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mabel (14/09)
cecilia (14/09)
Rubens Werdesheim (14/09)
"....Apoderaram-se de 6 toneladas de peças auríferas só em Cajamarca e...
Rubens Werdesheim (14/09)
Ótimo post de uma região sensacional que vale muitas viagens .Quando es...
vandasantos (12/09)
Peruasú !!que lugar lindo !!.todo brasileiro tinha que ter o direito de ...
Passagem pelo paso de 4.750 metros no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Ontem a noite foi de despedidas. Nosso grupo se separaria. Afinal, todos os outros estão fazendo o trekking em quatro dias, enquanto nós optamos por três. A despedida foi ontem, mas a separação foi hoje. Eu e a Ana acordamos mais cedo e, junto com o Tiburço, partimos antes para já chegar ao final do percurso. O Tiburço deixou seus serviços de cozinheiro do grupo para hoje, pelo menos durante um período, ser nosso guia a também o arriero de uma mula que levaria nossa mochila e também a dele. Ele iria conosco até a última subida, quando voltaria para se encontrar com o grupo e nós continuaríamos, dessa vez com o peso, até a estrada em busca de transporte público para voltar à civilização.
A magnífica paisagem no início do último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
A primeira etapa da caminhada de hoje era cruzar o paso de 4.750 metros de altitude. Com paciência e aproveitando cada minuto naquela paisagem grandiosa chegamos lá encima. Ali, além da vista, fomos recompensados com uma neve bem fina que caía. Foi apenas a nossa segunda neve da viagem, depois daquela neve noturna na Quebrada de Humahuaca, na Argentina. Para nós, brasileiros, é sempre um momento mágico ver esses flocos caindo do céu. Bem fininho, mas neve é neve, hehehe!
Lagunas com águas mais escuras do outro lado do paso, no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Passado esse obstáculo, aí só tínhamos descida à nossa frente. No caminho, paisagens fantásticas, lagunas com um tom de azul bem mais escuro e turistas que caminhavam no sentido contrário, rostos exaustos que não tinham idéia do quanto ainda teriam de subir. Para nós, descida, um verdadeiro passeio.
Belíssimas paisagens no alto do vale que conhecemos no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Atravessando bosque no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Cruzamos bosques, passamos por mais lagunas, pelo local do acampaneto da terceira noite e seguimos até a cidade no fundo do vale. Ali foi a vez de nos despedirmos do simpático Tiburço, assumirmos o peso da mochila e fazermos um último esforço para subir a encosta do lado de lá e chegarmos à Vaqueria, por onde passa a estrada.
Paisagem bucólica no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Duas horas de espera e nada de transporte público, Aliás, quase nenhum movimento, dois ou três carros e um caminhão. Dormir por ali seria dureza, mas a sorte finalmente sorriu para nós e apareceu uma carona (paga). Foram duas horas de viagem numa estrada de terra cheia de buracos e chegamos à Yungay, a cidade que foi soterrada pelo Huscaran há 40 anos. No caminho, ainda passamos pela Laguna de Llanganuco, a mais famosa e visitada da região, a única que eu tinha conhecido quando estive por aqui em 1990.
Com o Tiburço, cozinheiro e nosso guia e companheiro no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Em Yungay pegamos uma van para Huaraz. De parada em parada ela foi se abarrotando, mas ao final chegamos em Huaraz. Ainda antes do hotel, uma parada estratégica num restaurante do centro, pois a fome apertava. Depois, o chuveiro quente há tanto aguardado. Final do dia, final de trekking fantástico e queríamos estar prontos para a maratona de amanhã, um passeio de carro atré as ruínas de Chavin e de lá para a cidade de Trujillo, no litoral norte do país. Essa corrida toda para chegar à tempo em Guayaquil para pegar nosso avião para Galápagos.
Agora, sem as mulas, carregando o peso no último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Mas foi chegarmos na civilização para sermos recebidos pela triste notícia: nosso barco de mergulho em Galápagos não tinha ficado pronto e o nosso tour tinha sido cancelado! Ainda precisamos decidir o que fazer, mas uma coisa é certa: já não há tanta pressa de se chegar no Equador e amanhã poderemos dormir um pouco mais, viajar a Chavin com calma e dormir novamente em Huaraz. Trujillo pode esperar mais um dia...
A laguna llanganuco, último dia do trekking Santa Cruz, na Cordillera Blanca, região de Huaraz - Peru
Cachoeira da Fumaça em Carrancas - MG. Não é aconselhável nadar...
Outro dia daqueles, que servem para a gente esquecer os dias "inesquecíveis" anteriores... O principal programa de hoje foi o rio e Poço Esmeralda. Até agora, foi a cachoeira mais bonita da viagem, com certeza!
Admirando achoeira lateral à Cachoeira da Fumaça em Carrancas - MG
O tempo não amanheceu legal hoje. Meio nublado com um vento gelado. Difícil até imaginar um banho de cachoeira nessas águas geladas. Depois do café, ainda cheio de casacos, fomos à Cachoeira da Fumaça, distante uns 5 km da cidade, na direção de Luminárias. A cachoeira é muito bonita mas o banho por lá não é recomendável, infelizmente. E não é por causa do frio não; é que parte do esgoto de Carrancas é jogado neste rio. Que absurdo! Parece que num futuro próximo isso deve mudar. Ano de eleição... quem sabe?
Rio logo abaixo do Poço Esmeralda em Carrancas - MG
Depois, seguimos adiante na mesma estrada. O sol começava a se firmar e a gente a tirar os casacos. Outros 5 km e chegamos ao Complexo Vargem Grande, onde está o Poço Esmeralda. É um rio pouco caudaloso que corre quase sempre sobre uma laje. Suas águas são transparentes com um tom esverdeado. Forma várias piscinas e nos poços mais fundos a água fica ainda mais verde. Daí o nome de Poço Esmeralda, que é a maior das piscinas. É de uma beleza de cair o queixo.
