0
Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
Alaska Anguila Antártida Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Falkland Galápagos Geórgia Do Sul Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Islândia Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Uruguai Venezuela
Nilo (20/07)
Olá, eu conheço esse lugar é muito bonito, indo pela estrada do boi, e...
José Roberto (20/07)
Gostei do que vocês trouxerão para o publico com uma otima claresa, e a...
samuel beker mororó aragão (19/07)
Que belo país, as fotos estão maravilhosas,e esse simpatico morador de ...
Dani (18/07)
Vocês são doidinhos da silva, né? A cada post tenho mais a certeza dis...
Robinson (18/07)
Olá, linda a viagem de vcs para a Colombia!! Não consegui encontrar, ma...
As ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Quando pensamos na história da América do Sul antes de Colombo, logo nos lembramos dos incas e sua incrível civilização. Poucos sabem que, antes deles, muitas outras civilizações também floresceram por aqui, algumas tão impressionantes e, certamente, muito mais longevas que os próprios incas. Talvez, a principal dessas civilizações “esquecidas” seja a de Tiuhuanaco que, por quase 1.000 anos, ocupou boa parte do altiplano boliviano, estendendo sua influência até o sul do Peru e norte da Argentina.
Mapa da área de influência da cultura Tiahuanaco, na Bolívia
Nos dias de hoje, as ruínas de Tiuhuanaco estão localizadas a mais de 15 quilômetros do lago Titicaca, mas naquela época as águas chegavam até a cidade. Inicialmente uma pequena vila, Tiuhuanaco começou a ganhar importância nos primeiros séculos da nossa era, principalmente pelo desenvolvimento de uma tecnologia de irrigação que permitia alimentar dezenas de milhares de habitantes. No seu apogeu, estima-se que 70 mil pessoas viviam somente na parte urbana de Tiuhuanaco, uma verdadeira metrópole daqueles tempos.
Chegando às ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Uma maquete mostra as ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
As riquezas trazidas com a agricultura eficiente permitiram também que a cidade desenvolvesse um intenso comércio com os povos vizinhos. Peças típicas de Tiuhuanaco foram encontradas em escavações a mais de 1.000 km de distância, assim como peças de civilizações longínquas foram encontradas por aqui.
As ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
A força do comércio potencializou ainda mais a influência cultural da cidade sobre toda a região. Tiuhuanaco precisou menos de exércitos e mais de sua força econômica e cultural para se estabelecer como o centro de uma poderosa civilização. A cidade transformou-se em centro religioso andino. Sacrifícios humanos eram realizados em honra a seus deuses a cada novo templo ou palácio erigido. Aparentemente, os sacrificados não eram pessoas daqui, o que indica que a cidade tinha sim, seus inimigos, normalmente as vítimas preferenciais de sacrifícios nas culturas pré-colombianas.
As ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Uma mas muradas nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
O fim dessa gloriosa civilização não veio através de guerras ou conquistas. Os incas, por exemplo, a próxima grande civilização do continente, nem chegaram a conhecer o povo de Tiuhuanaco. Quando chegaram às ruínas da grande cidade, nem mais habitantes haviam por ali. Na verdade, quando chegaram à Tiuhuanaco, ela já havia sido abandonada há séculos.
Visitando as ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Uma severa e persistente seca atingiu a região por volta do ano 900, ou um pouco depois disso. As cidades-satélites de Tiuhuanaco foram as primeiras a sofrer e, em poucas gerações, já estavam desertas. Mas Tiuhuanaco resistiu. Seus sistema de irrigação eficiente ainda deu sobrevida à cidade mesmo com as águas do Titicaca retrocedendo. Mas a seca foi longa demais e a outrora rica civilização se pôs de joelhos e, por fim, desapareceu.
Visitando as ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Quando os incas chegaram, souberam reconhecer a grandeza da antiga cidade e Tiuhuanaco ganhou novamente importância religiosa como local de adoração. Mas depois dos incas, vieram os espanhóis. Vinham atrás de ouro, prata, escravos e para destruir qualquer centro de religião pagã. Estátuas foram destruídas ou enterradas. Mas, antes disso, quase que num ritual de exorcismo, marcavam essas estátuas centenárias com o sinal da cruz.
Visitando as ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Não só as estátuas eram derrubadas, mas também templos e palácios. Seus materiais de construção eram usados para a vila que crescia ali do lado, suas igrejas, praças, casas e avenidas.
Uma das poucas estátuas ainda de pé nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Hieroglifos em estátua nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
O interesse arqueológico e científico só começou em meados do século XIX. Mesmo assim, por muito tempo, quem vinha eram caçadores de tesouros e arqueólogos amadores. Grandes estátuas e monumentos foram encontrados e desenterrados. O problema é que, ao tentar movê-los, muitos se quebraram. O melhor exemplo é a Porta do Sol. Reencontrada inteira, tentaram leva-la à pequena vila ali do lado. Partiu-se! Foi remontada ali mesmo, nem na vila, nem no seu local original.
A Porta do Sol, nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Deuses e calendários pictografados na Porta do Sol, nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Finalmente, já nas últimas décadas do séc XX, os estudos profissionalizaram-se. A antiga cidade foi declarada patrimônio mundial. O turismo começou lentamente e somente nesse milênio acelerou-se. O governo boliviano tenta promover a sua “Machu Picchu”, mas teria sido mais fácil se as ruínas não tivessem sido tocadas nesses últimos 100 anos. Mesmo hoje, ainda há controvérsia sobre o processo de restauração que vem sendo feito, muitos argumentando que ele foge do padrão original. É o que vem ocorrendo com a grande pirâmide, sendo recoberta por adobe.
Uma das poucas estátuas ainda de pé nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Nós passamos umas boas duas horas caminhando por ali. Com ajuda do Vitor, o nosso competente guia, aprendemos muito da história da cidade e da arqueologia praticada. Ele nos mostrou a pirâmide, os palácios, as estelas e aquilo que eu mais tinha curiosidade de ver: o pátio das cabeças esculpidas.
O famoso pátio das cabeças, nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
São dezenas de cabeças, todas elas diferentes, distribuídas em um pátio nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
A Ana sempre falava dele, da sua visita de 2006. São mais de cem delas, dispostas nas quatro paredes do pátio, cada uma delas diferente. Nada que tenha visto em qualquer outro lugar no nosso continente. Não se sabem o que representam ou quem eram, mas desconfia-se que foram governantes e importantes nobres dessa civilização, uma espécie de panteão de imperadores. De pensar que cada uma daquelas imagens foi, um dia, uma pessoa. Em que mundo viveram? O que pensavam? Como eram suas rotinas? Quais eram seus sonhos e preocupações?
Caminhando no museu das ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Visita ao museu das ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Bem, deixemos as cabeças e seus antigos espíritos em paz. Depois da caminhada pelas ruínas, ainda visitamos o museu ali do lado. A grande atração é a maior e melhor conservada estela encontrada em Tiuhuanaco. Fotos e filmagens são proibidas e ela fica em uma sala com penumbra, para melhor conservação. É uma visão impactante, quase que fantasmagórica, semi-humana, mas cheias de elementos animais. Como diria o gênio italiano: “E porque não fala?”. Quanta história não teria para contar? História com “H” maiúsculo!
Nosso guia nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia
Fila de trabalhadores nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia. Hora de bater ponto
Finalzinho da tarde, ainda tivemos tempo para um lanche, enquanto observávamos a fila de trabalhadores das ruínas que se formava ali do lado para “bater ponto”. Podemos estar em São Paulo, Nova York ou Tiuhuanaco, essa chatice de bater ponto é universal. Falando em “Tiuhuanaco”, antes que eu me esqueça, esse nome foi inventado muito depois da civilização ter desaparecido. Ninguém sabe como é que eles mesmos se chamavam. Um simples “detalhe” que nos mostra o quão pouco ainda sabemos dessa misteriosa e encantadora civilização.
Passando por El Alto, periferia de La Paz, na hora do rush, na Bolívia
Loja de venda de coca. Estamos em La Paz, Bolívia!
E nós, de volta ao presente, decidimos que dormiríamos mesmo em La Paz. Então, com a ajuda das últimas luzes do dia, atravessamos novamente a periferia de El Alto para furar o bloqueio da estrada de acesso á La Paz e chegamos à capital boliviana. Ainda tivemos tempo de, na entrada do vale, lá no alto, tirar a clássica foto da cidade, aquele mar de casas e prédios no meio de montanhas que chegam aos 6 mil metros de altitude. Para quem conhece, certamente há de concordar: a entrada de La Paz é mágica! Agora, temos uma capital a explorar...
Chegando em La Paz, capital da Bolívia
Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Ninguém sabe ao certo quando as primeiras pessoas chegaram ao Havaí. Teria sido entre o ano 500 e o ano 1.000, navegadores vindos das Ilhas Marquesas ou do Taiti. Também não se sabe se vieram em apenas uma expedição, em uma onda contínua que teria durado algumas gerações, ou em ondas distintas, inclusive de origens diferentes. Vestígios arqueológicos, estudos linguísticos, tradições orais e até análises de DNA ainda não permitiram resolver esse longo mistério definitivamente. A única coisa de que se tem certeza é: eram polinésios!
Painel informativo com a cultura polinésia do Taití, em exposição no Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Esse povo se originou no sudeste asiático há cerca de 5 mil anos. Abandonaram o continente e passaram a colonizar as ilhas do Oceano Pacífico. No início, navegavam apenas entre as ilhas mais próximas. Mas as gerações foram passando, as técnicas de navegação melhorando e os saltos entre as ilhas se tornando maiores. Com suas canoas duplas, movidas a remo e uma vela rudimentar, capazes de transportar mais de cinquenta pessoas, os polinésios foram descobrindo e ocupando todas as ilhas do Pacífico, chegando até o Havaí, no norte, a Nova Zelândia, no sul, e à Ilha de Páscoa, no oeste.
Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Basta olharmos um mapa para compreendermos o tamanho dessa empreitada. É absolutamente impressionante que essas pessoas atravessavam, algumas vezes, mais de mil quilômetros de mar aberto para chegar à próxima ilha. Sem bússolas, GPS, motor ou astrolábio.
Painel informativo com a cultura polinésia de Fiji, em exposição no Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
É um feito sem precedentes na história da humanidade. Aquilo que mais se compara a isso foi a ocupação das ilhas caribenhas por povos saídos da Venezuela. Mas as maiores distâncias entre ilhas caribenhas parecem brincadeira de criança quando comparadas aos milhares de quilômetros para chegar ao Havaí ou Ilha de Páscoa. Outra boa medida é pensar que os aborígenes australianos já estavam por lá há 40 mil anos e nunca chegaram à Nova Zelândia cujo povo, os maoris, também são de origem polinésia.
Visita ao Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Quando uma ilha era ocupada e a população crescia demais, talvez três ou quatro gerações mais tarde, era o momento de seguir em frente. Vegetação boiando pelo mar afora, pássaros ou correntes marítimas davam a pista de para onde seguir. Conhecimento náutico obtido através de gerações era o instrumento em que se fiavam. Mesmo assim, imagino que vários barcos migratórios remavam, remavam e não chegavam a lugar nenhum. Literalmente, davam com os burros n’água. Mas outros chegavam, carregando consigo o embrião de uma nova sociedade, com líderes, religiosos, agricultores, guerreiros, mulheres e crianças. Levavam também os vegetais que costumavam plantar e comer e animais como porcos e galinhas. As expedições eram autônomas para criar do zero uma nova nação. Para ilhas mais próximas, um contato intenso era mantido com a ilha de onde haviam saído. Mas para lugares como o Havaí ou Ilha de Páscoa, pouco ou nenhum contato posterior era mantido, duas culturas que passavam a divergir pelo tempo afora.
Paineis informativos das culturas polinésias de diversas ilhas do Pacífico, em exposição no Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Na costa norte de Oahu existe um lugar onde se pode aprender sobre todas essas diferentes variações desenvolvidas através de centenas ou milhares de anos, da cultura polinésia. Nós chegamos lá meio tarde demais e pudemos ficar apenas na área onde estão vários painéis informativos. Para mim, já foi ótimo. Dados culturais, históricos e geográficos de lugares como o Taiti, Fiji, Havaí, entre outros. Se tivéssemos chegado mais cedo, o lugar é uma espécie de disneylandia cultural, com restaurantes, danças típicas, artesanato, muitas lojas e um preço meio salgado. Não é muito meu estilo (nem a Disneylandia original me atrai...), mas a parte histórica, essa sim.
As migrações polinésias pelas ilhas do Pacífico. Teriam chegado à América?
Aliás, aqui aprendi uma outra coisa: existe uma teoria de que os polinésios teriam chegado ainda mais longe. Até a América do Sul, ao Chile talvez. Apenas mais uma teoria da ocupação das Américas, concorrente daquela que afirma que os pré-colombianos teriam vindos todos pelo Alaska. Será? Bom, quando o Capitão Cook chegou ao Havaí, um dos alimentos mais comuns no arquipélago era a batata-doce. Mas a batata-doce, qualquer botânico saberá dizer, é originária da América. Como será que ela chegou ao Havaí? Pois é, esses polinésios eram mesmo admiráveis...
Visita ao Polynesia Cultural Center, em Oahu, no Havaí
Com a Carol e o Alexis em San Juan del Sur, na Nicarágua
Alguns poucos meses antes de iniciarmos nossa viagem, eu e a Ana ainda trabalhando, mas já com planos e preparativos a todo vapor, um dia minha esposa chega em casa e diz: “Temos um encontro marcado, hoje, no bar x!” Era com uma amiga dela, a Carol, de quem, até então, eu nunca havia ouvido falar. Antes que eu fizesse aquela minha cara de preguiça habitual, ela foi logo dizendo: “Você vai sim! Vamos falar de viagens! A Carol está preparando uma viagem incrível e queremos conversar sobre nossos planos e ideias.”.
Depois de mais de 1000dias, reencontro com a amiga viajante em San Juan del Sur, na Nicarágua
Lá fui eu, curioso, para conhecer essa incrível e decidida carioca que estava trabalhando em Curitiba. Não sei se fiquei mais impressionado com sua vivacidade ou com seu planejamento detalhado de uma viagem super complexa ao redor do mundo. A Carol e seu então namorado francês, o Alexis, planejavam comprar uma passagem de volta ao mundo com paradas em países como Índia, China, Indonésia, Japão, Estados Unidos, Africa do Sul e muito mais. Ela já tinha planilhas e mais planilhas com roteiros detalhados, custos previstos, planos do que fazer em cada lugar, datas precisas e muito mais.
Viajantes da América e do mundo se encontram em San Juan del Sur, na Nicarágua
Confesso até ter ficado meio envergonhado quando, depois de mostrar seus planos e planilhas, ele ter perguntado dos nossos. Bem, a gente tinha um rumo, o norte, e uma ideia, todos os países do continente e estados do Brasil. Mas não ía muito além disso...
Com a Carol, no hotel de San Juan del Sur, na Nicarágua
Depois desse encontro que muito me impressionou, passamos alguns meses sem nos vermos até que, na festa da nossa despedida, lá estava a Carol, a nos prestigiar. Não sei se foi nesse mesmo dia ou um pouco depois, a Ana me disse que a Carol tinha colocado seus planos na geladeira. Uma promoção tentadora na carreira a tinha feito mudar de ideia. Ou não...
O coelho Kiki e a Fiona em San Juan del Sur, na Nicarágua
Pois é, nossa viagem já avançava rumo ao segundo ano quando, no nosso Facebook, começaram a pipocar fotos maravilhosas da Carol e do Alexis pelo mundo afora. A viagem deles havia começado! A gente mudava de cidades, eles tinham mudado de país! A gente mudava de país, eles tinham mudado de continente! Na companhia inseparável do coelho Kiki e do violão do Alexis, que é ótimo músico, eles passaram e se casaram nos Estados Unidos (Las Vegas, claro!), debulharam a Ásia, varreram a África e voltaram à América, trazendo consigo uma coleção invejável de fotos, filmes e experiências.
A carol, feliz da vida, na Playa Hermosa, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Os fatos e históricas são contadas em um site trilíngue, português, inglês e francês super bem organizado, o http://kikiaroundtheworld.com/ e nós passamos a ser um de seus maiores fãs. Passamos também a imaginar como seria legal encontrá-los na estrada, embora isso não parecesse ser possível pelo roteiro original deles.
Com o famoso e internacional coelho Kiki em San Juan del Sur, na Nicarágua
Pois é, no final do ano passado eles voltaram ao Brasil, no que parecia ser o final da viagem. Que nada! Pegaram gosto pela coisa e, após um pequeno descanso para recuperar o fôlego, passaram a subir as Américas por terra, com a ideia de chegar até o México. Nós já começávamos a descer o continente e, pelas nossas contas, uma trombada fatalmente ocorreria aqui na América Central.
Com a Carol e o Alexis na despedida de San Juan del Sur, na Nicarágua
O problema é que a América Central, apesar de parecer tão fininha nos mapas, não é tão estreita assim. Sem uma boa comunicação, era bem capaz de não nos cruzarmos. Seria um pecado! Felizmente, uma mensagem de Facebook de último momento nos salvou desse vexame e pudemos sim armar nosso tão esperado reencontro. E ele se deu aqui, na pequena e simpática San Juan del Sur, no litoral do Pacífico na Nicarágua, quase fronteira com Costa Rica.
O trio do "Kiki Around the World" no banco de trás da Fiona, em San Juan del Sur, na Nicarágua
A gente até já conhecia a cidade e ela não estava nos nossos planos de volta. Mas para encontrar amigos tão famosos, o pequeno desvio mais do que valia a pena, era uma obrigação moral! E assim foi, estávamos os quatro reunidos à beira da piscina do hotel encima do morro, visão fantástica para a baía de San Juan, conversa inesgotável e assuntos para semanas e semanas.
A Carol aproveita a praia e o fim de tarde para posar para o Alexis, na Playa Hermosa, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Realmente, reencontrar a Carol depois de mais de 1000 dias, dois antigos planos de viagem que se transformaram em viagens verdadeiras e maravilhosas foi algo muito especial. Conhecemos também o Alexis, que tanto já havíamos visto em fotos e vídeos, um francês com alma de brasileiro e com muita habilidade no violão e na voz (canta em várias línguas!). Bastaram alguns minutos para que já houvesse aquela intimidade de velhos amigos, gente boníssima que ele é.
Magnífico pôr-do-sol na Playa Hermosa, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Enfim, foram dois dias de intensa convivência, muita conversa e ideias trocadas, risadas e mais risadas de tantas histórias passadas em nossas viagens, um encontro de almas muito parecidas. A ideia inicial era irmos embora no dia seguinte, mas dois dedos de prosa e duas cervejas geladas foram mais do que suficientes para esticarmos um pouco a estadia e a rica convivência.
Despedida da Carol e do Alexis em Rincon, perto de San Juan del Sur, na Nicarágua
Na manhã de hoje, ainda demos uma última carona para eles, de San Juan para Ricon, de onde pegariam o ônibus para Granada, um pouco ao norte, enquanto nós seguíamos para a Costa Rica, no sul. Outra vez, separados, casa casal perseguindo seus sonhos. Bom... separados fisicamente, mas mais amigos do que nunca. Graças à internet, estaremos mais unidos doq eu nunca, acompanhando e nos inspirando um nos outros, viajando duplamente em fotos, relatos e experiências. Juntos, já temos uns 1.700 dias de viagem e uns 80 países. Mas o mundo é muito maior do que isso, assim como nossos sonhos! Para o norte e para o sul, muito nos espera. Carol e Alexis, uma excelente viagem para vocês e continuem nos inspirando!
A Carol e o Alexis partem rumo ao norte enquanto nós seguimos para o sul, perto de San Juan del Sur, na Nicarágua
Visual à partir da boca da pedra, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
No nosso planejamento da viagem pelo nordeste, além das óbvias atrações no litoral, sempre procuramos saber e conhecer regiões do interior, do sertão. Afinal, tínhamos uma "forte desconfiança" que o nordeste era muito mais do que um punhado de praias bonitas.
A Pedra da Boca, na fronteira do Rio Grande do Norte com Paraíba, próximo à Passa e Fica
Lugares como a Chapada Diamantina e a Serra da Capivara já tem luz própria, até internacionalmente. Mas outros lugares, como a Serra do Catimbau e o Lajeado do Pai Mateus não são assim tão conhecidos e precisamos fazer uma certa pesquisa para chegar até eles. E assim fomos fazendo, descobrindo lugares interessantes no interior de todos os estados nordestinos. Na verdade, todos não. Faltava o Rio Grande do Norte.
Pronta para a caminhada até a boca da pedra, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
Foi quando começamos a receber dicas de outros viajantes pelo caminho. Falavam de uma tal de "Passa e Fica". Eu entendia "Pacifica", procurava no mapa, e nada. Depois da terceira vez que me indicaram, decidi achar de qualquer maneira. Google, internet, mapas, até que a ficha caiu. Pronto, achei a famosa Passa e Fica, fronteira de Rio Grande do Norte e Paraíba, do lado potiguar.
Subindo a Pedra da Boca, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
E aqui chegamos hoje. Passamos diretamente pela cidade e fomos direto ao Parque Estadual, pertinho do centro. Mas, ironia, esse "pertinho" foi o bastante para cruzarmos a fronteira. O belo Parque da Pedra da Boca fica na Paraíba, apesar de estar colado em Passa e Fica. "Paci e Ência"...
Pedra da Caveira, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
Lá chegando, fomos recebidos pelo Seu Tico, que vai nos guiar amanhã por uma trilha cheia de grutas e tocas, cenário incrível, dizem. Hoje, ele mandou que o filho nos levasse até a enorme boca na rocha que dá nome ao parque. A gente já vê ela bem de longe, afastando qualquer dúvida sobre o porquê do nome da pedra e do parque. Só falta um batonzinho.
Vista do caminho para a Pedra da Boca, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
Em meia hora subimos os quase 200 metros de desnível que nos separavam da boca. Ela, que parecia pequenina lá de longe, é gigantesca lá de perto. Uns 80 metros de largura, 30 m de altura e uns 20 m de profundidade. Outra formação geológica incrível da mamãe natureza. Quando achamos que já vimos de tudo, ficamos de boca caída com o tamanho da boca da pedra.
Visual à partir da boca da pedra, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
Lá ficamos por uma boa meia hora, tirando fotos, venerando a paisagem, tentando entender aquela coisa. Até o teto do lugar lembra, adivinhem... o céu da boca! Pois bem, lá de dentro da boca ficamos admirando o parque, que tem várias outras pedras mais baixas, inclusive uma com a cara de uma caveira. Observamos também o Rio Grande do Norte, ali do lado, literalmente a "um tirinho de espingarda" de distância.
Dentro da enorme "boca", no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
Que belo dia foi esse, amanhecer vendo as praionas da Pipa e entardecer vendo essas pedras gigantes em Passa e Fica. Amanhã, será o contrário: vamos amanhecer com as pedras e cavernas daqui e entardecer com as praias de Natal. E assim seguimos até onde o fôlego aguentar...
Descendo da Pedra da Boca, no Parque Estadual da Pedra da Boca, na Paraíba, fronteira com Passa e Fica - RN
Velejando na grande barreira de corais, em Belize
Sentados em um restaurante de frente à praia, com os pés na areia e curtindo o fim de tarde na pequena cidade de Hopkins, no sul de Belize, não demorou muito para conhecermos outras pessoas. Meninas garifunas que queriam nos vender algo, cidadãos locais para quem perguntávamos sobra a famosa batida de tambor do local e um solitário indivíduo de cabelos que começavam a embranquecer, pele curtida pelo sol e alta estatura que se divertia com seu cão. Era o Gaston, dono de um veleiro que estava “estacionado” ali na frente.
Amarras do nosso veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Detalhe do nosso veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Conversa vai, conversa vem, contamos a ele sobre nosso caminho pelas Américas, assim como ele nos contou sobre sua própria jornada. Ele trabalha como mergulhador durante alguns poucos meses por ano, em projetos no mundo inteiro. Trabalho altamente especializado, com poucas pessoas aptas para fazê-lo. Por isso, paga-se bem e ele pode se dar ao luxo de, em boa parte do ano, fazer o que mais gosta: viver em seu pequeno veleiro perambulando pelo litoral da América Central e Caribe. Não é uma vida luxuosa. Para isso, ele teria de trabalhar mais. Mas prefere a vida simples, sempre perto do mar, pescando a própria comida, casa apertada, mas com o maior e mais belo quintal do mundo, o oceano.
Vela içada na grande barreira de corais, em Belize
Chegando á ilhota na grande barreira de corais, em Belize
Ele também é amigo da Trisha, a dona da nossa pousada. Já de noite, foi visitá-la, enquanto a simpática e falante nova-iorquina preparava o jantar para sua clientela. Ali, continuamos nossas conversas. Ele nos ofereceu um passeio em seu veleiro até a grande barreira de corais, cerca de 25 quilômetros mar adentro. Ali, quase em frente à Hopkins, está uma pequena ilha, assentada justamente sobre a barreira de corais, chamada Tobacco Caye. Tão pequena que podemos dar a volta nela, caminhando, em uns 10 minutos. Alie estão três hotéis, entre o caro e o barato e uns cinquenta habitantes, além de uns poucos turistas felizardos. Pode-se chegar até lá de lancha também, saindo de Dangriga. Até cogitamos fazer isso também, mas foi o charme de poder velejar até lá, ao ritmo dos ventos, que mais nos apelou.
A sala de estar e refeições do nosso veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Nossa suíte no veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Então, nessa noite mesmo, nos decidimos: íamos com ele. Acertamos preço e condições. Duas noites no barco, três dias no veleiro. Além de Tobacco Caye, velejaríamos ao largo da barreira também, conhecendo outras ilhotas e fazendo snorkel sempre que possível. A saída seria no dia seguinte, logo depois de eu pegar dinheiro em Dangriga (não há bancos em Hopkinns) e da Ana e o Gaston comprarem comida em uma quitanda local.
Início da nossa velejada na grande barreira de corais, em Belize
Vida dura no veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Feito isso, eram pouco antes das 11 da manhã quando abordamos o The Rob (“A Foca”, em holandês), o veleiro até o qual já tínhamos nadado no dia anterior, para conhecer nossa nova “casa”. Com sua namorada, o Gaston já tinha feio isso outras vezes: receber um casal de clientes para uma temporada pelos mares. Depois de muitos anos nesse tipo de vida, a namorada sentiu falta da vida agitada e da terra firme. Atualmente, está na Europa, onde organiza festas eletrônicas. Em poucas semanas, o Gaston voará para lá, para matar as saudades.
Dias lindos a bordo de nosso veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Chegando à Tobacco Caye, na grande barreira de corais, em Belize
O veleiro não é grande, pouco mais de 10 metros de comprimento. Na parte interna, a sala de refeições, uma cozinha e um quarto, que ele cedeu para nós. Do lado de fora, a “varanda” de comando e um deck com passagens apertadas, por entre amarras e velas dobradas. Espaço mais que suficiente para pendurar uma rede ou para se tomar sol admirando o mar azul, cor de piscina, a nossa volta.
Recolhendo âncora para zarpar, na grande barreira de corais, em Belize
A bordo do veleiro na grande barreira de corais, em Belize
O barco tem um pequeno motor, principalmente para quando o vento está muito preguiçoso. O Gaston o comprou na década de 90, na Europa, de onde o barco nunca havia saído. O The Rob vai fazer 100 anos muito em breve, um respeitável senhor construído no início do século XX por um famoso construtor de barcos holandês. Passou pela mão de uns 5 proprietários até que o Gaston o comprasse de um casal alemão. Não muito tempo depois, na companhia de um casal de amigos, fez a travessia oceânica, trazendo “a foca” para as ágas quentes do Caribe, de onde não mais saiu.
Um pequeno coqueiro na popa do Rob, nosso veleiro na grande barreira de corais, em Belize
Por aqui, ficou muito tempo no Panamá, navegando pelas paradisíacas ilhas de San Blás, de doces memórias para nós também. Também teve uma temporada em Honduras e agora por aqui, entre Belize e Guatemala. Isso sem falar de passagens mais rápidas pelo litoral da Venezuela e de algumas ilhas no sul do Caribe. Mas atualmente, sua casa é mesmo a grande barreira de corais de Belize, a não ser quando se aproxima um furacão, quando o gaston e toda a torcida do Corinthias levam seus barcos para as águas seguras de Rio Dulce, um rio na Guatemala considerado pela marinha americana como o local mais seguro para barcos no lado caribenho da América Central.
O Gaston mostra nosso jantar fresquinho, na grande barreira de corais, em Belize
Tudo isso fomos aprendendo nas interessantes conversas com o Gaston, ao longo desses três dias no mar. A melhor hora das conversas era durante as refeições, sempre preparadas por ele mesmo. Algumas vezes, até mesmo pescadas por ele. Por gosto e necessidade, ele ficou craque em pesca submarina e peixe fresco e gratuito é o item principal de sua dieta. Junte-se a isso sua classe em criar molhos e temperos, mistura da herança europeia e condimentos caribenhos e será fácil concluir que nós passamos bem nesses três dias, muito bem alimentados.
Hora do jantar no veleiro, na grande barreira de corais, em Belize
Na parte de bebidas, além de umas poucas cervejas geladas e de sadios sucos de laranja, caprichamos bem era nos rum punches, sabor aveludado com o uso de água de coco como um dos ingredientes. A Ana ficou especialista na sua confecção. Entre um mergulho e outro, entre uma ilha e outra, sempre tínhamos a nossa jarra pronta para saborear.
Uma velha loba do mar, na grande barreira de corais, em Belize
De resto, só posso dizer que foi uma experiência incrível, ver e sentir de perto como funciona um veleiro e como seria viver no mar. Na parte de dentro da barreira de corais, exceto em poucas situações, o mar é sempre tranquilo e nem a Ana teve problemas de enjoo. A gente observou o uso das velas, como se joga ou se recolhe uma âncora, a escolha do melhor lugar para “estacionar” e como dirigir o timão. Foram três dias que nos ajudarão e responder nossa eterna pergunta: poderíamos ou não passar alguns anos dentro de um barco desses, conhecendo aquelas partes do mundo em que a Fiona não pode nos levar?
A bordo do Rob, nossa casa nesses 3 dias velejando pela grande barreira de corais de Belize
É claro que só tivemos noções básicas e navegamos apenas por um mar tranquilo. Mas é preciso começar em algum lugar, certo? E nós começamos por aqui, na barreira de corais de Belize, a bordo do The Rob, “capitaneados” pelo nosso agora muito amigo Gaston, que nos levou com segurança e conforto por esses três dias inesquecíveis. Já de volta à Hopkins, a despedida foi calorosa, com uma pequena esperança de reencontro em poucos dias, na Guatemala. Mas, se não for por lá, será em algum outro lugar desse mundão, que não é tão grande assim... Meu caro Gaston, muito obrigado pela oportunidade e aprendizado!
Despedida do nosso capitão e amigo, o holandes Gaston, já em terra firme, em Hopkins, no litoral sul de Belize
Enfim chegamos à Antártida! (Brown Bluff, na ponta da península antártica)
Há pouco mais de um século o mundo vivia sua última época de ouro das grandes explorações. Todos os continentes já haviam sido descobertos, o último deles a Antártida, 80 anos antes. Mas ainda faltava explorá-los. Poucas décadas antes, com a conquista do interior da África, quase todos os continentes, rios, cadeias montanhosas e lagos já haviam sido mapeados. Apenas as regiões polares ainda resistiam à curiosidade humana. Mas não por muito tempo.
Mapa da Antártida. A Barreira de Ross, principal caminho usado pelos exploradores para se chegar ao polo sul fica na parte de baixo do mapa
Mapa da Antártida se todo o gelo derretesse, aumentando o nível dos oceanos. Assim deve ter parecido o continente há 40 milhões de anos
Naquela época, início do séc. XX, antes do advento do cinema e televisão e da popularização do rádio, eram os intrépidos exploradores das últimas regiões desconhecidas do mundo as grandes estrelas de uma sociedade que começava a se globalizar. Suas aventuras e infortúnios eram narrados por jornais de todo o mundo e seguidos por milhões de pessoas ao redor do globo. Ainda não havia Madona, Elvis Presley, Sylvester Stallone ou Leonardo DiCaprio. Os nomes que ocupavam a mente das pessoas e inspiravam as crianças eram os de Shackleton, Scott, Amundsen e Peary, bravos guerreiros modernos que arriscavam as suas vidas para atingir o polo sul ou o polo norte. O orgulho de nações inteiras estava em jogo enquanto esses aventureiros travavam entre si a luta paras ser o primeiro a chegar aos pontos extremos do planeta, aonde ninguém mais havia chegado, nunca.
Roald Amundsen, explorador norueguês e primeiro homem a chegar ao polo sul (foto da internet)
Os dois polos foram atacados mais ou menos na mesma época e, muitas vezes, pelos mesmos exploradores. Boa parte da ação se deu entre finais do séc. XIX e primeira década do séc. XX. A cada nova expedição, os exploradores conseguiam chegar mais perto do objetivo final, batendo sucessivamente os recordes de latitude. A cada nova aventura, mais excitada ficava a plateia mundial, entes públicos e privados patrocinando os altos custos de cada empreitada, todos atrás de fama, reconhecimento, prestígio, orgulho nacional e, por que não, conhecimento científico. Os dois polos eram o prêmio almejado, mas uma vital diferença entre eles existia: enquanto o polo norte está no meio do mar congelado, o polo sul estava no centro de um continente considerado inacessível pelas terríveis condições do tempo. Enquanto para se chegar ao primeiro a tática era seguir no verão, chegar o mais próximo possível de barco por canais abertos no gelo e caminhar o trecho restante sobre plataformas de gelo flutuantes, para se chegar ao polo sul a logística era infinitamente mais complicada, envolvendo muito mais de 2.000 quilômetros de caminhada entre ida e volta no continente branco, inclusive quase metade disso no recém descoberto Platô Antártico, com uma altitude superior aos 3 mil metros. O desafio no sul era indubitavelmente maior.
O navio Belgica durante a primeira grande expedição à Antártida (foto da internet)
O navio Belgica preso no gelo durante sua expedição à Antártida (foto da internet)
A primeira grande expedição à Antártida partiu da Bélgica em 1897. Apesar do comando ser belga, a tripulação era multinacional e incluiu o jovem norueguês Amundsen, que anos mais tarde seria o primeiro a chegar ao polo sul, e o médico americano Frederick Cook, que se envolveria em várias polêmicas no década seguinte. Em 1906 ele comprovadamente forjou sua ascensão ao Monte Mckinley, o mais alto da América do Norte. Contei essa história aqui, quando passamos por lá. Dois anos depois, ele também alegou ter sido o primeiro homem a chegar ao polo norte, um ano antes de outro americano, Robert Peary. Ambos haviam sido companheiros de expedição em 1892 à Groelândia, mas ao final da primeira década do século XX haviam se tornado grandes rivais. O fato é que a alegação de Cook caiu em descrédito e ele terminou sua vida em desgraça. Já Peary, seu feito foi aceito durante boa parte do século XX, mas hoje o consenso é que também ele não tenha chegado ao polo norte. Mas a disputa entre os dois, que chegou até os tribunais, marcou aqueles anos e influenciou muito a postura de Amundsen quando esse empreendeu sua expedição ao polo sul em 1912.
Frederick Cook na Antártida durante a expedição belga do final do séc. XIX (foto da internet)
Mas, voltando ao final do séc. XIX e à Antártida, a expedição belga foi a primeira a passar o inverno ao sul do Círculo Polar Antártico. Foram meses duríssimos, o navio preso ao gelo e várias pessoas enlouquecendo pelo frio, isolamento e escuridão, ou sofrendo de escorbuto no barco. Entre eles, o líder da expedição, Adrien de Gerlache. Nesse período, quem tomou a liderança do grupo foi exatamente Amundsen e Cook. Esse último, como médico, teve um papel fundamental. Foi ele quem forçou os outros tripulantes a se alimentar de carne fresca de pinguim e de foca. Aparentemente, o gosto é péssimo, mas isso era servido como remédio para o escorbuto. A vitamina C ainda não havia sido descoberta e foi essa insistência de Cook na carne fresca, que ele havia aprendido na expedição feita com Peary à Groelândia, que evitou uma tragédia. Amundsen lhe seria grato para sempre, um dos poucos amigos que lhe sobrou nos duros anos finais de sua vida. Ao final do verão de 1899, após cavar um longo canal no gelo usando inclusive dinamite, eles conseguiram livrar o barco de sua prisão gelada e voltaram para a Europa aclamados como heróis. Tinham chegado a 71,5 graus de latitude sul, o recorde da época.
Visão da Barreira de Ross, a maior barreira de gelo do mundo, na Antártida (foto da internet)
Homens matam e tiram a pele de uma foca durante a primeira expedição inglesa à Antártida, no final do séc. XIX (foto da internet)
Mas essa marca não durou muito. No ano seguinte, uma expedição inglesa, a primeira a invernar em Antártida continental, chegou aos 78,5 graus de latitude. Mais do que isso: foi a primeira a usar trenós de cachorro para locomoção na Antártida e também a primeira a desembarcar e subir na Barreira de Ross, a maior barreira de gelo do mundo, descoberta 60 anos antes, e ponto onde o mar (congelado!) mais se aproxima do polo sul. A Barreira de Ross, também chamada de a “Grande Barreira” é um dos fenômenos naturais mais incríveis do mundo, uma plataforma de gelo do tamanho da França encravada em um golfo da Antártida. É alimentada por inúmeras geleiras continentais, chega a ter mais de 700 metros de espessura, a maior parte disso abaixo do nível do mar. No encontro com o oceano, a grande parede de gelo que até hoje impressiona os visitantes, tem mais de 600 km de comprimento e 50 metros de altura. De suas extremidades saem vários dos enormes icebergs que flutuam nos mares do sul, inclusive o maior deles até hoje registrado, uma ilha de gelo do tamanho da Jamaica! Dez anos depois de seu “nascimento”, muitos dos inúmeros pedações menores em que esse gigantesco iceberg havia se partido ainda flutuavam por aí, alguns deles chegando bem perto da costa neozelandesa. Enfim, foi essa a expedição a descobrir o melhor atalho para o polo sul, seguir por cima da Plataforma de Ross até o continente, já relativamente próximo do ponto mais ao sul do planeta.
O navio Discovery ao lado de um trecho mais baixo da Barreira de Ross, na Antártida (foto da internet)
Robert Scott, explorador inglês famoso no início do séc.XX (foto da internet)
Pois foi aí mesmo que aportou a próxima expedição à Antártida, também inglesa. Tratava-se da famosa Discovery Expedition, liderada por Robert Scott e que também contava com Shackleton entre seus participantes. Financiada e promovida pelo governo inglês, a expedição teve intensa cobertura da imprensa e muito mais estrutura que as expedições anteriores. Até um balão foi levado e assim que o navio chegou à barreira de Ross, primeiro Scott, e depois Shackleton, subiram nele a quase 200 metros de altura para ver a vastidão infinita do interior da massa de gelo, sem nenhum sinal até o horizonte de terra continental.
Pinguins Imperador na região da grande barreira de Ross, na Antártida (foto da internet)
As pessoa ficam minúsculas quando comparadas às enormes paredes frontais da Barreira de Ross, na Antártida (foto da internet)
A expedição se instalou por aí e por dois anos permaneceram no local, realizando diversas saídas exploratórias e toda a sorte de experimentos e coletas científicas. Por exemplo, foram os primeiros a observar uma colônia de pinguins imperador, a maior espécie de pinguins. Tentaram também chegar ao final da barreira de gelo estabelecendo um novo recorde de latitude: 82,3 graus. Entre idas e vindas, foram mais de 500 km gelo adentro sem conseguir chegar ao continente. Scott, Shackleton e Wilson, os três participantes desse “ataque”, permaneceram 3 meses nessa longa jornada com ajuda de cães e trenós. Desenvolveram escorbuto, congelamento e cegueira branca. Ao final, Shackleton, o mais enfraquecido, mal conseguia andar. A pouca habilidade e costume com os trenós de cachorro atrapalharam bastante a tentativa e a experiência foi decisiva para que Scott, anos mais tarde, optasse pelo uso de pôneis e trenós puxados pela força humana.
Shackleton, Scott e wilson antes de partirem para o polo sul durante a expedição Discovery (foto da internet)
A paisagem do platô antártico, um planalto de gelo infinito (foto da internet)
Por fim, o último grande feito da viagem foi a descoberta do Platô Antártico. Em uma outra saída exploratória, Scott liderou o grupo novamente, dessa vez com dois outros companheiros. Durante a saída de dois meses e quase 1.000 km, o grupo subiu a cordilheira oriental chegando ao platô com uma altitude muitas vezes superior aos 3 mil metros. A Antártida é o continente mais alto do mundo e isso se deve a quantidade monumental de gelo acumulada em seu interior. Há pontos em que a capa de gelo atinge os 4 km de espessura! Todo esse gelo acabou formando um grande planalto central no continente onde apenas os picos de algumas poucas montanhas aparecem. O resto é plano, branco e infinito. É a região mais hostil da superfície da Terra, por causa do frio, vento e falta de umidade. No inverno, as temperaturas chegam perto de 90 graus negativos e por isso não é de se estranhar que nada viva aí, nem plantas, nem insetos, nem pássaros. Mesmo bactérias e outros seres unicelulares trazidos pelo vento só estão esperando a lenta morte chegar. Enfim, era esse platô e suas duras condições que deveriam ser vencidos por qualquer aventureiro ou explorador que desejasse chegar ao ponto mais ao sul do planeta. O grupo de Scott penetrou cerca de 220 km nesse inferno branco e regressou, os primeiros homens a ter estado ali.
Reunião no abrigo de madeira pré-fabricado e levado à Antártida na expedição Nimrod. Shackleton está atrás, a esquerda (foto da internet)
Expedições da Alemanha, Suécia, Escócia e França se seguiram até que, em 1907, uma nova expedição inglesa, dessa vez liderada por Shackleton, chegou ao continente. Mais do que nunca disposta a atingir o tão sonhado polo sul. Era a expedição Nimrod, a primeira a trazer trenós motorizados à Antártida, embora seu uso fosse bastante limitado, e pôneis para ajudar no transporte, além dos já tradicionais cachorros. O navio Nimrod deixou os expedicionários no continente e retornou à Nova Zelândia. Ainda antes da chegada do inverno, um grupo tentou e conseguiu escalar pela primeira vez o Erebus, um vulcão ativo com 3.750 metros de altitude. Com a passagem do inverno e da escuridão, foram organizadas duas expedições: a primeira ao polo magnético e a segunda ao polo geográfico. O primeiro foi atingido com sucesso em 19 de Janeiro de 1909, a 2.210 metros de altitude e 72,25 graus de latitude. Após 4 meses de duras caminhadas, entre ida e volta, o grupo foi recolhido pelo Nimrod em um ponto pré-combinado da costa. Absolutamente exaustos, famintos e vestindo as mesmas roupas de meses atrás. Segundo consta, o cheiro era insuportável, mas o sentimento era de vitória.
O vulcão Erebus, o maior vulcão ativo da Antártida (foto da internet)
Um outro grupo, liderado pelo próprio Shackleton, tentou o muito mais distante polo geográfico. Partiram em 29 de Outubro de 1908 para uma jornada estimada de 2.800 km, ida e volta. Os trenós motorizados ficaram na base, já que não conseguiam vencer as irregularidades do gelo, assim como os cães. Shackleton deu preferência aos pôneis, dada a má experiência com as cães na expedição Discovery anos antes. O tempo calculado para a caminhada era de 91 dias e a comida foi levada considerando esse número. Mas alguns dias de dura realidade e um ritmo menor que o imaginado fizeram a estimativa aumentar para 110 dias e as rações de comida foram diminuídas de acordo. O recorde de latitude sul de 82,3 graus foi atingido em 26 de Novembro com 29 dias de caminhada, consideravelmente menos que os 59 dias que havia demorado o grupo de Scott em 1904. Mas a partir daí, já em território totalmente desconhecido, o ritmo caiu pelas dificuldades do terreno. Quando finalmente chegaram ao fim da Barreira de Ross e ao início das montanhas e do continente propriamente dito, três dos quatro pôneis já haviam morrido.
A geleira Beardmore, o caminho descoberto por Shackleton para se ascender ao Platô Antártico (foto da internet)
Nesse ponto, o maior desafio de toda a caminhada. Encontrar um meio de subir as montanhas e chegar ao Platô Antártico. Foi quando encontraram a enorme geleira Beardmore, um verdadeiro canal entre as montanhas e que os levaria diretamente ao platô.. Mas não era um caminho fácil, escorregadio e cheio de gretas. Em uma delas desapareceu o pobre Socks, o último pônei do grupo. Quase levou Wild, um dos aventureiros, com ele. No dia 26 de Dezembro, finalmente, atingiram o alto da geleira e o início do Platô Antártico, a 86 graus de latitude. O problema era a comida que estava terminando e já não era suficiente para se atingir o polo, mais de 400 km à frente. Mais uns dias de caminhada, já sob os rigores máximos do planalto antártico a mais de 3 mil metros de altitude e Shackleton finalmente se convenceu que seguir até o polo seria suicídio. A decisão foi a de chegar até 100 km dele, no dia 9 de Janeiro, estabelecendo o novo recorde de 88,4 graus de latitude. Desde a partida, 73 dias haviam se passado e as rações diárias de comida eram cada vez menores, já que a estimativa para a volta era de outros 50 dias de caminhada.
Fotografia tirada por Shackleton de seus companheiros no ponto mais ao sul que chegaram, a menos de 100 km do polo sul, durante a expedição Nimrod (foto da internet)
A volta foi épica, uma verdadeira corrida contra o tempo e a fome. Quando chegaram aos depósitos intermediários, a comida estocada ajudou. Mas o problema do tempo sempre esteve presente, pois o Nimrod deveria partir antes que o gelo o prendesse novamente. Tempestades de neve atrasaram a viagem e, quando chegaram com dois dias de atraso e ainda viram o navio por ali, foi a visão mais feliz de suas vidas. Enfim, voltaram para a Inglaterra aclamados como heróis, Mas o polo sul ainda permanecia inalcançável, um constante desafio aos grandes aventureiros daqueles anos.
Voltando da tentativa de se chegar ao polo sul e chegando em um dos depósitos de comida (expedição Nimrod - foto da internet)
Um deles, Robert Scott, aguardava ansiosamente os resultados da expedição Nimrod. Com os novos conhecimentos adquiridos por esta expedição, o polo não lhe escaparia na próxima oportunidade. A organização de sua própria expedição, novamente patrocinada pelo estado, já estava adiantada. Com Shackleton fora do caminho, nada mais lhe tiraria a honra de ser o primeiro ser humano no ponto extremo sul do planeta. Um outro competidor, o norueguês Amundsen, estava ocupado em organizar uma expedição ao polo norte. Assim, com tudo planejado, a expedição Terra Nova partiu para o sul em 1910. Mas uma última e inesperada preocupação apareceu já com o barco a caminho. Da ilha de Madeira chegava a notícia: por ali passara o barco de Amundsen e, para a surpresa do mundo, ele anunciara que seu verdadeiro objetivo era mesmo o polo sul. O mundo inteiro acompanhando através de relatos de jornais e revistas a mais dramática e trágica corrida exploratória que a humanidade já havia conhecido.
Shackleton e seus companheiros depois da tentativa de chegarem ao polo sul durante a expedição Nimrod. Eles chegaram a menos de 100 km do polo (foto da internet)
As luzes de Belo Horizonte - MG vistas do Mirante das Mangabeiras
Após uma manhã de surf e trabalho na internet, levei a Ana para almoçar num dos mais famosos restaurantes de comida mineira, o "Dona Lucinha". Comida saborosa e bem "magra", hehehe. Uma cachaça que desceu como vinho ajudou a lubrificar a garganta antes do tutu, linguiça, couve e outras iguarias mineiras.
Aperitivo com cachaça, linguiça e pão de queijo no Dona Lucinha, em Belo Horizonte - MG
Para ajudar a digestão, caminhamos para a Praça da Liberdade para visitar um dos centros culturais da praça, o da TIM, ainda em fase de testes. Num futuro próximo, serão vários centros culturais, tornando a Praça da Liberdade uma referência de cultura no Brasil. Todos esses centros culturais ocuparão antigas secretarias de Estado em prédios históricos. Ponto positivo para a capital mineira para felicidade dos belorizontinos.
Crianças no Espaço TIM, em Belo Horizonte - MG
No Espaço TIM, entre várias exposições e assuntos, o que mais me chamou a atenção foi acompanhar a visita de crianças ao prédio. Meninos e meninas de sete anos, curiosidade em seu ponto máximo, vendo o planetário, exposições sobre línguagens, sobre a superpopulação da Terra e sobre o consumo de água. Muito divertido acompanhar suas perguntas e, mais ainda, suas respostas às indagações dos professores.
O Mineirão e o Mineirinho, em Belo Horizonte - MG
De lá, agora de carro, para a Pampulha e a igrejinha de São Francisco, de Portinari, Niemeyer, Burle Marx e JK. Nossa... que grupo! De novo, reminiscências da infância quando, com 10 anos, estudando BH na saula de aula, sentia-me orgulhoso de tanta gente importante envolvida na construção da minha cidade. A lagoa está bem mais limpa que no meu tempo. Num final de tarde em um dia ensolarado, Mineirão e Mineirinho ao fundo, aos olhos de um saudoso ex e eterno habitante da cidade, fica muito bonita. Ainda mais com a Ana posando para fotos.
Lagoa da Pampulha em Belo Horizonte - MG
Finalmente, pé na tábua para a Praça do Papa (lá se vão 30 anos!) e Mirante das Mangabeiras, acompanhar o pôr-do-sol e as luzes cintilantes da cidade no início da noite, num dos mais belos visuais de Belo Horizonte. Aliás, não é à tôa que a cidade tem esse nome.
Praça do Papa, nas Mangabeiras, em Belo Horizonte - MG
De noite fomos a um aniversário. Era da Carol, que mora com a Karina que é a irmã do Dudu, que conhecemos por 30 min em Diamantina. Ele estava na mesma pousada que a gente, perguntou-nos sobre a Fiona, soube da viagem, conversa vai, conversa vem, nos deu o telefone de sua irmã em BH. Entramos em contato com ela que nos chamou para ir no aniversário da Carol, que mora com ela. Assim são os mineiros... calorosos e hospitaleiros.
Final de tarde em Belo Horizonte - MG
No aniversário, eu, a Ana, a Carol, a Karina e outras cinco meninas. Ouvindo a conversa entre elas, nas diversas conversas paralelas, para mim era música aos ouvidos. Refiro-me ao sotaque, tão gostoso de ouvir e tão igual aos e-mails que às vezes recebo, mostrando a conversa entre mineiros. Aquela coisa de palavras juntadas, últimas sílabas comidas e muitas palavras no diminutivo. Incrível como os tais emails não são exagerados. Outra coisa engraçada, ou na verdade triste para mim é como, em outros estados, logo me reconhecem como mineiro, por causa do sotaque, mas aqui, ao contrário, me tomam como paulista ou qualquer outra coisa, mas não mineiro. Enfim, quase trinta anos de exílio me tornaram apátrida. Gosto de pensar que tenho um sotaque meio Jornal Nacional, sem sotaque. Mas, lá no fundo, queria era estar falando "uai", "sô" e "trem". Quem sabe com um pouco de treino?
A Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte - MG
Vista de Penedo - AL
Depois do passeio à foz do São Francisco, achamos um restaurante gostoso na beira do rio para comer um peixe e voltamos para a histórica Penedo.
Orla do rio São Francisco em Penedo - AL
Lá, mais fotos da cidade e suas igrejas. Infelizmente, chegamos tarde demais para visitar a Igreja NS das Correntes, vizinha da nossa pousada. O que mais me atraiu lá foi a existência de azulejos portugueses raros, com outras cores que não o azul, a cor tradicional. Com ela fechada, só pudemos fotografá-la por fora, ao lado da charmosa pousada em que ficamos. Um belo conjunto!
A Pousada Colonial e a Igreja NS das Correntes, em Penedo - AL
Depois da sessão de fotos, balsa para Sergipe. Mais uma vez, atravessamos o São Francisco. Logo logo estaremos com ele novamente, dessa vez nos famosos canyons acima da barragem de Xingó. Mas isso é para depois de visitarmos Aracaju e redondezas.
Nosso quarto na Pousada Colonial, em Penedo - AL
E foi para lá (ou cá!) que seguimos. Finalmente, iria conhecer essa capital, uma das poucas que ainda não conheço no Brasil. Na verdade, uma vez pousei por aqui, mas nem saí do avião. E outra vez, vi a cidade da BR, indo para Maceió. Nenhuma dessas conta, certo?
A Pousada Colonial e a Igreja NS das Correntes, em Penedo - AL
A Ana veio dirigindo e eu matutando. Em Aracaju, a gente se instalou no Hotel Jangadeiros, bem no centro. A cidade está bem vazia, sábado de natal. Amanhã teremos dia de explorações!
Atravessando o Velho Chico de balsa, em Penedo - AL
Saltando no mar azul de Groot Knit, no norte de Curaçao
Já saímos do hotel hoje com mala e cuia para nosso passeio pela ilha. Assim, poderíamos seguir diretamente para o aeroporto, no fim de tarde, ao invés de ter de entrar novamente na capital, Willemstad, para buscar nossa bagagem. O nosso carro na ilha é pequeno mas, com o banco de trás dobrado, conseguimos encaixar tudo lá, as caixas com os equipamentos de mergulho e nossas mochilas.
Mapa de Curaçao
Observando o mar em parque no norte de Curaçao
Seguindo a recomendação do nosso livro-guia, resolvemos nos concentrar na parte norte da ilha, onde estão as praias mais bonitas. Mas, antes das praias, ainda fomos em um parque onde a força do mar vem esculpindo a costa rochosa há milênios, tendo inclusive "construído" uma caverna que é possível visitar.
Caminhando em parque no norte de Curaçao
Caverna feita pelo mar em parque no norte de Curaçao
O nome do parque é "Boca Tabla". Trilhas bem curtas nos levam para um litoral recortado, violento e belo. Mas a Ana estava meio sem paciência para parques hoje. Ela queria era praia mesmo. Assim, vimos só o essencial e já seguimos para o litoral que é virado para a Venezuela, onde o mar é mais tranquilo e onde estão as praias mais bonitas.
O nosso carrinho em Curaçao
Praia de Klein Knit, no norte de Curaçao
E, realmente, há praias maravilhosas por lá. Nossa primeira parada foi na Klein knit, areias brancas e água escandalosamente azul. Aì ficamos por um bom tempo, tomando sol, fazendo snorkel, maravilhados com a beleza local.
Muito sol e mar azul na praia de Klein Knit, em Curaçao
Em seguida, fomos à praia vizinha, a Groot Knit. Ainda mais bonita que a anterior, mas com mais gente também. Nossa idéia era só ver e tirar umas fotos, mas não resistimos a um salto no mar depois de vermos uma turma de rapazes locais pularem de um trampolim natural. Um lugar simplesmente magnífico. Sem dúvida, a mais bonita praia dessa nossa temporada no Caribe.
Praia de Groot Knit, em Curaçao
A incrível cor do mar na praia de Groot Knit, no norte de Curaçao
Infelizmente, a hora do nosso vôo se aproximava e não pudemos ficar mais tempo. Ainda queríamos passar em outra praia, a Cas Abao, com mais estrutura, onde poderíamos comer e tomar banho de água doce. E assim fizemos, já no nosso caminho para o aeroporto. Outra praia muito bonita mas, perto das anteriores, ficou meio sem graça. Pelo menos, tomamos nosso banho de chuveiro!
Saltando no mar azul de Groot Knit, no norte de Curaçao
Refrescando-se nas águas transparentes do mar de Curaçao, em Groot Knit
E aí, corrida para o aeroporto, para devolver o carro e embarcar. Adeus, Caribe! Em breve, esperamos retornar, dessa vez para duas das maiores ilhas da região, Cuba e Jamaica. Esperamos seguir para lá quando chegarmos à Cidade do México. Mas nada de pensar muito nisso agora. Ainda tem muita água para passar embaixo da ponte até lá...
O mundialmente famoso Curaçao Blue (em Willemstad - Curaçao)
Por enquanto, nosso pensamento volta para a Colômbia! O Douglas nos fez uma surpresa e foi nos buscar no aeroporto. Em casa, a recepção foi da Clarita e da Amelie, morrendo de saudades da Ana! Voltamos ao nosso "lar"! Amanhã passaremos por aqui. E no dia seguinte, seguimos para dois dias por cidades ao norte de Bogotá. Não podemos ir longe porque voltaremos para a capital colombiana no dia 3. Temos um encontro marcado com o The Hall Effect e o Aerosmith, com show marcado para esta data.
Algum outro Rodrigo ama alguma outra Ana! (em parque no norte de Curaçao)
Praia em Hopkins, no litoral sul de Belize
Voltamos ontem de Caye Caulker para Corozal, para reencontrar nossa querida Fiona e também para decidir nosso futuro nesse pequeno país. Depois de conhecermos o principal cartão postal de Belize, a barreira de corais e o Blue Hole, o que mais fazer por aqui? Quais são as outras atrações e destinos turísticos do país?
Casas coloridas em Corozal, no norte de Belize
As duas principais cidades, Belize City e a capital Belmopan, não têm a melhor fama. Belmopan é uma cidade planejada, construída depois que um furacão arrasou a antiga capital, Belize City, no início da década de 60. Acharam por bem proteger melhor as repartições públicas no interior do país. Ainda hoje, para o turista, é só um lugar para trocar de ônibus. Já Belize City, conversando com as pessoas daqui e também com os estrangeiros que vieram morar em Belize, é um lugar para ser evitado. Muito perigosa e sem atrações. Até para simplesmente deixar a Fiona por lá para ir à grande barreira, disseram-me ser arriscado. Por isso, optamos pelo caminho marítimo mais longo, partindo de Corozal mesmo. Valeu a pena, pois quando voltamos, a Fiona estava inteirinha, nos esperando.
Atravessando ponte em Belize City, a maior cidade do país
Portanto, não há turismo de cidades interessante por aqui. Mas, quem vem para Belize atrás de urbanidade? Só se for outra, de algumas centenas ou milhares de anos atrás: a urbanidade maya! O país tem várias ruínas impressionantes e bem menos concorridas que as do Yucatán e da Guatemala. As mais famosas são Altun-Ha e Lamanai, as duas no norte do país. Mesmo mais tranquilas que suas congêneres em outros países, para padrões belizenhos, são elas as mais movimentadas, pela facilidade de acesso. Para boa parte dos turistas que aqui chegam, vindos por pacote turístico, uma visita a uma dessas duas ruínas está no roteiro. Nós, depois de tantas visitas à antigas cidades mayas, estávamos meio enfadados. Mas até nos interessamos por visitar Lamanai, o que envolveria também um interessante passeio fluvial, pois a maneira mais fácil de chegar lá é de barco. Mas esse barco só sai de manhã e nós perdemos o horário para pegá-lo. Não quisemos esperar mais um dia inteiro no norte do país para isso e nem enfrentar a longa estrada de terra, o caminho alternativo para se chegar às ruínas. Além disso, descobrimos que, na verdade, os achados arqueológicos mais impressionantes de Belize não estão nessas ruínas mais famosas, mas em Caracol, quase na fronteira com a Guatemala. A dificuldade de acesso faz com que muito poucas pessoas lá cheguem e nós resolvemos que essa seria a nossa “ruína maya de Belize”.
Ver mapa maior
Resolvido isso, estávamos prontos para viajar para o sul do país. Olhando o mapa rodoviário de Belize, só há uma entrada e uma saída (ou vice-versa, claro!). Uma fronteira no norte, com o México, por onde entramos, e uma fronteira no oeste, com a Guatemala, nossa porta de saída. Essa porta de saída fica na parte central do país. Então, se fôssemos para o sul, teríamos de retornar. O que a maioria dos viajantes Overland que passam pelo país fazem é simplesmente ignorar essa parte sul. Já para os aventureiros que chegam aqui de mochila, cruzando a América Central, existe também a possibilidade de se chegar até o extremo sul de Belize, à cidade de Punta Gorda e, daí, pegar um barco para Guatemala ou mesmo Honduras. Esse barco é só para pessoas, carros, apenas naquelas saídas que falei acima.
Longo trecho de estrada de terra no caminho para o sul de Belize
Indo para o sul de Belize por uma estrada secundária
Nossa decisão, curiosos que somos, foi por conhecer também o sul do país, bem menos visitado. Especialmente as pequenas cidades fora do circuito dos ônibus. Escolhemos começar pela pequena Hopkins, localizada entre as maiores e mais populares Dangriga e Placencia. Hopkins é uma pequena vila de origem garifuna (ainda vou falar deles!), em frente ao mar, ruas de areia e longe do circuito turístico principal.
Praia de Hopkins, no litoral sul de Belize
Meninas garifunas vendem artesanato para turistas em Hopkins, no litoral sul de Belize
Para ir até lá, fizemos questão de realizar um desvio e passar por dentro de Belize City, ao menos para vê-la com nossos próprios olhos. Não nos pareceu tão mal como havia sido pintada. Ruas estreitas, mas pouco movimentadas, casas coloridas, estrutura viária em reforma, uns poucos gringos caminhando perdidos perto do mar e dos hotéis mais chiques e um rio que divide a cidade em duas. Cumprida nossa “obrigação moral” de ver a maior cidade do país, seguimos em frente.
Noite em praia de Hopkins, no litoral sul de Belize
O caminho de asfalto para o sul dava uma longa volta, seguindo na direção oeste até Belmopan, para depois virar para baixo. Resolvemos pegar um atalho, enfrentar uma estrada de terra mesmo para não dar a grande volta. Cruzamos uma região quase deserta de pessoas, mas com muita vegetação, rios e montanhas ao longe. Aliás, depois do Yucatán, é até estranho ver montanhas no horizonte.
Frente do nosso hotel em Hopkins, no litoral sul de Belize
Nosso hotel em Hopkins, no litoral sul de Belize
Finalmente, encontramos novamente a estrada principal, deixamos Dangriga para trás e chegamos ao acesso de Hopkins, uma estrada de 10 quilômetros de terra, cruzando planícies e charcos litorâneos. Chegamos ao povoado e nos instalamos na pousada Kismet, em frente ao mar. A Trisha, a dona, é uma figuraça, uma senhora nova-iorquina que já rodou o mundo, tem ou teve negócios na Jamaica e no Harlem, mas que está por aqui, atualmente.
Cães (incluindo o Chími - o marrom) brincam em praia de Hopkins, no litoral sul de Belize
A Cher, o galo do nosso hotel em Hopkins, no litoral sul de Belize
Chegamos na tarde de ontem e ainda deu para caminhar um pouco pela praia, estreita e com vegetação abundante. O mar é meio escuro, influenciado pelos rios que aqui perto desembocam. O clima é de algum lugarejo perdido no litoral do nordeste brasileiro, de algumas décadas atrás. Alguns poucos turistas, crianças garifunas vendendo pulseiras ou bolinhos, e pouca coisa para se fazer além de sentar, olhar para o mar e beber alguma cerveja.
Tarde preguiçosa em praia de Hopkins, no litoral sul de Belize
Trabalhando no nosso quarto de hotel em Hopkins, no litoral sul de Belize
Nós resolvemos passar o dia de hoje por aqui, de barriga para o ar. Interagimos com a Trisha, com as crianças garifunas, com os cães na praia e até com a Cher, um galo que manda no terreiro da Trisha, refestelando-se nas muitas galinhas que também vivem por ali. Eram seus cacarejos que nos acordavam pela manhã, ou antes dela.
Nossa primeira foto do Gaston, antes mesmo de conhecê-lo (em Hopkins, no litoral sul de Belize)
Quem nós conhecemos também foi o holandês Gaston, que mora em seu veleiro há mais de 15 anos, quase todos eles aqui na América Central, entre Panamá, Honduras, Guatemala e Belize. Nesses dias, estava estacionado bem em frente à pousada da Trisha. Figura muito interessante também, papo vai, papo vem, mudamos completamente nosso roteiro para os próximos dias. Vamos com o Gaston velejar até a Grande Barreira de Corais novamente. Ele nos convenceu que tínhamos de conhecer Tobacco Caye, uma ilhota encima da barreira, um lugar paradisíaco e tranquilo, cercado por água transparente. Então, amanhã cedinho, eu vou dar um pulo rápido em Dangriga para pegar dinheiro enquanto ele e a Ana fazem compras em Hopkins, para podermos passar três dias no mar. São mudanças de plano assim que fazem a nossa jornada ficar mais interessante. E imprevisível...
Barco ancorado em frente ao nosso hotel em Hopkins, no litoral sul de Belize. Ainda não conhecíamos o "The Rob"...
2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet