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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
A bela cor avermelhada dos arrayanes, árvore muito comum no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
O próprio nome não deixa dúvidas: Parque Nacional Los Alerces. “Alerce” é o nome de uma espécie de pinheiro e um parque com esse nome só pode indicar a presença desse tipo de árvore por lá! E o que é que ela tem de tão especial? Certamente o fato de serem as árvores mais velhas da América do Sul, além de sua tendência a um certo “gigantismo”. Um alerce milenar pode ultrapassar os 60 metros de altura e quatro metros de diâmetro. Algumas delas tem mais de 3 mil anos de idade e não é toa que muitas vezes são comparadas às sequoias norte-americanas. O problema é que, assim como suas “primas” do norte, foram exploradas em demasia ao longo do século passado por ter uma lenha de alta qualidade e quase foram extintas. Então, nada mais lógico do que transformar essa grande área entre El Bolsón e Trevelin, aonde se encontra o maior bosque remanescente de alerces, em uma grande reserva, um parque nacional para proteger esse verdadeiro tesouro biológico e natural.
Placa nos ensina sobre os Alerces, uma das árvores mais longevas do mundo (Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina)
Além dos alerces, muitas outras espécies vegetais são protegidas na área do parque como arrayanes, a chusquea (um tipo de bambu bem denso), ciprestes, maites, lauras e diversas espécies com flores, muitas delas espécies invasoras trazidas por imigrantes europeus e que hoje são um perigo às espécies nativas, apesar de sua beleza. Mas são mesmo os alerces a grande estrela do parque. Esta é uma região em que os Andes são relativamente baixos e não conseguem impedir a passagem dos ventos úmidos vindos do Oceano Pacífico. Com isso a chuva chega aos 4 mil milímetros anuais, um dos maiores índices da patagônia argentina, possibilitando o crescimento do chamado “bosque valdiviano”, muito mais rico que seus congêneres ao longo da cordilheira. São essas condições especiais que permitiram o desenvolvimento desses gigantes milenares.
Estrada no interior do Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Uma das árvores gigantes do Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Nós entramos no parque ávidos para ver essas árvores e ao dirigir em meio às florestas de pinheiros, já as imaginávamos estar vendo, principalmente quando notávamos exemplares maiores. Mas eram apenas grandes ciprestes. Os alerces se “escondem” em locais mais inacessíveis do parque. Quem sabe os encontraríamos na nossa primeira caminhada ao longo do lago Rivadavia? A esperança logo se arrefeceu quando demos de cara com a porteira fechada. O acesso ao lago estava fechado devido a um surto de ratos! Pois é, surto de ratos no meio de um parque natural no coração da patagônia? Nesse caso, a culpa não era nem de nós, humanos, e nem dos alerces! Na verdade, é culpa de outro vegetal, o tal bambu chusquea.
Caminhando no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Caña Colihue, uma espécie de bambu que flosece a cada 20 ou 30 anos, muito comum nessa área da patagônia onde está Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na Argentina
Nós já o tínhamos visto na trilha para o refúgio San Martín, em Bariloche, onde haviam nos ensinado sobre seu longo ciclo biológico. Ele cresce vigorosamente depois de incêndios, mas só floresce a cada 20 ou 30 anos, morrendo em seguida. É quando servem de alimento aos ratos, que multiplicam-se como coelhos nesses eventos raros. Era o que estava acontecendo no lago Rivadavia e o que vai acontecer, algum dia, no caminho para o San Martín. Mais adiante, quando caminhávamos na trilha entre o lago Verde e o lago Menéndes, vimos vários exemplares desse bambu. Acho que a solução seria importar uns ursos pandas para cá, notórios apreciadores de brotos de bambu, para concorrerem com os ratos, hehehe. No quesito simpatia, vencem de longe os roedores! É claro que só estou brincando! Chega de espécies invasoras e desequilíbrios ecológicos, muitas vezes causados por gente até bem intencionada!
Em plena primavera, muitas flores no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Em plena primavera, muitas flores no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Em plena primavera, muitas flores no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Pois é, para nós que caminhamos nas trilhas desse parque (e em outros lugares da Patagônia também!), confesso que é bem bonito ver flores espalhadas pelos cantos. Não sei identificar quais são naturais daqui, quais são alienígenas. Sei que são todas lindas e embelezam nosso caminho e nossa vida. Mas sei também que elas causam um estrago danado na flora local, concorrência desleal por espaço e suprimentos finitos. Enfim, sinceramente, procuramos não pensar nisso e apenas admirar o verdadeiro jardim em que se transforma a paisagem nessa época do ano, plena primavera.
A bela cor avermelhada dos arrayanes, árvore muito comum no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
A bela cor avermelhada dos arrayanes, árvore muito comum no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Outra espécie muito bela, e essa totalmente natural daqui, são os arrayanes. Nós os notamos de longe, seus galhos e troncos avermelhados chamando a atenção entre o resto da vegetação. A trilha que percorremos era interpretativa, cheia de painéis explicativos. Para cada tipo de árvore, informações sobre sua biologia e utilidades. Os arrayanes, por exemplo, são antissépticos, adstringentes e antidiarreicos. Além disso, ajudam a combater herpes e úlceras. Essas qualidades, e muitas outras das demais espécies, foram descobertas por gerações e gerações de indígenas que viveram por aqui. Faziam remédios e venenos, tintas e alimentos com essa gigantesca farmácia natural. Conhecimento milenar, passado e desenvolvido ao longo de incontáveis gerações e que, infelizmente, se perdeu em boa parte quando foram abruptamente extintos no final do séc. XIX. Um processo semelhante com o que ocorreu e ocorre em tantas áreas do Brasil, da amazônia à caatinga, passando pelo cerrado.
Um carpintero Negro Patagonico, uma das muitas espécies de aves encontradas no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Um carpintero Negro Patagonico, uma das muitas espécies de aves encontradas no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Mas nem só de flora vive este parque. Pelo contrário, a fauna também é um dos pontos altos no P.N Los Alerces. Além dos ratos que comem brotos de bambu e das trutas e salmões que fazem a festa dos amantes de fly fishing (veja post anterior), também há pássaros o bastante para satisfazer os “birders”. Desde os pássaros grandes e de rapina, como condores, corujas e caburés até os pequenos, como chucaos, cotorras (uma espécie de papagaio) e pombas araucanas. Nós vimos muitos pica-paus, ou carpinteiros, como são chamados por aqui.
Ave de rapina nos sobrevoa no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Um pequeno pássaro descansa na sombra de um pier no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Entre os mamíferos, nós queríamos muito ver um puma, também presente por aqui. Infelizmente (ou felizmente?), só vimos as placas pedindo cuidado e com explicações sobre como proceder caso encontrássemos algum. Procuramos esse felino por toda a América, dos Estados Unidos ao Brasil, passando por Costa Rica, México e Colòmbia. O mais perto que chegamos foram pegadas frescas no Vale do Ribeira e um quase-encontro em um parque na América Central. Por aqui, ainda não foi dessa vez. Ainda bem que tivemos aqueles nossos encontros no Pantanal (veja o post aqui), mas aí eram onças pintadas, e não a parda. Não encontramos o puma, mas não ficamos sem um felino. Ao final da caminhada, eis que apareceu um gato, doméstico mesmo. Pelo menos, não causava perigo. Não sei o que fazia ali, no meio do nada. Talvez fosse de algum guarda-parque e só estivesse interessado nos peixes do rio ou em visitantes que lhe fizessem algum cafuné. Além do gato, outro animal não selvagem que vimos por ali foram vacas. Não poderiam ter escolhido lugar mais idílico para pastar no fnal tarde, um belo gramado ao lado de um rio transparente.
Aviso para presença de pumas em trilha no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Um gato, o único "puma" que encontramos no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
O que vimos também, e esse sim era selvagem, foi uma nutria patagônica (parente da nossa lontra). De início, imaginamos ser um castor. Esses animais são nativos da América do Norte, mas foram introduzidos no sul da patagônia, causando mais um desses inúmeros desastres ecológicos. Sem predadores naturais, espalhou-se como praga alterando o sempre delicado equilíbrio ecológico. Por fim, os pumas aprenderam que a carne deles era boa. Além disso, há campanhas governamentais para sua erradicação. Enfim, eles estão mais ao sul do continente e ainda não chegaram por aqui. O que vimos era sim uma inocente nutria.
Uma nutria patagônica (lontra) no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Remanso de rio no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Quem estava conosco na hora desse encontro foi o nossa migo americano, o Jeffrey. Guia de natureza no Oregon, ele é bem ligado nesses assuntos e foi ele que pensou estar vendo um castor. Ele disse que odeia esse animal aqui na América do Sul, mas o adora na América do norte. Lá, apesar de ter sido quase extinta nos finais do séc. XIX, quando se tornou foco de um ciclo econômico que movimentava milhões (em dinheiro e pessoas!) por sua pele, a espécie vive melhores dias e está perfeitamente inserida em seu ecossistema natural. Aqui, como coelhos e sapos na Austrália e lion fishes no Caribe, é um pesadelo ecológico.
De cima da ponte, gato observa os peixes que passam no rio transparente logo abaixo, no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Vacas pastam tranquilamente ao lado de rio no Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
Bom, tanta flora e tanta fauna e nada de alerces. Bem, foi com tristeza que descobrimos que o bosque famoso de alerces só é acessível por barco, do outro lado do lago Menéndes. Um passeio pago e longo que só parte pelas manhãs. Ficamos sem chance de ir lá conferir essa maravilha. É ali que estão as árvores de quase 70 metros e 3 mil anos de idade. Mas não foi tão mal assim. Ainda pudemos ter um gostinho e caminhar até o único alerce do lado de cá do lago, o chamado “lahuan solitário”. Lahuan é um outro nome para alerce, vem da língua mapuche e quer dizer “avô”. Sim, os índios sabiam que essa respeitável árvore vivia por séculos e milênios. O tal bosque lá do outro lado é território sagrado para eles. O lahuan que conhecemos por aqui ainda é uma criança, pelo menos nos termos da espécie. Tem apenas 3 séculos de idade e um diâmetro de 62 cm. Daqui a mil anos, quem sabe... Enfim, serviu para dar um gostinho. E já que não vimos o bosque sagrado, podemos imaginá-lo como algo parecido com outro bosque sagrado, pelo menos para nós. Fica a mais de 10 mil km daqui, no norte, interior da Califórnia. Para quem quiser ver as imagens desse outro bosque sagrado, uma mistura de alerces (pelo porte e idade) com Arrayanes (pela cor) é só clicar aqui! Quanto a nós, seguimos para o sul!
Finalmente, o encontro com um alerce, ou "lahuan", árvore milenar que dá nome ao Parque Nacional Los Alerces, ao norte de Trevelin, na patagônia argentina
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