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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Urso dscansa no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Por incontáveis milênios, a nossa espécie vagou pelas florestas e pradarias africanas, em “íntimo” contato com a natureza. Ali, mas do que nunca, fazíamos parte da cadeia alimentar de vários predadores. Ao mesmo tempo, era dessa mesma natureza que nos servíamos diretamente, através da coleta, extrativismo e, claro, caça de animais menores ou maiores do que nós. Ao longo de nada menos que 10 mil gerações, certamente foi incutido em nosso código genético, através do processo de seleção natural, um medo instintivo dessas enormes criaturas que poderiam nos ver como alimento. Ao mesmo tempo, a convivência com eles e com o meio ambiente que nos cerca também passou a ser uma característica da nossa espécie. Se assim não fosse, com certeza faríamos parte da longa lista de espécies que não se adaptaram ao meio ambiente e se perderam para sempre nos caminhos da evolução.
Perseguindo salmões no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Concentração para a pesca de salmão no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Então, em algum momento, há cerca de vinte mil anos, chegamos ao topo da cadeia. Uma vez ou outra, ainda éramos o almoço, mas passaram a ser as feras que se “preocupavam” mais conosco, e não o contrário. Ainda mais recentemente, um piscar de olhos dentro da nossa evolução como espécie, nos mudamos das matas para a cidade, para longe daquilo que sempre havia sido a nossa casa, a natureza. Pouca gente se dá conta que passamos apenas 1% do nosso tempo como espécie dentro da chamada “civilização”, enquanto os outros 99%, ou 200 mil anos, foi mesmo no mato. Muito pouco tempo para mudar nossas características forjadas à ferro e fogo, sob a chuva e sol ardente, correndo de leões, temendo as cobras pela noite e caçando mamutes durante o dia. Enfim, o sangue desses nossos esquecidos antepassados ainda corre forte em nossas veias.
Um urso a procura de salmões no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Um urso nada solitário no belo lago de Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Não é a toa que, quando à natureza retornamos, em breves viagens de fim de semana ou em longas temporadas de 1000dias pelas Américas, algo profundo e sincero, primitivo e empolgante nos toca. Admiração e respeito, temor e curiosidade, tudo se mistura quando, inconscientemente, voltamos ao nosso lar. O momento em que esse conjunto de sensações fica mais explícito é quando encontramos a vida selvagem, aqueles que dividiram o mesmo espaço conosco durante aqueles incontáveis milênios. De alguma maneira, são como nossos irmãos. É por isso que, mesmo com todo aquele medo que nos fez sobreviver como espécie, também temos a curiosidade de nos aproximar dos grandes animais, vegetarianos ou carnívoros, vê-los de perto, aprender como vivem e, num sentido mais amplo, aprender como vivíamos nós mesmos.
Um grande urso saboreia o salmão que acabou de pescar no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Detalhe das garras de um urso em Haines, no sudeste do Alaska
Imagino que o melhor lugar para sentirmos isso, ficarmos mais perto desse passado que ainda vive literalmente dentro dos nossos genes, seja nas savanas africanas, onde tudo começou. Quem já esteve lá volta transformado. Eu não tive essa chance, mas é uma das coisas que ainda farei na minha vida. Mas há outros lugares no mundo em que podemos ter uma experiência parecida. Dentre eles, certamente se destaca o Alaska. Aqui, ainda encontramos o mundo natural em seu esplendor. Selvagem, inexplorado, grandioso. É claro que a civilização também já chegou por aqui, mas basta dar alguns passos e já estamos mais perto de uma mata que de um shopping, de uma montanha que de um prédio, de um urso que de um ser humano.
Um urso a procura de salmões no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Gaivota observa as técnicas de pescador do urso, no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Pois é, desde que chegamos nessa terra longínqua, estivemos com alces, elks, veados, lebres, águias, coiotes, lobos e ursos. Todos animais que já estavam aqui, na Terra, muito antes de chegarmos. Enfim, a “casa” é nossa também, mas muito mais, deles. Não são apenas nossos irmãos, mas nossos irmãos mais velhos, a quem devemos muito respeito. Não é a toa que os primeiros ídolos de uma criança são seus irmãos (ou primos) mais velhos. São eles que sabem das coisas, são mais corajosos, são quem nos ensinam os segredos. Essa é a melhor tradução do que sentimos quando vemos esses animais caminhando livres pela natureza, aquela que foi e sempre será a nossa casa. Mas junto com a admiração e o respeito, vem o medo também. Irmãos mais velhos são mais fortes e mais sabidos. E também podem nos fazer mal.
Um grande urso saboreia o salmão que acabou de pescar no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Urso adolescente abocanha um salmão no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Mais do que nunca, essa combinação de respeito, admiração e medo vale para aqueles animais maiores do que nós, especialmente os que podem nos comer. Misteriosamente, são os que mais nos atraem. É preciso sempre achar o balanço certo entre esses dois sentimentos, a curiosidade e o medo. Com muito medo, acabamos não saindo de dentro de casa, assistindo tudo pela TV. Com excessiva curiosidade, acabamos virando almoço, como foi o caso de poucas pessoas, mas sempre em notícias muito alardeadas pela imprensa.
Nadando tranquilamente no rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Um grande urso nada nas águas do rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Tivemos a oportunidade de ver predadores como ursos e lobos em diversas partes do Alaska. Mas em nenhum lugar foi como Haines. Aqui, uma combinação de fatores faz com que esse balanço entre curiosidade e medo possa pender, com segurança, muito mais para a primeira. Tudo por causa da quantidade farta de alimentos que nessa época, “nada” por aqui. São os salmões, subindo os cursos d’água em direção aos locais em que nasceram, poucos anos antes. Os ursos, assim como outros predadores, ficam no rio e, durante semanas, se refestelam. O excesso de comida faz com que fiquem mais calmos, baixem a guarda, aceitem a presença de outros animais, inclusive dos seus pares. Normalmente, grizzlies são animais solitários (com a notável exceção de uma mãe acompanhada de filhotes!), mas aqui pode-se vê-los em grupos, convivendo pacificamente. Um verdadeiro espetáculo, assisti-los no rio, nadando e se divertindo, enquanto pescam e se alimentam.
Pescadores aproveitam o rio Chilkat ainda sem ursos, em Haines, no sudeste do Alaska
Pescadores aproveitam o rio Chilkat ainda sem ursos, em Haines, no sudeste do Alaska
Muito interessante também é ver a convivência de ursos e homens. Dois predadores no topo da cadeia. Pois é, a maioria dos visitantes dessa época, aqui em Haines, não vem atrás dos ursos, mas dos salmões. São pescadores! Dividem o mesmo rio com os ursos. Com o devido respeito, é claro! Eles já sabem que o horário preferido dos ursos é no final da tarde. Então, basta chegar ao rio um pouco antes disso que vemos ele lotado de pescadores com suas longas cordas e varas. Aqui, pescam com a “fly fish” (não sei como dizer em português...) e observá-los nas águas verde-esmeralda do rio é um espetáculo em si só. Aí, de repente, vemos um pescador, meio ressabiado, se afastando do lugar que estava. Já sabemos! É um urso que chegou por lá. E assim continua, os ursos chegando e os pescadores cedendo seu espaço. A princípio, podemos pensar que são regras de convivência aprendidas nos últimos anos, tanto por ursos como por pescadores. Mas eu arrisco dizer que as regras são um pouco mais velhas. Tem 200 mil anos de idade. E é com lágrimas nos olhos, do fundo dos meus genes, que eu digo: é emocionante vê-las funcionando.
Um grande e obeso urso atravessa a estrada bem em frente à Fiona, em Haines, no sudeste do Alaska
O urso não parece se importar muito com a placa em Haines, no sudeste do Alaska
Assim como é emocionante poder estar a poucos metros deles, enquanto saboreiam seu salmão, ou nadam para poder pescá-los. Incrível a sua intimidade com a água. Se algum dia tiver que fugir um urso, não caia na bobagem de entrar num rio! Ele vai alcançá-lo, com certeza! Aliás, sair correndo ou subir numa árvore também não me parecem boa ideia. Se o urso quiser mesmo te comer, a melhor chance é pular de um penhasco ou então, sair no braço. Enfim, são poucas as chances. Por isso, não devemos jamais perder o respeito! Mesmo aqui, deixe um espaço para o urso. Essa é a principal regra de etiqueta no mundo deles. Ou então, fique dentro da Fiona! Com sorte, vai poder ver um cruzando a estrada bem na sua frente. Mas, o melhor mesmo é vê-los na água, entretidos, enquanto nós, na segurança de um barranco, a poucos metros do animal, a Fiona ali do ladinho, temos a mais pura e sincera alegria de estar ali. Com máquina fotográfica, claro!
Um grande urso nada nas águas do rio Chilkat, em Haines, no sudeste do Alaska
Um urso desses na minha frente, meu Deus! hehehe
Resposta:
Oi Marcelo
Estavam pertinho mesmo! Mas tinha um barranco entre nós, e a Fiona estava do nosso lado para qualquer "eventualidade"...
Grande abraço
Oi Rodrigo,
Parabéns pelo relato cheio de emoção! Inclusive, bem interessante o ponto que você fez do equilíbrio entre a curiosidade e o medo, a reflexão é interessante!
Abraço,
Gustavo
Resposta:
Oi Gustavo!
Estamos curiosos para ver os seus relatos sobre o urso do Denali e também os que vcs certamente encontrarão em Valdez e em Haines
Não cheguem muito perto, mas também não fiquem longe demais, hehehe
Um grande abraço para todos por aí
Rodrigo, belo e interessante texto, com boas reflexóes e conclusões. Parabéns! Um abraço do seu irmão mais velho, um legítimo urso das terras geladas de Ribeirão Preto!
Resposta:
Oi Guto
Vc sabe que elogio seu, para os textos, vale por dois!!!
Um grande abraço para o urso das terras geladas de Ribeirão, hehehe!
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