0
Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
Alaska Anguila Antártida Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Falkland Galápagos Geórgia Do Sul Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Islândia Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Uruguai Venezuela
Lucia (10/03)
Oh Aleluia!!! Vim aqui correndo dar uma olhadinha só pra ver se já tinh...
Tatiana Queiroz (09/03)
Olá, Rodrigo. Quanta coisa pra se ver num país tão pequeno. Fica uma l...
Sergio Paiva Sampaio (08/03)
Bon soir,.......td bem ai,...sou o irmao da Mariangela de delfinopolis,.....
arnor (08/03)
Dona Helen (08/03)
Mes filles Je suis trés hrureuse avec tes efforts avoir eté coronnés ...
Pôr-do-sol em Caravelas - BA
Tudo o que é bom termina e estava na hora de deixarmos Abrolhos. No último dia, um pouco de tudo: mergulho, banho de mar, passeio numa ilha e caça às baleias, no bom sentido, claro. Não encontramos tantas como na viagem de ida, mas a cor do mar estava muito mais linda, azul e tornava as visões ainda mais belas, quase mágicas.
Baleias desfrutam do lindo e calmo mar em Abrolhos - BA
Chegando em Caravelas, a hora da despedida. Com o sol se pondo, ali no porto fluvial de Caravelas, tivemos ótimas oportunidades de fotos. A grande maioria dos novos amigos iria tomar um taxi para Porto Seguro e de lá voar para o Rio ou para Curitiba. Antes do taxi chegar ainda ouve tempo para uma cervejada. O pessoal partiu e a cervejada continuou com os remanescentes.
Fotos de despedida do grupo que esteve em Abrolhos, em Caravelas - BA
Hoje, dia 18, o tempo de chuva foi uma inspiração para botarmos várias coisas em ordem. A começar pelo site, com diversos posts e fotos. Aliás, tem um vídeo novo no ar, bem caprichado, feito pela Ana. Confiram na seção de vídeos do site, o vídeo da Serra do Cipó.
O Renato, um de nossos dive-masters com o João, em Caravelas - BA
Falando na Ana, ela está com algum problema no ouvido. Hoje, ela fez um tour pelo hospital e postos de saúde de Caravelas em busca de um médico. Na ausência de um otorrino, foi atendida por um médico geral, que tentou ajudar da melhor forma possível. Vamos ver se os remédios receitados vão ajudar...
Com a Laila, que organizou a viagem à Abrolhos, em Caravelas - BA
Eu fui atrás de dinheiro, cash, efectivo, já que o único banco da cidade é o BB onde nossos cartões teimam em não funcionar. O problema é que as próximas cidades no nosso roteiro são menores ainda, sem muita chance de encontrar caixas eletrônicos. Quem resolveu meu problema foi a Laila, uma das proprietárias da Apecatu, a companhia que nos levou à Abrolhos. Com sua ajuda, passei o cartão num posto de gasolina e consegui o precisado dinheiro.
Maurício, um dos dive-masters do nosso barco, em Caravelas - BA
A Apecatu também solucionou outro problema. A minha lanterna de canister, para mergulhar, estava com uma das presilhas soltas. Precisava ser rebitada. O Thomas, marido da Laila, pediu para o Maurício, um dos dive masters do nosso barco e da companhia fazer isso para mim. Tiro e queda! Nada como ter as ferramentas certas e uma "certa" habilidade manual. Quisera eu...
Por fim, fora esses passeios pela cidade, restou ficar na pousada do simpático peruano de Trujillo, o Fran, trabalhando no computador. Exceto, claro, na hora da novela. Depois de tantos dias, ninguém segurava a curiosidade da Ana, hehehe.
Momento de descanso no deck do barco, em Abrolhos - BA
A chuva lá fora, e eu lembrando do sol e do mar de Abrolhos...
Um mar quase caribenho em Abrolhos - BA
Visitando o mercado de peixes em Manaus - AM
Como vimos que só poderemos viajar para Santarém na segunda ou terça, decidimos adiar nossa ida à Nova Airão para amanhã e ficar mais um dia em Manaus. Assim, poderíamos aproveitar esse dia para procurar novas alternativas para viajar à Santarém, além de andar um pouco mais pela cidade.
O belo e restaurado prédio do Palacete Provincial, em Manaus - AM
De novo, resolvemos ir ao porto à procura de barcos. Desta vez por um novo caminho e para um outro porto. Em Manaus, tem vários. Neste caminho, passamos por outra das grandes atrações da cidade, o Palacete Provincial, um belo prédio que já foi sede da polícia e que está todo restaurando, abrigando vários museus e espaços culturais.
Passagens fluviais para toda a região amazônica, num dos muitos portos de Manaus - AM
Barco, passageiros e redes prontos para zarpar de Manaus - AM
De lá, atravessamos toda a movimentada Zona Franca de Manaus, com suas centenas de pequenas lojas, e chegamos a um porto bem menos organizado e, até por isso, bem mais autêntico, que o porto oficial. Lá, de conversa em conversa, de barco em barco, encontramos uma alternativa bem mais barata para a Fiona. Sai apenas na terça, mas a economia de 700 reais muito mais do que compensa. Mas, certeza mesmo de um bom negócio, só vou ter quando este barco zarpar, conosco e com a Fiona à bordo, na terça. Até lá, sempre um pé atrás. Afinal, minha experiência com o horário de barcos amazônicos não é das melhores. Em 1990, em Iquitos, no Peru, embarcando para Tabatinga, já no Brasil, foram alguns dias de espera. No final, sempre sai, mas é um grande alívio ver o porto ficando para trás. Aqui em Manaus, me dizem, as coisas funcionam melhor com esses barcos grandes. Vamos ver...
O Mercado Municipal em reforma, em Manaus - AM
Ainda antes de chegar no porto, passamos pelo imponente Mercado Municipal, em obras de restauração. Mas, logo ali do lado, há outro mercado, de peixes, que é um espetáculo. Não só de peixes, mas também de frutas, verduras e outras coisas. Mas a parte de peixes é a mais interessante. Passamos bem uma hora por ali, zanzando nos diversos corredores, conversando com as pessoas e fotografando. Delícia de passeio. Incrível a quantidade e variedade de peixes. Incrível também é o tamanho do mercado. Achei muito maior e mais sortido que os mercados de Belém, Fortaleza e de outras grandes cidades que estivemos. Uma coisa que sempre me impressiona é a quantidade de pequenas lojas e estandes, todos vendendo a mesma coisa. isso sim é concorrência! Não é à tôa que são nesses mercados que conseguimos os melhores preços. Fico sempre duvidando de que haja clientes para todas aquelas lojas. Mas o fato é que, se elas estão lá, é por que há clientes para sustentá-las...
O movimentado mercado de peixes em Manaus - AM
O movimentado mercado de peixes em Manaus - AM
A visão de toda aquela abundância de alimentos nos deu uma fome danada! Fomos para o hotel Taj Mahal, quase do lado do nosso hotel Brasil. Ali, no último andar, tem um restaurante numa torre giratória. Em menos de hora, damos a volta toda e temos lindas vistas de Manaus, especialmente do Teatro Amazonas, logo ali na frente. Um espetáculo, observá-lo de cima e, um pouco mais atrás, a grande ponte sobre o Rio Negro, que ainda não foi inaugurada. Isso sem falar do próprio rio, poderoso, a poucos quilômetros antes de se encontrar com o Solimões para formarem, juntos, o maior rio do mundo, o Amazonas.
Rio Negro visto do restaurante giratório Taj Mahal, em Manaus - AM
Comemos um prato delicioso, feito com os dois peixes mais famosos da bacia amazônica, o Tucunaré e o Pirarucu. Excelente idéia do cozinheiro! Assim, num mesmo prato, podemos saborear os dois peixes, curtindo suas diferenças de gosto e textura. Tudo a um molho de frutas amazônicas. Hmmmmm...
