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mabel (04/10)
Quanta emoção!!!!! Agora quando descer para Ubatuba pela Rod.Owaldo Cru...
Paulo Pereira (04/10)
Cruzes! O cenário até pode ser fantástico, mas o perigo de circular na...
Érico Alencar (04/10)
Sensacional! É esse o espírito mesmo e o planejamento é ir no final de...
mabel (03/10)
Lindo!!!!!!!!!!!! Que fotos!!!!!!! O relato foi tão perfeito que me sen...
suzana (03/10)
Olá!!! As fotos ficaram belíssimas . Parabéns!!! Mas bateu uma curio...
Placa trilíngue, em Provo, dá pista dos problemas sociais trazidos com a imigração haitiana. Nossa experiência com as pessoas do Haiti foram ótimas e estamos super ansiosos para visitar o país!
Vamos viajando e ficando mais descolados na comunicação em outras línguas. Tanto no espanhol como no inglês. A primeira, praticamos um tanto em Miami e agora aqui, em Turks e Caicos. Além da imigração haitiana, também há muitos dominicanos no país. Todos falam inglês, com mais ou menos sotaque. Mas, assim que reconhecemos um, mudamos para o espanhol e eles adoram. E assim, vamos praticando o nosso. Enfim, vamos ouvir e falar muito esse idioma nesta viagem. Vamos ver se, ao final, vamos ser craques em reconhecer os diferentes sotaques e, quem sabe, até imitá-los.
O inglês também melhorou muito, principalmente o entendimento. Só temos que nos acostumar, de vez em quando, com algum sotaque mais ardido. Mas, no geral, temos nos virado muito bem. A fluência nossa também melhora a olhos vistos (nesse caso, seria mais certo dizer "orelhas ouvidas"). É só deixarmos a vergonha e o perfeccionismo de lado.
A Ana, com um vocabulário menor que o meu, manda ver. É a vantagem de ser mais social e desavergonhada (no bom sentido!). No entendimento, muitas vezes ela é mais rápida do que eu também. Danada! Realmente, está bem interessante acompanhar o nosso desenvolvimento nas duas línguas. E continuará sendo!
Aqui em Provo, tivemos contato com outras duas línguas. Primeiro, o creoulle, uma espécie de francês bem distorcido, falado principalmente no Haiti. Por enquanto, o máximo que consigo entender são os números. Isso também vai ter de evoluir. A outra língua é o próprio francês. No táxi que nos trouxe de volta do porto hoje, havia três haitianos conversando em creoulle. A Ana ficou me testando, para ver o quanto eu entendia (afinal, sempre disse a ela que eu já falei francês e ela vive me testando, querendo me ouvir falar essa língua. Até hoje, sempre me esquivei) e, ao final da corrida, mais uma vez me chateou, dizendo que o tal do meu francês era estória da carochinha, só para impressioná-la nos tempos de namoro. Pois bem, não é que a funcionária que nos recebeu, também haitiana, ao descobrir que éramos brasileiros, resolveu mandar ver no francês (eles falam as duas línguas, creoulle e francês). Dessa vez, com a Ana ali do lado, olhos arregalados e atentos, resolvi enfrentar. E foi muito jóia, bem melhor do que a encomenda. Já deu para ver que, basta eu esquentar um pouco e tomar uma cervejinha e vou mandar muito bem! He he he, que moral que fiz com a amada esposa! Agora, depois dessa, fiquei bem curioso em chegar à Guiana Francesa.
Por fim, não sei se vocês já perceberam, mas não é só nós que estamos falando outras línguas. O site (os blogs) também! É só clicar nas bandeirinhas aí acima, inclusive para traduzir os comentários. Aqui, falamos até alemão e japonês!. É bem engraçado nos ler em outras línguas. Em geral, são boas traduções, mas às vezes há erros bizarros. Testem o post em que falo da barata na bota da Ana. Barata (o inseto) virou cheap. E como o google traduz primeiro para o inglês para depois traduzir para as outras línguas, todas as outras traduções carregam o mesmo erro. Só não consegui conferir isso na tradução japonesa, por motivos óbvios. Alguém aí consegue conferir isso para mim?
Início oficial da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Ainda no final da tarde de ontem, deixamos a Chapada dos Guimarães para trás, seguindo para o sul. Foram pouco mais de 60 quilômetros até a capital Cuiabá, a qual apenas cruzamos mais uma vez, e outros 120 quilômetros até Poconé, portal de acesso ao Pantanal Norte. Será apenas quando voltarmos do Pantanal, em dois dias, que vamos parar na capital, na nossa terceira passagem pela cidade, já na nossa rota para o Mato Grosso do Sul.
O roteiro da Transpantaneira, saindo de Poconé (A), ao sul de Cuiabá e chegando à Porto Jofre (B). A ideia original era que a estrada chegasse à Corumbá, no Mato Grosso do Sul
A pequena e pacata cidade de Poconé está no meu radar desde meados da década de 90, por causa do grupo mineiro Skank e seu hit “Samba Poconé”. Desde então, meu imaginário criou uma cidadezinha meio nordestina em pleno Pantanal, cheia de bares onde se dançava forró e onde a noite ia longe. Pura imaginação pois, como disse, a Poconé de verdade é bem pacata. Nós dormimos por aqui duas vezes, na ida e na volta e, na segunda noite, fiz questão de sair para uma cerveja, mas realmente, por mais que eu tivesse idealizado, essa não é uma Itaúnas pantaneira.
Portal de entrada de Poconé, no Mato Grosso
Igreja matriz de Poconé, no início da rodovia transpantaneira, no Mato Grosso
Não, a fama real de Poconé não vem de seu forró ou samba. Vem do fato dela ser o ponto inicial de uma das mais singulares rodovias brasileiras, a Transpantaneira. Essa estrada foi mais uma tentativa do governo militar nos anos 70, assim como a Transamazônica, de colonizar e levar o “progresso” aos mais isolados rincões do território brasileiro. A ideia original era atravessar todo o Pantanal, ligando Poconé à Corumbá, na época parte de um mesmo e único Mato Grosso. Mas a rodovia parou pela metade, nas margens do rio Cuiabá, no que viria a ser a fronteira do Mato Grosso e Mato grosso do Sul, assim que o estado foi desmembrado, alguns anos depois.
A Fiona passa sobre uma das mais de cem pontes da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
A Fiona passa sobre uma das mais de cem pontes da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Dizem que os construtores da estrada não esperavam tantas dificuldades, principalmente na época das cheias. São cerca de 140 km de estradas de terra e quase 120 pontes, quase todas de madeira. A construção parou exatamente na travessia do mais largo rio da jornada, o que requeria investimentos maiores. Que sorte para a flora e fauna desse lugar de características únicas no mundo, a maior planície alagável do planeta.
Fiona atravessa ponte na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
A Fiona se enche de pó ao cruzar a Transpantaneira, região de Poconé, no Mato Grosso
Sorte da natureza, sorte nossa também. A parte construída da estrada é nosso melhor acesso às belezas e segredos do Pantanal, dando-nos a chance de chegar mais perto dessa região sem depender de passeios caros e demorados. Na época da seca, justamente agora, é possível a qualquer carro percorrer essa estrada, desde que se tenha paciência por dirigir por longos trechos de estrada reta e poeirenta. A recompensa será a visão de diversas espécies de animais, entre aves e peixes, mamíferos e répteis, todos em seu ambiente natural, vivendo como viviam já há milhares de anos nessas mesmas planícies alagadas.
Pássaros bloqueiam a rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
A Ana filma revoada de pássaros na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Para nós, o ideal seria mesmo podermos seguir diretamente até Corumbá, sem ter de dar a longa volta rodeando o Pantanal. Fizemos várias pesquisas na internet para saber se isso era possível, mas quase não há informações. O rio Cuiabá pode ser cruzado de balsa, mas isso deve ser agendado com antecedência e não é muito barato. Depois, do lado de lá, há uma rede de pequenas estradas de fazendas e, acompanhados de um guia ou com muita raça, coragem, GPS e mantimentos, é possível seguir para o sul e, eventualmente, chegar à região de Corumbá. Tem de ser feito na época da seca, mas foi só quando chegamos aqui que conseguimos um pouco mais informações sobre esse incrível e desconhecido roteiro. Mas aí, nossa programação já era outra. Essa grande aventura, a chance de conhecer um Pantanal que poucos conhecem, vai ter de esperar...
