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JOSÉ MOTA SUSART (12/10)
sou estudante de história e cachoeira para nós é um grande l...
lindon wilson (11/10)
não sei como é sua viagem por essas comunidades mais se der procure ir ...
Rafael (10/10)
Boas Fotos e excelente blog. Ou esses 'poções' em natividade são de f...
Helder Geraldo Ribeiro (06/10)
Rapaz, desde quando comecei a acompanhar o blog de vocês tenho visto dez...
ciça (05/10)
emoção mil , grandioso,desci a caracoles pra Santiago ,CHILE carro , ma...
Praia em Mancora, no litoral norte do Peru
Dia de sol na praia, bem tranquilo. Estávamos completamente desacostumados com essa combinação perfeita, hehehe. Ficamos bem folgados no nosso hotel, demos uma caminhada na praia, compramos uma canga tamanho casal, tomei cerveja na beira da piscina (A Ana ainda está de molho!), enfim, tudo o que pessoas normais fazem nessa situação.
Nosso hotel em Mancora, no litoral norte do Peru
A praia foi, até agora, a melhor em que já estivemos aqui no Oceano Pacífico. Praia de areia, boa para caminhar, água fria mas bem suportável. Até que enfim um Oceano Pacífico mais "amigável". Mas, para quem está acostumado com as maravilhosas praias brasileiras, a beleza dessa aqui é bem mais ou menos. Tudo questão de referência, claro.
Dia de sol em Mancora, no litoral norte do Peru
Bonito mesmo foi o fim de tarde e o pôr-do-sol. Uma festa para quem estava com máquina fotográfica, caso da Ana. Difícil é escolher as melhores
Caminhando na praia em Mancora, no litoral norte do Peru
De noite, fomos dar uma volta no centrinho. Bem movimentado, afinal, hoje é sábado. Muito parecido com o centrinho de praias badaladas do Brasil, cheio de barzinhos com música alta, gente com pinta de surfista, cabelo desarrumado, pouca roupa, cara de malandro. Achamos um restaurante gostoso longe da balbúrdia e comemos uma comida gostosa. A Ana segue melhorando e já pode comer coisas além do frango...
Inca Cola, o famoso refrigerante nacional do Peru, com gosto de Tutti-Frutti (em Mancora, no litoral norte do país)
Hoje foi nossa última noite no Peru por um bom tempo. Agora, só quando chegarmos em Cusco, vindos do Acre, daqui a um ano. Muita água para rolar embaixo da ponte, muito asfalto para passar embaixo da Fiona.
Belo pôr-do-sol no Oceano Pacífico, em Mancora, no litoral norte do Peru
Amanhã, vamos para o Equador, nosso vigésimo-quarto país e o décimo da Fiona. O plano é chegar até Guayaquil, a maior cidade do país. Para mim, território completamente novo, pois só tinha chegado até o Peru anteriormente. Aos poucos a ansiedade, típica de quem parte para o desconhecido, toma conta de mim. Sensação ótima, diga-se!
Nosso "escritório" em Mancora, no litoral norte do Peru
Aliás, não tinha dito ainda mas conseguimos re-acertar nossa viagem para Galápagos. Viva! Agora será no dia 25 de Setembro, voando de Quito, e embarcando num barco diferente do original, que não ficou pronto. Mesmo esquema: live aboard de 8 dias/7 noites, mergulhando sem parar. Depois, mais dois dias em terra, tentando ver o que for possível dessas ilhas maravilhosas. Nossos padrinhos Rafa e Laura estarão conosco, os mesmos que nos encontraram em Itaúnas, ano passado, no meu aniversário. Dessa vez, vão passar o aniversário da Ana conosco, dia 20 desse mês. Isso porque estão chegando 10 dias antes do live aboard para viajarem conosco pelo Equador. Vamos encontrá-los em Quito no dia 15. O que sobrou de chato dessa mudança de barco e de datas é que o primo Haroldo, o mesmo que esteve conosco em Fernando de Noronha não virá mais nos encontrar. Para ele, a mudança de datas foi fatal. Uma pena! Bem, se não foi por aqui, certamente será em outro lugar especial desse nosso continente. É esperar para ver...
O céu colorido do final de tarde em Mancora, no litoral norte do Peru
O cenário grandioso de Elephant Island, na Antártida (foto de Steve Denver)
Pouco mais de 1.300 quilômetros de alto mar e de deixarmos a Geórgia do Sul para trás, a primeira terra firme apareceu no nosso horizonte. Nosso sentido era o sudoeste e o rumo era o continente antártico e aquelas primeiras montanhas no horizonte indicavam que estávamos cada vez mais perto do nosso objetivo. Ainda não era a própria Antártida, mas um arquipélago de ilhas conhecido como South Shetland Islands. As tais montanhas que víamos pertenciam à ilha mais ao norte desse arquipélago, com o sugestivo nome de “Ilha Elefante”, ou “Elephant Island” em inglês.
Nosso roteiro pelos mares do sul entre Falkland, Geórgia do Sul, Península Antártica e Ushuaia
Nosso roteiro e pontos de parada na região da Península Antártica
É claro que o nome da ilha não tem nada a ver com os simpáticos paquidermes africanos e indianos. Na verdade, é uma referência aos gigantescos pinípedes (as populares focas) que costumam aparecer nas poucas praias de pedra da ilha, os mesmos elefantes marinhos que tanto vimos na Geórgia do Sul. Eles não são tão comuns por aqui, mas chamaram a atenção dos primeiros exploradores há cerca de 200 anos. Esses intrépidos aventureiros não pararam por aqui, mas o apelido que deram para a ilha pegou e assim ela ficou conhecida.
A paisagem escarpada de Cape Lookout, em Elephant Island, na Antártida
A costa gelada de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
O panorama de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Desde então, Inglaterra, Chile e Argentina têm reclamado soberania sobre ela e todo o arquipélago, mas o Tratado Antártico definiu que este é um território internacional, próprio a pesquisas científicas e livre de exploração comercial. Aqui tivemos nosso primeiro contato com ares e mares antárticos, a emocionante sensação de estar a menos de 250 km da ponta norte da Península Antártica. Ainda faltam esses quilômetros para chegar lá, mas a sensação já é a de estar no continente branco, uma paisagem dominada por montanhas nevadas, enormes geleiras, animais típicos da Antártida e a certeza de estar muito longe da civilização.
Guias prontos para os passeios de zodiacs, em Point Wild, Elephant Island, na Antártida (foto de Jeff orlowski)
A escocesa Rowan e a americana Sara, felizes de estarem de volta ao mar, em Elephant Island, na Antártida (foto de Jeff orlowski)
Um zodiac e seus passageiros quase desaparecem perto da imensidão gelada de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Ao longo do dia fomos conhecer dois pontos da ilha. De manhã, uma passeio de zodiac ao redor das encostas rochosas e dos icebergs que flutuam por aqui num local chamado “Point Wild”. De tarde, outro passeio de zodiac, mas agora com direito a desembarque numa praia rochosa de Cape Lookout, já na costa oeste da ilha. Nas duas oportunidades, muita chance de ver de perto parte da rica fauna antártica, como pinguins, focas e até um emocionante encontro com baleias. Vou falar desses encontros nos próximos posts (teve até nossa primeira foca leopardo!!!) porque agora quero falar de história e de gelo.
de zodiac, dando a volta em Cape Lookout, em Elephant Island, na Antártida
observando a beleza selvagem de Cape Lookout, em Elephant Island, na Antártida
Caminhando na praia rochosa de Cape Lookout, em Elephant Island, na Antártida
Foi em Point Wild que ocorreu um fato jamais esquecido na história das grandes aventuras de exploração do mundo e que tornou a isolada Elephant Island para sempre celebrada nos anais das grandes proezas humanas. Foi aqui que, após meses vagando sobre uma enorme plataforma de gelo flutuante, a tripulação do Endurance pode, pela primeira vez em mais de um ano, pisar em terra firme. Mas a aventura ainda estava muito longe de terminar...
Shackleton e sua tripulação presos em Elephant Island
Saída para a longa viagem entre Elephant Island, na Antártida, para a Geórgia do Sul
Eu já contei essa história em outro post, quando visitamos o túmulo de Shackleton na Geórgia do Sul. Sir Ernest Shackleton era o líder da expedição exploratória inglesa que pretendia, entre 1915 e 1916, realizar a primeira travessia transantártica da história. O objetivo nunca foi atingido e, na verdade, a grande aventura (e o grande feito!) foi conseguir sobreviver durante tanto tempo neste ambiente inóspito que são as regiões polares do sul do planeta. Resumindo a história, o Endurance, o navio da expedição, ficou preso no gelo antártico muito antes de chegar ao continente e ficou ao sabor das correntes marinhas que carregavam a plataforma de gelo. Após algum tempo o movimento do gelo acabou destruindo e engolindo o Endurance e, muito tempo depois, acabou por trazer toda a tripulação do barco afundado até aqui, a Elephant Island.
O Sea Spirit ancora na baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
A mar semi-congelado da baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Blocos de gelo são deixados pelo mar em pequena praia de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Naquela época, há quase cem anos, as chances de resgate nessa ilha eram nulas. Em plena 1ª Guerra Mundial, o tráfego de navios por esta região era inexistente. Shackleton resolveu partir para o tudo ou nada e, junto com outros cinco tripulantes, a bordo de um pequeno bote salva-vidas, o James Caird, partiu em 24 de Abril de 1916 numa tentativa quase suicida de chegar até a Geórgia do Sul. Lá ele sabia que existia estações baleeiras que poderiam ajudar a organizar um resgate. Milagrosamente, duas semanas mais tarde e depois de cruzar mais de 1.200 km de mar aberto, além da épica travessia caminhando pelas montanhas da Geórgia do Sul, ele chegou à civilização. Mas seria apenas no dia 30 de Agosto de 1916 que ele conseguiria chegar de volta à Elephant Island com um barco de resgate para salvar sua tripulação.
Uma geleira encontra o mar em Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
A água do mar escorre de rochedo em Cape Lookout, em Elephant Island, na Antártida
Portanto, seus homens tiveram de sobreviver por aqui por mais de 4 meses! Só podemos dar o real valor à façanha conhecendo de perto o local onde eles sobreviveram. Difícil imaginar local mais inóspito. Era inverno e, por aqui, nessa época do ano, quase não há luz do sol, uma espécie de noite interminável. A temperatura está sempre muito abaixo de zero e os ventos não param. Obviamente, não há madeira na ilha para se construir um refúgio e tudo o que aqueles homens tinham eram o pouco que tinham salvo do Endurance além de dois outros botes salva-vidas que foram desmontados para se montar um abrigo mais rústico. A praia de pedra onde ficaram é minúscula e constantemente fustigada pela maré de águas geladas. É inacreditável que tenham sobrevivido por tanto tempo...
Nosso zodiac enfrenta um mar semi-congelado na baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Início do desembarque nas águas geladas de Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
A comida vinha da caça dos poucos pinguins e focas que encontravam por aqui. Nessa época do ano, não são muitos os animais que dão a cara por essas bandas. A gordura das focas também servia de combustível para as poucas lamparinas que tinham para conviver com a escuridão interminável. O líder dos homens, muito bem escolhido por Shackleton, era Frank Wild. Por sua incrível competência e liderança (ninguém morreu e nunca houve brigas!), o local está batizado com o seu nome: Point Wild
Estátua que homenageia a tripulação do Endurance que sobreviveu alguns meses na baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Estátua em homenagem aos tripulantes do Endurance que passaram vários meses em Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
Nós não desembarcamos ali, apenas demos a volta de zodiac. Do barco, além das pedras, pinguins, gelo e o pequeno espaço onde viveram esses valentes, também avistamos uma estátua, uma marca humana algo destoante em meio àquela natureza selvagem. Logo imaginei que o busto, hoje cercado apenas de pinguins chinstrap, era uma homenagem a Wild ou ao próprio Shackleton. Que nada! O homenageado é Luis Pardo, um capitão da marinha chilena. Foi ele que, enfim, conseguiu resgatar os náufragos em Elephant island. Shackleton já havia tentado 3 vezes com barcos da Geórgia do Sul, mas as condições do inverno dificultavam o resgate. Enfim, já em Punta Arenas, conseguiu apoio da marinha chilena. A bordo do Yelcho, ele guiou Pardo através do mar gelado e conseguiu salvar todos os homens de sua tripulação. O capitão chileno recusou um prêmio em dinheiro oferecido pela Inglaterra, dizendo que apenas cumprira uma tarefa designada pela marinha de seu país.
Um pequeno pedaçõ da geleira desaba nas águas da baía de Point Wild, em Elephant Island, na Antártida, causando muito barulho, nuvens e ondas,
Nosso guia nos ensina os segredos contados pelo gelo que flutua na baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Examinando um bloco de gelo que flutuava nas águas de Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
O mar continua muito gelado ao redor de Point Wild. Mas agora, já em Novembro, as condições são muito melhores do que no auge do inverno, em Agosto. Mesmo assim, nossos zodiacs têm de driblar os blocos de gelo que flutuam pela baía. Quase todos eles são provenientes das enormes geleiras que escorrem das altas montanhas de Elephant island. Vimos e ouvimos vários “desabamentos” de gelo sobre o mar, algo que sempre nos causa calafrios na espinha. Nosso guia, um glaciologista, aproveitou a oportunidade para nos ensinar mais sobre o gelo, a história que ele conta, sua origem no alto das montanhas, processo de formação e final de vida no mar. Alguns pedaços são do tamanho de bolas de futebol enquanto outros, os maiores, chegam ao tamanho de pequenas casas.
Sol ilumina um enorme iceberg tabular nas costas de Elephant Island, na Antártida (foto de Melissa Bartlett)
Um belo e majestoso iceberg flutua na baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Um belo e majestoso iceberg flutua na baía de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
Grandes? Não, grande é outra coisa, é aquilo que flutua na entrada da baía, um autêntico e gigantesco iceberg tabular, vindo diretamente das plataformas de gelo da Antártida. Com dezenas de metros de altura e centenas de metros de lado, isso é apenas a parte visível, já que a grande maioria de sua massa, cerca de 8/9 dela, está escondida abaixo da superfície do mar. Até o nosso Sea Spirit fica pequeno perto deles.
Um enorme iceberg tabular pouco antes de afundar na baía de Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
De volta ao Sea Spirit após passeio de zodiac em Point wild, Elephant Island, na Antártida
Iceberg tabular se vira, afunda e deixa apenas uma pequena parte de seu corpo fora da água na baía de Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
Passageiros observam incrédulos a iceberg que afundou na baía de Point Wild, em Elephant Island, na Antártida
Pois bem, com nossos zodiacs, a gente chegou mais perto desses magníficos e belos gigantes. Não tanto como gostaríamos, mas perto o suficiente para admirar e fotografar a sua beleza. Não chegamos mais perto pelo risco que há deles se virarem e causarem grandes ondas. Pelo menos, foi o que disse nosso guia, embora não acreditássemos muito nesse perigo. Bem, nossa incredulidade não durou muito. Meia hora mais tarde, todo mundo já a bordo do Sea Spirit, eis que o gigantesco iceberg realmente se virou. Parece que de propósito, diante dos olhos atônitos de dezenas de turistas e tripulantes. Um verdadeiro espetáculo de proporções titânicas. Felizmente, nenhum zodiac por perto. Teria sido difícil escapar de um banho gelado, bem gelado! A visão desse enorme iceberg se virando foi apenas uma das muitas e incríveis surpresas que tivemos nesse dia. Houve muitas outras, devidamente relatadas nos posts seguintes...
O Sea Spirit fica pequeno quando comparado às encostas geladas de Point Wild, em Elephant island, na Antártida
O Sea Spirit fica pequeno perto dos enormes blocos de gelo na região de Point Wild, Elephant Island, na Antártida (foto de Jeff orlowski)
Vista do parque El Yunque, em Porto Rico
Hoje fomos conhecer a mais famosa atração natural de Porto Rico: o parque nacional El Yunque, onde está a montanha de mesmo nome e uma rica floresta tropical ao seu redor. São centenas de variedades de árvores, répteis, insetos, anfíbios, aves e mamíferos numa região que esbanja vida a cada metro quadrado.
Vista do parque El Yunque, em Porto Rico
Fica a uma meia hora aqui de Fajardo (e a 40 min de San Juan) e logo cedo já estávamos lá, para poder explorar o máximo possível. "Explorar" é modo de dizer porque já está tudo exploradíssimo. Inclusive, uma boa parte das trilhas do parque é asfaltada ou cimentada. É até meios estranho, quase surreal, passear pelo meio da floresta seguindo uma espécie de calçada. Deste modo, podemos explorar a floresta de chinelos! Nós e uma centena de outros turistas, alguns dos quais eu jamais imaginaria ver algum dia subindo algum morro ou atravessando alguma mata. Mas, vivendo e aprendendo, lá estavam esses valentes, 120 kg de puro hamburguer, "explorando" o parque. Confesso que fiquei boquiaberto.
Trilha em El Yunque - Porto Rico
Eu e a Ana começamos cedo e ainda pegamos as trilhas relativamente vazias. Resolvemos começar pela parte alta do parque, subindo as montanhas e depois, ir descendo e procurar algum rio ou cachoeira para nadar. Logo no alto da segunda montanha encontramos um casal de americanos que adoram uma caminhada. Já estiveram em muitos lugares, da África à América do Sul. Simpaticíssimos. Cada vez mais encontro americanos dos quais viro fã. Bom, encontro os outros também, mas isso é para outro post...
A grande maioria dos visitantes do parque é americana. A floresta tropical, para nós algo meio banal, para eles é uma coisa de outro mundo. Para nós, de outro mundo são as calçadas cruzando a floresta. Já para eles, isso é o que é o banal.
Cachoeira da Mina em El Yunque - Porto Rico
Bom, depois das montanhas, partimos para as cachoeiras. Na verdade, para nadar, só havia uma. E fila para chegar até lá. Fila pelas estreitas calçadas floresta abaixo. Filas com senhoras idosas e senhores acima do peso. Arfando ou não, o que importa é que chegavam à cachoeira. Mas apenas uma minoria entrava. Eu e a Ana incluídos. A primeira cachoeira da nossa viagem! Primeira de muitas! A água estava uma delícia. Nada como uma água fresca e doce, depois de tanta água salgada. Deu até para tomar uma ducha. Sem muita privacidade, mas quem está na água é para se molhar mesmo!
Banho na Cachoeira da Mina em El Yunque - Porto Rico
Além do exercício do passeio e das belas paisagens, uma aula de botânica e zoologia, através dos cartazes informativos espalhados pelas trilhas. Até aprendi que o único mamífero natural de Porto Rico é o morcego (várias espécies). O resto, é tudo importado. Além disso, nenhuma cobra venenosa (porque elas seriam, sem mamíferos predadores e apenas presas pequenas de sangue frio?)
Voltamos para Fajardo para mais um programa ecológico. Final de tarde, início da noite, seguimos de caiaque, através de um canal no mangue (nós e uma galera!) para uma laguna onde se pode observar perfeitamente o fenômeno da bioluminiscência de plânctons. O caminho através do mangue quase escuro já foi incrível. Vinte minutos de remadas depois, entrar na laguna foi ainda mais legal. E aí, ver aquela água brilhando quando fazíamos qualquer movimento foi mágico. Pena que não podíamos nadar para não matar as pobres criaturinhas. Mas, mesmo de fora d'água, eles (os plânctons) já são um show. O próprio programa, ir de caiaque através de um mangue escuro, já vale o esforço.
Não satisfeitos ainda com o dia, ainda fomos celebrar num boteco na beira da praia (na verdade, marina) com música típica, três senhores de mais de 60 anos dando um show de música portorriquenha.
Boteco com música ao vivo em Fajardo - Porto Rico
Saboreando um pastellito de cangrejo e outro de pollo e me refrescando com uma Medalla Lite, pensei que há algumas palavras em castellano que me gustan mucho. Uma delas é "naturaleza". Sob o embalo daquela música tão bem tocada e cantada, ainda ecoava em mim o show da naturaleza que eu tinha acabado de assistir. E no distante horizonte, se levantava uma lua cheia esplendorosa. Amém.
Maravilhado com a gigantesca e milenar araucária na região de Nova Petrópolis - RS
Tiramos a manhã de hoje para passear na tranquila e simpática Nova Petrópolis, cidade na serra gaúcha a 30 km de Gramado. Cidade bem gostosa de ficar e eu não acharia nada mal passar uma semana por lá, curtindo o hotel Pousada das Neves, passeando pela praça florida da cidade, comendo em seus restaurantes saborosos.
Repolhos Ornamentais no jardim da praça central de Nova Petrópolis - RS
Mas nós não temos uma semana pois temos de chegar em Curitiba na sexta de noite ou sábado cedo. Assim, fomos só conhecer a praça central cuja decoração é feita com repolhos! Isso mesmo, uma espécie de repolho decorativo, roxo ou branco, que fica tão bonito como flores. Muito interessante! Outra coisa que aprendi por ali foi sobre o padre alemão Theodor Amstel, que veio junto com outros imigrantes alemães no início do século passado e foi o fundador do cooperativismo no Brasil. Ele viveu na região de Nova Petrópolis e a cidade lhe fez uma justa homenagem na praça, com uma bela estátua.
Estátua em homenagem ao fundador do cooperativismo no Brasil, o padre alemão Theodor Amstel, em Nova Petrópolis - RS
De lá seguimos para um dos distritos do município, já em direção à Gramado, em busca de outra das grandes atrações de Nova Petrópolis: uma araucária multisecular, talvez até milenar, com um daqueles troncos em que é necessário muitos e muitos homens para abraçar. Foi, sem dúvida, o maior pinheiro que já vimos, uma árvore linda e imponente, que já estava por aqui muito antes dos portugueses e espanhóis chegarem ao Rio Grande. É emocionante estar perto de um ser vivo tão antigo e sábio, que tanto já viu. E pensar que deveriam haver dezenas e dezenas desses por aí, que foram derrubados sem dó nem piedade para se transformarem em casas, cercas, móveis e lenha de fogueira... Bom, pelo menos esse ficou, preservado pela família que tinha a propriedade onde ele está por muitas décadas. Hoje, ele é protegido por lei municipal e se transformou em ponto de visitação. Vale à pena, sem dúvida!
Placa informativa sobre a araucária multissecular, em Nova Petrópolis - RS
Continuamos nosso caminho para Gramado, onde fizemos algumas compras e pudemos passear pelo seu centro agora de dia, já que ontem já era noite quando ali chegamos vindos do Lago Negro. Os turistas passeiam para lá e para cá, entre as lojas de chocolate, restaurantes e atrações turísticas, como a igreja, museus, o Palácio dos Festivais (em reforma) entre outros. Aquela arquitetura típica da cidade nos faz pensar que estamos na Europa. Ou, quem sabe mais pertinho, em Campos do Jordão. Acho as duas cidades muito parecidas!
Como diria Napoleão, "Do alto dessa árvore, dez séculos te contemplam!" (em Nova Petrópolis - RS)
Aí já era hora de fazer a longa viagem para São Joaquim, de volta à Santa e bela Catarina. Para evitar uma longa volta por estradas de asfalto, optamos por um atalho em estradas de terra. Já era noite quando cruzamos o rio que marca a fronteira entre os dois estados. Nesse caminho de chão, entre Bom Jesus, no Rio Grande, e São Joaquim, em Santa Catarina, a fronteira é marcada por duas longas pontes sobre uma confluência de rios. Muito legal, a noite estava clara e fria e parecia que éramos as únicas pessoas no mundo. Naquela hora, impossível fotografar o que víamos, pois já estava escuro. Lembranças que ficarão apenas na memória...
Todo mundo fica de olho no termômetro no inverno de Gramado - RS
Interior de igreja em Gramado - RS
Enfim, quase nove da noite, chegamos à São Joaquim. Para quem estava fazendo um tour pelas cidades mais frias do Brasil, seria uma falha imperdoável não passar na mais fria de todas. Urubici tem temperaturas mais frias, mas apenas em sua área rural e, principalmente, no Morro da Igreja. Considerando apenas os centros urbanos, São Joaquim é 200 metros mais alta, a 1.350 metros de altitude. Isso se reflete em temperaturas mais baixas. Tanto que, quando chegamos, mesmo neste fim de frente fria, a temperatura já era de 1 grau e a madrugada prometia números negativos. Assim, foi só o tempo de comermos uma pizza na Taverna e corrermos para nosso quarto quentinho, no alto do Park Hotel. Amanhã, voltamos ao ponto de partida, nossa querida Curitiba.
Arquitetura típica em Gramado - RS
Arte nas ruas de Pétion-Ville, bairro mais chique de Port-au-Prince, no Haiti
Depois de acordarmos em frente ao mar na praia Obama e passarmos pelo vibrante mercado de rua de Cabaret, voltamos para nossa “casa” na cidade de Port-au-Prince, o hotel Le Perroquet. Na verdade, ele fica no subúrbio da cidade, no bairro chamado Pétion-Ville (fala-se “Péchion-Vil”), o mais famoso da capital haitiana.
Muito equilíbrio nas ruas de Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
Pétion-Ville é o bairro chique da cidade, onde moram a maioria dos diplomatas e expatriados e onde se hospedam boa parte das pessoas que visitam Port-au-Prince. Esses visitantes dos dias de hoje são, na maior parte, pessoas ligadas à ONGs que atuam no país, pois o número de turistas ainda é bem pequeno, embora venha crescendo ultimamente e, esperamos todos, continue a crescer.
Principal praça de Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
Igreja na praça principal de Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
Mesmo sendo considerado chique, já faz tempo que também ele foi tomado pelos haitianos mais pobres, que vieram em busca de oportunidades de emprego e comércio. O bairro é cercado de favelas coloridas em todas as encostas ao redor e seus habitantes passam o dia no bairro, seja trabalhando em hotéis, restaurantes ou supermercados, seja no comércio ambulante. Ou então, simplesmente perambulando por ali, para ver se aparece alguma oportunidade.
Área de mansões em Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
As favelas de Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
O resultado é aquele contraste que tanto caracteriza o país: pobreza e riqueza convivendo lado à lado. Para quem acha que isso é bem claro no Brasil, precisa vir ao Haiti. Vizinhos separados por alguma cerca, muro ou encosta, algumas das maiores mansões que se possa imaginar e extensas favelas onde moram milhares de pessoas. Nas ruas, quarteirões inteiros tomados por feiras livres e sua característica confusão e supermercados e lojas exclusivas, com produtos trazidos diretamente da França, com custos que devem valer o salário anual da maioria das poucas pessoas que tem emprego fixo.
Uma das muitas escolas em Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
Embora isso possa assustar quem não está acostumado, nossa experiência e sensação, após dois dias caminhando por lá foi de total segurança. Nas ruas, logo chamamos a atenção pela nossa cor de pele, mas não tanto assim dentro dos supermercados mais chiques, que quisemos conhecer também. A poucos quarteirões do hotel, a principal praça de Pétion-Ville, com igreja, escola, floricultura, muita arte nas esquinas e centenas pessoas nesse grande espaço público, aparentemente apenas vendo a vida passar. Fizemos o mesmo, observando a movimentação na escola em frente e o belo dia que fazia.
Socializando em floricultura em Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
Além da praça, não há muitas atrações turísticas por aqui. Talvez, a maior delas seja simplesmente perambular sem rumo, observar o comércio e cruzar as feiras agitadas. Ver que, de alguma maneira, a vida anda por aqui, com sua dinâmica própria.
Socializando em floricultura em Pétion-Ville, bairro mais chique da capital Port-au-Prince, no Haiti
Ficamos amigos (A Ana, principalmente! Claro!) do vendedor de quadros da praça e também do pessoal da floricultura. No último dia, a Ana não resistiu e comprou uma bela gravura por lá, a lembrança que sempre teremos desse país nas paredes da nossa futura casa. Ela comprou também, lá na floricultura, flores de bananeira. Um presente para a Lana, que usa essas flores em alguns de seus exóticos e deliciosos pratos.
Feliz após a compra de um quadro em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
O hotel Le Perroquet, nossa casa em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
A Lana e seu marido, o Eric, possuem um verdadeiro oásis bem no coração desse agitado bairro. Para conseguir chegar à porta do hotel, temos de passar por vendedores de sapatos e motoristas de mototáxi, mas quando subimos os poucos degraus até a recepção, o barulho alto fica para trás e é substituído por boa música e um ambiente de paz e tranquilidade, onde fomos recebidos na primeira vez com um coquetel de boas vindas e aonde sempre parávamos um pouco para nos refrescar com uma cerveja gelada ou nos esbaldar com alguma comida.
Vista do telhado do nosso hotel em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
Port-au_Prince vista do telhado do nosso hotel em Pétion-Ville, no subúrbio da capital, no Haiti
Do alto do telhado do prédio de quatro andares, uma excelente vista, não só do bairro com suas favelas e mansões dividindo o mesmo espaço, mas também do centro da cidade, lá longe, no vale a uns 5 quilômetros de distância.
Com a Lana e o Eric, donos do hotel Le Perroquet, em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
Com a simpática funcionária do hotel Le Perroquet, em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
O Eric e a Lana vieram para o Haiti há pouco tempo, para transformar o imóvel da família nesse simpático hotel. O Eric é haitiano, mas viveu boa parte da vida fora do país. Conheceu a russa Lana na Tailândia, onde vivam os dois. Depois, tiveram um hotel em Bali. Mas o chamado de um tio os fez voltar à pátria do Eric, onde desejam contribuir para a retomada do turismo no Haiti. O Le Perroquet foi o primeiro e importante passo: o primeiro bom hotel com preços acessíveis nesse bairro. Antes, era preciso pagar o dobro para ficar em locais bem menos agradáveis. O plano é abrir outros hotéis, em cidades de praia e montanha do país, um verdadeiro tesouro turístico ainda inexplorado.
Com a Lana, no hotel Le Perroquet, em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
Despedida do Le Perroquet, em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti. Hora de seguir para o aeroporto com a Elise
Nós fomos embora do Le Perroquet no dia 24, já com saudades do lugar a da companhia. Não só deles, mas também dos funcionários. A sensação é que voltaremos a nos ver, seja aqui no Haiti, no Brasil ou em algum lugar do mundo. Quem sabe na Ucrânia? A descrição que a Lana fez de sua cidade natal foi tentadora! Vamos ver... Eric e Lana, muito obrigado por nos receber tão bem em sua casa e nos ajudar a compreender um pouco mais desse lindo país que vocês estão ajudando a construir!
Com a Lana, no hotel Le Perroquet, em Pétion-Ville, no subúrbio da capital Port-au-Prince, no Haiti
Paisagem da Toca do Catitu II, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
O Parque Nacional da Serra da Capivara é espetacular! Um dos mais antigos (1979) e bem organizados parques do país, atração de nível internacional, tem como principais atrativos os sinais dos mais antigos habitantes das américas além de paisagens dramáticas, grandes rochedos que se erguem sobre a caatinga e são testemunhos de outras épocas, quando a região tinha clima tropical e era habitado por preguiças gigantes e tigres dente de sabre.
Procurando a sombra durante caminhada na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
O parque é fruto da luta de uma mulher, meio brasileira meio francesa, uma heroína de nossa época, a arqueóloga Niède Guidon. Desde o início dos anos 70 ela frequentava e pesquisava os sítios arqueológicos da região e conseguiu, ainda no tempo do General Figueiredo, que um parque fosse criado para proteger os tesouros arqueológicos da Serra da Capivara. Aliás, o próprio nome da serra vem das pinturas onde os antigos moradores indentificavam capivaras, apesar de não existir nenhuma aqui por perto, nem em registros fósseis.
Pintura de veado galheiro na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Observando pinturas rupestres na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
São centenas de paredões que se erguem sobre a caatinga, vários deles repletos de pinturas rupestres, algumas com 10 mil anos de idade. As pinturas retratam animais que viviam aqui naquele tempo, cenas do cotidiano daqueles povos, como rituais, caça e sexo ou desenhos abstratos que talvez nunca conheçamos o real significado. São mais de mil sítios arqueológicos, pouco mais de uma centena deles abertos à visitação. Em alguns sítios é possível passar horas admirando e tentando entender as pinturas. Em outros, passamos as mesmas horas admirando a natureza esplendorosa ao nosso redor. Por isso, é um parque que exige bastante tempo para se conhecer. O melhor a fazer e contratar um guia experiente, combinar o que se deseja ver e deixar que ele mesmo faça o roteiro para pelo menos arranhar um pouco a superfície desse verdadeiro universo de conhecimento.
Pintura Rupestre de macaco e filhote, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Foi o que fizemos. Temos três dias para passear pelo parque e contratamos o Rafael, um excelente guia, tanto no trato como no conhecimento, para nos guiar por essa região fantástica. Dissemos à ele que queríamos pinturas e paisagens, além de todo o conhecimento possível que ele pudesse passar. Formado em Geografia pela Universidade do Piauí e conhecedor da geologia, história e estórias da região, ele foi nos dando aulas e aulas enquanto andávamos pela quente caatinga ou nos refrescávamos nas sombras das tocas, ou "cuestas" onde se encontram as pinturas.
Toca com várias pinturas rupestres na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Discutimos bastante também sobre a teoria da chegada do homem às américas. A teoria antiga e ainda vigente nos livros mais tradicionais diz que o homem chegou no nosso continente por Bering, entre Sibéria e Alaska, há uns 13 mil anos. Mas Niède diz que os homens já estavam por aqui há muito mais tempo, perto de 100 mil anos atrás. Teriam vindo da África diretamente pelo Atlântico. E também da Polinésia, pelo Pacífico. No parque há sinais indiretos da presença do homem por aqui de 50 mil anos (restos de uma fogueira). O debate é acalorado, mas de uma coisa podemos ter certeza: a teoria tradicional está completamente furada e certamente a data de chegada deve ser "empurrada" para trás. Quanto para trás, esta é a questão. E é aqui, no interior do Piauí, onde está uma das fronteiras que vão nos ajudar a entender melhor a nossa história. Nossa, do homem das américas e de toda a raça humana.
Ruínas de antigo forno de farinha sob toca na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
No nosso primeiro dia no parque, estivemos em várias tocas para observar as pinturas. Tocas como da Roça do Brás, do Macaco, do Sítio do Meio e do Boqueirão Pedro Rodrigues, entre outras. Muitas tem o nome de seus antigos proprietários, maniçobeiros que desbravaram a região. Maniçoba é uma prima da seringueira e dela se faz borracha. Era o que impulsionava a economia da região há 100 anos. Essas pessoas muitas vezes viviam sob as tocas e ali faziam suas fogueiras e fabricavam suas farinhas. As pinturas acima não tinham muito valor para eles e muitas se perderam pelo desgaste. Foi a criação do Parque que salvou esse tesouro, para alegria da civilização e tristeza de muitos dos proprietários e antigos senhores da região.
Setas indicativas na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Passamos também por partes da principal trilha do parque, a Hombu, que corta vales, canyons, caatinga, tocas e leitos de antigos rios. Estivemos em mirantes que nos proporcionaram vistas fantásticas da paisagem do lugar, com suas pedras e rochedos que tanto lembram a Capadócia, exceto pelo verde da caatinga. Aliás, esse verde serviu para desmontar o mito arraigado em mim de que a caatinga é sempre seca e desfolhada. Caatinga quer dizer Floresta (tinga) Branca (Caa), mas nessa época ela é bem verdinha!
Paisagem da Toca do Catitu II, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Os mirantes mais belos que estivemos são o da Toca Catitu II e o do "Alto do Fundo do Baixão da Pedra Furada". Lá de cima, ficamos tentando imaginar como era a região há 10 mil anos, com rios caudalosos, mega fauna e floresta tropical. Os rochedos são testemunha disso tudo e cabe a nós tentar ouvi-los e entendê-los nas suas "lembranças", na forma de sedimentos e camadas estratigráficas.
Paisagem na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
No fim do dia, ainda fomos visitar o Museu do Homem Americano, que guarda algumas das principais descobertas arqueológicas da regiãos, desde ossos humanos e de animais pré-históricos até utensílios usados por esses nossos primos distantes numa época em que o mundo era bem diferente do que conhecemos hoje.
Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato - PI
Cartazes no Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato - PI
Um dia cheio que encheu nossas mentes de indagações e admiração. E nos deixou sedentos para voltar ao parque e continuar nossas explorações...
Beijo na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
A famosa Pedra Furada, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Estrada cruzando o sertão da Bahia em direção à Chapada Diamantina
Hoje deixamos Mangue Seco e o mar para trás. Depois de tanto tempo na costa, desde Vitória no Espírito Santo até a fronteira de Bahia e Sergipe, já era hora de voltarmos ao interior. Serão três semanas no sertão, até voltarmos para a costa em Recife, em tempo de voarmos para Fernando de Noronha, no dia 10 de dezembro.
Despedida de Mangue Seco (BA), na travessia para Pontal (SE)
Logo cedo, o Givaldo foi nos buscar de barco. Que tristeza deixar Mangue Seco... Mas, é assim que tem sido em todos os lugares e já estamos acostumados. Durante a travessia para Sergipe o Givaldo foi dando uma aula de pescaria e de técnicas de navegação de barcos pesqueiros. Aula prática, pois tinha um pesqueiro à vela ali do lado, apostando corrida com a gente.
Barco à vela de pescador, durante a travessia Mangue Seco (BA) - Pontal (SE)
A Fiona nos esperava e logo deixamos Sergipe para trás. Vamos voltar com mais tempo depois de Noronha! Voltamos para a Bahia e seguimos rumo à Feira de Santana, o principal entroncamento rodoviário do estado. Parece que todas as estradas passam por lá. Pois é, até Feira a viagem foi tranquila mas depois, um trânsito infernal até a bifurcação da estrada, uns 60 km depois. A grande maioria dos caminhões seguem pela BR-116, em direção ao sul do país. E uns poucos felizardos seguem na Salvador-Brasília. Estrada muito boa e vazia. Uma reta só!
Mapa da nossa viagem entre Mangue Seco e Lençóis (BA)
Não demorou muito e já estávamos em pleno sertão. Vegetação totalmente distinta daquela do litoral. Ao invés de coqueiros, cactus! Lá fora, longe do confortável ar condicionado da Fiona, 37 graus!!!
Vegetação de caatinga no interior da Bahia
Primeira visão da Chapada Diamantina, em Lençóis - BA
No fim de tarde, avistamos a Chapada Diamantina, com sua silhueta inconfundível Emocionante revê-la! Já estive aqui 3 vezes, a primeira há vinte anos, a última há dez anos. É um lugar especial, sem dúvida. Quando algum gringo me pergunta qual lugar deve conhecer no Brasil, a Chapada Diamamntina sempre, sempre, sempre está na minha lista. Seja de dez lugares, de cinco ou de três.
Visão de Lençóis - BA
A gente se instalou na Pousada Casa da geléia e fomos passear e jantar nas simpáticas ruas de paralelepípedo de Lençóis, a mais famosa cidade da região. Cidade histórica, casario antigo, pousadas e restaurantes charmosos. Uma graça!
Casario antigo em Lençóis - BA
De noite, já na pousada, tivemos uma longa conversa com o Lúcio, grande conhecedor da região. Ele nos ajudou a montar um roteiro de dez dias por aqui. E não achem que é muito não! É pouco! Acho que seria preciso um mês para explorar tudo o que o parque e a região oferecem: cachoeiras, montanhas, cavernas, lagos subterrâneos, caminhadas e até um mini-pantanal. Além de várias cidades históricas e charmosas e muita comida boa. O lugar é o paraíso do turismo. Pelo menos, do turismo que eu gosto de fazer...
Roda de capoeira em Lençóis - BA
Então, é isso. Amanhã começamos nosso tour pela Chapada. Depois, teremos só mais dez dias para cruzar o sertão. Mas, como já disse, depois de Noronha, voltaremos à ele.
Tomando vinho em rua charmosa de Lençóis - BA
A cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Quando chegamos à Calgary, dois dias atrás, logo ficamos amigos do gerente do hotel. Ele até nos deu um desconto, em reconhecimento a termos chegado tão longe. Foi ele também que, ao descobrir que o próximo destino seria Banff, nos alertou: esse fim de semana era prolongado, por causa do feriado na segunda-feira, e o parque e hotéis da região estariam lotados, além de muito caros. Calgary inteira iria para lá...
Artista de rua na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Então, naquela mesma noite, nosso amigo Priceline fez o melhor que pode e achou um hotel para nós em Kenmore, cidade a 20 quilômetros de Banff e melhor lugar para achar hotéis depois que a primeira opção se esgota. Também não estava muito barato, mas pelo menos estávamos garantidos dentro da enorme concorrência. A região do parque é a grande opção de viagens para o pessoal daqui, já que a praia mais próxima está a mais de mil quilômetros de distância!
Com a famosa Polícia Montada, na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Saímos na sexta na hora de almoço e já deu para perceber, pelo movimento da autopista dupla, que o destino é mesmo popular. Se já estava assim àquela hora, imagina no final da tarde... Viagem curta, menos de uma hora e chegamos à simpática Kenmore. Vários hotéis gigantes, prontos para aproveitar a demanda. A gente se instalou, pegamos umas dicas sobre o que ver e fazer no parque com o pessoal do hotel e nos mandamos. Logo na saída de Kenmore já está a entrada do parque. Pagamos 9 dólares por pessoa (já estou com saudade do nosso super passe anual, lá dos Estados Unidos), que é válido para permanência até as 16 horas do dia seguinte e entramos no famoso Banff National Park.
Charmoso restaurante na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Esse parque foi criado no início do século passado para proteger uma área de natureza e fauna exuberante, entre lagos, montanhas e canyons. O centro nevrálgico do parque é a charmosa cidade de Banff, que muito lembra a nossa Gramado ou Campos de Jordão, pela arquitetura, clima, lojas e restaurantes. No Canadá, muitos parques nacionais tem cidades dentro da sua área, como foi o caso de Waterton, daqui e em Jasper, um pouco mais ao norte.
Comendo delicioso fondue na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Achamos um estacionamento para a Fiona, nos armamos de mapas e informações no centro de turismo e seguimos diretamente aos restaurantes, pois estávamos morrendo de fome. Não conseguimos resistir a um que anunciava deliciosos fondues, mesmo ainda não sendo de noite. Foi a melhor decisão do dia! O fondue de queijo estava absolutamente maravilhoso, talvez o melhor que comemos nesses 1000dias pelas américas, O clima frio ajudava ainda mais, assim como a paisagem e arquitetura alpina ao nosso redor.
Um dos muitos painéis explicativos sobre ursos no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
O belo lago de Minnewanka, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
A Ana ainda queria a sobremesa, mas consegui convencê-la a deixar para mais tarde. Afinal, pelo menos em teoria, tínhamos ido até lá para ver lagos e montanhas... Seguindo o conselho do hotel, fomos de carro para o lago Minnawanka, para uma caminhada pela sua orla. Água bem verde e fria, paisagem maravilhosa. Muitos avisos para tomar cuidado com os ursos. Estamos em plena temporada das berries, petisco delicioso para eles, e várias trilhas ficam com restrições. Aqui no Canadá, nessas épocas, algumas trilhas só podem ser percorridas por grupos de no mínimo quatro pessoas. Se estamos em dois, temos de esperar no início da trilha por mais pessoas. Só o spray não adianta!
Caminhada na orla do lago Minnewanka, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
De qualquer maneira, a trilha que percorremos não era das “perigosas”. Só uns poucos quilômetros bem light, para fazer a digestão do fondue. Interessante foi ver a história do lago. Queriam fazer uma represa por aqui, mas o movimento ecológico já era bem forte no início do século XX e conseguiu impedir o projeto por algumas décadas. Mas veio a 2ª Guerra Mundial e, com ela, regulações especiais. Aproveitando-se das leis de exceção, o Estado mandou às favas os ecologistas e fez a barragem, para gerar energia. Não sei as consequências ecológicas, mas a natureza acabou se adaptando e, no caminho, além de muitos outros turistas, cruzamos com uma fauna variada.
Esquilo nos observa atentamente no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Voltamos para Banff e fomos até o pé da montanha Sulphur Mountain. O nome vem das águas termais que vem da montanha. Embaixo, várias piscinas, devidamente exploradas por casas de banho. Mas nós queríamos era subir a montanha, pois a vista lá de cima tem fama de ser incrível. Nossa ideia era subir de bondinho, ou Gôndola, como chamam por aqui. Bem, era o nosso intuito, até descobrir o preço extorsivo da subida: quase 40 dólares por pessoa...
Bondinho para o alto da Sulphur Mountain, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Aí, já era demais! A alternativa era pouco menos de duas horas de caminhada até lá encima. A descida de gôndola é de graça, se for pela manhã ou no final da tarde. Para hoje, estava bem tarde para começarmos, então deixamos para amanhã cedo. Outro passeio bem caro é num ônibus especial pelas geleiras que ficam mais ao norte. Nós vamos até lá e fazer o passeio a pé mesmo, mas a Ana ainda posou para fotos na frente do tal ônibus. Com um pneu desse tamanho, deve ser difícil atolar...
Ao lado do veículo que leva turistas nas geleiras do Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Bem, sem subir de Gôndola ou a pé a Sulphur Mountain, restou para nós voltar para o centro da cidade para comer a tal sobremesa que não saia da cabeça da minha linda esposa: fondue de chocolate! Depois disso, de volta para o hotel. Amanhã, voltamos com disposição para subir a montanha e seguir viagem para Lake Louise. Vamos ver como será para achar hotel por lá...
Muito feliz com o fondue de chocolate na cidade de Banff, em Alberta, no Canadá
Admirando a fantástica paisagem do Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Início de verão nos EUA, férias escolares, turistas por todos os lados. Especialmente no litoral do Maine, região muito procurada nessa época, principalmente durante os finais de semana. Ou seja, chegamos aqui no pico do pico.
Paisagem marítima no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Se fosse em outras países, nem hotel encontraríamos. Mas aqui, imagina se eles não estão preparados para isso... Quartos mais caros, claro. Preços de alta temporada. Mas tem para todo mundo. Especialmente se nos afastarmos um pouco do centro.
Sand Beach, a única praia no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Enfim, com ou sem multidões, nosso objetivo hoje era explorar um pouco desse maravilhoso parque nacional chamado Acadia. De novo, como estamos nos Estados Unidos, uma estrada circular facilita o acesso às atrações principais do parque. Asfaltada, sinalizada, construída já na época do principal benfeitor do Acadia, John Rockefeller Jr.
Turistas examinam formação rochosa no litoral do Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Passeio no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
São cerca de 40 milhas de estradas que nos levam a estacionamentos de onde, com poucos minutos de caminhada, chega-se à mirantes, lagos, à única praia do parque, restaurantes ou até o início de trilhas. Aí sim, caminhando parque adentro, é possível se afastar um pouco das pessoas e achar o “seu espaço” dentro do Acadia. Mas agora, durante o fim de semana do mês mais concorrido do ano, mesmo as trilhas ficam mais cheias. Pelo menos, as mais conhecidas.
Início da trilha Penobscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Subida íngrime para Penobscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Felizmente, tivemos a sorte de encontrar um simpático garçom ontem de noite, bem conhecedor do parque, que já nos deu as dicas de quais trilhas seguir, tanto pela beleza cênica como pelo isolamento.
Mesmo assim, ainda resolvemos passar pelo centro de visitantes, logo pela manhã. Pelo menos para conseguir um bom mapa. E foi só isso mesmo que conseguimos. O centro estava lotado e o nosso atendente sabia menos do parque do que eu. Enfim, com os conselhos de ontem e o mapa, estávamos prontos para o dia!
A magnífica paisagem na subida para Penobscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Hora do descanso na subida para Penobscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Seguimos pela estrada circular, passando por alguns mirantes e tirando fotos. Depois, passamos pela cabeceira das duas trilhas mais conhecidas do Acadia, a “Precipice” e a “Beehive”. Como já estávamos avançados na manhã, nem se podia entrar nos estacionamentos dessas trilhas, de tão lotados que estavam. Finalmente, chegamos à portaria do parque, onde se paga a entrada. Não para nós, que temos aquele passe anual para todos os parques nacionais do país. Um dos nossos melhores investimentos por aqui!
A magnífica paisagem na subida para Penobscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
A paisagem grandiosa do Acadia National Park, vista já quase do alto de Penebscot, no Maine - Estados Unidos
Depois disso vem a Sand Beach, a única praia de verdade de toda a região. Muito bonita, muito cheia e muito fria. Cerca de 15 graus. Pausa para fotos e seguimos em frente, pois nosso objetivo era outro, hoje! Mas para chegar lá, ainda tivemos outras duas ou três paradas, para fotos e pequenas explorações. Todas na orla marítima do parque, cheia de formações interessantes e uma longa trilha que permite aos turistas os melhores ângulos para fotos da costa rochosa, das baías e da própria Sand Beach.
Bebel descansa no topo de Penebscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Metros finais para chegar ao pico de Penebscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Finalmente, chegamos à cabeceira da trilha de Penebscot, uma das muitas montanhas em Acadia. Nossa ideia era subir até lá e depois, através de uma combinação de trilhas secundárias, fazer um caminho circular para voltar ao ponto de partida. Acho que foi só aí que a Bebel começou a desconfiar das nossas “más intenções”. E a desconfiança logo se tornou “realidade” quando começou um trecho de escalaminhada montanha acima.
No alto de Penebscot, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Mas aí, já não tinha mais volta. A Bebel veio reclamando do garçom que tinha nos dado aquela ideia, com cara de sofrida, mas com incentivo e paciência, veio subindo também. Foram vinte minutos de subida mais árdua até chegarmos à crista da montanha, de onde se tinha uma vista deslumbrante, já acima da mata de pinheiros, lagos e baías nos cercando por todos os lados, por entre montanhas de granito.
Lago no alto do Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Delicioso banho em lago no alto do Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
A atual forma do Acadia é resultado da última era glacial, quando enormes lençóis de gelo vindos do norte se esgueiraram por entre os vales, abrindo novos caminhos, remodelando o relevo, criando passagens, arredondando montanhas, arrebentando e carregando milhares de toneladas de rochas nos seus rios de gelo. No auge da era glacial, eram dois quilômetros de gelo sobre as montanhas mais altas, algo como o interior da Groelândia de hoje. Com o fim da glaciação e o degelo, os oceanos subiram de nível, ocupando antigos vales, agora transformados em fiordes e baías. Onde o mar não chegou, lagos de água doce se formaram, entre as diversas cristas de montanhas de granito. O clima favoreceu o crescimento de florestas de pinheiros entre os lagos e montanhas, tudo tão perto do mar. O resultado fantástico na paisagem é o que podemos ver hoje, especialmente do alto de montanhas como a Penebscott.
Delicioso banho em lago no alto do Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Hora do lanche no meio da caminhada pelo Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Ali do alto, passamos uma boa meia hora extasiados com a paisagem que nos cercava, enquanto recuperávamos o fôlego. Aí, com o mapa de trilhas na mão, repensamos o nosso caminho, para diminuir o tamanho da volta. Afinal, não precisávamos subir outra montanha já estando no alto daquela, com uma vista tão impressionante.
Encruzilhada de trilhas no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Falando ao telefone no alto do Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Descemos para o outro lado da montanha e, logo ali, demos de cara um delicioso lago. O lugar perfeito para nosso piquenique e também para um mergulho refrescante. Ainda mais que a temperatura da água, com todo esse calor que está fazendo por aqui, é muito agradável. Difícil mesmo é ir embora e deixar aquele lugar mágico para trás.
Uma das muitas pontes de pedra das estradas de carruagem que cortam o Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Caminhada no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Foi depois desse lago que pegamos a trilha secundária, descendo pela crista de outra montanha e tendo, à nossa frente, o fantástico visual das inúmeras baías, braços de mar e ilhas do Acadia National Park. Uma verdadeira tela de IMAX. Foi bem nessa hora que o nosso telefone tocou e era minha irmã, falando do outro lado do Atlântico. Infelizmente, estamos com um telefone simples e não podemos transmitir as imagens também. Eu me senti numa propaganda da AT&T de vinte anos atrás, que muito me impressionava quando estive nos EUA há vinte anos. Uma moça ligava para seu namorado e perguntava se ele estava bem. A câmera o filmava em close e, aos poucos, fazendo um zoom out, mostrava que ele estava na beira do Grand canyon, enquanto ele só respondia: “Just great!”. O anúncio era para alardear a cobertura da empresa. Agora, 20 anos depois, posso dizer que a cobertura realmente é muito boa, hehehe!
Bebel comemora a chegada à Fiona depois da trilha pelo Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Depois da conversa transatlântica, seguimos por um canyon tomado pelos pinheiros, as únicas pessoas por ali. Nessa hora, a Bebel já não xingava o garçom, enquanto nós o louvávamos pela dica que deu. Lá embaixo, topamos com uma das estradas de carruagem construídas pelo Rockefeller e por ela seguimos até o ponto inicial. No caminho, ainda passamos por duas das pitorescas pontes de pedra que possibilitavam as carruagens a passar sobre riachos e grotas. Lugar delicioso para andar de bicicleta, quase todo na sombra das matas.
Celebrando o fim de tarde no alto da Cadillac Mountain, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Admirando a paisagem do alto da Cadillac Mountain, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
De volta à Fiona, seguimos pela estrada circular até chegar à mais famosa montanha de Acadia, a Cadillac Mountain. É a mais alta montanha litorânea na costa atlântica desde o Brasil, na nossa querida Serra do Mar! Trilhas chegam até lá encima, mas também se pode chegar lá de carro. E a Fiona nos levou até lá justamente na hora do espetacular entardecer. Muitos outros turistas também estavam ali, mas a área é grande para todos. Um final grandioso de um dia espetacular, como há muito não tínhamos!
Admirando a paisagem do alto da Cadillac Mountain, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Delicioso fim de tarde no alto da Cadillac Mountain, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
Amanhã, continuamos por aqui, mas acho que vamos nos dividir pela manhã. A Ana e a Bebel vão ver baleias num tour enquanto eu volto para as trilhas, dessa vez para fazer as mais íngremes, logo cedinho, antes das multidões. Quem sabe, um pulo no mar gelado também... Veremos!
Magnífico pôr-do-sol no alto da Cadillac Mountain, no Acadia National Park, no Maine - Estados Unidos
O Simbad também foi nosso guia no Vale do Matutu - MG
Hoje foi dia de caminhada e cachoeiras aqui no Matutu. Depois de uma das melhores camas da viagem até agora e do café da manha com pão integral fomos até o Casarão encontrar com o nosso guia para a caminhada de hoje.
Lá no Casarão sempre está o Lázaro. É ele quem organiza os guias para os turistas. Ele e quase todo mundo aqui tem um rádio walk-talk. Cada um tem seu número. O alcance é o bastante para todo o Vale. É como se fosse o celular daqui, só que de graça (exceto pelas pilhas). Assim, através do walk-talk, ele já arrumou um guia para nossa caminhada de amanhã, para o Pico do papagaio e para a caminhada de hoje, até a Cachoeira do Fundo. Tem esse nome porque é no fundo do vale. Fomos agraciados com uma guia, a Juana (fala-se Ru-ana), que é da comunidade do Santo Daime. Além de nos guiar, ainda conversamos bastante sobre a comunidade e sobre a história do vale. O nome vem do Tupi Guarani. Quer dizer Cabeceiras das Águas (pela quantidade de nascentes na região). Ela nos disse também que o Casarão era a antiga sede da fazenda do Geraldão que faleceu num triste acidente (morreu queimado) há quase 20 anos. Seus herdeiros não quiseram continuar com a fazenda e a casa foi transformada num charmoso e marcante centro comunitário.
Nossa guia, a Juana, no Vale do Matutu - MG
Cachoeira do Fundo no Vale do Matutu - MG
A caminhada é linda, seguindo Vale acima através de campos e florestas, beirando sempre o rio e passando por várias cachoeiras. A água é muito gelada e demorou um tempo até criarmos coragem. Quem entrou primeiro foi a Juana. Isso é que é guia!
Nossa guia, a Juana, foi a primeira a ter coragem de enfrentar a água fria da Cachoeira do Fundo no Vale do Matutu - MG
Na volta, passamos por um restaurante de comida mineira, da Aracy. Nossa, que delícia de comida! Depois de nos despedirmos da Juana, ainda deu para ir no Poço das Fadas. Mas, a essa hora da tarde, com o sol já atrás da montanha, nem pensar em entrar!
Ana com o Simbad na Cachoeira das Fadas no Vale do Matutu - MG
Depois, de volta para a pousada para aproveitar a noite estrelada e a sopa quente de jantar. Nesse frio que está fazendo,não há coisa melhor. Finalmente, de volta para a cama já que amanhã temos de acordar cedo. A caminhada vai ser bem mais puxada, para o Pico do Papagaio, com mais de 2 mil metros de altura, é a montanha mais famosa da região.
Cachoeira Arco-Íris no Vale do Matutu - MG
Só faltou falar do novo amigo, né? É o Simbad, um pastor alemão. Ele grudou na gente e nos acompanhou até a Cachoeira do Fundo. Vai sempre na frente, nos guiando. Adora atazanar os bichos que encontra no caminho, de cavalos e vacas a ratos e galinhas. Quando os cavalos o veem, já fazem aquela cara de: "Putz, lá vem ele encher o meu saco!".
Bela araucária no Vale do Matutu - MG
Ao final da caminhada, quando voltamos de carro aqui para a pousada, a uns 3-4 km do Casarão, não é que o Simbad apareceu aqui, uns 10 min depois, todo esbaforido? E não saiu mais daqui. Vai dormir no gelado, na varanda, mas não arreda mais o pé daqui. Acho que quer ir ao Papagaio também. Será?
Bela Castanheira no Vale do Matutu - MG
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