Almoçando no restaurante giratório do Taj Mahal, com belíssima vista de Manaus - AM
Bom, e depois de muito conversar, temos os nossos planos para os próximos meses mais ou menos delimitados. O problema maior está na parte inicial, que depende também de terceiros, além de São Pedro. Vamos passar os próximos dois dias em Novo Airão (botos e Anavilhanas!!!); voltamos para Manaus para a ópera; embarcamos para Santarém na terça; Alter do Chão e o caribe brasileiro; transamazônica até o Maranhão (brrrr...); depois, na sequência, Chapada das Mesas, Jalapão, Palmas, Ilha do Bananal, Terra Ronca, Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis e Goiás velho, Rio Verde, Brotas, visita às famílias em Ribeirão Preto e Curitiba. Por fim, rumo ao Paraguai para o início da nossa longa viagem pela américa espanhola. Parece bom, né?
Belo pôr-do-dol em Manaus - AM
Chegando à mais famosa construção nas ruínas mayas de Uxmal, o Templo do Adivinho, no Yucatán, sul do México
Uxmal foi uma importante cidade maya do período clássico da civilização, atingindo seu auge por volta do ano 900 da nossa era. Suas ruínas são majestosas e não ficam nada a dever para outras ruínas mais conhecidas, como Chichen-Itza, Palenque ou Tikal (na Guatemala). Com uma grande vantagem: são menos visitadas que essas outras e, portanto, não temos de dividi-las com tantos outros turistas.
O famoso Templo do Adivinho visto por trás, nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Caminhando nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Na sua época de ouro, a cidade estabeleceu uma aliança com Chichen-Itza e, juntas, por mais de um século, tiveram a supremacia na parte norte da península. Mas a queda de sua aliada levou Uxmal a uma lenta decadência, até cair frente a invasores toltecas por volta de 1.100, quando novas construções deixaram de ser feitas. Quando os espanhóis chegaram á região, a cidade já tinha bem pouca importância e acabou sendo completamente abandonada na era colonial.
Entrando no Quadrângulo das Monjas", nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
O famoso "deus narigudo" maya, nas ruínas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
As ruínas foram “redescobertas” logo após a independência do México e passaram a atrair importantes exploradores, já a partir de 1830. As primeiras fotografias são de 1860, algumas das mais antigas de todo o mundo maya. Foi nessa época também, durante o segundo período monárquico do México, que a cidade foi visitada pela imperatriz Carlota. Antes da chagada da soberana, todos as esculturas e petroglifos com símbolos fálicos (muito comum entre os mayas!)foram retirados das ruínas, para não ofender a pureza real.
Suporte de madeira ajuda a conservar parte das ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Outra história interessante envolvendo monarcas foi na ocasião da visita da rainha da Inglaterra, em 1975, para a inauguração do show de sons e luzes noturno. Quando a apresentação chegou ao momento de homenagem a Chaac, o deus maya da chuva, uma chuva torrencial caiu sobre o local e dignitários que aí estavam, mesmo que fosse durante o mês de fevereiro, o auge da estação seca.
Caminhando pelo imponente Quadrângulo das Monjas", nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Uxmal está a cerca de 80 quilômetros a sudeste de Mérida e foi a nossa primeira parada num dia longo que ainda incluiria uma visita à caverna de Lon-Tun e uma viagem até a cidade de Tulum, já na costa do Caribe, do outro lado da península do Yucatán. E olha que nós não conseguimos começar cedo, ainda terminando de fazer algumas coisas em Mérida.
O "gol" ou cesta do juego de pelotas nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Mas, enfim, chegamos à antiga cidade-estado maya e, desde o início, já fiquei impressionado. Primeiro, com a magnitude das ruínas e, depois, com o pequeno número de turistas. Logo que entramos na cidade, damos de cara com a construção mais famosa, a chamada Pirâmide do Adivinho. Diferente de todas as outras pirâmides da civilização maya, com suas linhas retas, essa tem linhas ovaladas. Foi justamente dela que tinha visto o comparativo de fotos ontem, no Museu de Mérida. Vê-la agora, ao vivo, foi ainda mais impressionante; E por causa das fotos antigas, pude imaginar também o que viu a Imperatriz Carlota, há 150 anos. Mesmo sem os símbolos fálicos, ela deve ter ficado impressionada...
O Altar do Jaguar nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Atrás dessa pirâmide está o também incrível “Quadrãngulo das Monjas”. O nome foi dado pelos conquistadores espanhóis por sua semelhança com um convento, pois não existiam monjas ou freiras na civilização maya. É um grande complexo de prédios ao redor de uma praça central, dezenas de câmeras internas para serem exploradas. Só essa construção já nos dá uma boa ideia da enorme população que vivia em Uxmal.
Explorando as ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Outro importante prédio é o Palácio do Governador, com a maior fachada de qualquer construção pré-hispânica na meso América. É claro que também não faltam os sempre presentes juegos de pelota, outras pirâmides, um altar de um jaguar e um templo decorado com pictografias de tartarugas.
Encontro com brasileira e paranaense nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Nas nossas andanças e explorações, até encontramos uma curitibana, que hoje mora no Rio Grande do Sul, que conversou bastante tempo com a Ana. Enquanto isso, eu tratei de ir a lugares mais remotos e até inventei uma trilha até o ponto mais alto das ruínas, no topo de uma pirâmide que ainda não foi totalmente restaurada. Visão magnífica de toda a cidade, completamente a sós. Lugar ideal para tentar se comunicar com os antigos donos do lugar. Como não consegui, fui procurar a Ana para ela me ajudar.
Buscando os locais mais isolados das ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Explorando as ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Ela estava no alto da “Grande Pirâmide de Uxmal”, essa sim restaurada e frequentada por outros turistas. Levei-a para minha pirâmide, ainda mais alta que a Grande Pirâmide, de onde tiramos nossas fotos e curtimos o visual do enorme vasto cerrado que cerca a cidade e dos prédios mais famosos de Uxmal, todos abaixo de nós.
Nosso lugar secreto, o ponto mais alto das ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
A bela vista do nosso lugar secreto, o ponto mais alto das ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Depois desse clímax, hora de seguir viagem. Adoramos Uxmal, seus prédios icônicos, o sossego relativo e até a chance de chegar a um lugar onde quase ninguém deve ir. Espetacular! Foram nossas últimas ruínas mayas aqui no Yucatán e não poderíamos ter fechado de melhor maneira: com chave de ouro! Agora, o negócio era acelerar a Fiona para ver se ainda conseguíamos pegar a tal caverna de Lon-Tun aberta...
Passeando nas ruínas mayas de Uxmal, no Yucatán, sul do México
Chegando à fronteira entre Brasil e Argentina, em Porto Xavier, no Rio Grande do Sul
Ontem, voltamos ao exterior novamente, dessa vez para conhecer a parte do continente que nos falta: toda a parte sul da América, incluindo Argentina, Chile, Uruguai, as ilhas no Pacífico e Atlântico Sul e até um pulinho na Antártida. Serão cerca de 5 meses viajando por essa vasta região, muitas idas e vindas entre Chile e Argentina na região andina, certamente uma das mais belas do continente e do planeta.
Nosso caminho cruzando a Argentina rumo a Santiago, passando pelo Paso de San Francisco, entre Fiambala e Copiapo. Na rota, as cidades de Corrientes, Resistencia, Santiago del Estero, La Serena e Valparaiso, além dos rios Uruguai, Paraguai e Paraná
Bem, toda grande viagem começa com um primeiro passo e o nosso foi cruzar o rio Uruguai, que separa o Rio Grande do Sul da província de Missiones, na Argentina. Fizemos essa passagem em Porto Xavier, para desespero do Google Maps, que não sabe que isso é possível. Possível é, mas deu um certo trabalho. Não são muitas balsas, principalmente nos finais de semana (ontem foi sábado)e para quem não sabe os horários, pode ter de esperar um pouco. Foi o nosso caso: chegamos as 12:15 e tivemos de esperar até as 16 horas. Enfim, a espera foi num simpático restaurante que tinha até wifi.
Cruzando o rio Uruguai, entre Brasil e Argentina, em Porto Xavier, no Rio Grande do Sul
A nossa deliciosa passagem pela região de Missiones ainda no dia de ontem e manhã de hoje está descrita no post anterior (link aqui), e depois do almoço iniciamos nosso longo caminho até Santiago, no Chile, onde temos de chegar até o dia 9 de Outubro. Isso porque no dia 10, véspera do meu aniversário, já estamos com voo marcado para a Ilha de Pascoa, em pleno Oceano Pacífico. Vai ser mesmo um aniversário especial, hehehe! Enfim, temos pouco mais de 10 dias para cruzar a Argentina e chegar até a capital chilena, um percurso com cerca de 2.900 km. O mapa nesse post mostra qual será a nossa rota. Seguiremos quase que uma linha reta até Fiambalá e daí cruzaremos os Andes pelo Paso de San Francisco, uma das mais belas estradas sobre essas montanhas. Para quem não se lembra, já tentamos passar por aí, há pouco mais de dois anos, quando estávamos explorando a região de Salta e nos dirigíamos ao Atacama, já do outro lado da cordilheira. Naquela época, o Paso San Francisco estava fechado por causa da neve e nós demos com os burros n’água. Dessa vez, vai ser diferente!
O rio "brasileiro" Paraná, em Corrientes, na Argentina
Bom, depois das últimas visitas às missões jesuíticas, pegamos estrada e seguimos a Corrientes, mostrada no mapa. A estrada segue paralela quase o tempo todo ao rio Paraná, que nesse trecho faz a fronteira entre a Argentina e o Paraguai. Para o sul, passamos ao largo de uma das grandes atrações turísticas do país, os “Esteros del Iberá”, uma espécie de versão hermana do nosso Pantanal. As fotos de lá são lindas, mas como passamos recentemente pelo original, assim como pelos Llanos na Venezuela, e com o tempo corrido que temos para chegar a Santiago, acabamos deixando para a próxima vez. É sempre bom ter motivo para voltar!
Mapa da bacia do Rio da Prata, mostrando os rios Paraná, Paraguai e Uruguai ao longo das fronteiras de Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai
Mas, voltando ao rio Paraná, confesso ser estranho ver esse rio que considero tão brasileiro, aqui no meio dos nossos países vizinhos. Aliás, nesses poucos dias, estamos passando por vários rios importantes, não só para o Brasil, mas para todos os países do Mercosul. Além do Paraná e do Uruguai, ainda tem o Paraguai, que se junta ao Paraná um pouco antes da cidade de Corrientes. São as águas desses três rios que formam o Rio da Prata, um dos mais volumosos do continente, que banha Buenos Aires e Montevideo e tem uma boca com mais de 200 km de largura.
A imensa foz do Rio da Prata. Pode-se ver claramente a cidade de Buenos Aires, ao sul do rio, além do rio Uruguai, que delineia a fronteira desse país, e o rio Paraná, que traz as águas de Minas, São Paulo, Paraná e até do Pantanal (através do rio Paraguai)
O mapa nesse post dá uma boa ideia de toda essa rede hidrográfica. O rio Paraguai escoa toda a água do nosso Pantanal (nós o vimos lá em Cáceres e também em Corumbá), cruza o país que lhe dá nome passando pela capital Assunción e vem desembocar aqui no rio Paraná. Já esse, vem recolhendo água desde o rio Grande em Minas Gerais, Tietê, em São Paulo e Iguaçu, do Paraná. Aí, abandona nosso país para se tornar argentino, recolhe as águas do rio Paraguai e segue para o sul para, junto com o rio Uruguai, formar o enorme Rio da Prata. Por fim, o rio Uruguai, que nasce entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, desenha a fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina e depois, do país que lhe dá nome com os hermanos. O seu encontro com o rio Paraná forma o famoso delta do Tigre, região de lindos passeios de barco perto de Buenos Aires. Enfim, é água que não acaba mais e é só olhando no mapa que conseguimos entender toda essa rede.
Parque na orla do rio paraná, em Corrientes, na Argentina
A enorme ponte que cruza o rio Paraná, entre Corrientes e Resistencia, na Argentina
Por fim, antes de nos afogarmos, chegamos a simpática Corrientes. Depois de nos instalar, fomos passear pela avenida e parques que bordeiam o rio Paraná. Parte daquela água que vemos passar ali, já falando castelhano, passou lá por Curitiba, no rio Iguaçu. De alguma maneira, nos faz sentir em casa. Mas não é só o rio que nos passa esse sentimento. O simpático povo também! Ao passarmos ao lado de um coreto, paramos para admirar um grupo de pessoas que dançava tango. Um senhor veio falar conosco e não descansou enquanto não levou a Ana para dançar com ele. Contou-nos que o grupo sempre se reúne ali ao final da tarde para praticar a dança nacional e foi muito legal ver ele dançar e ensinar alguns passos para a Ana, com o rio Paraná fazendo o pano de fundo. Não poderíamos ter tido melhor boas-vindas neste país que tanto amamos e admiramos.
Corriente; é conhecida como a "cidade dos murais"s, na Argentina
Corriente; é conhecida como a "cidade dos murais"s, na Argentina
Mas nem só de rio e de tango é feito Corrientes! A cidade é conhecida na Argentina pela quantidade de murais espalhados por suas ruas e praças. Um espetáculo! Por um bom tempo a gente se divertiu procurando e fotografando essas obras de arte que tanto humanizam as cidades grandes, como é o caso de Corrientes.
Corriente; é conhecida como a "cidade dos murais"s, na Argentina
Muitos murais espalhados pelas ruas e praças de Corrientes, na Argentina
Após uma noite na cidade dos murais, era hora de pegar estrada novamente. Pela frente, a longa ponte que cruza o rio Paraná, rumo a outra grande cidade do lado de lá: Resistencia. Mas antes mesmo de chegarmos a ponte, demos de cara com um dos problemas que assolam e assustam os motoristas brasileiros aqui na Argentina: os guardas do país. Conhecida como gendarmeria, tem a fama de encontrar ou inventar motivos para nos multar e conseguir alguma propina. A má fama deve ter vindo de algum lugar, mas na nossa outra passagem pelo país, não tivemos nenhum problema. Será que iria começar agora? Geralmente, se estamos seguindo as regras, como ter o seguro de batidas, equipamentos de segurança, documentação em dia e faróis acesos, não há problema. Pois é, essa era a questão, nossos faróis estavam apagados! O problema é que tínhamos acabado de sair de uma rua lateral e entrado na avenida principal. E esta avenida, além de avenida, também é a ruta que atravessa a cidade e, portanto, obriga os motoristas a circular com os faróis acesos. Além disso, o guarda foi logo reclamando que o quebra-mato da Fiona avançava sobre o para-choque, o que é proibido no país. Pronto, todos os ingredientes para tirarem uma propina!
Muitos murais espalhados pelas ruas e praças de Corrientes, na Argentina
Mas não nos rendemos. Argumentamos que, na fronteira, haviam nos dito que não teríamos problema com o quebra-mato (um bom blefe, dito com a cara mais séria possível!). Quanto ao farol, tínhamos acabado de entrar na ruta, que naquele ponto era apenas uma avenida cruzando o centro da cidade. Para nossa grata surpresa, depois da Ana conversar com o guarda chefe da pequena blitz, eles nos liberaram, sem multa, sem propina e com a recomendação de acendermos o farol. Enfim, foram muito corretos! Viva nossos hermanos! Continuamos sem saber de onde vem a má fama que tem com os brasileiros...
Encontro com os motociclistas Pelegrini, Alexandre e Leandro, no seu caminho para Machu Picchu, na estrada a caminho de Corrientes, na Argentina
Por falar em brazucas, encontramos os primeiros deles, ainda antes de chegar em Corrientes. três motociclistas iniciando um longo e rápido giro por Argentina, Chile e Perú. Aqui no Cone Sul, ao contrário do que ocorreu na América do Norte e Central, e mesmo nos países do norte da América do Sul, a tendência é encontrarmos muitos outros brasileiros viajando motorizados. Afinal, Patagônia, Atacama e cada vez mais, Machu Picchu, fazem parte do roteiro dos overlanders brasileiros. Ainda temos muito que aprender com os hermanos, que chegam em grande número à América Central e México e nos mostram que com duas e quatro rodas se pode (e se deve!) chegar longe. Mas isso já é um bom começo. É sempre um prazer encontrar brasileiros na estrada e chegará o dia em que os guardas de fronteira entre EUA e Canadá não ficarão surpresos de nos ver por lá. Amém!
Encontro com os motociclistas Pelegrini, Alexandre e Leandro, no seu caminho para Machu Picchu, na estrada a caminho de Corrientes, na Argentina
A charmosa Rue du Petit-Champlain, na parte baixa do centro histórico de Quebec, no Canadá
Chegamos em Quebec justamente no final de semana. Se a cidade (e o país) já fica em “estado de festa” permanente durante o verão, no fim de semana a animação se acentua ainda mais! Ruas cheias, pessoas felizes, mercados, feiras, festivais, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Sente-se a “energia” vibrar pelo ar.
A parte baixa do centro histórico de Quebec, no Canadá
Quebec é a única cidade “murada” ao norte da Cidade do México. Certamente, não foi para efeitos “decorativos” que se construíram as grossas muralhas e torres que cercam toda a cidade histórica. Não, o problema era mais em baixo. Quebec, a principal cidade francesa na América do Norte, estava sob constante ameaça dos rivais ingleses, que lutavam pela supremacia no continente. Mais de um século de escaramuças e guerras mais tarde e Quebec finalmente caiu, na famosa batalha de “Plains of Abraham”, lutada aos pés dos muros que cercam a cidade. Agora, todo o país e toda a província eram ingleses, mas Quebec continuaria mais francesa do que nunca, na língua, nos costumes e na cultura.
A charmosa Rue du Petit-Champlain, na parte baixa do centro histórico de Quebec, no Canadá
Quinze anos mais tarde e a cidade repeliu o ataque dos revolucionários americanos. Desde então, os muros foram perdendo suas características defensivas e ganhando ares turísticos. Hoje, é possível a dar volta na cidade encima ou ao lado deles, toda a área transformada em um parque. Na parte de dentro, a “Velha Quebec”, dividida em Cidade Alta e Cidade Baixa. Do lado de fora, muita coisa interessante para ser visitada, como o pomposo Palácio do Parlamento Provincial, a rua da balada, com suas dezenas de bares e restaurantes lado a lado, e as “Planícies de Abraão”, onde foi lutada a famosa e decisiva batalha de 1759.
O palácio do Parlamento, em Quebec, no Canadá
Nesses últimos dias, tentamos viver um pouco de tudo isso, aproveitando cada minuto nessa deliciosa cidade. Logo na primeira noite, depois de conseguirmos achar um hotel para ficar dentro dos muros (difícil tarefa num final de semana de verão!), pudemos caminhar pelas ruas desertas e monumentos iluminados, em plena madrugada. Tudo porque insistimos em pegar uma agitada balada, do lado de fora dos muros. Foram momentos mágicos!
Pessoas fantasiadas passeiam pelo centro histórico de Quebec, no Canadá
No dia seguinte, ainda pela manhã, descemos caminhando para a movimentada Parte Baixa de Quebec. Caminhávamos entre centenas de animados turistas e dezenas de cidadãos da cidade fantasiados com roupas dos séc XVII e XVIII. Incentivados pela prefeitura, ficam perambulado pela parte histórica da cidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo, ou como se realmente vivessem há 200 anos. Era o que faltava para podermos sentir ainda mais o clima da cidade centenária, ruas e prédios com a mesmíssima arquitetura de dois séculos atrás.
Visto do rio St. Laurent, ou São Lourenço, em Quebec, no Canadá
Um bom passeio pelas ruas de pedra, por entre feiras e mercados, uma olhada na orla do rio e estávamos prontos para mais um delicioso almoço francês num dos muitos restaurantes ali embaixo. Renovados, voltamos à parte alta, agora para explorar as ruas que ainda não tínhamos visto naquela área. A cada esquina, uma nova movimentação, mais um grupo de restaurantes, mais um prédio histórico. Impressionante! Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, temos sempre a impressão de estar perdendo alguma coisa...
Cerimônia da troca da guarda, na Citadela de Quebec, no Canadá
Seguimos para fora da cidade, para ver o prédio do parlamento e os famosos campos de batalha, hoje transformados em parque e enorme área verde. Daí se pode observar a cidade murada de um lado, a Citadela (o maior forte do país) de outro e o rio São Lourenço passando lá embaixo. Uma vista magnífica para um fim de tarde!
Fim de tarde em frente ao Cháteau Frontenac, o mais famoso hotel de Quebec, no Canadá
Ainda conseguimos ver a concorrida cerimônia da troca da guarda na Citadela. Aqui, os uniformes são ingleses, parecidos com os do Palácio de Buckingham, em Londres. Pareceram-me um pouco fora do contexto. Voltamos rapidamente para o mundo francês do lado de dentro da cidade, ao lado do Cháteau Frontenac, o mais fotografado hotel do mundo. Não é por menos, uma construção gigantesca e estilosa, suas torres parecendo querer encostar no céu.. Incrível imaginar que construíram um prédio daquele tamanho em pleno século XIX para servir de hotel! Hoje, acabou se transformando na principal landmark da cidade.
O famoso Chateau Frontenac, um dos mais fotografados hoteis do mundo, em Quebec, no Canadá
Para encerrar o dia, do terraço do nosso hotel, junto com os outros hóspedes, assistimos de camarote ao enorme cinema em que foi transformado as paredes de um grande armazém portuário. Em seguida, um show de fogos celebrando o verão e apropria cidade de Quebec. A luz dos fogos iluminava a cidade e as águas do rio, emprestando um ar meio mágico ao cenário. Inesquecível!
Viajante que levou seu piano através dos Estados Unidos, em Quebec, no Canadá
O dia de hoje foi dedicado a mais andanças pelas ruas, um pouco mais vazias do que ontem, inclusive na famosa Place Royale, a principal da Cidade Baixa. Entramos nas belas igrejas da cidade e passamos boas horas em dois dos muitos museus de Quebec. O primeiro foi o que conta a história da América Francesa, de que tratei no post anterior. O segundo foi o Museu das Civilizações. Aí pudemos ler um pouco e aprender sobre a história e a arte dos povos indígenas do Canadá, aqui conhecidos como “First Nations”. Por séculos tiveram sua cultura e modo de vida reprimidos, mas hoje, dentro da política de valorização multicultural do governo e da constituição, as coisas estão mudando, felizmente. Eles são os únicos habitantes das vastas regiões do norte do país, região que aprenderam a viver e interagir com a natureza. Um exemplo de adaptabilidade à condições extremas e uma verdadeira lição de vida. Entre os povos das “First Nations”, nossos amigos Inuits lá da Groelândia. Foi engraçado, até nos sentimos mais “em casa” ao ler sobre eles...
Armazens do porto transformados em gigantesco cinema ao ar livre, em Quebec, no Canadá
Pessoas assistem à show de fogos em Quebec, no Canadá
Por fim, no mesmo museu, deixamos um pouco a América e viajamos para a Ásia. Mais especificamente, para o Japão. O museu apresentava uma excelente exposição sobre os samurais, contando um pouco da história e cultura dessa casta de guerreiros. Trajes e armas reais nos transportaram para um outro tempo e outra realidade, quase fantasiosa, saída de algum filme do Kurosawa. Muito legal!
Arte Inuit no Museu da Civilização, em Quebeq, no Canadá
Belíssima exposição sobre samurais, no Museu da Civilização, em Quebeq, no Canadá
Amanhã, deixamos à cidade rumo a dois dias por Parques Nacionais da província de Quebec. Chega de cidades grandes, vamos à pujante natureza do Canadá!
Belíssima exposição sobre samurais, no Museu da Civilização, em Quebeq, no Canadá
Um inesquecível nascer-do-sol por detrás da fileira de Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Acordamos hoje um pouco antes das cinco da manhã, com a ajuda de um despertador. O sono e o frio se aliaram para nos convencer a ficar na cama. Mas tive forças de me levantar e ir até a janela. Não se via estrelas, o céu estava nublado. Mas uma ótima razão para voltar para a cama.
Um Moai parece assistir o amanhecer nas ruínas de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Turistas assitem ao nascer-do-sol atrás da fileira de Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Cinco dias antes, ainda em Santiago, na casa da Maria Ester, vimos uma foto ampliada transformada em quadro aqui da Ilha de Páscoa. Retratava o nascer do sol em Ahu Tongariki. As cores eram inacreditáveis! Naquele momento, véspera da nossa viagem para ilha, a gente se prometeu: “Temos de ver isso!”.
Turistas assitem ao nascer-do-sol atrás da fileira de Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
O sol nasce na região de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Pois é, aquela promessa tão recente agora pesava em nossas consciências. Tudo dizia para ficarmos na cama, mas promessa é promessa. Meio de mau humor, levantamos, botamos nossos agasalhos e entramos no carro. Parecia que estávamos perdendo nosso tempo (e nosso sono!), mas tínhamos de dar nossa chance para a sorte!
O sol começa a se levantar atrás dos Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Um inesquecível nascer-do-sol por detrás da fileira de Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Pois é, 15 min de estrada e o céu começava a ficar amarelado no horizonte. De repente, ficamos otimistas. Agora, a quantidade de nuvens no céu parecia na medida exata para um nascer do sol espetacular, que tingisse o céu e as próprias nuvens com os infinitos tons entre ao amarelo e o vermelho, entre o laranja e o roxo.
Um inesquecível nascer-do-sol por detrás da fileira de Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
Chegamos ao Ahu Tongariki, no sudeste da ilha. Outros haviam chegado antes de nós e já tinham suas câmeras prontas. Rapidamente, armamos a nossa também. Todos olhando para o céu, era como se estivéssemos só, naquele momento, naquele lugar. Ou quase! Na verdade, dividíamos o mundo com outros quinze seres, ou Moais. Estátuas de pedra gigantes e centenárias postadas estrategicamente entre nós e o mar. Entre nós e o sol que nascia atrás do horizonte.
Restaurados por arqueólogos japoneses, os Moais de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
O que se seguiu foi um espetáculo de cores. Ardentes. Lisérgicas. Hipnóticas. O nascer do sol mais especial desses 1000dias por toda a América. Aqui, nessa pequena ilha no meio do Oceano Pacífico. Viva aquela promessa feita cinco dias atrás!
Assistindo ao espetáculo do nascer-do-sol no sítio arqueológico de Tongariki, no sul da Ilha de Páscoa, ilha chilena no meio do Oceano Pacífico
O Rodrigo (no alto, à esquerda) fica minúsculo diante da enormidade do canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Com a Fiona em forma novamente, pudemos seguir para o mais belo dos canyons do Parque Nacional da Serra Geral, o Fortaleza. Fica a pouco mais de 20 km, estrada de chão, do centro de Cambará do Sul. O canyon mais famoso por aqui, o Itaimbezinho, estava fechado. Só abre de quarta à domingo. Mas, é consenso geral, não é tão impressionante como o Fortaleza. O outro canyon, o Malakara, oferece trekkings maravilhosos. Mas não agora, com o frio que está fazendo. Além disso, requer mais tempo, coisa que não temos agora já que ainda queremos ir para a região de Gramado e para o Vale dos Vinhedos e ainda voltar para Curitiba até o fim de semana, para o aniversário da Luiza. Mas que fique aqui registrado: essa região do Parque Nacional da Serra Geral e seu entorno merece muitos e muitos dias de exploração, de preferência na primavera ou outono, quando o tempo ainda é aberto e não faz tanto frio. Certamente, tem algumas das paisagens mais belas do Brasil.
Paisagem montanhosa do canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
O canyon Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral, em Cambará do Sul - RS
Depois de passar pela portaria do parque, seguimos de carro até cerca de 200 metros da borda do canyon. Lá, por meio de trilhas, chegamos até a borda do penhasco. É difícil, senão impossível, descrever a grandiosidade da paisagem que vislumbramos. Não havia nuvens e todo o canyon até o rio lá embaixo estava visível. No horizonte, as montanhas do parque e ao seu redor e também as planícies litorâneas dos dois estados, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É possível ver o mar, mais de 1000 metros abaixo de nós e muitas dezenas de quilômetros à nossa frente. Emocionante! Paisagem típica daqueles grandes filmes épicos de Hollywwod. O "Senhor dos Anéis" certemente poderia ter sido filmado por aqui...
Arriscando-se nas paredes do canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Visitando o canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Para aumentar ainda mais a beleza do cenário, pequenas cascatas escorrem pelas gigantescas paredes do canyon, despencando centenas de metros até chegar ao vale lá em baixo. A vegetação de campos de altitude na parte alta contrasta com as florestas verdejantes do fundo do canyon, que crescem ao longo de um rio que, aqui de cima, parece minúsculo, mas que certamente não o é, todo encachoeirado e cheio de corredeiras. Caminhar pelo fundo do canyon dever ser uma experiência incrível e está no topo da nossa lista de prioridades. Quem sabe quando passarmos aqui por perto, no final da nossa viagem...
Turustas se debruçam para admirar o canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Observando o canyon Fortaleza em Cambará do Sul - RS
Por enquanto, a caminhada que fizemos foi subir até o alto do mirante do canyon, uma espécie de promotório que é o ponto mais alto do parque. De lá pudemos avistar com perfeição boa parte do canyon, de um lado, e a planície litorânea do outro, onde se destacava a cidade gaúcha de Torres. Paisagem absolutamente cinematográfica.
A cidade praiana de Torres vista do alto do canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Caminhando na Serra Geral, em Cambará do Sul - RS
Empolgados com essa caminhada, partimos logo para outra: chegar até a Pedra do Segredo, uma enorme pedra que parece se equilibrar instavelmente sobre uma pequena base, no meio de uma das encostas íngrimes do canyon. Ainda mais bonito que a tal pedra é o caminho para se chegar até ela. Temos de cruzar um rio bem no ponto em que ele desaba para o fundo de um dos braços do canyon Fortaleza, numa queda de mais de 100 metros. O cenário me lembrou as paisagens da cena final do filme "O Último dos Moicanos", sequência antológica pela qualidade da trilha sonora, das imagens e atuação dos atores. Eu quase podia ver o grupo de índios de cabelos raspados cruzando o rio na beirada da cachoeira. Muito legal mesmo!
Cachoeira despenca pelo canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Cachoeira no canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Bom, o nossa visita ao parque foi tão boa que acabamos nos extendendo por lá o máximo possível e mudando nossos planos de chegar em Caxias em tempo de levar a Fiona para a concessionária. Deixamos isso para amanhã cedo e viajamos de noite mesmo, ainda pegando um belíssimo pôr-do-sol na região de Cambará do Sul, com aquelas nuvens altas e esparsas que prenunciam uma noite gelada pela frente.
A Pedra do Segredo, no canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
Bem, a nossa noite nem foi tão gelada assim, no calor do quarto do hotel em Caxias. Antes disso, ainda tivemos um delicioso jantar no restaurante Gran Piacere, no shopping Iguatemi. É o restaurante da simpaticíssima família que conhecemos em São José dos Ausentes, quando visitávamos a pousada Potreirinhos, ao lado do Desnível dos Rios. Foram eles que nos indicaram o Refúgio das Gralhas, a ótima pousada que ficamos em Cambará do Sul. Depois da bela dica, tivemos de passar pelo restaurante deles em Caxias para agradecer. E foi uma ótima pedida! E ainda ganhamos uma outra dica, agora de um hotel em Nova Petrópolis, para quando formos para lá. Assim, de boa dica em boa dica, nem precisamos mais dos livros-guia que carregamos, hehehe.
Pôr-do-sol e céu com cara de muito frio na região de Cambará do Sul - RS
Ao deitar na cama, as lembranças do cenário épico da canyon ainda ocupavam minha mente. E eu ainda ria do comentário de um rapaz figuraça de Blumenau que conhecemos numa das beiradas do canyon. Completamente tomado pela beleza grandiosa da paisagem e comentando sobra as fantásticas paisagens que encontramos no Brasil, apontou para o canyon e disse, em tom desafiativo: "Quero ver eles construírem um desse em Dubai!" Concordo, heheehe! Fazer prédio alto ou um monte de ilhas é fácil! Quero ver é eles construírem um canyon como o nosso!
Um dos braços do canyon Fortaleza, em Cambará do Sul - RS
O charme do centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Poucas cidades no continente tiveram um início de história mais conturbado do que Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai. Para quem caminha nas ruas tranquilas de seu centro histórico nos dias de hoje, é ainda mais difícil de imaginar as guerras e tensões que, durante o primeiro século e meio de existência, cercaram esse que foi o primeiro povoamento de importância no país. Seja por sua posição estratégica às margens do Rio da Prata, seja pela rivalidade centenária entre as potências europeias e seus herdeiros americanos, a pequena Colonia del Sacramento sempre foi alvo da cobiça de forças antagônicas em jogo. Hoje, ao contrário, é um mar de tranquilidade e faz a alegria de turistas em busca de história, boa comida, charme e paz num local que pode ser conhecido a pé em poucas horas de caminhada preguiçosa.
Como eu já havia dito no post passado, nós saímos ontem da pequena Carmelo, mais ao norte, logo depois do almoço, rumo a Colonia del Sacramento. Seria uma rápida passagem e nosso objetivo principal era encontrar um hotel e deixar quartos reservados para o final de semana, daqui a três dias. Aí, já acompanhados dos meus pais, que chegam hoje a Montevideo, vamos ter toda a tranquilidade e tempo para conhecer a mais bela cidade do Uruguai. A pressa, ontem, era porque ainda tínhamos de viajar até a capital do país e, também aí, encontrar um hotel para os próximos dias, para nós e nossos “visitantes”.
O centro histórico de Colonia del Sacramento é uma península que avança sobre o Rio da Prata, no sul do Uruguai
Mapa do centro histórico de Colonia del Sacramento, no Uruguai. São apenas alguns poucos quarteirões em uma pequena península que avança sobre o Rio da Prata
Mesmo em uma visita rápida, é um verdadeiro mergulho na história. A Colonia de hoje não é uma cidade propriamente pequena. São cerca de 30 mil habitantes que se espalham pelas praias do Rio da Prata, justamente em frente à capital argentina de Buenos Aires, distante 50 km daí em linha reta, do outro lado do rio. De noite, é até possível ver as luzes da grande metrópole portenha. Mas a parte que realmente interessa ao turista que aqui chegou é o chamado “casco histórico”, alguns poucos quarteirões que ocupam uma pequena península que avança sobre o rio que, de tão largo, mais parece o mar. Foi para lá que nos dirigimos dispostos a encontrar um hotel charmoso e com bom preço no coração da parte mais interessante da cidade.
Torres de uma das igrejas de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Carros antigos estacionados no centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Até meados da década de 60, o centro histórico de Colonia del Sacramento era território abandonado pelo poder público e ocupado por ruínas, prostituição e criminalidade. Felizmente, alguém com mais visão percebeu o potencial turístico da área e um grande processo de revitalização foi implementado. Na medida do possível, prédios históricos foram refeitos com suas próprias pedras que jaziam inertes ali em frente. O trabalho foi bem feito e toda a área foi designada Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, na década de 90. Hotéis, restaurantes e lojas se instalaram e os turistas não pararam mais de chegar. O passado recente indigno da criminalidade foi esquecido enquanto o passado glorioso dos tempos coloniais foi valorizado. Alguns minutos caminhando por ali logo nos fazem agradecer as mudanças dessas últimas décadas.
Uma das casas centenárias do centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
O farol de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Ainda vou falar com mais detalhes da história colonial dessa cidade quando voltarmos aí com meus pais, mas o fato é que ela nasceu falando português em 1680 e esse foi seu idioma oficial durante por parte do tempo até o ano de 1828, quando o Uruguai conquistou sua independência definitiva. A herança lusitana deixou marcas e características que a tornam única na América Espanhola. Suas ruas são estreitas, quase vielas, para facilitar a defesa militar. Isso se contrapõe às ruas largas que eram a norma das cidades espanholas no Novo Mundo. O domínio português e espanhol se alternou diversas vezes ao longo do período colonial e a influência e fusão arquitetônica das duas escolas se percebem com facilidade. Museus homenageando as duas heranças são pontos de visita quase obrigatória para os visitantes que chegam à cidade.
Carros antigos estacionados no centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Rua antiga de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai, às margens do Rio da Prata
Nós caminhamos por todas as ruas e ruelas do casco histórico, fotografando e admirando, mas nosso foco era mesmo a procura por hotéis e pousadas. Sendo uma terça-feira, a cidade estava relativamente vazia e estamos curiosos para ver como será no fim de semana. Os hotéis também tinham muitas vagas, para ontem e mesmo para o final de semana. Mas o problema, ao mens opa a nós, não foram as vagas, mas o preço. Muitas das pousadas transbordam de charme e sabem precificar muito bem isso e também a ótima localização. Ficamos muito tentados com algumas delas, mas o bolso falou mais alto e resolvemos tentar outras opções, a poucos quarteirões de distância. Acabamos por achar uma bem joia, prédio bem antigo e charmoso também, mas com preço mais em conta por já estar ligeiramente fora do casco histórico. Reservas feitas, quartos garantidos, missão cumprida. Quer dizer, metade dela. Ainda faltava Montevideo.
Fim de tarde no Rio da Prtata, em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Ilha com farol no gigantesco Rio da Prata, em frente à Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Já escurecia quando pegamos a autoestrada rumo à capital. A beleza colonial de Colonia del Sacramento ficava para trás e nós já estávamos com saudades. Mas logo estaríamos de volta! Foco agora em Montevideo! Já tínhamos algumas indicações de hotéis na cidade e até conseguimos mais uma, aparentemente muito boa, com a gerente do nosso hotel em Colonia. Ela disse que a área central da capital vem sendo revitalizada também e nos deu o endereço de um hotel novo por lá, bem “in”! Foi nossa primeira opção e havia vagas. O hotel, aliando modernidade com história, nos agradou muito. Mas a vizinhança, pelo menos naquela hora da noite, ainda precisa ser bastante “revitalizada”. Ruas escuras e que não inspiravam segurança. A sensação é que estaríamos sitiados de noite. Então, seguimos em frente. As opções seguintes eram alguns hostels sugeridos pelo Lonely Planet, bem localizados no centro da cidade. A vizinhança realmente melhorou, mas eles não passaram no quesito qualidade, para receber meus octogenários pais.
Rua arborizada de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Chafariz de praça em Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Pela internet, descobrimos que nossas opções em Pocitos, a melhor parte da cidade na nossa opinião, estão lotadas. A preocupação aumenta. Vamos para Carrasco, um bairro mais chique e na direção do aeroporto. Ali há muitas opções e a região é a preferida de quem vem à cidade a negócios ou quer estar perto de uma praia menos urbanizada. Ganha-se em espaço, mas perde-se em charme. Nada há para se fazer a pé, a não ser caminhar na praia ou ir até o fast-food americano na esquina. Não era o que tínhamos em mente, mas era o que havia no momento. Achamos alguns hotéis, mas bem caros. Na dúvida, deixamos para continuar a busca pela manhã, antes que o avião com meus pais cheguem. Para passar a noite, ficamos no único hotel barato da região, o Bahamas. Ele também não passa no crivo de qualidade para meus pais, além de também estar longe das partes interessantes de Montevideo.
Uma das praças do charmoso centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Restaurante com mesas na calçada no centro histórico de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Hoje cedo, bem cedo, saímos à caça novamente. Eu já estou quase conformado com algum hotel sem alma ali mesmo, em Carrasco. Mas a Ana insiste. Descobre algo na internet. Fica em Punta Carretas, ao lado de Pocitos. Vamos até lá e bingo! Preço razoável, excelente localização, quartos vagos e muito estilo! A razão para todas essas qualidades é que é um empreendimento novo e ainda desconhecido dos viajantes. Estávamos salvos e felizes! Viva a insistência e perspicácia da Ana. Já temos uma base para explorar Montevideo pelos próximos dias. Bem a tempo de buscar as visitas que chegam em meia hora ao aeroporto!
Em busca de hotéis, caminhando nas ruas arborizadas de Colonia del Sacramento, no sul do Uruguai
Prontos para mergulho técnico em West bay, no norte de Grand Cayman
O pessoal da In Depth, agência especializada em mergulhos técnicos, foi nos buscar cedo na nossa Guest House, ao sul de George Town. Cruzamos a pequena cidade, hoje apenas três navios-cruzeiro estacionados no porto, e seguimos ao longo de toda 7 Mile Beach até chegar ao norte da ilha. É lá que estão os melhores pontos de mergulho e a famosa parede de corais, um verdadeiro penhasco que nasce em profundidades abissais e que, de tão funda, é medida em quilômetros ao invés de metros e quase chega à superfície do mar.
Prontos para mergulho técnico em West bay, no norte de Grand Cayman
Entre as muitas possibilidades de mergulho profundo, acabamos escolhendo por um ponto conhecido como Turtle Reef. A razão é simples: é um ponto razoavelmente perto da costa e se pode nadar até lá. Com isso, economizamos o preço do barco, que ficaria muito caro apenas para nós dois mergulhando. E assim foi, eu e a Ana passando por todo o ritual de nos vestirmos com tanques duplos enquanto o Jeff, nosso guia, colocou o seu “rebreather”. Foi a primeira vez que mergulhei com alguém com esse equipamento, que usa muito menos ar e quase não faz bolhas. A vantagem é, além de não assustar os peixes com as bolhas barulhentas, poder ficar embaixo por muito mais tempo sem ter de trocar garrafas. Nos mergulhos profundos isso é muito importante já que para cada minuto lá embaixo, são necessários muitos e muitos minutos de descompressão em baixas profundidades. Quando estamos com um equipamento normal, então, nosso tempo de fundo é limitado pelo tempo que nossas garrafas nos dão para fazer a descompressão. Com o rebreather, podemos ficar muito mais tempo lá embaixo, já que ele nos dá algumas horas para poder fazer a descompressão.
Já na água, início de mergulho técnico em Turtle Reef, no norte de Grand Cayman
Bem, a gente não tinha o rebreather, mas tínhamos tanques duplos. Juntos, nadamos uns duzentos metros pela superfície do mar carregando aquela pesada parafernália e descemos já encima da parede, direto para uma profundidade de quase 60 metros. Quem infelizmente não aguentou foi a nossa querida Intova. Acabou entrando água na caixa estanque a lá se foram as fotos e a máquina. Perdemos a chance de fotografar as profundezas e também as arraias de Stingray City que iríamos ver no mergulho seguinte...
Nadando em direção ao início do mergulho técnico em Turtle Reef, em Grand Cayman, nas Ilhas Caiman
Sem fotos, ficou tudo apenas na nossa memória mesmo. Isso porque estávamos mergulhando com uma mistura de gases diferente do que temos no ar comum. Se não fosse assim, abaixo dos 40 metros seríamos tomados pelos efeitos da narcose causada pelo nitrogênio sob pressão e, nesse estado, pouco ou nada lembraríamos. Mas substituímos parte do nitrogênio pelo hélio e assim tivemos um mergulho claro como o mar que nos rodeava. Observamos as esponjas gigantes presas à íngreme parede, tartarugas que se alimentam delas e o azul infinito para baixo de nós tampando um penhasco com mais de dois quilômetros de altura. Um lindo mergulho em que nos sentimos flutuando sobre um abismo, sensação mais verdadeira do que nunca. A paisagem é lunar, formas de vida tão estranhas e, ao mesmo tempo, tão próximas e distantes do nosso mundo. E as tartarugas nos olham com um certo desprezo, tanto trabalho e cuidado para chegar até lá enquanto, para elas, é só um passeio para conseguir uma saudável refeição. Neste ponto, é inegável que essa primitiva criatura é infinitamente mais evoluída do que nós...
O barco que vai nos levar à Stingray City, em Grand Cayman
Passamos nossos valiosos 15 minutos lá embaixo e iniciamos a longa e demorada subida. A descompressão foi feita numa pequena parede, agora na civilizada profundidade de 10-15 metros. Ao final de uma hora já estávamos os três, na superfície, relembrando os detalhes do mergulho. O nosso primeiro técnico em mais de um ano! Para ficar na memória! Almoçamos ali mesmo, vista para o mar e tendo uma verdadeira aula com o Jeff e o Nat, o dono da operadora, sobre mergulhos técnicos, grandes profundidades e como usar um rebreather. Será que algum dia faremos esse curso?
A famosa Stingray City, em Grand Cayman
De pança cheia seguimos para o segundo mergulho do dia. Dessa vez, bem raso! Ao invés dos 55 metros, não passaríamos dos cinco! Essa é a profundidade do mais famoso mergulho em Grand Cayman, num local onde o nome já diz tudo: Stingray City ou “Cidade das Arraias”. Na costa norte da ilha há uma enorme baía com o nome de North Sound. Um banco de recifes separa essa baía do oceano, protegendo-a das ondas e transformando-a numa gigantesca piscina com mais de dez quilômetros quadrados. A comparação com uma piscina faz ainda mais sentido quando se vê a cor da água na baía, aquele azul de cegar os olhos.
Prontos para mergulhar em Stingray City, em Grand Cayman
Já há alguns séculos que pescadores que voltavam do dia ou noite de trabalho no oceano aproveitavam a água calma da baía, logo após cruzarem os recifes, pra pararem seus barcos e limparem os peixes que haviam pescado, jogando as sobras no mar. Com o tempo as arraias aprenderam que ali era um lugar de refeições fáceis e passaram a frequentar o lugar. Mais recentemente, foi a vez do setor de turismo descobrir ali um grande potencial e começaram a trazer turistas aos montes para ver e interagir com as arraias, cada vez mais acostumadas com a presença humana. Os turistas começaram, eles mesmos, a alimentar as arraias, seja fazendo snorkel, num local mais raso, seja mergulhando, num ponto onde a profundidade fica entre quatro e cinco metros. Estava criada a “Cidade das Arraias”!
A Ana segura uma arraia em Stingray City, em Grand Cayman
Então, lá fomos nós atravessando o North Sound num potente barco da In Depth até a boca da baía, bem perto dos recifes. Aí, descemos novamente com o Jeff, um grande estoque de lulas num pote. Não demorou muito e já tínhamos três ou quatro arraias à nossa volta, ansiosas para ganhar sua refeição. O preço, para elas, é aguentar a gente ficar segurando em suas asas ou tocar em seu corpo. Tiram de letra, pois já estão acostumadas. Mas não nós e é uma verdadeira experiência interagir com esses animais tão graciosos. Dar comida em sua boca, que fica embaixo do corpo, com uma espécie de mamadeira e, ao mesmo tempo, sentir sua pele que tem uma consistência de cogumelo molhado, é algo único. Depois de meia hora com elas, já nos sentindo experts no assunto, vai ser difícil ver uma arraia “selvagem” no mar e não querer sair nadando atrás para segurá-la e brincar com ela...
Vida mansa em 7 Mile Beach, em Grand Cayman
Aqui sim a Intova fez mais falta do que nunca! No mergulho profundo, teríamos algumas fotos azuladas e só. Mas aqui em Stingray City, com certeza perdemos fotos incríveis das arraias e COM as arraias. Uma pena! Quando muito, o Nat conseguiu tirar uma foto da Ana de fora da água, do barco onde ele estava. Mas realmente, não estávamos no nosso dia de fotos... Bem na hora que ele tirou a primeira foto, acabou a memória do cartão. Sem comentários!
Caminhando na belíssima 7 Mile Beach, em Grand Cayman
Depois desse mergulho, já de volta à terra firme e com o cartão de memória devidamente esvaziado, fomos passar o fim de tarde na belíssima praia de 7 Mile Beach. Caribe puro, com areias brancas e finas e mar azul piscina. Não é à toa que a praia é tão famosa. Até me animei para uma corridinha de alguns quilômetros, cenário absolutamente inspirador. Um pouco mais tarde chegaram o André e a Mercedes e aí assistimos juntos a um magnífico pôr-do-sol.
Com o André e a Mercedes em 7 Mile Beach, em Grand Cayman
Dali esticamos para um restaurante árabe e ainda fomos ao ponto mais alto da ilha, uma torre de uns quatro andares de onde se pode observar o mar de um lado e a North Sound do outro. E, naquela hora, uma maravilhosa lua cheia nascendo! Nada mal para terminar nosso último dia nessa ilha já que amanhã partimos pra a irmã menor de Grand Cayman, a quase inabitada Little Cayman. Chega de navios-cruzeiro, vamos para uma ilha deserta!
Fim de tarde em 7 Mile Beach, em Grand Cayman
Costa entrecortada de Sint Statius - Caribe
Hoje, bem cedinho, o pessoal da agência de mergulho passou aqui no Country Inn (não contentes com uma cidade "pacata", estamos hospedados na sua perifeira, ainda mais pacata!) para pegar a Ana enquanto eu pude ficar mais um pouco na cama. Para falar a verdade, eu já tinha acordado, banhado, feito a barba e caminhado uns bons quarteirões ida e volta para trazer o pão quentinho do café da manhã, que fizemos no quarto. Mas depois que ela se foi, dei mais uma deitadinha, tentando sentir o estado do meu corpo.
Não consegui ficar muito tempo. Foi muita cama nesses últimos dias. Corpo e espírito coçando, inquietos. Pois bem, de posse da câmara fotográfica e água, parti para uma caminhada pela montanhosa região norte da ilha. No caminho, uma praia e o aeroporto. Pois é, infelizmente o aeroporto estava bem o meio do caminho e foi preciso contorná-lo. Mas aqui tudo é pequeno e três quilômetros mais tarde ele já estava para trás e eu chegando em Zeelândia.
O vulcão The Quill, em Sint Statius - Caribe
Esse é o nome da praia do litoral atlântico de Statia. Tem esse nome para homenagear a região da Holanda de onde vieram seus primeiros colonizadores para a ilha. Como em todas as ilhas do Caribe que visitamos até agora, o litoral atlântico é mais "bravo", comparado ao caribenho. E aqui também as pessoas tem um certo medo deste mar. Ninguém vai à praia no Atlântico. Talvez na areia, mas não no mar. Praiona, de areia de verdade, ao contrário da praia do lado de lá, que vimos ontem. Marzão, também. Mas, sem querer molhar o ouvido, o máximo que fiz foi molhar as mãos. Mas fiquei tentado, principalmente com os inúmeros avisos sobre correntes. Adoro o Atlântico! Mas a febre dos quase 42 falou bem mais alto e eu me comportei.
Praia de Zeelandia e o vulcão The Quill, em Sint Statius - Caribe
Depois das praias, às montanhas, ou colinas, já que não passam de 300 metros de altura. Beleza de paisagem, um verdadeiro emaranhado de trilhas. Tanto aqui como em Saba eles cuidam muito bem disso. Sempre há sinalização e trabalhos de conservação. Uma delícia para quem gosta de caminhar pelo campo, desde que não ligue de subir e descer. Eu subi a Gilboa Hill, com uns 200 metros de altura. Vistas magnificas do litoral, da Venus Bay, da Zeelandia Bay, do aeroporto, as ilhas vizinhas no horizonte e de Oranjestad.
Mt. Bouvain, o mais alto da parte norte de Sint Statius - Caribe
Mas, sem dúvida, o que mais se destacava era o imponente The Quill, o vulcão de 600 m que domina a ilha. Há uns 30 mil anos atrás ele se levantou do mar, criando uma ilha ainda diferente da ilha onde estavam as colinas que eu passeava. Em erupções posteriores, foi derramando lava para o lado de cá, assoreando o canal entre as duas ilhas até finalmente unificá-las, criando a planície onde hoje está Oranjestad. Nossa, que interessante seria poder ver, com os próprios olhos, todo esse processo... Fica só na imaginação.
Crystal Bay, no norte da ilha de Sint Statius - Caribe
Falando nela, hoje foi uma longa caminhada a sós com meus pensamentos e devaneios. Afinal, minha sempre esfuziante esposa estava em outra modalidade e ambiente, o mergulho submarino. Assim, passei um terço do meu tempo pensando sobre vulcões, como já relatei acima, um terço sobre minha saúde e um terço sobre a rica história da ilha e sobre como teria sido se não houvesse Statia. Um terço, um terço, um terço, bem dividido, né? Como diria o humorista, o outro terço (o quarto!) eu pensei sobre blá, blá, blá ... heheeh
Pois bem, no terço da história, fiquei imaginando se a Inglaterra tivesse acabado com a farra de Statia logo no início da guerra, em 76 ou 77. Aí, um ano depois, todos os veneráveis forefathers da revolução americana (Washington, Adams, Franklin, etc) estariam pendurados em algum cadafalso aberto. Como estaria o mundo hoje? E os Estados Unidos? Nossa, são tantas possibilidades...
O vulcão The Quill e a cidade de Oranjestad aos seus pés, em Sint Statius - Caribe. Ao fundo, St. Kitts
Quanto à saúde, nada de febre, quase nada de pontadas no ouvido. AInda cansado, mas totalmente compreensível. O que apareceu, imagino que pela medicação, foi uma grande ferida na parte interna da boca. Comer e beber passaram a ser exercícios de paciência. Falar, só o essencial. Que saco! Quando vai acabar esse suplício?
Voltando às coisas boas, passei um bom tempo, lá no alto, maravilhado com a mais bela de todas as visões de hoje que foi a vista do The Quill e do seu irmão, logo ali do lado, na ilha vizinha (St. Kitts), o Liamiuga (que eu e a Ana subimos!). Incrível como se percebe que eles estão, indubitavelmente, ligados. Basta ver as fotos! Legal, até mesmo entre vulcões há "irmandade"!
Como dois irmãos, o The Quill, em Sint Statius e o Liamuiga, em St. Kitts (Caribe)
De volta para o hotel onde, algum tempo depois, chegou minha cara-metade, de quem eu já morria de saudades. Como de costume, toda falante, preenchendo todo o meu silêncio da manhã rapidamente. Contou-me muito de seus mergulhos que logo verão em seu post e fotos. E que fotos! Amanhã, unificados novamente, vamos nós ao topo do The Quill! Caminhar sozinho é muito bom. Bem acompanhado, então...
2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet