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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Igreja mais tradicional de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Chegamos ontem de tarde em Rio Grande e fomos logo procurar algum hotel para ficar. Bastaram alguns minutos dirigindo pela cidade e, principalmente, um pouco mais tarde, outros minutos caminhando pelo centro histórico, para perceber a quantidade e intensidade de história que se esconde nas antigas ruas e fachadas de Rio Grande. Nós até cogitamos nos hospedar no Hotel Paris, ele mesmo um prédio histórico e um dos mais tradicionais e antigos da cidade, mas ao final, considerando localização, conforto e barulho, acabamos nos decidindo por um melhor localizado e mais moderno. Hoje cedo, depois de uma noite bem dormida para nos recuperar da longa viagem desde o Uruguai, estávamos prontos para sair de novo pelas ruas da cidade, agora com mais tempo e disposição para explorá-la e aprender um pouco de sua rica história e tradição.
Paris Hotel, um dos mais antigos de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Prédio sede da Polícia Federal em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Rio Grande, hoje, é um dos cinco portos mais movimentados da costa brasileira. A cidade está bem próxima ao oceano, mas não de frente ao mar. As águas que se veem em Rio Grande e seu movimentado porto são da Lagoa dos Patos, o maior lago do país. Aqui começa justamente o canal que liga o enorme lago ao mar, ao mesmo tempo em que oferece porto seguro aos navios que chegam ou partem para o agitado Oceano Atlântico. Foi essa posição estratégica, na boca da Lagoa dos Patos, que atraiu portugueses e espanhóis, que tanto lutaram pela sua posse alguns séculos atrás. Venceram os portugueses, mas algumas décadas mais tarde, foi a vez de monarquistas e republicanos disputarem a posição estratégica da cidade.
Sobrado dos Azulejos, um dos prédios históricos de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Detalhe do Sobrado dos Azulejos, em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Inicialmente, como preconizava o Tratado de Tordesilhas, todo o território que hoje corresponde ao Rio Grande do Sul era considerado sujeito à coroa espanhola. O início da colonização europeia da região se deu através das missões jesuíticas, instaladas no interior do estado com o intuito de evangelizar os índios guaranis e torná-los súditos do Deus católico e do rei de Espanha. Mas o litoral gaúcho continuava desabitado, frequentado apenas por barcos que iam e voltavam do sul do continente e do já movimentado Rio da Prata. Aliás, foi aí que, no final do séc. XVII, os portugueses haviam fundado a cidade de Colonia del Sacramento. Então, cinco décadas mais tarde, em 1737, com o intuito de facilitar a comunicação e comércio entre as duas cidades portuguesas mais importantes ao sul de São Paulo, a própria Colonia e a cidade de Laguna, no sul de Santa Catarina, que expedições portuguesas fundaram o embrião de duas novas cidades, uma de cada lado do canal de ligação entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico. Eram elas Rio Grande e São José do Norte. São as duas mais antigas cidades gaúchas se desconsiderarmos as missões jesuíticas, de origem espanhola.
Prédio do antigo Quartel General em Rio Grande, hoje alguma secretaria de governo, no sul do Rio Grande do Sul
Mapa mostrando o Canal São Gonçalo, ligação natural entre as duas maiores lagoas do Brasil (Patos e Mirim) e a travessia de balsa através da boca da Lagoa dos Patos, entre Rio Grande e São José do Norte (sul do Rio Grande do Sul)
O nome Rio Grande, que não só batizou a cidade como o próprio estado, era justamente uma referência a este canal de ligação, quase um rio, entre a enorme lagoa e o mar. Felizes com a ocupação do novo território, os portugueses não demoraram para criar a nova capitânia de São Pedro do Rio Grande do Sul, com a capital no povoado de Rio Grande, em 1760. Quem não estava feliz eram os rivais espanhóis, que ainda lutavam para fazer valer as letras do Tratado de Tordesilhas. Em 1763, o espanhol Pedro de Ceballos partiu de Buenos Aires com um exército e conquistou não apenas Colonia del Sacramento, mas também a própria Rio Grande. Em seguida, cruzou o canal e também expulsou os portugueses de São José do Norte. Foram esses portugueses expulsos que foram se estabelecer mais ao norte, na cidade de Viamão e, logo ao lado, em Porto dos Casais, a futura capital do estado, depois de rebatizada para Porto Alegre. Mais ao sul, após violento combate, os portugueses reconquistaram São José do Norte quatro anos mais tarde, mas a cidade de Rio Grande permaneceu em mãos espanholas por 13 anos, até 1776.
Visita ao Museu Oceanográfico em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Visita ao Museu Oceanográfico em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Os espanhóis quase retornaram no ano seguinte. O mesmo Pedro de Ceballos havia acabado de conquistar a Ilha de Santa Catarina, mais ao norte, e pouco antes de atacar Rio Grande, foi detido por uma carta vinda da Europa. Portugal e Espanha haviam acabado de assinar um acordo de paz e os espanhóis reconheciam a soberania portuguesa nos territórios de Santa Catarina e boa parte do Rio Grande do Sul. A cidade pode viver e se desenvolver em paz por pouco mais de meio século, embora não fosse mais a capital da província.
Borboletário em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Borboletário em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Então, em 1835, ela se viu envolvida novamente na guerra. Dessa vez, com o Brasil já independente, eram monarquistas contra republicanos. Foram os anos da chamada “Guerra dos Farrapos”, onde uma república independente do Rio Grande do Sul subsistiu por praticamente 10 anos contra as tropas imperiais de Dom Pedro II. Por praticamente toda a duração do conflito, as tropas separatistas gaúchas controlaram todo o interior do estado, mas Rio Grande e Porto Alegre permaneceram sempre em mãos do governo central do Império. Rio Grande até voltou a ser a capital e os combates foram renhidos na vizinha São José do Norte, que chegou a cair em mãos republicanas. O fim da guerra, em 1845, trouxe estabilidade política e social novamente à cidade.
Matando a saudade de pinguins no Museu Oceanográfico de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Matando a saudade de pinguins no Museu Oceanográfico de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Quando caminhamos pelo centro histórico de Rio Grande nos dias de hoje, as fachadas clássicas de construções centenárias ainda remetem a lembranças esses tempos heroicos e agitados. Rio Grande pode ter perdido a importância política que já teve, mas o pioneirismo de sua população continuou evidente por muito tempo. Por exemplo, foi aqui que foi criado o primeiro balneário do país, a Praia do Cassino, ainda no final do século XIX. Aqui também está o clube de futebol mais antigo do Brasil em atividade, algumas semanas mais velho que a Ponte Preta de Campinas, a segunda da lista. O Sport Club Rio Grande foi fundado em Julho de 1900, mas faz muito tempo que só frequenta a 2ª e 3ª divisão do futebol gaúcho. É da cidade também a minha mulher a se formar em Medicina no Brasil, Rita Lobato Velho, que se formou médica em 1887.
Um leão-marinho nada em seu tanque no Museu Oceanográfico de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Um leão-marinho nada em seu tanque no Museu Oceanográfico de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Depois de caminhar bastante por entre os casarões antigos da cidade, nós fomos à outra das granes atrações turísticas de Rio Grande: um complexo de museus. Em uma mesma área, estão instalados dois museus pioneiros no país, o Museu Oceanográfico e o Museu Antártico. O primeiro é considerado o mais importante do gênero na América do Sul e foi fundado em 1953. Muita informação distribuída em diversos painéis informativos, aquários e coleções de conchas e moluscos., além de réplicas de animais maiores. No aquário, eu e a Ana pudemos matar as saudades dos pinguins, que tanto vimos na nossa viagem para a Antártida, além de um solitário leão-marinho.
Poço de tartarugas no Museu Oceanográfico de Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Visita ao Museu Antártico, em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
No Museu Antártico, um anexo do Museu Oceanográfico, podemos ler a prender sobre o programa brasileiro na Antártida. Há inclusive réplicas doas moradias e laboratórios instalados no continente antártico. Pelo menos, de como eles eram, pois a base brasileira na Comandante Ferrás foi recentemente destruída por um incêndio, um duro golpe nas nossas aspirações polares. Enquanto ela não é reconstruída, agora maior e mais moderna, só nos resta mesmo ver essas réplicas no museu de Rio Grande.
Visitando réplicas das acomodações brasileiras em sua base na Antártida, no Museu Antártico, em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Veículo usado na base brasileira na Antártida, no Museu Antártico, em Rio Grande, no sul do Rio Grande do Sul
Tínhamos caminhado até lá, mas a volta para o hotel foi de táxi. Estava na hora de fazermos o check-out. Aí, já de Fiona, seguimos para o local de onde sai a balsa que atravessa o canal da Lagoa dos Patos rumo a São José do Norte. Essa não é a principal rota de quem segue para o norte do estado e para a capital. Isso seria pela BR-116, em direção a Pelotas e depois, Porto Alegre. Mas nós queríamos seguir pela BR-101, que segue ao lado do litoral, pela estreita faixa de terra que separa a Lagoa dos Patos do Oceano Atlântico. Para chegar até lá, o primeiro passo é tomar a balsa.
Balsa entre Rio Grande e São José do Norte, do outro lado do canal da Lagoa dos Patos, no sul do Rio Grande do Sul
Na balsa, durante a travessia do canal da Lagoa dos Patos, entre Rio Grande e São José do Norte, no sul do Rio Grande do Sul
Então, lá fomos nós. Cruzamos o movimentado canal em uma balsa cheia de caminhões, Rio Grande foi ficando para trás, sua orla formada por construções antigas e desgastadas. Logo atrás, estavam o Hotel Paris e a bela Casa dos Azulejos, arquitetura típica portuguesa. Mais uma balsa no percurso da Fiona, dessa vez em terras brasileiras...
Com o Joca, na balsa entrte Rio Grande e São José do Norte, no sul do Rio Grande do Sul
Chegando a São José do Norte, no sul do Rio Grande do Sul
Não demorou muito e a bela fachada centenária de São José do Norte aparecia na nossa frente. Apesar da aparência charmosa, não nos detivemos muito por aí. Ainda tínhamos um longo caminho pela frente a percorrer no dia de hoje. Nossa ideia era chegar até algum dos balneários frequentados pelos habitantes de Porto Alegre, mas ainda não sabíamos qual. Com a honrosa exceção de Torres, nós, moradores dos estados mais ao norte, pouco sabemos das praias gaúchas. Também, com a beleza das praias catarinenses, para quê seguir mais ao sul? Mas agora que viemos da direção oposta, a história é outra...
Tempo para um cigarro na balsa entre Rio Grande e São José do Norte, no sul do Rio Grande do Sul
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