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Lucia (09/09)
Olá Ana e Ro, tudo bem com vcs? Eu me distanciei bem e vcs já foram alt...
mario sergio silveira (09/09)
Caríssimo Rodrigo, espero que estes desenhos representem uma "cunha" no ...
Francisco Espiridião (08/09)
Sou jornalista, rondoniense, mas vivo em Roraima há mais de 35 anos. Li ...
antonio (07/09)
parabens por conseguir sobir o cume de el miste mas deu para perceber que...
Luis (07/09)
Enorme tronco caído de cedro Vermelho faz ponte natural em trilha do Pacific Rim Nat. Park, na região de Tofino, na British Columbia, no Canadá
Algumas datas nos fazem ver como temos andado por esse continente nos últimos tempos. São datas marcantes para nós como, por exemplo, o dia do ano que começamos essa viagem ou a data do nosso casamento. Elas nos convidam a tentar lembrar como foi esse mesmo dia há um ano ou há dois anos, épocas em que já estávamos na estrada nesses 1000dias. Nossos respectivos aniversários estão entre esses datas marcantes e hoje é o meu dia de ficar um pouco mais velho.
As condições climáticas da "Wet Coast", na British Columbia, no Canadá
Então, foi o dia de tentarmos lembrar o que fizemos e onde estávamos nos dias 11 de Outubro de 2011 e de 2010. Se a memória falha um pouco, os blogs estão aí para nos lembrar! Um botão no alto de cada um dos blogs nos leva diretamente aos posts de um e dois anos atrás. Para mim, é uma viagem deliciosa navegar por eles e reviver aqueles momentos. Há um ano, estávamos na cidade histórica de Popayan, no sul da Colômbia, e a sobremesa do jantar daquela noite especial foi inesquecível! Há dois anos estávamos em Itaúnas, a simpática cidade capixaba cheia de dunas de areia, no norte do estado. Ali, tivemos a deliciosa companhia do sobrinho Leo e da namorada Karen, que já faz parte da família, quase uma sobrinha também. Sem esquecer dos padrinhos Rafa e Laura. Foi muito legal!
Observando árvore que cresceu sobre o tronco de um antigo Cedro Vermelho, na rain forest da região de Tofino, na British Columbia, no Canadá
Bom, e hoje, 11 de Outubro de 2012? Dessa vez, longe que estamos, não tivemos a companhia física de familiares e amigos. Mas a internet e o Skype estão aí para diminuir as distâncias, certo? Passei boa parte da manhã, ainda no nosso Hostal em Tofino, lendo e respondendo e-mails e mensagens no Facebook, além de falar por uma hora, via Skype, com a família separada pelo mundo. Uma delícia! Viajar hoje em dia é tão mais fácil que na época das cartas e dos telegramas... Pois é, estou ficando velhinho, eu me lembro disso!
A magnífica floresta de árvores gigantes na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Bom, fim da manhã, fim da nostalgia, bola para frente! Era hora de pegar estrada novamente! Nosso destino era Victoria, no sul da Vancouver Island e a capital de toda a British Columbia. Mas, antes de chegar lá, ainda tínhamos duas paradas muito importantes para fazer!
Trilha ba floresta de árvores gigantes, na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Placa comparativa da maior e mais antiga das Douglas Fir com a Torre de Pisa, na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A primeira foi numa trilha atravessando um trecho da rain forest protegida pelo Pacific Rim National Park, ainda bem perto de Tofino. O clima chuvoso combinou perfeitamente com a trilha entre enormes árvores centenárias que formam o coração e o motor daquela mata úmida. Do conforto de uma passarela de madeira, pudemos admirar o trabalho milenar da natureza, através de várias gerações de árvores que chegam a viver 800 anos e que, quando morrem, ainda ajudam a sustentar por mais de um século a vida de outras árvores que nascem sobre seus troncos. O ar puro e o silêncio quebrado apenas pelos cantos dos pássaros ajudam a criar um clima de paz e relaxamento, tudo o que eu mais queria naquele momento. Sorte daqueles que podem fazer um passeio desses a cada dia. Rejuvenescedor!
Junto à maior e mais antiga das Douglas Fir, em Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A maior e mais antiga das Douglas Fir, em Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A parada seguinte, uma hora adiante na estrada, também foi em uma mata. Já distantes da “Wet Coast”, o sol até apareceu, como que para me parabenizar também, hehehe. A floresta, agora, era a famosa “Cathedral Grove”, um parque criado para proteger as maiores e mais antigas árvores de toda a Vancouver Island. Se a outra mata, perto de Tofino, já era inspiradora, essa aqui beira o divino. Árvores que chegam aos 70 metros de altura e que necessitam de quase uma dezena de homens para serem completamente “abraçadas”, elas se erguem como pilares para o céu que, aliás, parecem sustentar.
Trilha pela Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
A estrada passa bem no meio do parque. Aí, paramos o carros e fazemos duas trilhas, uma em cada lado da estrada. De um lado, predominam nossos velhos conhecidos Cedros Vermelhos. Os mesmos que, quando morrem, servem de encubadeiras pelo próximo século. Do outro, uma parente próxima, conífera também, a Douglas Fir. Mensageiros dos séculos, contam a história de enormes tempestades, como uma há 23 anos, e de incêndios, como o que destruiu metade das árvores a 350 anos, deixando grandes cicatrizes nas árvores que restaram. São nesses grandes eventos que esses gigantes silenciosos vem ao chão, dando espaço a uma nova geração de árvores.
A Fiona fica pequenina perto das árvores da Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Essas mesmas árvores maravilhosas estavam por aqui quando o botânico David Douglas passou pela ilha, há quase 200 anos. Douglas pertenceu a uma geração heroica de cientistas ingleses, que cruzou o mundo naquela época, como oficiais de ciências de grandes expedições. Douglas pode não ter ficado tão conhecido como seu contemporâneo Darwin, mas viveu aventuras semelhantes, encerradas abruptamente numa misteriosa morte enquanto explorava o Hawaii, com apenas 35 anos de idade. Mesmo com esse pouco tempo de vida, ele foi o responsável pela descoberta de centenas de novos tipos de árvores e plantas. Na verdade, foi o botânico responsável pelo maior número de tipos de árvores introduzidas na Inglaterra (e, portando, na Europa) na história. Entre elas, a imponente Douglas Fir, que foi batizada em sua homenagem após sua trágica morte.
A magnífica floresta de árvores gigantes na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Homenagem também é o que fizemos a “mãe de todas elas”, que hoje comemorava 843 anos de idade (pelo menos, foi assim que gostei de imaginar!), uma árvore que já estava de pé quando Marco Polo visitava a China, há 750 anos. Quando Colombo chegou, então, ao outro lado do continente, já era uma adulta! Só não posso dizer que foram os vikings que a plantaram porque eles só ficaram no lado do Labrador. Ou teriam dado um pulinho por aqui? Enfim, ter estado ali, lado a lado com essas gigantes foi um inesquecível presente de aniversário.
A magnífica floresta de árvores gigantes na Cathedral Grove, na estrada para Tofino, em Vancouver Island, na British Columbia, no Canadá
Mas não foi o único! Nós seguimos viagem até a charmosa Victoria, cidade com uma rica cena cultural e gastronômica. A cidade, vamos explorar de verdade amanhã, com ajuda da luz do dia. Mas a iluminação noturna foi mais do que suficiente para encontramos o delicioso restaurante Camille’s, onde a Ana me presenteou com um jantar maravilhoso, com direito a vinho canadense direto do Okanagan Valley, principal região vinícola do país. Da entrada à sobremesa, passando pela carne de prato principal, foi um verdadeiro banquete de sabores! Obrigado a minha amada companheira!
Um delicioso vinho local para celebrar o aniversário do Rodrigo em Victoria, capital da British Columbia, no Canadá
Celebração do aniversário do Rodrigo em Victoria, capital da British Columbia, no Canadá
A noite e a celebração não terminaram por aí. Ainda esticamos para um Irish Pub, com boa música irlandesa e uma enorme quantidade e variedade de cervejas e uísques. Uísques de primeira, mas com um tamanho de dose ridículo, como bem pôde comprovar a Ana. Eu fui direto na tradicional Guinness. Achei que combinava com a data e com o dia que tinha passado! Terminamos assim, em grande estilo, esse 11 de Outubro. Depois de tanto lembrar do passado, ficou só a curiosidade do futuro: onde será o 11 de Outubro de 2013?
Uma legítima Guinness em pub irlandes para celebrar o aniversário do Rodrigo em Victoria, capital da British Columbia, no Canadá
Igreja de Colo, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
Entre tantas e tantas belezas e atrações turísticas de Chiloé, certamente uma merece destaque sobre todas as demais: o conjunto arquitetônico representado pelas centenas de igrejas espalhadas pelas ilhas do arquipélago. São elas e especialmente aquelas dezesseis que foram declaradas Patrimônio Histórico Mundial pela UNESCO que atraem a maioria das dezenas de milhares de turistas nacionais e internacionais que chegam anualmente a este arquipélago no sul do Chile.
Mais uma igreja da Rota das igrejas, na costa leste da ilha de Chiloé, no sul do Chile
Igreja de Pid Pid, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
A história das igrejas de Chiloé começa com a chegada dos jesuítas à ilha no início de século XVII. Os membros dessa ordem religiosa se espalharam por todo o imenso território da América espanhola com o objetivo de evangelizar e arrebatar novos súditos para o papa e para o rei de Espanha. Antes deles chegaram as doenças trazidas pelos conquistadores e que praticamente dizimaram as populações locais que já não tinham forças para resistir à invasão militar e cultural. Em poucas gerações, a população miscigenada já era muito maior do que as populações puras de outrora.
Igreja de Quemchi, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
Igreja na região do Parque Nacional de Chiloé, na costa oeste da ilha, no sul do Chile
A primeira igreja de Chiloé foi construída pelos jesuítas em 1612 e muitas outras se seguiram. Mas eram muito poucos padres para um território muito grande a ser coberto. Os padres viviam viajam de uma área a outra e de uma igreja a outra, onde pouco ficavam. Eram igrejas rústicas, quase temporárias. A Ordem pediu autorização para a coroa espanhola para enviar religiosos de outros países da Europa para auxiliar no trabalho de evangelização de Chiloé. O rei concordou e jesuítas da Baviera (sul da Alemanha), Hungria e Transilvânia foram enviados ao arquipélago.
Igreja de Achao, em Isla Quinchao, no arquipélago de Chiloé, no sul do Chile
Mais uma igreja no interior de Chiloé, no caminho entre Castro e Ancud, no sul do Chile
Foram esses sacerdotes estrangeiros que deram impulso à construção de igrejas mais sólidas e duradouras. O desenho e parte das técnicas de construção foram trazidos de seus países de origem, mas a mão-de-obra e os materiais de construção eram chilotas, assim como parte das técnicas de construção, baseada na construção de barcos de madeira, na qual os habitantes locais tinham bastante experiência. O resultado dessa união de forças resultou em uma nova escola de arquitetura, hoje chamada de “escola chilota de arquitetura religiosa em madeira”.
Igreja de Colo, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
Torre da Igreja de Colo, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
Com uma técnica mais apurada e madeiras bem mais resistentes, apropriadas para o clima úmido da ilha, as igrejas se tornaram muito mais duradouras. Algumas delas estão em pé até hoje, com mais de 250 anos de idade, e estão entre as construções de madeira mais antigas de toda a América. Quando a ordem jesuíta foi expulsa dos domínios espanhóis nas Américas em 1767, já eram 79 igrejas em Chiloé. As construções continuaram no mesmo estilo, agora sob tutela dos franciscanos, e não pararam de aumentar. Hoje em dia, são cerca de 200 igrejas espalhadas por todo arquipélago.
Indicação para a igreja, sempre uma das atrações turísticas (em Achao, na ilha Quinchao,no arquipélago de Chiloé, no sul do Chile)
Placa informativa sobre a igreja de Nercon, ao sul de Castro, na Ilha de Chiloé, no sul do Chile
O plano arquitetônico das igrejas segue um padrão básico, com pequenas variações. São construções retangulares com telhados em duas águas, algumas poucas vezes três. A fachada quase sempre aponta para o leste, de onde vem o sol, e conserva em sua frente um grande espaço, próprio para procissões. Quando pequenos povoados se desenvolveram ao redor das igrejas, esse espaço foi transformado na praça central da cidade. A fachada da igreja é composta de um pórtico adornado com arcos falsos e uma única torre com campanário. O número de arcos falsos mais comum é cinco, mas também se encontram igrejas com sete, nove ou simplesmente nenhum.. Entre o pórtico e a porta da igreja, sempre há uma área para se proteger da chuva, uma espécie de varanda.
Igreja de Dalcahue, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
Igreja de Pid Pid, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
O interior, quase sempre a parte mais elegante das igrejas chilotas, é formado por três naves, separadas pelos pilares ou colunas que sustentam a construção. Sobre o pórtico, há um espaço para o coral. A nave central quase sempre tem o teto côncavo, a semelhança do fundo de um bote. Quase não se usavam parafusos ou pregos na construção, a madeira sendo talhada para um encaixe sólido e quase perfeito.
Mais uma igreja em Isla Quinchao, uma das ilhas do arquipélago de Chiloé, no sul do Chile
Mais uma igreja da Rota das igrejas, na costa leste da ilha de Chiloé, no sul do Chile
Várias dessas igrejas resistiram por séculos aos efeitos do tempo, mas muitas tiveram de ser reconstruídas ou necessitam de cuidados especiais de preservação. Muitas, hoje, se encontram em reforma. A UNESCO escolheu dezesseis das mais belas e representativas como Patrimônio da Humanidade. Esse título garante o acesso a fundos de conservação. Todas as escolhidas se encontram na costa leste da ilha, na região de Castro, ou nas pequenas ilhas adjacentes. Isso não quer dizer que não existam outras belas igrejas no restante do arquipélago. Sim, elas existem e muitas são consideradas Patrimônios Nacionais.
Das mais de 200 igrejas do arquipélago de Chiloé, 16 são Patrimônio Histórico Mundial da UNESCO. Nove estão na costa oriental da Isla Grande, duas em Isla Quinchao e as outras 5 em ilhas menores
Teoricamente, existe hoje a “Rota das Igrejas”, uma estrada que dá acessos a todos esses tesouros arquitetônicos. Mas, na prática, descobrimos hoje, isso não é bem assim. As indicações nas estradas e caminhos são escassas e o acesso àquelas que se encontram nas ilhas menores é ainda mais complicado. Sem transporte próprio, dificilmente será possível ver muitas delas em um mesmo dia. Afinal, somente para se encontrar a maioria delas já é uma pequena aventura.
Visitando a torre de uma igreja ao sul de Castro, na Ilha de Chiloé, no sul do Chile
Interior da igreja de Nercon, ao sul de Castro, na Ilha de Chiloé, no sul do Chile
Talvez, o melhor seja entrar em algum tour privado. Mas para nós, parte da graça estava justamente em encontrar os caminhos. As paisagens bucólicas que cercam a maioria das igrejas já vale o passeio e a sensação de se conseguir encontrar cada uma delas era um gostoso sentimento de vitória. Para nós, foi quase como preencher um álbum de figurinhas. Das dezesseis listadas pela UNESCO, encontramos quase todas aquelas na ilha principal e também na ilha de Quinchao, para onde fomos de balsa. Mas as outras cinco localizadas em ilhas menores permaneceram inacessíveis para nós...
A grande igreja de Castro, a capital e maior cidade da ilha de Chiloé, no sul do Chile
Fachada da igreja de Castro, a capital e maior cidade da ilha de Chiloé, no sul do Chile
Algumas estão permanentemente abertas ao público, outras estão em reforma, outras estão fechadas, mas alguém na vizinhança tem as chaves. Muitas vezes, a gente se satisfazia apenas com a visão exterior, o cenário ao redor da igreja já tão belo que aquilo era o suficiente para nós. outras vezes, tivemos a chance de entrar, admirar o belo interior e até subir no campanário. A maioria das vezes, estávamos sós, nenhum outro turista a vista. Isso ocorria principalmente quando a igreja estava no meio do campo, isolada. Aquelas no centro de cidades e povoados eram, logicamente, mais movimentadas.
Igreja nas cercanias de Castro, na Ilha de Chiloé, no sul do Chile
Interior de igreja nas cercanias de Castro, na Ilha de Chiloé, no sul do Chile
Enfim, foi um prazer e tanto percorrer o interior da ilha em busca das famosas igrejas centenárias, singelas obras de arte construídas em madeira de cipreste. Após encontrar duas ou três, compreendemos logo a fama internacional que têm. E que delícia é poder chegar até elas e não ter de enfrentar longas filas ou lojas e restaurantes ao seu lado. Ao contrário, a maioria delas se encontra onde e como sempre estiveram, desde o século XVIII ou XIX: em meio a uma paisagem campestre, a arquitetura humana completamente integrada e combinada com a “arquitetura natural” ao seu redor. Um colírio para os olhos!
O cemitério e a igreja de Pid Pid, pequena vila ao norte de Castro, na ilha de Chiloé, no sul do Chile
Caminhão luta para não atolar na Transamazônica - PA
De novo, o dia nasceu radiante! São Pedro resolveu caprichar durante nossa passagem pela Transamazônica. Trechos que estavam intransponíveis há apenas alguns dias hoje mal faziam cócegas na Fiona!
A cidade de Medicilândia, onde passamos nossa primeira noite na Transamazônica - PA
Após conversarmos mais um pouco com o pessoal do nosso hotel, o Sinuelo, partimos para mais um dia de travessia pela rodovia. Nossos planos eram chegar até Novo Repartimento, pouco mais de 400 km à frente, local onde a rodovia se bifurca, a perna sul indo para Marabá e a perna norte para Tucuruí.
Chegando ao Rio Xingu, na Transamazônica - PA
A primeira etapa era até Altamira, a maior cidade nesse trecho da Transamazônica. Conforme nos foi explicado e fomos observando na prática, a cada dez quilômetros encontraríamos uma pequena "agrovila". Em outros trechos, essa distância pode ser de quinze quilômetros. E, de tempos em tempos, uma cidade maior, uma "agrópolis". Tudo parte do planejamento da época de colonização da região, feito pelos militares na década de 70. Na prática, algumas agrovilas minguaram, restando poucas casas, enquanto outras cresceram e viraram cidades, como Medicilândia. Também as agrópolis cresceram mais ou menos. A que mais se desenvolveu foi Altamira.
O Rio Xingu, na Transamazônica, região de Altamira - PA
Falando nisso, ficamos impressionados com o grau de ocupação por toda a rodovia. Ao contrário de estradas realmente isoladas, como algumas que passamos nas Guianas, na Transamazônica sempre há movimento de pessoas, motos ou carros. Se o automóvel quebrar, não será preciso andar mais do que uns poucos quilômetros para encontrar alguma casa. Nossa experiência pelo trecho paraense da rodovia mudou completamete a idéia que tínhamos dela, de algo no meio da selva. Que nada!
Fazendo hora para esperar a balsa para atravessar o Rio Xingu, na Transamazônica - PA
Enfim, partimos para Altamira, vencemos os dois ex-atoleiros da semana passada, que agora só estavam dificultando os caminhões, observamos as agrovilas e chegamos ao asfalto que antecede a grande cidade. Passamos rapidamente por ela e seu centro movimentado e seguimos em direção à travessia do Rio Xingu, 65 km à frente, ainda aproveitando o pouco de asfalto após Altamira.
Balsa sobre o Rio Xingu, na Transamazônica - PA
Mais alguns ex-atoleiros no caminho e chegamos ao imponente rio. Nossa, como tem água na bacia amazônica! Cada afluente do Rio Amazonas é um verdadeiro mar! Coitado do Nilo, do Mississipi ou do Danúbio perto de cada um desses afluentes principais. Acho que ninguém tem mais dúvidas de que esse é um dos maiores patrimônios do Brasil no médio prazo.
Balsa sobre o Rio Xingu, na Transamazônica - PA
Atravessamos o rio de balsa, aproveitando para fotografar bastante o Xingu. Não sei se voltaremos a vê-lo durante essa viagem, o que fez esse momento ainda mais especial. Não muito longe daqui vão construir a barragem e a Usina de Belo Monte. Fico a imaginar como isso vai mudar a vida das pessoas e da própria natureza que vivem ligadas a este rio. Com certeza, para o bem ou para o mal, muita coisa vai mudar...
Anapu, uma das maiores cidades ao longo da Transamazônica no seu trecho paraense
Continuamos seguindo rumo ao leste, alternando trechos bons da rodovia com trechos cheios de buracos, onde temos de ziguezaguear entre as crateras, valetas e ex-atoleiros. Um pouco de chuva complicaria bastante. Por fim, chegamos à Pacajá, local do nosso lanche. Ali, fomos informados que o trecho mais adiante estava em pior estado. Mais uma vez, ex-atoleiros e muitos buracos, agora com bastante poeira. Após quase 400 km de estradas de terra, o mais importante era manter a paciência, para não acelerar demais e acabar por danificar o carro.
Gado, visão comum ao longo da Transamazônica - PA
O trecho mais chato foram os últimos 30 km, já chegando em Novo Repartimento. Muita poeira e muitos caminhões em sentido contrário. O tráfego multiplicou-se por dez, aparentemente porque algum atoleiro havia sido liberado e uma fila enorme de caminhões parados pôde continuar viagem. Mais tarde descobrimos que esse atoleiro estava um pouco à frente de N. repartimento, no caminho que faremos amanhã.
Grande árvore morta ao lado da Transamazônica - PA
Por fim, chegamos e nos instalamos no Hotel Colinas. De noite, foi hora de celebração! Não pelo quase fim da travessia amazônica, mas pelos dois anos de casados, completados neste 9 de Maio. O tempo passou extremamente rápido desde aquele inesquecível dia na Ilha do Mel (www.icasei.com.br/roana). Com a Ana meio adoentada (uma alergia respiratória), a comemoração foi com suco de acerola e laranja numa churrascaria de posto de gasolina, em Novo Repartimento. Para nós, foi como se estivéssemos em Paris. Afinal, o que vale é a companhia! Aliás, falando em companhia, lembramos muito do Marcelo e da Su, nossas companhias nesta data há exatamente um ano, em Miami. Podem ver no blog! Logo logo, estaremos lá novamente, desta vez com a Fiona. Afinal, se ela está tirando a Transamazônica de letra, a Panamericana também vai ser moleza, hehehe
Celebração do aniversário de dois anos de casados numa churrascaria na cidade de Novo Repartimento, na Transamazônica - PA
A imponente estátua em honra ao General Artigas, o maior heroi nacional, na Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Chegamos à última capital federal no circuito dos 1000dias por toda a América. Completamos nossa lista de países com o Uruguai e agora completamos a lista de capitais com Montevideo. Quer dizer, na verdade a lista de capitais não ficou assim, tão completa, como a de países. Agora que estamos na capital uruguaia, ficaram faltando a capital venezuelana, Caracas, e a de Turks e Caicos, Cockburn Town, para fecharmos todas as capitais do continente. Em Caracas estivemos, eu e a Ana, dois anos antes de começarmos os 1000dias. Por isso, quando tivemos de escolher, por questões de tempo, entre passar pela capital venezuelana ou conhecermos o sul do país, não titubeamos. As memórias de Caracas ainda estavam frescas na cabeça e até fiz um post de lá (veja aqui). Já a pequena capital de Turks e Caicos, que nem é um país de verdade, mas um território britânico no Caribe, essa deixamos para trás mesmo, preferindo visitar ilhas mais significativas do arquipélago. Faltava, então, a gloriosa Montevideo. Agora não mais!
Caminhando nas ruas do Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Pouca gente se dá conta, mas Montevideo, no Uruguai, é a capital mais austral das Américas, superando Santiago e Buenos Aires
Pouca gente se dá conta, mas Montevideo é a capital mais austral das Américas. Nossa intuição seria apostar nas capitais do Chile ou Argentina, talvez porque é nesses países que estão cidades como Ushuaia e Punta Arenas, ou regiões como a Patagônia e Terra do Fogo. Mas as suas capitais, Santiago e Buenos Aires, estão sim mais ao norte do que a capital uruguaia. Parafraseando aquele ditado famoso, “viajando e aprendendo!”.
O grande portal da Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Com os pais, aos pés da estátua de Artigas, na Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Outra coisa que aprendi chegando aqui foi que Montevideo também foi fundada por portugueses. Achei que essa “honra” só cabia à Colonia del Sacramento. Mas não. Em Novembro de 1723 os portugueses de Colonia resolveram ampliar seus domínios às margens do Rio da Prata e aqui fundaram um forte. Os espanhóis, que já tinham de aguentar a incômoda presença lusitana em Colonia, resolveram que uma cidade já era demais e não quiseram dar nenhuma chance para que o novo povoado se desenvolvesse. Dois meses depois da construção do forte, uma expedição vinda de Buenos Aires tomou a instalação militar e, eles mesmos, começaram a povoar a nova cidade. Rapidamente Montevideo ganhou importância e ainda nesse século já rivalizava com a própria Buenos Aires como principal cidade espanhola na bacia do Prata. Por um século, desde a sua criação, ela ocupava a península que hoje é conhecida como Ciudad Vieja. Foi apenas depois da rápida ocupação inglesa de 1807 e da ocupação luso-brasileira de 1816-25 que a cidade passou a se expandir além dos antigos muros.
O grande portal da Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
As principais atrações turísticas de Montevideo, capital do Uruguai, estão no Centro Velho. Nós ficamos hospedados na vizinhança mais interessante, Pocitos. Em Carrasco, área de classe média alta, há muitos hotéis e uma grande praia
Hoje a cidade cresceu bastante. Das poucas famílias de 1730 para 60 mil pessoas em 1860 para 1,4 milhão nos dias de hoje. Se consideramos a região metropolitana, são 2 milhões de pessoas em um país com 3,3 milhões de habitantes. Relativamente, é como se houvesse uma cidade no Brasil com 120 milhões de pessoas! Mas, apesar de ter crescido tanto, é ainda na Ciudad Vieja, onde nasceu, que estão os principais atrativos turísticos da cidade. E foi para lá que nos encaminhamos hoje para nossas explorações, eu, a Ana e meus pais, que nos acompanham aqui no Uruguai. Nós estamos hospedados na região de Pocitos, a mais gostosa de Montevideo, por onde passeamos ontem, quando meus pais chegaram, e onde também ficaremos amanhã. No próximo post falo de lá, um bairro que tanto nos lembra o Rio de Janeiro de antigamente, no melhor dos sentidos. Mas hoje, queríamos história, e o lugar para isso é mesmo a Ciudad Vieja.
A imponente estátua em honra ao General Artigas, o maior heroi nacional, na Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
A imponente estátua em honra ao General Artigas, o maior heroi nacional, na Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Fomos com a Fiona até as proximidades da Plaza Independencia, encontramos um estacionamento e partimos para nosso passeio a pé, sem dúvida nenhuma a melhor maneira de se conhecer essa parte da cidade. O passeio começou na própria praça, a mais icônica da capital e onde está uma pomposa estátua do herói maior da nação, o General Artigas. Estátua típica de heróis da independência em qualquer país, sobre um cavalo e em trajes militares. Sob a estátua, o mausoléu em honra ao libertador, com dados e relíquias sobre a sua vida.
Visita ao mausoleu de Artigas, na Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Visita ao mausoleu de Artigas, na Plaza Independencia, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Artigas teve uma infância abastada em fazendas da família, mas acabou por se tornar um fora-da-lei que agia com roubo de gado e tendo sua cabeça a prêmio. Mas a guerra entre Espanha e Inglaterra, no contexto das guerras napoleônicas na Europa, possibilitou que ele se incorporasse ao exército e tivesse atuação destacada, tanto para desalojar os britânicos de Buenos Aires como de Montevideo. Poucos anos mais tarde, foi um dos principais líderes na guerra pela independência dos domínios espanhóis na região do Rio da Prata. O problema é que aqueles que lutavam pela independência também estavam divididos entre si, um grupo defendendo um governo forte e central, em Buenos Aires, e outro, no qual se destacava Artigas, que defendia ideias federalistas.
Nosso circuito caminhando pelo Centro Velho de Montevideo, no Uruguai. Fomos às principais atrações, como a Plaza Independencia, o Teatro Solis, a Catedral, a Plaza Zabala e, claro, o Mercado del Puerto
O Teatro Solis, o mais tradicional do país, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Um pomposo lustre ilumina o saguão de entrada do Teatro Solis, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
A facção realista, que lutava por manter os laços com a Espanha e tinham Montevideo como capital, foram vencidos. Artigas era o mais importante líder de uma união de províncias, incluindo aquelas que hoje formam o Uruguai e outras, dentro do território argentino. Preocupados com seu crescente poder, os unitaristas, defensores de um governo central forte, acabaram por fazer uma aliança tácita com os portugueses que ainda controlavam o Brasil. Estes temiam as ideias republicanas de Artigas e com a complacência de Buenos Aires, conquistaram o Uruguai. O grande líder fugiu para o Paraguai e aí viveu exilado pelo resto da vida, nunca mais pisando os pés no Uruguai que havia liberado da Espanha. Rivais e aliados, temendo a aura de liderança de Artigas, se combinaram para que ele nunca mais recuperasse sua influência enquanto estivesse vivo. Nem mesmo na guerra de independência do Uruguai contra o Brasil, dez anos mais tarde, ele seria chamado a participar. Apenas em meados do séc. XIX, pouco tempo após morrer com mais de 80 anos de idade, seu nome foi reabilitado na terra natal e seus restos transladados para o Uruguai. Hoje ele repousa sereno em seu panteão, na Plaza Independencia e, sem nenhuma dúvida, é considerado o grande herói da história do país.
Interior da Catedral Metropolitana, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Visitando a Catedral Metropolitana, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Detalhe do piso da Catedral Metropolitana, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Após essa aula de história, retomamos nosso passeio pela Ciudad Vieja. A próxima parada foi no Teatro Solis, o mais tradicional de Montevideo. O pomposo edifício remonta da metade do séc. XIX, uma época em que a economia local fervilhava com as exportações de carne. Grandes prédios neoclássicos se espalhavam pela cidade e o Solis é um dos mais renomados exemplos. Recentemente, milhões foram investidos para devolver-lhe a antiga glória. Nós só o vimos pelo lado de fora e seu saguão de entrada, mas assistir a algum espetáculo por lá será sempre um bom motivo para voltar a Montevideo.
Visita à tradicional livraria no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Cruzando a movimentada Plaza Zabala, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Continuamos a caminhar e a próxima parada foi em uma livraria tradicional da cidade. Sempre gostamos de visitar livrarias nos países que visitamos, uma boa maneira de perceber a quantas anda a cultura no país. A literatura em espanhol, tanto de obras próprias como as traduzidas de outras línguas como o inglês e francês, é infinitamente mais vasta que a literatura em português. Percebe-se logo isso visitando as livrarias de Buenos Aires ou esta, aqui de Montevideo. Aproveitei para comprar dois livros de história, que tanto gosto, enquanto meu pai comprou um de fotos e textos relatando a visão uruguaia da Copa de 50, daquele fatídico 2 x 1, conhecido como “Maracanazo”. Meu pai esteve presente naquele jogo, então, para ele, é ainda mais interessante (e penoso?) ver a alegria dos jornais uruguaios da época.
Produtos "made in Brasil" a venda no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
quitanda no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Cães aguardam ansiosos por seu dono, em quitanda no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
A fome começava a apertar e nós também apertamos o passo. Passamos rapidamente pela feira que ocupa sempre a simpática Plaza Zabala e nos dirigimos à atração preferida dos brasileiros que visitam a capital uruguaia: o Mercado del Puerto. A cidade está cheia de gremistas que vieram para um jogo da Libertadores e a maioria deles estava no famoso mercado. Aliás, já faz tempo que ele deixou de ser um mercado de verdade e hoje é ocupado apenas por restaurantes.
Visita ao Mercado del Puerto, uma das principais atrações do Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Visita ao Mercado del Puerto, uma das principais atrações do Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Os verdureiros desalojados hoje ocupam as cercanias do prédio histórico. Aí encontramos até mesmo bananas vindas diretamente do Brasil. Mas não eram bananas que procurávamos, mas uma refeição de verdade. Nós e todos os gremistas na cidade. Com o Mercado del Puerto ali em frente, isso não era um problema!
Interior do famoso e imperdível Mercado del Puerto, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Interior do famoso e imperdível Mercado del Puerto, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
O famoso relógio do Mercado del Puerto, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
O prédio tem quase 150 anos e é o primeiro no continente construído sobre uma estrutura de ferro, uma técnica que ainda engatinhava, mesmo na Europa. A Torre Eiffel, por exemplo, só seria construída 20 anos mais tarde, em 1889. Assim que ficou pronto, virou ponto de encontro na capital e por aqui passeavam juntos gente como Carlos Gardel e Enrico Caruso, em busca de um bom café. Hoje, como disse, todas as vendas se foram e o espaço é só dos restaurantes e das centenas de turistas que vem se refestelar com um legítimo e suculento “asado uruguayo”. Foi o que fizemos, programa obrigatório para quem não é vegetariano e vem conhecer a capital do país. Uma delícia! Difícil é só escolher entre a cerveja Patricia e o vinho Tannat, porque as carnes, na dúvida, que venham todas!
Abundância e variedade de carnes nos restaurantes do Mercado del Puerto, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Abundância e variedade de carnes nos restaurantes do Mercado del Puerto, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Almoçando em restaurante do Mercado del Puerto, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Depois do ponto alto e mais nutritivo do dia, começamos a caminhada de volta à Fiona. Voltamos pelas ruas peatonais (para pedestres), aproveitando para admirar a arquitetura dos antigos prédios neoclássicos e também para observar a arte nas ruas, desde murais pintados nas paredes até os artistas se apresentando nas ruas. Dia de semana normal por aqui, também é interessante ver o ritmo normal das pessoas, gente saindo do trabalho na hora do almoço para comer na esquina ou, já perto do final da tarde, alguns bares começarem a se encher para o happy-hour. É aí que nos sentimos menos turistas e um pouco mais “uruguaios”, sensação que perseguimos em todos os países e cidades que visitamos.
Arte nas ruas do Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Música exótica nas ruas do Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Só despertávamos desse “sonho uruguaio” quando cruzávamos com alguma placa celebrando uma vitória militar contra os brasileiros. Por aqui, precisamos nos acostumar com a ideia que nós somos (ou fomos) imperialistas e opressores, ou seja, os bandidos da história. Quando o Brasil se tornou independente de Portugal, nós “herdamos” a Província Cisplatina que os portugueses haviam conquistado de Artigas anos antes. A paz durou pouco e logo Dom Pedro I estava enfrentando uma rebelião aqui no sul, mais uma luta de independência do Uruguai. Foram três anos de batalhas até que as forças brasileiras aceitassem a derrota, em 1828. A Argentina, que ajudou os uruguaios em sua guerra de libertação, sonhava com a anexação, mas aí também, já seria demais. Sob os auspícios da Inglaterra, Brasil e Argentina reconheceram a independência do novo país.
Prédios neoclássicos nas ruas do Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Homenagem à mais famosa batalha na luta de independência do Uruguai contra os imperialistas brasileiros, no Centro Velho de Montevideo, no Uruguai
Mas o nosso imperialismo não terminou por aí. Nem o dos argentinos. Pelas próximas quatro décadas, foram sucessivas intervenções desses dois países na política local, hora apenas por ameaças, hora com ações militares efetivas. Blancos e Colorados, as duas facções políticas locais que disputavam o poder, não hesitavam em pedir ajuda externa contra seus rivais. E Brasil e Argentina brigavam dentro do país para manter suas respectivas “esferas de poder”. Foi apenas com o término da Guerra do Paraguai que os uruguaios ganharam um pouco de sossego e alívio externo.
O belo parque Rodó, em Montevideo, capital do Uruguai
Pedalinhos em lago do Parque Rodó, grande área verde na área entre o centro e Pocitos, em Montevideo, capital do Uruguai
Enfim, nós, os imperialistas de outrora, chegamos de volta à Fiona. Antes de voltarmos à nossa querida Pocitos, ainda deu tempo de dar uma parada no parque Rodó, um dos mais belos da capital. Depois da selva urbana da Ciudad Vieja, passear por seus jardins e bosques foi um merecido descanso mental. Aa lado do lago por onde passeavam pedalinhos, aproveitamos o ar puro e o silêncio, buscando digerir todas as informações de um dia intenso. A noite se aproximava e mais um belo jantar em algum dos muitos restaurantes de nossa vizinhança preferida nos aguardava. Se no almoço havia sido patrícia, agora seria tannat!
Pedalinhos em lago do Parque Rodó, grande área verde na área entre o centro e Pocitos, em Montevideo, capital do Uruguai
Pela primeira vez, observando o mar na trilha no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Saímos diretamente de Taganga para um supermercado em um centro comercial de Santa Marta. Estávamos atrás de duas coisas: comida para nosso acampamento em Tayrona e um seguro para a Fiona rodar na Colômbia, algo que é obrigatório aqui no país. Ele se chama SOAT e cobre despesas médicas de todos os feridos em um acidente. Saímos do porto sem ele e, logo na primeira vez que a polícia nos parou, ontem no fim de tarde, ficamos sabendo que estava faltando algo. O policial foi bem simpático e disse para comprarmos no dia de hoje.
Mapa do Parque Nacional de Tayrona. Nós entramos por El Zaino, no leste, e deixamos o carro em Cañaveral. Caminhamos até El Cabo (onde acampamos), passando por Arrecifes e Piscinas
Dito e feito. Apesar de termos apenas mais uns dias no país, o período mínimo de cobertura do tal SOAT é de um mês e nos custou perto de 25 dólares. Agora, estamos cobertos. Já a Fiona... Mas ela pode ficar tranquila que nós não vamos bater, não!
Início de caminhada no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Bom, comprado o seguro e a comida, seguimos direto para uma das entradas do parque, aquela que dá acesso às trilhas e pontos mais famosos. Fica no povoado de El Zaino, já quase no extremo leste de Tayrona. É aí, na portaria, que pagamos nossas entradas, a da Fiona e a permissão para acamparmos. Preço bem salgado, para falar a verdade.
Caminhando em trilha no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Chegando às praias ao mesmo tempo em que o sol se punha, na trilha através do Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
O Parque Nacional Tayrona é um dos mais populares do país, com mais de 200 mil visitantes por ano. Só perde para o parque Isla Rosario, aquela que visitamos perto da Playa Blanca e Cartagena. Ele cobre uma área do litoral e outra de montanha, já aos pés da Sierra Nevada. Tem uma rica fauna e flora, tanto terrestre como marinha, abrigando várias espécies endêmicas únicas e em risco de extinção. Mas o maior atrativo para os milhares de turistas é mesmo a beleza das paisagens e de suas praias.
Arrecifes, a metade do caminho na nossa trilha no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Caminhando em praia do Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Boa parte desses turistas chega de barco, a maioria vinda de Taganga para day-tours. Outros tantos entram em suas outras entradas, com estradas que acessam pequenas praias e baías. Apenas uma pequena porcentagem se dispõe a fazer a trilha que decidimos fazer, de cerca de 8 quilômetros, e que leva até o Cabo San Juan, uma das mais belas paisagens de Tayrona. De qualquer maneira, uma pequena porcentagem de um grande número, como 200 mil pessoas, continua a ser um número relevante. Isso quer dizer que a trilha é bastante movimentada.
Metade da trilha e o céu já ficava escuro durante caminhada no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Lua cheia ilumina o mar em Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Fazendo nosso jantar no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Com tanta procura assim, eles podem se dar ao luxo de enfiar a faca. Nós pagamos cerca de 65 dólares, que cobria o estacionamento da Fiona por dois dias, nossas entradas e o direito de acampar por lá. Além disso, já no acampamento, pagamos pouco menos de 10 dólares por pessoa. Se ficássemos mais noites, só teríamos de pagar esses 10 dólares novamente, por cada dia, além do estacionamento da Fiona. Enfim, bem caro! Ficaria mais barato, na média, se ficássemos mais dias...
Bem cedinho, nosso acampamento no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Nossa barraca em cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Enfim, passamos pela portaria, dirigimos mais cinco quilômetros e deixamos a Fiona no estacionamento. A partir daí, era com as nossas pernas. Mas antes da caminhada, ainda demoramos uma meia hora em preparações, de roupas à comida, barraca e mochilas. Uma maior para mim e uma pequena para a Ana. Era o final de tarde quando botamos o pé na trilha.
Acampamento no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
A linda praia no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Para os preguiçosos, há a opção de alugar um cavalo para levar a bagagem. Quando passamos pelas pessoas que vendem esse serviço, até estranharam que alguém começasse a trilha a esta hora, o sol já se aproximando do horizonte. Afinal, pelo menos em teoria, seria uma hora até a praia de Arrecifes, a metade do nosso caminho planejado e primeiro ponto onde se pode acampar. Mal sabiam eles que éramos mais ambiciosos e que queríamos ir até o Cabo San Juan, a duas horas de caminhada.
A praia no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia. À direira, o quiosque em posição privilegiada onde se armam redes para dormir
A praia no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia. À direira, o quiosque em posição privilegiada onde se armam redes para dormir
A vantagem de se caminhar a esta hora é que não havia mais ninguém na trilha, exceto umas poucas pessoas que chegavam de volta ao estacionamento, e também para fugir do forte calor que faz durante o dia. Saímos animados e dispostos a aproveitar cada segundo do pouco de luz do sol que restava. Há algumas poucas subidas e descidas no trecho de mata da trilha, mas nada que assuste. Em ritmo acelerado, chegamos ao trecho de mar, a parte mais bonita da trilha. As praias são convidativas, mas o banho é proibido. O mar é traiçoeiro e, dizem as placas, já matou mais de cem incautos. Sem acreditar muito nos números e fã de mar que sou, a tentação de entrar foi grande. Mas a falta de juízo foi substituída pela pressa em continuar, dado o adiantado da hora. Mas, foi de partir o coração, aquele marzão lindo nos chamando...
O mar revolto do Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Chegamos à praia de Arrecifes (a tal metade do caminho) com quarenta minutos de caminhada e muitas paradas para fotos. Agora já não havia mais sol, restando um céu colorido de vermelho para iluminar nosso caminho. Muita gente acampada por lá, mas nós queríamos continuar. Pelo menos no Cabo, o banho de mar é permitido! Mantivemos o passo forte até que, já no escuro, tivemos de recorrer às nossas lanternas. Um pouco depois, chegamos ao destino final, o Cabo San Juan.
A tranquila e bela baía do Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Redes armadas no quiosque sobre a península, em Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Ali, achamos um bom lugar para armar nossa barraca, em meio a outras cinquenta que já estavam por ali. Depois, banho noturno de mar, iluminados por uma linda lua cheia. Finalmente, hora de fazer o jantar (macarrão, claro!), aproveitando a estrutura que já existe por ali, mas com o nosso fogareiro. Até encontramos outro brasileiro, que está viajando com um amigo sul-africano. Sinal de que estamos cada vez mais pertos da terrinha!
Uma bonita lagoa no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Atravessando lago em Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
A noite foi dureza. Nossa barraca americana foi feita para climas mais amenos. Aqui nos trópicos, passamos um calor danado! Eram pouco depois das seis da manhã e já estávamos de pé, fora da barraca e em busca de um pouco de vento!
A linda praia no Cabo San Juan, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Foi só aí que pudemos começar a admirar a beleza do lugar. Uma pequena baía se forma ali, o mar revolto ficando do lado de fora. É por isso que o banho é permitido por lá. Na verdade, são duas pequenas baías, separadas por uma estreita península. No topo do rochedo que há na península, um quiosque em lugar privilegiado, tanto pela vista como pelo frescor constante trazido pela brisa que não para. Ali se armam as redes da “diretoria”, quem quer pagar uns dólares a mais para ter uma noite mais agradável. Do lado de baixo, na área de acampamento, também há galpões para se armar uma rede, por um preço mais econômico. A julgar por essa única noite que passamos, passa melhor quem está dormindo em rede do que em barraca.
A paisagem grandiosa do Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Passamos o resto da manhã e início da tarde por ali, ora nadando, ora caminhando e explorando. Além das duas pequenas praias, pode-se caminhar até outra, um pouco mais distante. É a praia dos nudistas, embora quase não houvesse pessoas por lá. Linda e de aspecto selvagem, toda cercada de matas e montanhas.
Caminho de volta no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
De volta à área de acampamento, encontramos mais brasileiros, dessa vez jovens irmãos curitibanos. Viajando com os pais para Cartagena, eles conseguiram um tempinho e correram para cá. Por coincidência, armaram sua barraca ao lado da nossa! Mundinho pequeno, hein!
Caminhando na praia de Arrecifes, metade daminho para o início da trilha, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Mas nós já estávamos de saída. Dessa vez, com ajuda da luz do dia, pudemos aproveitar toda a paisagem da volta, matas, lagos, pequenos rios, grandes rochedos, praias selvagens, enfim, uma natureza exuberante e que atrai tantos visitantes.
Caminhando na praia de Arrecifes, metade daminho para o início da trilha, no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Com paciência, chegamos de volta à Fiona e pegamos estrada novamente. Outra vez, no escuro (estamos ficando craques nisso, aqui na Colômbia), fomos até Riochacha, na entrada da Península La Guajira, nossa última parada aqui no país, um lugar de que nunca tínhamos ouvido falar até bem pouco tempo, mas que promete paisagens sensacionais. Mas isso já é outra história...
Belas paisagens no Parque Nacional Tayrona, no litoral norte da Colômbia
Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Ninguém sabe ao certo quando as primeiras pessoas chegaram ao Havaí. Teria sido entre o ano 500 e o ano 1.000, navegadores vindos das Ilhas Marquesas ou do Taiti. Também não se sabe se vieram em apenas uma expedição, em uma onda contínua que teria durado algumas gerações, ou em ondas distintas, inclusive de origens diferentes. Vestígios arqueológicos, estudos linguísticos, tradições orais e até análises de DNA ainda não permitiram resolver esse longo mistério definitivamente. A única coisa de que se tem certeza é: eram polinésios!
Painel informativo com a cultura polinésia do Taití, em exposição no Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Esse povo se originou no sudeste asiático há cerca de 5 mil anos. Abandonaram o continente e passaram a colonizar as ilhas do Oceano Pacífico. No início, navegavam apenas entre as ilhas mais próximas. Mas as gerações foram passando, as técnicas de navegação melhorando e os saltos entre as ilhas se tornando maiores. Com suas canoas duplas, movidas a remo e uma vela rudimentar, capazes de transportar mais de cinquenta pessoas, os polinésios foram descobrindo e ocupando todas as ilhas do Pacífico, chegando até o Havaí, no norte, a Nova Zelândia, no sul, e à Ilha de Páscoa, no oeste.
Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Basta olharmos um mapa para compreendermos o tamanho dessa empreitada. É absolutamente impressionante que essas pessoas atravessavam, algumas vezes, mais de mil quilômetros de mar aberto para chegar à próxima ilha. Sem bússolas, GPS, motor ou astrolábio.
Painel informativo com a cultura polinésia de Fiji, em exposição no Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
É um feito sem precedentes na história da humanidade. Aquilo que mais se compara a isso foi a ocupação das ilhas caribenhas por povos saídos da Venezuela. Mas as maiores distâncias entre ilhas caribenhas parecem brincadeira de criança quando comparadas aos milhares de quilômetros para chegar ao Havaí ou Ilha de Páscoa. Outra boa medida é pensar que os aborígenes australianos já estavam por lá há 40 mil anos e nunca chegaram à Nova Zelândia cujo povo, os maoris, também são de origem polinésia.
Visita ao Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Quando uma ilha era ocupada e a população crescia demais, talvez três ou quatro gerações mais tarde, era o momento de seguir em frente. Vegetação boiando pelo mar afora, pássaros ou correntes marítimas davam a pista de para onde seguir. Conhecimento náutico obtido através de gerações era o instrumento em que se fiavam. Mesmo assim, imagino que vários barcos migratórios remavam, remavam e não chegavam a lugar nenhum. Literalmente, davam com os burros n’água. Mas outros chegavam, carregando consigo o embrião de uma nova sociedade, com líderes, religiosos, agricultores, guerreiros, mulheres e crianças. Levavam também os vegetais que costumavam plantar e comer e animais como porcos e galinhas. As expedições eram autônomas para criar do zero uma nova nação. Para ilhas mais próximas, um contato intenso era mantido com a ilha de onde haviam saído. Mas para lugares como o Havaí ou Ilha de Páscoa, pouco ou nenhum contato posterior era mantido, duas culturas que passavam a divergir pelo tempo afora.
Paineis informativos das culturas polinésias de diversas ilhas do Pacífico, em exposição no Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Na costa norte de Oahu existe um lugar onde se pode aprender sobre todas essas diferentes variações desenvolvidas através de centenas ou milhares de anos, da cultura polinésia. Nós chegamos lá meio tarde demais e pudemos ficar apenas na área onde estão vários painéis informativos. Para mim, já foi ótimo. Dados culturais, históricos e geográficos de lugares como o Taiti, Fiji, Havaí, entre outros. Se tivéssemos chegado mais cedo, o lugar é uma espécie de disneylandia cultural, com restaurantes, danças típicas, artesanato, muitas lojas e um preço meio salgado. Não é muito meu estilo (nem a Disneylandia original me atrai...), mas a parte histórica, essa sim.
As migrações polinésias pelas ilhas do Pacífico. Teriam chegado à América?
Aliás, aqui aprendi uma outra coisa: existe uma teoria de que os polinésios teriam chegado ainda mais longe. Até a América do Sul, ao Chile talvez. Apenas mais uma teoria da ocupação das Américas, concorrente daquela que afirma que os pré-colombianos teriam vindos todos pelo Alaska. Será? Bom, quando o Capitão Cook chegou ao Havaí, um dos alimentos mais comuns no arquipélago era a batata-doce. Mas a batata-doce, qualquer botânico saberá dizer, é originária da América. Como será que ela chegou ao Havaí? Pois é, esses polinésios eram mesmo admiráveis...
Visita ao Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Felizes da vida com o dia de sol e a beleza da paisagem a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
O dia hoje realmente estava lindo. Céu azul e sol radiante, o que aqui na Geórgia do Sul significa algo próximo dos 10 graus. Quando não está ventando, claro! Depois da maravilhosa manhã remando e caminhando pela pitoresca Ocean Harbour, era hora de voltarmos ao Sea Spirit e navegarmos um pouco mais adiante nesse nosso cruzeiro pela costa norte da ilha. Ainda tínhamos o programa da tarde, um desembarque em St Andrews Bay, local da maior colônia do mundo de pinguins rei.
Passageiros a caminho do Sea Spirit em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Voltando para o Sea Spirit após passar a manhã em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Então, que assim seja. Todos de volta ao nosso barco cruzando uma última vez as águas calmas de Ocean Harbour a bordo dos velozes zodiacs. Quase todos na tradicional jaqueta amarela e o pequeno grupo dos “caiaquistas” na roupa fashion a lá Top Gun. Depois, chegando no Sea Spirit, nada de distinção: todos limpando muito bem as botas de borracha na pequena piscina de água tratada que mata 98% das bactérias. Depois, direto para nossas cabines para trocar de roupa e ficarmos prontos para o almoço, já em tempo de ser servido.
O Sea Spirit em St Andrews Bay, na Geórgia do Sul. Aí se vê bem o deck onde abordamos os zodiacs (1), o deck principal onde está o nosso quarto e os zodiacs são guardados(2), o deck da sala de estar e do bar(3) e o deck da piscina (4)
Em dia de céu aberto a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul, almoço no deck externo do Sea Spirit
Com o céu azul que tínhamos hoje, muita gente optou por almoçar ao ar livre, lá no último andar, onde também fica a piscina. Assim, comemos e ao mesmo tempo, admiramos a paisagem exuberante da ilha, enquanto navegamos para St Andrews. Essa será nossa penúltima chance de desembarque aqui na Geórgia do Sul. Amanhã pela manhã teremos mais uma oportunidade, inclusive com nova chance para caiaque, se as condições do mar permitirem. Depois, de tarde, vamos navegar pelo mais profundo fiorde da Geórgia do Sul, mas sem desembarques. Vai ser apenas para apreciarmos o visual da paisagem, com dezenas de geleiras que desembocam no tal fiorde. Depois, marcha a ré até mar aberto novamente e aí, direto para o sul, rumo a Antártida.
Nosso roteiro e pontos de parada na Geórgia do Sul
As maiores montanhas da Geórgia do Sul, vistas do Sea Spirit a caminho de St Andrews Bay
Obervando a paisagem grandiosa a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Temos então de aproveitar ao máximo o tempo que nos resta nessa ilha incrível. E essa navegação entre Ocean Harbour e St Andrews foi ótima para isso. Pudemos ver as maiores montanhas da Geórgia do Sul em todo o seu esplendor, aproveitando o dia limpo. Oportunidade imperdível para fotos também. Principalmente por que o mar estava calmo e sem ondas, um verdadeiro “mar de almirante”.
A bordo do Sea Spirit, com muito sol e uma paisagem magnífica a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Felizes da vida com o dia de sol e a beleza da paisagem a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Depois, um drinque com nosso grande amigo Gunar, nosso companheiro brasileiro no navio e uma verdadeira inspiração para nossas viagens, já que ele sempre nos contar de todos os pedaços do mundo que ele já conhece.
Junto com o brasileiro Gunar, na sala de estar do Sea Spirit. AO fundo, a biblioteca do navio (em St Andrews Bay, na Geórgia do Sul)
A enorme geleira em St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Por fim, chegamos à famosa St. Andrews Bay. Aqui de longe, já dá para ver que há açgo de “estranho” na longa praia. Algo parecido com ver Copacabana num domingo de sol bem de longe. A gente sabe que a praia está cheia, mas não dá para ver bem do quê. Mas as semelhanças para aí, na praia. Por que, atrás da praia, nada de prédios ou morros verdejantes. Montanhas, há sim, mas brancas e muito mais altas. E também uma enorme geleira, a Ross Glacier. Enorme hoje, mas menor do que ontem. Ela é mais um exemplo de geleiras que estão retrocedendo aqui na Geórgia do Sul. Enfim, é para lá que vamos em seguida. Nossa última chance de ver pinguins rei. E algo me diz que vai dar para matar a vontade...
St Andrews Bay, na Geórgia do Sul, local da maior colônia de pinguins rei do mundo
Chegando à Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Talvez, o mais tradicional passeio para quem vem à Cusco, além da imperdível visita à Muchu Picchu, seja o tour pelo chamado Valle Sagrado de los Incas. Era justamente essa região a principal produtora de grãos e principalmente milho do império, aproveitando as excelentes condições de clima e relevo desse vale cujo principal rio é o Urubamba. Já naquela época o rio era considerado sagrado (Willkamayu, ou “rio sagrado” em Quechua, a língua dos incas). Já para nós, brasileiros, visitar o vale do Urubamba é sentir-se um pouco em casa, já que o rio é um dos maiores afluentes formadores do rio Amazonas.
Nosso caminho pelo Valle Sagrado dos Incas: De Cusco (A) para Pisac (B). De lá para as Salinas de Maras (C) e as ruínas de Moray (D). Finalmente, já de noite, rumo à Ollantaytambo (F), via Urubamba (E)
Ao longo do vale, a cerca de meia hora de Cusco, estão numerosas atrações e ruínas incas. Entre elas, destacam-se o povoado de Pisac, com seu tradicional mercado de artesanato e produtos agrícolas, e Ollantaytambo, com as ruínas de uma antiga fortaleza inca, ponto da mais importante vitória militar contra os invasores espanhóis e local onde hoje a maioria dos turistas pega o trem em direção à Machu Picchu. Mas há muito mais do que isso no vale e, para quem tiver tempo, poderão ser vários dias de explorações num ambiente bucólico e de incrível beleza.
A famosa e bela paisagem do Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Garoto e lhamas posam para fotos em mirante do Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Todas as agências em Cusco oferecem tours ao Valle Sagrado e já era assim há 23 anos, quando estive na cidade pela primeira (e última!) vez. Quase todos são tours de apenas um dia, o que é muito pouco para ver tanta coisa. Mas, na pressa de se chegar à Machu Picchu, é o que fazem quase todos os turistas, infelizmente. Eu não fui exceção, principalmente pelos dias contados que tínhamos para ver Bolívia, Peru e voltar ao Brasil pelo Amazonas, tudo isso nas férias universitárias de Julho. Dentro daquela corrida, fazia sentido. Mas, hoje sei que pouco vi dessa região tão bela.
O Gustavo segura um fillhote de lhama no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
O garoto e as lhamas: foto típica no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
A vantagem do tour é a facilidade de transporte. Com as vans de turistas, fica muito mais fácil fazer esse looping de estradas e voltar á Cusco. Mas, insisto, para quem tem um pouco de tempo e vontade de explorar, é muito mais interessante pegar um ônibus para Pisac e dormir por lá mesmo. Ou então, investir num aluguel de carro por uns 2-3 dias. Para nós, que temos a benção de estar com a Fiona, fica tudo ainda mais fácil!
Pisac e as ruínas incas que sobem toda a montanha, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Dia de festa na Plaza de Armas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Saímos de Cusco mais tarde que o planejado (claro!) e o primeiro destino era Pisac. O caminho para lá já é uma pintura, primeiro na saída de Cusco, tendo várias chances de ver e fotografar a cidade de cima, e depois chegando ao Valle Sagrado. Na estrada há vários mirantes, cada um deles o preferido de alguma das inúmeras agências de turismo para pararem suas van. Na verdade, todas tem razão, pois a vista é igualmente (e diferentemente!) maravilhosa, o vale todo cultivado, cercado de montanhas e com o rio azul correndo em seu interior. Parece um quadro!
Garoto se diverte durante festa na cidade de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Visita ao famoso Mercado de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Em cada um dos mirantes, cholas (as moradoras indígenas do altiplano com sua vestimenta característica) se posicionam estrategicamente, sempre com suas lhamas e alguma criança, um convite às fotos “típicas”, com a companhia mais peruana possível e a paisagem de cinema ao fundo. Lá estavam há 23 anos, quando saquei ótimas fotos (pergunto-me por onde andará aquele bebê que apareceu naquelas fotos...) e lá estavam hoje. É claro que não resistimos as tais fotos típicas, sempre deixando alguns soles por cada foto. Mas, sinceramente, valem a pena!
As incríveis ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Subindo a íngrime montanha onde estão as ruínas incas de Pisac, Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Depois dos mirantes, lá está a pequena Pisac. A cidade é conhecida por seu mercado de artesanato e produtos agrícolas. Em Cusco, é vendido como o mais tradicional do país, mas já acabou virando algo bem turístico. Normalmente, por aqui param as vans de turismo, para uma ou duas horas de explorações e seguem em frente, rumo à próxima atração do vale. Mas nós tínhamos algo mais em mente, além do mercado.
Subindo a íngrime montanha onde estão as ruínas incas de Pisac, Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Explorando as ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
De qualquer maneira, começamos por ali mesmo. Hoje, excepcionalmente, ele não ocupava a Plaza de Armas, onde havia uma grande festa cívica. Estava nas ruas ao redor, movimentado como sempre. Na própria praça, vários restaurantes e hotéis simpáticos. Seria uma delícia dormir por ali mesmo, ver a cidade no fim de tarde, já sem turistas e muito mais tranquila. Mas já estamos com hotel marcado para Ollantaytambo, de onde seguiremos para Machu Picchu. Sem espaço para mudança de planos.
Quase no alto das ruínas incas de Pisac, observando a cidade e o Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Vista do alto das ruínas, a lotada Plaza de Armas de Pisac, em dia de festa, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Bem, não poderíamos dormir por ali, mas tínhamos tempo suficiente para nossas explorações além-mercado. A outra grande atração da cidade, frequentemente deixada de lado, são as ruínas incas espalhadas por uma montanha ao lado de Pisac. Ali já houve uma movimentada vila inca, fortaleza, templos e caminhos com mais de 500 anos de idade.
Ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
A valente menina que subiu até o alto das ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Para os que se aventuram por ali, o caminho “normal” é seguir de carro até a parte alta do parque arqueológico e voltar caminhando pela montanha, descendo até a cidade. Mas nós, cheios de energia e meio sem saber direito o quanto teríamos de subir, resolvemos caminhar em sentido contrário mesmo, subindo a montanha. Uns poucos bravos iam no mesmo sentido, incluindo aí uma jovem peruana de uns 8 anos, acompanhada de seu avô. Já a grande maioria das pessoas, cruzamos descendo mesmo, acompanhados de seus guias e em grandes grupos turísticos.
Ruínas da antiga cidade inca de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
A Porta do Sol, nas ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
O caminho não é tão duro quanto parece, principalmente que vamos nos distraindo com a vista que fica cada vez mais bonita. Pisac vai ficando para baixo e nós vamos atingindo templo e antigos monumentos, cruzando terraços agrícolas e nos maravilhando com uma civilização que soube tão bem conviver com as montanhas.
Do alto das ruínas, o Gustavo admira a grandiosidade do Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Ruínas da antiga cidade inca de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Por fim, chegamos à parte mais alta, onde estão as ruínas mais interessantes, como os templos, a Porta do Sol e a antiga vila. A recompensa de nosso esforço para se chegar até lá. Absolutamente fantástico! E olha que só estamos esquentando os motores para o tanto de ruínas incas que nos esperam nos próximos dias. Ao final, estaremos especialistas nessa civilização, hehehe.
Com o Gustavo, nas ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Ruínas da antiga cidade inca de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Por falar em “esquentar os motores”, a caminhada também foi um ótimo teste para a Ana, recém saída de uma doença, e para o Gustavo, ainda se acostumando com a altitude dos Andes. Os dois passaram no teste com louvor e agora, acho que nada mais pode nos impedir de fazer nossa caminhada para Choquequirao. A ansiedade é cada vez maior!
Visitando as ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Explorando as ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Bem, nós chegamos lá encima e ficamos imaginando a possibilidade de voltar pela estrada mesmo, talvez de carona, talvez alugando bicicletas. Mas bastaram algumas perguntas à guias locais para descobrir que seria muito difícil conseguir a tal carona e que as bicicletas, sem termos combinado nada com alguma agência, seria impossível. Como é que algum empresário local ainda não pensou nisso? Enfim, o caminho foi voltar pela trilha mesmo. Mas agora, para baixo, e com aquela vista maravilhosa à nossa frente, foi um verdadeiro passeio.
Vendedora descansa um pouco durante festa em Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Vendedora descansa um pouco durante festa em Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
De volta á cidade, almoçamos em um dos muitos restaurantes e fotografamos um pouco da cidade e da festa que lá ocorria, celebração de algum dia da pátria. Estava muito animado, um prato cheio para fotografias. Mas ainda tínhamos muito para ver hoje, então teve de ser rapidinho.
Popular meio de transporte nas cidades peruanas, em Pisac, Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Deixamos Pisac para trás, uma cidade que me encantou muito mais dessa vez, agora que tive muito mais tempo e liberdade para ir aonde queria. Da próxima vez, vou gostar ainda mais, pois vou me programar para dormir por ali. A cidade merece. Enfim, pé na estrada, agora rumo às salinas de Maras, outro destino que costuma escapar dos tours de um dia pelo vale. Dica valiosa da nossa amiga, madrinha e companheira de viagens Laura, que esteve no Peru há poucos meses.
1000dias em visita às incríveis ruínas incas de Pisac, no Valle Sagrado, nas proximidades de Cusco, no Peru
Caminhando em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Enquanto almoçávamos, o Sea Spirit nos levou mais alguns quilômetros para leste, até o nosso próximo ponto de desembarque. Era a ilha de Carcass Island e a nossa digestão seria feita com uma caminhada de pouco mais de três quilômetros através das praias e colinas verdejantes dessa bela ilha também localizada no noroeste do arquipélago das Malvinas.
A praia de Dyke Bay, em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
A praia de Dyke Bay, em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Esse estranho nome, “Carcass”, assim como o nome do grupo de ilhas onde havíamos estado pela manhã, “Jason”, não tem nenhuma razão mais profunda de ser. Simplesmente, eram os nomes dos navios onde estavam os primeiros exploradores dessas respectivas ilhas. Nada de carcaça de baleia ou, quem sabe, o Jason da série de filmes “Sexta-feira 13”. Apesar do que, é bem capaz que muitas carcaças de baleia tenham mesmo vindo parar aqui nas praias de Carcass Island, no tempo em que esse magnífico mamífero aquático nadava por essas águas aos milhares, antes da caça desenfreada do século passado que quase os levou à extinção. Hoje em dia, as carcaças que vimos por ali não passavam de pequenos gansos ou ovelhas...
Caminhando na praia de Dyke Bay, em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Dyke Bay, em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Enfim, a ideia era os zodiacs nos deixarem em uma praia da ilha e nos pegarem bem mais adiante, enquanto a gente fazia o caminho por terra. O ponto de encontro era outra baía, onde está localizada a sede da fazenda de Rob e Lorraine McGill, os atuais donos de toda a ilha. Além de fazendeiros, eles também promovem o turismo na ilha e tem até uma pequena pousada rural no local. Apesar da criação de ovelhas, que já estão na ilha há mais de um século, práticas cuidadosas preservaram o rico meio ambiente de Carcass Island. Por exemplo, não há gatos, cães ou ratos na ilha, o que torna a vida dos pássaros bem menos complicada. Carcass Island é o lar de várias espécies de gansos e pequenos pássaros autóctones, além de ser bastante frequentada por pinguins de Magalhães. Essa é a espécie mais numerosa de pinguins e vivem ao longo de toda a costa sul da América do Sul, chegando mesmo ao Brasil. Sim, são eles que, quando se perdem, acabam indo parar em praias do Rio de Janeiro como Arraial do Cabo ou Búzios.
Caminhando em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Passageiros do Sea Spirit caminham em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Bom, os zodiacs nos deixaram em uma praia chamada Dyke Bay, no sudeste de Carcass Island. Por incrível que pareça, a praia tinha quase um aspecto caribenho, com areias bem brancas e águas azuis, mesmo com o dia nublado. Quem sabe se o sol estivesse brilhando a gente até não animasse a dar um mergulho? Quer dizer, essa vontade iria até encostarmos o pé na água gelada. Se bem que, aparentemente, ao lado de Port Stanley (a capital de Falkland – vamos para lá amanhã!), há sim uma praia onde gente louca costuma dar um mergulho rápido no verão...
Um pássaro em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Um casal de gansos observa o movimento de turistas em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Começamos a caminhar pela praia mesmo, algumas pessoas em grupos, outras em casais a alguns apenas com seus botões. A recomendação era apenas tomar o cuidado devido com a vida selvagem no caminho, ninhos e ovos de pássaros e com os buracos no terreno, muitas vezes usados como tocas por pinguins de Magalhães.
Um casal de upland gueese caminha com seus filhotes em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Um casal de upland gueese caminha com seus filhotes em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
A caminhada foi uma delícia. Os pinguins, só os vimos de longe, refugiados em uma pequena baía onde não descemos. Em compensação, vimos uma miríade de outros pássaros, o Jim sempre muito empolgado em descrevê-los, principalmente àqueles que só são encontrados aqui, neste arquipélago isolado do mundo.
Caminhando em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Passageiros do Sea Spirit caminham em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Para mim, o mais interessantes foram os gansos da espécie “Upland”. Os machos tem uma tonalidade mais clara, enquanto as fêmeas são marrons. Eles formam casais apaixonados e caminham juntos pela ilha, principalmente quando tem filhotes. É lindo ver a família toda caminhado junta, mãe e pai nas extremidades, protegendo os filhos. Cena de desenho animado! Só que era verdade, bem na frente dos nossos olhos. Precavidamente, eles observavam os estranhos “pinguins amarelos” (nós!) caminhando em seu território. A esta altura, já devem estar acostumados com turistas, mas é sempre bom ter um pouco de cuidado!
Chegando à fazenda de Rob e Lorraine McGill em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Uma espécie invasora, flores amarelas embelezam a paisagem de Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Falando na cor amarela, nós não éramos os únicos por ali. Ao longo dos últimos séculos, não apenas espécies animais foram introduzidas nessas ilhas, mas também muitas plantas. Uma delas, vinda diretamente da Escócia, produz uma marcante flor amarela e elas se deram muito bem no clima e condições de Carcass island. Conforme íamos nos aproximando da sede da fazenda, até parecia que estávamos num grande jardim. São plantas “alienígenas”, mas é inegável que sejam belas!
Muito vento em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Muito vento em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Quem também é “alienígena” por aqui são as árvores. Elas não existiam nas Malvinas antes dos europeus chegarem aqui. Hoje já não é mais assim, apesar de não conseguirem se desenvolver sem a ajuda do homem. Existe apenas um pequeno bosque em West Falkland, além de árvores individuais em Port Stanley e outras pequenas vilas espalhadas pelo arquipélago. Aqui em Carcass Island também há, especialmente perto da sede da fazenda.
Rob e Lorraine McGill nos recebem com muitos quitutes em sua casa em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Recebidos com doces e guloseimas na casa de Rob e Lorraine McGill, em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Pois é, nós chegamos a tal fazenda e fomos recebidos animadamente pelos proprietários, que nos esperavam com uma mesa repleta de quitutes e guloseimas. Nada de pão de queijo ou empanadas, claro, afinal a influência é inglesa. Eram bolos, tortas e assemelhados, para a alegria da mulherada.
Recebidos com doces e guloseimas na casa de Rob e Lorraine McGill, em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Lorraine se despede de nós na sua casa em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Foi ao mesmo tempo estranho e reconfortante, uma casa aconchegante naquele lugar perdido no mundo. Depois do vento frio ao longo de toda a caminhada, o calor lá de dentro fez bem para o corpo e para a alma. Fiquei até com vontade de passar uns dias no pequeno lodge que eles têm por lá, mas é claro que isso não era possível agora. O Sea Spirit já ia partir e tínhamos todos de nos dirigir a baía onde nos esperavam os zodiacs. Mas primeiro nos refestelamos nas guloseimas, claro. Depois, de novo a enfrentar o vento frio e constante que assola esse arquipélago até chegamos de volta à segurança do nosso navio. Enquanto íamos nos distrair no bar do navio, ele já se dirigia a nossa próxima parada: Port Stanley.
A fazenda de Rob e Lorraine McGill em Carcass Island, no noroeste das Ilhas Malvinas
Placa do Parque Nacional de Awala Yalimapo, na Guiana Francesa
Apesar da longa costa, a Guiana Francesa quase não tem praias. Em plena região amazônica, com rios bem caudalosos, o mangue e o barro ocupam o lugar da areia em boa parte do litoral. Mesmo nas Îles de Salut, o que vimos foram pedras e uma costa rochosa.
Bom, elas podem ser raras, mas existem. No suburbio de Cayenne, por exemplo, onde fomos jantar na segunda-feira, tem uma praia bonitinha. Mas, com a chuva, nem deu para passear por lá. Em Kourou também tem. Mas as fotos não nos animaram.
Rio Mana, na Guiana Francesa
Deixamos nossa visita praiana para hoje, já quase na fronteira com o Suriname. O nome da praia e da vila é Yalimopo e ela é um paraíso dos admiradores de tartarugas. Nossa, o pressoal do TAMAR, por aqui, ficaria louco! Numa pequena extensão de areia, uns poucos quilômetros, são cerca de 13 mil visitas de tartaruga por ano! Para quem vem na época de maior movimento, a visão parace ser a de um desembarque de tanques na praia durante uma batalha!
Igreja em Mana, na Guiana Francesa
Nós saímos um pouco antes do meio dia de Kourou, após uma longa e merecida noite de sono e uma manhã de trabalho confortável no quarto do hotel. A estrada é ao longo da costa, em direção ao oeste, mas nunca vemos o mar. Pela primeira vez aqui na Guiana, pudemos observar algumas plantações e criação de gado. Cinquenta quilômetros antes do rio que separa a Guiana do Suriname, a estrada se bifurca. Um lado segue ligeiramente para o interior, para a cidade de Saint Laurent, onde um ferry cruza para o país vizinho. O outro lado segue pela costa, passando pela pequena cidade de Mana, ao lado de um belo rio com o mesmo nome, e de lá vai até a pontinha do país, onde o rio Maroni encontra o mar. É onde está a praia que buscávamos e de onde observamos o Suriname pela primeira vez.
Caminhando na praia de Yalimapo, região de Mana, na Guiana Francesa, fronteira com Suriname
A gente se instalou no Chez Judith & Denis, um pequeno hotel que oferece cabanas no estilo ameríndio com redes para dormir. Quase um acampamento. Bem pitoresco e com cara de Guiana, diferentemente dos hotéis que vínhamos ficando. Fomos logo para a estreita praia de areias vermelhas, o mar com muito mais cara de rio do que de mar, inclusive com água salobra, mais para doce do que para salgada.
Nadando no rio Maroni, fronteira com o Suriname, em Yalimapo, região de Mana, na Guiana Francesa
O que mantém a praia são os dois grandes rios da região, o Mana e o Maroni. Realmente, a areia é mais fluvial do que marinha. As tartarugas parecem gostar! Falando nelas, são de hábito noturno e sua estação se inicia por agora. De noite, com uma lanterna quase sem pilhas, fomos procurá-las. O início da busca foi promissor! Vários rastros e também restos de ovos recém-abertos. Mas a luz da lanterna ameçava acabar e a chuva, sempre a chuva, ameaçava.
Nosso "quarto", típica habitação ameríndia, em Yalimapo, região de Mana, na Guiana Francesa
Voltamos para o nossa cabana e redes com mosquiteiros bem à tempo de evitar o pé d'água. Aí, ao invés de tartarugas, a gente se divertiu com o vinho bom e barato, nacional (francês!) que temos sempre comprado por aqui. Com cinco euros, temos sempre um bom vinho! Acho que é a única coisa barata na Guiana Francesa...
Nossas redes com mosquiteiras, em Yalimapo, região de Mana, na Guiana Francesa
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