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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Prédio do Comando Naval, na Plaza Sotomayor, em Valparaiso, no Chile
A cidade portuária de Valparaiso, o segundo maior centro urbano do Chile, já era usada pelos espanhóis desde meados do séc. XVI, mas foi apenas depois da independência do país, no início do séc. XIX, que ela passou a se desenvolver. Tornou-se o centro da Armada do Chile e principal porta de entrada para os milhares de imigrantes que chegavam à nova nação. Alemães, ingleses, franceses, italianos e muitos outros ajudaram a moldar o caráter de uma cidade destinada a se tornar um dos principais centros culturais, não só do Chile, mas de toda a América Latina. Em suas ruas cosmopolitas de meados do séc. XIX, eram ouvidas diversas línguas europeias, se ergueram vários colégios para atender os imigrantes, construiu-se a primeira linha de telégrafo do continente, o primeiro corpo de bombeiros ao sul do Equador e o mais antigo jornal em língua espanhola do mundo que ainda circula nos dias de hoje.
Plaza Sotomayor, no centro de Valparaiso, no Chile
Os antigos trólebus ainda andam nas ruas de Valparaiso, no Chile
O grande impulso de crescimento veio de longe, mais precisamente da California, onde a corrida do ouro entre 1848-58 movimentou todo o mundo. Dezenas de milhares de americanos da costa leste, e também europeus, no afã de chegar ao novo eldorado, buscavam a longa rota marítima ao redor da América ao invés da perigosa travessia através do território dos índios americanos. Como naquela época ainda não havia o Canal do Panamá, os barcos que traziam multidões davam a volta no Estreito de Magalhães e aportavam no primeiro porto importante da costa no lado do Oceano Pacífico, Valparaíso. Não demorou muito para a cidade ser apelidada de “a San Francisco do Sul”.
Valparaiso, no Chile, construída sobre diversos cerros
Um dos muitos cerros de Valparaiso, no Chile
Não tendo mais para onde se expandir ao redor da área plana da zona portuária, a cidade passou a ocupar os diversos “Cerros”, ou morros, dos arredores. Hoje, são mais de 40 deles, cada um com sua personalidade, ruas e ruelas de pedra, becos e escadarias pitorescos, muros grafitados, pousadas e restaurantes charmosos, tudo isso num verdadeiro labirinto de caminhos estreitos que desafiam os melhores cartógrafos e são proibitivos para carros grandes e, em alguns casos, mesmo os pequenos.
o pomposo Museu da Marinha, em Valparaiso, no Chile
Os dias de glória de Valparaíso terminaram no início do séc. XX. Primeiro, um forte terremoto arrasou a cidade e matou mais de 3 mil pessoas. Alguns anos mais tarde, a inauguração do Canal do Panamá tirou de Valparaíso a sua principal força econômica: o movimento de seu porto. Os navios transoceânicos agora optavam pelo caminho mais curto e Valparaíso ficou “a ver navios”, ou melhor, a não vê-los mais. Não demorou para chegarem os difíceis tempos da decadência, famílias mais abastadas se mudando da cidade e antigas áreas nobres se tornando guetos perigosos.
O charme das ruas de Valparaiso, no Chile
Muita arte nas ruas de Valparaiso, no Chile
Mas a riqueza histórica, a tradição e a beleza de sua arquitetura acabaram falando mais alto. A cidade se tornou um magneto para artistas, poetas, filósofos, boêmios e estudantes. Várias universidades se instalaram ali e atrás desse movimento vieram os turistas, os restaurantes, os hotéis e todo a giro econômico e cultural que isso trás. Por fim, o porto ganhou nova vida, com uma inserção cada vez maior do Chile na economia internacional, com suas exportações de cobre e, cada vez mais, frutas. Valparaíso foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade, Centro Cultural do país e sua capital legislativa, sendo sede do Congresso Nacional.
O charme das ruas de Valparaiso, no Chile
Cerro Concepción, em Valparaiso, no Chile
Foi nessa fulgurante cidade que chegamos ontem, um pouco antes da meia noite, depois da longa viagem vindos de La Serena e do Valle del Elqui. Nossa ideia era achar logo um hotelzinho charmoso em um dos Cerros da cidade e depois, ainda aproveitar a boemia. Mas nossos planos não deram muito certo, não.
São vários cerros na cidade de Valparaiso, no Chile
Para começar, até o GPS apanha do labirinto de ruas da parte alta da cidade. Ele insistia em nos mandar por ruelas onde nem uma moto mais larga passava, imagina a Fiona. Aos trancos e barrancos, fomos achando as poucas ruas mais largas e chegando ao alto dos Cerros. Apenas para descobrir que a cidade morre nos domingos de madrugada, a única noite de descanso dos boêmios. Não apenas bares e restaurantes estavam fechados, mas também boa parte dos pequenos hotéis que procurávamos. Todo mundo dormindo. Os poucos onde ainda conseguimos achar alguém na recepção foram desalentadores: preço salgado e sem vaga para a Fiona. Como são construções antigas, vagas de carro são mercadoria rara por ali. E nós, depois do trauma em Totoralillo, não podíamos nem imaginar em deixar nosso carro desprotegido. Assim, acabamos por desistir de dormir em alto estilo na cidade e apelamos para o sempre eficiente Ibis, que é muito bem localizado na cidade e sempre tem vagas para carros. Fica no coração da área portuária, a poucos metros de várias ladeiras que dão acesso a alguns dos Cerros mais famosos de Valpo. Aliás, é assim que a cidade é conhecida entre os chilenos: Valpo!
Tentando se orientar pelo mapa nas ruas de Valparaiso, no Chile
Voltando para a parte baixa de Valparaiso, no Chile
Pois é, acabamos no Ibis e também sem a nossa esperada noitada, já que noitada não havia. Pelo menos, tivemos o prazer de poder rodar por aquelas ruas cheias de história e completamente vazias, um gato aqui, um fantasma ali e nada mais. Parecia que uma estranha “aura” de 200 anos de idade nos acompanhava em nosso périplo pela cidade.
Estação de funicular em Valparaiso, no Chile
Um dos muitos funiculares que dão acesso aos cerros de Valparaiso, no Chile
Hoje de manhã, estávamos loucos para retomar nossas explorações. Agora, sem a Fiona e com a ajuda da luz do sol. As ruas desertas desta vez estavam cheias de vida, mais na parte baixa, que é onde fica o comércio, que na parte alta. Para subir os Cerros, o caminho normal é tomar algum dos “funiculares”, um pequeno trem que sobe as ladeiras, quase como um elevador. Não são caros. Mas não era o que queríamos! Buscávamos os becos, as ruas calçadas com pedras pé de moleque, as escadarias apertadas entre dois muros cheios de grafite. De alguma maneira, queríamos beber daquela energia que paira sobre essa cidade encantadora.
Subindo escadaria para um dos cerros de Valparaiso, no Chile
Muita arte nas ruas de Valparaiso, no Chile
Como segunda-feira é o dia internacional dos museus fechados, ficamos só pelas ruas, mesmo. Mas não se enganem! Aí já há história suficiente para muitas e muitas semanas. Começamos pelo Cerro Alegre e Cerro Concepción, os mais próximos da área do porto. Cada rua, cada quarteirão, uma fotografia. Além dos detalhes das vielas, dos muros pintados e das casas centenárias, tem também a vista para o porto, para o Oceano Pacífico e para a vizinha Viña del Mar.
O nome do grande poeta Neruda está por toda parte em Valparaiso, no Chile
Cerro Concepción, em Valparaiso, no Chile
Nos muros, além de muita arte visual, também se encontram poemas. Não é a toa que essa era uma das cidades preferidas de Neruda. No mundo! Aqui ele tinha uma casa e passava temporadas para se inspirar. Hoje, são seus poemas e frases que inspiram novas gerações de poetas que escolheram essa cidade como lar. Afinal, quem não se inspiraria bebendo na mesma mesa de bar que costumava beber o grande poeta?
Restaurante com uma bela vista de Valparaiso, no Chile
Depois de muitas andanças, já que não tínhamos ficado no hotel dos nossos sonhos, resolvemos recompensar com um belo restaurante. Achamos o lugar perfeito no Paseo Iugoslávia, um restaurante cheio de janelas e virado para o mar, lá embaixo. Ficamos só nos aperitivos mais chiques, mas o local e a ocasião justificavam o investimento! Tudo acompanhado de deliciosas cervejas. Foi nossa maneira de tornar esse momento ainda mais sagrado.
Queijo camembert derretido co geleia de framboesa, em Valparaiso, no Chile
Deliciosa cerveja em Valparaiso, no Chile
Já de tarde, seguimos para outro Cerro, o Artilleria, onde se encontram grandes prédios históricos e há um mirante especial para ver o fim de tarde atrás do mar. Quem diria que até a visão de um porto movimentado também tem seu charme? Em Valparaíso, tem!
Valparaiso, no Chile, vista do alto do cerro Artilleria
Valparaiso, no Chile, vista do alto do cerro Artilleria
Segunda de noite também é devagar, em qualquer lugar do mundo. Assim, foi mais fácil convencer a Ana, sob protestos, a ficarmos no hotel. Deste modo, vamos embora sem conhecer a aclamada boemia da cidade. Fica para uma próxima vez, agora que já sabemos nos movimentar pelo menos em parte desse misterioso labirinto cultural, carinhosamente chamado de Valpo. Amanhã, já vamos para a capital, passando por Viña del Mar no caminho. Temos um bom motivo para toda essa pressa: só faltam dois dias para voarmos para o meio do Oceano Pacífico!
Valparaiso, no Chile, vista do alto do cerro Artilleria
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