamente negra e os mercados de rua são lotados. Aos poucos, aprendemos a ver a ordem naquela aparente desordem total. Um país que tanto vi pela TV, sempre em meio ao caos e à pobreza, começa a ganhar vida, um lado real. Pessoas moram aqui. Pessoas vivem aqui. Pode,e é, um país mais pobre, mas há ruas e estradas, há casas e igrejas, há vilas e cidades, há comércio e dinheiro, há carros e motos. O Haiti existe fora da TV e podemos ver isso com os nossos olhos!
Passageira do nosso ônibus aguarda em seu assento, durante nosso tempo na imigração
Veículo da ONU na fronteira do Haiti
No ônibus, o único gringo além de nós era um italiano. Também viajava a turismo, mas iria explorar apenas a parte sul do país. Achei bem interessante, viajando só e falando um inglês, espanhol e francês piores do que os nossos. Espero que seja uma amostra de que os viajantes começam a retornar ao país, que tanto necessita da ajuda do turismo para ajudar a reerguer sua economia. O Haiti já foi a colônia mais rica do Caribe, antes de se tornar o país mais pobre do hemisfério. Ainda vou falar um pouco da história do país, que o fez ir de um extremo ao outro, mas agora, mais do que nunca, é hora dele se recuperar. Haitianos que migraram para o mundo inteiro estão retornando para a pátria, sentindo também que o pior, finalmente, já passou. O turismo pode e deve ser parte importante dessa recuperação, não só um indicativo de que ela começa a ocorrer.
Parados na imigração, conversando com um haitiano companheiro na viagem da Rep. Dominicana á Port-au_Prince, capital do país
Mas, voltando ao italiano, ele pode até falar menos as línguas do que nós, mas estava muito melhor informado e organizado sobre a viagem. Por exemplo, já tinha hotel reservado, coisa que nós não tínhamos. Nossa ideia era seguir até o centro da cidade e, de lá, pegar um táxi para um dos mais tradicionais hotéis de Port-au-Prince, o Oloffson. Até tentamos nos comunicar antes com eles, mas não conseguimos. Nos bons tempos, recebia muita gente importante, como Mick Jagger e escritores famosos. Hoje, tempo de maré seca, tem bons preços para visitantes menos ilustres. Já o italiano, ficaria em um hotel em Petion-Ville, o bairro chique de Port-au-Prince, a 15 minutos de moto ou carro do centro, no alto das colinas.
Condução do lado haitiano da fronteira com a Rep. Dominicana
Sem muitas atrações turísticas, Petion-Ville é um bairro um pouco mais organizado (ou menos desorganizado) e seguro, quando comparado às outras regiões da capital. Na verdade, era o lugar certo para ficar. Então, numa decisão rápida, descemos do ônibus com o italiano e decidimos seguir junto com ele para seu hotel, em Petion-Ville mesmo. Ele já trazia um mapinha impresso da internet e não foi difícil nos localizarmos e acharmos o caminho para o hotel. O meu francês começou a esquentar para nos livrar dos simpáticos taxistas que teimavam em nos tentar levar. Mas eram poucos quarteirões e estávamos loucos para caminhar um pouco pelas ruas da cidade.
Nossas primeiras imagens de Port-au_Prince, atravessando um dos muitos mercados de rua da capital
Dez minutos depois, chegávamos ao Le Perroquet, o hotel do Eric e da Lana, um haitiano casado com uma russa (tecnicamente, ucraniana), amantes das viagens e que, até pouco tempo, moravam em Bali. Mas eles estão entre os haitianos da chamada “Diáspora” que estão retornando ao país, para aqui investir e ajudar na sua reconstrução. Esse amável casal que nos recebeu tão bem em seu oásis em meio à balbúrdia da capital haitiana certamente será assunto de um post futuro. Mas antes, queria falar do próprio Haiti, que tem uma das histórias mais interessantes e trágicas do continente. A seguir...
Nossas primeiras imagens de Port-au_Prince, atravessando um dos muitos mercados de rua da capital
Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Acordamos meio quebrados hoje, da noite mal dormida na Fiona. Além do desconforto de não se estar numa cama, passamos frio. Tudo pela preguiça de não termos armado a barraca ontem e de nem termos pego os sleepings na parte de trás do carro. No deserto, a noite é fria e esta noite aprendemos isso na prática. Nem que seja no deserto mais quente das américas...