Gaviões nos esptreitam na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Um tucano nos observa enquanto dirigimos pela Transpantaneira, região de Poconé, no Mato Grosso
Um lindo pássaro nos observa em Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Mato Grosso
Enfim, só a chance de percorrer a Transpantaneira ida e volta já foi um presente. Como disse acima, essa é uma das melhores maneiras de se ver o Pantanal de forma independente, para quem não tem um bom barco de pesca. Ao longo da estrada, são inúmeras as chances de ser ver pássaros como o famoso tuiuiú, os milhares de jacarés que disputam espaço nas praias e lagoas, as simpáticas capivaras e até animais como búfalos, veados, antas e as enormes emas. Para quem tem muita sorte, até onças são avistadas na estrada, embora esse seja um encontro mais raro. Mas, para quem gosta de pássaros, não é preciso nenhuma sorte: são dezenas de espécies e elas estão por todos os lados.
O belo cenário da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Fim de tarde na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Já a paisagem, ela é mais bela na época das cheias, quando a água ocupa boa parte da planície. Mas aí, a própria estrada pode ser interrompida e apenas veículos grandes e/ou tracionados que costumam percorrer esses quilômetros enlameados. Além disso, com tanta água por ali, fica mais difícil avistar a vida selvagem, que não precisa mais se acumular em poucos pontos de água, como é agora.
Grupo de turistas sai de barco para passeio em rio ao lado da Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Excursão de turistas na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
A maior parte do turismo no Pantanal é feito na sua porção sul, do lado do Mato Grosso do Sul. Os turistas viajam para as fazendas localizadas na região e de lá, em excursões, percorrem os rios de barco ou as planícies de cavalo. Não é um turismo barato e quase sempre tudo é feito através de pacotes, que inclui transporte, acomodação e pensão completa. Difícil escapar de grupos e do “esquema”. Uma alternativa são as excursões de pesca, para quem gosta dessa atividade. Os barcos entram no coração do pantanal e, para quem tem disposição de passar alguns dias navegando e comendo peixe, pode ser uma boa alternativa.
Um jacaré nada solitário em lagoa ao lado da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Um jacaré em meio a folhagens ao lado da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Mas, para quem quer depender das próprias rodas, a melhor opção é mesmo a Transpantaneira, do lado norte do Pantanal. Mas dormir ao longo da estrada também não é barato. Diárias acima de 400 reais em hotéis que nem são luxuosos são a norma, a única alternativa sendo ir e voltar no mesmo dia ou então, enfrentar uma noite em uma barraca. Aqui, pelo menos, é mais fácil escapar dos pacotes, e como estamos com nossas próprias rodas, é possível nos programarmos para apenas uma noite mais cara, ao invés de termos de comprar pacotes de três, quatro ou até sete dias. Pagando quinhentos reais por dia, uma semana vai sair mesmo bem caro...
Uma das muitas revoadas de pássaros na nossa passagem pela Transpantaneira, região de Poconé, no Mato Grosso
São dezenas de espécies de pássaros ao longo da Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Enfim, aqui no Pantanal norte, acho que uma noite é o mínimo que se deveria ficar. Afinal, além de percorrer toda a estrada, certamente o ponto alto da viagem é um passeio de barco, o que costuma tomar várias horas. A maioria dos hotéis está localizada na primeira metade da estrada e esses passeios são realizados em um rio que está a meio caminho entre Poconé e Porto Jofre, no rio Cuiabá. Portanto, boa parte dos turistas só vai até aí. Mas, sinceramente, as maiores belezas estão mesmo na parte final da estrada e o passeio de barco no próprio rio Cuiabá é muito mais promissor. Há uns poucos hotéis ao redor do quilômetro 100, onde nós ficamos, e um hotel bem caro bem no final da estrada, em Porto Jofre. Daí, saem passeios de barco que percorrem o rio e seus afluentes e é onde as chances de se ver onças são maiores, principalmente nessa época do ano. Na verdade, é o melhor lugar do mundo para se ver onças e nós, que estamos percorrendo a América atrás delas, depois de 3 anos sem conseguir, estávamos colocando todas as fichas nessa oportunidade.
Um lindo pássaro voa sobre a Fiona na Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Tuiuius atravessam calmamente a rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Por isso, toda a nossa programação girou em torno disso. Tínhamos de fazer esse passeio de barco, portanto tínhamos de passar uma noite por ali. A melhor opção eram os hotéis mais próximos de Porto Jofre e, para chegarmos até lá, o melhor é fazer a estrada bem cedinho, quando as possibilidades de avistamento de animais são bem maiores. Ou então, no final da tarde e início da noite. Com esses horários e ideias em mente, montamos a programação: uma noite em Poconé, saímos bem cedinho para fazer a estrada, vamos até Porto Jofre para conhecer toda a Transpantaneira e retornamos um pouco, até nosso hotel. No dia seguinte, vamos cedinho para Porto Jofre e fazemos nosso passeio de barco de dia inteiro. Por fim, no final da tarde, já escurecendo, percorremos toda a estrada de volta, para chegarmos de volta à Poconé e aos preços civilizados novamente!
Um grupo de emas no início da Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Tuiuius sãos comuns ao longo da Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
E assim foi. Logo cedo saímos de Poconé e, quanto mais nos afastamos da cidade e mais pontes atravessávamos, mais entrávamos no Pantanal, sensação de estarmos longe da civilização e em plena natureza. Logo de início, já vimos as gigantescas emas, os maiores pássaros das Américas e não demorou muito para começarmos a avistar os tuiuiús, os mais pesados pássaros do mundo a voar. Com sua grande mancha vermelha na altura do pescoço, são mesmo inconfundíveis, marca registrada do Pantanal, seja no Brasil, seja na Bolívia, onde já o tínhamos visto. É mesmo um pássaro enorme, principalmente quando está voando, com suas asas abertas. Ver um bicho desse tamanho, mas com destreza de levar pequenos ramos em sua boca para construir seus ninhos, trabalho sempre em equipe (casal!) foi mesmo emocionante!
Um tuiuiu constroi seu ninho ao lado da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Um casal de tuiuius descansa em seu ninho na Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
O lindo voo do tuiuii, na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Além dos tuiuiús, são cegonhas, tucanos, araras, periquitos, gaviões, martins-pescador e um sem número de espécies que fazem a alegria de ornitólogos e bird-watchers do mundo inteiro. Mesmo para leigos como nós, ver uma revoada de andorinhas é uma coisa, mas uma revoada de enormes cegonhas é outra!
São milhares de jacarés ao longo da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Capivara em meio a jacarés ao lado da Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Além dos pássaros, o que mais se vê são jacarés. Às centenas! Um verdadeiro congestionamento deles nas praias que se formam ao longo dos lagos ao lado da estrada. O interessante é que aqui no Pantanal, eles não estão no topo da cadeia alimentar. Eles são comida costumeira de onças, essas assim as rainhas do pedaço. Mesmo tuiuiús e capivaras não parecem temer esses répteis de cara feia, pois caminham entre eles tranquilamente. Por mais de uma vez, vimos capivaras descansando tranquilamente entre dezenas de jacarés. Acho que são tantos peixes no cardápio que eles nem olham para os mamíferos e aves.
Encontro com jacarés na Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Uma capivara nos observa na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Falando em mamíferos, eu esperava ver mais capivaras, mas nem foram tantas assim. Ficamos muito mal acostumados com os llanos, na Venezuela, onde tínhamos visto milhares delas. Aliás, também influenciados pelos llanos, estávamos esperando ver uma infinita planície alagada por aqui, mas talvez pela época do ano, achamos tudo bem seco, uma lagoa aqui e outra ali. Foi só chegando mais Perto de Porto Jofre que começou a aparecer aquela paisagem mais clássica do Pantanal, mas ainda longe daquelas imagens cinematográficas que passavam na antiga novela da Rede Manchete, que marcou época na TV.
Encontro com um veado ao lado da rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Encontro noturno com búfalos na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Mas, voltando aos mamíferos, além das capivaras, também observamos uns poucos veados, duas enormes antas, alguns porcos do mato e os poderosos búfalos. Esses, vimos de noite, já na nossa viagem de volta, horário em que costumam ocupar a estrada. Aí, é preciso negociar com a manada a passagem da Fiona, sensação de estarmos na África. Levam boa vida por aqui, perto dos terrenos alagadiços que tanto amam e longe dos leões, seus únicos inimigos naturais. Já as antas, essas não, são arredias e tratam logo de correr para se esconder. Afinal, sua inimiga natural, a onça, pode estar ali por perto.
