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Blog do Rodrigo - 1000 dias

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A Maior de Todas

Brasil, Paraná, Prudentópolis, Foz do Iguaçu

O Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR, com quase 200 metros de altura

O Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR, com quase 200 metros de altura


O programa hoje foi já sair de mala e cuia do hotel em Prudentópolis, logo pela manhã, seguir até a mais alta cachoeira da região sul do país, o imponente Salto São Francisco e, de lá, pegar a estrada até o outro lado do estado, na cidade fronteiriça de Foz do Iguaçu.

Mas, ainda na cidade, a primeira tarefa foi passar numa loja de fotografias para imprimir algumas que tínhamos tirado ontem, lá da família dona da propriedade onde fica o Salto São Sebastião. Promessa feita pela Ana, promessa cumprida pela Ana! Eles ficaram muitíssimo felizes ontem, quando a Ana disse que faria isso, e vão ficar mais ainda quando receberem o presente!

À caminho do Salto São Francisco, que aparece ao fundo (em Prudentópolis - PR)

À caminho do Salto São Francisco, que aparece ao fundo (em Prudentópolis - PR)


Feito isso, enfrentamos os cinquenta quilômetros de estrada de terra que ligam a cidade ao Salto São Francisco. Estrada belíssima, por sinal, que segue no topo de uma crista de morro dando uma ampla visão da região, inclusive do próprio Salto, que já é possível ver de longe, no meio das montanhas. Também... duzentos metros de queda, dá para ver beeeem de longe mesmo, hehehe.

Com a mãe no Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR

Com a mãe no Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR


O único trecho pior de estrada é a longa subida final. Para carros mais baixos é preciso paciência. Lá encima, um parque municipal que fica bem na fronteira de três municípios: Prudentópolis, Turvo e Guarapuava. Entrada gratuita, deixamos o carro num estacionamento e seguimos à pé por uma trilha muito bem cuidada por uns 400 metros, até chegar à beira de um enorme penhasco. Deste ponto se tem a mais bela visão dessa cachoeira maravilhosa. São exatos 196 metros de queda até um grande lago lá embaixo, que visto de tão alto parece pequenininho.

Final da queda de 200 metros do Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR

Final da queda de 200 metros do Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR


A trilha agora segue na beira da encosta, ou melhor, da própria parede que forma o canyon de onde despenca a cachoeira. A vista é incrível, não só da própria cachoeira, como das paredes do canyon e das montanhas ao longe. Cenário grandioso, coisa de cinema.

Essas tranquilas águas estão prestes a despencar por 200 metros! (em Prudentópolis - PR)

Essas tranquilas águas estão prestes a despencar por 200 metros! (em Prudentópolis - PR)


Ficamos ali aproveitando por um bom tempo aquela visão magnífica até que era hora de ir embora. Afinal, tínhamos mais 400 km pela frente, cruzando todo o estado até Foz do Iguaçu, já ao lado do Paraguai e da Argentina. Estrada simples, mas bem conservada, muitos caminhões e pedágios também. Enfim, com paciência fomos seguindo e, um pouco antes das nove estávamos chegando.

Fotografando o Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR

Fotografando o Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR


Em plena época de férias, a cidade e seus muitos hotéis estão bastante concorridos. Procura aqui, procura ali, acabamos encontrando o Lanville, onde ficaremos pelos próximos dias. O que não falta é o que fazer por aqui: parques, Itaipu, Paraguai, Argentina, etc... Depois de um jantar à base de picanha, ao lado do hotel, decidimos pelo menos a programação de amanhã: compras em Ciudad de Leste, no Paraguai. Vai ser a minha primeira vez nesse nosso vizinho sulamericano e rival nas quartas de final da Copa América. Para quem já viajou tanto mundo afora, já não era sem tempo!

Visitando o imponente Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR

Visitando o imponente Salto São Francisco, em Prudentópolis - PR

Brasil, Paraná, Prudentópolis, Foz do Iguaçu, cachoeira, Salto São Francisco

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Perdidos na Imensidão Ártica

Groelândia, Ilulissat

Maravilhada com a vastidão branca ao redor de Ilulissat, na Groelândia

Maravilhada com a vastidão branca ao redor de Ilulissat, na Groelândia


Enquanto o Polo Sul fica bem encima de um continente, a Antártida, o Polo Norte fica sobre o mar. Não existe um “continente ártico”, mas a Groelândia não fica muito longe disso não. Nem geograficamente e nem na aparência. Está a apenas 4 graus do polo norte e as geleiras ocupam mais de 80% de seu território, o equivalente a 1,7 milhões de quilômetros quadrados, uma verdadeira “calota polar ártica”.

Um verdadeiro rio de gelo na costa de Ilulissat, na Groelândia

Um verdadeiro rio de gelo na costa de Ilulissat, na Groelândia


Absolutamente todo o interior do país é coberto por um lençol de gelo que chega a atingir mais de 3 quilômetros de espessura. É MUITA água congelada! A gente só consegue ter uma noção dessa vastidão branca quando olhamos lá de cima, de um avião. Ou, quem sabe, de um helicóptero.

O infinito mundo gelado ao redor de Ilulissat, na Groelândia

O infinito mundo gelado ao redor de Ilulissat, na Groelândia


Pois é, falando em helicóptero, o nosso passeio de hoje melou. Não foi por culpa de São Pedro não, mas da falta de turistas que se habilitassem. E como nós não temos bala para fretar um helicóptero sozinho, ficamos só na vontade. O passeio seria até o alto da geleira Jacobshavn, a maior do hemisfério norte, a quase 80 km daqui. Além de ser a maior, é também a mais rápida geleira do país, despejando milhões de toneladas diárias de icebergs no fiorde de Ilulissat, deixando a Disco Bay sempre repleta de montanhas flutuantes de gelo.

Caminhando nos arredores gelados de Ilulissat, na Groelândia

Caminhando nos arredores gelados de Ilulissat, na Groelândia


A Jacobshavn é uma das geleiras mais estudadas do mundo, sendo continuamente monitorada há mais de um século. Foi até nomeada Patrimônio natural pela Unesco. Aqui está a linha de frente dos estudos sobre as mudanças climáticas, ou o que se costumava chamar de “aquecimento global” até poucos anos.

Vista de longe, Ilulissat, na Groelândia

Vista de longe, Ilulissat, na Groelândia


Os dados sobre um aquecimento da temperatura média mundial nas últimas décadas são inegáveis. Mas ninguém sabe dizer com certeza se isso é apenas parte de um ciclo natural ou se é mesmo uma tendência duradoura. Na verdade, os últimos anos foram até mais frios que a média da última década mas, de novo, a amostra é muito pequena e não se pode tirar conclusões definitivas. Mas, o que se sabe é que esse possível aquecimento tem sido muito mais forte e rápido aqui na Groelândia e os efeitos são visíveis em suas geleiras, que estão retrocedendo dezenas de metros a cada ano. A gigantesca Jacobshavn é o melhor exemplo disso.

Caminhada gelada nos arredores de Ilulissat, na Groelândia

Caminhada gelada nos arredores de Ilulissat, na Groelândia


Infelizmente, não pudemos ver com os próprios olhos, hoje. O programa alternativo foi fazer uma caminhada pela periferia da cidade, seguir uma trilha que nos leva até o fiorde onde a geleira despeja seu gelo. Tantos icebergs há lá nessa época que nem um barco se atreve a entrar no canal. Apenas de longe.

Conversando com o simpático motorista do hotel de Ilulissat, na Groelândia

Conversando com o simpático motorista do hotel de Ilulissat, na Groelândia


E nós também, de longe, conseguimos ver o canal. Um carro do hotel nos levou até o início da trilha e de lá caminhamos mais uns vinte minutos. Caminhamos sobre gelo e neve e a tal trilha existia só na teoria, escondida sob o manto branco. O que a gente pôde fazer foi mirar uma pequena colina e rumar para lá, para ter uma vista da região. Bastou andar um pouco naquela imensidão gelada, longe de tudo e de todos, que percebemos claramente a nossa insignificância naquela vastidão. Se já nos sentimos assim aqui, tão perto do litoral, imagina no meio dessa ilha continente, a milhares de quilômetros de qualquer sinal da civilização. Realmente, aqui na Groelândia, nos confins do Círculo Polar Ártico, a natureza é mais selvagem, virgem e indomada que em todos os outros lugares que visitamos nesse continente. Essa caminhada de hoje nos mostrou isso claramente.

Um cemitério perdido no silêncio do gelo na periferia de Ilulissat, na Groelândia

Um cemitério perdido no silêncio do gelo na periferia de Ilulissat, na Groelândia


Voltamos caminhando para a cidade, passando ao lado de um sereno cemitério no gelo, perdido no silêncio da paisagem. Foi num cemitério como esse que os cientistas conseguiram extrair de uma pessoa morta há quase um século o temido vírus da Gripe Espanhola, que chegou até aqui no fim da 1ª Guerra Mundial. O responsável pela mais mortífera pandemia da história da humanidade ficou bem conservado na verdadeira geladeira que é o solo do país e, graças a isso, podemos nos preparar melhor para uma possível volta do microscópico assassino.

Zion Church, verdadeiro cartão postal de Ilulissat, na Groelândia. Ao fundo, icebergs passam pela costa.

Zion Church, verdadeiro cartão postal de Ilulissat, na Groelândia. Ao fundo, icebergs passam pela costa.


De volta à cidade, fomos logo nos esquentar em um de seus acolhedores cafés. O vento frio de hoje estava de lascar! Nossas três camadas de casacos, duas de calças, luvas e gorro não estavam dando conta! O ar aquecido e o chá quentinho do café foram muito mais eficientes!

Um dos bares-cafés de Ilulissat, na Groelândia

Um dos bares-cafés de Ilulissat, na Groelândia


No início da noite, com sol ainda à pino, fomos conhecer a vida noturna de Ilulissat. Dois bares disputam a freguesia, e as bandas de música são surpreendentemente boas para uma cidade de 5 mil habitantes perdida no mundo e no gelo.. Ficamos aí nos divertido até as duas da manhã. Depois, na luz do lusco-fusco, caminhamos o quilômetro e meio até nosso hotel. Paisagem assombrada e gelada, o silêncio quebrado pelo barulho do porto movimentado. Um grande navio cargueiro tinha chegado pela tarde e estava descarregando.

Bar movimentado em Ilulissat, na Groelândia

Bar movimentado em Ilulissat, na Groelândia


Pelo seu porte, conseguiu romper o gelo que tinha tomado conta do porto. Mas do outro lado o gelo ainda dominava. Sobre ele, diversos barcos descansavam, aguardando o final da primavera, quando poderão navegar novamente. Uma visão sui generis! Estamos realmente num mundo diferente...

Barcos repousam sobre o gelo que tomou conta do porto de Ilulissat, na Groelândia

Barcos repousam sobre o gelo que tomou conta do porto de Ilulissat, na Groelândia

Groelândia, Ilulissat, trilha

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O Norte da Ilha

Bonaire, Kralendijk, Rincon

Lago próximo à cidade de Rincon, na parte norte de Bonaire

Lago próximo à cidade de Rincon, na parte norte de Bonaire


Hoje foi dia de mergulharmos no norte da ilha. Esse lado é mais bonito que a parte sul, com montanhas, estradas sinuosas, lagos e um litoral recortado por pedras e entradas de mar. Fomos até um ponto chamado Karpata, o último antes da área do Parque Nacional, região que visitaremos amanhã.

O belo mar da região de Karpata, no norte de Bonaire

O belo mar da região de Karpata, no norte de Bonaire


O mar, visto do lado de fora, da estrada, é deslumbrante, um azul digno das melhores praias do Caribe. Abaixo d'água, o recife é bem mais inclinado, chegando a profundidades muito maiores que na parte sul.

Mergulhando em Karpata, no norte de Bonaire

Mergulhando em Karpata, no norte de Bonaire


Mergulhando em Karpata, no norte de Bonaire

Mergulhando em Karpata, no norte de Bonaire


A Ana vem combatendo uma rinite já há alguns dias e isso vem dificultando os mergulhos dela. Não está fácil compensar o ar e abaixar os primeiros metros, só com muita paciência. Depois, ao longo do mergulho, melhora um pouco. Hoje, enquanto ela "navegava" na parte alta do recife, aos 10 metros de profundidade, eu dei um tiro rápido lá para baixo. Com a água clara que temos aqui, a luz do sol chega lá no fundo e fica muito mais fácil mergulhar em profundidade. Mas como não estamos fazendo mergulhos técnicos, tem de ser bem rápido. Fui aos 50 metros e voltei, em poucos minutos. Lá embaixo, vi que o recife ainda descia uns 20-30 metros.

Lion Fish em mergulho em Karpata, no norte de Bonaire

Lion Fish em mergulho em Karpata, no norte de Bonaire


Mas a maior parte da beleza está encima mesmo, onde a luz do sol bate mais forte. Por aí ficamos mais de 40 minutos e até um lion-fish encontramos. Essa espécie é natural da bacia indo-pacífica e faz pouco tempo que chegou por essas águas. Apesar de sua beleza e exotismo, vem fazendo um estrago danado na fauna local e por isso mesmo é perseguido pela comunidade da ilha. Infelizmente, é uma luta sem muitas esperanças, creio. Quando muito, conseguem retardar um pouco os malefícios. Enquanto isso, torcem para que peixes maiores daqui aprendam a comê-lo. A tarefa não é fácil, já que ele possui vários espinhos venenosos. Mas, que é bonito, isso ele é!

A Ana vai a 30 metros de profundidade em Karpata, no norte de Bonaire

A Ana vai a 30 metros de profundidade em Karpata, no norte de Bonaire


Já no final do mergulho a Ana já estava melhor e também pode dar o seu tiro para baixo, até os 30 metros. Depois, passamos para os finalmentes e voltamos para o carro. Antes de rumarmos de volta à cidade, ainda fomos até a entrada do parque, passando pela pequena cidade de Rincon, no interior da ilha. Na recepção do parque, confirmamos que já era tarde para se iniciar uma visita e deixamos isso para amanhã cedo mesmo.

Praparando-se para mergulhar em Invisible, no sul de Bonaire

Praparando-se para mergulhar em Invisible, no sul de Bonaire


Drum fish em mergulho em Invisible, no sul de Bonaire

Drum fish em mergulho em Invisible, no sul de Bonaire


De volta à nossa casinha e depois de mais um almoço sadio à base de salada feito em casa, fomos mergulhar num ponto chamado Invisible, no sul da ilha. De novo, água quente e transparente, peixes coloridos, belos jardins de corais. Mas, o que nos chamou a atenção por aqui foi um verdadeiro ninho de lion fish que encontramos, uns cinco ou seis nadando bem próximos, a uns 30 metros de profundidade. Agora, a dúvida é se os "denunciamos", para que sejam exterminados, ou não. Realmente, é uma pena que ainda não tenham predadores naturais por aqui.

Muitos Lion Fish em mergulho em Invisible, no sul de Bonaire

Muitos Lion Fish em mergulho em Invisible, no sul de Bonaire


Pôr-do-sol visto debaixo d'água! (em Invisible, no sul de Bonaire)

Pôr-do-sol visto debaixo d'água! (em Invisible, no sul de Bonaire)


De noite, a nossa última em Bonaire, saímos para conhecer um pouco do agito noturno. Apenas um bar movimentado, mas isso já foi o bastante para nós, hehehe. Amanhã, então, é dia de parque pela manhã. E de tarde, finalmente vamos mergulhar no famoso naufrágio do Hilma Hooker. Tudo isso em tempo para pegar nosso avião para Curaçao, no início da noite. É, será um belo dia!

Balada em Kralendijk, em Bonaire

Balada em Kralendijk, em Bonaire

Bonaire, Kralendijk, Rincon, Mergulho

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A Maior Caverna do Mundo

Estados Unidos, Kentucky, Mammoth Cave

Visitando a Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos

Visitando a Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos


Quando criança e adolescente, fiz algumas excursões para as cavernas de Minas Gerais, há muito iluminadas e voltadas para a exploração turística. Mas o real gosto pelo mundo subterrâneo só veio bem mais tarde, já nos tempos universitários. Junto com amigos da UNICAMP, um deles já profundo conhecedor da área, passamos quatro dias inesquecíveis explorando as magníficas cavernas do Vale do Ribeira, no sul de São Paulo.

Visitando a Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos

Visitando a Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos


Desde então, sempre que tenho a chance, passo algumas horas explorando esse mundo diferente e interessante, onde a escuridão e o silêncio se combinam de forma tão onipotente. O Brasil é um país riquíssimo em cavernas e as áreas do Vale do Ribeira e também Terra Ronca, em Goiás, tem algumas das mais belas cavernas do mundo. Vale do Peruaçu, em Minas e a região da Chapada Diamantina também tem cavernas espetaculares. Não é à toa que passamos por todos esses lugares nessa nossa viagem dos 1000dias.

Entrada artificial da Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Entrada artificial da Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


Mas, por mais belas que sejam as nossas cavernas, elas estão longe de ser as mais extensas do mundo. Neste quesito, ninguém chega nem perto das americanas. Especialmente uma delas, com o singelo nome de Mammoth Cave (Caverna Mamute), com inacreditáveis 620 km de extensão, e crescendo! Desde que comecei a me interessar por listas de maiores do mundo (maiores rios, maiores montanhas, maiores lagos, maiores cachoeiras, etc...) que tenho esse nome gravado na cabeça. Agora aqui nos Estados Unidos, mais especificamente no estado do Kentucky, finalmente chegou o dia de conhecer essa verdadeira maravilha da natureza.

Formações minerais na região de Snowball, na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Formações minerais na região de Snowball, na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


Chegamos no início da tarde de ontem no Parque Nacional criado em 1941 para preservar esse gigante subterrâneo, no estado de Kentucky. Mesmo antes de encontramos acomodação, fomos ao centro de visitantes para ver se ainda teríamos chance de fazer algo no mesmo dia. Sim, teríamos!

Atravessando canyons subterrâneoas na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Atravessando canyons subterrâneoas na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


Hoje em dia, só se entra na caverna em tours guiados. São várias as opções, alguns mais curtos, outros mais longos. Era justamente atrás desses que estávamos, possivelmente o mais longo de todos. Pois bem, esse, o “Gran Avenue”, só sai uma vez por dia, logo pela manhã. Deixamos ele para o dia de hoje. Para ontem, ainda haveria tempo de fazer um outro tour, bem mais curto, mas muito interessante também. É o chamado “tour histórico”. O melhor de tudo é que esses dois tours percorrem trechos distintos da Mammoth Cave, portanto não estaríamos repetindo caminhos.

Espécie de grilo parecido com aranha que vive perto da saída de Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Espécie de grilo parecido com aranha que vive perto da saída de Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


A Mammoth Cave já é frequentada há milhares de anos. Pois é, índios americanos já se aventuravam centenas de metros escuridão adentro, com a ajuda de suas tochas, em busca de um mineral que usavam, provavelmente, na manufatura de seus pigmentos. Além disso, ela também deveria ser considerada um local sagrado, pois várias múmias milenares foram descobertas ali. Por milhares de anos os índios americanos “frequentaram” a Mammoth Cave, mas misteriosamente, há cerca de dois mil anos, a abandonaram para não mais voltar.

Salão todo decorado na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Salão todo decorado na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


O homem só “redescobriu” a maior caverna do planeta no finalzinho do século XVIII. Logo descobriram e desenvolveram uma função econômica para ela: a produção de pólvora! Os sais encontrados no solo da caverna eram um dos ingredientes na produção do pó explosivo. Na Guerra de 1812, quando os ingleses bloquearam os portos americanos, essa matéria-prima caseira passou a valer mais do que nunca (especialmente num período de guerra!) e eram centenas de escravos trabalhando diariamente na caverna, recolhendo o tal sal. Mas a tal guerra passou e a matéria-prima mais barata chegava novamente nos portos, inviabilizando economicamente a produção da caverna. Foi quando os donos do terreno tiveram uma nova e revolucionária ideia: o turismo!

Salão todo decorado na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Salão todo decorado na Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


E foi o maior sucesso! Vinha até gente da Europa, já na década de 30 (estamos falando do século XIX!!!). O principal guia e conhecedor da caverna nessa época era um escravo chamado Sthephen Bishop. Foi ele que fez os melhores mapas da Mammoth Cave durante todo o século e foi também seu principal explorador, sempre descobrindo novos tuneis e passagens. Uma personagem e tanto! Vários relatos de visitantes da época fazem citações muito honrosas a sua inteligência e humor. Enfim, até hoje, é o nome mais importante da história da caverna. É incrível pensar que por aqueles mesmos tuneis que caminhamos hoje, um escravo levava turistas há mais de 150 anos. Dois mundos e duas realidades completamente diferentes, congeladas lado a lado dentro da mesma caverna, um ambiente em que nada muda durante séculos...

Nossos companheiros de tour à Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos

Nossos companheiros de tour à Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos


Enfim, hoje fizemos o tour histórico, que leva pouco mais de uma hora. Percorremos cerca de duas milhas dentro da caverna, num grupo de mais de 20 pessoas que incluía uma enorme família Amish, todos vestidos a caráter (roupas que nada mudaram desde a época do Stephen Bishop!). O grupo vai caminhando entre as duas guias (park rangers). A que segue na frente vai acendendo as luzes e a de trás vai apagando. Assim, caminhamos sempre na luz, com uma clara visão de da caverna e seus túneis.

Nossa guia mostra como eram os tours nos primórdios do turismo na Mammoth Cave, há quase 200 anos, em Kentucky, nos Estados Unidos

Nossa guia mostra como eram os tours nos primórdios do turismo na Mammoth Cave, há quase 200 anos, em Kentucky, nos Estados Unidos


Nosso grupo ouve as informações da guia durante visita à Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos

Nosso grupo ouve as informações da guia durante visita à Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos


No caminho, a guia vai nos contando sobre os índios, sobre a mineração, sobre os primeiros turistas e sobre a vida e as explorações de Bishop. Elas nos mostra também como era naquela época, com apenas uma lanterna e quase sem conseguir ver ao redor. O senso de aventura e exploração era bem maior, certamente! Uma passagem bem interessante é quando passamos em um lugar onde há diversas assinaturas dos anos 1800, de turistas que passaram por aqui. O que hoje seria considerado um vandalismo, naquela época era um procedimento normal (o Bishop até faturava uns trocados vendendo espaços “premium” para assinaturas). Pois é, esses “vandalismos” centenários agora são considerados pinturas históricas!

Assinaturas de turistas qie visitaram a caverna há mais de 150 anos na Mammoth Cave, em Kentucky, nos Estados Unidos

Assinaturas de turistas qie visitaram a caverna há mais de 150 anos na Mammoth Cave, em Kentucky, nos Estados Unidos


Outro ponto interessante é a passagem que era famosa naquela época e tinha o nome de “poço sem fundo”. Com as luzes da época, realmente não se podia ver o fundo. Mas o Bishop, em suas explorações, acabou chegando do lado de baixo por outro caminho. Hoje, chegamos lá por baixo e subimos uma longa escada em caracol para chegar lá encima. O “poço sem fundo” perdeu sua magia, mas está carregado em história. Muito legal!

Enorme escadaria dentro da Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos

Enorme escadaria dentro da Mammoth Cave, a maior caverna do mundo, em Kentucky, nos Estados Unidos


Caminhada pelo bosque no Mammoth Cave National Park, em Kentucky, nos Estados Unidos

Caminhada pelo bosque no Mammoth Cave National Park, em Kentucky, nos Estados Unidos


Ontem de tarde, depois do passeio, ainda tivemos tempo de caminhar pela floresta do parque, que se estende ao logo do Green River. Foi a água desse rio e de seus afluentes que, ao longo de centenas de milhares de anos, transformou o calcário da região num verdadeiro queijo suíço, criando a maior caverna do mundo.

Vista do Green River durante caminhada no Mammoth Cave National park, em Kentucky, nos Estados Unidos

Vista do Green River durante caminhada no Mammoth Cave National park, em Kentucky, nos Estados Unidos


Restaurante em Snowball, dentro da Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Restaurante em Snowball, dentro da Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


Hoje, logo cedo, lá estávamos novamente para o tour mais comprido. Dessa vez foram mais de 6 milhas dentro da caverna, em quase 6 horas de passeio. Novamente, tudo iluminado para nós, muitas histórias e causos e até um restaurante dentro da caverna. Esses americanos... A Mammoth Cave não é particularmente bonita e o que mais impressiona são mesmo suas dimensões. Se bem que, no final desse tour de hoje, passamos sim no trecho bem bonito, um enorme canyon dentro da montanha, paredes de quase 10 metros de altura e com um estreito vão entre elas, justo por onde caminhamos. Esse incrível canyon nos leva para uma sala cheia de formações e até um pequeno lago artificial.

Pequeno lago criado artificialmente dentro da Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Pequeno lago criado artificialmente dentro da Mammoth Cave, Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos


Pois é, um antigo proprietário dessa área da caverna criou esse lago para atrair mais turistas, Isso se passou no início do séc XX, um período conhecido como “Cave Wars”. É o nome que se dá a luta nem sempre leal entre os diversos proprietários da região para tentar abocanhar parte dos turistas que vinham para cá atrás da Mammoth Cave, a caverna mais famosa daqui. Nessa luta desesperada, um dos proprietários tentava achar novas passagens na caverna da sua fazenda, a Crystal Cave, quando ficou preso por uma rocha que se deslocou sobre sua perna. A tentativa de resgatá-lo atraiu milhares de pessoas para cá, assim como a atenção da mídia nacional. Foram mais de dez dias de luta que pararam uma nação, um dos maiores eventos daquela época, só comparável ao sequestro da filha do aviador Charles Lindenberg. Ao final, a tragédia, o pobre homem (Floyd Collins) faleceu antes de ser resgatado...

A trágica história de Floyd Collins na Cvaerna de Cristal, no Mammoth Cave National Park, em Kentucky, nos Estados Unidos

A trágica história de Floyd Collins na Cvaerna de Cristal, no Mammoth Cave National Park, em Kentucky, nos Estados Unidos


Essa triste história fortaleceu a ideia de se criar um parque por aqui e acabar com a tal guerra, além de fazer a Mammoth Cave ainda mais conhecida. Hoje, são dezenas de milhares de visitantes anuais. Para quem está acostumado com as belezas e aventuras das cavernas do Brasil, pode ficar meio decepcionado de andar sempre num ambiente iluminado e num caminho que só falta ser pavimentado. Mas, como disse, as histórias e a dimensão desse lugar muito mais do que compensam a falta de estalactites e o excesso de luzes. Nós simplesmente adoramos ter conhecido a caverna de Stephen Bishop!

Visita ao Mammoth Cave National Park, em Kentucky, nos Estados Unidos

Visita ao Mammoth Cave National Park, em Kentucky, nos Estados Unidos


Embarcando no ônibus que nos leva a outra entrada da Mammoth Cave, caverna num Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Embarcando no ônibus que nos leva a outra entrada da Mammoth Cave, caverna num Parque Nacional no Kentucky, Estados Unidos

Estados Unidos, Kentucky, Mammoth Cave, Caverna, Parque, Stephen Bishop, trilha

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A Triste História da Terra do Fogo

Argentina, Ushuaia

Foto de 1898 mostra crianças Selknam em missão salesiana. Elas não viveriam muito...(foto da Internet)

Foto de 1898 mostra crianças Selknam em missão salesiana. Elas não viveriam muito...(foto da Internet)


O primeiro lugar que fomos passear aqui em Ushuaia foi no Parque Nacional Tierra del Fuego. E dentro do parque, logo estivemos em um pequeno museu com fotos, utensílios e relatos sobre as antigas culturas que viveram nesta ilha. Mais uma vez, é chocante acompanhar a trágica história do encontro de civilizações, algo que vimos tantas vezes de perto nessa nossa viagem pela América. Vou falar do nosso dia intenso de explorações aqui em Ushuaia no próximo post, pois agora quero contar um pouco dessa triste história que aprendemos aqui no museu e em livros ou artigos que temos lido na internet.

Era uma vez uma terra muito distante que, lá no sul do sul do continente, voltava a ser uma ilha com o fim de mais uma era glacial. Ela já estava acostumada com esse ciclo, pois eras glaciais e suas geleiras vinham e voltavam a cada 20 mil anos. Mas uma coisa estava diferente dessa vez. E não eram os guanacos que se locupletavam em suas vastas planícies com relva fresquinha com força renovada com o gelo que retrocedia. Eles também vinham e voltavam, sempre atrás do que o gelo deixava para trás. Não, o estranho era o que vinha atrás dos guanacos dessa vez. Um ser bípede que andava em grupos e caçava os guanacos. Era o homem que pisava pela primeira vez na Terra do Fogo.

Índios Selknam, antigos habitantes da Terra do Fogo, massacrados no final do séc. XIX (fotografia em museu no P.N da Tierra del Fuego, perto de Ushuaia, sul da Argentina)

Índios Selknam, antigos habitantes da Terra do Fogo, massacrados no final do séc. XIX (fotografia em museu no P.N da Tierra del Fuego, perto de Ushuaia, sul da Argentina)


Quase dez mil anos se passaram e esse já não tão novo ocupante das ilhas do arquipélago havia se separado em alguns grupos, algumas etnias distintas, cada um com uma especialidade diferente, um modo distinto de viver e sobreviver. Entre eles, se destacavam dois grupos: os Selknam, também conhecidos como “Onas”, viviam no centro e no norte da maior ilha do arquipélago. Nômades, viviam da caça do guanaco e completavam sua alimentação com animais menores, frutos do mar que encontrassem na praia e mesmo com baleias encalhadas. Já no sul e espalhados pelas pequenas ilhas, os Yaghan, ou “Yamanas”, um povo que havia se especializado em viver do mar. Passavam boa parte de suas vidas em canoas, transitando de uma ilha à outra, os homens pescando e as mulheres mergulhando e recolhendo conchas no leito do mar. Dois povos que viviam geralmente em paz, eventualmente comerciavam entre si e que estavam muito felizes em permanecer na chamada “era paleolítica”.

Painel informativo sobre os antigos habitantes de Terra do Fogo, em museu no P.N da Tierra del Fuego, em Ushuaia, no sul da Argentina

Painel informativo sobre os antigos habitantes de Terra do Fogo, em museu no P.N da Tierra del Fuego, em Ushuaia, no sul da Argentina


No norte, os Selknam eram uma sociedade patriarcal, homens controlando as mulheres. Mas não deve ter sido assim, como o seu principal rito nos parece indicar. Durante o “Hain”, quando garotos e adolescentes simbolicamente transformavam-se em homens, um festival que poderia durar semanas, técnicas de caça lhes eram ensinadas. Mas não só isso. No auge do festival, espíritos apareciam em carne e osso. Eram homens adultos disfarçados com máscaras e pinturas. Assustavam os jovens, mas também lhes contavam um segredo: no início dos tempos, a sociedade era matriarcal e as mulheres mandavam. Enganavam os homens vestindo-se de espíritos, metendo-lhes medo e os fazendo prometer obediência às mulheres. Mas um dia, um guerreiro descobriu a trapaça. Ele contou aos outros homens e, furiosos com o engodo, mataram todas as mulheres adultas e adolescentes da tribo, aquelas que já conheciam a trama. E passaram a encenar o ritual na forma inversa, as meninas desde cedo aprendendo que os espíritos (homens disfarçados) ordenavam sua obediência aos homens. E desde então, durante o Hain, os espíritos visitavam as mulheres de quem os maridos reclamavam falta de obediência e as puniam e amedrontavam. Talvez por isso, quando os nômades Selknam se movimentavam pela ilha, eram as mulheres que carregavam o peso maior, roupas, utensílios e os pequenos filhos nas costas. Os homens seguiam à frente, leves, carregando apenas suas armas (arco e flechas), sempre prontos e ágeis para caçar guanacos. Além da carne, eram esses animais que lhe forneciam roupas e o couro para suas tendas rudimentares.

Mulheres Yaghan fotografadas no início do séc. XX, na Terra do Fogo (foto da Internet)

Mulheres Yaghan fotografadas no início do séc. XX, na Terra do Fogo (foto da Internet)


No sul, onde o clima ainda era mais rigoroso que no norte, o Canal de Beagle apertado entre ilhas e altas montanhas, os Yaghan se desenvolveram de maneira ainda mais peculiar. A sociedade era mais igualitária, as mulheres também responsáveis pela obtenção de alimentos. Eram elas que enfrentavam uma água a menos de 10 graus de temperatura em seus mergulhos para chegar ao leito do mar e recolher conchas. Sem a pele dos guanacos, acostumaram a enfrentar o frio desnudos, homens e mulheres. De alguma maneira, o corpo se adaptou. O metabolismo ficou mais ativo, gerando mais calor, mas necessitando de mais alimentos. Braços e pernas ficaram menores e o tronco maior, diminuindo a superfície do corpo para diminuir a perda de calor. Caminhavam pouco, mas remavam muito, as canoas eram quase suas casas. E faziam sempre fogueiras, onde quer que estivessem. Mesmo em suas canoas, sempre havia fogo a esquentar quem estivesse no barco. Foram exatamente essas fogueiras, centenas delas, que chamaram a atenção do navegador português Fernão de Magalhães quando descobriu a passagem de mar que leva o seu nome em 1520. O arquipélago em que viviam os Yaghan e os Selknam ganhava um nome: Terra do Fogo. Aquilo também era o prenúncio de que algo mudaria depois de 300 gerações de vida relativamente tranquila para essas duas culturas.

Desenhos feitos de Jemmy Button pelo capitão do Beagle, FitzRoy. Ele levou Button e outros 3 Yaghan para Londres ao final de sua primeira viagem e os trouxe de volta, um ano mais tarde, na mesma viagem em que veio o jovem Darwin

Desenhos feitos de Jemmy Button pelo capitão do Beagle, FitzRoy. Ele levou Button e outros 3 Yaghan para Londres ao final de sua primeira viagem e os trouxe de volta, um ano mais tarde, na mesma viagem em que veio o jovem Darwin


Para sorte dos nativos da Terra do Fogo, os europeus não se interessaram de imediato por aquele arquipélago perdido. Enquanto incas e astecas, tupis e guaranis, apaches e comanches passavam pela tragédia do choque de civilizações, Yaghans e Selknams seguiram com seus costumes e modo de vida por mais 3 séculos. Eventualmente, tiveram algum rápido contato com alguns dos maiores exploradores e navegadores de todos os tempos. Além do próprio Magalhães, passou por ali gente do calibre de Drake, Cook e Wendell. Mas eram encontros tão rápidos que nada mudaria na vida dos nativos. Até que, em 1830, apareceu por ali outra personagem famosa: o inglês FitzRoy e seu barco de pesquisas Beagle.

Representação de indígenas Yaghan, que habitavam as ilhas do sul do continente e eram conhecidos por suas canoas (museu no P. N. Tierra del Fuego, região de Ushuaia, no sul da Argentina)

Representação de indígenas Yaghan, que habitavam as ilhas do sul do continente e eram conhecidos por suas canoas (museu no P. N. Tierra del Fuego, região de Ushuaia, no sul da Argentina)


Sua expedição era científica e cobria desde geografia e geologia até antropologia. Talvez por isso o famoso capitão tenha tido a “brilhante” ideia de capturar quatros Yaghans, aqueles estranhos seres desnudos e que não sentiam frio, e levá-los para a Inglaterra. Um deles morreu de varíola assim que chegou a Londres, mas os outros três sobreviveram e tiveram seus dias de glória na capital inglesa. Foram até recebidos pelo rei e estavam sempre na primeira página dos jornais. Durante esse ano, foram cristianizados, “civilizados”, vestidos e aprenderam a falar inglês. O mais famoso deles ganhou o nome de Jemmy Button. Fitz Roy se sentia responsável por eles e os tratou da melhor maneira possível. Um ano mais tarde, em uma segunda expedição do Beagle liderada por ele, pagou do seu próprio bolso o retorno dos nativos à sua terra natal. Junto com os três, um missionário. A ideia era estabelecer contato e, eventualmente, cristianizar e civilizar todos aqueles “pobres selvagens”.

Fotografia do final do séc. XIX mostra um bando de índios Selknam, os antigos habitantes da Terra do Fogo (em museu no P.N. Tierra del Fuego, região de Ushuaia, sul da Argentina)

Fotografia do final do séc. XIX mostra um bando de índios Selknam, os antigos habitantes da Terra do Fogo (em museu no P.N. Tierra del Fuego, região de Ushuaia, sul da Argentina)


O bem intencionado plano não deu certo. Poucos meses depois do seu retorno, os três nativos já haviam jogado fora suas roupas e voltado a viver como vivia seu povo. Jemmy Button foi o único a ser contatado novamente em algumas oportunidades. Até sua morte, trinta anos mais tarde, nunca esqueceu o inglês. Chegou até a viajar às Ilhas Falkland, para onde ingleses haviam “exportado” Yaghans para criar uma comunidade por lá, mas preferiu mesmo viver na sua Terra do Fogo, da mesma maneira incivilizada de seus pais e avós. Aliás, a mesma maneira que tanto surpreendeu o jovem cientista Charles Darwin, que acompanhou Fitz Roy na sua segunda viagem no Beagle. O promissor cientista que mudaria a história da ciência com sua Teoria da Evolução ficou muito mal impressionado com os Yaghans, dedicando a eles diversos comentários que hoje seriam certamente classificados de racistas. É claro que não podemos julgá-lo com nossos valores atuais e sim compreendê-lo no contexto do mundo em que vivia. Em suas anotações, Darwin descreveu os Yaghans como "criaturas pequenas, rudes, figuras de pernas torcidas, com tronco quase reto e sem cintura". Constatando as diferenças físicas entre índios e europeus, mais tarde o naturalista concluiria que ambos pertencem à mesma espécie, mas que evoluíram de formas distintas. Também disse o cientista: “Os Yaghans se encontram em um estado miserável de barbárie, maior do que eu havia esperado ver em um ser humano”, e complementou: “É impossível imaginar a diferença que há entre o homem selvagem e o homem civilizado; é muito maior do que a que há entre um animal silvestre e outro domesticado porque o homem é suscetível a um aperfeiçoamento muito maior”.

Foto de 1969 mostra a antropóloga francesa Anne Chapman e a última Selknam pura, Angela Loij, que já cresceu em uma missão salesiana. Ela faleceu em 1974 e, com ela, morreu uma raça (foto da Internet)

Foto de 1969 mostra a antropóloga francesa Anne Chapman e a última Selknam pura, Angela Loij, que já cresceu em uma missão salesiana. Ela faleceu em 1974 e, com ela, morreu uma raça (foto da Internet)


A visão de Darwin refletia a visão do mundo europeu com relação àquelas tribos paleolíticas e isso demoraria mais de um século para mudar. Em 1881, uma expedição antropológica francesa levou 11 membros da etnia Kawéskar, um outro povo da região, para serem expostos no Bois de Boulogne, em Paris, e no Jardim Zoológico de Berlin. Apenas quatro deles sobreviveram e retornaram ao sul do Chile. Na Europa, teriam sido bem tratados, mas bem tratados como animais ou, na melhor das hipóteses, como uma curiosa mistura de homens e animais. Infelizmente, essa viagem e exposição eram apenas o prenúncio de uma tragédia muito maior...

Na mesma época em que os Kawéskar eram levados à Europa, a civilização ocidental finalmente se deu conta da Terra do Fogo. Milhares de imigrantes foram atraídos para lá, seja pela descoberta de ouro, seja pela nascente e promissora indústria da produção de lã. Ali se depararam com a etnia Selknam, que até então havia sido poupada dos encontros com europeus. Esses nativos devem ter estranhado o aparecimento daqueles pequenos animais peludos nas suas terras, mas logo aprenderam que sua carne era apetitosa. Além disso, eram muito mais fáceis se serem caçadas do que os velozes e ariscos guanacos. Com quase dez mil anos de história de caça em uma terra sem fronteiras ou cercas, era difícil entender para eles o conceito de propriedade ou que as ovelhas não pudessem ser caçadas. Isso, obviamente, muito irritou os novos capitalistas que se apoderavam daquelas vastas planícies e sonhavam com seus lucros de exportação.

O romeno-argentino Popper lidera uma expedição de caça aos índios Selkham, na Terra do Fogo, no final do séc. XIX. Na parte de baixo, na foto, um índio já morto a tiros (foto da Internet)

O romeno-argentino Popper lidera uma expedição de caça aos índios Selkham, na Terra do Fogo, no final do séc. XIX. Na parte de baixo, na foto, um índio já morto a tiros (foto da Internet)


O conflito desigual não demorou a ocorrer. De caçadores, os índios passaram a caças. Literalmente! Armados com carabinas e numa terra plana e com vegetação baixa, os capatazes de estâncias e matadores de aluguel não tinham dificuldade em localizá-los e matá-los. A morte de um índio homem valia uma libra esterlina. A morte de uma mulher valia mais, 1,50 libras. Pelo simples fato de que, ao matá-la, evitava-se também o nascimento de novos índios. Nem crianças eram poupadas, muito pelo contrário. Muito mais fácil matá-las enquanto jovens do que quando virassem adultas. Vários matadores se destacaram, mas nenhum como Julius Popper, um argentino de origem romena. Talvez pelo fato de que ele documentava com fotografias vários de suas “caçadas”. E os assassinos não usavam apenas balas para eliminar os Selknam. Chegaram a envenenar uma baleia encalhada para, com isso e de uma só vez, matar todo um bando, mais de três dezenas de índios de uma só vez.

O romeno-argentino Popper lidera uma expedição de caça aos índios Selkham, na Terra do Fogo, no final do séc. XIX Ao seu lado, uma índia já morta (foto da Internet)

O romeno-argentino Popper lidera uma expedição de caça aos índios Selkham, na Terra do Fogo, no final do séc. XIX Ao seu lado, uma índia já morta (foto da Internet)


O resultado previsível desse embate foi um massacre. Em quinze anos, a população de Selknams caiu por 10, de 5 mil índios em 1885 para 500 deles no final do século. Foi quando o restante foi capturado e internado em missões salesianas que, ao menos, tentavam salvá-los. Não apena suas almas, mas também a própria etnia. Mas a mudança tão drástica no estilo de vida, de nômades livres para um terreno fechado, da vida quase desnuda para as roupas apertadas, da comida de caça para uma alimentação estranha, de um mundo sem doenças para micróbios importados, tudo isso se mostrou fatal. As missões simplesmente fecharam suas portas três décadas mais tarde pela absoluta falta de índios. Haviam todos morrido.

Lola Kiepja, a última Selknam que viveu como seus antepassados. Ela faleceu em 1966 (foto da Internet)

Lola Kiepja, a última Selknam que viveu como seus antepassados. Ela faleceu em 1966 (foto da Internet)


Na metade do século XX a população Selknam havia se reduzido a 50 pessoas. Os últimos, quatro deles mestiços e uma última representante pura, Angela Loij, morreram na década de 70. Angela já havia crescido em uma das missões e, apesar de falar também a língua original, pouco sabia da cultura de seu povo. Ela conviveu seus últimos anos com a antropóloga francesa Anne Chapman, talvez a maior estudiosa dessa cultura agora desaparecida. Chapman havia aprendido muito com uma outra Selknam, Lola Kiepja, falecida na década anterior. Lola tinha mais de 90 anos de idade e, ela sim, cresceu livre e junto com a família nos primeiros anos da batalha entre brancos e indígenas. Ainda tinha a cultura, os costumes e a língua fortes na memória, correndo em seu sangue. É emocionante ouvi-la (Anne Chapman grava suas conversas) recitar versos que foram cantados por 300 gerações de indígenas e que se destruiu em meros 15 anos de barbárie. Enfim, a não ser por fotos, relatos e gravações, os Selkmans se foram.



Quanto aos valentes e “primitivos” Yaghans, seu destino também foi parecido. Relativamente poupados da sanha assassina do final do séc. XIX, eles também foram reunidos em missões salesianas. Quando as missões acabaram, o governo chileno os levou para a Ilha Navarino, ao sul do canal de Beagle, onde está o povoado mais austral do mundo, Puerto Williams. Aí, hoje, há cerca de 1.400 eles, praticamente todos mestiços. Seu antigo modo de vida, aquele das canoas, foi há muito abandonado. Vivem de fazer artesanato para turistas e da ajuda governamental. Apenas duas índias Yaghans puras sobreviviam na virada do milênio, mas uma delas morreu. Resta, então, a solitária Cristina Calderón, uma espécie de curiosidade histórica, testemunha única do encontro trágico de uma civilização infinitamente mais bárbara e selvagem do que aquela outra que tentava “civilizar”. Difícil imaginar uma situação ou história mais triste do que essa...

Cristina Calderón, a última Yaghan capaz de falar a língua Yamana. Com quase 90 anos, ela vive em Puerto Williams, no Chile (foto da Internet)

Cristina Calderón, a última Yaghan capaz de falar a língua Yamana. Com quase 90 anos, ela vive em Puerto Williams, no Chile (foto da Internet)

Argentina, Ushuaia, história

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Perdendo-se em Guanajuato (e os Morangos!)

México, Guanajuato

Movimento de fim de tarde na rua peatonal de Guanajuato, no México

Movimento de fim de tarde na rua peatonal de Guanajuato, no México


Além da belíssima paisagem em alguns dos trechos da curta viagem entre Morelia e Guanajuato, tivemos outra ótima surpresa na estrada hoje. Bem suculenta, eu diria! A estrada passa ao lado de Irapuato, que vem a ser a principal região produtora de morangos do México. Assim, ao lado da pista, vários quiosques oferecem essa fruta e derivados a preços bem módicos. Para os fãs de morango, como eu, não poderia ser melhor!

A bela paisagem na viagem entre Morelia e Guanajuato, no México

A bela paisagem na viagem entre Morelia e Guanajuato, no México


Em Irapuato, terra dos morangos no México

Em Irapuato, terra dos morangos no México


Nós não sabíamos disso e foi com surpresa que vimos os cartazes oferecendo “fresa com crema”. Não deu tempo de pararmos no primeiro, pois os olhos demoraram a acreditar no que viam. Mas do segundo quiosque não passamos! Ao contrário, paramos e nos esbaldamos! Morango da melhor qualidade, servido num copo enorme com creme, tudo ao preço de 10 pesos, menos de um real e cinquenta. Além disso, doces, geleias e tortas. Para mim, a fruta com crema já estava bom demais. Quem passar por aqui, não perca!

Comendo um delicioso 'Fresa con Crema', em Irapuato, no México

Comendo um delicioso "Fresa con Crema", em Irapuato, no México


Suculenta 'fresa con crema' em Irapuato, no México

Suculenta "fresa con crema" em Irapuato, no México


Eu ainda me lambuzava quando saímos da estrada principal rumo à Guanajuato. Poucos quilômetros mais à frente e a pequena cidade apareceu no nosso horizonte, escondida entre as montanhas. Estávamos ansiosos por chegar nessa cidade tão recomendada pelo guia e pelas pessoas que a conhecem. Mas também havíamos sido alertados sobre a dificuldade de andar lá de carro.

Primeira visão de Guanajuato, no México

Primeira visão de Guanajuato, no México


Bom, com quase quatrocentas cidades no currículo, a maioria delas à bordo da Fiona, tinha certeza que iríamos tirar de letra. Não poderia ser pior que algumas das cidades que cruzamos na Bolívia, onde a Fiona tinha quase a mesma largura das ruas, sem contar que dividíamos o parco espaço com feiras, bichos e “cholas”. Ou pior que o caos que reina no trânsito de algumas cidades sul-americanas, onde vale a lei do maior ou do mais corajoso. Por fim, para orientação, em tempos de GPS, fica tudo mais fácil, seja em Nova York ou em Teresina.

Os famosos túneis de Guanajuato, no México

Os famosos túneis de Guanajuato, no México


Pois é, vivendo e aprendendo. Bastaram 5 minutos na cidade para descobrir que ela é diferente de tudo o que já tinha visto e que o problema não estava na largura das ruas (estreitas, mas passáveis) nem no caos no trânsito (as cidades mexicanas são bem organizadas!) e nem no GPS. Quer dizer, o problema está no GPS sim, mas não é culpa dele! Ocorre que a maioria do trânsito no centro da cidade se dá por tuneis construídos sobre a cidade colonial, com algumas toneladas de terra, cimento e prédios sobre nós. Os tuneis se cruzam, formando uma verdadeira rede subterrânea, excelente e prática para quem sabe para onde está indo.

Túneis cortam a cidade de Guanajuato, no México

Túneis cortam a cidade de Guanajuato, no México


Caminhando com o Ricardo em Guanajuato, no México

Caminhando com o Ricardo em Guanajuato, no México


Não era o nosso caso, tentando ler placas que indicavam o nome de bairros, parques ou monumentos que não conhecíamos. Além disso, embaixo da terra não há pontos de referência e ficamos andando em círculos. Era uma felicidade quando saíamos dos túneis para conseguir olhar alguma coisa e tentar reconhecer algo. Mas logo estávamos abaixo da terra novamente. Então, de repente, saímos numa rua com um nome vagamente conhecido e, um quarteirão à frente, lá estava o hostal que procurávamos. Bingo!

Uma das muitas pracinhas em Guanajuato, no México

Uma das muitas pracinhas em Guanajuato, no México


Um bom começo! O problema era parar o carro nas ruas estreitas. Encostei, a Ana desceu e descobriu que havia vagas. Mas, e agora, como voltar com o carro para frente do hostal, para descarregar? Não tinha a menor ideia de como havíamos chegado ali e, muito pior, não tinha a menor chance de eu acertar o caminho para chegar lá de novo. Dar a volta no quarteirão? Hehehe, você só pode estar brincando! Que quarteirão? A primeira esquina que eu virar já vou cair num túnel e, depois disso, é capaz de eu só reaparecer na superfície na Cidade do México...

Bistrô em praça de Guanajuato, no México

Bistrô em praça de Guanajuato, no México


Bom, o que não tem remédio, remediado está. A Ana ficou por lá e eu saí para dar a tal “volta no quarteirão”. Caí num túnel antes mesmo que tinha imaginado no “worst case scenario” e logo estava fora da cidade. Respirei fundo, fiz meia volta volver e, dessa vez, parei logo na entrada. Botei o primeiro guia que me apareceu para dentro do carro e dei-lhe as coordenadas: “Estou no Hostal Casa del Tio e quero ir para o estacionamento mais próximo de lá!”. Aí, com um profissional dentro da Fiona, as coisas mudaram de figura. O Ricardo, o guia, me levou suavemente pela rede de túneis e já saímos na boca de um estacionamento. De lá para o hostal foram mais dois quarteirões, onde a Ana me esperava ansiosa.

Interior do Mercado de Guanajuato, no México

Interior do Mercado de Guanajuato, no México


Nesse tempo, fui ficando amigo do Ricardo, que nos levou à pé para ver outro hostal, mas acabamos ficando com o primeiro mesmo, muito bem localizado. O dono tinha um hotel maior, já mais afastado, onde a Fiona poderia ficar guardada. Ainda bem, pois o estacionamento do centro me cobraria 300 pesos diários. O problema seria conseguir chegar lá. “Seria”, se não estivéssemos com o Ricardo, hehehe! Assim, fomos até o estacionamento, voltamos de Fiona até o “Casa del Tio”, descarregamos tudo em tempo recorde (para não segurar o trânsito atrás de nós) e seguimos até o outro hotel, onde ficou a Fiona.

A Catedral de Guanajuato, no México

A Catedral de Guanajuato, no México


Todos instalados, podemos finalmente começar a curtir a cidade. O Ricardo veio nos guiando de volta, agora à pé, atravessando o centro da charmosa e labiríntica cidade. Passamos pelo Mercado Municipal, por praças e igrejas, por ruas movimentadas e peatonais e em frente a bares e restaurantes. Já foi o bastante para nos apaixonarmos por essa cidade única, vontade crescendo de ficarmos aqui mais do que havíamos planejado Ainda mais quando descobrimos que haverá em Guanajuato uma etapa do campeonato mundial de rally daqui a dois dias, de noite. Bem que a Fiona estava chamando uma estranha atenção, pintada e adesivada do jeito que é, quando estávamos atravessando o centro...

Lua cheia em Guanajuato, no México

Lua cheia em Guanajuato, no México


Bom, e parece que vai ser assim mesmo, vamos ficar um pouquinho mais por aqui para aproveitar as belezas e a vida que existe na cidade. A vida e a morte também, pois o mais famoso museu de Guanajuato é de múmias! E aí, vou ter tempo e posts de sobra para poder contar da história desse lugar que também nós já chamamos de “mágico”. Viva Guanajuato!

Cercada de montanhas, a bela Guanajuato, no México

Cercada de montanhas, a bela Guanajuato, no México

México, Guanajuato, Irapuato

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Burocracias

Brasil, Paraná, Curitiba

Um dos aspectos que precisamos lidar quando vamos viajar, principalmente em viagens internacionais, são os aspectos burocráticos. Vistos, por exemplo! Para a Ana, que é italiana, é tudo mais simples, mas para nós, meros brasileiros... Mesmo viajando no nosso próprio continente, devemos vencer várias complicações.

Precisamos de visto para o Canadá, EUA, México e ilhas e regiões francesas. Guiana Francesa, por exemplo. Um complicador no meu caso é que, normalmente, um dos pré-requisitos para a obtenção do visto são as passagens de avião, de ida e, principalmente, de volta. Para quem vai de carro, eles acham muito estranho e ficam sem saber o que informar. Outro ponto é que o visto tem uma validade limitada depois de emitido. Para quem vai chegar só daqui a 20 meses no país, a recomendação é que se obtenha o visto pouco antes de viajar. De novo, isso não me ajuda porque eu vou estar na estrada e não em São Paulo, onde se obtem esses vistos normalmente.

Bom, na prática, como estou lidando com isso? Para começar, por sorte, eu já tenho um visto americano, válido ainda por vários anos. Que bom! Obter um novo, desempregado, sem passagens de avião, sem imóveis no Brasil, não seria fácil. Segundo, já tendo o visto americano, obter o mexicano foi moleza. Afinal, o México só exige visto de brasileiro porque muitos compatriotas iam para lá para atravessar o Rio Grande a nado. Como eu já tenho o visto americano, eles não acham que seja esse o meu caso.

No caso do visto canadense, vou tentar agora em Maio. Terá de ser o visto de múltiplas entradas, válido por 3 anos, já que o visto de entrada simples, mais barato, só é válido por 6 meses. Já estou preparando a documentação para mostrar que eu não pretendo ir para lá para viver ilegalmente. Sem emprego, é sempre mais complicado. Em Maio dou notícias sobre isso.

Por fim, no caso das regiões francesas, me recomendaram que eu, a bordo da Fiona, na fronteira, negociasse com o oficial de plantão. É o que pretendo fazer. Quem sabe, passar no consulado no Amapá. Quanto às ilhas, disseram-me que não teria problemas, estando com as passagens de entrada e saída. Ao longo da viagem vou tentar me informar novamente.

Para a minha esposa italiana foi tudo mais fácil. Bastou 15 minutos na internet para conseguir o visto americano, único país que tem essa exigência.

Ainda no quesito burocracia, consegui minha carteira internacional no último dia (hoje!), para carros e motos. Eu e a Ana fizemos o curso de motos nessas últimas semanas. Foi uma corrida contra o tempo, com final feliz!

Agora, está faltando a documentação da Fiona para a fase internacional da viagem. Ainda temos tempo para isso. Basicamente, são cópias e cópias dos documentos originais, listas e listas dos aparelhos eletrônicos que estamos levando, um tal de carnet du passage e seguros de viagem. Aqui seguimos aquela máxima: "Não deixe para amanhã aquilo que pode deixar para depois de amanhã!".

Finalmente, estamos deixando o Brasil, hoje, quites com o Imposto de Renda. Já de olho na nossa restituição, sempre bem vinda. No meu caso, de olho também no meu seguro-desemprego.

E chega de burocracias...

Brasil, Paraná, Curitiba,

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Travessia

Brasil, Maranhão, Barreirinhas

Atravessando dunas na viagem entre Paulino Neves e Barreirinhas - MA

Atravessando dunas na viagem entre Paulino Neves e Barreirinhas - MA


Onze anos depois, finalmente fiz a travessia Paulino Neves - Barreirinhas no próprio carro. Da outra vez, bastaram alguns quilômetros na saudosa Maria (Pampa 4x4) para eu desistir. Ainda era no percurso Tutóia-Paulino Neves, qu hoje está asfaltado. Bastou uma ponte quebrada e uma água mais funda para eu desistir. E bastou andar alguns quilômetros no areial depois de Paulino neves, já a caminho de Barreirinhas para eu agradecer aos céus por não ter insistido.

Com a Dona Mazé, dona da pousada em Paulino Neves - MA

Com a Dona Mazé, dona da pousada em Paulino Neves - MA


Hoje, com a Fiona, a história foi diferente. Esse caminho muda constantemente, seja pelas dunas que vagarosamente se movem, seja pelas chuvas que criam novas lagoas e charcos. Um track de GPS do ano passado é inútil esse ano. A melhor estratégia e seguir a Toyota de linha, que faz o caminho diariamente. Assim fizemos, depois de combinar com o motorista da Toyota, claro.

Atravessando ponte na viagem entre Paulino Neves e Barreirinhas - MA

Atravessando ponte na viagem entre Paulino Neves e Barreirinhas - MA


Para carros baixos, até que dá passar pelas águas do caminho. O problema maior são os areais. O fluxo de Toyotas cria trilhas com a parte central muito alta. Tem de ser carro alto. E traçado, claro. Mesmo assim, patina bastante. Mas a Fiona passou bem, sem mesmo ter de abaixar os pneus. É uma valente, hehehe!

Atravessando areial na viagem entre Paulino Neves e Barreirinhas - MA

Atravessando areial na viagem entre Paulino Neves e Barreirinhas - MA


Em Barreirinhas, a gente se instalou na Pousada Lins. Por um dia. Amanhã, seguimos para Atins, no encontro do rio Preguiças com o mar. Lá será nossa base para explorar o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Passamos algum tempo discutindo sobre como chegar lá: de barco ou de carro. E, se for de carro, com o nosso ou na Toyota de linha? E se for de barco, numa voadeira ou no barco de linha? Conversamos com amigos, o pessoal do hotel e da pousada que vamos ficar lá. A decisão foi pelo barco de linha mesmo, que desce preguiçosamente o rio Preguiças, hehehe. Fiz isso da última vez e tenho boas lembranças. Vamos ver como será dessa vez...

Orla do rio Preguiças, em Barreirinhas - MA

Orla do rio Preguiças, em Barreirinhas - MA


Aqui em Barreirinhas, passeamos pela orla do rio, cheia de restaurantes. A cidade cesceu, sem dúvida. Mas, fora de temporada, está bem tranquila. Fomos verificar a possibilidade de fazer um sobrevôo do parque, mas para hoje, o avião estava em manutenção. Quem sabe na volta, na segunda?

Rio Preguiças, em Barreirinhas - MA

Rio Preguiças, em Barreirinhas - MA


Por fim, fomos comemorar nosso 1o ano de casados ao contrário (21 meses) num jantar em um hotel chique daqui, o Porto Preguiças. Indicação do primo Haroldo. Hmmm... o risoto de camarão estava maravilhoso! Valeu cada centavo!

Jantar de comemoração em Barreirinhas - MA

Jantar de comemoração em Barreirinhas - MA


Para os próximos dias (vamos passar pelo menos três noites por lá), parece que não teremos internet. Então, vamos ficar meio silenciosos. Mas, não se preocupem! Voltamos com a corda toda, cheio de histórias e fotos!

Brasil, Maranhão, Barreirinhas, Lençóis Maranhenses

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Cap-Haitien

Haiti, Cap-Haitien

Arquitetura colorida no centro de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Arquitetura colorida no centro de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Cap-Haitien, ou Cabo Haitiano, como ela é conhecida pelos dominicanos, é a mais importante cidade do norte do Haiti. Durante a época colonial, foi a capital do país até 1770, quando os franceses decidiram transferir o centro do poder para Port-au-Prince. Tinha então o nome de Cap-Français e, claro, logo teve o nome mudado após a revolução haitiana, uma maneira simbólica de mostrar ao mundo que o país havia se tornado independente.

Vendedora de frutas, em Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Vendedora de frutas, em Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Barco na vega na orla de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Barco na vega na orla de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Aliás, foi durante essa guerra de independência que centenas de franceses que viviam na cidade se mudaram para New Orleans, então uma cidade francesa. Não é à toa que a arquitetura das duas cidades é tão parecida, os franceses daqui levando para lá o estilo de Cap-Haitien. A diferença, claro, fica no estado de conservação dessa bela arquitetura. Aqui, os sinais de decadência são claros. O que não deixa de tornar tudo ainda mais charmoso.

Caminhando pelas ruas de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Caminhando pelas ruas de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Cap-Haitien era um grande destino turístico até a década de 80, recebendo diversos cruzeiros e turistas independentes. Ainda se percebe a estrutura que havia para recebê-los, como lojas e mercados, hoje meio às moscas. Aqui disseram que a cidade estava sempre movimentada, gringos andando para lá e para cá. Os vizinhos dominicanos, agentes de turismo e do governo, até vinham para cá, para aprender o know-how. Tempos idos e passados. O aparecimento da AIDS naquela década estigmatizou o Haiti como uma das fontes da doença, afastando os turistas. Depois, foi a instabilidade política, os diversos golpes, a crise econômica aguda, a desordem social e os desastres naturais. O resultado é essa bela cidade, com um potencial turístico tão grande, ainda mais quando se considera as atrações aqui por perto, como a Citadelle e algumas das mais belas praias do mundo, estranhamente vazia.

Catedral de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Catedral de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Interior da catedral de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Interior da catedral de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


A cidade é bem grande, mas a parte histórica pode ser feita toda à pé. Ao contrário de Port-au-Prince, o trânsito é bem tranquilo, as ruas formam um grid regular e é bem fácil se orientar. Mais do que isso, é agradável andar pelas ruas de casas coloridas, de dois ou três andares e com varandas se debruçando sobre as calçadas. Como herança da época da ocupação americana, essas ruas tem nomes de letras (norte-sul) e números (leste-oeste), o que torna ainda mais fácil a navegação.

Meninas no interior da catedral de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Meninas no interior da catedral de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


Amigável desse jeito, nós caminhamos bastante por ela. Enfim, uma cidade com cara de cidade, com esquinas, padarias, restaurantes, praça central. Aliás, nessa praça está uma enorme igreja, a catedral, a maior do país, com o sugestivo nome de Notre-Dame. Aì dentro encontramos umas simpáticas adolescentes que se divertiram conosco, a rara visão de turistas em sua cidade.

Orla de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti

Orla de Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti


O grande terremoto não será esquecido! (Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti)

O grande terremoto não será esquecido! (Cap-Haitien, cidade na costa norte do Haiti)


Elas não se lembram de como era antes, pois nem eram nascidas. Mas ficamos bem amigos do Felipe, o proprietário de um dos mais agitados bares da cidade, o La Kay, que se lembra nostalgicamente do movimento que aqui existia, três décadas atrás. Ele e outros esperam que esses bons tempos retornem a até começam a ver sinais disso. Para eles, a nossa presença por lá foi animadora. Quem sabe seja um início... Enquanto isso não acontece, os estrangeiros que se veem na cidade são os funcionários das diversas ONGs que operam por aqui, além, claro, dos militares das forças de estabilização da ONU.

Com o Felipe, dono do nosso bar preferido em Cap-Haitien, o La Kay (Haiti)

Com o Felipe, dono do nosso bar preferido em Cap-Haitien, o La Kay (Haiti)


O bar do Felipe fica em frente ao mar, assim como o hotel onde nos hospedamos. Uma bela visão da baía, mas não há uma praia. Para isso, é preciso caminhar um pouco, cerca de um quilômetro, por uma estrada de terra, ao lado do mar. É onde o Felipe tem sua casa e ele até nos deu uma carona até lá. No caminho, antigos fortes dos franceses, ainda com seus canhões. A praia é meio sem graça, com muitas pedras, e o mais interessante foi ver um grupo de garotas, com sabonete e tudo, tomar banho por ali.

Antigo forte francês em Cap-Haitien, no norte do Haiti

Antigo forte francês em Cap-Haitien, no norte do Haiti


Garotas tomam banho na água do mar, em praia de Cap-Haitien, no norte do Haiti

Garotas tomam banho na água do mar, em praia de Cap-Haitien, no norte do Haiti


A alguns quilômetros na direção leste estão algumas das mais belas praias do Caribe. Mas estão longe demais para se ir à pé. Nós vamos de taptap, depois de amanhã. É ali que está a famosa Labadee, uma praia fechada e exclusiva da empresa de cruzeiros Royal Caribbean. Vamos poder ver de perto, mas antes ainda vamos na Citadelle, aquela fortaleza que sobrevoamos pela manhã. Como eu disse logo acima, Cap-Haitien, além do próprio charme, ainda tem atrações de primeira linha no seu entorno. Vamos conferir!

Fim de tarde na beira-mar em Cap-Haitien, no norte do Haiti

Fim de tarde na beira-mar em Cap-Haitien, no norte do Haiti

Haiti, Cap-Haitien, história

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De Cama em Marajó

Brasil, Pará, Belém, Soure (Ilha de Marajó)

ferry entre Belém e Marajó - PA

ferry entre Belém e Marajó - PA


Não sei se pela virose que me pegou ou por medo de perder o horário da barca, acordei de hora em hora esta madrugada até que, às 05:30, levantei de vez. A tal virose pegou meio mundo aqui no norte e nordeste, pegou a Ana em Jericoacoara e agora foi a minha vez.

Embarcando às seis da manhã no ferry entre Belém e Marajó - PA

Embarcando às seis da manhã no ferry entre Belém e Marajó - PA


Já tínhamos deixado tudo arrumado e não demorou muito para que um gerente do hotel, saindo do trabalho da madrugada, nos desse carona até o porto. Ali embarcamos num dos enormes ferries que fazem a linha Belém-Camará, que é o porto da Ilha de Marajó.

Treino solitário de remo, visto do ferry entre Belém e Marajó - PA

Treino solitário de remo, visto do ferry entre Belém e Marajó - PA


Legal, para mim, foi que ao entrar no Terminal Hidroviário revi perfeitamente a cena de quase vinte e um anos atrás quando um amigo que estava viajando comigo e com meu primo, o Marcelo, adormeceu dentro de uma cabine telefônica, neste mesmo terminal. A gente esperava a hora de embarcar e ele, que era craque em dormir em qualquer lugar, não pensou duas vezes: se aboletou na cabine e desmaiou. A cabine telefônica não está mais lá, mas minhas lembranças sim!

Belém fica para trás, no ferry para Marajó - PA

Belém fica para trás, no ferry para Marajó - PA


Outra coisa que mudou, infelizmente, foi o destino do ferry. Naquela época, a gente chegava diretamente em Soure, a principal cidade de Marajó. Agora, chegamos em Camará e lá temos de pegar um ônibus para mais uns 30 km até Salvaterra e lá, cruzar mais um rio de balsa para finalmente chegar em Soure. Para quem acordou 05:30, navegou pouco mais de três horas em bancos pouco confortáveis, esses últimos 30 km parecem 300...

ferry entre Belém e Marajó - PA

ferry entre Belém e Marajó - PA


Bom, depois deste esforço todo, quando chegamos em Soure resolvemos pagar um pouco mais para ter um acréscimo de conforto. Excelente idéia, já que a virose estava cada vez mais forte. O aconchegante quarto do hotel Casarão da Amazônia foi o meu ninho pelas próximas oito horas. Lutando contra uma febre e sob os cuidados da Ana, tratei de descansar e deixar que meu corpo lutasse em paz contra o vírus que me atacava. Foi só de noite que a Ana conseguiu me tirar do quarto para jantar um delicioso filé de búfalo com queijo de búfala derretido encima.

Paisagem de muita mata, água e ilhas no ferry entre Belém e Marajó - PA

Paisagem de muita mata, água e ilhas no ferry entre Belém e Marajó - PA


Perdemos um dia de tempo bom por aqui, pois a Ana também não arredou o pé de perto de mim, aproveitando para trabalhar bastante na internet. Mas vamos recuperar o tempo perdido amanhã, com a ajuda de duas bicicletas. Com elas, poderemos ver as três praias da cidade. Com ou sem vírus!

Paisagem de muita mata, água e ilhas no ferry entre Belém e Marajó - PA

Paisagem de muita mata, água e ilhas no ferry entre Belém e Marajó - PA

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