A caminho do Mosaic Canyon, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Mas bastou acordarmos, ficarmos alguns minutos no sol e admirarmos aquela beleza cinematográfica que nos rodeava que já ficamos novinhos em folha! Não demorou muito e já estávamos prontos para o longo dia de explorações que nos esperava. A vantagem de termos dormido na Fiona foi que não tivermos de arrumar quase nada para podermos botar o pé na estrada novamente!
Caminhando através do incrível Mosaic Canyon, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
O Death Valley é um enorme e extenso vale com mais de 100 km de comprimento e quase vinte de largura, nas suas partes mais largas. Nas suas laterais, duas cadeias de montanhas que estão se afastando, criando essa enorme falha geológica que é o vale. Conforme se afastam, mais profundo tende a ficar o Death Valley mas, ao mesmo tempo, as forças da erosão (vento e chuva) tendem a trazer o material do alto das montanhas para o fundo do vale. Essas forças contrárias se contrabalançam ao longo do tempo, placas tectônicas levantando e afastando as montanhas, chuvas erodindo as mesmas montanhas. Até hoje, o resultado dessa “gangorra” foi, além das paisagens magníficas aqui criadas e do clima infernalmente quente no verão, o ponto mais baixo das Américas, a 86 metros abaixo do nível do mar.
Mosaic Cannyon, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Pois é, um futuro inexorável aguarda o Vale da Morte. As cadeias de montanhas continuarão a se afastar. Eventualmente, todo o oeste da Califórnia vai se separar do continente, formando uma nova ilha. E o Mar de Cortez vai se encontrar com o Death Valley, numa espetacular e titânica invasão das águas, uma espécie de dilúvio bíblico do futuro.
Escalando uma parede no Mosaic Canyon, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Enquanto isso não acontece, nós saímos a explorar a região e ver de perto os efeitos dessas enormes forças que agem por aqui. A primeira atração para onde fomos foi o Mosaic Canyon. Deixamos a área de camping que fica na faixa central do vale e rumamos para a encosta ocidental do vale. Chegando às montanhas, já estamos bem longe e bem mais altos que o centro do vale, apesar de que, numa área gigantesca como essa, a gente perca completamente a noção de distância. Lá do alto, o pequeno hotel, o restaurante, a loja e as vans e traillers estacionados ficam completamente minúsculos no meio daquela vastidão. Quem fica bem pequeno também é o campo de dunas Mesquite Dunes, onde estivemos ontem de noite e voltamos hoje. Pareciam uns míseros montinhos de areia perto das enormes montanhas do outro lado do vale.
A bela vista do alto do Mosaic Canyon, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Ali na encosta ocidental, vários canyons se formaram depois de dezenas de milhares de anos de ação da chuva. Quase não chove no Death Valley, pois as montanhas bloqueiam a umidade do lado de lá, mas quando as poucas nuvens que passam chegam aqui, é um grande aguaceiro que logo forma torrentes de água. Elas aproveitam os antigos caminhos cavados em outras épocas, quando a região era mais úmida, e os alargam, trazendo pedras e deixando detritos em seu caminho. Essas verdadeiras avenidas cavadas no meio da rocha hoje podem ser percorridas a pé.
O belíssimo Mosaic Canyon, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Nós percorremos todo o canyon, passando por um incrível cenário de Indiana Jones, as vezes com as paredes quase se encostando, outras num espaço bem amplo. As cores são avermelhadas ou amareladas, em infinitos tons e camadas de diversas eras geológicas. O canyon termina numa parede que já foi uma antiga cachoeira. Aí se pode subir nas encostas ao lado e ter mais uma bela vista do vale que ficou lá para trás.
Mesquite Dunes, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Crianças se divertem em duna nas Mesquite Dunes, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Voltamos para a Fiona atravessando o canyon novamente, dessa vez com mais luz do sol, o que muda completamente as cores. Descemos de carro para as Mesquite Dunes e fomos caminhar por elas novamente, dessa vez com a luz do sol. O cenário de deserto africano só era quebrado pela presença dos outros turistas, a maioria deles crianças e adolescentes.
