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O nosso táxi chegou exatamente na hora marcada, às 11 da manhã. Foi ta...
Todo mundo sabe que o Everest é a maior montanha do mundo. Mas... será ...
Hoje não teve desculpa(s): enfrentamos a Trilha do Bonete! E que belo pr...
Lucas Eduardo (24/08)
Oi, tudo bem?? Quero voltar pro Pará novamente e conhecer a Ilha de Mara...
Helder Ribeiro (14/08)
Opa, boa explicação, Rodrigo! Nunca tinha prestado atenção no esquema...
Vinicius (12/08)
Essa é minha terra Aracaju-Sergipe, não há muito o que se ver nesse es...
Nelson Duarte dos Santos (08/08)
Teve um pequeno erro matemático na conta das mortes, 40.000 pessoas em 4...
Jonas B E Santo (06/08)
Oi sempre passo para dar uma olhadinha em seu blog e os comentários que ...
Um gigantesco elefante-marinho macho e a pequena fêmea ao seu lado, na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Depois de conhecer a baía de Ocean Harbour de dentro d’água, era hora de conhecê-la por terra. Como todas as baías dessa ilha, há uma pequena planície que circunda a praia e que é ardorosamente disputada por diferentes espécies de animais. Um pouco mais além, montanhas e geleiras quase intransponíveis, um terreno que é inabitável, tanto para nós como para eles, essas mesmas espécies que disputam o terreno ao lado da praia.
O magnífico cenário de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Hora de deixar a belíssima baía de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul, para trás
É por isso que a Geórgia do Sul, apesar de ser apenas uma ilha, na prática se comporta como se fossem várias delas. Cada baía, uma terra isolada, uma outra “ilha”. Para ir de uma praia a outra, de uma “ilha” a outra, só voando ou nadando. Animais que não sabem fazer nem uma coisa ou outra estão fadados a ficar sempre na mesma área da Geórgia do Sul. Aliás, é por isso também que não se desenvolveram ou evoluíram animais terrestres na Geórgia. Falta de espaço de evolução! Essa era a regra até a chegada do bicho-homem que, como todos sabemos, não é muito ligado nessa história de “regras da natureza”. Por isso, com ele trouxe vários animais terrestres que não eram (ou são) naturais da ilha. Assim como fez em todas as ilhas que conheceu ao longo dos últimos 50 mil anos de história.
Um lobo- marinho na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul. No fundo, o naufrágio do Bayard
Filhotes de elefante-marinho na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Bem, os primeiros animais que vimos ao pisar em terra firme foram os mesmos que já havíamos visto desde nosso caiaque e também os mesmos que temos visto nas outras baías da Geórgia do Sul: lobos e elefantes-marinhos e os pássaros, como pinguins, skuas, gansos, gaivotas, shags e albatrozes. Enfim, a fauna natural da ilha. Depois, apurando mais os olhos, apareceu a fauna exótica. Mas antes de falar dela, quero falar da fauna “natural”, pois mesmo ela vimos em situações distintas das que vínhamos vendo até agora.
Um prion coleta material para fazer o seu ninho em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
O verdadeiro jardim em que se transformou o naufrágio Bayard, em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
A começar pelos shags imperiais, aquele pássaro com barriga branca e costas negras, mas que são diferentes dos pinguins porque sabem voar muito bem. A gente logo os reconhece pelas sobrancelhas amarelas e a mancha azul ao redor dos olhos. Pois bem, por aqui eles não fazem seus ninhos em rochedos, como nas outras baías que visitamos, mas no grande barco enferrujado e encalhado no meio da baía há mais de 100 anos, o Bayard. Já os tínhamos visto e fotografado do nosso caiaque, uma hora antes, mas foi em terra que descobrimos uma coisa. Ele pode até fazer seus ninhos no Bayard, mas o material de construção não está no navio, mas em terra. Então, ele voa para cá, junta alguns gravetos com seu bico e voa para lá, para seguir com a “obra”. Isso explica também o verdadeiro jardim em que se transformou o convés do antigo navio. É a fauna dando uma mãozinha para a flora!
Grupo de pinguins rei em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Grupo de pinguins rei em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Dos shags construtores para os pinguins. Sim, claro, já estamos até cansados de ver essa simpática ave nadadora em todas as baías que paramos. Aqui foi igual, pequenos grupos de pinguins rei (aqueles com as manchas amarelas) no gramado tomando um sol para variar. Belos como sempre. Havia também grupos de gentoo (aqueles mais “tradicionais”, apenas preto e branco). Embora com menos frequência, também já tínhamos visto os dois tipos de pinguim no mesmo lugar, mas nunca tão próximos.
Pinguins das espécies gentoo e rei parecem discutir na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Melissa Bartlett)
Pois é, dessa vez, conseguimos ver algo que já queria ver faz tempo: pinguins de espécies diferentes interagindo. Custou, mas conseguimos! Dois deles acabaram se cruzando, mas não sei se gostaram muito disso não. Pelo menos visualmente, parece até que discutiram. Pois é, isso levanta a outra questão que me tem “atormentado”. Será que falam a mesma língua? Alguém vai saber me responder essa questão?
Lobo-marinho observa praia lotada de elefantes-marinho em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Lobo-marinho observa elefantes-marinho na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Dos pássaros para os mamíferos. Temos visto lobos-marinhos por todos os lugares. Essa é a época de chegarem às suas praias preferidas e estabelecer um território para poder receber suas pretendentes. Lutam, literalmente, com unhas e dentes por esse território, seu mais valioso ativo e “atrativo sexual”. O problema para eles é que, nesse ano, aparentemente a estação dos elefantes-marinhos atrasou e, quando eles chegam às praias, além de lidar com seus adversários da mesma espécie, ainda tem de lidar com os “antigos inquilinos” das praias que ainda não foram embora. E contras esses, não têm a menos chance. Um elefante-marinho macho é mais de 10 vezes mais pesado que um lobo-marinho, Assim, há de ter paciência...
Lobo-marinho descansa ao sol em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Lobo-marinho dorme na grama em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Pois bem, aqui em Ocean Harbour os elefantes estão especialmente atrasados. É possível perceber nas feições dos lobos que chegam à praia e veem aquela muvuca de elefantes: “ai ai ai... e agora?”. Sorte daqueles que ainda conseguem um pedacinho... Pelo menos atrás das pedras da praia há um gramado fresquinho e apetitoso, pelo menos nesses dias de sol. Os elefantes preferem a praia mesmo e na grama descansam os lobos nascidos na estação passada e que ainda não foram para o mar em definitivo. Esses podem ainda descansar tranquilamente, pois ainda não se preocupam em procurar namoradas. Como eu disse, num dia ensolarado como hoje, aquela graminha estava mesmo atraente...
Fêmea de elefante-marinho desperta enquanto o macho dorme profundamente na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Um enrugado filhote de elefante-marinho na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Por fim, sobraram os atuais reis da praia, os elefantes-marinhos. Passada a época de maior stress, quando os grandes machos também tinham suas batalhas titânicas por espaço e pelos enormes haréns, hoje reina a tranquilidade. Daqueles grandes confrontos de poucas semanas atrás, sobraram as cicatrizes no rosto dos machos, tanto vencedores como perdedores. O que vemos agora são haréns organizados ao redor de um grande macho, além dos elefantinhos recém-nascidos e dos nascidos há um ano.
Família de elefantes-marinho na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul. O macho é muito maior do que a fêmea
Casal de elefantes-marinho namoram na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Mesmo assim, em família, ainda se vê o “namoro” entre eles. Esses machos de até quatro toneladas são incansáveis, mas sabem ser gentis também. Quando não estão sobre as fêmeas, estão ao lado delas, abraçando-as candidamente. Assim, um ao lado do outro, é quando percebemos claramente a incrível diferença de tamanho entre os dois sexos. As “elefantas”, que são elas mesmas também muito grandes, maiores que os maiores lobos-marinhos, ficam absolutamente minúsculas perto do macho. Haja coragem...
Um elefante-marinho macho não parece se importar com as cicatrizes de antigas batalhas e dorme tranquilamente na praia de Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Noivos felizes durante casamento na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Hoje foi dia de mais um casamento aqui na Ilha do Mel. Não o nosso, já muito bem casados, aqui mesmo, há mais de 5 anos, mas de duas pessoas muito especiais para nós, dos poucos que fariam a gente abrir um parêntesis nos nossos 1000dias, deixar a Fiona lá no estrangeiro e bater de avião para cá. O Rafa e a Laura foram nossos padrinhos de casamento também, já naquele distante 9 de Maio de 2009, e agora nos retribuem a honraria, transformando-nos nos seus padrinhos. Agora sim podemos nos chamar de comadre e compadre!
Preparativos para o casamento da Laura e do Rafa na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Preparativos para o casamento da Laura e do Rafa na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Altar do casamento na praia da Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Pois é, apesar da pressa danada que estamos para viajar até o sul da Patagônia e depois voltar pelo Chile (estamos com dias contados para terminar nossos 1000dias), não tinha como não estarmos aqui, trocando dias preciosos por lá por dias imperdíveis nessa ilha tão importante na nossa história homenageando amigos tão importantes na nossa vida. Os dois quase já haviam se casado lá no Havaí, quando viajamos juntos naquele arquipélago, e agora, finalmente, resolveram oficializar a união que já havia começado em vidas passadas.
Há pouco mais de 5 anos, éramos nós que casávamos na Praia Grande, Ilha do Mel, litoral do Paraná
Em 2009, o Rafa e a Laura foram padrinhos do nosso casamento na Praia Grande, Ilha do Mel, litoral do Paraná
Rafa e Laura, nossos padrinhos de casamento na Praia Grande, ILha do Mel, litoral do Paraná
Mesmo com quase 40 graus de febre, lá estava a Laura na nossa festa de casamento na Praia Grande, Ilha do Mel, litoral do Paraná
Para tornar tudo ainda mais imperdível para nós, eles resolveram se casar na mesma ilha e na mesma praia que nós casamos. Na mesma pousada e no mesmo horário. E não só nos convidaram para ser padrinhos como também para fazer um discurso importante durante a cerimônia. Foi o xeque-mate, teríamos mesmo de vir!
