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RODRIGO (24/12)
Bismaxon gravacoes (30/11)
Achei muito interessante atualmente esta sua postagens. Parabéns! Bismax...
Eu Mesmo (28/11)
Deveriam construir um canal marítimo de uns 100 metros entre Yaviza (Pan...
Daiane Dias (23/11)
Achei este conteúdo interessante e compartilhei em meu facebook. Rio de ...
MOISÉS DE SOUSA AFONSO (04/11)
Muito empolgante viajar de carro, eu adoro dirigir, contemplando as paisa...
Gracias, um pedaço de Minas Gerais no coração de Honduras
O ano era 1543 e a América Central já era território do Rei de Espanha. Milhares de colonizadores se dirigiam ao novo continente, em busca de novas oportunidades de enriquecimento rápido. Era preciso colocar uma ordem nesse processo de colonização que se iniciava de maneira caótica. O primeiro passo: escolher uma capital para esse novo território de além-mar.
A região rural e montanhosa de Gracias, em Honduras
A escolha recaiu sobre a pequena cidade de Gracias. Localizada em meio às montanhas da região central de Honduras, o simpático nome vem da expressão usada pelos primeiros colonizadores que lá chegaram. Depois de intermináveis dias caminhando sobre montanhas, sobe e desce sem parar, ao finalmente chegarem ao vale onde se encontra Gracias, exclamaram: “Gracias a Dios!”. O agradecimento virou nome e pegou!
O prédio da prefeitura de Gracias, em Honduras
Mas a primazia de Gracias como capital centro-americana não durou muito. Regiões que naquela época já eram muito mais populosas reclamaram por ter de prestar contas a uma pequena vila perdida no meio das montanhas hondurenhas. Em 1549, o governo espanhol cedeu às pressões e a capital foi transferida para Antigua, na Guatemala, principal polo colonizador na América Central do século XVI. Muitos argumentam hoje que esse foi um dos fatores que contribuiu para que a América Central nunca fosse unida como um só país. Com sua capital localizada no extremo norte do território, as outras regiões nunca se sentiram realmente ligadas a ela. A pequena Gracias, realmente, era muito mais central.
Igreja matriz de Gracias, em Honduras
Bom, isso fez com que Gracias permanecesse pacata ao longo de todos esses séculos, depois do inicio promissor. Perdeu o posto de capital continental, nunca se firmou como capital nacional, mas ao menos se manteve como capital regional, da província chamada Lempira. Esse também é o nome da moeda de Honduras, homenagem ao líder indígena que resistiu bravamente aos espanhóis, quase expulsando-os do país e só sendo morto através da mais vil das traições.
Praça central da pacata Gracias, em Honduras
Honduras era ocupada, na época da chegada dos europeus, por centenas de tribos indígenas. Os mayas só haviam estado no norte do país, mas nessa época já quase não tinham importância. Entre as tribos mais conhecidas estava a do povo Lenca. Seu líder era Lempira e, ao conseguir unir várias outras tribos contra o inimigo comum, chegou a juntar 30 mil guerreiros. Após várias derrotas militares, os espanhóis levantaram a bandeira branca e pediram negociações. Quando Lempira se apresentou, foi prontamente esfaqueado pelas costas por um soldado espanhol. Sem seu carismático líder, rapidamente a rebelião foi desbaratada e a região se abriu para os colonizadores, pouco antes da fundação de Gracias.
Nosso caminho entre Copán e Gracias, já no interior de Honduras
Ontem de tarde, depois da visita ao Museu das Esculturas em Copán, cruzamos as mesmas montanhas que tanto cansavam os primeiros colonizadores e chegamos à Gracias. Para minha surpresa, descobri um pedacinho de Minas Gerias encravado em pleno coração de Honduras. Uma pequena cidade com ruas de pedra e casas com aspecto colonial, pessoas nas portas de suas casas olhando a vida passar, uma simpática praça central onde está a igreja matriz. A sensação é de um ritmo diferente, bem distante do frenesi das cidades grandes. Até os relógios parecem andar mais devagar, principalmente nos dias mais quentes, como nessa época do ano.
Uma típica rua de Gracias, em Honduras, a antiga capital da América Central
Nós ficamos hospedados em um hotel no alto de uma colina e , da nossa varanda, podíamos observar toda a cidade, seus telhados vermelhos, a torre da igreja ao longe, as montanhas verdejantes ao redor. Nostálgico mineiro que sou, a sensação era de estar de volta à terra amada. Foi joia! Nossa tarde foi passada ali, sossego total, só curtindo aquela vista. Pela manhã, enfrentando o calor, até fui caminhar pelas ruas tranquilas em busca de um barbeiro. Fazer a barba por aqui foi uma espécie de homenagem á minha terra natal e sua representante aqui na América Central. De cara limpa e coração batendo mais forte, estava pronto para seguir viagem. Próxima parada, o lago de Yojoa...
Gracias, um pedaço de Minas Gerais no coração de Honduras
Socializando em gostoso fim de tarde na praia de Paúba em São Sebastião - SP
Final de semana em Maresias, esse é um dos programas prediletos da juventude sarada e bonita de São Paulo. Sem dúvida nenhuma, é uma das maiores concentrações de mulheres maravilhosas por metro quadrado do planeta. Especialmente na parte sul da praia. Pelo menos, essa é a propaganda que chega aos nossos ouvidos.
Praia de Maresias em São Sebastião - SP
Mas nem essa fama toda nos tirou da pousada na manhã de sábado. Primeiro, precisávamos ver o jogão Argentina x Alemanha. Quem leu meu post anterior sabe que eu tinha apostado nos hermanos. É uma clássica "win-win situation": se a Argentina ganhar, eu ganho uma cerveja, se a Argentina perder, é felicidade garantida pelo resto da semana. Bom, o resultado veio melhor do que a encomenda, um tremendo de um chocolate alemão para cima dos hermanos pobresitos. Alegria e piadas para o resto do mês...