Caminhando nas Mesquite Dunes, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Dessa vez, fomos até a mais alta das dunas. E carregamos duas cervejas geladinhas para tomar lá encima, para surpresa dos outros presentes. Novamente, o cenário africano em pleno coração da América é bem “inusitado”. Nossas últimas dunas tinham sido no Peru e já estávamos com saudades! Por isso lá ficamos por mais de uma hora, caminhando pelas crestas, correndo pelas ladeiras e, enfim, aproveitando o visual.
A Fiona bate seu recorde de altitude negativa na Badwater Basin, ponto mais baixo das américas, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Enfim, era hora de seguirmos em frente. Em frente e para baixo! Já estávamos ao nível do mar e, seguindo para o sul do vale, começamos a dirigir em altitudes negativas. Experiência nova para a Fiona e para a Ana!
Badwater Basin, a - 86 m de altitude, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
E assim fomos seguindo, passando por Furnace Creek, onde vamos dormir hoje, passando por mais encostas e canyons coloridos até chegar em Badwater Basin, o ponto mais baixo das Américas. O nome vem de quando chegaram aqui os primeiros exploradores europeus, montados em seus cavalos sedentos. Ao ver a água que se acumula lá embaixo, os cavalos se animaram! Apenas para descobrir que ela é muito salgada e imprestável para o consumo.
Ponto mais baixo das américas, a Badwater Basin, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Junto com os outros turistas, lá fomos nós caminhar sobre o porão do continente. Lá encima, na encosta ao nosso lado, 85 metros sobre nossas cabeças, um letreiro marca a altura do oceano. Imaginar uma lâmina de água de quase 100 metros sobre nossas cabeças é meio claustrofóbico...
Muito sal na Badwater Basin, a - 86 m de altitude, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Lá embaixo, o piso é todo de sal, o resíduo deixado para trás por um antigo lago alimentado por rios que traziam esse mineral das rochas das encostas. A água evaporou e o sal ficou por ali. Durante a última era glacial, há uns 12 mil anos, as geleiras chegavam até aqui e o fluxo constante de água que nascia sobre os enormes blocos de gelo alimentavam um gigantesco lago que preenchia todo o vale. As encostas das montanhas deveriam sustentar uma rica vegetação que não tinha problemas em encontrar água. Tempos idos e passados que hoje só podem ser imaginados. Assim como os tempos futuros, quando o oceano efetivamente chegar até aqui, criando praias e um novo ecossistema. Mas hoje, que é o que podemos realmente ver, lá está uma enorme planície de sal, uma paisagem pitoresca que pode nos parecer eterna, mas que em tempos geológicos, sobrevive apenas por um piscar de olhos.
A "Natural Bridge", ou Ponte Natural, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Caminhando pelo sal e ouvindo todas as línguas possíveis (muitos franceses e japoneses por aqui!), comentei com a Ana que só faltava o português. Pois não é que, 15 minutos mais tarde, alguém se aproximou de nós e pediu em alto e bom português que tirássemos uma foto para ele! ?! E olha que o cara não era brasileiro não, mas um legítimo americano. Morou muitos anos em Curitiba há algumas décadas e fala a nossa língua sem sotaque! Tiramos a foto para ele e aproveitamos para tirar uma nossa também!
Com cuidado e esforço, é possível escalar a Natural Bridge, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Já no fim de tarde, voltando da Badwater Basin, ainda fomos visitar um outro canyon, dessa vez na encosta oriental do vale. A grande atração é uma enorme ponte natural, fruto de milhares de anos da água cavando um túnel através de uma parede. Um incrível monumento natural para admirado, fotografado e até escalado, com o devido cuidado. O terreno é bem instável e escorregadio, mas a vontade de uma boa foto supera o medo de uma escorregada perigosa.
Magnífica vista da Badwater Basin, ponto mais baixo do continente, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Da mesma maneira que tivemos uma bela visão das dunas lá do Mosaic Canyon, aqui pudemos admirar foi a planície branca de sal da Badwater Basin lá embaixo. O cenário tem uma grandiosidade de tirar a respiração. A luz do fim de tarde ainda consegue fazer tudo mais bonito. Que privilégio estar ali, àquela hora!