Com os padrinhos Rafa e Laura na praia de Paúba em São Sebastião - SP
Despedida da Laura e Rafa em Itaúnas - ES
Caminhada no Parque Nacional Cajas, na região de Cuenca, no Equador
A Ana já conhecia os dois há mais tempo, da época da faculdade, mas eu os conheci no réveillon de 2006, lá em Bombinhas. Já formavam em belo casal e, desde então, a amizade entre os dois casais só foi estreitando. Várias viagens e mergulhos juntos. Tanto que não titubeamos em convidá-los para serem nossos padrinhos, selando assim nosso vínculo para sempre, gentileza que eles retribuem agora.
Prontos e felizes para o primeiro mergulho em Wolf, em Galápagos
Embarcando no avião que nos levaria de Havana à Nueva Gerona, na Isla de la Juvendud, em Cuba
Rafa e Laura no barco na Isla de la Juventud, em Cuba
Quando começamos nossos 1000dias nos lançando de cara e peito Américas à fora, imaginamos que essa e outras amizades se tornariam mais virtuais. Afinal, estávamos saindo para ficar mais de 3 anos fora de casa, sem endereço fixo.. Mas na verdade, com eles, essa viagem e nossa “ausência” só fez a amizade se fortalecer. Isso porque eles se tornaram nossos mais fiéis seguidores. Não estou falando de seguidores no Facebook ou twitter, não. Estou usando a palavra no seu sentido literal. Eles também são super viajadores acharam o 1000dias a melhor desculpa para viajar pela América. Na fase brasileira da expedição, foram nos encontrar em Maresias, litoral norte de São Paulo, e em Itaúnas, um paraíso praiano no norte do Espírito Santo. Até aí, tudo bem, nem é tão longe assim. Mas eles não se contentaram com isso e trataram de ir nos encontrar também no exterior.
Após o nascer-do-sol, fazendo festa a mais de 3 mil metros de altitude, no cume do vulcão Haleakala, em Maui, no Havaí
A bordo do helicóptero, durante sobrevoo da ilha de Kauai, no Havaí
Delicioso fim de tarde na praia de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Aparentemente, tem uma queda por ilhas, esse casal. Tanto que não deixaram escapara a oportunidade de nos encontrar em Galápagos, no Havaí e em Cuba. Sem esquecer os muitos quilômetros rodados pelo Equador, quando também deram a honra da companhia à Fiona. Todos esses encontros, como não viríamos então para a nossa Ilha do Mel???
Preparativos para o casamento da Laura e do Rafa na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Pousada Grajagan, local do casamento da Laura e do Rafa na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Pousada Grajagan, local do casamento da Laura e do Rafa na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Pois bem, cá estamos e hoje, dia 7 pela manhã, passamos eu e a Ana escrevendo nosso discurso. Nossa ideia era ter feito isso durante a viagem à Antártida, nas horas monótonas em alto-mar. Quem disse que foram monótonas? Então, acabamos por seguir aquele sábio ditado: “Não deixe para amanhã aquilo que você pode deixar para depois de amanhã!”. Pois é... o “depois de amanhã” acabou caindo na manhã de hoje!. Mas deu tudo certo e estávamos prontos e ansiosos para a cerimônia e para a festa.
Tudo pronto para começar o casamento do Rafa e da Laura na praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Tudo pronto para começar o casamento do Rafa e da Laura na praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
O noivo já espera a noiva para a cerimônia de casamento na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
O Beto (irmão da Laura) e a Beta (irmã do Rafa) trazem a avó Ruth para a cerimônia de casamento na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Exatamente como no nosso próprio casamento por aqui, a ansiedade se transformava em tensão. Será que iria chover ou não? Esse é o perigo de se querer casar na praia. Difícil combinar com São Pedro de antemão. Mas o bom velhinho foi muito generoso com eles, como havia sido conosco. Apesar do susto, nada de chuva!
A Beth e o Eduardo trazem a filha para seu casamento na praia Grande na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
A Beth e o Eduardo trazem a filha para seu casamento na praia Grande na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Os padrinhos (o casal 1000dias!!!) leem um texto em homenagem aos noivos durante a cerimônia de casamento na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Os padrinhos (o casal 1000dias!!!) leem um texto em homenagem aos noivos durante a cerimônia de casamento na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
A cerimônia foi linda, cheia de amigos e o cenário maravilhoso da Praia Grande, na Ilha do Mel. O barulho do mar ao fundo dá um charme especial, assim como o pé na areia. O noivo disfarçava bem o nervosismo e a noiva, trazida ao altar pelos pais, estava deslumbrante. Os discursos foram emocionantes, assim como a trilha sonora do casamento, muito bem escolhida pelos noivos.
O esperado beijo do casamento, na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
"Casei, vivaaaa!!!" (Ilha do Mel, no litoral do Paraná)
Feliz, assistino ao casamento dos padrinhos na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Depois da cerimônia, a festa na pousada Grajagan, do nosso amigo Zeco. Bebida, comida e muita dança se estendendo por toda a madrugada, mais um capítulo da história que nos liga tanto a essa ilha. Só podemos agradecer pela chance de , mais uma vez, ter estado aqui. Dessa vez para testemunhar a união formal desse casal que, para nós, sempre foi um. Então, um brinde e felicidades eternas a vocês, Laura e Rafa. Desejamos muitas viagens para vocês, sempre para esses lugares maravilhosos que costumam visitar. E, quem sabe, em muitos deles estaremos juntos novamente!
Um brinde aos noivos! (Praia Grande, Ilha do Mel, no litoral do Paraná)
Abraço apertado nos amigos, padrinhos e noivos durante a cerimônia de casamento na Praia Grande, na Ilha do Mel, no litoral do Paraná
Um brinde aos noivos! (Praia Grande, Ilha do Mel, no litoral do Paraná)
Tranquilidade no sol de fim de tarde em Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Eu sempre tive um certo preconceito contra Los Angeles. Nos Estados Unidos, mesmo antes de ter viajado para cá, cidades como Nova Iorque, New Orleans, San Francisco, Boston e Seattle atraiam minha curiosidade enquanto para Los Angeles, Miami e Chicago eu torcia meu nariz. Filmes de Hollywood, documentários de TV, comentários de amigos e outras fontes ajudavam a moldar minha opinião mesmo antes de eu colocar meus pés fora do Brasil.
Praia de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Na minha primeira viagem aos EUA, vinte anos atrás, fui logo conferir algumas dessas cidades. Nova Iorque e San Francisco eram mesmo maravilhosas. Só não digo que foi paixão a primeira vista porque a paixão já existia muito antes da vista. Já Miami, não era tão mal assim. Bastava ir aos lugares certos que ela também tinha seus encantos. Nas viagens seguintes, agora com muito menos tempo, acabei ficando só na Big Apple mesmo. Em time que está ganhando não se mexe!
Depois das águas quentes do Havaí, testando as águas geladas de Santa Mônica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Criando coragem para entrar na água fria da praia de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Agora, nesses 1000dias, já não podia reclamar do tempo para viajar nos EUA. Aliás, acabamos ficando muito mais tempo do que tínhamos imaginado inicialmente. Com isso, pude rever as paixões antigas de Nova Iorque e San Francisco (cada vez melhores!), realizar o sonho antigo de conhecer New Orleans e Boston (espetaculares!), curtir Miami e matar a curiosidade com Seattle. Pudemos conhecer também Chicago, cidade que me surpreendeu muito e para qual tiro o meu chapéu. Faltava, então, Los Angeles, justo aquela que menos me atraía.
Chegando à Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Sempre imaginei Los Angeles como um monte de freeways engarrafadas e gigantescas indo para lá e para cá, uma Hollywood no meio sem charme algum, uma Beverly Hills esnobe e artificial perdida em algum lugar, bairros periféricos sem lei pertencentes à gangues violentas e nem uma mísera esquina charmosa onde se pudesse caminhar tranquilamente. Uma cidade para carros onde pedestres eram malvindos.. Enfim, nada que me atraísse...
O movimentado calçadão de Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Ocorre que minha razão adora desafiar meus preconceitos irracionais. Minha curiosidade argumentava que um lugar que atrai dez milhões de pessoas para lá morar deve ter seus motivos. Algo me dizia que havia muitos outros lados de Los Angeles além daqueles que queriam me manter afastado da cidade. Pois é, chegava a hora de eu mandar meus preconceitos às favas e conhecer a Los Angeles de verdade.
Show de horrores em Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Show de horrores em Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Para viajar ao Havaí, nós já tínhamos ido até o aeroporto da cidade, onde a Fiona ficou nos esperando pelos últimos 17 dias. Lá no arquipélago, alguém brincou que, após conhecermos o Kalalau e as belezas do Havaí selvagem, uns dois ou três dias em Honolulu seriam uma boa forma de transição para chegarmos à selva de concreto de Los Angeles. Assim foi e ontem de tarde chegamos à maior cidade da costa oeste novamente, dessa vez para passar alguns dias e, finalmente, conhecermos a cidade dos anjos. O PriceLine nos arrumou um hotel bem localizado (depois de bater cabeça um pouco), mas o cansaço e o tempo ruim nos fizeram ficar mesmo no nosso quarto. O máximo que fizemos foi cruzar a larga avenida para irmos até o supermercado e só. Depois de vinte anos, eu teria de esperar mais um dia...
Arte nas ruas de Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Passeio de bicicleta em Santa Monica e Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Hoje, já não havia mais desculpas. Só tínhamos de escolher um lado para começar. E o lado que escolhemos conseguiu, num único e certeiro golpe, liquidar completamente com a imagem negativa que eu tinha da cidade. Fomos para Santa Monica, junto à praia. Nada de freeways e nada de trânsito engarrafado para chegar lá. Nada de gangues pelo caminho, nem dificuldade de estacionar. E depois do carro estacionado, longas caminhadas por vizinhanças cheias de esquinas charmosas, ideais para pedestres. Certamente, não era a mesma Los Angeles que me amedrontara por tanto tempo.
Para quem estiver interessado... (Venice Beach, em Los Angeles, na Califórnia - EUA)
Caminhamos pela areia por um bom tempo, praia típica americana, com aqueles piers ao fundo avançando sobre o mar e parques de diversão junto à areia (porque será que eles gostam disso?). A água estava fria (saudades do Havaí!!!) e uns poucos surfistas encaravam o mar de poucas ondas. A gente alugou uma bicicleta para a Ana enquanto eu resolvi esticar as pernas e segui correndo pela orla até Venice Beach.
Pier de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Ali, outra ducha de água fria nos meus preconceitos. Uma cidade super viva, nenhum carro à vista, centenas de pessoas caminhando ao lado de uma simpática feira de artesanato, dezenas de artistas de rua, gente cantando, vendendo poesias e camisetas coloridas. Mais adiante, passada a feirinha, toda uma vizinhança com casinhas simpáticas, em frente à praia. Casas pequenas e coloridas, pequenas varandas, clima relaxado. Um lugar em que eu moraria tranquilamente! Morar em Los Angeles? Eu? Pois é... como fazer picadinho de um preconceito arraigado de 20 anos em apenas uma tarde de passeios...
O tradicional carrossel do pier de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Chegamos ao final da Rota 66, no pier de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Sentamos na varanda de um dos muitos restaurantes simpáticos do bairro, vimos a vida passar deliciosamente à nossa frente, comemos e tomamos uma cervejinha, brindando à Venice Beach e à Los Angeles que estávamos conhecendo. Depois, para queimar as novas calorias adquiridas, nova corrida e nova pedalada de volta à Santa Monica e ao mais movimentado píer daquele pedaço de litoral que vai de San Diego à San Francisco.
Pier de Santa Monica, com a sempre presente roda gigante, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Ali no píer encontramos o final da Route 66, aquela histórica estrada que ligava Chicago à Los Angeles, a primeira rodovia asfaltada a cruzar todo o país e que virou ícone de toda uma época. Para nós, era como completar uma jornada, afinal, tínhamos visto o início dela, lá na terra de Al Capone, e viajado por um bom pedaço do meio dela, logo que entramos nos Estados Unidos, nove meses atrás. Foi como rever uma velha amiga. Além disso, divertimo-nos com o movimento do fim da tarde, o sol se pondo, o infinito Oceano Pacífico à nossa frente (esse também, cada vez mais “íntimo”) e as luzes da bendita roda-gigante ao nosso lado. A gente se despediu desse mar que tem sido nosso companheiro por tanto tempo e que, agora, ficaremos tanto tempo sem ver. Como a nossa descida pelas Américas tende a ser mais pelo lado do Atlântico, sabe-se lá quando cruzaremos o Pacífico outra vez. Se bem que a América Central é tão fininha que, nunca se sabe...
Decoração natalina na 3rd St. Promenade, a movimentada rua comercial de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Deixamos o píer e o mar para trás e fomos conhecer a movimentada 3rd Street de Santa Monica, rua comercial fechada para carros. Mais uma vez, lá estávamos numa Los Angeles para se caminhar e não para se dirigir. Tão perto de Venice Beach mas, em muitos aspectos, exatamente o oposto. Diversas lojas de marca, todas enfeitadas para o natal, luzes coloridas de alto a baixo, todo mundo muito bem vestido fazendo suas compras e, com o sol já bem abaixo do horizonte, um frio cortante que há muito não sentíamos. De semelhante, o clima de animação, artistas fazendo seus shows e disputando a atenção de quem passava por ali.
vitrine decorada de bandeira na 3rd St. Promenade, a rua comercial de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Depois de nos impressionarmos com a beleza das luzes e com a classe de alguns desses artistas de rua, era a hora de voltar ao hotel. De novo, sem freeways e sem engarrafamentos. Finalmente, eu começava a conhecer Los Angeles. Uma Los Angeles infinitamente mais humana do que aquela que eu imaginava. Já até pensamos em esticar nossa estadia por aqui. Depois desse dia em Santa Monica, porque não?
Passeando pela 3rd St. Promenade, a rua comercial de Santa Monica, em Los Angeles, na Califórnia - EUA
Pinturas rupestres no "Painel", no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, próximo à Januária - MG
Além das fantásticas cavernas, o outro grande atrativo do Parque Cavernas do Peruaçu são as centenas de pinturas rupestres que se espalham por todo o parque.
Pinturas rupestres no "Painel", no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, próximo à Januária - MG
Eu já tinha visto pinturas rupestres mas confesso que essas me impressionaram. Não só pela quantidade de pinturas mas também pela qualidade e diversidade dos desenhos, figuras e símbolos retratados.
Pinturas rupestres no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, próximo à Januária - MG
As cores ainda estão vivas e parecem falar conosco. Elas nos evocam uma outra época, uma outra civilização, uma outra realidade, um outro mundo. O que mais me toca, lá no fundo do pensamento e da alma, é que essas pinturas são um elo direto, uma ligação entre nós e quem as pintou. Um atmo de tempo nos separa. O mesmo local, a mesma visão, tempos diferentes. A ligação parece tão forte! Ainda mais quando pensamos que esses 10 mil anos, em escalas geológicas, não são mais do que um espirro, um esbirro, um soluço. E eu cito "tempo geológico" porque é nisso que pensamos quando estamos no parque, admirando essas cavernas que já vem se formando há milhões de anos. Para elas que nos fitam impassíveis enquanto nós as veneramos, foi apenas ontem que as pinturas foram feitas, e apenas anteontem que uma preguiça gigante entrava na caverna para beber a água do mesmo Peruaçu que ainda hoje corta a caverna.
Pinturas rupestres no "Painel", no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, próximo à Januária - MG
Nós ficamos eternos momentos ali, admirando aquelas obras de arte, literalmente viajando na maionese, tentando encontrar alguma maneira de transpor aquele mágico portão do tempo e entrar naquele outro mundo tão perto de nós, em que as pessoas viviam de forma tão diferente, com conhecimentos distintos, entendimentos diversos mas, no fundo, com as mesmas preocupações nossas, desde as mais mundanas (o que será que tem para jantar?) até as mais "filosóficas" (quem somos?, para onde vamos?, etc...).
Enfim, mundos diferentes mas ainda somos os mesmos...
Mirante do Buraco dos Macacos, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, próximo à Januária - MG
Atravessando as planícies e enormes fazendas de Mato Grosso
No meio da tarde do dia 20, estávamos de volta à terra firme, ao solo brasileiro, na pacata cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia. Duas principais estradas saem daí: uma para o norte, ao longo da fronteira, até se encontrar com a rodovia que liga Rio Branco à Porto Velho. A outra vai na direção leste, cortando o interior do estado, passando pela linda região do Parque Nacional dos Pacaás Novos e se encontrando com a rodovia que liga Porto Velho à Mato Grosso.
Veja nossa rota por Rondonia e Mato Grosso num mapa maior. Saímos de Guajará-Mirim e seguimos para Porto Velho, onde dormimos. No dia seguinte, fomos até Vilhena, quase na fronteira. No dia seguinte, seguimos até Caceres, já no sul de Mato Grosso. POr fim, passando ao largo de Cuiaba, seguimos até Nobres
É claro que nossa melhor opção seria essa última, já que já tínhamos passado por Porto Velho antes. Além disso, teríamos a chance de conhecer e explorar mais um parque nacional. Pois é... seria! Não fosse um pequeno detalhe: a rodovia também atravessa território indígena e um trecho de uns poucos quilômetros está interrompido. Para passar por lá, só com o bom humor dos índios e um caro “pedágio”. Mas, pelo que nos informaram, faz tempo que eles não estão de bom humor e então, ninguém passa na estrada. Esse Parque Nacional vai ter de esperar e nós seguimos para o norte mesmo, de volta à Porto Velho.
Enfrentando filas por causa de obras nas estradas de Rondônia
O lado bom dessa história é que pudemos rever nosso amigo Rodrigo que, novamente, nos recebeu de portas abertas em sua casa na capital de Rondônia. Mas dessa vez, foi uma visita rápida, afinal tínhamos muito chão pela frente: cruzar todo o estado de Rondônia e boa parte do estado de Mato Grosso, até a região de Cuiabá, onde tínhamos muita coisa para ver e conhecer.
A Ana se delicia com uma picanha na chapa com muito queijo derretido, em Vilhena, em Rondônia
Assim, no dia 21 pela manhã, partíamos novamente. Seguindo pela principal rodovia do estado, passamos pelas maiores cidades de Rondônia depois da capital, Ariquemes, Ji-Paraná e, finalmente, Vilhena, quase já na fronteira. Estrada boa, fora um trecho em obra onde tivemos de amargar quase uma hora na fila. Paisagem quase sempre plana e de grandes fazendas, uma das mais ativas fronteiras agrícolas do país.
A Ana se delicia com uma picanha na chapa com muito queijo derretido, em Vilhena, em Rondônia
Chegamos à Vilhena já no escuro e aí resolvemos passar a noite. Cidade boa, bons hotéis, restaurantes e noite movimentada. Nós, morrendo de saudades já há tempos, fomos nos deliciar com uma picanha na chapa encoberta por queijo derretido. Não que estivesse espetacular, mas fazia tanto tempo que não víamos algo assim que, para nós, foi um verdadeiro banquete! Nossa despedida com chave de ouro do estado de Rondônia.
As novas amigas do lavajato em Vilhena, em Rondônia, que ajudaram a deixar a Fiona limpinha, depois de tanta poeira na Bolívia
No dia seguinte, pela manhã, a Ana levou a nossa Fiona para um delicioso e merecido banho, depois dos 1.000 km de estradas de terra na Bolívia. O pó havia entrado em todos os buracos da carroceria e nossas malas e mochilas estavam cor de adobe! Com a ajuda das meninas do lava-jato, as mais novas amigas da minha social esposa, a Fiona e as malas ficaram um brinco! Prontas para a próxima etapa da viagem.
As novas amigas do lavajato em Vilhena, em Rondônia, que ajudaram a deixar a Fiona limpinha, depois de tanta poeira na Bolívia
E assim, bem limpinhos, entramos em mais um estado da federação, o penúltimo que nos faltava nesses nossos 1000dias pelas Américas e pelo Brasil. Ficava para trás a região norte e adentrávamos a região Centro-Oeste, onde só havíamos estado em Goiás e Distrito Federal. Chegou a hora de fechar essa lacuna!
Chegando á fronteira de Rondônia e Mato Grosso, o penúltimo estado que ainda não havíamos visitado
O norte de Mato Grosso também é uma extensa planície, lotada de enormes e produtivas fazendas. A exceção é a Chapada dos Parecis, uma região de montanhas e paisagens grandiosas da qual, infelizmente, só pudemos passar ao largo e ver de longe. Para ser devidamente explorada, precisaríamos de alguns dias que realmente não temos agora. Mais um motivo para voltarmos para essas bandas!
Passando ao largo da Chapada dos Parecis, no Mato Grosso
Por fim, já no final do dia, chegamos à histórica Cáceres, na beira do rio Paraguai. Cidade conhecida de todos os amantes da pesca do Brasil e do mundo, afinal aqui se realiza um dos mais importantes torneios de pesca esportiva do mundo, todos os anos. “Matéria-prima” não falta, já que está na beira do Pantanal e de suas centenas de espécies de peixes.
Nosso restaurante com música ao vivo em Cáceres, no Mato Grosso
Aqui passamos a noite, já aprendendo a lidar com o forte e típico calor mato-grossense. Antes da cama, ainda fomos passear no centro e comer na praça, em um dos muitos restaurantes com mesas na calçada, a brisa que sopra do rio Paraguai o nosso ar condicionado natural. Aqui, tivemos direito à música ao vivo (sertaneja, é claro!) e um cardápio com vários pratos típicos, incluindo muitas opções com carne de jacaré! Antes que ecologistas reclamem, essa carne vem de fazendas onde os pobres bichinhos são criados exatamente para isso: terminar no prato de alguém, um gosto meio de frango com a consistência de peixe, mas um pouco mais firme. Carne da cauda, o filé do jacaré.
Carne de jacaré no cardápio de restaurante em Cáceres, no Mato Grosso
Na manhã de hoje, ainda demos outra volta na praça e nas ruas com casas centenárias. Na praça, em frente à igreja, um raro monumento ao Tratado de Madrid, de 1750, firmado entre Portugal e Espanha, um dos poucos que ainda existe no mundo. Esse tratado foi aquele que finalmente substituiu o Tratado de Tordesilhas, que já era letra morta há muito tempo. Afinal, segundo Tordesilhas, as terras portuguesas no Brasil terminavam muito mais à leste, cobrindo apenas parte dos atuais Nordeste e Sudeste brasileiros. A própria cidade de Cáceres, muito mais a oeste da linha imaginária, era a prova viva d que Tordesilhas já não valia mais nada. Foi o Tratado de Madrid que regularizou essa situação, definindo em boa medida os atuais contornos do Brasil. Esse monumento não poderia estar em melhor lugar e explica porque, em Cáceres, se fala português e não, castelhano!
Um dos raros monumentos ao Tratado de Madri que ainda estão de pé, na cidade de Cáceres, no Mato Grosso
Bom, caminhada feita, com direito a um sorvete gelado para combater o calor, era hora de, mais uma vez, pegarmos estrada. Afinal, a principal atração da cidade, a pesca, não é muito o nosso forte. Assim, pé na tábua em direção à região de Cuiabá. Aí sim queremos explorar muito! A própria capital, o Pantanal, ao sul, a Chapada dos Guimarães, ao norte, e a região de Nobres.
Monumento ao Tratado de Madri, que finalmente enterttou o Tratado de Tordesilhas, na praça central de Cáceres, no Mato Grosso
Pois é, era exatamente por Nobres que queríamos começar. Faz tempo que ouvimos falar desse lugar, suas cavernas e cachoeiras, rios de água transparente e a fama de ser uma nova “Bonito”. Olhando no mapa, seria o lugar mais lógico para começarmos.
E assim foi, chegamos com o dia escurecendo na periferia de Cuiabá e já tomamos a estrada para o norte, a famosa Cuiabá-Santarém. Após um dia longo de estradas, ainda tivemos de lidar com um complicado trânsito de grandes caminhões, as carretas que carregam a produção rumo ao norte, para serem embarcadas para o exterior no rio Amazonas.
O rio Paraguai, na cidade de Cáceres, no Mato Grosso
Com muita paciência, chegamos à pequena cidade, vimos de longe seus três hotéis e escolhemos o mais simpático deles. Estava bem cheio, sinal de que os turistas já descobriram o lugar, pensamos. Errado! Não eram turistas, mas trabalhadores de uma grande empresa na região. Aí, fomos falar com a simpática dona e ela nos revelou a surpresa: na verdade, Nobres não é em Nobres!
A igreja matriz de Cáceres, no Mato Grosso, na praça central da cidade
Como assim??? Pois é, todas as atrações e fotos que conhecíamos da cidade ficam no distrito de Bom jardim, a 60 quilômetros dali, por estrada de terra! Pior, para quem vem de Cuiabá, há uma estrada direta para lá, muito bem asfaltada e sem nenhum trânsito de caminhões. Embora o distrito pertença à Nobres, e por isso a fama da cidade, Bom Jardim tem vida própria, com suas pousadas e restaurantes. Ou seja, Nobres é em Bom Jardim!
Dia lindo na cidade de Cáceres, no Mato Grosso
Bom, naquela altura dos acontecimentos, decidimos dormir por ali mesmo. Amanhã cedo, então, enfrentamos a estrada de terra e vamos para a Nobres de verdade, a pequena Bom Jardim. Rios e cachoeiras nos esperam como recompensa desse último esforço!
No topo do vulcão Villarrica, a 2.850 metros de altitude, na região de Pucón, no sul do Chile
Então, foi com esse espírito que todo o nosso grupo assistiu atentamente às instruções que o guia nos dá antes de começarmos a caminhada. O mais importante de tudo é saber usar o piolet (a pequena picareta) que todos carregamos. Deve estar sempre no braço voltado para a montanha enquanto ziguezagueamos encosta acima e, se cairmos, deve ser fincado firmemente na neve para evitar que escorreguemos e ganhemos velocidade. No caso de uma queda, o procedimento é ficar de bruços e fincar o piolet na neve. Enquanto estivermos lentos, isso certamente evitará problemas maiores. Quase sempre, cair e escorregar não são uma grande preocupação, pois se a neve estiver mole, vamos simplesmente afundar no chão. Mas se ela tiver se transformado em gelo, é o uso correto do piolet que vai nos salvar. Melhor ainda é não cair! Portanto, atenção! Como diz o ditado, “prevenir é melhor que remediar”!
1000dias no topo do vulcão Villarrica, região de Pucón, no sul do Chile
A magnífica visão da região de Pucón, no sul do Chile, visto do alto do vulcão Villarrica
Bom, instruções dadas, lá fomos nós. Nós e as outras centenas de pessoas que subiam hoje, divididas em dezenas de grupos. Pucón está a 250 metros de altitude. O van da agência nos leva mil metros acima disso, até uma pequena estação de esqui nas encostas do vulcão e já dentro da área do parque nacional, a menos de 20 km do centro da cidade. Aí há um teleférico daqueles de cadeirinha que pode nos levar por outros 400 metros verticais, já nos 1.600 metros de altitude. A maioria dos turistas opta por isso, mas nem todos...
Turistas caminham pela crista do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
No topo do vulcão Villarrica, a 2.850 m de altitude, na região de Pucón, no sul do Chile
Quando estivemos aqui em 1992, estudantes com pouco dinheiro no bolso, qualquer economia que fizéssemos já estava valendo. Então, nós optamos por caminhar esse trecho também, todo ele em pedras soltas, nada muito interessante para se ver. Dessa vez, a tradição tinha de ser mantida. Então, lá fomos nós caminhando novamente, eu, o Haroldo e mais um punhado de valentes. A Ana queria vir conosco, mas eu a convenci dizendo que ela levaria a mochila com nosso lanche e máquina fotográfica na cadeirinha. Além disso, teria um ângulo muito melhor para fotografar. Meio a contragosto, ela seguiu no teleférico e, 40 minutos mais tarde, todos nos reunimos lá encima.
Observando a enorme cratera do vulcão Villarrica, região de Pucón, no sul do Chile
A amedrontadora cratera do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Agora sim começava a caminhada de verdade. Bastou uns poucos minutos de caminhada para o nosso guia, o simpático Hector, perceber os diferentes ritmos de caminhada. Aí, procedimento comum de várias agências, ele nos dividiu em dois grupos, o lento e o mais lento, cada um com seu guia, e assim seguimos separados, nos reunindo apenas nos pontos de parada de descanso e de lanche. O Hector é um biólogo especializado em extremófilos (pequenos organismos que vivem em condições extremas de temperatura, pressão ou acidez) e conversar com ele durante a subida foi muito interessante.
O Rodrigo, no canto direito da foto, fica minúsculo perto da enorme cratera do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Na beira da cratera do vulcão Villarrica, a região de Pucón, no sul do Chile, a 2.850 metros de altitude
Para nossa felicidade, a neve estava bem tranquila e nem precisamos colocar nossos grampões. A bota já nos dava segurança o suficiente. Seguimos em interminável ziguezague, muitos grupos acima de nós e outros tantos abaixo. Tem uma passagem da montanha que se chama “pinguinera”, exatamente porque de lá podemos ver essas dezenas de grupos de pessoas, todos andando em fila indiana. De longe, pequeninos contra a imensidão branca da montanha, parecem mesmo grupos de pinguins. Basta olhar algumas fotos nossas da viagem à Antártida para comparar!
Vinte e dois anos mais velhos, o Rodrigo e o Haroldo retornam ao cume do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Em foto da viagem de 1992, com o Haroldo e o Pfeifer na subida do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Pouco depois da metade do caminho, paramos em um promontório que forma um verdadeiro mirante natural. Vista magnífica do lago Villarrica, de Pucón e das outras montanhas e vulcões da região. Um dos pontos preferidos no caminho para se tirar fotos. Aí paramos em 92, aí paramos em 2014. Fotos que, quando comparadas, servem para ver os efeitos do tempo. O cabelo está mais branco, mas a saúde continua boa o suficiente para se chegar aqui em cima, hehehe! Vamos ver daqui a 22 anos...
região de Pucón, no sul do Chile
A cratera do vulcão Villarrica, região de Pucón, no sul do Chile. Dessa vez, não conseguimos ver, apenas ouvimos o lago de lava escondido nas profundezas do vulcão
Mais uma longa sessão de ziguezague e chegamos finalmente ao cume. Ele é grande o suficiente para que os diversos grupos que lá chegaram se dispersem. O cheiro dos gases vulcânicos é forte e assim que chegamos mais perto da cratera, o barulho do lago de lava lá embaixo também. Uma paisagem lunar, solo cheio de cores devido aos diferentes minerais expelidos pelo vulcão: amarelo, vermelho, marrom e todas as tonalidades possíveis entre essas cores. A lava está bem baixa e não conseguimos vê-la dessa vez. O que se vê é apenas a boca no fundo da cratera, como se fosse a boca de um grande gigante. Um gigante adormecido, mas que ronca bem alto. Em 92, a lava estava mais alta e podíamos vê-la com facilidade. O lago borbulhava e, em pequenas explosões, esguichos de lava subiam 10 metros de altura. Hoje, tivemos de nos satisfazer com aquele buraco escuro e amedrontador e o bafo quente que emana de lá.
A cratera esfumaçada do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile (foto de Haroldo Junqueira)
O impressionante lago de lava na cratera do vulcão Villarrica, região de Pucón, no sul do Chile. Foto de 1992
No nosso grupo, havia um casal de mineiros de Belo Horizonte. Chegando lá encima, ele tirou uma bandeira do Cruzeiro (meu time de coração!) da mochila e, orgulhoso, a estendeu para tirar fotos. Não pude resistir e fui tirar fotos também. Por essa, realmente eu não esperava... uma grande bandeira do Cruzeiro no alto do Villarrica. Espetacular!
Os mineiros e cruzeirenses (viva!!!) André e Fabíola subiram conosco o vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
O tempo esteve firme e pudemos ficar por ali sem preocupações, tirando nossas fotos, lanchando e admirando a paisagem, para dentro e para fora. Mas chegou a hora de descer. Normalmente, esse é um momento bem chato, quando deixamos para trás o cume de uma montanha. Mas aqui no Villarrica essa história é diferente. Afinal, descer esse vulcão é ainda mais divertido do que subi-lo. Isso porque fazemos skibunda uma boa parte do caminho. Trechos que nos tomaram uma hora para subir, descemos em cinco minutos. É simplesmente sensacional!
Fazendo skibunda, a veloz descida das encostas geladas do vulcçao Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile (foto de Haroldo Junqueira)
Há duas décadas, essa técnica de descida foi uma completa surpresa para mim. Escorregávamos com a calça diretamente na neve. Uma calça que a própria agência fornecia, impermeável. Agora, as coisas evoluíram, a gente leva uma espécie de tapete de borracha para sentar em cima. Como eu já sabia dessa vez a diversão que nos esperava na descida, foi ficando cada vez mais difícil segurar a ansiedade. Mas, a hora chegou e lá estávamos nós, prontos para escorregar trechos de cem ou duzentos metros ladeira abaixo.
Descendo o vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
A melhor parte do dia, a descida de "ski-bunda" pelas encostas geladas do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Com centenas de pessoas escorregando todos os dias, os trilhos na neve já estão prontos. É só a gente se encaixar neles e deixar a gravidade fazer a sua parte. Com o piolet e os pés, vamos tentando controlar a velocidade de descida. Aos poucos, ganhando mais segurança e aprimorando as técnicas, ficamos mais corajosos e descemos mais e mais velozes. Um show! É como se fosse uma longa, quase interminável sequência de grandes escorregadores. Todo mundo virando criança novamente.
Pura diversão na descida das encostas geladas do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Pura diversão na descida das encostas geladas do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Por fim, chegamos ao final da neve e nas pedras já não é mais possível escorregar. Sem alternativas, temos mesmo é de nos levantar e voltar a caminhar. Para baixo, ninguém mais vai de teleférico e, no meio de tanta conversa, nem notamos que já estamos chegando ao estacionamento. Ali nos espera a van da agência para nos levar de volta à cidade. Olho para trás e fito o Villarrica. Mais uma vez, a montanha foi maravilhosa comigo, mais memórias para o resto da vida. Será que voltarei outra vez? Como será que o mundo vai ser em 2036? Alguém tem alguma ideia? Não sei aonde eu vou estar, mas o Villarrica, certamente estará aqui!
A Ana perto da boca do vulcão Villarrica, na região de Pucón, no sul do Chile
Plantação de tabaco em Pinar del rio, no oeste de Cuba
O início do dia de hoje foi uma correria! Nossa ideia era simples: alugar um carro e seguir para a região de Pinar del Rio, especialmente Viñales, uma das regiões com a natureza mais bela de Cuba, com suas montanhas e cavernas. Mas, quanto mais planejamos, mais o destino teima em dizer que é ele quem manda!
Casa da Margarita em Havana - Cuba
Simplesmente não se encontrava carros para alugar na cidade. Estamos em período de alta aqui em Cuba e os carros estão esgotados para os próximos dias. Carro econômico, então, nem pensar! Mesmo que houvesse, o tempo de aluguel mínimo seria de uma semana. E nós viajamos depois de amanhã, de volta ao México. Depois de passarmos numas cinco lojas (o dono é sempre o mesmo, claro! O Estado!), a única coisa que tinha aparecido era um furgão. Achamos meio exagerado... Pela central da Cubacar, que teoricamente tem acesso à todas as lojas, nada havia disponível. Quem sabe, com muita sorte, depois das três da tarde, se houvesse alguma desistência. E lá se ia nosso penúltimo dia inteiro no país. Desesperador!
Despedida da "outra" Margarita, em Havana - Cuba
Finalmente, desistimos do carro e resolvemos ir de ônibus mesmo. Quem sabe em Viñales não encontrássemos um carro para explorar a região? O problema maior seria a volta, coordenar o ônibus com o horário do avião. Bem, mas não tínhamos mais escolha, já era meio dia e o tempo passava. Lá fui eu para a rodoviária da Via Azul, caminhada rápida de 2 km enquanto a Ana arrumava nossas coisas em casa.
Uma das casonas no bairro de Miramar, em Havana - Cuba
Mas o destino continuou a pregar suas peças. Não é que, na frente da estação da Via Azul tinha uma loja da Cubacar com um carro médio para ser alugado?!? Mas a minha vida não seria fácil assim não! O pagamento tinha de ser parte em dinheiro (o seguro e o combustível adiantado) E, claro!, eu não tinha dinheiro! Caixa eletrônico, nenhum por ali. A Cadeca (as casas de câmbio) mais próxima estava a menos de um quilômetro. Para lá fui correndo, para descobrir que estava fechada para almoço. Felizmente, deveria abrir em alguns minutos. Passados dez minutos da hora prevista para a reabertura, fui informado que a casa estaria fechada até segunda...
Plantação de tabaco em Pinar del rio, no oeste de Cuba
Pois é, o destino brincava comigo, indo e voltando. Eis que apareceu um cubano muito simpático procurando uma Cadeca também. Dirigia um sidecar, aquela moto com um carrinho do lado. Ofereceu uma carona para mim até a próxima Cadeca e lá fui eu, me sentido num filme de nazistas (sempre associo sidecars a filmes sobre a Alemanha nazista), devidamente vestido com capacete e conversando com o novo amigo. Ele não só me levou até a Cadeca como me levou de volta à Cubacar onde, finalmente, consegui o carro. Viva!
Tabaco, típico em Pinar del Rio, no oeste de Cuba
A Ana, que já me esperava ansiosa trazendo passagens de ônibus, ficou surpresa e felicíssima ao me ver sobre quatro rodas. Era um pouco antes das três quando finalmente nos despedimos da Margarita (a outra, que trabalha para a Margarita dona da casa) e começamos a deixar Havana para trás. Saindo pelo outro lado da cidade, passando dessa vez pelo elegante bairro de Miramar, completamente diferente de tudo o que tínhamos visto até agora na capital cubana. Avenidas largas e arborizadas, casas grandes, hotéis luxuosos, é em Miramar que estão várias das embaixadas, as casas dos expatriados e da pequena elite cubana, geralmente ligada ao partido ou grandes sucessos do esporte ou cultura. Uma outra cidade!
Visitando a fazenda do melhor tabaco e charuto de Cuba, de Hector Luis, em Pinar del Rio, no oeste de Cuba
Miramar ficou para trás e chegamos à autopista que liga Havana à Pinar del Rio. Nossos planos, (ahhn, sempre os planos!) eram de seguir diretamente para Viñales. Mas o destino (ahhn, sempre o destino!) tinha suas próprias ideias. Vinte minutos antes de chegarmos ao desvio que nos levaria à Viñales, alguém pede carona na estrada. Será um guarda? Na dúvida, paro. É apenas um caronista. Bom, já que paramos e temos espaço, não há porque não dar a carona. Para ele e também ao seu amigo. Conversa vem, conversa vai, descobrimos que ele trabalha na fazenda que produz o melhor tabaco e charutos de Cuba na atualidade. Insiste muito que a visitemos. Insiste que a visita seja hoje. Nos receberia o próprio dono da propriedade, o mais jovem “Hombre Habano” da história. Esse é um título dado pelo governo cubano apenas às pessoas com grandes feitos em pró da indústria. No mundo, hoje, há umas cinco pessoas vivas com o título.
Folhas de tabaco em secagem dentro da casa-secadouro, em Pinar del Rio, no oeste de Cuba
Diante disso, mandamos nossos próprios planos às favas. Deixamos o desvio à Viñales para trás, atravessamos Pinar del Rio e seguimos vinte quilômetros adiante, até a Finca Hector Luis. Toda a região é tomada por plantações de tabaco, lindas. Chegamos um pouco antes das cinco e, para decepção do nosso amigo, não podemos entrar na Finca naquele momento. Ocorre que, justo naquele momento, Hector atendia ao principal homem do governo para assuntos de Tabaco. A mais importante feira de charutos do mundo ocorrerá em três dias, em Havana, e o tal figurão está aqui combinando e checando coisas com o Hector (por coincidência, meu amigo do sidecar em Havana me falou muito desse congresso. Disse que vêm muitos brasileiros, presidentes dos clubes de charuto de várias capitais brasileiras).
Folha de tabaco já seca para ser enrolada em charuto, em Pinar del Rio, no oeste de Cuba
Nosso caronista insiste pelo rádio, na entrada da Finca. Vem a resposta: voltem um pouco mais tarde que serão sim recebidos!. Aproveitamos o tempo para almoçar num pequeno pueblo da região. Um pouco depois das seis, dia quase virando noite, somos recebidos pelo simpaticíssimo Hector. Ele nos conta um pouco da história de sua família, de sua finca e da cultura do tabaco. É um dos raros casos de fincas particulares no país comunista. A área não é grande e 80% da produção é vendida, obrigatoriamente, ao governo. A finca foi do seu pai e antes, do seu avô. A cultura e as técnicas vem de gerações. Explica parte de seu segredo: “A terra aqui é dura, não é a melhor para o tabaco. Na Nicarágua ou na Rep. Dominicana, há terras melhores. Mas é exatamente essa dureza que faz o tabaco crescer forte. O que não mata, fortalece!”
Processo de secagem e prensagem de folhas de tabaco, em Pinar del Rio, no oeste de Cuba
Após degustarmos um delicioso charuto, seguimos para um tour, já no escuro, pelas instalações onde se processa o tabaco. Eles nos explicaram todo o processo de colheita e secagem das folhas, como se faz para retirar quase toda a nicotina do tabaco e, finalmente, como se enrola um “puro”. Processo cuidadoso e complexo como fazer um bom vinho. Foi uma aula e tanto. E uma experiência inesquecível!
Teto repleto de folhas de tabaco, em Pinar del rio, no oeste de Cuba
Bom, depois desse banho do destino sobre os nossos planos, resolvemos esquecer deles de vez e dormirmos em Pinar mesmo. Amanhã cedo seguimos para Viñales para um dia de explorações e dormimos por lá mesmo. No dia 27, vamos para Havana em tempo de devolver o carro e irmos para o aeroporto (a própria Cubacar nos levará lá, bem mais barato que um táxi)
Folhas de tabaco sendo secadas em Pinar del Rio, no oeste de Cuba
Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul. Pessoas no canto esquerdo da foto dão uma ideia do tamanho da caverna!
Quando chegamos ontem de tarde na cidade de Bonito, tínhamos duas preocupações: comer e começar a organizar nossa programação na meca do turismo ecológico do Brasil. A primeira preocupação, resolvemos com aquele jantar pantaneiro de que falei no final do post passado. Mas antes mesmo da primeira, resolvemos a segunda, que era a nossa prioridade máxima!
Mapa do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul, mostrando a parte alagada e o túnel de acesso, além do percurso do mergulho
Nós vamos ter dois dias inteiros para estar aqui em Bonito, mais a manhã do terceiro dia. Numa cidade com tantas atrações, entre rios transparentes, cavernas e cachoeiras, não é muito tempo. Fatalmente, teríamos de fazer nossas escolhas. Mas já tínhamos nossas prioridades. O Chico nunca esteve aqui, mas eu e a Ana sim, em diferentes oportunidades, ela com os pais e eu com amigos, duas vezes. Assim, já conhecemos várias das atrações e, mais do que isso, sabemos do que ainda não conhecemos e gostaríamos de conhecer. Já há alguns dias que a Ana vem mantendo contato por e-mail com algumas agências e ontem queríamos acertar tudo.
Com o Chico, prontos para iniciar o rapel para o fundo do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Descendo de rapel o Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Bonito, além de meca do turismo ecológico, é também a meca das agências de turismo. Com exceção do Balneário Municipal, todas as outras atrações só podem ser feitas por intermédio de agências e com acompanhamento de guias. Não há o que inventar! Ainda vou falar disso em outro post, mas o fato é que precisamos comprar todos os vouchers com antecedência, reservar horários de visita e nos integrar a grupos maiores de turistas, devidamente liderados por um guia.
Estrutura montada no fundo do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Início de passeio de barco no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Pois bem, como disse, já tínhamos nossas prioridades, não necessariamente nessa ordem: o Abismo de Anhumas, a Lagoa Misteriosa, alguma flutuação em um dos muitos rios transparentes da região e uma visita à Gruta Azul, cartão-postal da região. Qualquer coisa além disso já seria lucro! Então, mãos a obra e lá fomos nós para as agências.
O Chico faz snorkel no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Vestindo-se para mergulhar no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Todas essas atrações, assim como as outras que não citei, tem suas regras próprias de visitação, entre elas os horários e quantidade máxima de pessoas por dia. Talvez, as regras mais estritas sejam para o Abismo de Anhumas, por causa de toda a logística envolvida. Essa verdadeira maravilha da natureza é uma enorme caverna com um lago transparente no fundo e cujo único acesso é pelo teto. Os visitantes tem de entrar e sair de lá fazendo rapel. E não é uma “rapelzinho” não! São mais de setenta metros de altura do teto até o lago, sem elevador ou escada ou paredes para nos apoiarmos! A gente desce no vazio mesmo, o que é a parte fácil, para depois subir fazendo força, sem qualquer ajuda lá de cima. Até por isso, para todos os que querem conhecer esse lugar incrível, é indispensável passar por uma aula e teste no dia anterior, para a equipe de apoio avaliar se você conseguirá mesmo sair da caverna. Enfim, com toda essa dificuldade para entrar e, principalmente, sair, e considerando que só podem estar nas cordas duas pessoas por vez, é fácil entender porque o número de visitantes diários é tão limitado. São 16 pessoas por dia, pois só para subir de lá, cada dupla demora mais de 30 minutos de muito esforço e paciência. E olha que nem estamos falando ainda dos mergulhos no lago lá embaixo...
Pronta para mergulhar no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Início de mergulho na escuridão do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Bom, sabendo dessa dificuldade toda, queríamos logo garantir um espaço para nós. Além de número máximo de pessoas por dia, tem também um número mínimo, para eles garantirem a operação. Assim, não podíamos perder a chance e marcamos logo para hoje cedo. Na base da correria, pois já estava tudo fechando por causa do horário, marcamos o passeio e marcamos também o tal do teste, para o início da noite. Enquanto não chegava o horário do teste, conseguimos também marcar o mergulho na Lagoa Misteriosa, para o dia seguinte. Metade do caminho andado, aparentemente!
Indicação a seguir durante mergulho no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Ossada de tamanduá no fundo do lago no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Sem tempo de acertarmos os outros passeios, corremos para o local da aula teste, aí encontramos as outras pessoas que iriam conosco, assim como a equipe que nos acompanharia hoje. Nós três fizemos o nosso teste de subir e descer duas vezes até uma altura de uns sete metros, fomos “aprovados” e estávamos prontos para a aventura de hoje!
Estranhas formações no fundo do lago no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Estranhas formações no fundo do lago no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
A programação “normal” para quem visita o Abismo Anhumas é fazer a descida de rapel e, lá embaixo, fazer um snorkel no lago, antes ou depois de fazer um passeio em um bote inflável por lá. A alternativa, para quem tem experiência de mergulho, é fazer um mergulho autônomo por lá. Há um circuito predeterminado no lago, devidamente marcado por uma corda-guia e que passa por algumas das formações subaquáticas mais belas. O mergulho, é claro, deve ser acompanhado de um guia e foi essa a opção minha e da Ana, enquanto o Chico faria o snorkel.
Iluminando os enormes cones subaquáticos durante mergulho no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
A Ana passa atrás de cone gigante no fundo do lago no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Então, tudo acertado, lá fomos nós, hoje bem cedo, para a fazenda onde está localizada a caverna, a meia hora de carro da cidade. A primeira vez que estive aqui, no início da década de 90, o Anhumas ainda nem era explorado e eu fui embora de Bonito sem sequer ter ouvido falar dele. Mas na segunda vez, no ano 2000, o Anhumas já havia se tornado uma das principais atrações da cidade e eu estive lá, descendo até o lago e fazendo o snorkel. Assim, estaria repetindo o programa, mas dessa vez com o mergulho. De qualquer maneira, só fazer a descida de rapel nesse lugar incrível já é uma experiência tão inesquecível que já valeria a pena repetir o programa. É mesmo de tirar o fôlego!
Formações abaixo e acima d'água no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Formações abaixo e acima d'água no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Assim foi! Como somos três e as descidas são feitas em dupla, eu desci primeiro, com a nossa guia de mergulho, e a Ana desceu depois, com o Chico. A entrada da caverna não é ampla, um pequeno buraco natural na rocha. Quem passa por ali, desapercebido, jamais imaginaria a maravilha que se esconde abaixo, apenas alguns metros sob a superfície. Mas para nós que descemos, essa maravilha logo aparece para nossos olhos, alguns poucos metros de rapel abaixo.
Passeio de barco no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Observando formações da caverna durante passeio de barco no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Passeio de barco no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
A estreita entrada da caverna logo se abre num salão gigantesco, com mais de 70 metros de altura sobre a superfície do lago e com mais de cem metros de lado. É impressionante! A luz do sol entra por duas pequenas aberturas e parte da caverna é iluminada, nos dando a chance de observar tudo aquilo. Como ainda estamos lá no alto, podemos ter a visão do todo, do lago azul e das paredes e tetos com formações. É absolutamente incrível!
Formações de caverna no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Formações de caverna no lago do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
A única coisa chata é que não podemos estar com nossas máquinas fotográficas. Deixar cair algo lá de cima seria perigoso para quem está embaixo. De qualquer maneira, não seria fácil fotografar de lá. Com iluminação deficiente e com a corda de movimentando o tempo todo. As fotos tem de ser tiradas na saída ou na chegada, na estrutura armada sobre o lago. No “caminho”, nem pensar!
Do fundo da caverna, observando a abertura do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Durante o passeio de barco, admirando a beleza do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Lá embaixo, não há terra firme! O lago ocupa todo o fundo da caverna e foi feito uma estrutura de madeira sobre as águas, dois decks, uma ponte e um banheiro químico para quem passar aperto. Nossas máquinas fotográficas, mochilas com roupas secas e casacos e equipamentos de mergulho são descidos por cordas também. Lá chegando, além de tirar fotos e admirar aquele mundo fabuloso, temos logo de nos preparar para a etapa seguinte do passeio, que é enfrentar aquela água fria. O Chico e o resto do grupo fazendo snorkel e eu e a Ana, para o mergulho.
Estalagtites e o incrível lago azul do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Fazendo festa com a equipe de apoio no fundo do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
O lago, em quase toda a sua extensão, não é muito profundo. De 15 a 25 metros, pontuados por estranhas formações subaquáticas, grandes cones de pedra que parecem brotar do fundo e querer chegar à superfície. Coisa de outro planeta! Mas há também um túnel mais profundo, que chega a mais de 80 metros de profundidade. Para ir até lá, apenas com autorização especial, em casos muito raros. Mas nós já estávamos mais do que contentes de passear por ali mesmo, em meio à exótica floresta de cones.
Pessoas fazendo rapel para sair da caverna ficam minúsculas perto do gigantismo do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Observando o longo caminho de volta no Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Então, foi desse jeito, o Chico fez seu snorkel e nós, nosso mergulho, diferente de tudo o que já fizemos e vimos até hoje. Difícil é captar as imagens lá de baixo, com tão pouca luz e um equipamento tão simples. Tentamos bastante, mas foram as fotos feitas durante nosso passeio de barco pelo lago, logo após o mergulho, que melhor captaram a beleza das águas. Lá de baixo, além de umas fotos meio escuras, vamos trazer para sempre as memórias de um mundo absolutamente distinto, tão próximo e, ao mesmo tempo, tão desconhecido da absoluta maioria das pessoas que vivem nesse planeta. Estando em lugares como o Abismo Anhumas é que nos fica ainda mais claro o quão pouco conhecemos do lugar em que vivemos.
O Chico inicia sua ascensão para sair do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Pessoas fazendo rapel para sair da caverna ficam minúsculas perto do gigantismo do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
No tal passeio de barco, a guia nos leva bem perto das formações da caverna que estão acima da linha da água, mas também tenta nos explicar como se formam as estranhas formações abaixo dela. Sempre o calcário, o mesmo que forma estalactites e estalagmites na parte seca, acaba se aglomerando na superfície da água e, mais tarde, ao afundar, são “atraídos” para os cones, onde se assentam, engordando mais um pouco a formação. Fácil e difícil de entender, ao mesmo tempo! Mais um dos mistérios desse misterioso mundo que se esconde sobre nossos pés.
Início da subida de rapel para sair do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Início da subida de rapel para sair do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Por fim, de volta à plataforma de madeira, somos os últimos a subir no nosso grupo, por causa do tempo que passamos embaixo d’água. Agora, é o Chico que sobe antes, o que nos dá mais uns 40 minutos para tentar fazer fotos. Depois, somos nós, eu e a Ana, a fazer o esforço para cima, com toda a paciência, aproveitando os tempos de descanso para admirar o estranho mundo à nossa volta. Meia hora mais tarde, estamos de volta ao mundo “normal” da superfície. Como já disse acima, e também em outros posts, a sensação é de ter mudado de planeta. Mas não, apenas alguns metros de rochas separam essas duas paisagens tão distintas. A gente sabe, mas é difícil acreditar... Ainda mais olhando aquela pequena abertura. E não somos apenas nós que nos enganamos. Os animais também, pouco atentos, caem lá embaixo. Alguns, vão parar no fundo do lago e viram atração para mergulhadores, como um tamanduá, ou os ossos deles, que encontramos embaixo d'água. Outros, trazidos provavelmente por pássaros, sobrevivem lá embaixo. São pequenos peixes, que nos acompanham durante parte do mergulho. Até um grande sapo vimos lá embaixo. Pelo peso, não deve estar encontrando problemas em se alimentar...
Já vamos altos na longa subida para sair do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Já vamos altos na longa subida para sair do Abismo de Anhumas, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Voltamos para nosso hotel em Bonito e, para mim, já estava feliz para o dia. Aproveitei a tarde para trabalhar um pouco nos blogs. Mas O Chico e a Ana queriam mais e foram ao Balneário Municipal para nadar entre os peixes num rio de águas transparentes. Um dia a Ana conta sobre isso, mas eu já deixo aqui algumas fotos do único local da região que pode ser visitado sem guias. Amanhã, já temos outro compromisso logo cedo que é o mergulho na Lagoa Misteriosa. De tarde, a ideia é fazer uma flutuação. Será um dia intenso...
Chegando ao Balneário Municipal, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Muitos peixes nas águas claras do Balneário Municipal, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Muitos peixes nas águas claras do Balneário Municipal, em Bonito, no Mato Grosso do Sul
Hora de embarcar no barco que nos levará à Antártida, no porto de Buenos Aires, na Argentina
Finalmente, era chegada a hora. O último atraso foi o desaparecimento em La Boca de uma australiana do nosso grupo, a Pam. Procura daqui, procura dali e nada. Até que alguém liga do navio e diz que ela já chegou lá. Perdeu-se do grupo, pegou um táxi e foi direto. Enfim, resolvido isso, era a nossa vez de ir para o cais, bem pertinho. Alguns minutos mais e já estávamos fazendo a imigração portuária, a última burocracia entre nós e o alto-mar.
Fazendo a imigração no porto de Buenos Aires, na Argentina
O porto de Buenos Aires, na Argentina
Nosso barco segue primeiro para Falkland, ou Ilhas Malvinas, como preferem os argentinos. Aliás, se assim fosse, nem necessitaríamos carimbar o passaporte, pois ainda estaríamos dentro do país. Mas a Tatcher não quis assim. Então, carimbo de saída no passaporte. Nosso barco é um dos primeiros a fazer essa rota, saindo de Buenos Aires diretamente para as Ilhas Malvinas. Só podemos fazer isso porque o barco é canadense. Barcos argentinos, infelizmente, ainda não são benvindos por lá. Cidadãos argentinos talvez, mas precisam de visto. Certamente, ainda vou voltar a este assunto quando chegarmos lá.
Primeira visão do Sea Spirit, o navio que nos levará para a Antártida, ainda ancorado no porto de Buenos Aires, na Argentina
Nossa casa pelas próximas 3 semanas, no porto de Buenos Aires, na Argentina
Como disse, essa não é uma rota habitual. Quase sempre, barcos que seguem para a Antártida saem de Ushuaia ou Punta Arenas. Os poucos que incluem as Malvinas e Geórgia do Sul também saem de lá. Este ano, a Quark resolveu inovar e sair daqui, o que para nós foi uma mão na roda. Quark é o nome da empresa que está nos levando nessa expedição. Esse é o seu negócio: cruzeiros de expedição nas regiões polares da Terra, a Antártida e o Ártico.
O grupo chega de ônibus ao ancoradouro do Sea Spirit, no porto de Buenos Aires, na Argentina (foto de Vladimir Seliverstov)
A equipe de guias da Quark expeditions nos espera na entrada do Sea Spirit, no porto de Buenos Aires, na Argentina (foto de Vladimir Seliverstov)
Bom, nós passamos rapidamente pela imigração e seguimos de ônibus, por dentro do porto, até o atracadouro onde está o nosso navio. Minhas outras experiências com portos nesses 1000dias tinham sido bem mais complicadas e burocráticas. Foi quando tivemos de embarcar a Fiona em Cartagena, para a América Central, e na volta de lá, em Colón, para a América do Sul. Confesso que hoje foi muito mais agradável e leve. Pude até relaxar e apenas observar os grandes guindastes e contêineres sabendo que nossa Fiona não estava em nenhum deles.
O único outro brasileiro da expedição, o simpático Gunnar, chega com sua esposa ao porto de Buenos Aires, na Argentina (foto de Vladimir Seliverstov)
Pronto para entrar no Sea Spirit, o navio que nos levará para os mares do sul, ainda no porto de Buenos Aires, na Argentina
Enfim, chegamos perto do nosso atracadouro e o ônibus parou para que descêssemos. Lá estava o Sea Spirit, a nossa casa pelas próximas 3 semanas. É um barco com cerca de 100 metros de comprimento, o que não é considerado grande para barcos antárticos, Tem capacidade para 120 passageiros e um número equivalente de tripulantes, mas nessa primeira viagem da temporada, vai bem mais vazio. Seremos pouco mais de 70 passageiros, o que é uma grande vantagem para nós, pois acelera muito as operações de embarque e desembarque nas ilhas e praias que vamos conhecer ao longo do roteiro.
Deixando o porto de Buenos AIres rumo à Antártida!
Passageiros do Sea spirit observam a cidade de Buenos Aires ficando para trás...
Na entrada do barco, lá estavam todos os integrantes da Quark para nos dar as boas vindas. Os guias, cada um com sua especialidade, e a líder da expedição, uma neozelandesa chama Cheli. Entre os guias, há um historiador, um geólogo, um médico, um glaciologista e biólogos especializados em aves, cetáceos, mamíferos, e todos os ramos da ciência que interessam em uma viagem como essa. Enfim, vamos estar muito bem acompanhados e “guiados”.
O Sea Spirit vai deixando Buenos Aires para trás
Saindo de Buenos Aires, um brinde ao início da nossa viagem à Antártida
A equipe da Quark no barco não é grande. Umas dez pessoas, mais ou menos. A Quark aluga o navio por algumas temporadas e eles já vem com uma tripulação própria. No caso do Sea Spirit, vários são do leste europeu, Ucrânia principalmente. Já os serviços de hotel, lavanderia e limpeza dentro do barco, isso também é contratado de outra empresa. Nessa equipe, predominam filipinos e centro-americanos, como nicaraguenses e salvadorenhos. Muito mais sociáveis e também por causa da língua, são com eles que teremos mais contato direto, garçons barman e responsáveis pela limpeza de nossos quartos.
O barco dos práticos do porto de Buenos Aires nos deixa depois de realizar seu trabalho
O barco dos práticos do porto de Buenos Aires nos deixa depois de realizar seu trabalho
Fomos recepcionados no barco já com o farto almoço a mesa. Foi só o tempo conhecermos nossas cabines, verificar que as bagagens estavam mesmo lá e já fomos para o restaurante. Ótima surpresa, a comida é de alto nível, acompanhada de vinho branco e tinto. Já deu logo para perceber que a tendência vai ser engordarmos bastante nessas semanas a bordo, hehehe.
Palestra de apresentação no Sea Spirit
Apresentação da tripulação do navio
Assim que terminou o almoço o barco começou a se mover. Deixávamos Buenos Aires para trás e seguíamos pelo rio da Prata em direção a alto mar, um longo caminho que duraria muitas horas, pelo menos até o meio da noite. Com uma taça de vinho na mão, eu e a Ana subimos alguns dos andares do Sea Spirit e fomos ao convés observar a paisagem que ficava para trás e brindar o que nos esperava pela frente. Estávamos deixando Buenos Aires em alto estilo e isso merecia sim, um brinde. Foi muito legal e emocionante. Oportunidade única para fotos. Para nós e para todos do grupo, todo mundo se despedindo da terra firme.
Damien, o especialista em história, um dos muitos cientistas que vão nos acompanhar e guiar na viagem à Antártida
Apresentação dos sitemas e procedimentos de segurança do Sea Spirit
Em seguida foi a hora de nos reunirmos todos no auditório do navio para as devidas apresentações. Cada um dos guias da Quark falou de suas credenciais e campos de estudo e a Cheli nos explicou como seria a nossa rotina no barco. Depois, foi a vez da tripulação se apresentar, ênfase e interesse maior no cozinheiro e no barman, duas peças fundamentais durante as próximas semanas.
Hora de testar os sistemas e procedimentos de segurança do Sea Spirit
Hora de testar os sistemas e procedimentos de segurança do Sea Spirit
Por fim, foi a hora de falar de segurança no barco, equipamentos e procedimentos. Depois de tudo explicadinho, fizemos até um ensaio simulando uma emergência. Todo mundo com seu colete, com muita ordem, prontos para evacuar o navio. A gente espera que fique só nisso, mas nunca é demais ensaiar para já saber, na prática, como devemos proceder.
Barcos a vela no Rio da Prata, ainda perto de Buenos Aires
Ao final, todos de volta aos quartos já levando uma parka, que é o nome dado para a espessa jaqueta que usamos nas regiões polares e que nos foi presenteado e com as botas de borracha que devemos usar sempre que formos desembarcar. Essas são só emprestadas e deverão ser devolvidas ao final, devidamente limpas!
Navegando pelo Rio da Prata, início do longo caminho até a Antártida
Luz do final de tarde no convés do Sea Spirit, ainda no Rio da Prata, saindo de Buenos Aires, na Argentina
E aí, depois de tanto trabalho, era hora de relaxar e curtir o final da tarde e o pôr-do-sol explorando o navio, seus cinco andares, seus diversos decks, biblioteca, bar, sala de estar e até uma jacuzzi ao ar livre, ainda vazia nesse primeiro dia de navegação. Temos agora 3 dias inteiros de navegação sem nenhum avistamento de terra pela frente. Só muita água, vida marinha e tempo para realmente conhecer tudo o que existe no Sea Spirit e nos acostumar com a nova rotina. Nem é preciso dizer que estamos todos ANIMADÍSSIMOS!!!
Nosso primeiro pôr-do-sol a bordo do Sea Spirit, saindo de Buenos Aires, na Argentina
O famoso farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Duas características fazem de Cabo Polonio um lugar muito especial no litoral do Uruguai. Em primeiro lugar, as enormes dunas de areia que praticamente isolam a região do resto do mundo, algo único no país. Em segundo, a marca registrada da vila, o farol centenário que se ergue na colina e ilumina a noite escura, uma vez a cada 12 segundos, e que orienta não apenas os navegantes em alto mar, mas também os habitantes em terra, referência segura e constante, 365 dias por ano, a quem quer que esteja a seus pés ou a 20 milhas de distância.
O famoso farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
O famoso farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Essas duas atrações podem e devem ser visitadas por quem viaja a Cabo Polonio. Afinal, são as maiores atrações do lugar, literalmente. O farol está a cinco minutos de caminhada da vila e é aberto à visitação durante o dia. As dunas estão um pouco mais distantes, mas basta meia hora de caminhada pela praia, sentido norte, para se chegar à região onde estão as maiores delas. É justamente do alto do farol e das dunas que se tem as vistas mais impressionantes do parque e do oceano e valem cada gota de esforço para se chegar até lá.
Mar agitado e as dunas ao longe, em Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
O famoso farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Nós fomos ao farol na manhã do nosso segundo dia em Cabo Polonio. O dia amanheceu com o céu azul e sol radiante, um estímulo a mais para se chegar ao topo do farol e aproveitar a vista desimpedida lá de cima. Além disso, é de dentro da área do farol que temos a melhor chance de chegar mais perto da colônia de lobos-marinhos. A maioria deles prefere ficar em uma ilha rochosa a uns metros da costa, mas mesmo a essa distância se pode ouvir bem a barulheira que fazem por lá. Para nós, acostumados com o som desses mamíferos em nossa viagem para a Antártida, foi uma doce reminiscência. Um pequeno grupo deles estava mais próximo, bem na pontinha da península, mas cercas e avisos nos impedem de aproximar. A ideia é dar o máximo de sossego aos animais, interferindo ao mínimo com sua rotina. O remédio, então, é usar o zoom de nossa máquina fotográfica.
Lobos-marinhos descansam em pequena ilha rochosa em frente a Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Lobos marinhos na encosta rochosa de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
De qualquer maneira, estávamos mais interessados em subir o farol do que ver e ouvir os lobos. Uma estreita escada em caracol com quase 100 degraus nos leva até o topo da torre de 26 metros de altura. Meus pais preferiram ficar embaixo, onde já há informações técnicas e históricas do farol que foi inaugurado em 1881, enquanto eu e a Ana encaramos a pequena escalada. Antes que ficássemos tontos, já estávamos no alto tirando fotografias, tanto do enorme espelho usado para amplificar a luz do farol como da própria e ampla vista que se tem lá de cima.
Visto de baixo, o farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Escadaria do farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Dali ainda é possível ver mais lobos-marinhos, não só aqueles se aquecendo ao sol nas ilhas e na ponta da península, mas também grupos de animais refrescando-se e nadando no mar ao longo da costa. Mas vemos muito mais longe do que isso. Milhas e milhas mar adentro. No sentido oposto, todo o desenho da península onde se localiza o farol. Contornada pelo campo de dunas. A pequena cidade quase aos pés da torre, as casas pequenas espalhadas na campina e ao longo da praia do norte. Aliás, é para esta direção que o campo de dunas se estende mais adiante. Em um dia de céu azul como hoje, a visão é sublime.
O grande espelho refletor do farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
A bela vista do alto do farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Satisfeitos com a vista, descemos a torre para reencontrarmos meus pais que pacientemente nos aguardavam na base. Juntos, caminhamos uma vez mais para a praia do sul, aquela onde estivemos ontem. Com o dia lindo que fazia hoje, ela estava ainda mais cheia. Tinha até serviço de aluguel de guarda-sol e nós pegamos o nosso. Uma caipirinha, um mergulho no mar, conversa jogada fora e eu animei de fazer uma longa caminhada para as dunas na praia do norte. A Ana ficou com meus pais e eu parti, em ritmo acelerado, para ver até onde animava de ir.
No alto do farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
No alto do farol de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Atravessei novamente a campina e logo estava com os pés na areia novamente. O início da praia do norte ainda tem algum movimento, mas 15 minutos de passos rápidos e eu já estava sozinho naquela praia quase infinita. As dunas ao longo da costa eram cada vez mais altas, mas eu preferia caminhar pela praia mesmo, pé na água. Só não resisti quando percebi uma espécie de vale entre as dunas, com direito a riacho e até uma pequena cascata. Era como um caminho entre as montanhas de areia e a duzentos metros da praia ele desembocava em uma pequena lagoa. Lindo! Na volta para a praia, resolvi subir a duna mais alta e ter uma visão geral de onde estava. Foi aí que vi dunas ainda mais altas ao longe e também que a praia infinita não era tão infinita assim. Pelo menos, percebi uma grande curva no horizonte e decidi que, ao menos até ali, eu iria caminhar.
Do alto do farol se pode ver, ao mesmo tempo, as duas praias ao redor da península de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
E assim foi, uns três ou quatro quilômetros a mais e eu cheguei à tal curva. Nesse ponto, as dunas de areia já chegavam quase até o mar, restando apenas uma praia bem estreita. Estava até meio difícil de caminhar. Subi na duna então e, lá do alto, já bem próximo, vi as maiores dunas da região. Para minha surpresa, tinha gente em cima delas! Então, deixei o mar para trás e fui caminhando até lá, cortando caminho pelo campo de dunas. Uns quinze minutos mais tarde, cheguei ao topo da maior delas e a vista era impressionante. Para minha surpresa, tinha uma cidade ali perto!
Trilha de 15 kms entre Cabo Polonio e Valizas, ida e volta, no litoral do Uruguai. Na ida, acompanhando a praia, na volta, cortando caminho pelas maiores dunas do país
Barra do rio Valizas, alguns quilômetros ao norte de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai (foto da internet)
Pois é, era Valizas. Esse é o nome não só da cidade, mas também de um rio que delimita a parte norte do parque de Cabo Polonio. Para mim, surpresa total, pois não tinha reparado isso no mapa. Desci a duna para o lado de lá e fui averiguar mais de perto. Quanto mais perto do rio, mais gente na praia. O visual é lindo, montanhas de areia caindo sobre o mar, bem ao lado desse pequeno rio de águas limpas. Atravessei o rio para o lado de lá e useis meu único dinheiro para comprar uma refrescante água mineral e uma deliciosa cerveja.
As dunas de Valizas, alguns quilômetros ao norte de Cabo Polonio, são as maiores do Uruguai (foto da internet)
As dunas chegam quase até o mar nas proximidades de Valizas, perto de Cabo polonio, no litoral do Uruguai (foto de Uruguay Anti Natural)
Até Valizas é possível chegar de carro. E ela está ainda mais próxima das dunas gigantes do que Cabo Polonio. Basta atravessar o rio e caminhar uns cinco minutos para se chegar até elas. Se Cabo Polonio é ainda quase desconhecida fora do Uruguai, a pequena Valizas, então, nem se fala. Eu nunca tinha ouvido falar e foi uma gratíssima surpresa chegar até aqui. Daria para ficar horas ao lado daquele rio, hora mergulhando em água doce, ora mergulhando em água salgada, intercalado com passeio nas dunas.
No fim de tarde, a Ana sobe em duna de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
No fim de tarde, a Ana sobe em duna de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Já era o meio da trade e eu tinha de voltar. Mas fui por um caminho diferente dessa vez. Ao invés de seguir pela linha da costa, cruzei pelo longo campo de dunas, quase em linha reta, em direção a Cabo Polonio. Nas partes baixas, me perdia um pouco, mas nas partes altas, eu me localizava a acertava o prumo. Até que descobri uma espécie de trilha, com pegadas e tudo, e segui por ela. Adivinha só onde eu fui chegar? Quase naquela pequena lagoa que eu havia estado mais cedo! Segui pelo vale encantado e cheguei à praia. Dez minutos de caminhada com o pé no mar em direção ao cabo e cruzei com uma pessoa caminhando na minha direção. Era a Ana!
Fim de tarde nas dunas de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Fim de tarde nas dunas de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
Não tive dúvidas! Inverti a marcha e levei a Ana até o vale que eu havia descoberto e até o alto da duma ali do lado. A luz do fim de tarde tornava tudo mais bonito e a sensação era de estarmos em Jericoacoara (CE), Itaúnas (ES) ou Manque Seco (BA). Aquela pequena lagoa dava até um quê de Lençóis Maranhenses (MA). Mas não era nada disso, não! Nem estamos no Brasil! Isso aqui é o Uruguai e nós estamos no belíssimo Parque Nacional Cabo Polonio. Foi uma caminhada para não me esquecer mais, muito especial dentro esses 1000dias. Ainda mais finalizando com esse fim de tarde mágico, no meio das dunas, junto com a Ana. Cabo Polonio ficará, para sempre, no coração!
Fim de tarde nas dunas de Cabo Polonio, no litoral do Uruguai
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