Logo depois do jogo terminar chegaram o Rafa e a laura de São Paulo. Amigos e padrinhos de casamento, vieram passar o fim de semana conosco. Fomos todos conferir a famosa ponta sul de Maresias. Apesar da promessa de fim de semana ensolarado, o inverno não atrai muitas pessoas ao litoral. Assim, a praia estava bem vazia para padrões maresienses, apesar de parecer lotada para o que eu e a Ana temos visto por aí. Realmente, padrão de beleza e saúde bem acima da média, apesar da amostra ser pequena. Só não pudemos assistir ao famoso jogo de futivolei feminino, onde a única coisa que balança é a rede, que o Haroldo vinha propagandeando há meses. Fica para o primeiro verão depois dos 1000 dias...
Depois da corrida nas areias de Maresias, com o Haroldo e Rafael em São Sebastião - SP
Tarde gostosa na praia, corrida de ida e volta pelas areias inclinadas e fofas, mergulho delicioso pelas águas especialmente limpas nesta época do ano. Depois, de noite, para celebrar o encontro com os amigos e primo, um jantar de alto nível num dos melhores restaurantes da praia, o Seu Sebastião. Muito bom mesmo.
Com os padrinhos Rafa e Laura na praia de Paúba em São Sebastião - SP
No domingo, o Haroldo partiu logo cedo. Eu, a Ana, o Rafa e a Laura fomos passar o dia em uma das muitas praias lindas da região, a vizinha Paúba. Bem mais tranquila e ensolarada que Maresias. Lá encontramos vários conhecidos da Laura e Rafa. Houve até jogo de futivolei. Masculino, infelizmente. Mais corrida, mais mergulho, mais muita conversa na areia. Vidinha bem difícil, para relaxar um pouco da correria dos últimos 100 dias.
Com o Zé, cozinheiro de mão cheia, em sua casa na praia de Paúba em São Sebastião - SP
Depois da praia, fomos todos para a casa do pai da amiga da Laura, em Paúba mesmo. O Seu Zé e família nos recebeu de braços abertos e com muita comida. Churrasco com diversos tipos de carne, lazanha, feijão delicioso enfim, um festim. Um relaxado ambiente familiar para a gente matar a saudade.
De volta para à pousada Katmandu (que bela opção de pousada, indicação do Haroldo!) o Rafa e Laura partiram para São Paulo, e eu e e a Ana voltamos para o nosso mundo à dois, tão completo a maioria das vezes mas que, volta e meia, é uma delícia dividir com familiares e também com velhos e novos amigos.
Todo mundo muito bem alimentado, na casa do Zé e família na Praia de Paúba em São Sebastião - SP
Atravessando o Vale das Flechas, entre Molinos e Cafayate, na Argentina
Clima de fazenda no nosso café da manhã no hotel em Molinos. Menos pela comida e mais pelo ambiente. Mas, principalmente, pelos nossos cavalos que estavam sendo arreados do lado de fora.
O Miguel nos mostrando seus truques om cavalos, em Molinos - Argentina
Assim, quando terminamos de nos alimentar, o Miguel já nos esperava com tudo preparado. Miguel é um legítimo argentino gaúcho, amante dos cavalos e também do Brasil. Durante sua juventude hippie, viajou muito pelo nosso país e é fã incondicional da Bahia e de Minas Gerais. Alguns anos mais tarde, deixou Buenos Aires encima de um cavalo com a intenção de chegar ao México. Não foi tão longe, mas acabou chegando, depois de uma ano de viagem, em Molinos. Aqui, estabeleceu um negócio com cavalos e sempre leva turistas para cavalgadas. O sonho de chegar ao México, à cavalo, só foi adiado!
Atravessando Molinos - Argentina à cavalo
Passeio à cavalo na região de Molinos - Argentina
Nossos cavalos eram da raça "peruano", cavalos bons de trilhas rústicas e também de altitude. Ideais para essa região. Para nós, foi um deleite, cavalgar nesse cenário de cinema, montanhas nevadas ao fundo, trilhas cortando rios e colinas, cenários semidesérticos e com vestígios de povos antigos e desaparecidos. Sentia-me o John Wayne encima do meu "peruano".
Passeio à cavalo na região de Molinos - Argentina
Foi um passeio de umas duas horas, logo após ele mostrar alguns "truques" que faz com seus cavalos. Como bem disse a Ana, ele é um "encantador de cavalos". Tivemos a chance de galopar, trotar, marchar e , no alto de alguma colina, simplesmente admirar a paisagem magnífica à nossa volta e sentir o vento em nossos rostos. Sempre com o Miguel a nos ensinar sobre a história e geografia da região, além de contar sobre suas peripécias no Brasil. Foi muito legal!
Vale das Flechas, entre Molinos e Cafayate, na Argentina
Vale das Flechas, entre Molinos e Cafayate, na Argentina
De volta à Molinos, deixamos nosso hotel e seguimos em direção à Cafayate, seguindo sempre pelo vale, parte dos "Vales Calchaquíes". No meio do aminho, uma região especial, um parque, conhecido como Vale das Flechas. O nome vem das rochas e encostas inclinadas, resultado de movimentos tectônicos causados pela formação dos Andes. Elas parecem flechas apontadas para o céu. É um cenário de outro planeta que nos dá vontade de explorar, fotografar e admirar.
Chegando no alto de uma das "flechas", no Vale das Flechas, entre Molinos e Cafayate, na Argentina
Em contato com Pachamama no Vale das Flechas, entre Molinos e Cafayate, na Argentina
E assim o fizemos, por uma hora ou mais. Até pequenas escaladas deu para fazer, sempre em busca de um pouco de aventura e também de um melhor ângulo para se admirar aquela beleza toda. Com certeza, poderíamos ficar horas por ali, explorando os diversos recantos desse lugar incrível.