O luz do fim de tarde faz as cores do deserto ficarem ainda mais marcantes, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Ainda tivemos tempo para uma última atração, no nosso caminho de volta para Furnace Creek. Passamos por uma região da encosta conhecida como “Paleta do Artista”. O nome vem da quantidade de cores que se encontra nas encostas, minerais oriundos de antigas formações vulcânicas. Além dos já tradicionais tons de vermelho e amarelo, aqui também se encontra o verde! Parece até que foi pintado! E foi, pela natureza, que resolveu caprichar no seu trabalho, aqui no Death Valley. A gente simplesmente não se cansa de nos impressionar!
Este barranco é completamente verde, na Paleta dos Artistas, no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
Chegamos já no escuro no acampamento e seguimos diretamente para o caro hotel, onde não pagamos por um quarto, mas pela piscina e chuveiros (só 5 dólares!). Bom para relaxar do intenso dia e para nos lavar da poeira acumulada por milênios por aqui, mesclada ao nosso suor não tão antigo assim. Depois, uma comida quente já nos minutos finais do restaurante. Por fim, fomos ao local onde dormiríamos. Aí, a Ana teimou comigo e cumpriu sua promessa de armar a barraca, ao lado da Fiona. Eu ainda preferi o desconforto dos bancos do nosso carro, enquanto ela se aboletou na barraca mesmo. Vamos ver quem acorda melhor amanhã...
O sol se põe no Death Valley National Park, na Califórnia - EUA
O atual continente americano
Apesar de estarmos sempre falando em América do Norte, do Sul e Central, ou América Latina e Anglo-saxônica, o fato é que todas elas formam um só continente, a famosa América, aquela que estamos explorando por esses mil e tantos dias. Mas não foi sempre assim. Na verdade, até bem recentemente, pelo menos em termos geológicos, América do Sul e América do Norte eram, sim, continentes distintos, separados por um oceano.
Por bilhões de anos, continentes e oceanos tem sido criados, separados, destruídos e juntados novamente, num verdadeiro balé de dimensões planetárias. Se um de nós voltasse no tempo, apenas alguns bilhões de anos, e olhasse para o nosso planeta do alto, não o reconheceria, uma configuração geográfica completamente diversa da que temos hoje. Através de “marcadores” como o alinhamento magnético de rochas antigas, ou pela similaridade de fósseis pré-históricos, cientistas foram capazes de decifrar parte dessa história e de antigos supercontinentes. Épocas em que partes do Brasil encostavam com a Índia ou Austrália, ou que o nordeste dos Estados unidos tocava a África do Sul.
O possível aspecto do supercontinente de Rodinia, há um bilhão de anos
Obviamente, quanto mais antigos esses supercontinentes, menos se sabe sobre eles. Ur, Columbia, Rodinia, Pannotia são apenas alguns deles, cada um existindo por algumas centenas de milhões de anos e depois, separando-se outra vez. Finalmente, as ilhas e continentes se juntaram uma última vez, há cerca de 300 milhões de anos, num supercontinente chamado Pangeia, este sim, um pouco mais conhecido por todos nós. A união durou pouco e “apenas” 100 milhões de anos mais tarde, Pangeia se dividiu em duas, Laurasia ao norte e Gondwana ao sul. O que conhecemos hoje como América do Norte, junto com Eurásia (sem a Índia!), formava o continente do norte, enquanto a nossa América do Sul, junto com África, Austrália, Índia e Antártica, formava o gigantesco continente do sul.
O supercontinente de Pangeia, há 300 milhões de anos
Não demorou muito para que também esses continentes se “quebrassem” em pedaços menores. A América do Sul separou-se, tornando-se uma enorme ilha-continente. Algumas dezenas de milhões de anos mais tarde, foi a vez da América do Norte separar-se da Eurásia, embora gigantescas pontes de gelo continuassem a uni-las a cada nova era glacial. Em cada um desses novos continentes separados, fauna e flora se desenvolveram e evoluíram separadamente, criando formas distintas de vida a partir de antepassados comuns, aqueles que habitavam a antiga Pangeia.
Pangeia se divide em dois supercontinentes: Laurasia, ao norte, e Gondwana, ao sul
Bem recentemente, um piscar de olhos em termos geológicos, América do Sul e do Norte se aproximaram uma da outra, fechando aos poucos a ligação entre os Oceanos Pacífico e Atlântico. Agora, apenas pouco mais de mil quilômetros separavam as Américas. Só estava faltando aquele pedaço de terra que hoje chamamos de América Central. Foi quando, há 3 milhões de anos, grandes erupções vulcânicas levantaram o Panamá e criaram a estreita ponte que une o sul ao norte. Nascia, enfim, a América!
