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ANTONIO CASTELLO BRANCO DE ARAUJO (02/12)
Coisa de maluco! Esse povo gosta de sofrer! eheheh.... Parabéns pela cor...
Ana Christ (02/12)
(o comentário anterior era pra ser no posto do polar plunge. Espero que ...
Ana Christ (02/12)
Minha-nossa-senhora! Que coragem! Acho que eu não dava conta, não! rsrs...
Santiago (02/12)
Show de bola Rodrigo essa segunda parte. Nao esqueçam quando vierem a F...
jonatan (02/12)
obrigado em ajudou muitoo valeu. agora ja tenho uma noção . de quanto g...
Batendo papo com o Robert, nosso dive master
Para quem já viajou pelo Brasil ou pelo mundo, principalmente por lugares pequenos, perdidos nesse mundão afora, tanto no interior como no litoral e teve a chance de interagir com as pessoas do local, quase sempre acaba conhecendo um homem da terra, do local, um verdadeiro sábio de conhecimentos e habilidades daquele mundo em que vive. Nós, forasteiros, sempre nos impressionamos com a verdadeira sintonia com que ele vive com seu meio ambiente. Conhece as trilhass, sabe se vai chover, recita o nome dos bichos e plantas dali, indica remédios naturais para dores ou feridas. Pode ser um jangadeiro do Ceará, um mateiro do Pantanal, um pescador no São Francisco.
Parece que nasceram para estar ali. Não sabem nada sobre Descartes, Darwin, Aristóteles. Não sabem o nome do presidente dos Estados Unidos ou do papa. Não sabem onde fica Berlin ou o que é o Taliban. Nós podemos saber tudo isso. Mas, quem é que sobreviveria naquele ambiente, com todos os nossos conhecimentos, se ocorresse alguma dificuldade? Nós, com nossa "cultura" ou eles? Ali, eles são os sábios e nós os analfabetos. Conviver com eles é sempre um exercício de humildade. Eles ensinando e nós aprendendo. E como é bom aprender. Sempre!
Hoje, eu e a na conhecemos mais um desses "homens da terra". O Robert, o nosso dive master local. Além de dive master, dirige o barco, cozinha muito bem, toca, filosofa, sabe o nome de todos os peixes e ainda sabe como sobreviver a furacões. Domina inteiramente o ambiente em que vive. Perto dele, aqui, sou o maior mané!
Aqui, no interior de Bahamas (se é que é possível dizer isso num país formado por ilhas), onde estou conhecendo o verdadeiro país e sua autêntica gente, já não consigo imaginar o país sem o(s) Robert(s) ou o Robert sem Bahamas. Aliás, escolheu bem o lugar para ser sábio, esse Robert!
A Veridiana, belíssima noiva, entrando no casamento (Goiânia - GO)
Goiânia apareceu no meu mundo pela primeira vez quando tinha 9 ou 10 anos. Nessa época, eu morava em Belo Horizonte e começava a ter as primeiras aulas de história da minha cidade. Aprendi que BH havia se tornado capital do estado há menos de 100 anos (na época), sucedendo Vila Rica (Ouro Preto). E que ela era uma cidade planejada, construída sobre outra mais antiga, Curral D'El Rey. Enfim, a professora pegava muito nesse ponto, que BH, ao contrário das outras grandes cidades, havia sido planejada. Por isso o formato mais simétrico, inteligente (?). E como exemplo de outras cidades planejadas no Brasil, citavam duas: Brasília, a capital, e uma tal de Goiânia. Desde então, eu guardava essa curiosidade sobre o tal planejamento de Goiânia. Imaginava algo parecido com Beagá.
Bem depois, já na época universitária, estive aqui de passagem, voltando da Chapada dos Veadeiros. O que mais me impressionou na cidade não foi o planejamento não (quantos semáfotos! Ruim feito BH!), mas a quantidade de bares e de moças bonitas nos bares. Acho que é o calor! Só sei que o consumo de álcool deveria e deve ser grande...
De volta à Goiânia em pleno séc XXI, percebe-se que a cidade cresceu muito. Os bares e as meninas bonitas continuam aqui. Assim como os semáforos. Na época do GPS, é bem tranquilo transitar entre os "quejinhos", que é como são conhecidas as rotatórias ou balões por aqui, e setores (bairros) da cidade, à bordo da Fiona.
O feliz noivo Dugalo (Goiânia - GO)
Mesmo assim, por precaução, fomos de ônibus para o casamento do Dugalo e Veridiana, que foi o que nos trouxe tão cedo ao planalto central. Ônibus fornecido pelos noivos para os convidados, para ninguém ter problema com bafômetros. Melhor assim!
Com o Kina,nosso padrinho de casamento e padrinho também no casamento do Dugalo e Veridiana (Goiânia - GO)
Para enfrentar o inverno com cara de verão da cidade, vestidos para festa de casamento, muito ar condicionado! E depois, cerveja gelada. Aos poucos, o paletó fica para trás, pendurado na cadeira. Mais tarde, a gravata também!
Início da cerimônia do casamento do Dugalo e Veridiana (Goiânia - GO)
A cerimônia foi ao ar livre e muito bonita. Mas, bonita mesmo estava a noiva, a Veridiana. Foi muito legal ver a alegria dos noivos e também poder rever os amigos da faculdade. Atualmente, isso só acontece nos casamentos.
Com os amigos de faculdade presentes no casamento do Dugalo e Veridiana(Goiânia - GO)
No dia seguinte, fomos passear aqui em Goiânia. Almoçamos no Glória, um boteco bem carioca e simpático, juntos com o Nando, Mariângela e os filhos Bibi e Kim. O Nando é meu primo e estamos muito bem hospedados no seu apartamento. Lá no Glória mesmo encontramos os amigos da faculdade (hoje em dia, a Ana, do seu jeito sociável, já é tão amiga deles como eu) e seguimos para bares mais agitados da cidade, o Saccarias e o Piquiras. Novamente, aquela bela combinação de calor, cerveja mulheres bonitas e muita azaração. Todo mundo aproveitando o último dia de férias.
Amanhã, tempo de trabalhar um pouco, passear na cidade e fazer algumas compras. Na terça, Brasília!
Maravilhada com a vastidão branca ao redor de Ilulissat, na Groelândia
Enquanto o Polo Sul fica bem encima de um continente, a Antártida, o Polo Norte fica sobre o mar. Não existe um “continente ártico”, mas a Groelândia não fica muito longe disso não. Nem geograficamente e nem na aparência. Está a apenas 4 graus do polo norte e as geleiras ocupam mais de 80% de seu território, o equivalente a 1,7 milhões de quilômetros quadrados, uma verdadeira “calota polar ártica”.
Um verdadeiro rio de gelo na costa de Ilulissat, na Groelândia
Absolutamente todo o interior do país é coberto por um lençol de gelo que chega a atingir mais de 3 quilômetros de espessura. É MUITA água congelada! A gente só consegue ter uma noção dessa vastidão branca quando olhamos lá de cima, de um avião. Ou, quem sabe, de um helicóptero.
O infinito mundo gelado ao redor de Ilulissat, na Groelândia
Pois é, falando em helicóptero, o nosso passeio de hoje melou. Não foi por culpa de São Pedro não, mas da falta de turistas que se habilitassem. E como nós não temos bala para fretar um helicóptero sozinho, ficamos só na vontade. O passeio seria até o alto da geleira Jacobshavn, a maior do hemisfério norte, a quase 80 km daqui. Além de ser a maior, é também a mais rápida geleira do país, despejando milhões de toneladas diárias de icebergs no fiorde de Ilulissat, deixando a Disco Bay sempre repleta de montanhas flutuantes de gelo.
Caminhando nos arredores gelados de Ilulissat, na Groelândia
A Jacobshavn é uma das geleiras mais estudadas do mundo, sendo continuamente monitorada há mais de um século. Foi até nomeada Patrimônio natural pela Unesco. Aqui está a linha de frente dos estudos sobre as mudanças climáticas, ou o que se costumava chamar de “aquecimento global” até poucos anos.
Vista de longe, Ilulissat, na Groelândia
Os dados sobre um aquecimento da temperatura média mundial nas últimas décadas são inegáveis. Mas ninguém sabe dizer com certeza se isso é apenas parte de um ciclo natural ou se é mesmo uma tendência duradoura. Na verdade, os últimos anos foram até mais frios que a média da última década mas, de novo, a amostra é muito pequena e não se pode tirar conclusões definitivas. Mas, o que se sabe é que esse possível aquecimento tem sido muito mais forte e rápido aqui na Groelândia e os efeitos são visíveis em suas geleiras, que estão retrocedendo dezenas de metros a cada ano. A gigantesca Jacobshavn é o melhor exemplo disso.
Caminhada gelada nos arredores de Ilulissat, na Groelândia
Infelizmente, não pudemos ver com os próprios olhos, hoje. O programa alternativo foi fazer uma caminhada pela periferia da cidade, seguir uma trilha que nos leva até o fiorde onde a geleira despeja seu gelo. Tantos icebergs há lá nessa época que nem um barco se atreve a entrar no canal. Apenas de longe.
Conversando com o simpático motorista do hotel de Ilulissat, na Groelândia
E nós também, de longe, conseguimos ver o canal. Um carro do hotel nos levou até o início da trilha e de lá caminhamos mais uns vinte minutos. Caminhamos sobre gelo e neve e a tal trilha existia só na teoria, escondida sob o manto branco. O que a gente pôde fazer foi mirar uma pequena colina e rumar para lá, para ter uma vista da região. Bastou andar um pouco naquela imensidão gelada, longe de tudo e de todos, que percebemos claramente a nossa insignificância naquela vastidão. Se já nos sentimos assim aqui, tão perto do litoral, imagina no meio dessa ilha continente, a milhares de quilômetros de qualquer sinal da civilização. Realmente, aqui na Groelândia, nos confins do Círculo Polar Ártico, a natureza é mais selvagem, virgem e indomada que em todos os outros lugares que visitamos nesse continente. Essa caminhada de hoje nos mostrou isso claramente.
Um cemitério perdido no silêncio do gelo na periferia de Ilulissat, na Groelândia
Voltamos caminhando para a cidade, passando ao lado de um sereno cemitério no gelo, perdido no silêncio da paisagem. Foi num cemitério como esse que os cientistas conseguiram extrair de uma pessoa morta há quase um século o temido vírus da Gripe Espanhola, que chegou até aqui no fim da 1ª Guerra Mundial. O responsável pela mais mortífera pandemia da história da humanidade ficou bem conservado na verdadeira geladeira que é o solo do país e, graças a isso, podemos nos preparar melhor para uma possível volta do microscópico assassino.
Zion Church, verdadeiro cartão postal de Ilulissat, na Groelândia. Ao fundo, icebergs passam pela costa.
De volta à cidade, fomos logo nos esquentar em um de seus acolhedores cafés. O vento frio de hoje estava de lascar! Nossas três camadas de casacos, duas de calças, luvas e gorro não estavam dando conta! O ar aquecido e o chá quentinho do café foram muito mais eficientes!
Um dos bares-cafés de Ilulissat, na Groelândia
No início da noite, com sol ainda à pino, fomos conhecer a vida noturna de Ilulissat. Dois bares disputam a freguesia, e as bandas de música são surpreendentemente boas para uma cidade de 5 mil habitantes perdida no mundo e no gelo.. Ficamos aí nos divertido até as duas da manhã. Depois, na luz do lusco-fusco, caminhamos o quilômetro e meio até nosso hotel. Paisagem assombrada e gelada, o silêncio quebrado pelo barulho do porto movimentado. Um grande navio cargueiro tinha chegado pela tarde e estava descarregando.
Bar movimentado em Ilulissat, na Groelândia
Pelo seu porte, conseguiu romper o gelo que tinha tomado conta do porto. Mas do outro lado o gelo ainda dominava. Sobre ele, diversos barcos descansavam, aguardando o final da primavera, quando poderão navegar novamente. Uma visão sui generis! Estamos realmente num mundo diferente...
Barcos repousam sobre o gelo que tomou conta do porto de Ilulissat, na Groelândia
Caminhando por Caracas, na Venezuela (2007)
O que nos trouxe à Venezuela em 2007 foi o Monte Roraima. Há muito sonhávamos em subir essa misteriosa montanha na fronteira do Brasil e o único caminho para se chegar lá era (e ainda é!) pela Venezuela. Já que vínhamos tão longe, procuramos pelas outras atrações do país e assim decidimos viajar também ao Salto Angel e ao arquipélago de Los Roques. O primeiro, fica na mesma região do Monte Roraima, mas as ilhas paradisíacas, para chegar até lá teríamos de passar por Caracas. Então, a capital do país passou a fazer parte do nosso roteiro e aproveitamos para programar uns dias para conhecer a maior cidade do país.
Visita ao Panteão, em Caracas, na Venezuela (2007)
Naquela época, o câmbio oficial ainda estava a 3,50 e o negro, pouco mais que o dobro disso. Nós viemos com poucos dólares, contando com nossos cartões de débito e crédito, ou seja, câmbio oficial. O resultado foi que o país esteve bem caro para nós, principalmente Caracas, o que descobrimos assim que chegamos à capital e fomos procurar um hotel. Ainda é assim hoje, mas com um câmbio negro quase cinco vezes maior que o oficial, até Caracas ficou barata para turistas estrangeiros que trocam seus dólares no câmbio das ruas.
Estátua do libertador Bolívar, em Caracas, na Venezuela (2007)
Essa diferença entre os câmbios oficial e negro nos mostra que algo não vai bem na economia do país. E esse “algo” piorou muito nesses últimos anos. Desde a era Chávez, a Venezuela ficou ainda mais dependente de suas exportações de petróleo, tendo de importar quase tudo, inclusive os alimentos. A balança comercial é deficitária, o que significa que mais dólares saem do que entram. Ao mesmo tempo, a inflação corrói os valores no país e as pessoas buscam o dólar como reserva de valor. O governo dificulta ao máximo essa compra de dólares e a única maneira é adquiri-lo no tal câmbio negro. Muita demanda, pouca oferta, o preço da moeda “imperialista”, que todos querem no país, sobe muito. Melhor para os turistas que a trazem de fora.
Polar, a mais popular cerveja venezuelana, em Caracas, capital do país (2007)
Em 2007, Chávez estava mais vivo do que nunca. Nossos dias pelo país logo nos mostraram o quanto a população estava dividida sobre ele, alguns odiando e outros adorando o carismático e controverso líder. Quando Chávez chegou ao poder, 9 anos antes, tinha o apoio de boa parte da classe média. Mas bastaram alguns anos de governo para ele se afastar da antiga base de apoio e se aproximar das classes menos favorecidas, através de diversos programas sociais. O país se dividiu, a grande imprensa atacando o governo. Chávez contra-atacou aparecendo cada vez mais na TV, em redes nacionais obrigatórias, fazendo o que mais gostava: discursando por horas e horas diretamente à população.
De bondinho, voltando do parque El Avila, para Caracas, na Venezuela (2007)
No alto do parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)
Antigos aliados e velhos inimigos se uniram, tramaram e executaram um golpe de estado. Nos porões do palácio presidencial, sem saber o que se passava nas ruas, Chávez chamou uma rede nacional de TV para assegurar que o país estava em ordem, ruas calmas e sob controle. Mas redes de TV dividiram a tela, com o presidente discursando de um lado e com a imagem ao vivo do pau comendo entre manifestantes e apoiadores do governo do outro lado. Por fim, o mandatário foi preso e teria concordado em renunciar.
Deliciosa refeição no parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)
Caminhando no parque El Avila, em Caracas, na Venezuela (2007)
Mas a maré começou a virar contra os golpistas quando o líder deles, o empresário Pedro Carmona se declarou presidente interino, cancelou a constituição vigente e anunciou um confuso calendário de retorno à institucionalidade. Muitos que vinham apoiando a deposição de Chávez se assustaram com um possível e imprevisível novo ditador. Ao mesmo tempo, a população e militares chavistas de organizaram e vieram às ruas. O novo governo caiu antes mesmo de se consolidar e Chávez voltou ao governo.
No alto do parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)
Bondinho é um ótimo acesso ao topo do parque El Avila, em Caracas, na Venezuela (2007)
Nas eleições seguintes, a oposição tomou a estratégia desastrosa de boicotar as votações, sem apresentar nenhum candidato. Chávez se aproveitou e elegeu um congresso 100% favorável a ele. Com o congresso nas mãos, reformulou todas as leis que quis, assim como o próprio judiciário. O país estava em suas mãos, justamente quando chegamos, em 2007. Ente os que o odiavam, o desencanto era total, mas com poucas esperanças. Sabiam que algo tinha de mudar, mas não sabiam como. Já os que o apoiavam, viam um grande futuro para o país e o continente. Entre os projetos anunciados na época, um grande gasoduto uniria a Argentina à Venezuela, passando em plena Amazônia. Outro uniria todas as ilhas do Caribe, como uma grande ponte, à Caracas. Lembro de ter ficado um tanto incrédulo diante da empolgação de um conhecido chavista.
Caminhando por Caracas, na Venezuela (2007)
Bom, analisando os indicadores sociais de educação, saúde e casa própria, não há dúvidas que a vida melhorou para boa parte da população mais pobre, embora a economia do país tenha se deteriorado tanto. Mas um indicador, na contramão dos outros, piorou muito: a segurança. Principalmente nas periferias das grandes cidades e de Caracas em especial. A capital venezuelana se tornou uma das mais perigosas do mundo. Embora os números tenham piorado ainda mais nos últimos anos, eles já eram alarmantes em 2007, quando estivemos na capital. Mas, como nunca dei muita bola para estatísticas, na esperança de jamais me tornar uma delas, viajamos para Caracas com os cuidados de praxe, mas sem medo. De qualquer maneira, as favelas que cercam a autoestrada que leva do aeroporto ao centro são mesmo impressionantes, no mal sentido.
Estudantes passeiam pelo parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)
Bem, o táxi do aeroporto nos levou incólumes através dessas assustadoras favelas e nos deixou nas Mercedes, um bairro muito mais agradável. Depois de encontrarmos um hotel, nossa próxima missão foi acertar nossa viagem à Los Roques, datas e passagens. Deu trabalho, mas conseguimos, depois de uma peregrinação por agências de viagem e companhias aéreas. Foi só aí que começamos a desfrutar da capital dos venezuelanos.
Esquilos correm no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)
Fomos passear no caótico centro, com suas praças e incontáveis monumentos aos heróis da pátria, principalmente à Bolívar, que está em quase todas as esquinas, seja na forma de estátuas, citações ou homenagens. Mais tarde, cansados de tanta urbanidade, seguimos ao parque El Avila, as altíssimas montanhas que formam o limite norte da cidade. Um enorme teleférico é o caminho mais curto para se chegar até o alto e, lá encima, parece que mudamos de cidade, de país e de galáxia. O barulho das buzinas é substituído pelo canto dos pássaros, o ar poluído fica puríssimo e pode-se ver toda a cidade, mil metros abaixo de nós.
O parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela, é conhecido pela sua botânica variada, principalmente de cactos
A noitada foi em uma vizinhança conhecida por sua infinidade de bares, de todos os estilos. Nós rodamos e vimos vários, mas acabamos escolhendo um em que tocava uma banda brasileira! Na verdade, já estavam radicados na Venezuela há muito tempo, mas sempre sobreviveram com a música da terra natal. Quando desceram do palco, ficamos amigos do vocalista que, entre conversas e cervejas, nos contou uma história bem interessante! Na década de 80, quando já morava na cidade, foi chamado para cantar em um evento que homenageava um convidado ilustre: o rei Pelé! No final do show, teve até a chance de conhecer o maior futebolista da história. Pois bem, pouco mais de dez anos depois, eis que o Pelé estava de volta à Caracas, para mais um evento. Outra vez, nosso amigo estava presente, mas dessa vez, apenas para assistir. E não é que, no meio do evento, o Pelé foi até ele e disse: “Não sei se você se lembra, mas a gente já se conhece!” Hehehe, nosso amigo ficou sem ter o que falar...
Descanso no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)
No nosso último dia em Caracas, fomos de metrô ao mais popular parque da capital, o Parque Generalissimo Francisco Miranda, mais conhecido como Parque del Este. Ele é famoso por sua botânica variada e jardins de cactos. Entre esquilos e crianças, foram momentos de paz e tranquilidade. Depois, era hora de pegar o metrô para voltarmos ao hotel e, de lá, ao aeroporto. Pois é, o mané aqui estava com carteira recheada no largo bolso da bermuda. Só faltava uma placa escrita: “Roubem-me!”. Não precisou da placa, não! Ao entrar no vagão do metrô, o que parecia uma estação vazia de repente se encheu, senti um empurra-empurra e um bolso mais leve. Bastaram poucos segundos para ficar duzentos dólares mais pobre, além de perder documentos e cartões de crédito. Assim que senti o bolso vazio, parti em perseguição de uma pessoa que saía rapidamente do vagão. A Ana, no último segundo antes que as portas se fechassem, saiu atrás de mim. Mas a pessoa que eu perseguia era apenas a isca. Seus colegas e minha carteira partiam no metrô que já estava em movimento.
Hora da leitura durante passeio no parque Francisco Miranda, o maior de Caracas, na Venezuela (2007)
Pois é, acabei, eu também, virando parte das estatísticas. Sinceramente, culpa minha mesmo. Vivendo e aprendendo! Felizmente, os passaportes estavam no hotel. Mas o resto, já era. Já com hora marcada para viajar, no meio da tarde, não deu tempo de fazer muita coisa a respeito. Seguiríamos para Los Roques com o pouco de dinheiro que a Ana ainda conseguiu tirar no caixa eletrônico. O problema é que, nas ilhas, em 2007, não havia bancos, nós não tínhamos hotéis reservados e apenas os meus cartões eram “internacionais”. Como nós iríamos nos virar por lá, isso ainda teríamos de descobrir. Assunto para eu pensar no avião, pelo menos nos poucos minutos em que eu conseguisse me esquecer do ódio que sentia dos ladrões e de minha própria estupidez...
Deliciosa refeição no parque El Avila, nas montanhas ao redor de Caracas, na Venezuela (2007)
Encontro do 1000dias e o 4x1 em Vancouver, no Canadá (foto da expedição 4x1 - Retratos da América)
Desde que começamos a planejar nossa viagem pelas Américas, no início de 2009, que procuramos constantemente por outros aventureiros que fizeram ou fazem algo parecido. Em tempos de internet, google e facebook, essa procura fica bem mais fácil e essas expedições de carro ao redor do mundo se contam às dezenas.
A Fiona e a Tanajura (4x1), encontro de carros brasileiros na frente do Boteco Brasil, em Vancouver, no Canadá
Na sua grande maioria, são europeus, australianos e americanos que fazem esse tipo de viagem. O veículo mais comum são as motos. Os continentes mais viajados são a África e o sudeste asiático. Mas a América também é percorrida, sendo o mais comum as pessoas virem do norte para o sul, de onde mandam seu veículo para outro continente. A rota mais batida segue sempre perto do Pacífico e o Brasil acaba ficando de fora de muitos trajetos (não sabem o que estão perdendo, esses gringos!).
A Fiona e a Tanajura (4x1), encontro de carros brasileiros na frente do Boteco Brasil, em Vancouver, no Canadá
Entre os sul-americanos, os maiores viajantes, devo reconhecer, são nossos hermanos argentinos. Com a cara, a coragem e pouco dinheiro, entram numa Kombi ou num calhambeque e saem mundo afora. Não sei se é pela influência de Chê, o fato é que eles conhecem muito mais o nosso continente que os brasileiros, que ainda preferem voar direto para Miami ou Nova Iorque.
Enconttro das expedições brasileiras 1000dias e 4x1, além dos Kombianos, em frente ao Boteco Brasil, em Vancouver, no Canadá
Mas temos nossas honrosas exceções! Entre os que se atreveram a ir um pouco mais longe que a Patagônia ou o Atacama (esses sim, trajetos muito percorridos pelos brasileiros) estão o pessoal do Challenging Your Dreams (apesar do nome, são brasileiros sim!), do Mundo Por Terra (fizeram uma incrível viagem pelo mundo, incluindo a uma histórica volta por toda a África!) e o Viagens Maneiras (levaram seu cão labrador para “passear” por mais de 40 países!). Esses e outros, inclusive da era pré-internet, sempre foram uma inspiração para nós. Mas, quando começamos a nossa própria aventura, a deles já havia terminado. Será que estávamos “sozinhos” na América?
Jantando com os brasileiros da expedição 4x1 em restaurante mongol, em Vancouver, no Canadá (foto da expedição 4x1 - Retratos da América)
Que nada! Há outros por aí e a internet é o meio de achá-los. Ou, quem sabe, de sermos achados! Pois é, foi isso que aconteceu quando, no início do ano, recebemos um e-mail de uma pessoa perguntando sobre a viagem. Era o Gustavo e nos informava que ele e quatro amigos estavam planejando algo semelhante. Não ficaram só nos planos não e, poucos meses mais tarde, a expedição 4x1 – Retratos da América já estava na estrada. O Gustavo, Gabriel, Bruno, Leonardo e André, a bordo da simpática Tanajura (uma Nissan), partiram rumo ao Alaska no dia 3 de Junho desse ano.
A Fiona e a tanajura se encontram novamente em frente ao Boteco Brasil, em Vancouver, no Canadá
A viagem deles é mais curta que a nossa, devendo durar de 10 meses a um ano. Assim como nós, o objetivo é chegar ao Alaska, descer até a Patagônia para então, voltar ao Brasil. Como têm menos tempo do que nós, estão fazendo uma rota mais direta. Cruzaram o Brasil de sul a norte pelo interior, passando pelo litoral do Ceará e Amazônia. Daí para a Venezuela e Colômbia. Como saíram mais tarde do que tinham imaginado e queriam chegar ao Alaska antes do frio do inverno, acabaram pulando a América Central e o México, mandando o carro diretamente para Seattle. Mas na volta, com mais calma, vão poder viajar por essas regiões também.
Encontro das expedições 1000dias e 4x1 no Boteco Brasil, da Márcia, em Vancouver, no Canadá
Então, desde que eles iniciaram sua viagem que estamos acompanhando aqui de “cima”, torcendo e planejando um encontro. Quase deu certo no Alaska, mas um descompasso de dois dias acabou por adiar nosso encontro. Acho que foi o destino que preferiu que fosse em Vancouver. Afinal, é aqui que está o Boteco Brasil, da brasileira Márcia, moradora da cidade há mais de 20 anos e cozinheira de mão cheia dos nossos mais famosos pratos e quitutes.
Deliciosa comida brasileira no Boteco Brasil, no encontro das expedições 1000dias e 4x1, em Vancouver, no Canadá
Eles chegaram um dia antes de nós e se hospedaram na cada do Caio, músico brasileiro que também já mora aqui há um bom tempo. O Caio deu a ideia do Boteco e para lá marcamos o encontro, para a noite do dia 14. Mas, o que já estava bom acabou ficando melhor! Quem também estava na cidade eram os nossos amigos colombianos, que viajam pela América de Kombi. Tínhamos nos encontrado em Anchorage e, desde então, acompanhamos nossos passos. O Jorge e a Meli vieram conhecer nosso “apartamento” de tarde e aí ficamos por horas, botando as conversas em dia. Depois, já de noite, seguimos juntos para o Boteco Brasil.
Não poderia faltar uma boa ideia no encontro dos brasileiros no Boteco Brasil, em Vancouver, no Canadá
Foi uma festa! Para nós, brasileiros, por encontrar companheiros de aventura. Para os colombianos, que adoram o Brasil e se divertiram com a música brasileira no Boteco. E para a Márcia, que jamais imaginou ter dois carros brasileiros estacionados na frente de seu bar, em Vancouver. Falando em carros, foi uma festa também para a Fiona, que adorou conhecer a Tanajura.
Junto com os brasileiros do 4x1 em parque de Vancouver, no Canadá
Ontem, dia 15, foi a vez da expedição 4x1 nos visitar em nosso apartamento (adoro poder falar do “nosso” apartamento em Vancouver, hehehe). Aí também ficamos por horas, trocando ideias e informações ou simplesmente nos divertindo com as aventuras vividas pelas duas expedições pelo nosso continente afora. Depois de muita conversa, a fome bateu e fomos comer, os seis, ali perto. Digo “seis” porque o André não está aqui em Vancouver. Aproveitou esses dias para voar para Nova Iorque e vai reencontrar os companheiros em pouco mais de uma semana, lá em Yellowstone. Fomos jantar num restaurante de comida mongol, para matar a saudades de um restaurante lá de São Paulo, o Tantra, que todos conhecemos. Eles cinco se formaram na FEA, na USP, e portanto, conhecem bem a cidade.
Discutindo caminhos e rotas com o Gabriel, da expedição 4x1, em Vancouver, no Canadá
Hoje, dia 16, foi dia de novo reencontro. A Márcia nos convidou para um almoço no Boteco Brasil e lá nos refestelamos de pão de queijo, guaraná, coxinha, feijoada e caipirinha. Uma delícia! Encontro brasileiro em ambiente brasileiro, com comida brasileira, apesar de estarmos em Vancouver. Agora, com a ajuda da luz do dia, pudemos tirar mais fotos do nosso encontro por lá, dos carros, das pessoas, do boteco e da comida.
Junto com os brasileiros da expedição 4x1 na Wreck Beach, em Vancouver, no Canadá
Dali, esticamos para um passeio conjunto pela cidade, Fiona e Tanajura andando lado a lado pelas ruas de Vancouver. Muito legal! Aproveitamos o verde de um parque para uma nova sessão de fotos e seguimos para a praia, localização ideal para assistir o pôr-do-sol. Ali, não resistimos a fazer a famosa foto do pulo, uma das preferidas da expedição 4x1. Eu já tinha visto tantas, no site deles, que fui quem lembrou que deveríamos fazer outra, ali.
Show de burlesque especial de Halloween em Vancouver, no Canadá
Muitas fotos depois, seguimos para o centro, para o distrito histórico de Gastown. Foi aí que começou Vancouver e onde, hoje, pode-se encontrar dezenas de bares e restaurantes charmosos. Achamos um de tapas, para um rápido jantar com cerveja ou vinho e seguimos para outro bar em frente, onde tivemos a sorte de ver um show de burlesque inspirado no Halloween que está chegando. Fechamos assim, com chave de ouro, esse incrível e inesquecível encontro de expedições brasileiras aqui em Vancouver. Pelo ritmo e andar das duas expedições, dificilmente nos encontraremos novamente durante essas nossas jornadas. Mas não iremos nos separar mais, eletronicamente, sempre acompanhando as aventuras inspiradoras uns dos outros. Os amigos que eram virtuais, agora viraram reais. A internet é joia, mas o cara a cara é muito melhor. Expedição 4x1, uma excelente vigem para vocês! Estaremos sempre acompanhando de perto! E a Fiona manda uma grande buzinada para a Tanajura! Cuidem-se e aproveitem essa incrível experiência no nosso maravilhoso continente!
Bruno, Gabriel, Gustavo e Leonardo, da expedição 4x1, saltam para foto na Wreck Beach, em Vancouver, no Canadá
Chegando a Buenos Aires, capital da Argentina
Pouco mais de um mês depois de deixarmos as terras brasileiras pela última vez, estamos chegando ao nosso objetivo tão sonhado. Não ao final da viagem, como o nome do post parece sugerir, mas à realização de um dos maiores sonhos que tínhamos quando iniciamos esses 1000dias por toda a América: nossa viagem à Antártida! Desde que entramos na região das Missões, já em território argentino, foram mais de 5 mil quilômetros, primeiro cruzando o país de leste à oeste, depois cruzando a região central do Chile de norte a sul, ainda com a chance de dar um pulinho na Ilha de Páscoa e, finalmente, cruzando a Argentina novamente, agora de oeste a leste. Tudo isso para chegarmos aqui, em Buenos Aires, a magnífica capital federal, de onde parte o nosso barco rumo aos mares do sul em apenas poucos dias.
[a]Nossa viagem de mais de um mês e 5 mil km através de Argentina, Chile e Argentina novamente, para chegarmos, enfim, a Buenos Aires
A última parte desse longo e intenso recorrido foi hoje, umas poucas horas na moderna autoestrada que liga os dois maiores centros econômicos do país, Rosário e Buenos Aires. Pela manhã, ainda tivemos tempo para curtir uma praia no belíssimo rio Paraná, o mesmo que recolhe as águas lá das minhas Minas Gerais e São Paulo e se junta ao rio Paraguay, com as águas do Pantanal que visitamos há tão pouco tempo. Aqui, todas juntas, o rio é enorme e mais argentino do que nunca! Almoçamos de frente ao rio e aceleramos para a capital, aonde chegamos junto com as últimas luzes. Entramos, emocionados, pela portentosa Avenida 9 de Julio, “la más ancha del mundo”, e viemos diretamente para Palermo, um dos nossos bairros preferidos nessa cidade que nos encanta.
[a]Última perna da viagem, hoje, entre Rosário e Buenos Aires, pouco menos de 300 km.
Buenos Aires é nossa última parada antes de embarcarmos para a Antártida. Aliás, zarpamos das docas aqui da cidade mesmo, no dia 3 de Novembro. Temos, então, mais quatro dias para explorar e rever essa cidade que aprendemos a admirar faz tempo, local de nossa primeira viagem internacional juntos, muito antes dos 1000dias, em 2007. Mas temos mais coisas para fazer por aqui, além de simplesmente passear. A principal delas é levar a Fiona para o local onde ficará guardada essas pouco mais de três semanas que estaremos em viagem pelo sul do planeta. Além disso, já na véspera do nosso embarque, vamos nos encontrar com o grupo que viajará conosco, nos instalar no hotel da expedição e participar da programação em terra, como o city tour e a noite de tango. Enfim, serão dias corridos até estramos rumo a alto mar.
Chegando a Buenos Aires, capital da Argentina
Nós já sonhamos com essa viagem desde 2009, quando idealizamos nossa volta por todos os países e regiões das Américas. Mas só começamos a operacionalizar esse sonho há dois meses, quando decidimos em qual data viajaríamos, com qual empresa e qual o roteiro. O principal pré-requisito é que a viagem ao continente gelado incluísse passagens pelas Ilhas Malvinas e South Georgia, ilhas que compõe o nosso continente e que, portanto, teríamos de (e queríamos!!!) visitar. Outra questão era a data da viagem. Todas as viagens comerciais para a Antártida são no verão do hemisfério sul, entre Novembro e Fevereiro. Como devemos estar no Brasil impreterivelmente no início de Dezembro (somos padrinhos de um casamento) e ainda queremos conhecer por terra todo o sul da Argentina e Chile, a data que melhor se encaixou foi mesmo no início de Novembro. O detalhe é que o barco sai aqui de Buenos Aires, mas termina sua viagem em Ushuaia. Aí, teremos de voar de volta para cá, viajar mais uns dias pelo país para deixamos nossa Fiona outra vez por aqui, enquanto voamos para um bate-volta ao Brasil no início de Dezembro. Finalmente, e aí com mais calma, retornamos ao país para continuarmos nossas viagens terrestres pela Patagônia argentina e chilena.
Chegando à Avenida Nueve de Julio, em Buenos Aires, capital da Argentina
Não há viagens realmente independentes à Antártida, a não ser que você tenha seu próprio barco e seja exímio navegador, tipo Amyr Klink, por exemplo. Como estamos longe disso, temos de nos render a uma “excursão”, ou expedição, como gostamos mais de pensar! Se a ideia fosse apenas a Antártida, poderíamos pensar em apenas voar para lá, desde Punta Arenas. Mas como queremos passar nas ilhas, tem de ser de barco mesmo. São bem poucas companhais que oferecem circuitos que incluam a passagem pelas ilhas e, dessa, tentamos escolher pelo melhor preço e menor barco. Infelizmente, não dá para fugir dos preços absurdamente altos, pelo menos para o nosso padrão. A única chance disso seria comprar passagens de última hora, em quartos coletivos. O problema dessa alternativa é que nunca se tem certeza que haverá vagas para nós. Além disso, teríamos de passar 3 semanas em quartos separados e sem chance de fazer caiaque, pois as passagens que incluem essa atividade se esgotam com meses de antecedência. Tudo medido e analisado, resolvemos tirar a mão do bolso e investir o nosso pobre dinheirinho que viemos economizando ao longo da viagem. Foi, de longe, o maior investimento que fizemos nesses 1000dias, mas temos certeza que valerá a pena cada centavo. Afinal, não é todo dia que se viaja para a Antártida!
Chegando à Avenida Nueve de Julio, em Buenos Aires, capital da Argentina
Outra questão que tivemos de planejar com antecedência foi o que fazer com a Fiona. Poderíamos deixá-la em algum estacionamento da capital, claro. Mas, como acabei de falar, e ainda mais depois de todo esse investimento no barco para a Antártida, queríamos economizar onde fosse possível. Assim, nos últimos dias, lançamos um pedido de socorro nas redes sociais, para ver se alguém nos ajudava. E não demorou a aparecer! Mais uma prova de que viajantes se ajudam e que os argentinos são ótimas pessoas, logo vários deles se ofereceram para guardar a Fiona, em Buenos Aires e arredores. Dentre as várias ofertas, acabamos combinando com a Carola e o Marcelo, os “periodistas viajeros”, que já nos acompanham no Facebook há algum tempo. A Fiona ficará na casa da família da Carola, em Pilar, uns quarenta quilômetros ao norte da capital. Então, nesses dias por aqui, precisamos encontrá-los e combinar como vamos fazer para levar a Fiona até lá.
O roteiro do nosso barco, saindo de Buenos Aires, passando pelas Malvinas, Geórgia do Sul e Antártida e chegando em Ushuaia
Enfim, estamos excitadíssimos com essa viagem que se avizinha, tão perto que já estamos vendo a fumaça da chaminé do navio e sentindo frio por antecipação por encontrar pinguins e leões-marinhos. Mas temos de relaxar e nos concentrar nesses próximos dias aqui nessa cidade maravilhosa, com tanto para ver, fazer e comer. Por falar nisso, e até para ajudar a gente a relaxar, hoje mesmo, depois de nos instalarmos num hotel bem joia em Palermo, saímos para jantar fora. Fomos comer aqui perto mesmo, na praça principal do bairro, num restaurante de comida japonesa-peruana. Estava espetacular, ainda mais muito bem acompanhada de vinho nacional. Foi apenas o início da nossa comemoração pelas aventuras que se aproximam!
Nosso roteiro e pontos de parada na região da Península Antártica
Deixamos Elephant Island e continuamos nosso caminho para ao continente antártico, dessa vez rumo à principal ilha do arquipélago de Shetland do Sul, a Ilha do Rei George, ou King George Island, em inglês. A ideia era fazer dois desembarques na costa da ilha, mas o tempo mudou, coisa muito comum por aqui, e só tivemos a chance de pisar em terra firme uma única vez, em um lugar chamado Turret Point. A ilha tem 95 km de comprimento e 25 km de largura e está a apenas 120 km de distância da península antártica. Tão perto assim, ninguém mais duvida: chegamos mesmo ao continente mais isolado da Terra!
Apenas na King George island são onze estações de pesquisa de 10 diferentes países, incluindo a estação brasileira Comandante Ferraz
Mas, será mesmo assim, tão isolado? Ao navegar pela costa de King George Island, nos chamou a atenção a quantidade de edificações que vimos em suas encostas. São apenas parte das chamadas estações científicas que se espalham pela ilha, pela península antártica e por todo o continente. Ao ver tantos sinais da ocupação humana, a curiosidade logo me atiçou: a quantas anda a exploração do “continente mais isolado do mundo” hoje?
Base científica argentina, uma das muitas existentes em King George Island, na Antártida
Base científica argentina, uma das muitas existentes em King George Island, na Antártida
Quando chegarmos à península antártica vou falar do descobrimento e época da exploração heroica do continente e da corrida entre o inglês Scott e o norueguês Amundsen para chegar ao polo sul no início do séc. XX. Atingido o polo o movimento se aquietou um pouco e apenas algumas estações baleeiras foram instaladas em ilhas ao redor da península antártica. Foi apenas durante e após a 2ª Guerra Mundial que os olhos do mundo voltaram-se para cá, com diversas nações começando a instalar bases científicas no continente, além de reclamar posse territorial. Primeiro foi a Inglaterra, ainda no início do século, seguida por Nova Zelândia, França, Austrália, Noruega e por fim, Chile em 1940 e Argentina em 1943.
Países que tem pretensões territoriais na Antártida. As pretensões de Argentina, Chile e Inglaterra incluem a península antártica e se sobrepõem
Nenhum desses pedidos foi aceito internacionalmente e, com a realização do Ano Geodésico Internacional em 58/59, consagrado ao estudo da Antártida, essas antigas reclamações de posse foram colocadas em moratória por 30 anos enquanto novos pedidos foram proibidos. O Tratado da Antártida entrou em vigor em 1961 e os trinta anos venceram em 1991, quando o acordo foi renovado por outros 50 anos. Assim, pelo menos até o ano de 2041, a Antártida será considerada território internacional. A maioria das nações que reclamavam territórios na Antártida já parece aceitar a ideia de um continente internacional. As exceções são os dois países sul americanos, Argentina e Chile, que continuam a reclamar seus territórios. Tanto que nos dois países há leis que obrigam as empresas de cartografia a sempre mostrar as dependências antárticas de seus países quando forem produzir algum mapa nacional. O interessante é que as partes reclamadas por esses países, que incluem toda a península antártica e suas adjacências, assim como o território reclamado pela Grâ-Bretanha, se sobrepõem. Por exemplo, a King George Island, por onde passamos hoje, estaria no território desses três países...
Tanto o Chile (esquerda) como a Argentina (direita) têm leis que obrigam os mapas a mostrarem suas pretenções territorias sobre a Antártida
Foram esses interesses políticos, aliados com interesses científicos e econômicos, que geraram um verdadeiro boom de estações de pesquisa no continente no tal Ano Geodésico Internacional. Os países que reclamavam território, somados a Estados Unidos, a antiga União Soviética, Bélgica, Japão e África do Sul são as doze nações originais a assinar o Tratado da Antártida. Juntos, já possuíam quase 50 estações científicas na Antártida até a ratificação do Tratado, em 1961. Com o passar do tempo, outros países foram aderindo e, para ter direito a voto nas decisões, era preciso que também instalassem estações permanentes, que funcionassem o ano inteiro, na Antártida. Um deles foi o Brasil, com sua estação Comandante Ferraz instalada em 1984. Hoje, já são 50 nações incluídas no Tratado Antártico, 29 das quais com direito a voto, já que possuem bases permanentes no continente. São quase 80 bases científicas, pouco mais da metade delas operativas durante todo o ano.
Mapa da Antártida mostrando a localização das mais de 80 estações de pesquisa. Apenas 6 delas são no interior. A maioria fica no litoral e, principalmente, na península antártica, de clima bem mais ameno
Essas estações se espalham pelo continente, mas a grande maioria delas se encontra no litoral ou muito próximo a ele. A razão disso é simples: é muito mais barato manter uma base perto da costa. Além disso, as condições de vida no interior, no alto do platô antártico, são muito mais severas. Ali, apenas as nações mais ricas do mundo mantêm bases. Justamente sobre o polo sul, os Estados Unidos mantém a base de Scott-Amundsen. Situada a mais de 2.800 metros de altitude, a estação tem uma população de 200 pessoas no verão e cerca de 50 pessoas no inverno. Os russos mantém no interior a estação Vostok, a mais de 3 mil metros de altitude. Ela é famosa por ter registrado a temperatura mais baixa já medida no planeta: -89,2 graus célsius, frio o suficiente para congelar o dióxido de carbono no ar! Outras estações no platô antártico são a franco-italiana Concordia, a alemã Kohnen, a japonesa Dome Fuji (3.800 metros de altitude) e a chinesa Kunlun, a mais de 4 mil metros de altitude! Essas três últimas só funcionam no verão, fechando suas portas no inverno.
Aurora austral sobre a base americana de Amundsen-Scott que fica justamente sobre o polo sul do planeta
Mas é mesmo no litoral onde se encontram a grande maioria das estações. Entre elas se destaca a gigantesca base americana de McMurdo, a maior do continente. Aí vivem cerca de 1.200 pessoas no verão e cerca de 200 durante o inverno. É uma pequena cidade, com direito a banco, porto e muitos automóveis. De McMurdo parte uma estrada construída de neve compactada até a estação de Scott-Amundsen, no polo sul. São 1.600 km de extensão, percorrendo toda a plataforma de Ross, subindo as montanhas até o platô antártico e seguindo pelo planalto polar até o polo sul. Obviamente, não é uma estrada para carros normais. Os comboios de tratores demoram quase 40 dias para ir de McMurdo até Scott-Amundsen levando suprimentos para a temporada. Na volta, sem peso, é bem mais rápido. Antes que alguém se apresse em reclamar da poluição causada por esses comboios, na verdade eles economizam vários voos de transporte para a estação do polo sul, eles sim muito mais poluentes. Esses voos e comboios para o polo sul só ocorrem até o inverno chegar. Aí, por mais de 4 meses gelados e escuros, os habitantes de Scott-Amundsen ficarão totalmente isolados. Mesmo casos de emergência médica deverão ser solucionados ali mesmo.
Uma estrada de neve compactada de 1.600 km liga as bases americanas de McMurdo, no litoral do continente, e Amundsen-Scott, no polo sul do planeta
Caravana de tratores percorre a estrada que liga as bases americanas de McMurdo e Amundsen-Scott, na Antártida
De volta às estações do litoral, há uma grande concentração delas ao longo da península antártica, onde o clima é ainda mais ameno. E é justamente na King Georg Island, ali pertinho da ponta da península, onde está o maior número de estações, inclusive a nossa brasileira. Apenas naquela pequena área são 12 estações de onze países diferentes. Entre elas se destaca a base chilena Eduardo Frei, com a pista de avião mais movimentada desse lado da Antártida. Junto à base científica, está uma “base civil”, praticamente uma pequena vila onde moram famílias e crianças, há uma escola, correio, banco, biblioteca entre outras amenidades. Aí nasceu Juan Pablo Camacho, em 1984, o primeiro chileno a nascer na Antártida.
Visão da estação chilena de Villa Las Estrellas, a maior das duas únicas estações civis da Antártida, em King George Island. Quase uma pequena vila, com escola, banco e correio. A outra é La Esperanza, argentina
Mas ele não foi a primeira criança do continente. Essa honra cabe ao argentino Emilio Palma, nascido em 1978 na base civil argentina de La Esperanza. Localizada na ponta da península antártica, esta também é considerada uma pequena vila. O nascimento das crianças, assim como a administração civil das bases faz parte do esforço argentino e chileno em consolidar o território como parte de suas respectivas nações. Também nesse sentido, mas agora por parte dos russos, foi construída a primeira igreja do continente, a mais austral do mundo, na base desse país em King George Island. A igreja é permanentemente habitada por um padre, o ano inteiro. Esforços não só para garantir a posse territorial, mas os direitos econômicos de uma possível exploração econômica no futuro. O Tratado Antártico, além de suspender as reclamações territoriais, também impede a exploração comercial dos minérios do continente. Muita gente teme hoje que isso não seja renovado em 2041, especialmente com tantos países interessados num subsolo que, tudo indica, é muito rico.
A primeira igreja da Antártida, na estação russa de Bellingshausen, em King George Island, na Antártida (foto de Jens Bludau)
Falando em minérios, quem, por exemplo, também está presente na King George Island são os chineses. Entre outras amenidades de sua base está um imenso cômodo grande o suficiente para partidas de basquete. Na inauguração de sua base, seguindo uma tradição de seu país, foram soltas centenas de pombas brancas. Como se sabe, esse não é um animal natural da Antártida. Poucas horas depois, todas elas estavam mortas congeladas. A triste história das pombas da estação chinesa Grande Muralha só fica pequena quando comparada com o que ocorreu 6 anos antes, em 1979, do outro lado do continente.
Há até carros na gigantesca base americana de McMurdo, na Antártida
A companhia aérea da nova Zelândia promovia voos turísticos sobre o continente branco. Um enorme- DC-10 decolava pela manhã de Auckland, voava até a Antártida e voltava, centenas de passageiros debruçados nas janelas acompanhados de guias que explicavam fatos sobre o continente. Até que um desses aviões se estatelou no mais famoso vulcão da Antártida, o Erebus, matando 273 pessoas no maior acidente aéreo da história daquele país. Até hoje, em verões mais quentes quando a neve derrete, é possível ver os destroços do avião nas encostas da montanha. Não foi um bom início para a história da exploração turística da região.
Visão noturna de Villa Las Estrellas, a maior das duas vilas existentes na Antártida (em King George Island)
Falando em tragédias, dessa vez aqui mesmo em King George, impossível não lembra do que ocorreu com a nossa base brasileira. Foi destruída pelo fogo em 2011, logo uma explosão. Infelizmente, morreram dois brasileiros no acidente. A base foi desmantelada e uma estrutura provisória foi construída para abrigar pesquisadores enquanto uma nova base, muito mais moderna, não fique pronta. É importante para o Brasil continuar garantindo a nossa presença permanente no continente. Seja pelos nobres motivos científicos ou pelos não tão nobres econômicos.
Uma foto do incêndio da base brasileira Comandante Ferraz, em King George Island, na Antártida. Duas pessoas morreram
Voltando ao turismo, hoje, a maioria de nós chega aqui de navio, mas ainda há os turistas que vem de avião, principalmente de Punta Arenas rumo à pista de pouso da vila de Las Estrellas. Entre as atividades que promovem o turismo daqui há até uma maratona que já começa a se tornar tradicional, a Maratona da Antártida, toda ela realizada em King George Island, atraindo cada vez mais participantes.
Corredores da já tradicional "Maratona da Antártida", na King George Island
Pois é, esse é o continente que chamamos de isolado. Com seus 5 mil habitantes durante o verão, cerca de 1.000 no inverno, quase 50 mil turistas anuais, uma estrada de 1.600 km e até uma maratona anual, acho que já não é tão isolado assim...
A base americana de McMurdo, a maior base da Antártida, com mais de 1.000 habitantes no verão
Enorme tronco caído de cedro Vermelho faz ponte natural em trilha do Pacific Rim Nat. Park, na região de Tofino, na British Columbia, no Canadá
Algumas datas nos fazem ver como temos andado por esse continente nos últimos tempos. São datas marcantes para nós como, por exemplo, o dia do ano que começamos essa viagem ou a data do nosso casamento. Elas nos convidam a tentar lembrar como foi esse mesmo dia há um ano ou há dois anos, épocas em que já estávamos na estrada nesses 1000dias. Nossos respectivos aniversários estão entre esses datas marcantes e hoje é o meu dia de ficar um pouco mais velho.
As condições climáticas da "Wet Coast", na British Columbia, no Canadá
Então, foi o dia de tentarmos lembrar o que fizemos e onde estávamos nos dias 11 de Outubro de 2011 e de 2010. Se a memória falha um pouco, os blogs estão aí para nos lembrar! Um botão no alto de cada um dos blogs nos leva diretamente aos posts de um e dois anos atrás. Para mim, é uma viagem deliciosa navegar por eles e reviver aqueles momentos. Há um ano, estávamos na cidade histórica de Popayan, no sul da Colômbia, e a sobremesa do jantar daquela noite especial foi inesquecível! Há dois anos estávamos em Itaúnas, a simpática cidade capixaba cheia de dunas de areia, no norte do estado. Ali, tivemos a deliciosa companhia do sobrinho Leo e da namorada Karen, que já faz parte da família, quase uma sobrinha também. Sem esquecer dos padrinhos Rafa e Laura. Foi muito legal!
Observando árvore que cresceu sobre o tronco de um antigo Cedro Vermelho, na rain forest da região de Tofino, na British Columbia, no Canadá
Bom, e hoje, 11 de Outubro de 2012? Dessa vez, longe que estamos, não tivemos a companhia física de familiares e amigos. Mas a internet e o Skype estão aí para diminuir as distâncias, certo? Passei boa parte da manhã, ainda no nosso Hostal em Tofino, lendo e respondendo e-mails e mensagens no Facebook, além de falar por uma hora, via Skype, com a família separada pelo mundo. Uma delícia! Viajar hoje em dia é tão mais fácil que na época das cartas e dos telegramas... Pois é, estou ficando velhinho, eu me lembro disso!
A magnífica floresta de árvores gigantes na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Bom, fim da manhã, fim da nostalgia, bola para frente! Era hora de pegar estrada novamente! Nosso destino era Victoria, no sul da Vancouver Island e a capital de toda a British Columbia. Mas, antes de chegar lá, ainda tínhamos duas paradas muito importantes para fazer!
Trilha ba floresta de árvores gigantes, na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Placa comparativa da maior e mais antiga das Douglas Fir com a Torre de Pisa, na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A primeira foi numa trilha atravessando um trecho da rain forest protegida pelo Pacific Rim National Park, ainda bem perto de Tofino. O clima chuvoso combinou perfeitamente com a trilha entre enormes árvores centenárias que formam o coração e o motor daquela mata úmida. Do conforto de uma passarela de madeira, pudemos admirar o trabalho milenar da natureza, através de várias gerações de árvores que chegam a viver 800 anos e que, quando morrem, ainda ajudam a sustentar por mais de um século a vida de outras árvores que nascem sobre seus troncos. O ar puro e o silêncio quebrado apenas pelos cantos dos pássaros ajudam a criar um clima de paz e relaxamento, tudo o que eu mais queria naquele momento. Sorte daqueles que podem fazer um passeio desses a cada dia. Rejuvenescedor!
Junto à maior e mais antiga das Douglas Fir, em Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A maior e mais antiga das Douglas Fir, em Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A parada seguinte, uma hora adiante na estrada, também foi em uma mata. Já distantes da “Wet Coast”, o sol até apareceu, como que para me parabenizar também, hehehe. A floresta, agora, era a famosa “Cathedral Grove”, um parque criado para proteger as maiores e mais antigas árvores de toda a Vancouver Island. Se a outra mata, perto de Tofino, já era inspiradora, essa aqui beira o divino. Árvores que chegam aos 70 metros de altura e que necessitam de quase uma dezena de homens para serem completamente “abraçadas”, elas se erguem como pilares para o céu que, aliás, parecem sustentar.
Trilha pela Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A estrada passa bem no meio do parque. Aí, paramos o carros e fazemos duas trilhas, uma em cada lado da estrada. De um lado, predominam nossos velhos conhecidos Cedros Vermelhos. Os mesmos que, quando morrem, servem de encubadeiras pelo próximo século. Do outro, uma parente próxima, conífera também, a Douglas Fir. Mensageiros dos séculos, contam a história de enormes tempestades, como uma há 23 anos, e de incêndios, como o que destruiu metade das árvores a 350 anos, deixando grandes cicatrizes nas árvores que restaram. São nesses grandes eventos que esses gigantes silenciosos vem ao chão, dando espaço a uma nova geração de árvores.
A Fiona fica pequenina perto das árvores da Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Essas mesmas árvores maravilhosas estavam por aqui quando o botânico David Douglas passou pela ilha, há quase 200 anos. Douglas pertenceu a uma geração heroica de cientistas ingleses, que cruzou o mundo naquela época, como oficiais de ciências de grandes expedições. Douglas pode não ter ficado tão conhecido como seu contemporâneo Darwin, mas viveu aventuras semelhantes, encerradas abruptamente numa misteriosa morte enquanto explorava o Hawaii, com apenas 35 anos de idade. Mesmo com esse pouco tempo de vida, ele foi o responsável pela descoberta de centenas de novos tipos de árvores e plantas. Na verdade, foi o botânico responsável pelo maior número de tipos de árvores introduzidas na Inglaterra (e, portando, na Europa) na história. Entre elas, a imponente Douglas Fir, que foi batizada em sua homenagem após sua trágica morte.
A magnífica floresta de árvores gigantes na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Homenagem também é o que fizemos a “mãe de todas elas”, que hoje comemorava 843 anos de idade (pelo menos, foi assim que gostei de imaginar!), uma árvore que já estava de pé quando Marco Polo visitava a China, há 750 anos. Quando Colombo chegou, então, ao outro lado do continente, já era uma adulta! Só não posso dizer que foram os vikings que a plantaram porque eles só ficaram no lado do Labrador. Ou teriam dado um pulinho por aqui? Enfim, ter estado ali, lado a lado com essas gigantes foi um inesquecível presente de aniversário.
A magnífica floresta de árvores gigantes na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Mas não foi o único! Nós seguimos viagem até a charmosa Victoria, cidade com uma rica cena cultural e gastronômica. A cidade, vamos explorar de verdade amanhã, com ajuda da luz do dia. Mas a iluminação noturna foi mais do que suficiente para encontramos o delicioso restaurante Camille’s, onde a Ana me presenteou com um jantar maravilhoso, com direito a vinho canadense direto do Okanagan Valley, principal região vinícola do país. Da entrada à sobremesa, passando pela carne de prato principal, foi um verdadeiro banquete de sabores! Obrigado a minha amada companheira!
Um delicioso vinho local para celebrar o aniversário do Rodrigo em Victoria, capital da British Columbia, no Canadá
Celebração do aniversário do Rodrigo em Victoria, capital da British Columbia, no Canadá
A noite e a celebração não terminaram por aí. Ainda esticamos para um Irish Pub, com boa música irlandesa e uma enorme quantidade e variedade de cervejas e uísques. Uísques de primeira, mas com um tamanho de dose ridículo, como bem pôde comprovar a Ana. Eu fui direto na tradicional Guinness. Achei que combinava com a data e com o dia que tinha passado! Terminamos assim, em grande estilo, esse 11 de Outubro. Depois de tanto lembrar do passado, ficou só a curiosidade do futuro: onde será o 11 de Outubro de 2013?
Uma legítima Guinness em pub irlandes para celebrar o aniversário do Rodrigo em Victoria, capital da British Columbia, no Canadá
Admirando a beleza do Diamond Lake, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Ontem pela manhã, acabamos nos estendendo em Portland e saímos de lá bem mais tarde do que imaginávamos (sempre é assim, já estamos até acostumados...). Nosso próximo destino no estado do Oregon era um parque conhecido como Crater Lake. Como o próprio nome diz, é um lago que se formou em uma enorme cratera, fruto de uma gigantesca explosão vulcânica sete mil anos atrás que deixaria no chinelo a erupção do Santa Helena em 1980.
Mt. Thielsen, um antigo vulcão erodido pelo tempo, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Mas, saindo tarde como saímos e tendo de atravessar quase todo o estado no sentido norte-sul, não havia como chegar lá ainda de dia. Aliás, que saudades dos dias longos! Ficamos realmente impressionados como a duração do dia diminuiu rapidamente aqui nessas altas latitudes. Não faz muito tempo e tínhamos luz do sol até quase 11 da noite, lá no Alaska. Agora, antes das seis e já está escuro. Para piorar, acabou o horário de verão e os relógios foram atrasados em uma hora. Estamos seis horas atrás do Brasil, agora. E a nossa programação diurna tem de terminar às cinco da tarde. Por falar em latitudes, antes que eu me esqueça, no trajeto entre Seattle e Portland, cruzamos uma placa bem legal, na estrada. Dizia: “Você está cruzando o paralelo 45º, metade do caminho entre o Polo Norte e o Equador!”. Pois é, o polo norte ficou para trás, logo ficará também a linha do equador e vamos que vamos para o polo sul!
O magnífico Diamond Lake, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Já quase no inverno, apenas os patos ainda tem coragem de continuar nadando nas limpas e gélidas águas do Diamond Lake, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Porém, antes disso, voltemos ao dia de ontem, hehehe. Esticamos o mais que pudemos na estrada, para já chegar bem perto do Crater Lake. Na parte final da viagem, entramos na Umpqua National Forest. Uma “Floresta Nacional” é como um Parque Nacional, mas com menos restrições. Atividades econômicas como exploração de madeira, caça e pesca comercial são autorizadas, mas sempre dentro de limites que não impactem a área. De qualquer maneira, são também áreas protegidas e de grande beleza e interesse natural. Nos EUA, hoje, cerca de 8% da área do país são Florestas Nacionais, enquanto os Parques Nacionais ocupam 3,6%.
Aproveitando o calor do sol da manhã, ao lado do Diamond Lake, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Então, fomos cruzando a Umpqua National Forest e, a todo momento, placas indicavam cachoeiras e outras atrações nas imediações. Mas, a luz do dia acabando e a gente ainda sem lugar para dormir, fomos seguindo, sem nenhuma perspectiva de encontrar cidades até a entrada do Cratrer Lake National Park. Sem cidades, sem motéis! Até que, já bem no alto (a estrada subia sem parar), chegamos à região do Lake Diamond, com alguma infraestrutura ao seu redor. AInad estávamos dentro da área da floresta nacional e ver aquele lindo lado cercado por dois vulcões extintos nos fez entender logo porque aqui era uma região protegida. Época de baixa estação, não havia quase ninguém por ali, vários resorts fechados. Mas, sorte nossa, encontramos um lodge!
Whitehorse Falls, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
O mata filtra os raios de sol na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Não só lodge, mas restaurante também. Tudo na beira do lago e com preços ótimos. É a vantagem de ter acabado o verão e o período de férias escolares. Tudo ficou mais tranquilo e barato! Pelo menos, compensa um pouco o fato dos dias serem menores e as dificuldades que os rigores do clima tem trazido á nossa viagem, como a chuva e as estradas fechadas.
Riacho com pequenas cascatas no Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Trilha na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Por exemplo, descobrimos com o pessoal do lodge que a estrada cênica que dá a volta no Crater Lake está fechada até o início do verão, no ano que vem. Mesmo que a neve não tenha caído de verdade ainda, regras são regras, prazos são prazos e a estrada está fechada, para a nossa decepção. Mas a estrada principal do parque está aberta e nós podemos subir até o alto da cratera, acima dos 2 mil metros, para observar o famoso lago. Mas esse programa não dura muito e, com isso, teríamos muito tempo de folga hoje. O mesmo gerente do lodge tratou de nos mostrar que não faltaria programação. E as atrações eram justamente aquelas cachoeiras que tínhamos passado correndo, ontem no final da tarde.
Primeira visão da bela Watson Falls, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Hoje, acordamos com um dia absolutamente esplendoroso. Sol radiante, céu azul e aquele lago bem na nossa frente, com os vulcões extintos e com seus picos nevados refletindo na água. Cenário idílico! A vontade era passar ali o dia inteiro, sem fazer nada, apenas na frente do lago e, com muita coragem, arriscar um mergulho rápido junto com os patos. Mas outras atrações nos chamavam.
Chegando à majestosa Watson Falls, na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Voltei a falar com o gerente, para que el nos ajudasse a escolher entre tantas cachoeiras. Ele apontou três. Brinquei se não haveria alguma para nadarmos também, já sabendo da resposta. Quer dizer, achei que sabia, mas não sabia nada! “Nadar? É, nas cachoeiras, vai ser meio difícil. Mas você pode tentar as hotspings que são exatamente ao lado dessa cachoeira daqui!”, disse ele, apontando no mapa. Melhor ainda, as tais fontes de água quente são no meio da mata e não são exploradas. Não há prédios nem piscinas de ladrilho e nem McDonald’s! Puxa vida! Por essa, eu não esperava!
Caminho coberto por folhas na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Então, lá fomos nós. Primeiro, à Whitehorse Falls, uma cachoeira praticamente ao lado da estrada. Muito bonitinha e, melhor ainda, no meio de uma mata que filtrava a luz do sol por entre suas árvores e galhos, criando uma paisagem meio encantada. Muito legal!
Toketee Falls, a mais bela cachoeira na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Em seguida, a Watson Falls, com mais de 80 metros de altura, a quarta mais alta do Oregon. Essa requeria uma caminhada de vinte minutos por subindo entre a mata. O resultado muito mais do que compensava o esforço. Parecia que estávamos em uma das Chapadas, aí no Brasil. Como sempre, o que faz nos lembrar que não estamos é a temperatura da água. Beleza para ser vista e ouvida, mas não “sentida” na pele, hehehe.
A incrível beleza da floresta refletida em uma represa na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Seguimos então para a mais bela delas, a Toketee Falls. Tão ou mais bonita que a cachoeira é a trilha na mata para se chegar até lá. Nesse fim de Outono, as árvores estão cada vez mais amarelas e as folhas caem e fazem um verdadeiro tapete colorido no chão. Espetacular! Já a cachoeira, bem bonita mesmo e, diferentemente das outras, essa formava uma grande piscina embaixo da queda. Um convite para um mergulho! Mas aqui, nem é a temperatura da água que nos impede de nadar (e certamente impediria!), mas a própria trilha, que só chega até um mirante de observação, bem mais alto que a piscina lá embaixo, inacessível para nós.
A incrível beleza da floresta refletida em uma represa na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Enfim, chega de água fria, era chegada a hora da água quente! Mais um trecho de estrada em que passamos por outro lago maravilhoso que refletia as árvores verdes, amarelas e vermelhas da floresta e chegamos ao estacionamento das hotsprings, no fim de uma estrada de terra no meio da mata. Ali, uma placa avisava que quem se sentisse ofendido com o nudismo, que era melhor nem continuar, pois essa era uma prática comum por ali. Sendo hoje um domingo e com outros carros no estacionamento, já nos preparamos psicologicamente para o que veríamos, hehehe.
Aviso para quem pretende ir ás hot springs na Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Dez minutos e chegamos lá. Para nossa felicidade, as fontes eram realmente naturais. Pequenas piscinas numa encosta, ao lado de um rio de águas geladas, cenário bem pitoresco, principalmente para o padrão americano. Parecia que estávamos num país da América Central, tipo a Guatemala. Muito legal! Havia realmente muitos peladões por ali, mas conseguimos achar uma piscina só para nós. Foi super joia!
Banho em piscina natural de água quente em plena natureza da Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Passamos quase uma hora relaxando, mas já era hora de voltarmos em direção ao Lake Diamond e daí, seguir viagem ao Crater Lake. Não ter conseguido chegar lá ontem, tudo bem, mas falhar o segundo dia seguido, aí já era demais! Bem, não falhamos e, ao contrário, tivemos um dos finais de tarde mais belos desses 1000dias. Assunto para o próximo post...
Banho em piscina natural de água quente em plena natureza da Umpqua National Forest, no sul do Oregon, estado da costa oeste dos Estados Unidos
Um dos aspectos que precisamos lidar quando vamos viajar, principalmente em viagens internacionais, são os aspectos burocráticos. Vistos, por exemplo! Para a Ana, que é italiana, é tudo mais simples, mas para nós, meros brasileiros... Mesmo viajando no nosso próprio continente, devemos vencer várias complicações.
Precisamos de visto para o Canadá, EUA, México e ilhas e regiões francesas. Guiana Francesa, por exemplo. Um complicador no meu caso é que, normalmente, um dos pré-requisitos para a obtenção do visto são as passagens de avião, de ida e, principalmente, de volta. Para quem vai de carro, eles acham muito estranho e ficam sem saber o que informar. Outro ponto é que o visto tem uma validade limitada depois de emitido. Para quem vai chegar só daqui a 20 meses no país, a recomendação é que se obtenha o visto pouco antes de viajar. De novo, isso não me ajuda porque eu vou estar na estrada e não em São Paulo, onde se obtem esses vistos normalmente.
Bom, na prática, como estou lidando com isso? Para começar, por sorte, eu já tenho um visto americano, válido ainda por vários anos. Que bom! Obter um novo, desempregado, sem passagens de avião, sem imóveis no Brasil, não seria fácil. Segundo, já tendo o visto americano, obter o mexicano foi moleza. Afinal, o México só exige visto de brasileiro porque muitos compatriotas iam para lá para atravessar o Rio Grande a nado. Como eu já tenho o visto americano, eles não acham que seja esse o meu caso.
No caso do visto canadense, vou tentar agora em Maio. Terá de ser o visto de múltiplas entradas, válido por 3 anos, já que o visto de entrada simples, mais barato, só é válido por 6 meses. Já estou preparando a documentação para mostrar que eu não pretendo ir para lá para viver ilegalmente. Sem emprego, é sempre mais complicado. Em Maio dou notícias sobre isso.
Por fim, no caso das regiões francesas, me recomendaram que eu, a bordo da Fiona, na fronteira, negociasse com o oficial de plantão. É o que pretendo fazer. Quem sabe, passar no consulado no Amapá. Quanto às ilhas, disseram-me que não teria problemas, estando com as passagens de entrada e saída. Ao longo da viagem vou tentar me informar novamente.
Para a minha esposa italiana foi tudo mais fácil. Bastou 15 minutos na internet para conseguir o visto americano, único país que tem essa exigência.
Ainda no quesito burocracia, consegui minha carteira internacional no último dia (hoje!), para carros e motos. Eu e a Ana fizemos o curso de motos nessas últimas semanas. Foi uma corrida contra o tempo, com final feliz!
Agora, está faltando a documentação da Fiona para a fase internacional da viagem. Ainda temos tempo para isso. Basicamente, são cópias e cópias dos documentos originais, listas e listas dos aparelhos eletrônicos que estamos levando, um tal de carnet du passage e seguros de viagem. Aqui seguimos aquela máxima: "Não deixe para amanhã aquilo que pode deixar para depois de amanhã!".
Finalmente, estamos deixando o Brasil, hoje, quites com o Imposto de Renda. Já de olho na nossa restituição, sempre bem vinda. No meu caso, de olho também no meu seguro-desemprego.
E chega de burocracias...
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