Encontro com uma anta na Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Encontro com coruja na Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
Uma linda arara azul em nosso hotel na rodovia Transpantaneira, entre Poconé e Porto Jofre, no Mato Grosso
E assim foi nossa passagem por essa estrada, parte da nossa experiência pantaneira, cujo ponto alto seria mesmo o passeio de barco. A noite foi num hotel bem gostoso e simples, longe de tudo e de todos, céu estrelado e comida caseira. Bem cedinho, fomos acordados pelo canto estridente das araras azuis, que se reúnem àquela hora nas palmeiras do hotel. Não muito longe dali, a meio caminho do rio Cuiabá, foi onde encontramos a pesada e assustada anta e também uma enorme coruja, bem tranquila, no alto de sua árvore. Encontros bem especiais, mas que apenas antecipavam outro encontro ainda mais especial que nos aguardava ao longo dos barrancos do rio Cuiabá. Mas isso é outra história...
Chegando à Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Mato Grosso
Encontro com turistas espanhóis em Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Mato Grosso
Com a Olga e o Alexandre em Maragogi - AL
De volta à pousada, a gente se despediu da Olga e do Alexandre, esses dois valentes viajantes septuagenários que continuam a rodar o mundo em busca de aventuras e conhecimento. Esperamos chegar lá com a mesma saúde e disposição!
Piscina da pousada Mariluz em Maragogi - AL
Depois, uma horinha na piscina que ninguém é de ferro. Aí, com a roupa e a cara lavadas, partimos rumo ao sul. Roupa lavada? Sim, a pousada também é uma lavanderia, com ótimos preços. Fizemos a festa! Ainda antes de partimos, passamos no restaurante mais tradicional de Maragogi, o Frutos do Mar, para nos despedir do Betinho, filho do fundador. Ele tinha visto nosso carro na rua, entrou no site e adorou. Quando chegamos das Galés, ele nos recebeu na praia, nos tratando pelo nome! Foi jóia! Ele nos contou que foi seu pai que, no início da década de 90, começou a levar pessoas para as Galés, aqueles que almoçavam em seu restaurante. O negócio for crescendo, assim como o tamanho dos barcos e catamarãs. Hoje, virou a indústria que é, transformando Maragogi no principal ponto turístico do norte do estado. E o Frutos do Mar continua lá, para mostrar onde tudo começou.
Esperando a balsa em Porto de Pedras - AL
Finalmente, pé na estrada. O caminho litorâneo entre Maragogi e Maceió passa por várias pequenas vilas, sempre com aquele mar verde esmeralda ao lado. Não é uma estrada rápida, mas com lindas vistas. Um obstáculo é cruzarmos o rio em Porto de Pedras. A ponte ali já foi construída várias vezes (paga!), mas nunca saiu do papel. Uma minúscula balsa faz o trajeto, de quatro a seis carros por viagem. Tivemos que esperar um pouco, mas conseguimos.
A Fiona aguarda a balsa chegar, em Porto de Pedras - AL
A fome foi apertando, mas onseguimos chegar até a Barra do Camaragibe, outra vilazinha. Ali comemos de frente à praia, bem no finalzinho da tarde. Barriga cheia, seguimos até Maceió, no hotel Íbis, onde conseguimos reservar duas noites. A noite do natal já estava lotada! Para garantir, a Ana reervou a nossa noite natalina na histórica cidade de Penedo. Assm, na rua não ficamos!
Encontro do rio com o mar em Porto de Pedras - AL
Foi uma pena termos passado tão rapidamente por esse litoral de águas tão verdes. Há pousadas caras no caminho e, para que tiver a chance e o bolso, certamente é uma boa pedida: uma infinidade de coqueiros, sol quase o ano inteiro, praias sossegadas, mar verde esmeralda com águas mornas. Dá para reclamar?
Pôr-do-sol na Barra do Camaragibe - AL
Estação de trens de Passa Quatro - MG
Depois de três dias de trekking subindo e descendo montanhas, dores musculares e bolhas nos pés (pobre Ana!), decidimos por um período de descanso e recuperação.
Jantar na Esfirraria de Passa Quatro - MG com o Cesar, Suzana, filho e namorada e com o Waldir
Ontem, com o conforto da internet no quarto, passamos várias horas trabalhando, catalogando fotografias e postando notícias. Na hora do jantar, fomos com o César e a Suzana (os donos da pousada e que viraram nossos amigos), seu filho e namorada e com o Waldir (um fotógrafo carioca apaixonado por Minas) jantar numa esfirraria super charmosa, na área rural da cidade, do Seu Francisco. Um espetáculo de esfirra e de ambiente. Mais uma vez a cidade me surpreendeu. Tão pequena e tão cheia de opções. Eu e a Ana ficamos fãs de Passa Quatro.
Maria-Fumaça na estação de Passa Quatro - MG
Hoje, sábado cedo, antes de partir ainda aproveitamos para ver outro dos atrativos daqui: uma Maria-fumaça que opera uma linha turística duas vezes por semana. Fomos à estação vê-la partir, da mesma maneira que fazia a 150 anos. História viva. Muito legal mesmo! Que pena que há tão poucos trens no Brasil. Aproveitei para me ilustrar um pouco sobre a história da cidade, nos painéis da estação. Teve papel fundamental na luta entre mineiros e paulistas, na revolução constitucionalista de 32. Quem esteve medicando por aqui naquela época foi um tal de Juscelino Kubitscheck.
Maria-Fumaça na estação de Passa Quatro - MG
Bom, a Maria-Fumaça partiu e nós também, rumo à Campos do Jordão. Ao invés de irmos pela Dutra, seguimos por dentro, por estradas de terra cortando a Serra da Mantiqueira. Um bela viagem, bem campestre.
Muvuca em Campos do Jordão - SP
Em Campos, sábado de inverno, tivemos sorte de encontrar vaga numa pousada, a Pousada dos Sinos. A cidade está fervendo, mesmo com temperaturas abaixo de zero. Para os paulistanos, o xodó do inverno e centro de badalação e paquera. Para nós, um contraste com a tranquilidade dos lugares que temos passado. Não é fácil de reacostumar com a vida urbana e em sociedade.
Na muvuca em Campos do Jordão - SP
Demos uma passeada no centro de Capivari (bairro central de Campos), assistimos a derrota de USA na Copa num bar e, de noite, nos refestelamos num fondue de queijo. A temperatura caiu abaixo de zero mesmo! Brrrrrrr... Imagina lá no alto da Pedra da Mina?!?
Por falar na Pedra da Mina, amanhã vamos à Pedra do Baú, fechar nossa temporada de Mantiqueira e matar saudade dos tempos de infância e adolescência.
Dois Southern Royal Albatrosses nos céus de Prion Island, na Geórgia do Sul
Todos sabemos que a maior ave da Terra nos dias de hoje é o avestruz africano. Com seus 2,5 metros de altura e quase 200 kg, ele é imbatível no reino das aves. Mas não foi sempre assim. Até pouco mais de 300 anos atrás, o título pertencia a outro pássaro, acertadamente chamado de “ave elefante”. Natural de Madagascar, media mais de 3 metros e chegava aos 500 quilos! Infelizmente, foi extinto pelo homem, tanto através da caça como por doenças importadas para a ilha em galinhas e outras aves domesticadas.
Um filhote de southern royal albatross na grama alta de Prion Island, na Geórgia do Sul
Um filhote de Southern Royal Albatross dscansa na grama alta de Prion Island, na Geórgia do Sul
Entre as aves que ainda existem, depois do conhecido avestruz, temos os menos populares casuares e emus australianos e as emas que se espalham pela América do Sul. Mas todas essas aves, além do grande tamanho e peso, tem outra coisa em comum: elas não voam! De tão pesadas, as asas perderam essa função que, pelo menos para nós, leigos, é fundamental em um pássaro: a arte de voar.
Vários albatrozes descansam na grama alta de Prion Island, na Geórgia do Sul
Pois bem, entre as que voam, pode-se medi-las pelo peso, altura ou envergadura de asas. A mais pesada ave a voar é provavelmente o nosso tuiuiú, tão comum no Pantanal. Entre as mais altas, algumas espécies de flamingos. E entre as de maior envergadura, condores, cisnes, águias e, em primeiro lugar, albatrozes. Enquanto seu rivais mais próximos podem chegar aos 3 metros de envergadura, ao maiores albatrozes chegam a incríveis 4 metros de ponta a ponta das asas.
Giant petrels voam nos céus de Prion Island, na Geórgia do Sul
O nome “albatroz” se refere a uma família de pássaros e não apenas a uma espécie. Na verdade, a família se divide em quatro gêneros e esses se dividem entre 15 e 22 espécies, já que os cientistas ainda não estão certos se algumas espécies realmente deveriam ser classificadas como tal ou apenas como sub-espécies que ainda podem produzir descendentes férteis entre si. Todos esses gêneros e espécies vivem nas regiões frias do planeta, a maioria em torno da Antártida, mas algumas também na região norte do Pacífico.