A migração de espécies entre as duas Américas. Em verde, animais originários da América do Sul e, em azul, animais originários da América do Norte
Prontamente, a fauna dos dois continentes começaram a migrar pela nova ponte natural, tentando ocupar novos nichos. Predadores e presas, herbívoros e carnívoros, répteis, aves e mamíferos, todos queriam “explorar” novos espaços. Essa verdadeira mistura de espécies, o maior evento biológico desde a extinção dos dinossauros, aconteceu bem aqui, no nosso continente. De forma geral, a fauna do norte levou a melhor, enquanto que a fauna do sul, que havia estado isolada por mais tempo, tornando-se mais especializada, não resistiu às novas condições de competição. Com raras exceções, como por exemplo, as preguiças-gigantes, foi a fauna do norte que se impôs. Os grandes predadores do sul, como crocodilos gigantes e os “pássaros do terror”, tiveram seus ovos comidos pelos pequenos mamíferos do norte enquanto os grandes herbívoros do norte, já acostumados com seus próprios predadores. desalojaram os herbívoros do sul. A fauna marsupial, que havia se originado na América do Sul para depois migrar para a Oceania, ainda nos tempos da Gondwana, teve se se refugiar em pequenos nichos em sua terra natal.
Após essa mistura vitoriosa para o norte e catastrófica para o sul, a vida nas Américas se estabilizou, passando a conviver com as eras glaciais que iam e vinham a cada 20 ou 30 mil anos, alterando as condições de clima e vegetação do continente, nada com que as espécies não pudessem lidar, como mostra a história dos fósseis. Uma extinção aqui, outra ali, mas nada de chamar a atenção. Até que, ao final da última glaciação, há cerca de 12 mil anos, uma onda de extinções tomou conta de todo o continente, acabando com quase toda a megafauna que habitava as Américas há mais de um milhão de anos. O que teria sido diferente dessa vez?
Fóssil de uma antiga preguiça gigante, animal originário da América do Sul e que migrou para a Améica Central
Infelizmente, tudo parece indicar, foi a presença de um novo “fator”, ou ator, no continente. Bem nessa época chegavam por aqui os paleoíndios, vindos da Ásia e, possivelmente, do Pacífico. Os antepassados longínquos dos índios encontrados por Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral não eram assim, tão “ecológicos” como gostamos de imaginar. Caçando à exaustão espécies que já vivam sob o stress das mudanças climáticas da época, animais que já viviam por aqui há centenas de milhares de anos não puderam resistir e foram extintos. Animais como os famosos mamutes, mas também camelos, preguiças-gigantes, enormes tartarugas e tatus, entre tantos outros. Uma notável exceção foram as manadas de bisões na América do Norte. Talvez por isso e com esse duro aprendizado, acabaram se tornando animais quase sagrados para as populações locais, que agora sim, os respeitavam. Foi preciso a chegada do homem branco para que, também eles, quase fossem extintos.
A causa humana dessa catastrófica extinção em massa ainda não foi completamente provada. Mas, a coincidência de eventos semelhantes na Austrália, Nova Zelândia, Japão e outras ilhas menores, onde grandes extinções coincidiram com a chegada da nossa espécie, parecem ser um bom indicativo. É interessante notar também que, nas áreas do globo onde a presença humana é mais antiga e a própria fauna local evoluiu conjuntamente com a nossa espécie, como na África e no sul da Ásia, essas extinções não ocorreram. Lá, os grandes animais aprenderam, de alguma forma, a conviver com a mais perigosa das espécies. Em terras como a América ou a Austrália, onde os humanos apareceram de uma só vez, as espécies de animais não tiveram tempo de se adaptar ao novo predador e o seu destino foi implacável: extinção.
Paleoíndios caçam um antigo tatu gigante
Enfim, 200 milhões de anos depois da Pangeia se separar, 3 milhões de anos depois que os animais começaram a cruzar a novíssima ponte natural entre América do Norte e do Sul, 12 mil anos depois que humanos caminhassem de um continente ao outro, chegou a vez de nós, o 1000dias, passássemos do Panamá para a Colômbia, da parte norte para a parte sul desse continente chamado América. Assunto para o próximo post...
2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet