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Flôres no hotel Florida, em Filadelfia - Paraguai
O nosso hotel em Filadelfia se chama Florida, como a famosa rua de pedestres em Buenos Aires, e não Flórida, como o estado preferido dos aposentados americanos e dos ricaços brasileiros.
Flôres no hotel Florida, em Filadelfia - Paraguai
Mas a razão do nome dela não está em Buenos Aires, mas sim em seu jardim. As fotos que ilustram este pequenos post mostram alguns "pedaços" dessa razão.
Flôres no hotel Florida, em Filadelfia - Paraguai
Ontem, quando aqui chegamos, conseguimos o último quarto livre do hotel, que é bem grande e tem muitos quartos. Tivemos a mesma sorte que tivemos em Asunción! Que continue assim, hehehe! A razão de estar lotado dessa maneira é que chegou ontem também um grande grupo de médicos oftalmologistas americanos que estão aqui para um mutirão da saúde na região. A causa é nobre mas quase deixaram a gente sem quarto. Mas, no fim, deu certo para todo mundo, inclusive para nós que pudemos conhecer esse famoso e florido hotel no meio do Chaco paraguaio!
Flôres no hotel Florida, em Filadelfia - Paraguai
Procuranmdo um lugar vazio para se sentar
Existe várias maneiras de não fazer nada. Certamente, uma bem agradável é não fazer nada em Harbour Island - Bahamas. Foi o que fizemos ontem: um movimentado dia não fazendo nada.
Muito bem instalados que estamos no Bahama House Inn, cama deliciosa, acordamos bem aos poucos, com a luz filtrada pelas cortinas brancas entrando no quarto. O galo cantando ao longe empresta um certo ar de exotismo à manhã. Levantar ou não levantar, eis a questão!
Bom, nada melhor do que ter um belo café da manhã como estímulo. A suculenta Grape Fruit nos esperando (mamãe iria adorar!), o pão caseiro e quentinho, manteiga e géleia, queijos, frutas e suco, tudo isso nos tira da cama. E ainda há uma ótima música ambiente, escolhida a dedo pelo John, um americano que soube muito bem como fazer a sua vida aqui no paraíso. Música cubana, bahamense e até mesmo brazuca!. Por fim, a varanda onde é servido o café, a suave brisa com um leve cheiro de mar, o céu azul e o mar alucinante ao longe. É, melhor é levantar... A cama arrumada vai estar lá, de noite, nos esperando.
Após o café, a varanda continua tão boa que resolvemos continuar por lá, atualizando nosso site. A conexão wi-fi é ótima e rápida. Mas, 90 min mais tarde, a consciência começa a pesar, afinal o sol, o céu, a briza, o mar, todos juntos perguntam: "Escute, vocês vieram aqui para trabalhar ou para passear?". Pois é, eles tem razão!
Caminho para a praia em Harbour Island - atravessando o cemitério
Seguimos para a praia, levando cadeira, guarda-sol, etc, etc. O bucólico caminho atravessa a pequena vila e até mesmo um cemitério (é um atalho!). Chegando na praia, apesar de termos estado lá ontem, nossos olhos ainda não querem acreditar no que veem. Não pode ser verdade! Areias rosas? Águas verde esmeralda? Céu azul? Praia vazia? Não pode ser! Mas é...
Bom, nem tudo são flores. O que era brisa do outro lado da ilha, aqui é um vento inclemente. Por um lado, não passamos calor sob o sol. Por outro, basta uma nuvem passar em frente ao sol e já estamos com frio, em roupas de banho. E, com a velocidade do vento, aquela nuvem que estava lá no horizonte em minutos já está nos fazendo sombra. Em compensação, 15 segundos depois ela já passou e o sol volta a brilhar.
The right spot, the right place
Caminhamos para um lugar onde ficamos mais protegidos da areia trazida pelo vento e tentamos armar o guarda-sol. Impossível! Mas, para que guarda-sol se temos o vento para nos refrescar e sunscreen para nos proteger? Aproveitamos as próximas duas horas para reforçar o bronzeado e mesmo para estudar um pouco um dos muitos manuais de artefatos tecnológicos que temos. Unimos o útil ao agradável.
Meio de transporte em Harbour Island
Bom, praia cansa e praia com vento cansa mais ainda. Resolvemos voltar, deixar as coisas na pousada e ir dar uma corrida. Quem sabe, se transforma num bom e saudável hábito, essas corridas diárias? Corremos pela vila, circundando a ilha. Logo, já não há mais casas, apenas um caminho de areia que corta uma enseada seca pela maré, um trecho de mata, outro ao lado de mansões e seus iates. Uma hora de cooper. A Ana tira de letra. Imagino que a paisagem ajude ela. Mas não é só isso. Está numa ótima forma mesmo. Fruto dos meses de preparação antes da viagem.
Pôr-do-sol na pousada em Harbour Island - Eleuthera - Bahamas
Voltamos para a pousada e vamos assistir o pôr-do-sol do gazebo, estratégicamente construído para esse evento. Conosco, algumas Kalik, a nossa cerveja preferida de Bahamas. Já com o céu escuro, o estômago reclama. Desde o café nada entrou. Pulamos o almoço. Cinco minutos caminhando nos levam ao Valentine onde jantamos com o mar ali, a 50 m de nós, ambiente aberto para permitir a entrada da brisa suave.
Hora de dormir. A cama está chamando. E logo será a vez do galo cantar, da luz filtrada pelas cortinas nos acordar, e blá blá blá.
Em tempo: o vento anulou nossas chances de mergulho. Amanhã, além de não fazer nada, vamos voltar aos recifes para nova sessão de snorkel, cavernas e, quem sabe, tubarões.
Nave experimental no aeroporto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
O caminho entre o parque das sequoias e o Death Valley era longo e tínhamos de achar um lugar no meio do caminho para quebrar a viagem, principalmente tendo saído já no final da manhã. O lugar escolhido foi o deserto de Mojave, conhecido pelo vento que nunca para e pelas bases aéreas e espaciais. Aqui, por exemplo, é o lugar onde pousavam os ônibus espaciais quando o tempo na Flórida estava muito ruim.
Já chegando lá perto, pudemos observar os milhares de moinhos de vento espalhados pelas encostas tentando aproveitar a força ininterrupta da energia eólica. Bom para os humanos, ruim para os pássaros. Acho que eles preferem a boa e velha energia hidráulica mesmo. Ou a nuclear ou a térmica. Tudo menos a eólica. Os morcegos concordam com eles, hehehe!
Milhares de moinhos aproveitando o vento que nunca para em Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Mas não foi isso que nos atraiu à Mojave, não! A história é outra. Sou de uma geração em que a corrida espacial estava no auge. Nasci no ano da chegada do homem à lua e quando era criança, todos os livros e adultos eram unânimes em afirmar que, antes que eu virasse adulto, o homem teria chegado à Marte e que existiriam hotéis no espaço. Era uma verdade inquestionável e apenas uma questão de (pouco!) tempo para virar realidade.
Milhares de moinhos aproveitando o vento que nunca para em Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Que nada! A corrida espacial freou e deu marcha à ré. Nem na lua chegamos mais. E eu, que tinha certeza que um dia flutuaria num mundo sem gravidade, tristemente passei a aceitar o fato que nasci uma ou duas gerações antes da hora.
Mas, uma nova esperança apareceu no ar. Ou no espaço! Na década passada uma organização ofereceu 10 milhões de dólares à primeira empresa privada que conseguisse mandar alguém para o espaço e, uma semana depois, mandá-la novamente, usando a mesma nave. Cientistas malucos do mundo inteiro se animaram e passaram a concorrer pelo prêmio, pelas glórias e pelo bilionário mercado que se abriria em seguida. Acabou ganhando um Professor Pardal aqui de Mojave, um cientista chamado Burt Rutan, financiado por ninguém menos que Paul Allen, o número 2 da Microsoft. Um avião estranho chamado SpaceShip 1 levou uma espécie de foguete, o White Knight 1, até 15 km de altura e esse disparou até 100 km de altura, levando seu piloto ao espaço e à ausência de gravidade por uns 3 minutos. Depois, foi só planar de volta para Mojave.
O Space Ship 1, avião para levar turistas ao espaço (no aeroporto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos)
Daí para a próxima geração foram mais alguns anos de trabalho. No final de 2012, ou provavelmente à partir de 2013, essa nova tecnologia começará a levar turistas para o espaço. Vários passageiros em um mesmo avião, tudo pelo módico preço de 250 mil dólares. Agências do mundo inteiro já vendem a viagem, inclusive no Brasil. Dizem que alguns conterrâneos nossos já até pagaram, mas os nomes são mantidos em segredo. Pelo menos por enquanto.
O Space Ship 1, avião para levar turistas ao espaço, com patrocínios de grandes empresas (em Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos)
Eu, se tivesse o dinheiro, não pensaria duas vezes. Mas, queria mesmo era ser ainda mais rico e pagar 100 vezes mais do que essa “miséria” de 250 mil dólares e ir passar uma semana na Estação espacial Internacional. Coisa para gente bacana, que enriqueceu com a internet ou com o Cirque de Soleil, para citar alguns dos felizardos. Uma semana lá encima... nossa!, que sonho!!!
O Space Ship 1, avião para levar turistas ao espaço (no aeroporto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos)
É, por enquanto, vou matando minha vontade viajando pela América mesmo, aqui pertinho. E aproveitando para passar em Mojave e dar uma olhada no SpaceShip 1. Mas, a esperança é a última que morre. Dizem que essa viagem de 3 min ao espaço custará 10 vezes menos daqui a alguns anos. Quem sabe, outros anos mais e custe apenas um centésimo. Aí sim poderei ir. Já a viagem de uma semana, essa aí, acho que vai ficar para os filhos e netos. É nessa hora que gosto de acreditar em reencarnação...
Mergulhando na Laje de Santos - SP
Menos de duas horas após termos dormido, já estávamos de pé novamente. O destino, desejado já há tanto tempo: a famosa Lage de Santos, um dos melhores pontos de mergulho do sul do país.
A famosa Lage de Santos - SP
Mergulhar na lage não é fácil. Não que haja muitas dificuldades técnicas para o mergulhador. O problema maior é chegar lá. A Lage está a quase quarenta quilômetros da marina mais próxima e requer um longo tempo de navegação em mar aberto. Para valer à pena para as operadoras, os barcos devem estra cheios pois os custos de transporte são altos. Desse modo, normalmente, só há operação nos fins de semana e feriados, quando há mais mergulhadores interessados e disponíveis. O outro grande problema é o humor de São Pedro. Não pode haver muito vento, pois a nevegação é feita com barcos pequenos e rápidos em mar aberto. Resumo da ópera: não é todo dia que se vai para a Lage.
Preparando-se para o mergulho na Laje de Santos - SP
Nós, depois de muitas tentativas, finalmente estávamos indo. Com um pouquinho de sono, mas estávamos indo. No caminho, já no barco, através do rádio descobrimos que outros barcos, que saíram mais cedo do que nós estavam voltando, sem ter operado. Estavam com mergulhadores ainda inexperientes, e as condições do mar não estavam propícias para eles. Nosso barco seguiu em frente! Alguns passaram mal, pelo sacolejo. A recompensa deveria valer à pena!
Passando frio no mergulho na Laje de Santos - SP
Devidamente aparamentados, caímos no mar para um primeiro mergulho bem meia boca. A água estava fria, cerca de 19 graus e tínhamos feito a bobagem de não trazer nossa roupa de cima. Visibilidade razoável em alguns pontos, uma arraia, muitos frades e garoupas, além de peixes menores. Realmente, nada de especial. Para mim, um treino para a arte de fotografar em baixo d'água. Dentro dos limites da nossa máquina, vou melhorando. Para boas fotos de verdade, não tem jeito: precisamos de um equipamento dez vezes mais caro com muita, muita luz (flashes). Se não, sai tudo azul. Voltamos para o barco e eu só pensava, para me animar, naquela frase de um amigo mergulhador: "O mergulho, quando é ruim, é bom. Quando é bom, é uma maravilha!"
Peixe frade no mergulho na Laje de Santos - SP
Quase uma hora mais tarde, estávamos prontos para o segundo mergulho. Metade dos mergulhadores preferiu não ir, enjoados do mar ou com frio. A Ana até pensou, mas nunca tive dúvidas que ela mergulharia. Principalmente depois que lhe ofereceram emprestado uma segunda roupa. Desta vez, fui sem a máquina, para curtir mais o mergulho e já meio desanimado com as condições de visibilidade.
Arraia no mergulho na Laje de Santos - SP
Ledo engano! A Lage tem suas surpresas e nós tivemos uma enorme. O mergulho foi maravilhoso. Fomos para o outro lado, para o Cabeço das âncoras. Uma forte corrente trazia água mais quente e muito mais limpa. Centenas de peixes formavam enormes cardumes. Tartarugas, lagostas, estrelas do mar, enormes garoupas e peixes coloridos, tudo no meio de uma visibilidade que em alguns pontos chegou a trinta metros nos premiaram com um mergulho classe A! E eu, além de me maravilhar com as belezas do mar, só pensava na nossa máquina fotográfica...
Estrela do mar no mergulho na Laje de Santos - SP
Bom, assim é o mar. Nunca devemos menosprezar um mergulho, mesmo depois de um mergulho meia boca. Tudo pode mudar e nunca se sabe quem vai aparecer. Esse segundo mergulho com certeza fez valer todo o tempo de espera, a noite pouco dormida e a hora e meia de sacolejos para chegar lá.
Feliz após o belo mergulho na Lage de Santos - SP
Mais ainda, e é essa a idéia do projeto 1000dias, é o contraste das sensações de se estar um dia no meio de peixes e arraias em pleno oceano atlântico, 12 horas depois de ter estado no meio de uma agitada casa noturna em Santos, 36 horas depois de ter estado, em meio à neblina e frio, no alto da maior montanha da região sul do Barsil, 24 horas depois de ter estado no conforto de uma casa jantando com queridos entes familiares em Curitiba. E vamos que vamos que o Guarujá e a Serra da Bocaina nos esperam. Depois tem Ilha Grande, Rio, Serra dos Órgãos, Búzios, etc, etc, etc.
A orla de Santos vista do mar - SP
Cachoeira da Piabinha, no Parque Municipal do Garimpo, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
Hoje pela manhã, aqui em Mucugê, um momento raro de separação entre eu e a Ana. O normal da nossa vida, desde que começamos a viagem, é compartilhar umas 23 horas e meia dos nossos dias. As pessoas se espantam, mas por enquanto foram pouquíssimas brigas e sempre nos damos muito bem. Pois hoje, resolvemos nos separar. Depois dos 100 km de caminhadas acumuladas desde que chegamos à Chapada, a Ana resolveu ficar na Pousada durante a manhã, dormindo um pouco mais e aproveitando para tentar colocar em dia seus posts, que estavam ainda mais atrasados do que os meus. Enquanto isso, fui visitar um parque municipal, com museu histórico e cachoeiras.
Rua em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
Mucugê é bem mais tranquila que Lençóis. As duas cidades são da época áurea da exploração do diamante na Chapada, em meados do séc XIX. Na verdade, o garimpo em Mucugê se desenvolveu um pouco antes e daqui partiram os garimpeiros explorando os rios mais ao norte, onde está Lençóis. A cidade ainda tem um ar daquele século, as casas e ruas muito bem conservadas, até mais que em sua irmã mais famosa. Além disso, tudo aqui parece mais organizado, com placas indicativas estilizadas e sem uma influência tão forte de turistas e forasteiros. Para mim, foi uma bela e agradável surpresa essa cidade e gostei muito de ter vindo.
Nossa pousada em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
No parque e na região próxima há várias cachoeiras. Se estivéssemos em outro lugar que não a Chapada, essa cachoeiras seriam consideradas maravilhosas, mas aqui, por comparação, acabam diminuídas. Mesmo assim, foi muito gostoso visitar e me banhar na Cachoeira da Piabinha e na Tiburtino. Essa última é acessada através de uma trilha muito bem conservada de 2 km. Já que estava sozinho, aproveitei para seguir correndo. Correndo e pensando sobre a história dessa região. As minhas fontes foram o museu e também as longas conversas com o Lúcio, durante nossas caminhadas no Vale do Pati. O moço é uma enciclopédia da história da Chapada!
Placa informativa no Parque Municipal do Garimpo, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
A exploração de diamantes no Brasil teve seu primeiro boom na segunda metade do séc XVIII, principalmente na região de Diamantina, em Minas Gerais e também um pouco em Goiás. Preocupado com o excesso de diamantes no mercado e a consequente queda nos preços, o governo de Portugal simplesmente proibiu sua exploração em outras regiões, incluindo a Bahia. Essa proibição durava até o século seguinte, mesmo o Brasil já sendo um país independente.
Antigas casas de garimpeiros, no Parque Municipal do Garimpo, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
Pois bem, diamantes acabaram sendo encontrados na região da Chapada. Mas como a lei de proibição ainda vigorava, essa era uma descoberta "ilegal". Os felizardos descobridores conseguiram manter segredo durante algum tempo, mas acabaram brigando entre si (a velha cobiça...). Um deles tentou revender alguns de seus diamantes. A polícia o pegou e o acusou de ter roubado as pedras preciosas. Para não ir em cana, ele acabou revelando o segredo. A notícia se espalhou como rastro de pólvora e em questão de meses, milhares de pessoas chegavam à Chapada. Era uma vez a tranquilidade no local...
Cachoeira do Tiburtino, no Parque Municipal do Garimpo, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
Cidades apareceram e cresceram, entre elas Mucugê e Lençóis, que adquiriu uma importância tão grande que quase se tornou a nova capital do estado. Comerciantes do mundo inteiro vieram para cá e a França acabou instalando um consulado na cidade. Na verdade, era apenas para assegurar os interesses franceses nas pedras preciosas. Afinal, este era o tempo da construção dos metrôs de Londres e Paris, ambos construídos com perfuratrizes que usavam diamantes da nossa Chapada Diamantina!
Cemitério em estilo bizantino, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
A descoberta de diamantes na África do Sul acabou por tirar a importância do Brasil no mercado. Mesmo assim, uma nova onda de prosperidade veio com a construção do Canal do Panamá, que demandava não diamantes, mas uma pedra negra chamada Carbonato, muito mais comum por aqui que na África. Deste modo, a Chapada também contribuíu em muito com a divisão das Américas.
Antigas casas de garimpeiros, no Parque Municipal do Garimpo, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
Depois disso, lenta decadência através do séc XX. A população de Lençóis recuou de 30 mil para 7 mil habitantes. Algum tipo de riqueza só chegou novamente com a chegada das dragas ao garimpo, na década de 70. E depois, com a criação do parque em 84, com o turismo. Mas a ocupação ainda está muito longe do que já foi um dia. Assim, ao explorar esta região, é muito comum encontrar ruínas de casas e de estradas que já foram muito movimentadas algum dia e que hoje são apenas sombras, fantasmas de sua glória passada.
Nas cachoeiras de Mucugê, apesar de estarmos em pleno sábado, nadei sozinho. Mas em meus pensamentos, havia uma multidão de fantasmas por ali, ainda preocupados em se enriquecer e nem notando aquele estranho ser do futuro que os observava atentamente.
Cachoeira do Tiburtino, no Parque Municipal do Garimpo, em Mucugê, na Chapada Diamantina - BA
Caminhada entre as árvores gigantes do Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
No final da tarde de ontem, passamos rapidamente por uma floresta de redwoods ao norte da cidade de Crescent City. A luz já não estava boa, os últimos raios de sol a conseguir ultrapassar aquelas copas de árvores a 100 metros de altura. Foi o bastante para ficarmos absolutamente encantados com essas árvores que chegam a viver mais de 2 mil anos! Exatamente, Jesus ainda andava na Galileia e algumas dessas árvores já praticavam a fotossíntese aqui do outro lado do mundo! Mal podíamos esperar o dia raiar novamente para podermos voltar lá e seguir pelo parque, caminhar entre elas e, agora com uma luz decente, tirar as merecidas fotografias...
A Fiona fica minúscula perto das árvores gigantes do Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
De volta ao Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Pois bem, o dia raiou e nós, após passarmos pelas praias de Crescent City, aceleramos de volta para aquela estrada de terra que havia nos enfeitiçado no dia anterior. Felizmente, as árvores ainda estavam lá, hehehe! No mesmo lugar onde estiveram durante os últimos milhares de anos. Quanta coisa não devem ter visto e ouvido, essas sábias criaturas. Talvez por isso, permaneçam em silêncio. A tranquilidade da floresta de árvores gigantes só é quebrada pelos sons de admiração e exclamação dos viajantes que passam por baixo. “Ooohhhh!”, “Uuuaaauuuu!”, “My Gooood!”, é o que mais se ouve por ali. Hoje, por sinal, as redwoods tiveram que aprender um pouco de português: “Nooooooossa!”, “Puuuutz” e outras expressões não apropriadas para um blog de família!
Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Caminhando entre as gigantes do Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Mas não foi sempre assim. Há apenas cem anos, estas majestosas e divinas criaturas estiveram perto da extinção. E é claro que a culpa desse desastre seria nossa. As árvores estavam sendo derrubadas sem piedade pela indústria madeireira. Mas, justiça seja feita, a mesma humanidade que destrói, protege. No início do século passado foi criado uma “Save the Redwoods League”, um grupo de pessoas um pouco mais conscientes que lenhadores e capitalistas do lucro fácil, que percebeu que aquelas árvores maravilhosas deviam ser admiradas também pelas gerações vindouras. Bem ao estilo americano, a tal liga logo trouxe para a sua causa pessoas mais abastadas que passaram a comprar terras simplesmente para poder preservá-las. Essas propriedades foram o embrião dos parques estaduais e nacional que hoje protegem uma boa parte da faixa costeira ao norte de San Francisco. As redwoods estavam salvas e poderiam viver outros milhares de anos! O irônico é que, justo essa primeira área que vistamos, ontem e hoje pela manhã, um parque estadual, foi preservada pela esposa de um dos grandes barões da indústria madeireira daquela época. Acho que ela deu um novo (e ótimo) significado à expressão “em casa de ferreiro, espeto é de pau”. Ao caminhar pelas gigantes da sua antiga propriedade, só pude ser-lhe extremamente grato.
Prestando reverência às redwoods com 100 metros de altura no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Nesse parque estadual passamos algumas horas, dirigindo, caminhando, fotografando e, acima de tudo, nos entregando, de corpo e alma, à sensação glorificante de ali estar, respirando o mesmo ar daquelas gigantes, protegidos por sua sombra, tentando captar seu conhecimento. Algo que recomendo para todas as pessoas que tiverem a chance de fazê-lo.
O "pequeno" tronco de uma redwood, no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
As redwoods são primas das sequoias, outras árvores que já conhecemos quando chegamos aos Estados Unidos, sete meses atrás, nessa mesma Califórnia. O link do meu post sobre esse encontro está aqui e é super interessante comparar as fotos (para quem não pode compará-las ao vivo). As redwoods são mais altas, enquanto as sequoias são mais gordas. As duas sobrevivem por milênios, mas as sequoias vivem mais. Ambas são extremamente resistentes à insetos, pois sua casca exterior (“bark”, em inglês) é grossa e impalatável para eles. O mesmo bark funciona como um eficiente escudo contra incêndios, que costumam matar as outras árvores e deixar as gigantes vivas, agora com mais espaço para crescerem e se reproduzirem. Nas sequoias esse bark é vermelho, o que as torna bem visíveis perto das outras árvores, de tons mais marrons. As redwoods, apesar do nome, também são marrons. Mas a madeira, escondida pelo bark, é bem vermelha sim. Daí vem o nome da árvore que, pela qualidade e beleza de sua madeira, quase foi extinta.
Trilha no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Uma das maiores redwoods no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Desse parque estadual, seguimos para um dos centros de visitantes. Vã esperança! Obviamente que estava fechado, fora de estação que estamos. Ficamos ali, do lado de fora, a ler alguns dos painéis explicativos quando chegou um dos funcionários, para fazer um pequeno trabalho fora de época. Primeiro a Fiona (sempre ela!), depois a nossa viagem (sempre ela também!) trataram de atrair sua curiosidade. Depois, agora que tivemos a chance de conversar, foi o nosso interesse por árvores que o fez ficar ainda mais amável e simpático. Ele nos deu uma verdadeira aula sobre as redwoods e toda a família, folhas, sementes e troncos. Muito joia! Por fim, mostrou-nos várias das árvores plantadas ali. O meu sonho se realizou: uma redwood ao lado de uma sequoia! Pena que ainda são muito novinhas, mas o bisneto do meu tataraneto vai poder voltar aqui e compará-las já na fase “adolescente”!
As folhas de uma redwood, uma sequoia e uma "parente" chinesa, no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
As duas nascidas em 1981, a Ana e uma sequoia, no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Havia por lá, também, a terceira árvore da família. Um parente mais antigo que, pensava-se, estaria extinta já há vários milhares de anos. Que nada! Foi redescoberta nas regiões centrais da China, há poucas décadas. Hoje, a família está reunida aqui. Quem mais cresceu, até agora, foi a redwood, pois está “jogando em casa”, perto do mar e num país onde falam a sua língua. Muito interessante e curioso foi saber o ano que elas foram plantadas: 1981. Ou seja, têm a mesma idade da Ana! Obviamente que não resistimos a tirar uma foto conjunta da geração de 81. Que tenham uma vida longa e saldável!
Impressionada com o tamanho de uma das redwoods do Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Depois do intervalo cultural, estava na hora de voltar à prática. Seguimos para o sul, em busca de mais parques onde crescem protegidas as redwoods. Diferentemente das sequoias, elas crescem em grande número e, nas áreas de proteção, podemos ver centenas delas. São florestas inteiras de árvores gigantes, o que faz daquele ambiente ainda mais especial, mais mágico, Podemos ver alguns dos exemplares mais grossos que se tem conhecimento, mas não as mais altas. Isso porque os cientistas evitam revelar a sua localização exata. O medo é que um maluco, em busca de fama ou por pura loucura, tente derrubar a árvore. Por mais inacreditável que possa parecer, já aconteceu algo parecido, no Canadá. Uma árvore considerada sagrada pelos nativos foi botada abaixo por um louco, sem razão de ser. Quase foi linchado em seguida, mas o mal já havia sido feito...
As medidas de uma das redwoods do Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Outra razão é que esse título fica mudando de mãos, ou de galhos, constantemente. Assim, fazer uma estrada ou trilha até lá para, logo depois, a tal árvore perder o título, não faz muito sentido. Assim, deixem elas lá, sossegadas. Afinal, aqui de baixo, todas elas parecem igualmente gigantescas e poucos metros não fazem diferença alguma.
Uma pequena caverna dentro de uma redwood que sobreviveu a um incêndio, no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
Enfim, foi um dia incrível entre essas gigantes. Mais um capítulo do nosso turismo “vegetal”. Acho que só esse aspecto dos 1000dias já valeria um livro. Das gigantes tropicais aos titãs subtropicais, da Amazônia às florestas do Canadá, da mata Atlântica às lindas Araucárias, das flores silvestres às folhas de Outono, dos cogumelos psicodélicos aos emaranhados de algas, dos cactos do deserto à tundra polar, temos ficado absolutamente fascinados com o que temos visto nesses 1000dias pela Ao qual todos dependemos, silencioso que é, não poderia ser mais eloquente.
Trilha no Redwood National Park, no norte da Califórnia, nos Estados Unidos
As corredeiras do Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
Depois de dias puxados de estrada e aproveitando o domingão de páscoa chuvoso e cidade ainda cheia, resolvemos tirar um dia de folga. Logo cedo, mudamos de pousada, tomamos um belo café da manhã e ficamos bem folgados no nosso quarto, ouvindo o barulho da chuva, dormindo, vendo TV, namorando e lendo sobre as belezas da região. O dia passou bem devagar, para a nossa alegria.
Passeando em Presidente Figueiredo - AM
Por fim, já no meio da tarde, o sol apareceu e a consciência começou a pesar um pouco, de ficar no quarto. Sem falar da fome. Fomos de carro na mais famosa atração da cidade, o parque muncipal onde estão as corredeiras do rio Urubuí.
Crianças se divertem nas corredeiras do Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
Confesso que eu não estava botando muita fé nesta atração. Imaginei um balneário cheio de gente e umas piscinas naturais pouco atrativas. Pois é, quebrei a cara! As corredeiras são muito legais e eu fiquei impressionado que algumas pessoas se jogam nelas e passam nadando, sem colete ou sem bóia. Se eu não tivesse visto, jamais imaginaria que fosse possível.
Rapaz nos mostra como enfrentar as corredeiras do Urubuí sem bóias ou coletes! (em Presidente Figueiredo - AM)
Rapaz nos mostra como enfrentar as corredeiras do Urubuí sem bóias ou coletes! (em Presidente Figueiredo - AM)
Bom, depois de ver gente fazendo, é claro que fiquei atiçado e vou ter de fazer também. Mas hoje, fomos despreparados, sem roupa de banho. mas antes de ir embora, voltaremos e vamos fazer um vídeo bem legal, além de fotos. Mas, neste caso, com certeza, o vídeo dá uma idéia melhor de como são as corredeiras.
Rapaz nos mostra como enfrentar as corredeiras do Urubuí sem bóias ou coletes! (em Presidente Figueiredo - AM)
No local há várias churrascarias e lá fomos nós atrás da nossa almojanta. Todas elas estavam com a TV ligada mostrando o jogo do Fla-Flu. Incrível a força do futebol carioca aqui no norte do país. O Flamengo ganho, conseguindo ir para a final do 2o turno carioca. Ou seja, era só uma semifinal de 2o turno de campeonato regional. Não obstante, para os torcedores daqui, era como se fose a final da Copa do Mundo. Verdadeira explosão de felicidade com a vitória do Flamengo. Até eu, cruzeirense orgulhoso do meu time, acabei me contagiando com a alegria geral. Foi bom para embalar nossa picanha!
Explosão de alegria com a vitória do Flamengo! (em Presidente Figueiredo - AM)
E assim, descansados, estamos prontos para a maratona dos próximos dias por aqui. Cachoeiras, trilhas, grutas, lagos e rios, aí vamos nós!
Visitando o parque das corredeiras do Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
O GPS mostra nossa localização na América: Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Depois da rápida visita ao Red Rock Canyon Sate Park, continuamos seguindo por belíssimas paisagens desérticas no caminho até o Death Valley. Sempre aquelas planícies infinitas com cadeias montanhosas ao fundo, enormes espaços vazios e uma sensação de amplitude que preenche o espaço e a mente. Inspirador!
A paisagem desértica antes de chegar ao Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Finalmente chegamos à entrada oeste do parque, num mirante maravilhoso de onde se pode descortinar boa parte da região. O Death Valley é o maior parque nacional dos Estados Unidos, se não contarmos os parques do Alaska. As distâncias são enormes e um carro é essencial para conhecer as principais atrações que ficam nos extremos do parque. Não só um carro, mas também um bom ar condicionado! Afinal, aqui foram medidas as maiores temperaturas da história dos Estados Unidos e de todo o hemisfério ocidental. Nada menos do que 56,7 graus!
Chegando ao Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
O recorde é de 1913, mas duas vezes nos últimos dez anos quase que ele foi alcançado novamente. Ou seja, o lugar é quente mesmo! Uma das razões para isso tem a ver com um outro recorde. Está aqui o ponto mais baixo das Américas, o leito de um antigo lago que está a – 86 metros de altitude, ou seja, quase 100 metros ABAIXO do nível do mar. Esse vale profundo está cercado por duas altas cordilheiras de montanhas que não deixam a umidade e os ventos frescos do mar entrarem. Numa dessas cordilheiras, a pouco mais de 130 km do ponto mais baixo do continente, está a maior montanha do país (excetuando o Alaska), o Mount Whitney, com 4.421 metros. Enfim, o calor fica preso dentro do vale, sendo alimentado por um sol escaldante num céu sem nuvens. Sem ar fresco entrando, a temperatura sobe sem parar, especialmente no mês de julho, auge do verão.
Estrada através do Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Esse calor todo resulta num clima desértico, com fauna e flora típicas, que conseguem aguentar altas temperaturas. Mas mesmo elas sofrem nos meses de verão. Quem sofreu bastante também foram os imigrantes americanos, que vinham para a California em busca de ouro e tinham de passar por aqui. Alguns chegaram a morrer na travessia e o vale logo ganhou o nome que ainda tem até hoje: o Vale da Morte.
Solo desértico do Death Valley National Park, na Califórinia - EUA. É o lugar mais seco do país.
A gente chegou hoje de tarde e, por enquanto, apenas começamos a conhecer a região. Mas, pelo menos até agora, num ainda fresco mês de Abril, não temos reclamações. A região é absolutamente deslumbrante, linda mesmo! Tudo bem que o conforto da Fiona e a cerveja gelada do bar ajudam mas, mesmo assim, achamos que o nome não faz jus ao local!
Acampamento de traillers no Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Depois das fotos no mirante, descemos até a altura do nível do mar, onde encontramos os primeiros sinais da civilização, um lugar chamado Panamint Springs. Pausa para fotos, bebidas e informações. Entre elas, descobrimos que os hotéis estavam todos ocupados há semanas e nossa única chance de dormir no parque seria acampando. Essa é a alta temporada por aqui pois, logo após o inverno, as flores aparecem no parque, atraindo milhares de turistas. A quantidade de flores depende da quantidade de neve nas montanhas ao lado do parque. Há poucos anos houve uma florada recorde, mas esse ano não foi bom. Mesmo assim, habitações lotadas!
Caminhada noturna no campo de dunas "Mesquite Dunes", no Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Nós seguimos adiante, até Stovepipe Wells, já quase no meio do parque e com várias atrações próximas. O local já foi uma pequena cidade, na época em que houve mineração de borax no parque, mas hoje só tem um pequeno e simpático hotel, uma loja bem sortida e um enorme campground. Foi onde decidimos passar nossa primeira noite no Death Valley, ao lado das dezenas de traillers bem equipados, enquanto nós dormiríamos na nossa Fiona mesmo. Por 12 dólares, é uma boa economia em relação aos 60 dólares médios que temos pago pelos motéis. Para a comparação ser mais justa, temos de somar os 5 dólares por cabeça que eu e a Ana pagamos para tomar um delicioso banho nos chuveiros do hotel.
Admirando as luzes do pôr-do-sol sobre as dunas de "Mesquite Dunes", no Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Bom, depois de termos certeza que tínhamos onde dormir, ainda seguimos de Fiona para uma atração vizinha, um enorme campo de dunas chamado “Mesquite Flat Sand Dunes”. Enquanto entrávamos caminhando por elas, já no final do pôr-do-sol, saíam os últimos turistas do dia. Mais uma vez, tínhamos uma enorme vastidão apenas para nós, cercados pelas areias de dunas que lembram o Saara e com enormes montanhas ao fundo. Nossa altitude naquela hora: menos cinco metros!
Belíssimo luar sobre as dunas de "Mesquite Dunes", no Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Neste local foram feitas as cenas de deserto nos últimos filmes de Guerra nas Estrelas. O sol tinha se posto, mas logo foi substituído por uma magnífica lua cheia. Assim, sob a luz do luar, eu e a Ana caminhamos pelas dunas. Era difícil aceitar que estávamos em pleno Estados Unidos e não na África ou nos Lençóis Maranhenses. A diversidade de paisagens nesse país (e olha que só andamos pela California!) realmente impressiona. Das sequoias para as dunas, parece que mudamos de planeta, e não apenas de parques nacionais...
Com Júpiter e Vênus sobre uma das dunas de "Mesquite Dunes", no Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Bom, vamos ver como vai ser a noite no carro (ficou meio tarde para armarmos nossa tenda). Amanhã, e provavelmente o dia seguinte, teremos bastante tempo para andar por esse vale. Canyons, montanhas, mirantes, um vulcão e muito deserto nos esperam...
Admirando o belíssimo luar sobre as dunas de "Mesquite Dunes", no Death Valley National Park, na Califórinia - EUA
Caminhando no centro de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Dois anos depois de Colombo chegar à América, em 1494, foi assinado o famoso Tratado de Tordesilhas, que dividia todas as “novas terras” do mundo entre Portugal e Espanha. Naquela época, os dois países ibéricos eram os mais consolidados na etapa de formação dos estados modernos, enquanto Inglaterra e França ainda enfrentavam diversos conflitos internos. É claro que esses outros países jamais reconheceram o tratado e perguntavam, ironicamente, onde estava o testamento de Adão com as cláusulas que permitissem à Espanha e Portugal dividirem o mundo entre si.
Igrejas quase vizinhas, no centro de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Catedral de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Enfim, pelo menos naquela época, quando os dois países dominavam os mares e descobrimentos, o mundo foi mesmo dividido. O meridiano imaginário do Tratado, negociado quase sem nenhum conhecimento dos limites da América, passava sobre o Brasil, deixando a parte leste do futuro país no território de Portugal, enquanto a maior parte do território ficava em áreas espanholas. No início do século XVI o Tratado ainda era respeitado e Portugal iniciou a exploração do quinhão que lhe cabia. O Mato Grosso estava longe dessa área, encravado no coração das possessões espanholas.
O belo interior da catedral de Cuiabá, capital do Mato Grosso
O belo interior da catedral de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Nesse início de colonização da América, os espanhóis estavam mais preocupados com o saque dos metais preciosos das antigas civilizações do Novo Mundo. Assim, concentraram seus esforços de ocupação em áreas que hoje correspondem ao Peru e ao México. O Mato Grosso ficou relegado às traças, para sorte dos indígenas que lá viviam. Um pouco mais tarde, preocupado em consolidar seus novos domínios, os espanhóis se utilizaram dos jesuítas para ocuparem esses territórios mais isolados. Essa importante ordem religiosa estabelecia missões nesses territórios indígenas isolados, catequisando os índios, expandindo os limites da civilização europeia-cristã e arrebatando novos súditos para o Papa e para o Rei de Espanha.
Caminhando no centro de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Arte nas ruas de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Esses índios “amansados” e cristianizados se tornavam alvos ainda mais fáceis para os portugueses que colonizavam o Brasil e necessitavam urgentemente de mão-de-obra escrava. O problema é que boa parte deles se encontrava em missões do outro lado do Tratado de Tordesilhas e ir buscá-los significava romper o tratado. Esse “dilema” foi resolvido em 1580, quando os reinos de Portugal e Espanha se uniram em uma única monarquia na Europa. Por 60 anos, formaram uma única nação e a linha de Tordesilhas perdeu o sentido. Colonizadores de origem portuguesa trataram de expandir os limites de seu território, sempre em busca de metais preciosos e de escravos para seus engenhos, fazendas ou minas. Quando houve, enfim, uma nova separação das duas nações europeias, em 1640, Tordesilhas já era letra morta embora, em teoria, ainda estivesse valendo.
Versão brasileira do faroeste, em Cuiabá, capital do Mato Grosso
Não para os bandeirantes paulistas, que atravessavam o Brasil em busca de escravos. Que o digam os índios guaranis, reunidos em missões espalhadas pelo sul do país. Que o digam também os indígenas do atual Centro-Oeste, entre eles os de Mato Grosso. Foi aí que, em 1719, uma importante bandeira paulista foi derrotada pelos índios. Mas eles não perderam a viagem, não! Ali pertinho, ao se reunirem para regressarem à São Paulo, descobriram ouro! No local, fonte de intensa migração e corrida do ouro nos anos seguintes, fundaram a cidade de Cuiabá. Estava aberta a ocupação do Mato Grosso! Tantos portugueses vieram ao novo território, da msma maneira que estavam ocupando o sul, regiões teoricamente espanholas, que a Espanha acabou por reconhecer a soberania portuguesa sobre essas novas fronteiras, no Tratado de Madrid, de 1750. Não é a toa que ainda há um monumento em honra a esse tratado na cidade de Cáceres, no Mato Grosso. Foi a oficialização de que a área seria mesmo brasileira.
Fim de tarde em Cuiabá, capital do Mato Grosso
Bom, a febre do ouro passou, o ratado de Madrid foi assinado e a vida voltou a ser pacata em Cuiabá. O próximo grande acontecimento viria mais de um século mais tarde, na sangrenta Guerra do Paraguai. Cuiabá não chegou a ser invadida, mas partes do Mato Grosso sim, o único território brasileiro a ser conquistado e ocupado por tanto tempo. Cuiabá se tornou um centro para reorganização das tropas e reconquista do território perdido. A reconquista foi feita, assim como a conquista de todo o Paraguai, mas a cidade pagou um alto preço por isso. Soldados que voltavam do país vizinho trouxeram consigo a varíola e uma epidemia se instalou em Cuiabá, matando metade de seus habitantes. Outra consequência da guerra foi a criação de Varzea Grande, inicialmente um acampamento militar do outro lado do rio Cuiabá. O acampamento acabou virando um distrito de Cuiabá e, algum tempo depois, uma cidade independente. Hoje, as duas cidades vizinhas formam uma “conurbação”, a primeira e a segunda cidades mais populosas do estado, formando um único grande centro urbano, com quase um milhão de habitantes.
Cuiabá, no Mato Grosso, uma das sedes da Copa do Mundo, conta os dias para o início do torneio
Foi essa Cuiabá que viemos conhecer, poucos meses antes que ocorram por aqui os jogos da Copa do Mundo. pois é, Cuiabá foi escolhida como uma das sedes do torneio e está passando por uma reforma completa em suas principais avenidas e vias de acesso. Ninguém avisou isso ao nosso GPS que insistia em nos enviar por ruas e avenidas fechadas para obras. A gente tinha de administrar as seguidas placas de desvio com as insistentes reclamações do nosso guia eletrônico (“Recalculando...”). Enfim, com muito trabalho, tentativas e erros, voltas e desvios, acabamos chegando ao centro da cidade, onde nos instalamos em um hotel, depois de deixarmos o Gabriel e a Luisa na rodoviária da cidade, para seguirem seu próprio caminho.
Caminhando por Cuiabá, capital do Mato Grosso
Prédio do Museu Histórico em Cuiabá, capital do Mato Grosso
Agora, devidamente instalados e a Fiona estacionada, podíamos sair a pé, sem ter de nos preocupar com ruas bloqueadas. Passeamos muito pelas ruas do centro, suas belas igrejas e prédios históricos. Infelizmente, o Museu de História da cidade estava fechado e não pudemos entrar no charmoso prédio. Outra decepção foi saber que o melhor restaurante de comida árabe do Brasil também fechou, já a um par de anos, depois da morte do fundador. Os filhos não souberam levar o negócio e nós só pudemos ficar com água na boca, depois de ter lido tantos relatos maravilhosos sobre a qualidade da comida ali servida.
Restaurante choppão, um dos mais tradicionais de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Assim, depois de muito caminharmos, resolvemos matar a fome em outro ponto tradicional da cidade, o restaurante Choppão. Com o calor que faz costumeiramente por aqui, um bom chopp gelado haveria de fazer sucesso! Ainda mais acompanhado de farta comida. Brindamos à cidade, às incríveis belezas do estado que conhecemos nesses últimos dias e também ao que nos espera pela frente. Amanhã, viajamos para o mato grosso do Sul, o único estado que ainda não estivemos nesses 1000dias. Vai ser uma importante etapa a ser completada, um sonho que, aos poucos, vira realidade, um frio na barriga de que estamos mais pertos do fim. Mas, bola prá frente, tem muita coisa ainda no caminho e, para que se preocupar se o chopp daqui é tão gelado?
Restaurante choppão, um dos mais tradicionais de Cuiabá, capital do Mato Grosso
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
A história moderna do Haiti começou em 1492, com a chegada de Cristóvão Colombo. Antes de retornar à Europa, ele fundou na costa norte do futuro país a vila La Navidad, a primeira tentativa de povoamento europeu no Novo Mundo. Apesar do nome tão pacífico, seus habitantes não o eram, matando e escravizando os indígenas e violentando suas mulheres. Os mesmos indígenas que haviam recebido tão amistosamente os exploradores europeus. Um dos principais líderes dos Tainos, os índios que habitavam a ilha, era uma jovem, formosa e inteligente mulher, chamada Anacaona. Uma “cacica”, cuja admiração inicial pelos espanhóis logo deu lugar ao ódio, ao perceber como seu povo era tratado pelos invasores. Anacaona organizou um exército que exterminou os espanhóis de La Navidad, pensando ter-se livrado da ameaça. Doce ilusão! Eles não pararam mais de chegar e a resistência indígena foi se enfraquecendo frente à superioridade militar dos europeus. Por fim, o governador da ilha, após pedir um encontro pacífico com os líderes indígenas, os matou quase a todos em uma emboscada. Anacaona escapou, mas acabou capturada após três meses de buscas. Seus companheiros foram todos condenados à morte, mas ela teve a escolha de sobreviver, se aceitasse tornar-se uma concubina de um dignitário espanhol. Preferiu a honra e seus companheiros e foi enforcada em praça pública.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Duas gerações mais tarde, os Tainos estavam extintos e eram substituídos por negros africanos. Por algum tempo, os dois povos coexistiram, o suficiente para que os africanos herdassem dos Tainos parte de sua cultura e linguagem. Aparentemente, herdaram também o sofrimento que os índios passaram, pois nos próximos séculos, seriam eles as maiores vítimas da história da ilha. Já os espanhóis, mais interessados em Cuba e no México, abandonaram a parte ocidental da ilha de Hispaniola, o futuro Haiti, e ela foi prontamente ocupada por colonizadores franceses. As fazendas começaram produzindo, cacau, tabaco e algodão, mas foi a chegada do açúcar e café que trouxe riqueza à colônia, rapidamente transformando-a na mais rica de todo o Caribe. Pouco antes da Revolução Francesa, 40% do açúcar e 60% do café consumidos na Europa eram produzidos no Haiti. A produção dessa única colônia superava a soma da produção de todas as colônias inglesas nas Antilhas.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
É claro que toda essa riqueza, produzida por mão de obra escrava, era dividida apenas entre os colonizadores brancos e a nascente classe de mestiços, ou “gens de couleur”, em francês. Eram cerca de 700 mil escravos contra 30 mil pessoas livres, entre brancos e mestiços (filhos de senhores de escravos com suas concubinas negras). As condições de vida dos escravos do Haiti estavam entre as mais duras do Caribe e seu alto número só podia ser mantido por um enorme fluxo de novos escravos vindos da África. Nessa época, o Haiti era o destino de cerca de um terço dos escravos saídos da África. Na ilha, a vida era dura e curta, mal dando tempo para uma “produção local”. A consequência disso é que a população negra da ilha ainda tinha fortes raízes africanas, pois quase todos tinham nascido naquele continente. Por isso, a religião conhecida como “vudu”, uma espécie de mistura de ritos católicos com crenças africanas, se manteve forte na ilha.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Para controlar uma população vinte vezes mais numerosa, os senhores de escravos eram extremamente violentos, e castigos como a morte no caldeirão de água fervente ou jogar um negro ferido e amarrado sobre insetos famintos eram uma prática comum. A Revolução Francesa e os ideais de igualdade vieram romper o frágil e tenso equilíbrio que existia nessa sociedade e uma revolta sangrenta se seguiu. Por fim, Robespierre aboliu a escravidão em suas colônias e os negros haitianos até mesmo auxiliaram o exército francês contra invasões espanholas e inglesas. Mas veio Napoleão e tudo mudou. O novo monarca tentou reinstituir a escravidão, mas ninguém voltaria a ser escravo sem uma boa luta.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Na verdade, a luta foi umas das mais sangrentas e bárbaras em toda a história do continente, atrocidades cometidas de lado à lado. Por fim, com a ajuda de surtos de malária e febre amarela que dizimaram o exército de Napoleão, os franceses foram expulsos e o Haiti tornou-se a segunda nação livre do continente, depois dos Estados Unidos, em 1804. Mas, triste ironia, os Estados Unidos não reconheceram a nova nação, já que um país governado por negros livres era uma ameaça aos escravagistas que ainda imperavam nos estados do sul dos EUA. Foi apenas durante a Guerra Civil Americana, sessenta anos mais tarde, que os Estados Unidos reconheceram o governo do Haiti. Infelizmente, o problema não foi apenas com os Estados Unidos, mas também com os países europeus, também preocupados com o simbolismo da nova nação. França e Inglaterra se uniram para bloquear qualquer tipo de comércio com o Haiti, até que esse aceitasse pagar indenizações à antiga metrópole, para compensar sua perda de “patrimônio”, em terras e escravos.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Vinte anos após sua independência, asfixiado economicamente, o Haiti cedeu negociou o pagamento de uma indenização. Para poder pagar, contraiu enormes empréstimos, comprometendo por décadas seu desenvolvimento econômico. Aqui, é triste lembrar, mas até mesmo as novas nações que foram surgindo nas Américas boicotaram o Haiti. Suas elites governantes também temiam o país governado por negros. Por isso, o segundo mais antigo país livre do continente permaneceu, por quase um século, isolado de seus próprios vizinhos.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Bom, nem toda a culpa de seus problemas vinham do exterior. Por quase um século, o país foi governado por ditadores sangrentos, corruptos e ineficientes, numa sucessão interminável de golpes de estado. Quando finalmente houve um período de estabilidade política e econômica, no final do século XIX, o Haiti até se tornou um exemplo de desenvolvimento econômico para países da América Latina. Também a área cultural, literatura e pintura, atraiam a atenção de seus pares pelo mundo afora. Infelizmente, esse período foi a exceção. O início do século XX trouxe nova sequência de golpes, instabilidade política e econômica e até mesmo uma ocupação americana, entre 1915 e 1934. Entre erros e acertos, os americanos criaram o sistema de estradas do país e uma polícia nacional. Quando finalmente deixaram o Haiti, a alegria não durou muito: novos golpes e ditaduras se seguiram. Até que, em 1956, chegou ao poder François Duvalier.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Mais conhecido como “Papa Doc”, o até então pacato médico se transformou em um dos mais sanguinários e terríveis ditadores que esse continente já conheceu (e olha que não foram poucos...). Ele governou com mão-de-ferro por 15 anos, contando com a ajuda da polícia secreta, uma verdadeira milícia armada de bandidos conhecida como Tonton Macoutes, o nome dado ao “bicho-papão” na religião vudu. Agindo com total impunidade, matavam adversários políticos e oposicionistas, praticavam extorsão contra empresários, torturavam e violentavam.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Com um “apoio” desse, Papa Doc não foi desafiado até a sua morte, em 71. O poder foi herdado pelo seu filho de apenas 19 anos, Baby Doc, uma versão mais branda de seu pai. Ele manteve o poder também por 15 anos quando, em uma grave crise econômica e sob grande pressão internacional, deixou o país. Ele se foi, mais milionário do que nunca. Mas o país estava em frangalhos. O Haiti tinha chegado ao fundo do poço? Não, nada está tão ruim que não possa ser piorado... Nova sequência de juntas militares, governos corruptos e instabilidade política levaram o país ao caos econômico e social, com as forças policiais não conseguindo mais manter a ordem nas ruas. Foi pedida a intervenção da ONU.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Os primeiros contingentes das Nações Unidas chegaram há dez anos, capitaneados por forças brasileiras. Inicialmente, eram forças de manutenção da ordem, mas depois as funções se ampliaram para obras de infraestrutura e saúde. Houve enfrentamentos armados, principalmente na “pacificação” de Cite Soleil, a maior e mais perigosa favela de Port-au-Prince, tarefa dos soldados brasileiros (estavam “treinando” para o Complexo do Alemão...). A ordem começou a voltar ao país e a esperança reapareceu. Mas ainda não era a hora. Pelo menos, não para a mãe-natureza. Em 2010, o mais mortífero terremoto dos últimos séculos atingiu em cheio a capital, matando mais de 200 mil pessoas e jogando o país em uma crise humanitária sem precedentes. Com ajuda das forças da ONU estacionadas no país e de doações internacionais o país, mais uma vez, começou a se levantar. Será que agora vai?
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Em meados de 2011 assumiu o último presidente eleito, um popular músico conhecido como “Sweet Micky”. Dois anos depois de sua posse, pelo que pudemos notar, o governo é bem popular. Aparentemente, Micky está jogando todas as suas forças na educação e nós somos testemunhas da enorme quantidade de crianças nas ruas indo e voltando uniformizadas de suas escolas. É uma visão alentadora! Nessa viagem, acho que nunca tínhamos visto tantas crianças indo estudar. Além disso, pelo menos nas conversas que tivemos por aqui, conhecemos vários haitianos que estão regressando do exterior para ajudar a reconstruir a economia do país. Foi gente que saiu na época dos anos de chumbo de Duvalier e que venceram na vida em outros países. Agora, sentem que é a hora de voltar. Há um sentimento no ar que as coisas vão melhorar.
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
Será que vão mesmo? Olhando a história do país, é difícil acreditar. Mas, pensando bem, a história não precisa se repetir! A efervescência cultural que vemos nas ruas, a quantidade de arte produzida e vendida nas esquinas, as crianças indo para as escolas, os haitianos que voltam da diáspora trazendo na bagagem a experiência de ter vivido e vencido em outros países e culturas, a presença de um sem-número de ONGs que estão aqui para ajudar e cooperar, tudo isso pode se somar para criar um círculo virtuoso de crescimento em uma terra tão cheia de oportunidades e com um “material humano” tão rico. Pode ser inocência ou empolgação nossa, na linha de frente de um turismo que começa a renascer no país, mas achamos, sinceramente, que agora vai. Viva o Haiti!
Dirigindo pelas ruas de Cap-Haitien, a segunda maior cidade do Haiti
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