Albatrozes sobrevoam o mar em frente de Prion Island, na Geórgia do Sul
Essa preferência por clima frio tem uma explicação muito clara. É aí que venta sempre e os albatrozes usam suas enormes asas muito mais para planar do que para batê-las no ar como forma de propulsão. Na verdade, eles só fazem isso para alçar voo ou para pousar, na água ou na terra. Sua perfeição em voar está em como ler, entender e se utilizar do vento para se locomover.
Um albatroz descansa entre um terino e outro para aprender a voar, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Um Southern Royal Albatross aproveita o vento para praticar aulas de voo, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Esses fantásticos planadores naturais podem voar mais de 1.000 km em um só dia sem bater as asas nem uma única vez. Eles parecem já saber onde está o vento e, quando vão do sul para o norte, voam no sentido anti-horário, o mesmo do vento, o mesmo quando voam do norte para o sul, agora no sentido horário. Não só sabem do bento, mas sabem exatamente onde estão, pois dividiram o oceanos em “lotes”, uma para cada espécie, e não invadem o “lote” vizinho. Uma das espécies, a maior de todas, o “Wandering Albatross” (albatroz vagante, em português), sabe até a profundidade do mar abaixo, pois só se alimenta em lugares com profundidade maior que 1.000 metros.
Um Wandering Albatross nos céus de Prion Island, na Geórgia do Sul
A maior ave alada do mundo, um Wandering Albatross nos céus de Prion Island, na Geórgia do Sul
Todo o esforço que fazem ao planar é curvar-se para um lado ou outro, quando querem mudar de direção, ou para frente e para trás, quando querem acelerar ou frear. Nós vimos essa técnica perfeita com nossos próprios olhos, enquanto vários deles voavam ao lado do Sea Spirit em alto mar. Nem uma batida de asas, por minutos e minutos a fio. Quase sempre, eram os albatrozes de sobrancelha, uma das espécies mais comuns da família.
Um Wandering Albatroz, a ave alada com a maior envergadura de asas do mundo, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Um Southern Royal Albatross parece ser do tamanho do Sea Spirit, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Hoje, aqui em Prion Island, era a nossa chance de ver de perto as duas maiores espécies de albatrozes, o Wandering Albatross, que chega a ultrapassar os 4 metros de envergadura, e o Southern Royal Albatross (albatroz real meridional), apenas um pouco menor. Eles são conhecidos por fazerem seus ninhos de apenas um ovo nessa ilha, em meio a grama alta, e uma passarela foi construída para nos dar acesso e visão a esses ninhos.
Um Southern Royal Albatross aprende a voar em Prion Island, na Geórgia do Sul
Um wandering Albatross pousa em Prion Island, na Geórgia do Sul
Não demorou muito para encontrarmos os primeiros, das duas espécies. Eles vivem como bons vizinho e, nessa época do ano os filhotes, já enormes estão aprendendo a voar. Foram chocados ano passado e já não veem a hora de partir para alto mar, onde o instinto os chama.
Um Wandering Albatross tenta aperfeiçoar sua técnica de voo em Prion Island, na Geórgia do Sul (foto de JP Salakari)
Um Southern Royal Albatross pratica a técnica de voo em Prion Island, na Geórgia do Sul
No céu, os pais voam tranquilamente, ensinando os filhos como se deve fazer. Alguns deles já arriscam seus voos e treinam também suas aterrisagens meio desengonçadas. Tem de aperfeiçoar isso, assim como a alçada de voo, pois em breve estarão em alto mar onde não mais estarão os pais para ensinar. É o momento de maior gasto de energia, já que quando estão plainando tranquilamente, o batimento cardíaco cai ao mesmo nível de quando dormem. Alguns estudiosos chegam a pensar que eles realmente tirem alguns cochilos voando, embora isso ainda não tenha sido provado.
Um filhote de Southern Royal Albatroz abre suas enormes asas aproveitando a corrente de vento enquanto aprende a voar, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Um filhote de Southern Royal Albatroz abre suas enormes asas aproveitando a corrente de vento enquanto aprende a voar, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Enfim, ali de camarote assistimos dois ou três albatrozes tentando alçar voo. Eles se aproveitam da corrente de ar, abrem suas asas e começam a flutuar sem sair do lugar. Levantam uns poucos metros e voltam aos mesmo lugar. Que visão maravilhosa! Ou então, apenas abrem as longas asas aprendendo a sentir o vento. Depois, passam um tempo descansando, asas fechadas novamente.
Um filhote de Southern Royal Albatroz abre suas enormes asas aproveitando a corrente de vento enquanto aprende a voar, em Prion Island, na Geórgia do Sul
Uma "esquadrilha" de albatrozes nos céus de Prion Island, na Geórgia do Sul
Dá até para perceber emoções humanas nesses belos pássaros: timidez, vergonha, orgulho, medo, sentem tudo isso enquanto dão seus primeiros passos rumo à liberdade do voo. Ficávamos ali torcendo para eles se encherem de coragem e voarem. Alguns sim, outros apenas tentavam e voltavam ao descanso. Foram 30 minutos tensos, aflitivos, de torcida. Uma verdadeira benção de estar aqui na hora certa e poder assistir esse espetáculo.
A lua parece um farol nessa foto de longa exposição no mar ao redor de Prion Island, na Geórgia do Sul
A noite cai sobre a grandiosa paisagem ao reor de Prion Island, na Geórgia do Sul
Até que a tarde foi caindo e era hora de voltar ao Sea Spirit. Nosso simpático ornitólogo, o Jim, tinha até lágrimas nos olhos de ter tido a chance de ver esses momentos. Todos muito felizes, com as fotos e lembranças guardadas para sempre. Não é todo dia que se vê a maior ave alada do mundo aprender a voar! A noite merecia até uma comemoração. Não só pelos albatrozes, mas também pelos pinguins, pelos lobos e elefantes-marinho. O dia de hoje foi simplesmente espetacular, o melhor e mais intenso até hoje dessa viagem pelos mares do sul. A lua iluminava as montanhas nevadas a frente e ficamos ali, no convés, a ver aquele céu maravilhoso. Até arriscamos algumas fotos, mas a longa exposição necessária para captar boas imagens não combina muito com o eterno balanço do navio. Mas o que nos importava não era a qualidade da foto, mas o registro da nossa alegria. E isso foi feito!
Prion Island, na Geórgia do Sul (foto de Jeff Orlowski)
Nossa praia "particular" em um dos cayos de Los Roques, no litoral venezuelano
Como disse no post anterior, Los Roques é um arquipélago com mais de 300 pequenas ilhas. A principal delas, onde está a única vila do arquipélago, é Gran Roque. Aí estão as pousadas, os restaurantes, as lojas, a igreja, o aeroporto, enfim, a civilização. Mas aquilo que todos viemos atrás, as praias paradisíacas que aparecem nos pôsteres das agências de viagem, essas estão nas outras 299 ilhas, e não em Gran Roque.
Viajando de um cayo a outro, no arquipélago de Los Roques, no litoral venezuelano
Viajando de um cayo a outro, no arquipélago de Los Roques, no litoral venezuelano
Para chegar até elas, é necessário pegar um barco. Pode ser o seu iate ou um dos inúmeros “táxis”, pequenas voadeiras que são o ganha-pão de muitos moradores do arquipélago. Para as ilhas mais próximas de Gran Roque, sempre haverá outros turistas dispostos a rachar o preço do barco para te levar até lá. Para aquelas mais distantes, especialmente fora de temporada, talvez você tenha de arcar com todos os custos do barco.
Lanchas são o principal meio de transporte entre os cayos de Los Roques, no litoral venezuelano
Coqueiros, mar azul, areias brancas, muita tranquilidade. Isso é Los Roques, no litoral venezuelano
Em compensação, quando você chegar na tal ilha ou praia isolada, ela será apenas sua. E são praias absolutamente maravilhosas, dessas de tirar o fôlego, dessas que nossos olhos não querem acreditar. O piloto do barco nos leva até lá, arma um guarda-sol para nós, descarrega o isopor com a água, cerveja e comida do dia e combina um horário para nos buscar. Ele se vai e ficamos sós no paraíso. Parece que estamos sonhando...
Caminhando em praia em um dos pequenos cayos de Los Roques, no litoral venezuelano
Caminhando em praia em um dos pequenos cayos de Los Roques, no litoral venezuelano
Nesses dias em Los Roques, depois de resolvermos a questão do dinheiro (ver post anterior), fizemos vários passeios às ilhas vizinhas, tanto às próximas como às mais isoladas. Fomos às praias cheias (uma multidão de 15-20 pessoas) e fomos às praias vazias (eu e a Ana). Fomos às praias de areia e fomos às praias de concha. Fomos em uma lancha só para nós, fomos em lanchas divididas e fomos também no barco de mergulho.
Um pouco de sombra e uma das inúmeras praias de Los Roques, no litoral venezuelano
Uma das praias paradisíacas de Los Roques, no litoral venezuelano
Pois é, como não poderia deixar de ser, o mergulho em Los Roques é espetacular, com corais em excelentes condições, vida marinha colorida e água cristalina. Além de curtir o visual abaixo d’água, aproveitamos também o caminho para nos embasbacar com o visual acima d’água.
Estação de pesquisa de tartarugas, em um dos cayos do arquipélago de Los Roques, no litoral venezuelano
Pesquisador nos mostra tartaruga na estação de pesquisas em Los Roques, no litoral venezuelano
Outro programa popular é visitar a estação de estudo e proteção das tartarugas marinhas, uma espécie de projeto TAMAR daqui. Se eu fosse tartaruga, esse seria um dos meus lugares prediletos, sem dúvida!
Uma das praias paradisíacas de Los Roques, no litoral venezuelano
A incrível praia com duas orlas, em um dos cayos de Los Roques, no litoral venezuelano
Mas o principal, são mesmo as praias. E entre elas, se destaca Cayo de Água, uma pequena ilha onde não temos uma, mas duas praias só para nós. Uma estreita e longa faixa de areia divide o mar em dois, duas praias na mesma praia, cada uma com aquela cor de água indescritível. Com certeza, é uma das lembranças mais fortes que temos desses dias incríveis no arquipélago.
A incrível praia com duas orlas, em um dos cayos de Los Roques, no litoral venezuelano
Paisagem de cinema em Los Roques, no litoral venezuelano
Los Roques foi nossa primeira investida ao Caribe e, vocês sabem, o “primeiro Caribe”, a gente nunca esquece. Fico imaginando como teria sido se só tivéssemos ido lá depois dos 1000dias, após termos conhecido todos os países da região. Será que o impacto seria o mesmo? Tenho certeza que não. Mas estou certo também que, depois de conhecer tantas ilhas nessa região, das Bermudas às Antilhas, das Bahamas à Cayman, das pequenas às grandes, das francesas e espanholas às inglesas e americanas, das civilizadas às selvagens, depois de conhecer todas elas, posso afirmar que a beleza de Los Roques é mesmo especial. Por um golpe de sorte, nós iniciamos nossas viagens pelo Caribe com o pé direito. Los Roques será sempre especial para nós.
Quem não estaria feliz em um lugar como esse? (Los Roques, arquipélago no litoral venezuelano)
Finalmente, aos pés da maior cachoeira do mundo, o Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Há milhares de anos os nativos da região de Canaima, no sul da Venezuela, conhecem a montanha chamada Auyán Tepui. A palavra “tepui” quer dizer, na língua pemon, “Casa dos Deuses” e hoje, na geologia, é o nome dado a todas as montanhas em forma de mesa, com o topo plano e paredes abruptas. Elas são muito comuns no sul da Venezuela, mas as montanhas da Chapada Diamantina, por exemplo, também poderiam ser chamadas de “tepuis”.
Início da jornada de barco para o Salto Angel, região de Canaima, no sul da Venezueka
Trilha para ultrapassar as corredeiras do rio Caroni, a caminho do Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Mas o nome “Auyán Tepui” muda o significado da palavra “tepui” e a expressão passa a significar “Casa do Diabo”. Era como os nativos pemons viam esse enorme tepui, um dos maiores que se conhece: um lugar amaldiçoado. Por isso, evitavam se aproximar dele e, muito provavelmente, nunca estiveram no seu topo. Mas isso não os impedia de conhecer as centenas de cachoeiras que desciam lá de cima, incluindo a maior delas, chamada de Kerepakupai Vená, ou “salto do lugar mais profundo”.
A caminho do Salto Angel, o magnífico visual dos tepuis, na região de Canaima, no sul da Venezueka
A maravilhosa paisagem no caminho para o Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Esse foi o nome da mais alta cachoeira do mundo até que, no dia 9 de Outubro de 1937, o aviador americano Jimmy Angel resolveu pousar no topo do Auyán Tepui. Ele já havia sobrevoado a região quatro anos antes, seguindo os mapas de um explorador venezuelano e em busca de um rico veio de minério. Não achou o que procurava, mas viu aquela gigantesca cachoeira da qual nunca mais se esqueceu. Agora, acompanhado de sua esposa e mais duas pessoas, estava determinado a dar uma olhada mais de perto e, por isso, resolveu pousar seu pequeno avião no topo do tepui. Lá de cima, parecia um pouso seguro.
Começam a aparecer as primeiras cachoeiras nos tepuis a caminho do Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
A maravilhosa paisagem no caminho para o Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Mas não era. O hábil aviador conseguiu pousar sua aeronave com segurança, mas ela acabou atolando no barro e dali não mais sairia. Agora, ele e os outros três passageiros eram as primeiras pessoas a estar no alto desse tepui e tinham de arrumar alguma maneira de sair de lá. Foram onze dias, vários deles tentando encontrar um caminho de descida, até chegarem à uma aldeia indígena nas redondezas. Comida racionada, muita selva e mosquitos, chuva, mas eles chegaram vivos à civilização. Foi o relato dessa aventura e da enorme queda d´água que fizeram o mundo voltar seus olhos para essa maravilha da natureza. E a Kerepakupai Vená ganhou um novo nome: Angel Falls, ou Salto Angel, homenagem ao intrépido aviador americano.
No barco, a caminho do Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
A primeira visão da Angel Falls, em Canaima, no sul da Venezueka
Depois dessa aventura, os exploradores não pararam mais de chegar. Um deles, da distante Letônia, Aleksandrs Laime, foi o primeiro a atingir a base da cachoeira, em 1946, e o topo dela, em 1955, quando também encontrou o avião de Jimmy Angel. Antes disso, em 1949, uma expedição mediu com precisão a altura da queda d’água: incríveis 979 metros (quase um quilômetro!!!), sendo pouco mais de 800 em queda livre, sem obstáculos ou pedras no caminho. Esse enorme paredão logo se converteu em um dos maiores desafios do alpinismo e, após várias tentativas, ele foi conquistado em 1971. Mesmo hoje, ainda se contam nos dedos as expedições que conseguiram escalar com sucesso esse paredão.
Chegando ao Salto Angel, no Pàrque Nacional Canaima, no sul da Venezueka
Salto Angel, a maior cachoeira do mundo, em Canaima, no sul da Venezueka
Um ano antes da conquista do paredão, em 1970, o avião pioneiro de Jimmy Angel foi retirado do tepui por helicópteros venezuelanos. O avião foi remontado e hoje está em exposição no aeroporto de Ciudad Bolívar, para quem quiser render-lhe homenagens. E é por esse aeroporto que passam quase todos os milhares de turistas que vêm ao país para conhecer a maior cachoeira do mundo, já que o acesso ao Parque Nacional Canaima, onde está o Auyán Tepui e o Salto Angel, é apenas aéreo.
Desembarcando, para fazer a trilha até o mirante do Salto Angel, região de Canaima, no sul da Venezueka
Já bem próximos do Salto Angel, no Parque Nacional Canaima, no sul da Venezueka
Aí passamos eu e a Ana, em 2007, também com o objetivo de ver a famosa cachoeira. Voamos para Canaima e pegamos o barco para ver o salto. No caminho de ida, lá estava ela, imponente e maravilhosa. Deixamos para fazer a trilha até o mirante na manhã seguinte, mas uma chuva torrencial durante toda a noite estragou nossos planos. A cachoeira estava tão forte no dia seguinte que só podíamos ver uma enorme nuvem de vapor e neblina no seu lugar. Tivemos de nos contentar com a visão longínqua da tarde anterior...
A maravilhosa paisagem no caminho para o Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Atravessando o rio rumo ao mirante do Salto Angel, no Parque Nacional Canaima, no sul da Venezueka
Bom, aqui estamos novamente para mudar essa história! Chegamos novamente à Canaima ontem pela manhã e hoje, saímos com nosso grupo de canoa motorizada em tempo de chegar até a Isla Ratón e, de lá, fazer a trilha até o mirante do Salto Angel, ainda hoje. Nada mais de arriscar uma noite de chuvas!
Impressionado com a imponência do Salto Angel, a mais alta cachoeira do mundo, em Canaima, no sul da Venezueka
E assim foi, nós, o pessoal do Bodeswell e mais dois turistas, todos na canoa, enfrentando as quase cinco horas rio acima. Esse tempo inclui também uma caminhada de 40 minutos em um trecho em que as corredeiras do rio nos obrigam a caminhar por terra firme. Depois, todo mundo de volta ao barco para as horas restantes. É aí que começamos a nos aproximar do maravilhoso Ayuán Tepui, que de amaldiçoado, não tem nada! Muito pelo contrário, só pode ser abençoado, lindo que é com suas enormes paredes e centenas de cachoeiras escorrendo lá de cima, principalmente depois de uma chuva.
Impressionado com a imponência do Salto Angel, a mais alta cachoeira do mundo, em Canaima, no sul da Venezueka
Pois é, choveu mesmo durante nossa viagem, todo mundo encolhido na canoa, mas sem ter para onde fugir. Só podíamos aguentar firmes. A recompensa pelo esforço veio com o céu azul aparecendo no horizonte e aquela paisagem deslumbrante à nossa frente. Uma grandiosidade difícil de expressar em palavras.
Finalmente, aos pés da maior cachoeira do mundo, o Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Finalmente, após mais uma curva de rio após as milhares que tínhamos feito, apareceu a cachoeira gigante. Mesmo depois ter visto tantas outras com mais de 100 metros ao longo do caminho, ver uma de quase 1.000 metros faz cair o queixo de todos. Um monstro! Que maravilha!
1000dias e o Salto Angel, a maior cachoeira do mundo, em Canaima, no sul da Venezueka
O barco nos levou diretamente ao início da trilha, do outro lado do rio onde está a Isla Ratón, que é onde ficam os refúgios para passarmos a noite. Agora, eram cerca de 40 minutos de caminhada pela mata, a mesma trilha aberta pelo explorador da Letônia há quase 70 anos, até o bendito mirante onde havíamos estado 6 anos atrás. No começo andei com o grupo, mas a ansiedade foi me vencendo e tratei de acelerar o passo.
O jason, a Angela e o Bode, no mirante do Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Em 2007, na metade dessa trilha, começou a chover. Pelo menos, achávamos que era chuva, mas o guia já sabia que não. Era apenas a água da cachoeira trazida pelo vento. A tal “chuva” só foi aumentando e, quando chegamos ao mirante, o vento que vinha da cachoeira era tão forte que mal conseguíamos ficar de pé. Além disso, tudo o que se via era um manto branco. Hoje, ao contrário, nada de “chuva” no caminho, apenas o barulho que aumentava, aumentando também a ansiedade.
A pequena cachoeira aos pés do Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Por fim, cheguei! Com seis anos de atraso, lá estava a magnífica cachoeira, um quilômetro de parede e queda d’água bem na minha frente. Tive alguns minutos de solidão contemplativa até que os outros começassem a chegar e, sem exceção, reverenciassem a mãe de todas as cachoeiras. Que visão!
Cachoeira que fica abaixo do Salto Angel, a maior queda d'água do mundo, em Canaima, no sul da Venezuela
O mirante ainda fica a uma boa distância da parede, já que mais de perto, nem conseguiríamos ver toda a paisagem. Dali, uma pequena trilha desce até o rio, para uma pequena cachoeira de uns vinte metros que fica um pouco abaixo da Angel Falls. Em dias calmos e com pouca água, pode-se até nadar na piscina natural ao pé dessa pequena cachoeira. Eu fui até lá, pelo menos para me aproximar um pouco mais do gigante. Não dava para nadar de jeito nenhum, mas pelo menos molhar o rosto nessa água sagrada, isso sim!
Na trilha para o Salto Angel, cogumelos com cara de mixirica, em Canaima, no sul da Venezueka
1000dias e Bodeswell, encontro de expedições no Salto Angel, Parque Nacional Canaima, no sul da Venezueka
Desse ponto, disse-me o guia, um rústico caminho leva até a parede, quase uma hora de caminhada sobre pedras escorregadias. Em dias como o de hoje, com tudo molhado, ninguém vai. De qualquer maneira, a visão mais impressionante é mesmo do mirante, onde todos chegamos.
Jantando no refúgio em frente ao Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Nossa cama no refúgio em frente ao Salto Angel, em Canaima, no sul da Venezueka
Chegou a triste hora de partirmos, mas já estávamos felizes o suficiente por pegarmos o tempo aberto. Então, trilha para baixo, a canoa nos cruza para a outra margem, todos achamos uma rede no refúgio e nos aboletamos. Antes de dormir, um jantar a luz de velas e lanternas e todos de volta para a rede, sono embalado com o barulho da Angel Falls a dois quilômetros de distância. Que privilégio ter tido um dia como esse. Ahn, antes que eu me esqueça, choveu muito esta noite!
1000dias chega ao Salto Angel, a maior cachoeira do mundo, em Canaima, no sul da Venezueka
Parque do Peruaçu, próximo à Januária - MG
Ontem de noite, aqui no hotel, telefonamos para um guia da região que tinha um folder seu na recepção. O nome dele é Rosivaldo. Queríamos saber com ele sobre a possibilidade de entrar no parque e, se isso não fosse possível, quais os programas alternativos. Se eles não fossem muito interessantes, nossa idéia era partir logo para a região de Diamantina.
A conversa foi ótima. Em primeiro lugar, ele nos mostrou que, mesmo não entrando no parque, valeria a pena passar um dia por aqui. Sobre o parque, confirmou que ele está fechado para a visitação e que exceções não são muito comuns. Mas, ao saber do nosso projeto, achou que deveríamos tentar falar com o diretor do parque por aqui, para apresentar o projeto e pedir uma licença especial para entrar no parque.
E foi isso o que fizemos. A Ana fez um resumo da apresentação que já tínhamos pronta e logo cedo encontramos o Rosivaldo aqui no hotel e seguimos os cerca de 40 km de estrada até o distrito de Fabião, onde se encontra a sede do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Tivemos a sorte de encontrar o Evandro, diretor do parque, que acabara de chegar de viagem e já partiria novamente no dia seguinte. Ele nos recebeu muito bem e gostou muito do nosso projeto. Após uma pequena explanação sobre a natureza do parque e suas características, ele liberou nossa visita às atrações principais do parque para amanhã e sugeriu um percurso para fazermos hoje, através do parque e da região em torno dele.
Para mim, foi perfeito! Há cerca de 15 anos atrás eu tinha estado aqui mas só conseguira autorização para visitar uma parte do parque. O principal cartão postal do Peruaçu eu não tinha conseguido ver. Finalmente, depois de tanto tempo, vou conhecer a famosa caverna do Janelão!
Melhor ainda, pudemos ver na prática que o nosso projeto de viagem realmente está bem montado e é bem interessante. Nada como ter uma esposa publicitária. Quem sabe agora ela se anima a procurar patrocinadores?
Ana participa de banda de jazz em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Sempre achei que algumas poucas cidades dos Estados Unidos eram especiais, diferentes das outras. Entre elas, San Francisco, Nova Iorque e New Orleans. As duas primeiras eu já conhecia e realmente são incríveis. Mas New Orleans e sua famosa Bourbon Street, cidade de origem francesa onde se respira o jazz, essa eu só conhecia pela fama. Desde o início da nossa viagem dos 1000dias, estava no topo da lista de cidades que queríamos passar aqui no Tio Sam. Finalmente, chegou a hora e esses dois dias por aqui apenas confirmaram as nossas expectativas. New Orleans é especial!
Despedida do Andrew, em frente à sua casa em Tuscaloosa, no Alabama - Estados Unidos
Chegando à Louisiana, no sul dos Estados Unidos
A gente saiu ontem pela manhã de Tuscaloosa, depois de nos despedirmos do Andrew e Jen e nos prometer que o próximo encontro não demorará outros 13 anos. Cruzamos o Alabama, passamos outra vez pelo Mississipi e chegamos à Louisiana, estado à beira do Golfo do México. Não demorou muito e já estávamos cruzando a longa ponte sobre o lago Ponchartrain que nos leva até New Orleans, na boca do rio Mississipi.
A longa ponte para chegar à New Orleans (que já aparece ao fundo!), na Louisiana - Estados Unidos
O Superdome, qie ficou famoso na época do Katrina (em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos)
Passamos pelo Super Dome, enorme ginásio coberto que ficou famoso na época do Katrina e fomos para o Garden District, onde estão as melhores opções de hospedagem na cidade, charmosas casas transformadas em hotéis e pousadas. Não demorou muito para descobrirmos que chegar à New Orleans às vésperas de um final de semana sem reserva não é uma boa. Em todos os hotéis que averiguamos até havia lugar para a noite de ontem, mas para a de hoje, estavam lotados. Finalmente, depois de uma hora de procura, achamos um hostal meio escondido, numa rua lateral. Ótima opção, preço razoável, localização excelente.
Casa típica do Garden District, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Afinal, além da vizinhança charmosa do Garden District, com suas casas centenárias, estávamos a um quarteirão da linha de bonde, o mais que simpático transporte para o French Quarter, o centro da cidade. Uns 10 minutos de bonde, ou trinta minutos de caminhada. É lógico que preferimos o bonde e assim foi nesses dois dias, bonde na ida e táxi na volta, já de madrugada.
Pegando o bonde em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
O simpático bonde de New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
New Orleans tem origem francesa, os primeiros colonizadores de toda a região ao longo do Mississipi. A cidade era a mais importante em todo o curso do rio, pois controlava sua foz e portanto, o acesso à navegação do Mississipi. Em 1760, com a derrota na Guerra dos 7 Anos, a França cedeu todas as suas colônias na América do Norte, a parte ao leste do Mississipi para a Inglaterra e ao oeste para a Espanha. New Orleans passou a ter um governador espanhol.
Homenagem aos grandes nomes do jazz em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Quarenta anos mais tarde, o cenário tinha mudado. Os Estados Unidos tinham conseguido sua independência e controlavam todo o território ao leste do Mississipi. O rio já era uma importante artéria de comércio, toda a produção ao oeste dos Apalaches fluindo por suas águas. Para o novo país, era essencial manter o acesso livre no rio. Enquanto isso, na Europa, a França vivia sob Napoleão, mais forte do que nunca, mas sempre às turras com a Inglaterra. Os franceses tinham acabado de perder sua mais rica colônia no Caribe, o Haiti, depois de uma violenta rebelião dos escravos (o Haiti foi o segundo país das Américas a conseguir sua independência, logo depois dos EUA). Napoleão tinha grandes planos para o Novo Mundo e isso incluía o Haiti e a Louisiana, região onde está New Orleans, então sob controle espanhol.
St Louis Cathedral, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Sob forte pressão francesa, os espanhóis acabaram cedendo toda a região novamente, num tratado secreto. Ao mesmo tempo, Napoleão mandou seus soldados reconquistarem o Haiti, que seria o centro do império francês nas Américas. A Louisiana serviria apenas para abastecê-lo. Para os americanos, um péssimo cenário, com uma grande potência logo ali do lado e controlando a foz do rio que já era vital para sua economia. Mas os planos de Napoleão foram vencidos pela febre amarela. Quase dois terços de seus soldados morreram no Haiti, depois de vitórias militares, mas sem saber lidar com a doença. Voltaram para casa de mãos abanando. Sem a posse da ilha, Napoleão já não via muito sentido na posse da Louisiana. Os americanos viram a grande oportunidade e se ofereceram para comprar a cidade e arredores. Para sua surpresa, Napoleão ofereceu muito mais: toda a região que ia da foz do rio até a fronteira atual com o Canadá, ao norte, e até as Montanhas Rochosas no oeste (claro que ninguém perguntou para os índios que ali moravam o que eles achavam do negócio...). Sem acreditar em tamanha sorte, os americanos não titubearam e fecharam negócio na hora. Por 15 milhões de dólares, duplicaram seu território e ainda garantiram a posse da tão ambicionada New Orleans. Junto com a terra, vieram algumas dezenas de milhares de católicos de origem francesa e espanhola, o que mudaria para sempre a composição da população americana, que na época era quase completamente protestante. Já Napoleão, usou todo o dinheiro da venda para financiar sua tão sonhada invasão da Inglaterra, o que nunca aconteceu. Muito pelo contrário, a França acabou ficando sem o Haiti, sem a Louisiana e sem Napoleão, vencido e preso pelos ingleses.
Banda de jazz toca nas ruas de New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
A posse da cidade era tão importante que foi justamente ali que se deu a principal vitória americana na guerra contra os ingleses, em 1811. A guerra terminou empatada, com algumas vitórias e derrotas para os dois lados. A capital, Washington, foi ocupada e queimada, mas New Orleans e o controle do rio resistiram ao ataque e, desde então, nada mais ameaçou a posse americana da região. Ao contrário, foi exatamente essa batalha que ajudou a cimentar o sentimento de nacionalidade americana entre os habitantes da região.
Homenagem a Louis Armstrong no parque que leva o seu nome, em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Outro componente essencial de New Orleans foi sua população negra. Os espanhóis transformaram a cidade no seu centro de distribuição de escravos. Então, quando a cidade passou para as mãos dos americanos, os negros já eram sua maioria. Na Guerra da secessão, New Orleans começou ao lado dos confederados, mas foi logo conquistada pela União. O caldeirão de culturas da cidade, espanhola, francesa, americana e africana, católica e protestante acabou criando, entre outras coisas, o jazz, música-símbolo de todo o país. Criou também o “Madrigas”, ou carnaval americano. Nasceu numa praça de New Orleans, hoje chamada de Congo Square, único lugar da cidade, e provavelmente do país, onde a população escrava podia se divertir de forma permitida e oficial, por alguns dias. As festas que ali faziam continuaram depois da abolição da escravatura, sempre com muita música. Acabou virando um festival e o maior carnaval do país.
Marujos caminham na famosa Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Casa de shows na Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Nessa cidade passamos dois deliciosos dias. Íamos de bonde para o centro e caminhávamos pela Bourbon Street. A mais famosa rua da cidade está tomada de bares que oferecem cerveja barata e shows de reputação duvidosa, meninas na porta, sempre com pouca roupa, convidando solteiros e casados a entrarem e darem uma olhada. A concorrência é enorme, não só na oferta, mas também na demanda. Afinal, são milhares de pessoas caminhando por ali, desde marinheiros nos dias de folga até excursões de estudantes vindas de todo o país. Soma-se a isso turistas de todo o mundo, famílias caminhando juntas e os convidados das dezenas de casamentos que são realizados na cidade todos os finais de semana (New Orleans concorre com Las Vegas como centro “casamenteiro” mais querido do país) e tem-se a Torre de Babel misturada com Gomorra que é a Bourbon Street. Sempre ao som de jazz que escapa das dezenas de bares e das bandas que se apresentam pela rua.
Congo Square, um raro lugar de diversão para os escravos em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Para poder respirar um pouco, seguíamos para as ruas laterais, para admirar a arquitetura completamente distinta da cidade, nada de arranha-céus envidraçados e lojas de fast-food. Pelo menos, não ali no centro histórico. Aliás, falando em comida, come-se muito bem por ali, cozinha típica do sul. Nosso jantar na noite de hoje, no Irene´s, fez cada minuto de espera ter valido à pena, um verdadeiro banquete, não na quantidade, mas na qualidade da comida. Uma delícia! Já de dia, ficávamos com os sanduíches locais, conhecidos como po´boys.
Po-Boy e cerveja da Louisiana em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
Imperdível também é um passeio pela orla do Mississipi, quase em frente à principal praça da cidade, a belíssima Jackson Square. Por ali passam réplicas dos famosos barcos com aquelas enormes rodas d’água na popa. Hoje esses barcos levam turistas rio acima, mas por dezenas de anos eram o transporte mais conhecido da região, um verdadeiro símbolo de uma época e da navegação no Rio Mississipi.
Vendedor de rosas na Bourbon Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
O barco tradicional do Mississipi, que hoje faz passeios com turistas em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
De noite, a melhor pedida é seguir para a Frenchmen Street, a poucos quarteirões dali. A rua se parece com o que deveria ser a Bourbon Street antes de ser tomada pelos shows de reputação duvidosa. São vários pequenos bares, um ao lado do outro, tocando excelente música e com plateia bonita e animada. Para quem gosta de jazz, vai adorar. Para quem não gosta, vai aprender a gostar! São jovens e velhos, homens e mulheres, brancos e negros, todos se misturando em bandas ecléticas tocando música da melhor qualidade. O prazer em transitar entre esses bares foi o mesmo que tivemos em Memphis, quando estávamos no meio do Blues. Que delícia ver com os próprios olhos (e ouvir com os próprios ouvidos!) que existe muita música além do rock. Ou, para baixar o nível, além do sertanejo e do Michel Teló. Não só existe a música como também uma legião de fãs entusiasmados que sabem apreciá-la.
Muito jazz nos bares da Frenchman Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Muito jazz nos bares da Frenchman Street, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Falando em música, ainda de tarde tivemos a sorte de passar pela catedral da cidade, justo na hora em que a banda da Marinha se apresentava por ali, aproveitando a excelente acústica do interior da prédio. Igreja lotada para o concerto, no meio da multidão dois brasileiros deslumbrados pela oportunidade de ouvir clássicos do jazz tocados de forma primorosa por uma banda de mais de 50 marinheiros. Muito joia!
Interior lotado da St. Louis Cathedral, em dia de apresentação de banda da marinha (em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos)
Apresentação da banda da marinha na St. Louis Cathedral, em New Orleans, na Louisiana, nos Estados Unidos
Amanhã cedo deixamos a cidade rumo à Flórida. Mesmo antes de sair daqui, já estamos com saudades. O clima festivo de New Orleans é contagiante, assim como o prazer de caminhar nas suas ruas charmosas onde as pessoas descansam em suas varandas e leem jornais na porta das casas, num ritmo de vida mais adaptado ao calor, sem o frenesi nova-iorquino, um tipo de ritmo baiano em pleno Estados Unidos. Só trocaram o axé pelo jazz...
Tarde de leitura em New Orleans, na Louisiana - Estados Unidos
A Ana observa o canyon onde está a fantástica Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Acordamos cedo na nossa estância no meio do sertão patagônico. O dia de hoje prometia ser longo, a visita à Cueva de Las Manos e mais uma longa viagem pelas estradas patagônicas até a cidade de El Chaltén, melhor ponto de acesso ao Parque Nacional Los Glaciares. Então, nada de nos enrolarmos, fomos logo para o café da manhã e abordamos a Fiona para enfrentar os 17 quilômetros de estrada de terra até o canyon onde está a Cueva. Além do dia longo, queríamos chegar cedo por lá, antes das hordas de turistas que vêm visitá-la do lado sul.
De volta da Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina, a estancia onde dormimos, maravilhosamente localizada no meio do nada!
Em pleno "sertão patagônico", a caminho da Cueva de Las Manos, na Argentina
Aqui na estância estamos ao norte da Cueva de Las Manos e, conforme expliquei no post passado, a estrada que dá acesso direto a esta maravilha arqueológica vem do sul. Aqui pelo norte, só um caminho alternativo. Uma rústica estrada de terra perdida no meio do interior patagônico nos leva até a borda do canyon do Rio Pinturas. A Cueva está nas encostas do outro lado do canyon e para quem chega pelo lado norte, é preciso deixar o carro ali e percorrer uma trilha de 3 quilômetros que desce até o fundo do canyon e sobe as paredes do lado de lá. Depois da visita, temos de fazer o caminho de volta para chegarmos ao carro outra vez. Pode parecer trabalhoso, mas a própria trila é mais uma atração, não só pelas vistas maravilhosas que ela proporciona como também pela chance de caminhar pelo fundo do canyon, um verdadeiro oásis em meio ao deserto patagônico.
Chegando ao canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Do outro lado do canyon, a entrada oficial da Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Pois bem, tomamos nosso café e logo em seguida estávamos dirigindo através de colinas, pequenos vales e fazendas. Não pode haver melhor maneira de começar um dia, sentimento total de comunhão com a natureza. Quarenta minutos mais tarde e chegamos à borda do canyon. Não demorou para percebermos por que a estrada para por ali. As paredes do canyon chegam a ter mais de 120 metros de altura e seria bem difícil construir uma passagem para carros por lá. Já uma simples trilha para pessoas, essa pode ir ziguezagueando encosta abaixo por uma das falhas na parede. Do outro lado, onde não há essa falha, foram colocadas escadas para vencer os trechos mais íngremes.
O canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
O canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Nós chegamos bem cedo ao canyon, ainda antes do horário de abertura da Cueva. Do alto das paredes era possível ver as estruturas do outro lado, tanto da administração do parque como das plataformas de madeira construídas para dar acesso e também proteger as pinturas. Ao não ver ainda nenhum movimento por lá, ficamos mais tranquilos e tiramos alguns minutos para admirar a belíssima paisagem ao nosso redor.
Oásis no fundo do canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Oásis no fundo do canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Esse é um trecho bem árido da patagônia, quase um deserto. Mas no fundo do canyon corre um rio (o Pinturas) que forma um verdadeiro oásis lá embaixo, o verde da vegetação ficando ainda mais em evidência quando comparado com as terras e paredes áridas ao seu redor. Fico só imaginando como era essa mesma paisagem 8-10 mil anos atrás, quando o povo que criou essas pinturas estavam por aqui. Com certeza, diferente do que é hoje, provavelmente bem mais úmido. Mas eles viveram por aqui por milhares de anos e devem ter acompanhado as mudanças que levaram o clima a ficar mais parecido com o que é hoje.
Cruzando o oásis no fundo co canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Aravessando o oásis verde no fundo do canyon a caminho da Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Seriam 40 minutos de caminhada, portanto não nos demoramos muito lá encima. Na volta sim, mais tarde, tivemos todo o tempo do mundo para tirar as fotos que aparecem nesse post. A vista daqui é tão bela que muitos turistas dão toda a volta pelas estradas até aqui de carro só para poder ver o canyon desse ângulo. Tantas horas a mais de carro só para não ter de fazer a caminhada através do canyon...
Aravessando o oásis verde no fundo do canyon a caminho da Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Subindo a encosta do canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Enfim, não foi o nosso caso. Cuidadosamente, descemos a trila rochosa em ziguezague através das paredes e encostas e chegamos lá embaixo. É mesmo um oásis idílico e a vontade é, ao chegarmos ao rio, parar para um piquenique e um mergulho. Mas não estão tão calor para isso! O rio tem esse sugestivo nome de “Pinturas” porque foram encontrados vários sítios com pinturas rupestres ao longo de seu curso. A Cueva de Las Manos é apenas o mais famoso e espetacular deles!
Subindo a encosta do canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Visão do canyon onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Cruzamos o rio em uma pequena ponte, atravessamos mais um trecho do oásis verde e logo começamos a subir do lado de lá. Aqui sim são necessárias escadas para vencer algumas paredes. Desse lado, não precisamos subir toda a altura do canyon, pois a Cueva está no meio das suas encostas, a meia altura, pouco mais de 80 metros acima do nível do rio. A passagem para as pinturas ainda estava fechada e nós seguimos diretamente para a portaria, para comprarmos nossos ingressos e estarmos no primeiro grupo de turistas a entrar.
Estrutura construída para dar acesso e proteger as pinturas da Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
O caminho em frente à Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
De lá, avistávamos, lá do outro lado do canyon, não só a nossa querida Fiona nos esperando, mas também os vultos de mais um grupo de turistas que chegava para iniciar a travessia do canyon. Eles também estavam hospedados na nossa estância, mas não acordaram tão cedo como nós.
No alto da encosta, do outro lado do canyon, por onde chegamos, nos espera a Fiona enquanto visitamos a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Outros turistas chegam ao lado oposto do canyon (exatamente por onde chegamos!) onde está a Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Lá na janela da portaria, vários adesivos de viajantes que passaram por aqui nos últimos anos. Entre eles, o adesivo dos nossos amigos do Bode’s Well. São os americanos que encontramos na Venezuela no passeio até o Salto Angel. Um casal que viaja com um filho de 6 anos de idade (o Bode) em uma Kombi. Por coincidência, começaram sua expedição praticamente junto conosco, em meados de 2010, época que o Bode tinha menos de 3 anos. Tínhamos tentado nos comunicar algumas vezes, mas estava difícil. Foi quando o destino nos co0locou na mesma canoa em direção a mais alta cachoeira do mundo. Bem legal! E achar o adesivo deles por aqui nos deu saudades. Para quem quiser ver, a história do nosso encontro está aqui.
A entrada da Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Encontrando um adesivo dos nossos amigos na entrada do parque Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Bom, além de adesivos, encontramos overlanders em carne e osso também. Ali estava um enorme carro, ou caminhão, da suíça. Tinham dormido no estacionamento e também estariam no primeiro grupo de turistas a entrar na Cueva de Las Manos hoje. Um casal bem jovem que não viaja com um, mas com dois filhos. Por isso o caminhão, hehehe
Carro de família suíça em viagem pela América do Sul, na Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Família suíça em viagem pela América do Sul, na Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
Conversamos um pouco, tentamos fazer festa com as tímidas crianças e, bem no horário, o parque se abriu. Nosso grupo já estava pronto, nós cinco e mais um casal de argentinos. Conforme tínhamos planejado e torcido, entramos antes que os grupos maiores chegassem. Enfim, iríamos conhecer a famosa Cueva de Las Manos!
Nosso grupo inicia visita à Cueva de Las Manos, no sul da patagônia, na Argentina
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