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Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
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Alberto freitas (04/04)
conteúdos inteligentes. parabéns!! ótimo !! Um Post que complementa:...
Flora (02/04)
Linda e inspiradora esta sua despedida do Pacífico.E ai viajei novamente...
Su (31/03)
Que lugar incrível! Eu nunca tinha ouvido falar deste lugar. Ja pesquis...
mabel (31/03)
Letícia Pimenta (25/03)
Ah legal Rodrigo. Imagino quebtenha sido. Sou apaixonada por tubarões !...
O enorme campo de sal em Salinas Grandes, na rota do Paso de Jama - Argentina
Hoje levamos a Fiona para sua primeira revisão fora do Brasil. Está fazendo 50 mil quilômetros de idade! Já é uma senhora, hehehe!
Fiona atravessa rio no P.N Nascentes do Parnaíba, município de São Félix do Tocantins, região do Jalapão - TO
Uma senhora bem aventureira, diga-se de passagem. Já enfrentou rios e lagos, estradas de terra, barro, areia e asfalto de todas as qualidades. Esteve no alto de montanhas e dunas, na boca de cavernas e cachoeiras, em apertadas ruas de cidades históricas. Seu "passaporte" já tem carimbos de 7 países que falam português, espanhol, francês, inglês e holandês. Nada mal para essa jovem senhora.
Caminho do Céu, próximo à Delfinópolis na região da Serra da Canastra - MG
Fiona enfrenta as duras estradas do Parque Nacional da Serra das Confusões, no sul do Piauí
As cidades que efetuamos as revisões periódicas a cada 10 mil km dão uma boa idéia de onde ela tem andado. Comprada em Curitiba, a revisão dos 10 mil foi em Belo Horizonte (MG), a dos 20 mil em Feira de Santana (BA), a dos 30 mil em Boa Vista (AP) e a dos 40 mil em Rio Verde (GO) e agora aqui em Salta, Argentina. Além disso, ainda teve um alinhamento/balanceamento em Olinda (PE), pois não conseguimos fazer em Feira de Santana.
Longas praias desertas no caminho entre a praia do Sagi e a Praia da Pipa - RN, antes de chegar à Baía Formosa
Filhotes de gato abrigados sob a Fiona, após passeio no Delta do Parnaíba, na fronteira dos estados do Piauí e Maranhão
Por enquanto, os únicos problemas foram dois pneus furados, um no Vale do Ribeira (SP) e outro na Serra das Confusões (PI). E teve também a luz do óleo que não apagava, resolvido com a troca do filtro, em Caxias (RS). De resto, ela sempre foi um porto seguro para nós, uma espécie de bolha de conforto enfrentando o calor do sertão nordestino, algum engarrafamento em São Paulo ou o frio do altiplano boliviano.
Nossa travessia de balsa entre Oiapoque, no Brasil e Saint Georges, na Guiana Francesa
O feliz reencontro com a Fiona no nosso hotel em Paramaribo - Suriname
Sua tração 4x4 nos levou à lugares e estradas remotos, totalmente inatingíveis com carros de passeio. Certamente, a maior aventura foi cruzar do sul do Maranhão para o Jalapão, literalmete pelo meio do mato. Mas houve outras aventuras também como cruzar a Serra das Confusões e, mais recentemente, enfrentar altitudes de quase 4.500 metros. A última de todas, alguns dias atrás, foi enfrentar a neve na Quebrada de Humahuaca.
Pra vencer essa rampa, foi preciso ajuda do guincho, no P.N. Nascentes do Parnaíba, no extremo sul do Maranhão
Atravessando a bucólica fronteira entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no caminho entre as cidades mais frias do país
Enfim, a nossa querida companheira está mais firme do que nunca, pronta para mais 50 mil km, levando-nos até o Alaska e depois, de volta, até a Terra do Fogo. Vamos que vamos, Fiona!
Montanhas coloridas no caminho para San Antonio de Los Cobres - Argentina
P.S Em tempo, correu tudo bem na revisão aqui em Salta. De observação, apenas os freios bem sujos. Não é para menos... temos pego cada estrada por aqui! Mas já está tudo limpinho agora. O alinhamento/balanceamento é que ficou para depois de amanhã, em loja especializada. Antes disso, amanhã, a Fiona nos promete levar com todo o conforto para os 4.200 metros de altitude, em San Antonio de Los Cobres
Fiona pronta para partir
Sob a enorme rocha do Castelo do Açu, admirando a beleza do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
A travessia da Serra dos Órgãos tem muitos pontos altos, no sentido figurado e no literal também. No segundo caso, destacam-se a Pedra do Sino, com 2,275 metros de altitude, e o Pico do Cruzeiro, bem próximo dos 2.220 metros. Já no caso figurado, talvez o melhor exemplo seja a formação rochosa chamada Castelo do Açu, um enorme bloco de rocha já partido em blocos menores e com a forma de uma gigantesca tartaruga. E é exatamente na região do Castelo do Açu que está o melhor refúgio da travessia. Para quem vem de Petrópolis, é o local normal de se passar a primeira noite. Para quem vem de Teresópolis, seria o pouso da segunda noite na trilha.
Ainda antes de nascer, o sol pinta de amarelo o céu do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Seis e quinze da manhã, o sol está quase nascendo no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
O sol se levanta atrás das montanhas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Além do interesse na própria formação rochosa, é a vista que se tem daí o seu maior atrativo. Em dias limpos, pode-se ver perfeitamente toda a Baía da Guanabara e as montanhas da cidade do Rio de Janeiro. Com um par de binóculos, o zoom da câmera fotográfica ou com olhos de águia, pode-se até divisar o Cristo redentor sobre o Corcovado. E olhe que ele está a 60 kms de distância em linha reta, quase 1.500 metros abaixo de nós.
Um cabo de aço nos ajudar a subir um rochedo para assistir o nascer-do-sol na região do Castelo do Açu, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Um cabo de aço nos ajudar a subir um rochedo para assistir o nascer-do-sol na região do Castelo do Açu, Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Podemos observar também as montanhas mais famosas do parque e que marcam a direção que deveremos seguir rumo a Teresópolis. Lá estão o Dedo de Deus, o Garrafão e a Pedra do Sino, local do refúgio da segunda noite. O Dedo de Deus, maior ícone da Serra dos Órgãos e do alpinismo brasileiro, mesmo com seus 1.692 metros de altitude, está a mais de 500 metros abaixo de nós! Para quem tinha visto ele lá da estrada de Petrópolis, quando sua ponta parecia tocar o céu, o novo ângulo nos dá uma perspectiva bastante diferente.
Com frio e esperando o calor do sol que acaba de nascer no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Vários turistas assistem de camarote o nascer-do-sol no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro. Eu estou à direita!
Aproveitando os primeiros raios da manhã no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
O momento mais mágico aqui no Castelo do Açu é, sem nenhuma dúvida, o nascer-do-sol. Tremendo de frio, os turistas que tem a sorte de aqui estar durante um dia limpo, se aconchegam em alguma pedra mais alta da região e passam a assistir o céu se pintar de azul claro, amarelo, laranja e vermelho, até que o astro-rei desponta atrás das montanhas do horizonte. Junto, vem o calor tão esperado, assim como a luz que banha aqueles campos de altitude e os diversos picos que compõe a paisagem. Em uma só palavra: espetacular!
O Dedo de Deus se banha nos raios do sol que acaba de se levantar no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Mais um dia que começa no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Início de mais um belo dia no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
São dois os lugares prediletos dos visitantes que por aqui passam para assistir a este show da natureza. O primeiro, mais próximo e rápido de chegar, é uma das pedras que formam o Castelo do Açu, na sua extremidade leste. Um cabo de aço facilita muito a nossa chegada até o alto dessa pedra, uma das primeiras a ser atingida pelos raios solares. Durante a temporada e nos finais de semana, quem acordar mais tarde certamente não vai achar seu lugar lá em cima. Mas não tem problema, na verdade todo e qualquer lugar por ali é especial para ver o nascer-do-sol. Assim, para quem gosta de mais privacidade nesse momento mágico, é só caminhar um pouco.
A paisagem espetacular da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
As montanhas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
O outro lugar preferido é o Morro do Cruzeiro. Está um pouco mais afastado, mas não muito. É considerado o ponto mais alto de Petrópolis, pois a partir daqui, entramos no município de Teresópolis. Sobre o morro, uma pequena cruz de metal não deixa dúvidas que aquele é o Morro do Cruzeiro. A cruz foi colocada ali em homenagem a um grupo de alpinistas mortos por raios durante uma grande tempestade elétrica no início dos anos 90. São uns 10 minutos de caminhada da base do castelo até lá, mas a vista compensa qualquer esforço. Com uma área maior, certamente não faltará espaço para ninguém aí, mesmo nos dias mais cheios.
No alto do Morro do Marco, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro. Ao fundo, a Baía da Guanabara
Admirando a vista do alto do Morro do Marco, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
A região montanhosa da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Hoje, eu e a Ana preferimos assistir o dia nascer do alto da pedra do cabo de aço. havia ali umas 10 pessoas, no máximo. Todos extasiados com o que viam. Temperatura um pouco acima de 0 grau, mas é para isso que servem os casacos. A ansiedade pelo sol que chega também ajuda a esquentar e, antes de percebermos, ele já ilumina toda aquela linda região. Os picos rochosos parecem estar se banhando nesses primeiros raios e esta é, talvez, a paisagem mais bela daquele momento.
O Castelo do Açu, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
O refúgio do Castelo do Açu, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Os passarinhos também se agitam e cantam com o nascer-do-sol no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Depois do espetáculo, as pessoas voltam para sua barracas para se prepararem para mais um dia de caminhadas. Eu e a Ana não tínhamos pressa. Resolvemos ir dar uma olhada no Morro do Cruzeiro também, para dar aquela primeira esticada nas pernas antes de colocarmos o peso em nossas costas. Depois, de volta para a base do Castelo onde uma pequena gruta foi protegida por uma parede de pedras. As pessoas podem dormir lá dentro, protegidas do vento. Mas nós ficamos do lado de fora mesmo, uma espécie de varanda natural. Aí fizemos nosso alongamento e até um pouco de ioga, a luz do sol nos esquentando e inspirando.
Esquentando-se pela manhã sob o Castelo do Açu, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Finalmente, o sol chega à nossa barraca ao lado do Castelo do Açu, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Esquentando-se com o sol da manhã antes de desarmar a barraca, ao lado do Castelo do Açu, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Só então voltamos para nossa barraca. era agora, uma hora depois do sol nascer, que os primeiros raios atingiam nossa casinha na montanha. Até então, estava gelado lá dentro. Aproveitando o novo calorzinho, tomamos nossa café da manhã tranquilamente e preparamos os sanduíches para o dia. A esta altura, todo mundo já tinha partido, mas nós resolvemos ficar outra hora por ali, agora caminhando para o sul, na direção do Rio de Janeiro.
Antes de partirmos para mais um dia de caminhada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, café da manhã e preparação dos sanduíches
Antes de partirmos para mais um dia de caminhada no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, café da manhã e preparação dos sanduíches
Leitos de pedra descem do Castelo nessa direção, perdendo lentamente a altitude, até a borda da montanha. Até aí fomos, o melhor lugar para se admirar a Baía da Guanabara. Ontem de noite, tínhamos visto o mar de luzes da Baixada Fluminense, uma visão inesquecível (fotos no post anterior). Agora podíamos ver o mar e todo o contorno dessa que é uma das maiores baías do litoral brasileiro. As montanhas cariocas como o Corcovado, o Pão de Açúcar e a Pedra da Gávea pareciam minúsculas, mas, ao mesmo tempo, tão fáceis de serem reconhecidas.
Admirando a vista da Baía da Guanabara do alto do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
A Baía da Guanabara, a Ilha do Governador e o Maciço da Tijuca vistos do alto do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro e a Baía da Guanabara vistos do castelo do Açu, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos
O Corcovado, a 60 km de distância em linha reta e quase 1,5 kms abaixo de nós, no alto do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
A Ana fez uma belíssima montagem de fotos, uma grande panorâmica em que se vê todo o contorno da baía e também as cidades da região. Infelizmente, a foto não fica muito grande no formato do site e quase não se pode perceber o que há nela. Mas os programas de fotos podem fazer mágicas e uma delas é distorcer a foto no sentido vertical. É como se achatássemos as medidas horizontais e alongássemos as medidas verticais. O resultado é que a extensa baía fica bem menos ampla, ao mesmo tempo em que as montanhas crescem muito em altura. Uma paisagem quase jurássica do Rio de Janeiro! Foi a maneira que encontramos de poder mostrar um pouco do que vimos lá de cima!
Do alto do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em um dia limpo, é possível vislumbrar toda a Baía da Guanabara. Espetacular!
A mesma foto da Baía da Guanabara, mas agora distorcida verticalmente. Alguém conhece reconhecer as montanhas famosas do rio de Janeiro (Pão de Açúcar, Corcovado e Gávea?)
Bom, o sol subia no horizonte e já estava mais do que na hora de retomarmos nossa travessia. Voltamos para a barraca, desmontamos e empacotamos tudo nas mochilas e pé na trilha novamente. O trecho mais belo da travessia ainda estava na nossa frente, justamente o trecho entre o Castelo do Açu e a Pedra da Mina, frente a frente com esses gigantes de pedra!
Feliz com mais um dia de céu azul no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro. Ao fundo, a Baía da Guanabara
A Cristina e o Anibal (pais da Marianela) nos recebem em sua casa na periferua de Córdoba, na Argentina
Ontem, antes de chegarmos a Córdoba vindos de San Marcos Sierras, nós paramos na pequena Colquis, cidade onde moram o Anibal e a Cristina. Os dois são os pais da Marianela, nossa amiga argentina que hoje mora com o marido em San Juan. Quando fomos visitar a Marianela em San Juan, seus pais também estavam lá de visita e nos convidaram para passar na casa deles, já que estava no nosso caminho rumo a Buenos Aires. Dito e feito, eles nos receberam muito bem, primeiro com chá e depois com um delicioso almoço acompanhado de bom vinho. Muita conversa sobre viagens, sobre a vida e sobre a história argentina.
A Cristina e o Anibal (pais da Marianela) nos recebem em sua casa na periferua de Córdoba, na Argentina
O casal havia morado muitos anos no Rio, para onde se mudaram na época da Guerra das Malvinas. Na verdade, foram para lá fugidos do país, pois a Cristina havia sido convocada para lutar na guerra. Pois é, já dá para entender alguém que não queira lutar numa guerra que não acredite, mas lutar por um governo que, pouco tempo antes, havia te sequestrado e torturado por meses a fio, aí já é demais mesmo! Esse era o absurdo que que vivia a Cristina, na época uma menina ainda mais nova que sua filha Marianela, que hoje está prestes a se tornar mãe.
Placa informativa sobre a terrível história da Passagem Santa Catalina, em Córdoba, na Argentina
A Argentina vivia um momento muito complicado no final dos anos 60. Os militares haviam deposto Perón uma década antes e, desde então, sob seu controle direto ou indireto, a economia do país patinava, a corrupção crescia e a inquietação social se intensificava. Do seu exílio em Madrid, o velho líder populista conspirava para voltar, com a ajuda de seus milhares de seguidores fiéis ainda na Argentina. O peronismo já era, desde então, a principal força política do país.
Pasaje Santa Catalina, sede da Polícia Política da ditadura militar argentina em Córdoba, na Argentina
Para quem acha que o nosso PMDB, no Brasil, é um balaio de gatos, é porque não conhecem o “peronismo”. Aí cabe tudo, da extrema esquerda à extrema direita. O elo que os une talvez seja a tendência ao populismo, marca registrada de seu grande líder. Basta lembrar, para dar um exemplo mais recente, que Kirchner e Menem são peronistas, apesar de todas suas diferenças. Populismo de esquerda e de direita. Enfim, naquela época, as diferenças eram ainda mais gritantes, de um lado os montoneros, uma das mais violentas e eficientes organizações esquerdistas do nosso continente, e do outro a AAA, Associação Anti-comunista Argentina, a versão hermana do nosso CCC, um verdadeiro esquadrão da morte institucionalizado, todos abrigados dentro do movimento peronista.
Placa que marca o local onde funcionava a temível D2, a Polícia Política argentina da época militar, em Córdoba, na Argentina
Enfim, os peronistas venceram as eleições com Campora que permitiu a volta de Perón ao país, para então renunciar e provocar nova eleição, agora com a participação do antigo líder, já anistiado. Perón se elegeu com facilidade a achou que saberia administrar as tensões dentro de seu próprio partido. Acontece que ele já estava velho e doente e morreu no início de seu governo. A vice-presidente era sua 3ª esposa, Isabelita, que não chegava nem aos pés da lendária esposa anterior, Evita. Isabelita era fraca e e as tensões sociais explodiram sob seu governo, terrorismo e bombas de um lado e repressão e tortura do outro. Até que, em 1976, os militares cansaram de atuar nos bastidores, derrubaram Isabelita e assumiram o governo, prometendo uma luta de vida ou morte ao terrorismo de esquerda.
Interior da delegacia onde se torturaram e mataram dezenas de presos políticos na época da ditadura argentina, em Córdoba, na Argentina
O resultado foi uma verdadeira carnificina. Para destruir a mais organizada guerrilha do cone sul, organizou-se o maior e mais sangrento sistema repressivo dessa região. Em cinco anos de repressão brutal, cerca de 30 mil pessoas foram mortas. Para se ter uma ideia, se considerarmos a diferença de população entre Brasil e Argentina e o número de mortos durante o governo militar dos dois países, a ditadura deles foi 300 vezes mais mortífera do que a nossa! Eram tantas vítimas que os militares resolveram, para se livrar das vítimas, simplesmente atirá-las de aviões e helicópteros sobre o mar. Mas algo saiu errado no plano e os corpos começaram a aparecer nas praias uruguaias, revelando ao mundo a tragédia.
Antiga sede da D2, a terrível Polícia Política argentina do final dos anos 70, em Córdoba, na Argentina
A grande maioria de todas essas vítimas e tantas outras que não chegaram a morrer, mas foram presas e torturadas era de gente que não estava ligada com a guerrilha. Bastava ser amigo de um amigo de algum sindicalista ou líder estudantil que já se corria perigo. Ou estar na hora errada no lugar errado. Ou ter participado de alguma reunião onde se discutia política e se criticava o governo. Foi o que aconteceu com nossa amiga Cristina, que nos recebeu tão bem no dia de ontem.
Interior da delegacia onde se torturaram e mataram dezenas de presos políticos na época da ditadura argentina, em Córdoba, na Argentina
Ela foi sequestrada da sua casa pelas forças da repressão, por ter participado de uma dessas reuniões poucas semanas antes. Ficou presa, foi interrogada e torturada por vários meses, até que foi solta sem aviso. Nunca foi acusada de nada e nem esteve presa “formalmente”. Assim funcionava, com os presos não tendo nenhum acesso ao aparato legal. Enfim, para sorte dela, foi solta. Mas sua companheira de cela, uma mulher que ela aprendeu a admirar por sua bravura e coragem, está na lista dos milhares de desaparecidos pelo regime. Cristina escreveu um livro sobre ela “Lili” e nos presenteou com ele. Um olhar sobre a vida nas prisões por quem lá esteve, relato sincero, nu e cru sobre o que ocorreu nesse país, num tempo tão recente.
Observando a homenagem a algumas das dezenas de vítimas de tortura na década de 70 em Córdoba, na Argentina
Pois é, depois de ter sido solta, Cristina acabou se empregando como enfermeira no sistema público. Com a guerra, o governo militar que ela tanto abominava quis enviá-la às Malvinas. Cristina e Anibal fugiram para o Rio, o país perdeu a guerra de uma forma humilhante e o governo militar caiu de podre, abrindo caminho para a redemocratização. A própria guerra já tinha sido uma maneira de tentar prolongar-se no poder, depois do rotundo fracasso na área econômica que gerava uma enorme instabilidade social. Esse assunto da guerra certamente aparecerá nos posts futuros, já que estamos indo justamente para lá, às Malvinas.
Observando a homenagem a algumas das dezenas de vítimas de tortura na década de 70 em Córdoba, na Argentina
Hoje, aqui em Córdoba, estivemos na antiga delegacia da D2, a polícia política do daquele regime. O lugar, na Pasaje Santa Catalina, foi transformada num museu que homenageia as centenas de vítimas que passaram por lá. O mais incrível é que ela fica justamente ao lado da catedral, em pleno centro da cidade. Assim, os presos torturados muitas vezes ouviam o bater dos sinos ao lado anunciando a próxima missa. Estarrecedor! Aí passamos um hora, observando as salas tenebrosas e corredores escuros, mantidos como eram. Mais importante, observamos as dezenas de fotografias das pessoas que sumiram ali, fotos com familiares, na praia, na escola, nas ruas, sorrindo, brincando, enfim, mostrando que eram pessoas normais, como eu e você. Mas tiveram um fim terrível, indigno, aqui, do lado da catedral. Num país que nos encanta tanto como esse, é quase impossível imaginar isso acontecendo aqui, há tão pouco tempo. Um motivo a mais para celebramos a liberdade de ir e vir, de pensamento, de podermos falar e criticar, da vida sob o império da lei e das garantias individuais. Passar em um lugar como esse, aprender o que aconteceu aqui, num lugar e num tempo tão perto de nós só nos faz valorizar o tempo e a viagem que estamos vivendo.
As dunas de Mangue Seco (BA)
Saímos da ultra-urbanizada Praia do Forte em direção à mais pacata Mangue Seco. A praia feita famosa por Tieta do Agreste é a última da Bahia, antes de se chegar à Sergipe. Pode-se chegar lá de duas maneiras: num veículo 4x4, durante a maré baixa, vindo da Costa Azul ou de barco, vindo de Pontal, cidadezinha em Sergipe.
Rua na Praia do Forte - BA
Com a Fiona acabando de sair de um banho, não pensamos duas vezes; optamos pela segunda opção. Assim, no caminho para Mangue Seco, foi preciso sair da Bahia e entrar em um novo estado, Sergipe. Não por muito tempo, só para estacionar a Fiona e embarcar novamente para a Bahia. Quando a gente passa por uma placa no estrada indicando que estamos saíndo da Bahia e entrando em Sergipe, aí a ficha cai de vez que, realmente, estamos longe de casa!
Chegamos na divisa Bahia-Sergipe!
A travessia para Mangue Seco é bem "bucólica", só nós dois num barco para mais de vinte passageiros. Nada como viajar numa quarta-feira. Na chegada, a surpresa com a quantidade de pousadas e com o tamanho delas. Nossa... na temporada deve encher por aqui!Era uma vez a tranquilidade da Mangue Seco de Tieta ou da que eu conheci, há dez anos. Se bem que, chegando no dia certo, a tranquilidade está aqui, sim. Hoje estava. Apenas nós e mais de uma centena de bugues esperando a clientela da temporada.
A única passageira da travessia Pontal (SE) - Mangue Seco (BA)
Pelo menos as ruas continuam de areia e não calçadas como na Praia do Forte. Aproveitando a maré baixa e a luz do final do dia, seguimos rapidamente para a praia, que fica a pouco mais de um quilômetro de distânca da vila. Na maré baixa é possível ir pela beira do rio, atravessar o mangue por uma trilha e atravessar uma pequena duna para se chegar ao praiâo de Mangue Seco. Na maré alta o caminho é outro e muito mais penoso.
A praia em Mangue Seco (BA), bem no fim de tarde
Com o sol se pondo, ainda deu para tomar um delicioso banho de mar, água bem quentinha. Enquanto nadava, só conseguia lembrar que não fazia muito tempo estava nadando na Praia Costa Dourada, a primeira da Bahia. Agora estávamos na última. São os 1000dias passando. Muito mais rápido do que gostaríamos...
Fim de tarde em Mangue Seco (BA)
Pôr-do-sol maravilhoso na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
A Costa Rica teve uma história muito parecida com as dos outros países centro-americanos, pelo menos até meados do séc XX quando uma importante mudança constitucional a tornou um oásis em meio a um continente envolto numa sucessão de sangrentos golpes, guerras e revoluções.
Dia de sol em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
Quando os espanhóis aqui chegaram, ainda no tempo de Colombo, cerca de 400 mil índios habitavam o que é hoje o território da Costa Rica. Um século mais tarde, após as guerras de conquista, a ocupação de seu território e completa desorganização do seu antigo meio de vida e a devastação pelas doenças trazidas da Europa, esse número tinha se reduzido para 20 mil. Outro século se passou e seus últimos territórios foram ocupados, sobrando apenas 5 mil indígenas. Enfim, o mesmo padrão de destruição de todas os antigos povos americanos.
Lavando o pé depois de passeio na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
Mais um século e chegamos à época da independência. A América Central nunca foi um território de grande importância no mundo colonial espanhol, espremida entre as "jóias da corôa", o México e os vice-reinados do Peru e de Nova Granada (Colômbia e Venezuela). Assim, a independência foi sem guerras ou batalhas. Inicialmente, os países que hoje formam a região tentaram se agrupar numa grande república chamada Confederação Centro-Americana, com exceção do Panamá, que se juntou ao ideal bolivariano de uma grande nação na América do Sul. Os dois sonhos tiveram vida curta e logo se esfacelaram no conjunto de países que hoje conhecemos.
Belo fim de tarde na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
A sequência da história foi bem parecida para todos: uma sucessão de golpes militares e curta vida de governos civis, a sociedade sempre dividida entre "liberais" e "conservadores", quase sempre representando os interesses da classe dominante dividida. As repúblicas centro-americanas certamente sofreram mais diretamente que as nações sulamericanas as influências e interesses da grande potência que crescia um pouco mais ao norte, talvez pela menor distância, talvez pela menor força econômica e política. Por aqui, uma simples companhia, a United Fruit Company, derrubava e criava novos regimes e presidentes da noite para o dia. O principal produto da companhia? Banana! Enfim, não é à tôa que se criou o jargão "República de Bananas". Ela realmente existiu!
Fiona acomodada entre os coqueiros de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
Aqui na Costa Rica não era diferente. Até que, em meados da década de 40, após uma tentativa de golpe (mais uma) e guerra civil particularmente sangrentas, uma constituinte decidiu, entre outras coisas, além de dar direitos políticos à mulheres, negros, indígenas e minorias étnicas, acabar com o exército e forças armadas. Isso mesmo, a Costa Rica optou por ser um país sem generais, almirantes ou brigadeiros. Coincidência ou não, o país experimentou desde então, o maior período de democracia contínua dentre todos os países da região, estes sim ainda "guardados" por seus respectivos exércitos.
Belo fim de tarde na praia de Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
O maior desafio à essa política veio na década de 80 quando seu vizinho, a Nicarágua, se afundava em guerra civil, os "contras" tentando derrubar o governo esquerdista dos sandinistas (difícil saber para quem torcer...). Ainda em plena época da Guerra Fria, o governo americano pressionava o país para que bases dos tais "contras" operassem livremente no norte do país. Tempos difíceis para a Costa Rica, sabiamente administrados por Oscar Arias, que não só conseguiu desmantelar as tais bases como organizar uma grande negociação que resultou no fim da guerra no país vizinho. A Costa Rica pôde continuar um país desmilitarizado e sem exércitos e seu presidente foi laureado com um Nobel da Paz.
Conversando pelo Skype com a família (viva a tecnologia!) em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
Pois bem, nessa Costa Rica estamos hoje. No país onde o sol brilha figurativamente há quase 60 anos, hoje ele brilhou literalmente. Eu e a Ana passamos um delicioso dia na praia, correndo, nadando, repousando e nos instruíndo sobre o país. No final da tarde, com um belíssimo pôr-do-sol sobre o Oceano Pacífico, confortavelmente instalados sob o teto de sapé do bar-restaurante da pousada, refrescados por uma deliciosa e incessante brisa trazida pelo mar, pude conversar longamente com meus pais e irmão, através do skype. Pode ser difícil chegar aqui de carro, mas a internet e a tecnologia wifi chegaram. Tecnologia que consegue, num só lugar, juntar os melhores aspectos da civilização e do paraíso "selvagem". Um paraíso onde o sol brilha já há bastante tempo.
Socializando no bar da pousada beira-mar em Zancudo, no litoral Pacífico da Costa Rica
Delicioso "chuveirão" na Cachoeira de San Ramón, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Era exatamente as 06:30 da manhã quando eu e a Ana chegamos à Finca Magdalena, uma fazenda comunitária produtora de café orgânico. De lá sai uma das trilhas de acesso ao cume do vulcão Maderos, pouco mais de 1.000 metros acima e foi aí que combinei de encontrar o meu guia. Também há um hotel onde tomamos nosso saudável café da manhã, uma tijela cheia de frutas e granola, meu combustível para as próximas horas.
O saudável café da manhã antes de subir o vulcão Maderos, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
Pronto para subir o vulcão Maderos, com os guias Carlos e Juan, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Meu guia já estava lá, acompanhado de um amigo. O Carlos e o Juan, sabendo que eu queria subir e descer em tempo recorde, já estavam prontos para me ciceronear até a laguna, ida e volta, através da mata úmida que cerca o vulcão. A Ana iria ficar e paqssear até os petroglifos, rochas com antigas marcas e sinais do antigo povo da ilha. Esses petroglifos são encontrados em várias paretes de Ometepe, mas estes localizados na Finca Magdalena estão entre os mais famosos.
O Carlos me guia na trilha para o topo do vulcão Maderos, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
O vulcão Concepción coberto por uma estranha formação de nuvens, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
O caminho para o cume é uma longa subida não muito íngrime de 5 quilômetros, quase sempre em trilhas escorregadias permanentemente cobertas pela floresta. A trilha é "vendida" aos turistas com o tempo estimado de 8 horas, entre subida, passeio na laguna e descida. Evidentemente, um exagero. Partimos em ritmo constante e só paramos duas vezes, uma para água e fotos e outra no único mirante pelo caminho, ainda abaixo do nível das nuvens que quaswe sempre encobrem o cume. Daí ainda pudemos ver o lago, boa parte da encosta de Ometepe e o imponente Concepción, na outra ponta da ilha. Depois disso, só neblina. Com exatamente duas horas estávamos no altyo do vulcão e, 15 minutos mais tarde, chegávamos ao lago que preenche a cratera.
Nadando no nublado lago da cratera do vulcão Maderos, a 1.300 metros de altitude, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
Água fria, lago completamente encoberto pela neblina. Enfim, ambiente irresistível para um bom banho. Pelo menos para mim, já que os guias não se animaram a tirar a roupa não. Nadei pouco menos de 100 metros para dentro do lago e, de lá, só via nuvens. Parecia estar perdido em algum mundo dos sonhos, nada de terra à vista, apenas aquele vapor branco à minha volta. Na verdade, sabia estar a 1.300 metros de altitude, no meio de um lago na cratera de um antigo vulcão. Sensação inesquecível! Às vezes, o vento limpava um pouco as nuvens e eu podia ver a sombra das encostas verdes da cratera, com seus quase 100 metros de altura. Só faltou aparecer o King Kong por trás dela...
Petroglifo na região de Magdalena, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
O King Kong não apareceu e eu voltei para a borda para iniciarmos o caminho de volta. Para baixo pouco se cansa, mas a velocidade não aumenta muito já que a trilha estava muito escorregadia. Foram duas horas exatas, cruzando no caminho com dois grupos de turistas subindo o vulcão. O acompanhamento de guias é obrigatório, na teoria, mas alguns fazem sem. O caminho está bem marcado e para alguém com experiência não é difícil fazê-lo. Mas o preço que se paga pelo acompanhamento de um guia é muito justo, o dinheiro vai para alguém da comunidade, ganha-se em segurança e informação sobre flora, fauna e cultura locais. Enfim, recomendo!
Secagem de café na finca Magdalena, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Como chegamos bem antes da hora marcada com a Ana, ainda tive tempo de ir ver os petroglifos. A trilha para lá é meio labirintica e encontrar as pedras marcadas é uma diversão, maior até do que observar os próprios desenhos. Meia hora de explorações e uns quatro grupos de rochas encontrados e voltei para encontrar a Ana. Ela tinha percorrido os petroglifos com um guia e pôde ver mais coisas do que eu. Mais informações, no post dela!!! Além disso, passeou pela Finca, viu o cultivo e a secagem do café, macacos e até dois guaximins (ou guaxinins?).
Um Guaximim na fInca Magdalena, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Ali do lado de Magdalena, uma parte da ilha mais "alternativa", com várias fazendas de permocultura, comemos num restaurante delicioso, comida fresquinha retirada da horta orgânica. Muito bom! Até conhecemos alguns estrangeiros que hoje vivem por lá, muito felizes com o estilo de vida simples e saudável que tem.
Trilha para a Cachoeira San Ramon no ponto em que atravessa um estreito canyon, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
Em seguida, rumo à cachoeira de San Ramón, a mais famosa de Ometepe. Fica bem no sul, nas encostas do vulcão Maderos. Meia hora de estrada de terra até a entrada, um parque onde se paga entrada. Para quem está de carro 4x4, podemos seguir dois quilômetros para cima, ainda de carro, para caminhar apenas os últimos 1.200 metros.
A bela Cachoeira San Ramon, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
Já era final do dia e uns poucos quilômetros antes do parque cruzamos um grupo de gringos voltando, à pé. Seriam os últimos? Que nada! Mais um quilômetro e vimos uma estrangeira bem bonita caminhando rapidamente para o parque, sozinha. Passamos devagar, janelas abertas para ver se ela pediria carona, mas ela apenas olhou sem nada dizer. Chegamos ao parque, subimos os dois quilômetros com a Fiona e começamos a caminhar. Ritmo tranquilo, vencemos as ladeiras sombreadas, cruzamos os três últimos frequentadores e chegamos ao leito de pedra do rio. Uma última subida e eis que aquela gringa já estava nos alcançando!
Visita à Cachoeira de San Ramón, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Chegamos juntos à cachoeira, muito bonita, água escorrendo por quase 80 metros de pedras, fazendo um delicioso chuveiro embaixo, num laguinho bem raso. Eu fui o único que animei a entrar. Que delícia!!! A Ana e Julie, uma belga de apenas 18 anos, ficaram só nas fotos. Conversando com ela, descobrimos que ela fez a parte do parque de cavalo! Hmmmm!!! Isso explicava a velocidade com que nos alcançou! De qualquer maneira, ficamos impressionados coma velocidade e disposição dela. estava vindo de um povoado próximo, 4 km de estrada do parque. E tinha pressa para voltar, para não caminhar no escuro. Aí sim pudemos oferecer carona, para alegria dela. Mesmo assim, voltou logo para poder descer com o cavalo e nos encontrar lá embaixo.
Com o norueguês Trond na trilha para a Cachoeira San Ramon, na Isla Ometepe, no Lago Nicarágua
Um pouco depois, descemos nós. E no caminho encontramos o Trond, um norueguês que subia correndo para tomar também seu banho de chuveiro na cachoeira. O parque estava por fechar e ele teve de se apressar mesmo. Ao cruzar a Ana no caminho, não pensou duas vezes: mandou no norueguês mesmo, crente que tinha encontrado uma conterrânea. Hehehe! Sempre disser que ela tinha raízes nórdicas!
Banhando-se na Cachoeira de San Ramón, na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Bom, o Trond seguiu para cima e nós para baixo. E quando chegávamos à Fiona, ele nos alcançou, já de volta. Demos carona para ele, até a entrada do parque. Ali, ele desceria (sua bicicleta estava lá) e pegaríamos a Julie. Os dois tinham se conhecido ontem, estavam no mesmo hotel. Foi o Trond que nos contou a idade da Julie e que ela tinha vindo para a Costa Rica para trabalho voluntário com crianças, já há alguns meses. Agora, tinha resolvido mudar de paragens, e veio trabalhar com crianças na Nicarágua, na cidade de Granada. Tudo isso com apenas 18 anos! Ficamos impressionados!
Magnífico pôr-do-sol na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
Bom, quando nos encontramos os quatro, na saída do parque, o espetáculo diário do pôr-do-sol acontecia ali, na nossa frente. Na beira do lago, um convidativo quiosque. Com a natureza conspirando assim, não teve jeito: fomos todos celebrar a beleza daquilo tudo com uma boa cerveja gelada. Um dia espetacular, que começou com vulcão e banho num lago encantado, passou por petroglifos milenares e um almoço divino com a mais natural e saudável das comidas, continuou com uma cachoeira digna da Serra da Mantiqueira tinha de terminar com chave de ouro: dois novos amigos, um da distante Noruega e a outra, uma bela e valente menina que já desbrava o mundo com 18 anos, cerveja estupidamente gelada e pôr-do-sol cinematofráfico sobre o imenso Lago da Nicarágua. esse vai ficar na memória...
Com o norueguês Trond, a belga Julie e o simpático guarda-parque na Isla Ometepe, no Lago de Nicarágua
A enorme cobra Cazadora que encontramos nas estradas da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Poucas dezenas de quilômetros ao sul de Coro, a Serra de San Luis se ergue rapidamente, saindo quase do nível do mar para altitudes superiores aos mil metros. Nas suas encostas, a umidade se condensa e o clima muda rapidamente, do seco para o úmido, do calor para o frio. Não é a toa que a vegetação se transforma radicalmente, dos cactos, gramíneas e cerrado lá de baixo para uma floresta verde e densa, típica dos trópicos. Rios correm por todos os lados, formando cachoeiras e quedas d’água, e as estradas têm de serpentear entre cristas e vales, curvas intermináveis sempre seguidas de paisagens de tirar o fôlego, quando as nuvens baixas davam uma chance.
O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela
Nosso hotel em Curimagua, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Para nós, que tínhamos passado a manhã nas dunas dos Médanos de Coro e nas planícies da península de Paraguaná, o contraste foi ainda mais forte. O esforço de chegar aqui ainda ontem foi recompensado com um entardecer inesquecível, mas logo escureceu e tudo o que podíamos “ver” era o clima frio à nossa volta. Dormimos na cidade de Curimagua, em um hotel que deve ter tido seus dias de glória antes da era Chávez, há uns 20 anos, e que agora, assim como boa parte da infraestrutura turística espalhada pelo país, é visivelmente super dimensionado para o número de visitantes atuais. Hotéis, estradas, parques, todos eles parecem pertencer a um país que já existiu, um forte clima de nostalgia e decadência no ar. O resultado disso são preços baratos, infraestrutura meio danificada e envelhecida, um certo charme decadente dos anos 70 e a sensação de que algo tem de mudar...
Painel informativo sobre o Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Chegando ao Haitón de Guarataro, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Bom, de noite, aproveitamos para matar as saudades de um cobertor e, pela manhã, nos regozijamos com o ar de montanha, frio e úmido, nosso hotel cercado por montanhas, vegetação e muitas nuvens, uma fina garoa deixando tudo molhado. Nossa ideia era passar o dia explorando a região e, no final da tarde, voltar para o litoral, para a região do Parque Nacional de Morrocoy. Assim, agenda apertada com o sempre, com sol ou com chuva, não tínhamos tempo a perder!
O enorme buraco natural conhecido como Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Deixamos Curimagua para trás em direção à San Luís, o mais charmoso povoado da serra, justamente aquele que dá nome à região. Bem no meio do caminho, uma parada para observar umas das mais estranhas atrações daqui, um gigantesco buraco no solo, uma espécie de caverna vertical em meio a uma floresta densa. Na verdade, existem diversas formações como essa espalhadas pela Serra de San Luis, conhecidas aqui como “Haitón”, e essa que paramos para conhecer é a maior delas, com pouco mais de 300 metros de profundidade!
Igreja da pequena cidade de san Luis, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
O Haitón de Guarataro está no final de uma pequena trilha na mata e só percebemos o gigantesco buraco quando já estávamos em sua borda. Isso porque, apesar da profundidade, ele é bem estreito, doze metros de diâmetro. Mesmos sendo domingo, éramos os únicos visitantes, o que nos deu tranquilidade de pular a cerca de proteção e chegar mais perto dessa verdadeira imagem de pesadelo, um enorme buraco negro, aparentemente sem fundo, entrando nas entranhas da terra. De tão fundo, não consegui ouvir o barulho de nenhuma das pedras que joguei para baixo, apenas o som suave da água da chuva que escoava buraco adentro. Uma placa informativa nos dá os números exatos dessa caverna vertical, inclusive de algumas galerias horizontais que foram encontradas a mais de cem metros de profundidade. Nossa... quem será que desceu lá embaixo nesse lugar assustador?
Com a Morela e sua filha Rosa, na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Depois da caminhada e do buraco, a fome aumentou ainda mais a vontade de chegarmos à San Luís. O tempo finalmente começou a abrir, tornando mais bela a chegada à pitoresca vila escondida no meio de montanhas e florestas. Fácil chegarmos até a igreja, sua torre alta a primeira coisa que vemos de longe, se erguendo sobre as árvores da floresta, mas nada de restaurantes à vista. Imagino que se estivéssemos nos Estados Unidos, seríamos recebidos num lugar lindo como esse com uma rua cheia de lojinhas, pousadas e restaurantes, turistas caminhando para lá e para cá. Aqui, uma simpática praça, mas bem vazia. Finalmente, encontramos um policial que, simpaticamente, nos ensinou como chegar ao único restaurante que estaria aberto, o Don Pepe.
A simpática Rosa, do restaurante onde comemos na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Mas estava fechado. Insisto, bato palmas e, quase desistindo, eis que aparece a simpática Rosa, que logo chama sua mãe Morela. Estavam fechados porque ontem serviram um grupo maior de visitantes, todos venezuelanos, e a comida tinha acabado. Mas se compadeceram de nós e a Morela tratou de arrumar algo, uma simples e deliciosa comida caseira. Era tudo o que queríamos e ainda tivemos a chance de uma longa conversa com mãe e filha. A Morela faz um curso de “chef” em Coro, espírito empreendedor à espera de melhores tempos. A Rosa quer ser médica. Têm saudades do Chávez, que fez muitas coisas boas, como construir casas, de graça, para os mais necessitados. Desconfiam bastante do Maduro e sabem que algo tem de mudar no país. Mas não acreditam que seria com o Capriles...
As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Saímos de San Luís alimentados, com duas novas amigas e preocupados com o futuro desse país e desse povo que admiramos cada vez mais. Nosso destino são as Cataratas de Hueque, as mais populares cachoeiras dessa região serrana. Finalmente, pleno domingão, encontramos movimento, várias famílias que vieram fazer seu piquenique e farofa ao lado do rio. Para nós, turistas estrangeiros com acesso ao câmbio paralelo, o preço de entrada beira o ridículo, cerca de 30 centavos para os dois. Lá dentro, ao longo de um mesmo rio, inúmeras cachoeiras e cascatas, água bem fria e trilhas mal conservadas.
Visitando as cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Tiramos nossas fotos, mas não nos animamos para um mergulho. O céu nublado e o longo caminho que nos esperava não são estimulantes. Melhor seguir em frente e deixar o banho de cachoeira para quando chegarmos à Gran Sabana. Voltamos para a Fiona e iniciamos as horas de viagem que ainda nos esperam, crentes que tínhamos terminado as “atrações” do dia.
As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Que nada! Alguns minutos na estrada esburacada e vemos algo estranho se movendo no asfalto, bem à nossa frente. É uma cobra! Enorme! Uma “cazadora”, espécie perigosa comum na região. Essa aí, tinha tido o azar de cruzar uma estrada e estava meio perdida entre os carros que passavam. Na verdade, furiosa, pois tinham atropelado a sua calda, coitada. Tentava morder qualquer coisa que se aproximasse, inclusive a Fiona, ao invés de correr logo para o acostamento e para a mata salvadora. Nós só podíamos torcer, além de tirar fotos (claro!), para que ela fizesse isso e não fosse atropelada novamente. Nessa hora, queria ser um daqueles apresentadores do Discovery Channel, que não tem medo desses animais e logo os pegam com as mãos, para poder salvá-la. Mas ela não queria conversa não e eu, desajeitado que sou, só pude chegar a poucos metros de distância. Infelizmente, acho que ela não duraria muito tempo, animal magnífico. Partimos antes de assistir o seu fim.
Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Agora sim, partimos para Morrocoy. Algumas horas de estrada e muitos assuntos na cabeça, desde nossos medos primitivos de buracos sem fundo e serpentes vorazes até um país com paisagens magníficas e um povo vibrante, mas que parece meio perdido, ideologia e incompetência no caminho de um futuro que tinha (e tem!) tudo para ser promissor.
Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela
Mapa do Caribe mostrando todos os países e "quase-países" da região
Comecei o dia definindo nosso futuro de curto prazo. Antes mesmo do café, fui junto com o Sven na Stinasu, ao lado do hotel. Sven? Stinasu? Peraí que já explico...
Sven é o alemão que ficou amigo da Ana no fila do consulado surinames em Cayenne, na Guiana Francesa. Ele ficou de nos encontrar novamente em Cayenne, mas acabamos por nos desencontrar. Pois bem, logo no início da caminhada por Paramaribo ontem, a gente se encontrou no meio da rua. Mundo pequeno! Conversando, descobrimos que ele também queria ir para Brownsberg, uma reserva natural pouco mais de 100 km ao sul de Paramaribo, ao lado de um enorme lago e cheio de trilhas. Para ir para lá, é preciso fazer uma reserva na Stinasu, uma espécie de agência governamental que promove o turismo nos parques do país.
Um dos muitos cassinos em Paramaribo, no Suriname
Pronto! Explicado quem é o Sven e o que é a Stinasu, fechada ontem e aberta hoje, logo pela manhã. Para me ajudar a lembrar o nome dos dois, logo fiz a relação: o Sven é da antiga Alemanha Oriental, terra da temida Stasi, uma das mais competentes polícias secretas da história. Stasi e Stinasu são nomes parecidos! Assim, não esqueço de mais ninguém!
Enquanto a Ana recuperava o pouco sono de ontem, fui com o Sven na agência e fizemos um reserva para a noite de terça no parque. Ele de barraca e nós num quarto de um lodge com banheiros coletivos. O Sven ainda faturou uma carona para o parque.
Placas de rua em Paramaribo, no Suriname
Feito isso, voltei para o hotel para o esperado encontro com a top manager de lá. As preces foram atendidas e a Fiona poderá ficar por lá! Oba!!! O único perigo são as possíveis enchentes, já que o hotel está do lado do rio Suriname. Para isso, vou deixar a chave do carro, em caso de emergência. Pois é... seria bem sem graça viajar para o Caribe sem ter nada para se preocupar com o carro, né?
Depois do café com a Ana e finalmente decidido que vamos ao Caribe, restava comprar as passagens. Antes disso, era necessário fechar o roteiro. Assim, passamos um bom tempo lendo sobre as diversas ilhas da região. É muita coisa! Maldita hora que resolvemos colocar todo o Caribe nesses 1000dias. Que complicação! Bom, pelo menos já tínhamos algumas definições: do Suriname, só se voa para Curaçao e Trinidad. Para Curaçao, iremos da Colômbia. Assim, Trinidad e Tobago já estava definido! Antes, quando imaginávamos partir da Guiana, iríamos primeiro para Barbados. Ou seja, trocamos saída da Guiana por saída do Suriname, Barbados por Trinidad. Outra definição que já tínhamos feito: República Dominicana e Haiti ficaram para depois. Fica muito caro viajar de Trinidad para lá. Por increça que parível, é mais barato um pacotão do Brasil para Punta Cana (na Rep. Dominicana) do que voar de Trinidad para lá. Só espero conseguir "abrir" esse pacotão, ficar mais tempo na Rep. Dominicana e dar uma esticada no Haiti. Veremos, quando voltarmos ao Brasil.
O sol apareceu em Paramaribo, no Suriname
Bom, outra ilha na lista é Saint Martin. Serve de base para se visitar diversas outras ilhas "quase-países" ao seu redor. Anguila, Saba, St. Barth, St. Eustatius, St. Kittis e Nevis, além de Sint Marteen, que divide a ilha com a própria Saint Martin. Uma é francesa e a outra é holandesa. É o menor pedaço de terra do mundo dividido entre dois países. Enfim, é país, ou quase-país que não acaba mais. Tantos que até desistimos de mais uma perna da viagem, para Antígua e Barbuda, além da vizinha Montserrat. Ficam para depois...
Enfim, vamos ter muito tempo para falar de cada uma dessa ilhas depois. O importante foi definir para onde ir. Mas isso era só metade do problema. Faltava agora achar e comprar passagens. Mas, antes disso, mudamos o foco e atacamos outras questões, ainda mais prementes!
Saímos à pé, aproveitando o sol, para fazer compras para a viagem ao parque, para o nosso estômago que roncava, produtos de higiene que tinham acabado e um remédio para a Ana. Os três primeiros foram fáceis, mas o remédio para a Ana complicou. As Apotekes (farmácias daqui) exigiram receita para o remédio. Fazer uma consulta aqui nos custaria tempo e dinheiro que não temos. Assim, voltamos ao hotel sem resolver o problema.
Olha só o nome da "Praça da Independência" em Paramaribo, no Suriname
E não é que, sentados no bar do hotel, ficamos amigos do atendente que é casado com uma brasileira e fala português? Entre outros assuntos, comentamos que não tínhamos visto brasileiros na cidade. Ele sorriu e respondeu que não tínhamos ido no lugar certo, afinal, 10% da população do país é formada por brasileiros. E começou a descrever o bairro brasileiro de Paramaribo. Falou de lojas, restaurantes, postos, farmácias... Opa! Farmácias? Não pensamos duas vezes! Pegamos o carro, corremos para lá (estou ficando craque na direção contrária!) e compramos o remédio! Bingo! Que prescrição que nada!
Assim, pudemos voltar à questão das passagens. A Ana fez uma extensa pesquisa na internet, diversas companhias, roteiros e datas e, após algumas horas, definimos e compramos! Agora, a sorte está lançada! Partimos dia 17, bem cedo, para Port of Spain, em Trinidad. Teremos onze dias para passear na ilha e em sua irmã menor, Tobago. Trinidad é a maior ilha do Caribe, disparado, se não considerarmos as quatro grandes (Cuba, Hispaniola, Jamaica e Porto Rico).
No dia 28 voamos para Saint Martin, de onde retornamos diretamente para Paramaribo no dia 16. Assim, teremos uns dezoito dias para ver aquele bando de ilhotas, cada uma com suas atrações. Falta agora definir datas, meios de transporte e comprar passagens para viajar entre essas ilhas, ao redor de Saint Martin. E começar a procurar acomodações...
Atravessando a Onafhankelijkheidsplein em Paramaribo, no Suriname
É, muita coisa por fazer, mas muita coisa já definida! E amanhã, parque aqui no interior do Suriname! Um pouco de mata e cachoeiras para matar a saudade... Futuro definido, vamos viajar bem mais "leves" do que vínhamos andando. Oba! Aliás, falando em "leve", esta foi outra definição: não levaremos o equipamento mais pesado de mergulho. Com tantos vôos para pular de ilha em ilha, o peso extra e as duas caixas seriam um estorvo enorme. Levaremos o básico e alugaremos equipamento nos diversos mergulhos que pretendemos fazer, Viajaremos leves, literalmente! Oba de novo!
Pinguins rei e lobos-marinhos dividem a praia em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Chegamos hoje à Geórgia do Sul, um dos pontos altos dessa nossa viagem até a Antártida. Apelidada de “a Galápagos do Atlântico Sul” pela quantidade impressionante de vida selvagem que vive na ilha, a Geórgia do Sul também é conhecida pela sua paisagem montanhosa e repleta de geleiras e pela sua participação na história da exploração polar, além de ter sido o principal ponto de apoio para a indústria baleeira na região ao longo de quase um século.
Nosso roteiro pelos mares do sul entre Falkland, Geórgia do Sul, Península Antártica e Ushuaia
Ainda entre nuvens, nossa primeira visão da Geórgia do Sul, em Salisbury Plain
Localizada a cerca de 1.300 quilômetros a leste do arquipélago de Falkland, quase na fronteira do Atlântico Sul com as águas polares que envolvem a Antártida, a ilha tem uma extensão de 170 quilômetros com largura variando entre 15 e 30 quilômetros. Ao contrário de Falkland, a ilha é bem montanhosa, com muitos picos superando os 2 mil metros de altitude. O ponto máximo é o Mount Paget, com 2.934 metros. A existência dessas montanhas e das inúmeras geleiras que descem por suas encostas acaba isolando diversas partes da ilha entre si, pelo menos por via terrestre.
Mapa da Geórgia do Sul, com suas montanhas mais altas, principais bases, animais mais conhecidos e até a rota de Shackleton
A paisagem montanhosa de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
A formação das ilhas tem a ver com o encontro das placas tectônicas da América do Sul, ao norte, e de Scotia, ao sul. Essa última é uma pequena placa espremida entre as placas gigantes da América do Sul e da Antártida. Aliás, o seu processo de nascimento e formação está ligado a uma mudança geológica que afetou profundamente o clima do mundo e da própria Antártida, transformando-a no continente gelado que conhecemos hoje.
A paisagem montanhosa de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Placas tectônicas do continente americano. No sul está a pequena placa de Scotia, que separa a placa antártica da placa sul-americana
Quando o supercontinente de Gondwana começou a se esfacelar 100 milhões de anos atrás, a América do Sul e a Antártida ainda eram unidas pela Península Antártida. Conforme o tempo passava e África e América iam se separando para criar o Oceano Atlântico, também a Antártida começou a se separar do sul do Chile. Inicialmente era uma passagem estreita, a primeira ligação entre o Atlântico ao Pacífico. Mas as placas tectônicas da América e da Antártida forçavam ainda mais essa separação, criando um espaço entre elas que foi preenchido pela Placa de Scotia. Pois é, placas tectônicas também nascem e morrem, sendo engolidas ou se fundindo com outras. Enfim, esse espaço alargado entre os dois continentes que se separavam ficou cada vez mais profundo e hoje é conhecido como “Drake Passage”, ou “Passagem de Drake”. Por aí circulam milhões de toneladas de água ligando os maiores oceanos da Terra e moldando fortes correntes marinhas que encapsularam o frio polar sobre a Antártida, criando a maior massa de gelo do planeta. Enquanto isso, na porção norte da placa de Scotia, a sua fricção com a placa americana é fonte criadora de terremotos, vulcões e da própria ilha da Geórgia do Sul, com suas altíssimas e escarpadas montanhas.
Muito gelo e neve em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
A paisagem grandiosa de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
A ausência de fósseis antigos na Geórgia do Sul é forte indicativo que a ilha é razoavelmente recente e que nunca esteve ligada às grandes massas de terra onde viveram os dinossauros. Também os humanos nunca haviam chegado aí até que a ilha começasse a ser visitada pelos europeus já no séc. XVIII. Aí eles encontraram centenas de milhares de pássaros, como pinguins e albatrozes, e mamíferos marinhos, como elefantes e leões-marinhos. AO redor da ilha, dezenas de milhares de cetáceos, como baleias e golfinhos. Animais que nunca haviam visto os seres humanos e não aprenderam a ter medo dele.
Salisbury Plain, na Geórgia do Sul, a 2a maior colônia de pinguins rei do mundo!
As montanhs nevadas de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Foi justamente essa abundância de animais a responsável pelo primeiro ímpeto de ocupação da Geórgia do Sul, mesmo com seu clima e condições inóspitas. Baleeiros noruegueses acharam aqui sua mina de ouro e, desde o início do séc. XX e por muitas décadas que se seguiram, fizeram da ilha o seu lar e base para a caça e exploração das baleias. Somente na estação de Grytviken chegaram a viver mais de 500 pessoas durante o verão e estação de caça, enquanto bem menos do que isso ficava lá durante o inverno. Era quase uma pequena cidade, com direito a igreja e escola. Muitas outras estações de baleeiros se espalharam pelas diversas baías da costa norte da ilha e o resultado trágico dessa caça indiscriminada foi a quase extinção de muitas das espécies desse magnífico animal. Falarei mais disso quando chegarmos nessas antigas estações.
Salisbury Plain, na Geórgia do Sul, a 2a mais populosa colônia de pinguins rei do mundo
A temível skua, uma ave de rapina, em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Além dos baleeiros, eram os pesquisadores e exploradores polares os outros a frequentar essa ilha naqueles tempos. Entre eles, o famoso Ernest Shackleton, autor de uma das maiores proezas da história das explorações quando, junto com uns poucos companheiros, conseguiu voltar a remo da Antártida até a Geórgia do Sul. Como chegou a costa sul da ilha, ainda teve de cruzar a pé suas montanhas para, finalmente, encontrar ajuda em Grytviken e organizar outra expedição para salvar sua tripulação deixada na Antártida. Era o ano de 1915 e essa é outra história que vou ter de contar direito mais tarde, quando também nós formos fazer parte do trekking que Shackleton fez pra cruzar as montanhas geladas da Geórgia.
Um grupo colorido de piinguins Rei, em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Carinho de filho para mãe, elefantes-marinhos em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Felizmente, a caça a baleia acabou por aqui. Primeiro, porque já quase não haviam baleias. Segundo, porque a prática acabou proibida. Então, os baleeiros se foram. Assim como os exploradores antárticos, já que o continente já havia sido explorado. O próximo interesse foi estratégico-militar. A posse das ilhas sempre foi britânica, mas a soberania era reclamada pelos argentinos. Em 1982, no contexto da Guerra das Malvinas, eles chegaram a ocupar brevemente partes da ilha. Chegaram em 3 de Abril daquele ano e, numa breve batalha em que perderam um helicóptero e 3 homens, acabaram por conquistar Grytviken, que contava com uma guarnição de 22 marines britânicos. Entre os ingleses que não se entregaram e ficaram em outras partes da ilha, o nosso guia de história da expedição, Damien Sanders. Imagina quanta história não tem para nos contar! Três semanas mais tarde os britânicos reconquistaram o lugar, após danificar e capturar o submarino argentino Santa Fé. As tropas de terra argentinas, lideradas pelo Capitão Alfredo Astiz, se entregaram sem luta. Astiz, um cruel torturador das equipes de repressão do governo militar, aparentemente só era “corajoso” quando tinha o controle da situação. Na Argentina, enquanto a Guerra das Malvinas continuava (só terminou no início de Junho), a imprensa ufanista dizia que os soldados continuavam a lutar na Geórgia utilizando-se de táticas de guerrilha.
Guindaste ergue um dos zodiacs no convés do Sea Spirit, em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Bem vindos a Salisbury Plain, na Geórgia do Sul!
Bom, felizmente, nada mais de baleeiros e de soldados nesse paraíso da vida selvagem. Apenas pesquisadores e turistas, todos em busca das fantásticas paisagens, dos magníficos pinguins rei, a segunda maior espécie desse pássaro, do albatroz real, a ave com a maior envergadura de asas dentre todas as espécies que voam e dos gigantescos elefantes-marinhos, que chegam a ter 8 metros de comprimento. Nós já vamos ver um pouquinho de tudo isso logo no nosso primeiro dia em Geórgia, quando vamos desembarcar em Salisbury Plain, frequentada por leões0marinhos e elefantes-marinhos e local da 2ª maior colônia do mundo de pinguins rei e Prion Island, quando vamos estrear nossos caiaques (finalmente!) e acompanhar os primeiros voos dos filhotes de albatrozes. Dá para imaginar a ansiedade?
Todos ao conés para fotos! (em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul -foto de Peter)
O famoso "Chuveirão", na Caverna Teminina - PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Para quem gosta de caverna, segue mais uma sequência de fotos de lá. Não são fotos nossas. São do Jura, o simpático sócio da agência Parque Aventuras. É ele que aparece aí em cima, na foto do fantástico "chuveirão".
Salão Taqueupa na Caverna Santana, no PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Entrada da Teminina, no núcleo Caboclos - PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
Entrada da Teminina, no núcleo Caboclos - PETAR. Foto do Jura, da Parque Aventuras
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