Almoço em pequena cidade entre Molinos e Cafayate, na Argentina
Mas aí a fome começou a apertar e seguimos para uma pequena vila recomendada pelo Miguel, para almoçar e tomar uma famosa cerveja artesanal. E assim o fizemos, a Ana com uma salada, eu com as maravilhosas empanadas argentinas e nós dois com a tal cerveja artesanal, de grau 8, quase o dobro dessas industrializadas. Muito boa, por sinal! Mas, como seguiríamos viagem, tivemos que parar logo na primeira garrafa...
Deliciosa cerveja artesanal, de grau 8, em pequena cidade entre Molinos e Cafayate, na Argentina
Chegando ao Vale das Conchas, próximo à Cafayate - Argentina
Chegando em Cafayate, nem entramos na cidade. Seguimos diretamente para uma de suas mais incríveis atrações. Sua e de toda a província e também do norte da Argentina. As incríveis formações rochosas do Vale das Conchas, ao longo da estrada que liga a cidade à Salta.
O majestoso Anfiteatro, no Vale das Conchas, próximo à Cafayate - Argentina
Saindo do Anfiteatro, no Vale das Conchas, próximo à Cafayate - Argentina
Em muitos lugares, o cenário parece com as formações do Grad Canyon. Enormes paredes aavermelhadas em forma de castelos, obeliscos e enormes animais. Tudo pode ser admirado de dentro do carro mesmo. Em outros lugares, são canyons que mais parecem gargantas as atrações. Aí, estacionamos o carro e caminhamos um pouco, garganta adentro. No Anfiteatro, como o nome indica, a garganta termina numa enorme clareira cercada de enormes paredes. Um verdadeiro anfiteatro!. E para nós, o espetáculo do dia foi a lua nascendo por cima das paredes, bem no fim de tarde, enquanto um músico cantava, sua voz ecoando nas paredes, uma música em sua homenagem.
Explorando a Garganta del Diablo, no Vale das Conchas, próximo à Cafayate - Argentina
Já na Garganta del Diablo, a caminhada é mais longa, pelo menos para aqueles que se dispõe a escalar um pouco. De obstáculo em obstáculo, por entre enormes paredes, vamos seguindo garganta adentro, cenário de Indiana Jones. Um espetáculo! Até que chegamos na parede final, essa interditada mesmo aos mais aventureiros. Aí, é só olhar para cima e para os lados e ficar maravilhado com aquele cenário.
Explorando a Garganta del Diablo, no Vale das Conchas, próximo à Cafayate - Argentina
Com o sol se pondo, era hora de voltar à Cafayate para, dessa vez, entrar na cidade, encontrar algum hostal e dormir. Afinal, depois dos cavalos, flechas e conchas (e da ceveja grau 8!), o sono estava batendo. Precisamos estar prontos e descansados para o dia de amanhã, que nos trará as famosas ruínas de Quilmes e a longa viagem até Fiambalá, última cidade antes do Paso San Francisco, nossa almejada fronteira com o Chile!
Divertindo-se na Garganta del Diablo, no Vale das Conchas, próximo à Cafayate - Argentina
Região do Darien Gap, na fronteira entre Panamá e Colômbia. Em vermelho, nossa pretendida rota de veleiro, entre Cartagena e Portobelo, passando pelo arquipélago de San Blás
Quando falamos por aí que estamos indo de carro até o Alaska, além do espanto natural, somos quase sempre recebidos com a pergunta: "Mas é possível ir até lá de carro? Tem estrada?". O maior obstáculo, pensam, seria o Canal do Panamá, que liga o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. Na verdade, cruzar o canal nem é difícil. Ele é bem estreito e já passamos por rios centenas de vezes mais largos.
Existe uma rodovia que liga os dois extremos das Américas. É a chamada "Rodovia Panamericana", que tem sido nossa companheira nesses últimos meses de viagem. Do norte do Chile até o norte da Colômbia, foi por ela que seguimos em diversos trechos, as vezes com nomes diferentes, mas sempre rumo ao norte. Essa rodovia, imagino, é a mais longa do mundo. Mas, infelizmente, ele nunca foi terminada. Faltou vencer um obstáculo, no Panamá também, mas não é o famoso canal. É algo muito maior, mais largo e mais selvagem: o Darien Gap. Uma região de florestas praticamente impenetráveis no estreito istmo que liga a América do Sul à América Central. Uma enorme barreira natural que por séculos tem dificultado o trânsito de pessoas entre os dois continentes.
Primeira expedição a cruzar o Darien Gap, entre Panamá e Colômbia, em 1960. Foram precisos mais de 140 dias!
Pouco mais de cem quilômetros de mata, montanhas e pântanos separam as duas pontas da estrada. O governo do Panamá considera a região uma boa defesa contra os guerrilheiros do país vizinho enquanto o governo Colombiano fica feliz que as doenças tropicais da América central fiquem do lado de lá. E assim, o projeto de estrada que já tem 50 anos continua sendo postergado indefinidamente.
Alguns aventureiros já o fizeram! Mas são mega-expedições, com dezenas de pessoas que seguem abrindo caminho na selva para que carros possam, vagarosamente, segui-los. A primeira vez foi em 1960, como parte da campanha para que se fizesse uma estrada. Pelo visto, a campanha não adiantou. Normalmente, essas expedições duram mais de 100 (cem!) dias na selva. Literalmente, programa de índio.
Expedição britânica que cruzou o Darien Gap em mais de 100 dias, em 1972 (entre Panamá e Colômbia)
Bom, não é o nosso caso. Gostamos de aventura, mas nem tanto. Assim, o nosso caminho é outro. O que as cerca de cinco expedições mensais (na sua maioria argentinos. Brasileiros, é coisa rara!) entre Colômbia e Panamá fazem é seguir de navio entre Cartagena e Colón, para de lá seguirem de carro. Para isso, precisamos todos enfrentar um outro pantano, dessa vez burocrático.
São duas opções: enviar o carro dentro de um container, muito mais caro e burocrático, porém bem mais seguro, ou enviá-lo como carga solta (sistema "ro-ro"), mais barato e simples, mas considerado inseguro. Isso porque temos de deixar a chave do carro no porto, para que o carro seja guiado para dentro do navio e depois, tirado de lá. Não é incomum desaparecem objetos pessoas neste percurso.
Desfile de "carnaval" nas festas de independência de Cartagena, na Colômbia
A gente estava com a intenção de mandar a Fiona de container, procedimento em que precisamos de um despachante para nos guiar através da selva de documentos. mas um encontro fortuito com um casal argentino que está fazendo a mesma coisa nos fez mudar de idéia. Vamos de ro-ro mesmo, sem despachante. Nos dois primeiros dias aqui em Cartagena, passei um bom tempo entre a agência da Naves (a dona do cargueiro), a Aduana colombiana e um dos portos da cidade. Creio que já percorri 1/5 do "caminho". O que nos dificultou é que a cidade está em festa e tudo fechou entre os dias 10 e 14 do mês. Então, a próxima terça-feira, dia 15, será um dia-chave nessa nossa empreitada. Até seguro de vida vou ter de tirar, para poder entrar no porto onde a Fiona deverá ser embarcada.
Enfim, por enquanto esses são os planos: a Fiona será embarcada no dia 18, depois de vistorias da Aduana e da polícia anti-narcóticos. Dois dias depois chega em Colón, porto caribenho do Panamá.perto da entrada do canal. A gente está tentando seguir para lá de veleiro, passando por San Blás, um arquipélago paradisíaco na costa do Panamá. Uma viagem de cerca de 5 dias. Mas, para isso, ainda temos de achar algum veleiro que saia na data correta. O problema é que não podemos partir antes da Fiona. E também não podemos demorar muito para chegar do lado de lá. Desse modo, os 1000dias estão passando e a gente por aqui...
Fogos de artifício na PLaza del reloj, na entrada da cidade murada de Cartagena, na Colômbia
Bom, na terça dou mais notícias dos trâmites burocráticos. Enquanto isso, a festa corre solta nessa linda cidade...
O Rafa preparando caipirinha para os russos, na Ilha de Darwin, em Galápagos
Uma semana de vida à bordo, o maior período que já passei flutuando desde os nove meses pré-natais, foram mais do que suficientes para estabelecermos uma gostosa rotina diária. A gente era acordado com música nos autofalantes por volta das sete da manhã e, logo em seguida, o tradicional discurso de bom-dia do Capitão Vitor, num inglês com total sotaque castelhano que, invariavelmente, nos convidava para um "delicious breakfast in the paradise islands!".
Isla Wolf e seu reflexo, em Galápagos
A manhã seguia com dois mergulhos maravilhosos intercalados com um lanche rápido e quentinho e, em seguida, "delicious lunch"! Hora da siesta e mais um mergulho de tarde. Umas cervejinhas para relaxar, muita socialização com os outros passageiros, banho e "delicious dinner"! Mais um pouco de conversa e todos para a cama, pois incríveis mergulhos nos esperam para amanhã!
Todos jantando no salão das refeições do nosso barco, ao largo da Ilha de Santiago, em Galápagos
Esse era o roteiro básico, adaptado às mudanças do dia à dia. Como nós fomos "encaixados" de última hora neste barco, já que o que havíamos contratado tinha furado, só conseguimos um quarto de casal para nós, além de duas outras vagas em quartos duplos. A solução foi a gente dividir o quarto de casal, o Rafa e a Laura nas primeiras 3 noites e eu e a Ana nas 3 noites finais. Enquanto isso, a Ana e a laura dividiam um quarto com a sueca Maria enquanto eu e o Rafa dividíamos um quarto com o russo Koxta.
Os russos tomam sol no sun deck do barco, na ilha de Wolf, em Galápagos
Aproveitando as últimas luzes do dia para fotografar, na ilha de Wolf, em Galápagos
Fora esse pequeno "inconveniente", o Galápagos Sky era super confortável. Alguns quartos no andar inferior, um grande salão de refeições conjugado com um salão de visitas ao nível do mar e os quartos mais bacanas no andar de cima, com bela vista para o mar. Ao lado do salão de refeições um sortido open bar e a cozinha sempre movimentada para alimentar tantas bocas. Do lado de fora, o deck de mergulho, onde nos arrumávamos e embarcávamos nas pangas (botes motorizados) que nos levavam e buscavam dos pontos de mergulho. Na volta, éramos sempre recebidos por uma tripulação que nos ajudava com as roupas e nos dava toalhas quentinhas e confortáveis. Do lado de fora do segundo andar, outro deck com mesas, cadeiras e mais um bar. Por fim, no telhado, o sun deck, com cadeiras de sol e redes que nos convidavam para o ócio comtemplativo.
Hora do descanço no sun deck do barco, na ilha de Wolf, em Galápagos
O deck de mergulho do nosso barco (Isla Isabel, em Galápagos)
As refeições eram muito gostosas, muitas frutas no café da manhã, buffet no almoço e jantar com duas escolhas de pratos principais, sempre acompanhados de vinho. A cada noite, o capitão convidava alguns passageiros para se sentar à sua mesa, sempre uma boa conversa sobre o Equador ou Galápagos. Ele é de Baños e já subiu algumas vezes o Chimborazo!
O deck do bar do nosso barco (Isla Isabel, em Galápagos)
Os passageiros acabaram por se dividir em dois grandes grupos: os russos e o resto do mundo. Ficamos muito amigos do Friso e da Maria, além do Henning. Mas também conversávamos bastante com o Koxta. Os outros russos quase não falavam inglês e era sempre engraçado tentar nos comunicar com eles. Depois da vodka, ficavam bem menos tímidos e a conversa fluia mais!
Tubarões de Galápagos (quase inofensivos!) cercam nosso barco durante a noite na Ilha de Darwin, em Galápagos
A navegação entre as ilhas era feita, sempre que possível, de noite, para que estivéssemos no lugar certo já na hora certa. Mas algumas vezes navegávamos de dia, sempre acompanhados de pássaros no alto e golfinhos por baixo. Algumas vezes, de noite, com o barco parado, eram os tubarões que nos cercavam. Não, não eram só os tubarões. Na verdade, foi a natureza que nos cercou durante toda essa semana. É incrível a quantidade de vida nesse arquipélago. Nas ilhas, no mar e no ar, para onde se olha, lá estão as criaturas que fazem destas ilhas um lugar tão especial! No próximo post, vou falar dos bichos que vivem na terra e no ar aqui em Galápagos.
O Galapagos Sky, nosso barco! (Isla Isabel, em Galápagos)
Relaxando na tranquila e belíssima Playa Giron, região de Cienfuegos, em Cuba
Começamos o dia de hoje com uma rápida caminhada pelo centro da cidade de Cienfuegos, especialmente pela bela e majestosa Praça José Martín, homenagem ao grande herói da guerra de independência. Grandes prédios cercam a praça e, tanto ela como toda o centro histórico tem um certo ar francês, resultado da imigração francesa do início do séc XIX, quando os Estados Unidos compraram a Louisiana e muitos de seus antigos colonos preferiram emigrar para Cuba.
o imponente prédio do Museu Provincial, na praça josé Martí, centro de Cienfuegos, em Cuba
Visitamos também o Mercado Municipal da cidade, a primeira vez que entramos num mercado em Cuba. Tudo muito organizado, sem aquela bagunça e multidão típicas de mercados em países latino-americanos. Pouca gente e poucos produtos, tudo vendido em moeda nacional. Para nossos padrões, praticamente de graça. Durante alguns momentos, fomos a sensação do lugar, muita gente querendo tirar fotos conosco, principalmente com minha simpática esposa. Foi interessante ver também a mescla de raças que forma o povo cubano. Desde os afroamericanos até aqueles que, no sul, chamaríamos de “polacos”.
Mercado Municipal de Cienfuegos, em Cuba
Cienfuegos é o nome da província e da capital onde estamos. Inicialmente, pensei ser uma homenagem ao popular revolucionário, mas descobrimos que o nome vem de um governador do séc XIX. O revolucionário, Camilo Cienfuegos, apesar de não ser tão conhecido fora de Cuba como seus companheiros Che e Fidel, no país é tão popular e até mais querido que os outros dois heróis. Esteve na luta desde o desembarque do Granma, foi um dos 12 sobreviventes dos terríveis primeiros dias de luta e, um ano mais tarde, foi nomeado “comandante” pelo líder Fidel. Liderou uma das colunas que atravessou o país de leste a oeste (a outra era liderada por Che) e entrou em Havana aclamado como herói. Assumiu papel de liderança no governo revolucionário, mas um misterioso acidente de avião tirou-lhe a vida ainda em 1959. Como os destroços nunca foram encontrados, vários rumores apareceram de que ele teria sido morto pelo próprio regime. Bom, pelo menos publicamente, a sua relação com Fidel era ótima até o dia do acidente, Camilo sendo considerado um de seus mais leais seguidores. Qualquer que tenha sido a causa, o fato é que ele passou a ser nome de escolas, ruas, cooperativas e, junto com Che, a principal peça de propaganda do regime, através de milhares de imagens espalhadas pelo país.
Vendedores do Mercado Municipal de Cienfuegos, em Cuba
Depois do passeio pelo centro, fomos de carro rumo ao oeste, para Playa Girón. Pouco mais de meia hora de estradas tranquilas e secundárias e chegamos à bela praia, muito menos frequentada pelos turistas do que os cayos (pequenas ilhas) e Varadero. Aqui não há resorts e os habitantes podem abrir Casas de Hóspedes (o que não ocorre nas praias mais conhecidas).
A figura de Che, sempre presente! (em Cienfuegos, em Cuba)
Playa Girón fica quase na entrada da famosa Baía dos Porcos (“Baía de Cocinos” aqui em Cuba), local da fracassada invasão de forças anticastristas em Abril de 1961. Há vários museus que retratam essa história, mas o melhor está ali mesmo, em Playa Girón. Ficamos um tempo curtindo a tranquilidade e beleza da praia, mojitos sendo servidos ali na areia mesmo, bem diretoria até que, antes que o museu fechasse, eu segui para lá. A Ana, Laura e Rafa, como já tinham ido ao Museu de La Revolución, resolveram ficar na praia mais um tempo. Como nos disse um cubano, todos os museus são parecidos, fotos da época, frases e histórias contando as glórias do regime.
A bela Playa Giron, na região de Cienfuegos, em Cuba
O que mais me atraia era um filme de 15 min feito pouco tempo depois da invasão, produzido pelo governo. Além das ótimas imagens, a narração também é bem divertida, pintando os invasores como mafiosos e os americanos como imperialistas. Como geralmente a gente só vê filmes americanos (e aí eles são os mocinhos, claro!), é bem interessante ver o outro lado. Depois do filme, pude passar um bom tempo vendo fotos, mapas e notícias da época. Bem legal!
Museu que retrata a história da fracassada invasão da Baía dos Porcos, em Playa Giron, próxima à Cienfuegos, em Cuba
A invasão foi feita por cubanos exilados na Flórida, treinados e equipados pela CIA. Até então, a agência americana tinha tido 100% de sucesso nas suas ações de desestabilização de governos latino-americanos considerados hostis ou comunistas. O último exemplo tinha sido na vergonhosa intromissão na Guatemala, oito anos antes. Dessa vez, porém, deram com os burros n’água. Além de não contarem com o apoio aéreo americano, que tanto ansiavam, os invasores subestimaram completamente o apoio que a população daria as forças do governo. Ao contrário, imaginaram que a população se levantaria em seu favor. Em apenas três dias de luta, sob comando direto de Fidel, a invasão foi esmagada e centenas de invasores foram presos. A primeira derrota dos imperialistas, como anuncia solenemente o narrador do filme que vi.
Início de noite admirando a baía na aristocrática Punta Gorda, em Cienfuegos, em Cuba
Voltei para a praia com a cabeça a mil com as histórias do museu. Já no fim de tarde, voltamos para Cienfuegos, diretamente para o distrito de Punta Gorda, o bairro aristocrático da cidade no período pré revolucionário. Vários antigos casarões e hotéis e restaurantes por lá. Tudo com uma bela vista da baía onde está a cidade. Mal dá para perceber que estamos num país socialista.
Hotel em Punta Gorda, bairro chique de Cienfuegos, em Cuba
Amanhã cedo, deixamos a simpática Cienfuegos para trás e rumamos para uma das mais conhecidas atrações turísticas do país: patrimônio mundial pela UNESCO, a colonial Trinidad, a pouco mais de uma hora de carro daqui, já no caminho do sol nascente!
A Ana acaba de colocar novos vídeos no YouTube!
Fazem parte da série de vídeos "Soy Loco Por Ti America", com depoimentos de pessoas sobre as cidades onde vivem. Para quem quer praticar o português, espanhol ou inglês, estão ótimos
Confiram no nossa canal no YouTube, no link abaixo
http://www.youtube.com/user/1000diasAmerica
A magnífica paisagem da estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
Saímos hoje de Santiago rumo a Mendoza, na Argentina. No caminho, uma parada importante: a famosa estação de esqui de Portillo, já bem perto da fronteira, a quase 3 mil metros de altitude nos Andes, sonho de muitos brasileiros e cidadãos de outros continentes, principalmente na temporada de inverno.
O hotel e a estação de esqui foram abertos ao público em 1949, a exatos 2.880 metros de altitude. Mas os teleféricos aí instalados levam os esquiadores bem mais alto, até os 3.300 metros. Daí, eles podem esquiar quase 800 metros para baixo, até os 2.550 metros, de onde um teleférico os leva de volta ao hotel ou ao alto da pista novamente.
Rumo ao Paso Cristo Redentor, sobre os Andes, entre Santiago (Chile) e Mendoza (Argentina)
O famoso hotel da estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
A estação de Portillo ganhou fama internacional depois que foi sede de um campeonato mundial em 1966. Desde então, tornou-se um dos locais prediletos para treinos de diversas equipes de países do hemisfério norte, principalmente quando é verão por lá e inverno por aqui. Entre os fregueses costumeiros estão equipes dos Estados Unidos, Áustria e Itália.
Cadeirinhas desligadas na estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
Agora, em plena primavera, a estação de esqui está fechada. Mesmo assim, parar por aqui é um colírio para os olhos. O hotel fica ao lado da Laguna del Inca, um lago alpino espremido entre várias montanhas cobertas de neve. É uma paisagem magnífica, um verdadeiro colírio para os olhos. Para quem se hospeda no hotel, pode até tomar banho de piscina aquecida no meio de todo esse visual. Para quem não é hóspede, a opção é comer no restaurante, que também tem suas janelas voltadas para esta paisagem deslumbrante. E se você não quiser ver as montanhas, pode ver os diversos quadros que adornam as paredes, mostrando todos os esquiadores famosos que já passaram por aqui.
A magnífica paisagem da estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
A gente foi só conhecer o lugar, mas não comemos. Preferimos nos divertir com o enorme São Bernardo que recepciona os visitantes. Nesta época do ano, ele deve achar o movimento meio caído e fica fazendo cara de enfadado. Mas que é um cão que combina com aquela paisagem, isso ele é!
A magnífica paisagem da estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
Bom, depois da nossa parada em Portillo (o hotel fica na beira da estrada!), seguimos mais uns poucos quilômetros e passamos pela aduana chilena. Nem precisamos nos deter ali, pois toda a aduana e burocracia, chilena e argentina, é feita do lado de lá, dentro de um acordo entre os dois países. Seguimos adiante, subimos mais um pouco até que, aos 3.200 metros, chegamos à fronteira propriamente dita, o Paso Cristo Redentor, também conhecido como Paso Los Libertadores.
Piscina do hotel da estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
A curiosidade é que essa fronteira está dentro de um túnel com cerca de 3 quilômetros de extensão. Entramos no Chile e saímos na Argentina, assim, num passe de mágica. Essa é a fronteira mais utilizada entre os dois países, sempre com muito tráfego pesado, caminhões e ônibus. Do lado chileno, temos de vencer uma verdadeira ladeira inclinada, muitas idas e voltas num ziguezague interminável. Na verdade, termina sim, são pouco mais de 30 voltas no tal caracol que serpenteia montanha acima. Já no lado argentino, a descida é bem mais suave.
Algumas das equipes de esqui internacionais que já se hospedaram e treinaram na estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
Mas não foi sempre assim. O túnel foi inaugurado em 1980 e, antes dele, a estrada subia muito mais alto, até os 3.800 metros, com mais 65 voltas no ziguezague. Lá encima estava (e continua lá!) uma estátua do Cristo Redentor, com 7 metros de altura sobre um pedestal com outros 6 metros. Daí vem o nome dessa importante ligação entre os dois países.
A Ana com o cão São Bernardo que é o mascote da estação de esqui de Portillo, próximo ao Paso Cristo Redentor, entre Argentina e Chile
Foi por aí que passaram as tropas do general argentino San Martin em 1817, na campanha militar que liberou o Chile do jugo espanhol. Essa estrada foi solenemente inaugurada em 1904, uma celebração entre os dois países que, pouco tempo antes, quase chegaram à guerra por questões fronteiriças. Ao invés da guerra, veio e paz e, com ela, essa estrada por onde já transitaram milhões de pessoas entre os dois países vizinhos, Primeiro, lá por cima, ao lado da estátua. Mais tarde, pelo túnel, por onde passamos eu, a Ana e a Fiona hoje, de volta ao país dos hermanos que tanto amamos! Começa mais uma etapa dos nossos 1000dias!
Chegando à fronteira entre Chile e Argentina no Paso Cristo Redentor, na estrada que liga Santiago a Mendoza
O famoso "Chuveirão", na Caverna Teminina - PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Para quem gosta de caverna, segue mais uma sequência de fotos de lá. Não são fotos nossas. São do Jura, o simpático sócio da agência Parque Aventuras. É ele que aparece aí em cima, na foto do fantástico "chuveirão".
Salão Taqueupa na Caverna Santana, no PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Entrada da Teminina, no núcleo Caboclos - PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Entrada da Teminina, no núcleo Caboclos - PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Foto na entrada de uma caverna de gelo azul no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Com o fim da nossa temporada de trilhas aqui em El Chaltén (em breve estaremos caminhando novamente em Torres del Paine, no Chile!), o nosso foco hoje foi escalada em gelo. Contratamos um curso de um dia, ministrado nas paredes de gelo do glaciar Viedma, bem próximo de El Chaltén, só para sentir o gostinho. E aproveitamos também para caminhar sobre esse verdadeiro rio de gelo que desce lá do Campo de Gelo Sul e desagua no lago Viedma, um dos maiores do país.
Em Bahia Tunel, a bela visão que se tem das montanhas do Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Navegando nas águas do lago Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Chegando ao glaciar Viedma, no lago de mesmo nome, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
A agência oferece também o transporte até o porto no lago de onde tomamos o barco que nos leva até a geleira. Mas como o porto já fica para o lado da saída de El Chaltén e nós seguiremos no fim da tarde, depois do curso, para El Calafate, já fomos de Fiona com a bagagem carregada até Bahia Tunel, o nome do embarcadeiro. São 17 quilômetros, metade disso em terra. O céu estava azul, sensacional, e tínhamos uma vista magnífica, não só do lago Viedma, mas também do Fitz Roy. Foi a nossa bela despedida dessa montanha magnífica.
Chegando à geleira Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
A imponente parede de gelo do glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
A imponente parede de gelo do glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Para Bahia Tunel seguem todas as excursões de turistas para conhecer a geleira. São vários barcos por dia, mas a maioria é apenas para ver o gelo, talvez dar uma pequena caminhada sobre ele. São poucos os que, como nós, iríamos fazer o curso de escalada. Mas estávamos todos felizes, turistas ou aspirantes de alpinistas, pelas condições do tempo. Ontem mesmo, os barcos que saíram daqui tiveram de retornar assim que chegaram a uma parte mais aberta do lago, por causa do forte vento. Hoje não, apenas uma brisa leve e as águas do Viedma bem tranquilas e seguras para a navegação.
O glaciar Viedma se choca com um leito rochoso no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
As marcas deixadas na rocha pelo glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Nosso barco nos espera no lago Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Foram uns 40 minutos de navegação até chegarmos à linha de frente da geleira. O glaciar Viedma é o segundo mais longo da América do Sul e também um dos maiores. São cerca de 70 quilômetros desde o coração do Campo de Gelo Sul, a mais de 1.300 metros de altitude, até as águas geladas do lago Viedma, mil metros abaixo. Ao chegar no lago, conta com 2,5 quilômetros de largura e suas paredes se erguem 50 metros acima do nível da água. É uma vista colossal que faz a alegria dos turistas que aqui chegam.
A Ana admira o lago Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Pedaços de gelo se desprendem o glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
O glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Eu e a Ana, depois de mais de mil dias viajando pela Américas, já temos uma certa experiência com glaciares. Vimos, admiramos e chegamos perto deles no Canadá, Alaska, Groelândia e Islândia, no hemisfério norte, e no Perú, Equador, Argentina, Geórgia do Sul e Antártida, aqui no hemisfério sul. Em duas ocasiões, uma no Columbia Icefield, no Canadá, e outra na maior geleira da Europa, a Vatnajokull, na Islândia, caminhamos um bom tempo sobre o gelo também. Na Islândia, inclusive, com direito a grampões, capacetes e piquetas. Mas nem por isso deixamos de ficar sempre impressionados quando chegamos perto de um desses gigantes. Ainda mais hoje em que, pela primeira vez, treinaríamos técnicas de escalada no gelo.
Caminhando no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Caminhando na geleira Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Caminhando no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Caminhar sobre uma geleira não é uma atividade simples. O terreno é extremamente irregular, traiçoeiro e escorregadio. Por baixo dos seus pés pode estar escondida uma fenda ou uma caverna gelada. E como ela está em constante movimento, a paisagem está sempre mudando, assim como os trechos que até ontem eram seguros, hoje pode ser que não sejam mais. Por isso, precisamos estar sempre atentos, de preferência acompanhados com alguém com experiência nesse tipo de terreno, e vestidos apropriadamente, com grampões e capacetes. Cordas e piquetas também podem ser de grande valia.
Caminhando na geleira Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Nossos guias procuram um local apropriado para nosso curso de escalada no gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Caminhando no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Mas por que será que a superfície de uma geleira é esse verdadeiro labirinto e emaranhado de gelo retorcido, torres e fendas, vales e montanhas? Por duas forças muito simples e conhecidas: gravidade e atrito. Todas as geleiras nascem em pontos de acumulação de neve em terrenos mais altos, como os planaltos centrais da Antártida e Groelândia ou os Nades, aqui na Argentina/Chile. Nesses terrenos, a neve vem se acumulando por milênios e milênios e é compactada de tal maneira por seu próprio peso que acaba se tornando gelo. Nesses locais de acumulação, a superfície da geleira é plana e seria até possível dirigir um carro por ali (desde que com correntes, claro!).
Nossos guias procuram um local apropriado para nosso curso de escalada no gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
A superfície totalmente irregular do glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Caminhando no gelo sujo do glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Mas esses reservatórios de neve e gelo não param de crescer e acabam “derramando” nas bordas. São as geleiras, os grandes rios de gelo que descem das alturas em direção a algum lago ou oceano. Eles descem por vales e encostas e, com sua força descomunal, acabam alargando seus caminhos, remodelando o terreno e a paisagem. Geleiras são uma das maiores forças de erosão da natureza. Os rios descem preguiçosamente, uns poucos metros por dia, mas sua marcha é irresistível.
Passeio na geleira Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Encontro com gelo azul na geleira Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
O gelo azul do glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Pois bem, as geleiras saem lá do alto tão planas como os campo de gelo onde foram criadas. A partir daí, é a força da gravidade que a trás para baixo. Quanto mais inclinado o terreno, mais rápido será a geleira. Mas se um pedaço da geleira está em uma ladeira enquanto outro está em um terreno mais plano, eles terão velocidades diferentes. E isso é o que vai gerar torsões no leito do rio de gelo, a parte mais rápida se esticando, a parte mais lenta se contraindo, o gelo que vem de trás subindo sobre o gelo que está na frente. Outras forças de torsão vão ocorrer nas curvas. O gelo na parte de dentro da curva precisa percorrer um trecho mais curto que o gelo na parte de fora da mesma curva. Novamente, a geleira vai se partir e se desarrumar mais ainda. Por fim, o trecho da geleira que entra em contato com a rocha de uma montanha, penhasco ou solo vai sofrer atrito e frear seu ritmo enquanto que o gelo no meio do glaciar, sem atrito, fluirá com mais velocidade. Uma vez mais, a tendência é que o gelo se amontoe, se disperse, se desarrume. Não é a toa que, aqui na parte final de uma geleira que é onde caminhamos, a sensação de caos é total. Difícil acreditar que aquilo já foi, algum dia, organizado.
Curso e passeio no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Geleira passa sobre rocha e deixa cicatrizes, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Pequenos icebergs que se soltaram da geleira Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Este atrito entre as geleiras e as montanhas é uma briga de titãs. Em tempos de aquecimento global e com os glaciares se retraindo, antigos leitos de rocha que antes estavam sob o peso e a força das geleiras hoje estão ao ar livre e podemos observá-los. As cicatrizes e marcas deixadas pelo atrito de enormes blocos de gelo sobre eles é visível. Foi o que pudemos observar assim que chegamos à Viedma e desembarcamos. Rochas aparentemente indestrutíveis foram moídas por água. Água sólida, mais popularmente conhecida como gelo!
Encontrando uma caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Preparando-se para examinar de perto uma caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Já vestidos para nossas aulas de escalada, caminhamos um bom tempo sobre a geleira, procurando um bom lugar para nossas classes. Foi a chance de ver de perto esse cenário de outro mundo, gelo retorcido, gelo trazendo material de montanhas a centenas de quilômetros daqui, gelo sujo de cinzas de antigas erupções vulcânicas e o mais belo de todos, o gelo azul. O gelo fica com essa cor quando a pressão sobre ele é tão grande que todo o ar que estava aí é expulso. O gelo normal que conhecemos, esse da geladeira, é branco por que está cheio de ar microscópico. Sem ar, ele fica azul. Lindo! Essa cor é a prova de que aquele pedaço de gelo já esteve dezenas, senão centenas de metros abaixo da superfície, sob um peso colossal. Mas depois de tanta bagunça criada pela ação da gravidade e do atrito nas geleiras que descem a montanha, ele acabou vindo parar aqui em cima. Realmente, é um pedaço de água que tem história para contar!
A Ana fotografa caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Explorando uma caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Seguindo sempre nossos guias, subimos e descemos essas ladeiras de gelo, demos voltas em fendas mais profundas, fotografamos riachos gelados que correm sobre e sob a superfície. Mas o ponto alto mesmo é quando encontramos alguma caverna no gelo, uma estrutura que se formou em algum soerguimento do gelo e que depois, já perto da superfície, sob influência do vento e de riachos, se expandiu ainda mais. Pode desabar a qualquer momento, pois não é estável, ou nada nos garante que seja. Mas, com todo o cuidado, podemos nos aproximar e examinar mais de perto.
A entrada de uma caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
A entrada de uma caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Uma caverna de gelo azul no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Dentro delas, o gelo ainda é mais azul. Para nós, uma chance única de fotografar. Para os guias, a obrigação de ficarem mais atentos do que nunca para garantir nossa segurança. Entre mortos e feridos, todos muito contentes. Não podemos entrar muito fundo, mas basta colocar a cabeça lá dentro para termos a sensação de entrar em um outro mundo. Luzes, cores e sons nos hipnotizam. Que coisa mais bela!
Examinando de perto uma caverna de gelo azul no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Uma ampla caverna de gelo no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
Apesar de toda a nossa experiência prévia com geleiras, foi só aqui na Viedma que chegamos tão perto dessas cavernas mágicas. Foi um momento incrível desse dia que também teve muito suor para escalarmos as paredes, o que vou contar no próximo post. Mas são as fotos que tiramos das cavernas as lembranças mais mágicas desse dia explorando um pedacinho desse maravilhoso glaciar chamado Viedma.
Foto na entrada de uma caverna de gelo azul no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
O interior quase mágico, surreal, de uma caverna de gelo azul no glaciar Viedma, no Parque Nacional Los Glaciares, região de El Chaltén, no sul da Argentina
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