Trecho do rio logo acima do Poço Esmeralda em Carrancas - MG
A trilha é muito bem marcada até um pouco acima desse poço, num lugar que eu e a Ana batizamos de Laje do Amor. Depois, seguimos pelo próprio leito de pedra. Este rio é tão perfeito que até a quantidade de água que corre por ele é ideal para que consigamos seguir rio acima sem precisar tirar o tênis. A cada curva do rio, um novo visual, novas piscinas e banheiras, trechos de bosques e formações rochosas. Ao mesmo tempo que não dá vontade de parar de subir e explorar, conhecer novos recantos, também queremos parar em cada lugar e passar horas por ali, se esquentando ao sol, se refrescando nas banheiras e admirando a paisagem. Sentimentos bem conflitantes, né?
Rio logo abaixo do Poço Esmeralda em Carrancas - MG
A gente foi meio que se dividindo entre eles, indo e parando, seguindo e voltando, fotografando e filmando. Mais uma vez, erámos apenas os dois neste paraíso. Disseram que, nos feriadões, chega a dar mais de mil pessoas ali. Mais de mil! Para nós, que conhecemos completamente vazio, é muito difícil imaginar. Depois de ver assim, deve ser desolador estar aqui na época do movimento. Nosso conselho é: venha durante a semana! Vai valer a pena!
Filmando o Poço Esmeralda em Carrancas - MG
O ponto alto desse dia incrível é, sem dúvida, o poço Esmeralda. Aparentemente nosso corpo já está um pouco mais acostumado às águas geladas. Ou então, é o deslumbramento com o lugar que nos faz esquecer do frio. Uma piscina de águas verde-esmeralda, com uns vinte metros por dez, quase cinco metros de profundidade na parte mais funda. Pena que fica quase sempre à sombra. Mas é muito, muto bonito.
Enfrentando as águas geladas e maravilhosas do Poço Esmeralda em Carrancas - MG
Viva Carrancas!
Flora na região do Poço Esmeralda em Carrancas - MG
Seria o famoso Anúbis Negro?
Admirando a paisagem da região do Poço Esmeralda em Carrancas - MG
A pacata cidade colonial de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
A vantagem de estarmos em um país pequeno é que tudo fica pertinho. Assim, com menos de uma hora de carro já chegamos a lugares completamente diferentes, passamos o dia e ainda temos tempo de voltar para a nossa “base”. Assim foi o nosso dia de hoje, saindo de San Salvador no final da manhã, chegando à Suchitoto 40 minutos mais tarde e voltando para a capital ainda na luz do dia, antes da cinco da tarde.
Igreja matriz de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
A pequena e pacata Suchitoto é a mais charmosa cidade do país. Ruas de paralelepípedo, construções centenárias, ótimos restaurantes, muitas galerias de arte e o frescor do clima de montanha atraem centenas de capitalinos nos finais de semana. Além disso, um enorme lago ao lado da cidade, um vulcão e algumas cachoeiras também atraem aqueles que gostam de ecoturismo.
Caminhando pelas tranquilas ruas da charmosa Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
Hoje, terça-feira, tudo estava ainda mais tranquilo. Chegamos, caminhamos um pouco pelas ruas centrais ao redor da praça onde está a igreja matriz e, contaminados pela letargia que o ritmo da cidade inspira, desistimos de qualquer programa que requeresse um maior esforço físico. Dar a volta em alguns quarteirões já era o bastante, hehehe!
O lago Suchitlán, ao lado da cidade colonial de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
Muito melhor ideia, encontramos um botequinho com ótima vista para o lago lá embaixo, na verdade uma represa artificial, e ficamos jogando conversa fora e fazendo planos de viagem. A preocupação era tanta que até deu tempo de jogarmos dama, coisa que não fazia há uns 25 anos!
Jogo de damas com vista para o lago Suchitlán, em Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador. A "Água" ganhou da "Cerveja"!
Depois, hora de ir conhecer o lago de Suchitlán mais de perto. Claro que fomos de Fiona ao invés da caminhada de meia hora. Água verdinha, bem bonita, mas imprópria para banho. Vários barcos oferecem passeios aos turistas, mas nada que nos animasse a sair do nosso ritmo. Preferimos ir tratar do estômago num dos muitos restaurantes da região. Já meio enfastiados da vista do belo lago, passamos reto pelos restaurantes com essa paisagem e fomos direto a outro no meio de uma fazenda. Ali, cada cliente tem direito a um quiosque particular, cercado de plantas e com redes próprias. Esperamos nossos pedidos balançando, ritmo baiano total. Carne muito boa acompanhado de “casamento” (feijão com arroz) nos fez sentir ainda mais no Brasil...
Lago de Suchitlán, ao lado de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
Voltamos felizes para San Salvador à tempo da segunda sessão de massagem da Ana. Para completar o dia estressante, sessão de cinema no shopping, mais peripécias do Tom Cruise no mediano Missão impossível 4. O jantar foi um enorme balde de pipocas...
Passeio na cidade de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
Bom, depois de um dia como o de hoje, estamos com pique para um dia mais corrido amanhã. Duas ruínas maias (San Andrés e Joyas de Cerón) e um lago maravilhoso numa antiga cratera gigante de vulcão nos esperam. Aí vamos dormir, nossa última noite no país antes de chegarmos à Guatemala, última parada na América Central. Alaska, estamos chegando...
Artesanato e lembranças em Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador
Um dia magnífico para admirar a Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Com a noite esticada de ontem, que até forró paraibano teve, acabamos nos levantando mais tarde do que tínhamos planejado. Iria ser difícil manter os planos de Alcatraz, Lombard, Golden Gate, Berkeley e ainda chegar a tempo de um último vinho no Napa Valley.
A ladeira da Hyde St. por onde sobe o bonde de San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Bom, parte da dificuldade logo se resolveu! Quando fomos perguntar para a concierge do nosso hotel sobre o passeio à Alcatraz, aquela prisão à prova de fugas (exceto pelo Sean Connery e o Clint Eastwood, claro!), ela sorriu sobre a nossa inocência e disse: “Alcatraz, hoje, nem pensar! Esse passeio deve ser reservado com semanas de antecedência. Na alta temporada, com mais de um mês!”. E a gente em pleno feriadão de Thanksgiving...
Fiona, seguindo a fila, descendo a Lombard Street, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Normalmente, o passeio custa 25 dólares. Para quem decide ir encima da hora, só comprando dos brokers (em bom português, cambistas!). Nesse caso, o preço já sobe para 90 dólares. Mas, para o dia de hoje, nem mais os brokers tinham ingressos. De qualquer maneira, para desencargo de consciência, perguntei para ela se o passeio valeria 90 dólares. “Na minha opinião, no way!!!”. Bom, então o jeito foi pensar que economizamos um bom dinheiro. Além disso, já cansei de ver Alcatraz em filmes de Hollywood e em documentários, hehehe.
Descendo a rua mais torta e florida do mundo, a Lombard Street, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Passamos então à segunda atração do dia, a Lombard Street. Apesar da fama, ela não é a “rua mais torta do mundo”, pelo menos é o que afirmam duas de suas rivais. Uma, a rua Vermont, fica em San Franciso mesmo. Tem uma curva a menos, mas é mais inclinada. A outra, é uma rua perdida no interior dos EUA, em Iowa, acho. Tem as mesmas oito curvas da Lombard, porém em um espaço menor. Mas, enfim, ninguém ouviu falar dessas duas outras ruas enquanto a Lombard é famosa mundialmente...
Descendo a rua mais torta e florida do mundo, a Lombard Street, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
E foi para lá que seguimos, de Fiona, dessa vez. Eu tratei de entrar na fila de carros, enquanto a Ana desceu para as fotografias e filmagens. A fila anda rapidinho e logo eu já manobrava o nosso carro entre os inúmeros jardins da rua, que mais parece uma praça inclinada que uma via pública. Inicialmente, a rua foi construída assim porque se fosse sem curvas, a descida seria muito inclinada para os carros da época. Aos poucos, a cidade foi percebendo o potencial turístico daquilo! Trataram de enfeitar a rua com jardins e flores, além do piso vermelho. Funcionou, pois o dia inteiro tem gente lá fotografando!
Descendo a curvilínea Lombard Street, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
A Fiona ficou até tonta de tanta curva. Afinal, eu não desci apenas uma vez, mas quatro, no total. Tudo para conseguir uma boa foto, de diferentes ângulos. Além disso, lá de cima, a visão da baía, de Alcatraz, da cidade e do seu famoso bonde é um colírio para os olhos!
O Sidney cuidou da gente em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Enfim, como dizem os americanos: “Enough is enough!”, e nós deixamos a Lombard para trás e seguimos para a Golden Gate. Nós já havíamos estado uma vez lá, com o Sidney, há três dias, mas agora era a hora de irmos com as próprias rodas.
As tradicionais e obrigatórias fotos com a ponte mais bonita do mundo, a Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
A Golden Gate é uma forte candidata ao título de ponte mais bela do mundo. Eu, pelo menos, votaria nela. Deixa para trás outras belas, como a do Brooklin e a de Sydney, na Austrália. Sua cor vermelha, quase dourada quando iluminada pelo sol de fim de tarde, e suas linhas elegantes, compõe, junto com a baía de San Francisco, um verdadeiro cartão postal.
Visitando parque sob a Golden gate de San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Ela pode ser observada (e admirada!) de vários ângulos. No lado sul da baía, há um grande parque sob a ponte, lugar popular para uma corrida, piquenique ou caminhada. No lado norte, é possível subir uma encosta e ver a ponte do alto, com San Francisco ao fundo. Esse foi o ângulo que mais gostei. É daí também que se pode ver, em algumas poucas oportunidades do ano, quando a baía se enche de nuvens, a Golden Gate pairando sobre a névoa, como se fosse uma ponte celestial. Não, nós não tivemos essas sorte, mas as fotos são incríveis!
As tradicionais e obrigatórias fotos com a ponte mais bonita do mundo, a Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Pode-se admirá-la também do mar, quando se faz a travessia de ferry, do ar, quando se paga um passeio de helicóptero, ou caminhando sobre ela, de um lado ao outro da baía. Fiz isso da outra vez que estive aqui, há quase 20 anos. Estou falando da caminhada e não do helicóptero, claro! Não fizemos isso dessa vez, mas é um programa que recomendo muito.
Fim de tarde, início de noite na sempre movimentada Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Falando nisso, caminhada sobre a Golden Gate me lembra um outro aspecto da ponte, bem mais tétrico. A Golden Gate é o lugar mais popular do mundo para se cometer suicídio. Talvez pela beleza do lugar, talvez pela facilidade de se jogar lá de cima, talvez pela fama, ou um pouquinho de tudo isso. O fato é que, em média, uma pessoa a cada suas semanas se atira lá de cima. O choque com a água é a quase 150 km/h e são pouquíssimos os que sobrevivem. Menos ainda aqueles que voltam a andar. Mas existe até o caso de uma moça que pulou, sobreviveu e continuou a andar. Mas ela não mudou de ideia! Algum tempo depois, se jogou outra vez, finalmente conseguindo o seu intento.
Fiona atravessa a Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Existe vários projetos para se colocar uma grande cerca ao longo da ponte, ou uma rede logo abaixo dela. A ponte já é até fechada durante a noite, para pedestres. Patrulhas estão sempre a espreita, buscando pessoas com caras de que estão mal intencionadas. Filmes e documentários foram produzidos sobre esse drama. Tenho dó dessas pessoas e, principalmente, de suas famílias. Mas, de maneira nenhuma, deixo que isso tire algum brilho dessa ponte maravilhosa, que está lá para unir e não para servir de trampolim.
A majestosa Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Sou uma pessoa que adora a natureza e, normalmente, tenho reservas contra obras que afetam as paisagens naturais. Na ponta extrema, por exemplo, estão as grandes minas e pedreiras. Corta-me o coração ver uma montanha transformada num buraco, tudo em prol da civilização. Em um nível intermediário, estão as grandes represas. Normalmente, os lagos criados são muito belos, assim como a natureza que se desenvolve a sua volta. Mas penso sempre naquilo que ficou para baixo, canyons esquecidos, antigas florestas e até mesmo enormes cachoeiras, como as famosas Sete Quedas. Entendo os dois lados, nesse caso, daqueles que precisam de energia e de água em casa, nas suas grandes cidades, assim como os ambientalistas, que querem proteger o patrimônio natural.
A Fiona chegou até a Golden Gate! (em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos)
Agora, essas grandes pontes cruzando baías, rios e desfiladeiros, nessas eu só vejo benesses. Simbolicamente, representam a união de dois lados, a liberdade de ir e vir. Quando bem desenhadas, como é o caso da Golden Gate, só vem a somar, a tornar a paisagem ainda mais bela. E nos mostram a engenhosidade da raça humana em vencer obstáculos. Essa daqui foi concluída nos anos 30, em plena Grande Depressão. Substituiu a linha de ferries mais movimentada da época e foi construída em local suscetível a grandes terremotos, sempre sobre a ação de ventos inclementes e correntes marítimas. O fato de ainda hoje estar de pé é um verdadeiro tributo àqueles que a planejaram e construíram, dos operários aos arquitetos, dos engenheiros às equipes de manutenção.
A Fiona chegou até a Golden Gate! (em San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos)
Do outro lado da ponte está a charmosa e romântica Sausalito. Quando pedi ao Sidney que me definisse a pequena cidade, algo parecido no Brasil, ele pensou, pensou e disse. “Não tem igual, no Brasil. Parece Mônaco!”. Pois é... não é que eu achei isso mesmo! Estivemos lá no final da tarde, ruas cheias de turistas, dezenas de pequenos restaurantes, vista magnífica para o outro lado da baía, um monte de marinas com centenas de mastros de barcos que mais pareciam uma floresta. Comemos rapidamente em um restaurante que ele conhecia e, na pressa de voltar para o alto da encosta para ver o fim de tarde na Golden Gate, acabamos nem fotografando a cidade. Isso não que dizer que não tenhamos gostado!. Quem vai à San Francisco, tem de reservar uma tarde por lá, passear ao lado do mar e deixar a vida passar!
Parque sob a Golden Gate de San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
Falando nisso, a nossa estava passando! Então, depois de muitas e muitas fotos da ponte, cruzamos de volta à San Francisco, atravessamos a cidade, cruzamos a outra ponte famosa, a Bay Bridge e fomos para Berkeley. Assunto para o pequeno post que se segue...
Muito felizes na cidade de San Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos
O famoso Teatro Amazonas. Estamos mesmo de volta a Manaus, a capital do estado
Acordamos hoje já na encruzilhada dos rios Negro e Solimões que, juntos, formam o gigantesco Amazonas. O barco fez a curva por aqui, subiu um pouco o rio Negro e aportou em Manaus. Ainda era madrugada e nós passamos mais umas duas horas nas nossas redes, esperando o dia clarear de vez. Finalmente, recolhemos nossas coisas, dobramos as redes e descemos para terra firme. Estávamos de volta ao porto de Manaus, depois de 26 meses!
Dormindo no barco até que amanhecesse em Manaus, no Amazonas
Chegada a Manaus, no Amazonas
Logo numa primeira vista, ainda lá no porto, já deu para ver que coisas importantes aconteceram por aqui nesse período. Para começar, a gigantesca ponte que atravessa o Rio Negro está pronta. Da outra vez, ainda não havia sido inaugurada. Cedinho, com a luz do sol batendo em cheio, estava bem bonita. Não resistimos a umas fotos! A outra era a famosa placa que marca a altura de todas as cheias anuais do Rio Negro. Lá estava a marcação da cheia de 2012, recorde absoluto! Não estava aqui da outra vez, pois ainda era 2011...
Chegada a Manaus, no Amazonas. Ao fundo, a enorme ponte que cruza o Rio Negro
Quadro com a marca das cheias do rio, no porto de Manaus, no Amazonas. O recorde foi quebrado em 2012!
Saímos do porto e a nossa primeira missão era resgatar a Fiona, lá no estacionamento do aeroporto. Com tempo de sobra e querendo economizar alguns reais, tratamos de nos informar qual ônibus nos levaria até lá. Como hoje é domingo, são menos ônibus circulando e o que vai ao aeroporto é bem raro. Acabamos pegando um que nos deixaria nas imediações. Não demorou muito e lá estávamos nós. Mas, “imediações” é modo de falar, pois ele nos deixou a dois quilômetros do lugar...
Prédio histórico em Manaus, no Amazonas
Para quem acha que nossa viagem é só alegria, aqui vai a história de um perrengue. Lá estávamos nós parados num ponto de ônibus no fim do mundo, sem muita esperança de que passasse algum logo por ali. Resolvi fazer um pouco de exercício e deixei a Ana por lá, com as malas, e fui correndo para o aeroporto. Mesmo de papete e sol quente na cabeça, não demoro mais de 15 minutos para fazer essa distância, os pouco mais de 2 quilômetros. Dito e feito: bem suado, passo pela nossa querida Fiona no estacionamento, verifico que ela está em ordem e vou pagar a fatura para tirá-la de lá. Primeira surpresa: só aceitam pagamento em dinheiro. Meus cem reais na carteira não são suficientes para a semana que ela ficou lá...
O famoso Teatro Amazonas. Estamos mesmo de volta a Manaus, a capital do estado
Vou aos caixas eletrônicos e, segunda surpresa, a porcaria do Itaú está fora do ar. Os outros três caixas por lá não aceitam meu cartão e nem o cartão de crédito. Procuro uma bendita loja no aeroporto que possa trocar dinheiro pelo cartão de crédito. Todos os funcionários dizem que, infelizmente, seus chefes não permitem. Não tem remédio, tenho de pegar um táxi e ir buscar a Ana que a essa altura, já deve estar bem preocupada com a demora.
Tempos movimentados no Brasil! (em Manaus, no Amazonas)
Pois é, estava mesmo. Agora, pelo menos, estamos os dois juntos. Os dois juntos e sem dinheiro. O táxi tem de nos levar até a cidade, onde há caixas eletrônicos que funcionam. Aí, retiramos o bendito dinheiro e voltamos para o aeroporto. Resultado da brincadeira do táxi, corrida pelo preço oficial da tabela, ida e volta para a cidade: 108 reais. E não tem choro ou gritaria que resolva. Preço padrão, sem chance de negociação, já que não depende do motorista, mas da empresa. Mas nos oferecem uma vantagem: podemos pagar com cartão! A vontade, é claro, é mandar enfiar o cartão, com todo o respeito, naquele lugar. No balcão do estacionamento, agora com dinheiro, a vontade é a mesma também. E no balcão de reclamações da Infraero, uma vez mais. Ali, deixamos a sugestão de que, quem sabe, para a Copa do Mundo, não seria uma boa ideia que cartões de crédito e débito fossem aceitos num aeroporto que vai receber gente do mundo inteiro...
Delicioso café da manhã tradicional em feira de Manaus, no Amazonas
Enfim, perrengues acontecem. Até mesmo numa viagem dos sonhos. O ar condicionado da Fiona nos ajuda a esfriar a cabeça e voltamos ao centro da cidade, para encontrar um hotel. Encontramos um delicioso, um boutique hotel a uma quadra da praça onde está o Teatro Amazonas. Um achado, e com ótimo preço. Da outra vez que estivemos em Manaus, ela ainda não havia sido inaugurado (outra coisa que mudou!) e, dessa vez, viemos direto para cá! Muito bem instalados e já relaxados, pudemos ir aproveitar essa bela cidade.
Deliciosa tapioca com tacumá e queijo coalho, em Manaus, no Amazonas
Deliciosa tapioca com tacumá e queijo coalho, em Manaus, no Amazonas
Começamos com um passeio pela praça e ao redor do famosos teatro e seguimos para a feirinha tradicional de domingo. Especial para comer um típico café da manhã amazonense: tapioca com queijo coalho e Tucumã, uma fruta local. Uma delícia! Tão boa que mereceu repeteco! Acompanhado de suco de fruta fresca, era como se começássemos o dia novamente, agora com o pé direito.
Café da manhã na feira, em Manaus, no Amazonas
Depois de mais umas voltas caminhando, entramos em contato com o Claudionor, do jipe clube da cidade. Quem tinha nos passado o contato dele foi o Ricardo, lá de Boa Vista, Roraima. Queríamos encontrar com ele para falar das condições da estrada que liga Manaus a Porto Velho, considerada uma das piores do Brasil. Nós queremos (e vamos!) ir para a Rondônia, mas como chegar lá com a Fiona tem sido nossa maior preocupação nessas últimas semanas, já que o caminho e as rotas são uma incógnita.
Propaganda dos benefícios do guaraná, em feira em Manaus, no Amazonas
Em teoria, existe uma estrada. Até o início da década de 80, passava até ônibus por lá. Mas a estrada acabou, virou coisa de jipeiro. Tentamos a todo custo descobrir o estado atual dela pela internet, mas as informações são muito desencontradas. Sem essa estrada, a alternativa é botar a Fiona numa balsa e subir o Rio Madeira. Mas todo o processo pode demorar até 10 dias! Não temos todo esse tempo, já que temos encontro marcado com um amigo em Cusco, que é nosso próximo destino depois de Rondônia, via Acre. Outra alternativa é levar a Fiona até Santarém, seguir até Cuiabá na péssima estrada que liga as duas cidades e seguir para Porto Velho. Uma volta dos diabos! Enfim, temos mesmo é de enfrentar e passar por essa misteriosa estrada que segue diretamente para Porto Velho, aqui de Manaus. Por isso, queríamos falar com os jipeiros daqui.
Jantas com integrantes do jipe clube de Manus, no Amazonas
O Claudionor nos atendeu super bem, fez festa ao telefone e logo organizou um encontro numa pizzaria, não só conosco mas com vários outros integrantes do jipe clube. De noite, veio nos encontrar no hotel e fomos seguindo ele até o restaurante. Foi um encontro joia, muita gente, muitas perguntas, muitas histórias. Todo mundo querendo saber da nossa viagem e nós querendo saber da bendita estrada. Alguns dos jipeiros já tinham feito ele por inteiro e nos deram todas as dicas. Melhor, disseram que passaríamos com certeza! Tiramos um baita peso da cabeça e finalmente ficamos seguros do caminho a seguir.
Caloroso encontro com integrantes do jipe clube de Manus, no Amazonas
Enfim, o dia que começou meio complicado terminou em pizza e festa, a Fiona o centro das atenções. Muito obrigado a todos os novos amigos de Manaus. Pela pizza e pelas dicas. BR-319, aí vamos nós! Três dias de aventura em plena selva amazônica, mas levamos comida para uma semana, just in case... Se não dermos notícias em cinco dias, nossos amigos daqui se comunicam com o jipe clube de Porto Velho e organizam um resgate, uns saindo daqui, outros de lá e nos encontram em algum lugar. Vamos que vamos!
Com o Claudionor, do jipe clube de Manaus, no Amazonas
A catedral de Puebla, no México
Levantamos cedo ontem e, depois de um saudável suco de laranja natural na feira que toma conta da praça principal de Amecameca todos os dias, fui acompanhar a Ana, Val e Gera até a rodoviária. Eles pegaram o ônibus para a Cidade do México. As meninas seguem para dois dias intensos de turismo na capital federal enquanto o Gera foi cuidar de burocracias e responsabilidades, além de rever a esposa. O plano era que ele fosse me reencontrar no dia seguinte (hoje!) em Puebla para, juntos, irmos ao refúgio de montanhistas no Orizaba.
Suco de laranja natural de café da manhã em Amecameca, no México
Quanto a mim, fui cuidar da Fiona, enquanto descanso um pouco para ganhar energias para a escalada que me espera. Essas próximas 60 horas seriam a minha mais longa separação da Ana nesses 1000dias de viagem. Será que eu saberia viver sozinho, hehehe.
Pegando ônibus de Amecameca para Cidade do México
Confesso que a viagem para Puebla foi bem esquisita, um enorme vazio no banco ao lado na Fiona. Entrando na cidade, também senti muita falta de alguém me ensinado as ruas a seguir e me ajudando a encontrar um hotel. Enfim, a sorte estava do meu lado e, no caminho para o centro, já passei em um quarteirão cheio de lojas que fazem alinhamento de automóveis. Seria o meu compromisso para hoje cedinho! Depois, carro estacionado, não demorei a encontrar um ótimo hotel, num prédio histórico e charmoso, a menos de duas quadras da praça central da cidade.
A catedral de Puebla, no México
Puebla é uma das mais tradicionais cidades mexicanas e foi, até o final do século XIX, a segunda maior cidade do país. Foi fundada pelos primeiros colonizadores espanhóis, ainda em 1520, com o objetivo de suplantar em tamanho e poder a vizinha Cholula, um centro nativo de grande importância religiosa. Toda a região já tinha tradição em produção de cerâmica, mesmo antes da chegada dos europeus. Com a introdução de novas ferramentas e materiais pelos espanhóis, a tradição continuou e se incrementou e Puebla manteve uma grande importância econômica na época colonial e início da vida republicana.
Interior de igreja em Puebla, no México
Também foi aqui o local de importantes batalhas durante a invasão francesa para instaurar uma monarquia no país, durante a década de 60 do século XIX. O exército de Napoleão III, considerado então o mais forte do mundo, atacou frontalmente a cidade em 5 de Maio de 1862. O exército republicano mexicano, contando com apenas um terço das forças atacantes, resistiu bravamente, num dos raros exemplos de vitórias nacionais contra forças estrangeiras. Até hoje a data é celebrada pelo exército e pela nação. Mas um dos fatores que explicam a derrota francesa na batalha foi que boa parte dos soldados estava atacada com uma forte disenteria. Aparentemente, a comida picante do país não havia lhes caído bem... De qualquer maneira, um ano mais tarde os franceses voltaram, agora sem dor de barriga, e conquistaram a cidade, que permaneceu sobre o controle das forças monarquistas de Maximiliano até quase o fim da guerra, em 1867.
Apresentação de palhaços reúne muita gente na praça central de Puebla, no México
Fim de tarde em Puebla, no México
Desde então, a vida se acalmou bastante em Puebla. Hoje, o movimento maior vem dos turistas e dos artistas locais que disputam um lugar no Zocalo para sua apresentações sempre concorridas, principalmente nos finais de tarde. A praça é muito agradável, cheia de árvores e ladeada por grandes prédios. O mais belo deles é a vistosa catedral, uma das maiores do país.
Caminhando pela praça central de Puebla, no México
Minha tarde de ontem foi toda de passeios e caminhadas pelo charmoso centro histórico e pelo movimentado centro comercial. O jantar foi mesmo no hotel que, com seu pé direito alto e murais pintados no teto, já merece ser visitado mesmo que não se hospede por lá. Gostei tanto de lá que já deixei quartos reservados para nós quando me reencontrar com a Ana e Valéria, após a subida ao Pico Orizaba.
Chegando ao Pìco Orizaba, montanha mais alta do México
O Pico Orizaba visto do refúgio de montanhistas, no México
Hoje cedo, foi a hora de finalmente alinhar a Fiona. Por aqui, o alinhamento é feito da mesma maneira que no Brasil, sem a frescura de computadores pré-programados como nos Estados Unidos. Enfim, pode ser feito, mesmo com um carro que não existe no mercado local. O que o mecânico descobriu, também, foi que um dos suportes da suspensão da Fiona estava em estado precário. Depois de 125 mil km, muitos dos quais em estradas bem esburacadas, não posso reclamar. Para meu alívio e felicidade, essa peça havia por aqui e pôde ser trocada. Nossa Fiona está pronta para enfrentar a América Central novamente!
Refúgio de montanhistas no Pico Orizaba, no México
De volta ao hotel, lá estava o Gera, recém-chegado da capital. Juntos, numa Fiona redondinha, fomos para Tiachichuca, uma pequena cidade quase aos pés do Pico Orizaba. Daí partem as expedições para conquistar a maior montanha mexicana. Nós fomos diretamente ao ponto de encontro marcado com o Piotr, um polonês radicado no México e que será nosso guia para a empreitada de amanhã. O Piotr é o dono da empresa Mexico Extreme e leva clientes a qualquer montanha no México. Ele estava em um dos centros de apoio à alpinistas que existe na cidade e aí checamos os equipamentos e alugamos o que faltava. Ainda descolei um delicioso almoço mexicano, com muito feijão e abacate, deixamos a Fiona guardada e, num carro alugado, seguimos para a montanha.
Fim de tarde no refúgio do Pico Orizaba, a maior montanha mexicana (foto de Geraldo Ozorio)
Até poderíamos ir de Fiona mesmo, mas agora que ela acabou de ser alinhada, resolvi poupá-la dessa. A gente segue por uma estrada bem rústica montanha cima, ziguezagueando pelas encostas mais baixas do Pico Orizaba até os 4.200 metros de altitude, onde está o refúgio. Vai ser o lugar da nossa curta noite, já que por volta da uma da madrugada vamos nos levantar para o ataque ao cume.
Refúgio de montanhistas no Pico Orizaba, no México
A gente chegou lá no final da tarde e finalmente pudemos ver o Orizaba que, até então, se escondia atrás das nuvens. Imponente e glorioso, por baixo de uma vasta capa de gelo, seu cume cerca de 1.400 metros acima de nós. Só deu tempo de eu dar uma pequena caminhada para tirar umas fotos e logo escureceu. Em seguida, o Piotr preparou um lanche reforçado para começarmos a acumular energia para o esforço que nos espera.
Prontos para dormir no refúgio de montanhistas, na véspera da tentativa de subir o Pico Orizaba, no México
O refúgio não é grande, mas bem maior que aquele lá do Izta. Além de nós, apenas outros 3 alpinistas para dividir conosco enormes triliches. O frio começou a apertar e logo estávamos dentro dos nossos sacos de dormir, tentando aproveitar ao máximo das poucas horas de descanso. Mas nossa tranquilidade não demorou muito, pois duas horas mais tarde chegou ali uma tropa de elite do exército mexicano, cerca de quarenta soldados em seus exercícios cotidianos. Armados até os dentes, mas muito simpáticos, ocuparam o resto dos triliches e todo o assoalho do refúgio. Meia hora de balbúrdia total. Se nós já ficamos impressionados com aquilo tudo, imagina os três jovens montanhistas americanos que ali estavam, em sua primeira viagem internacional. Não entenderam nada, hehehe. Bom, se os soldados nos acordaram agora, já deixamos avisados para eles que em poucas horas será a nossa vez de despertá-los. Com o maior cuidado, claro! Afinal, estamos em minoria! Em compensação, perdidos no meio de uma montanha no México, nunca dormimos uma noite tão segura em nossas vidas! Tinha até sentinelas, um do lado de dentro e outro no frio lá fora. O mesmo frio que vamos encarar daqui a três horas!
Soldados dormem no refúgio do Pico orizaba, a maior montanha mexicana (foto de Geraldo Ozorio)
A pacata cidade da Lapa, no Paraná
Chegou o dia de deixarmos Curitiba outra vez para trás e retomarmos nossa viagem pelas Américas, dessa vez rumo ao sul do continente, a única parte que ainda nos falta para completar a jornada a que nos propomos. Ainda há muito por ver no sul da Argentina e do Chile, no Uruguai e nas ilhas do sul do continente, como Páscoa, Malvinas e Georgia. Enfim, muita aventura pela frente!
O início da nossa longa jornada até Ushuaia. De Curitiba (A) para a Lapa (B) e, no mesmo dia, para Treze Tilias (C), já em Santa Catarina. Mesmo as mais longas jornadas começam com um primeiro passo!
Também no Brasil ainda falta viajarmos. Notadamente, o litoral gaúcho e catarinense. Mas não só isso! Já viajamos pela região serrana desses dois estados, mas queremos ver também o oeste da região. Por isso mesmo, apesar do objetivo final ser Ushuaia, cidade mais ao sul do mundo, começamos de forma mais modesta: Treze Tílias, no oeste de Santa Catarina. Como já dizia o filósofo, toda grande jornada começa com um pequeno passo. E o nosso, foi para conhecer esse pedacinho da Áustria aqui no Brasil, ainda tão pouco conhecido. Pelo menos, era essa a nossa ideia para o primeiro dia da retomada da viagem.
Um dos muitos prédios históricos da Lapa, no Paraná
Mas, mantendo nossa tradição, nosso roteiro planejado já seria alterado logo no primeiro dia. É a vantagem de se viajar de forma independente e não numa excursão: mudamos planos e horários ao nosso bel prazer! Como sempre acontece, nossa intenção de pegarmos estrada bem cedinho ficou só na intenção e acabamos saindo de Curitiba no final da manhã. No nosso rumo em direção sudoeste, logo chegamos à Lapa e a tentação de pararmos ali para um rápido turismo e também para o almoço foi irresistível. Aliás, quando vi a primeira placa sinalizando a cidade é que me dei conta da estupidez de não ter pensado nela antes. Afinal, a Lapa é uma delícia de cidade e um típico exemplo de como o turismo brasileiro ainda tem de se desenvolver. Seria uma vergonha essa joia paranaense não estar no roteiro de dois viajantes do estado que querem conhecer toda a América. Felizmente, o destino nos levou até lá!
Biscoito com receita centenária na Lapa, no Paraná
Apesar de sua grande importância histórica, a Lapa é praticamente desconhecida de todos os brasileiros. Mesmo entre aqueles mais metidos, que acham que sabem um pouco de história, como é o meu caso, a cidade é uma surpresa. Confesso que, quando cheguei ao Paraná, há 11 anos, não conhecia nada da Lapa. No meu afã inicial de viajar pelos destinos turísticos do estado, acabei chegando à pequena cidade e me surpreendi com a minha ignorância. Enfim, antes tarde do que nunca, eu acabei aprendendo sobre a importância e o charme dessa pequena cidade tão próxima de Curitiba e, nesses últimos dez anos, tive o prazer de lá voltar mais algumas vezes. Agora, com toda a justiça, era a vez de estarmos ali dentro do projeto 1000dias.
Venda de algodão doce em frente a igreja da Lapa, no Paraná
A Lapa começou a ganhar importância como ponto de parada na rota tropeira, que trazia gado gaúcho aos mercados de Sorocaba, em São Paulo, a principal rota do Brasil colonial e imperial a ligar os estados do sul e do sudeste. Mas foi mesmo o episódio conhecido como Cerco da Lapa, em plena Revolução Federalista, já no final do século XIX, que tornou a cidade importante na história brasileira.
Praça central da Lapa, no Paraná
A Revolução Federalista foi o maior e um dos mais sangrentos conflitos internos na história do país. O que começou como uma luta interna no estado do Rio Grande do Sul, uma revolta contra o então presidente estadual (governador) Júlio de Castilhos acabou se tronando um conflito de cunho nacional, entre republicanos, que defendiam um poder mais centralizado, e federalistas, que defendiam uma maior autonomia dos estados. Os primeiros eram chamados de “pica-paus” enquanto os últimos eram os “maragatos”.
Pequeno parque na Lapa, no Paraná
O exército maragato, com apoio velado argentino e uruguaio, esteve na ofensiva no início da revolta. Rapidamente tomaram boa parte do Rio Grande e invadiram Santa Catarina e o Paraná. O objetivo final era chegar à capital federal, mas para isso teriam de tomar Curitiba, a capital provincial. Antes de chegar lá, tentaram tomar uma das mais importantes cidades do Paraná naquela época, Lapa, a menos de 80 km da capital. Foi aí que encontraram uma inesperada e encarniçada resistência, o que acabou atrasando toda a campanha militar.
Panteão em honra aos herois do "Cerco da Lapa", no Paraná
Por quase um mês, cerca de 600 homens liderados pelo obstinado General Carneiro resistiram aos ataques de 3 mil federalistas. Foi tempo mais do que suficiente para o marechal Floriano Peixoto, o então presidente do Brasil, enviasse tropas para Curitiba. A partir de então, os federalistas perderam o ímpeto inicial da guerra e foram as forças republicanas e legalistas que tomaram a ofensiva. Basicamente, essa guerra que matou mais de 10 mil brasileiros mudou de rumo aqui, na pequena Lapa. Ao final do cerco, ela finalmente caiu, assim como também caiu o General Carneiro. Hoje, ele e outros estão enterrados e homenageados no “Panteão dos Heróis”, no centro da cidade.
A pacata cidade da Lapa, no Paraná
Além do Panteão, são muitos os outros prédios de interesse. Entre eles, se destaca o charmoso Teatro São João. Um dos únicos de influência elisabetana no Brasil, ele já era muito movimentado antes do episódio do cerco, já que a elite cultural da Lapa era muito requintada. Na guerra, foi transformado em enfermaria e foi ali que faleceu o General Carneiro. Depois do episódio do cerco, a cidade foi perdendo sua importância e o teatro foi abandonado, tornando-se um armazém. Finalmente, na década de 70, foi restaurado e reinaugurado com pompa e circunstância, numa peça protagonizada, entre outros, pelo saudoso Paulo Autran. Hoje, sem dúvida, é um ponto de visita obrigatória para quem chega á cidade.
Entrada do Teatro São João, na Lapa, no Paraná
Nos quarteirões centrais, ao redor do teatro,, são diversos prédios históricos, todos centenários. Caminhar pelas ruas de pedra é um charme. Fosse a Lapa na Europa ou Estados Unidos, certamente seria muito mais valorizada, ônibus lotados de turistas chegando todos os dias, diversos restaurantes e pousadas charmosas. Mas, estamos mesmo é no Brasil. Assim, a bela cidade não passa de uma ilustre desconhecida. O que, de certa forma, também faz parte do charme da cidade...
O charmoso Teatro São João, na Lapa, no Paraná
Enfim, passamos umas poucas e saborosas horas por aqui, felizes de que o destino a colocasse em nosso caminho. Agora, e para sempre, a Lapa faz parte dos 1000dias. Com toda a justiça! Com a mente flutuando sobre a história, era hora de seguirmos nosso caminho. Agora sim, e sem mais delongas, rumo à Treze Tílias, outro tesouro turístico quase desconhecido dos brasileiros, mas já no estado de Santa Catarina. Um pedacinho do Tirol em terras quase tropicais...
No palco do Teatro São João, na Lapa, no Paraná
Flutuando nas águas transparentes do Poço Azul, próximo à Andaraí, na Chapada Diamantina - BA
Deixamos Igatu no início da tarde rumo a umas das maravilhas da Chapada. Na verdade, ao "representante" de uma das maravilhas, que são as cavernas alagadas com uma água incrivelmente azul e transparente, visibilidade próxima dos 60 metros!
O incrível Poço Azul, próximo à Andaraí, na Chapada Diamantina - BA (foto de Israel Oliveira)
As mais famosas cavernas alagadas são a Pratinha, o Poço Encantado e o Poço Azul, mas há muitas outras. A Pratinha fica ao norte do parque, enquanto os dois "poços" ficam na região de Andaraí, a leste do parque. O Poço Encantado é o mais belo de todos mas está fechado à visitação. Resta então o Poço Azul, bem menos amplo mas com as mesmas águas mágicas.
O Poço Azul, próximo à Andaraí, na Chapada Diamantina - BA
Quem o visita pela primeira vez não vai se decepcionar. Os olhos custam a acreditar no que vêem. Hoje em dia só é permitido fazer a flutuação nas águas azuis, por exigência do Ibama, mas isso já é o bastante para fazer a alegria dos visitantes. Pode-se ver o chão lá embaixo, a mais de 20 metros, com perfeição.
Preparando-se para entrar no Poço Azul, próximo à Andaraí, na Chapada Diamantina - BA
Mas para quem já esteve lá antes, no tempo em que se podia nadar sem coletes, é impossível não se sentir meio roubado dos seus "direitos". Como foi gostoso nadar até o chão desta caverna! Era como voar no céu... O problema é que, se um pode, todos podem. E aí, o frágil ecossistema da caverna não resiste.
Mergulhando no Poço Azul, próximo à Andaraí, na Chapada Diamantina - BA (foto de Israel Oliveira)
Foi o que ocorreu com o Poço Encantado. Em 91, tive a sorte marailhosa de nadar lá. Perto do Encantado, o Azul é brincadeira de criança. Um enorme lago de 50 metros de profundidade, 40 de largura e 70 de comprimento. Tudo iluminado por uma enorme clarabóia. Cenário de indescritível beleza. As fotos que acho na internet não fazem jus à beleza do lugar. Na época, não fazia idéia da sorte que tive. Alguns meses depois, nadar no poço foi proibido. Voltei lá em 98 e em 2001. Só se podia observar o poço, nesses anos. Lembro da sensação de perda que tive. Mas me contaram que o problema tinha sido os ônibus de farofeiros chegando ao local, com bóias e tudo mais. E agora, há uns dois anos, toda e qualquer visitação foi proibida. O problema foi que o Miguel, dono da área, resolveu facilitar o acesso de visitantes a andou fazendo umas "modificações" na caverna, tipo um concretozinho aqui e ali. O Ibama não perdoou, fechou o acesso e assim continua.
Foto da web do Poço Encantado, perto de Andaraí, na região da Chapada Diamantina - BA. A visitação está proibida. As pedras que se vêem no fundo do lado estão a mais de 50 metros de profundidade!
Restou o lindo Poço Azul. E a flutuação. Como eu disse, para quem nunca foi, não deixe de ir...
As casas coloridas da cidade de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Para nós que somos tão acostumados com a geografia paranaense, o reflexo e a tentação de dizer “Paranaguá” era grande, mas era mesmo para “Paraguaná” que estávamos indo, uma pequena península com forma de cabeça humana que fica no extremo norte da Venezuela. Há poucas dezenas de milhares de anos, era mais uma das ilhas que pontuam a costa nesse ponto, como Aruba ou Curaçao, mas a combinação de correntes marítimas e ventos tratou de construir, ao longo do tempo, uma estreita ponte que a liga ao continente. A ilha virou península!
Península de Paranaguá, extremidade norte da Venezuela, quase encostando em Aruba! Nós passamos pelas cidades históricas no centro da península, pelo balneário de Adicora e nas lagoas coloridas do norte
Falando em Aruba, do alto da maior montanha de Paraguaná, em dias de céu limpo, se pode ver muito bem a ilha holandesa. Até parece que foi ontem que estivemos por lá, e não há 17 meses. A tentação de revê-la, mesmo que de longe, foi grande, mas o dia não estava tão claro assim e a caminhada até o alto da bela montanha iria requerer umas cinco horas, tempo que não tínhamos, infelizmente. Sem essa alternativa, poderíamos nos concentrar nas outras tantas atrações que Paraguaná oferece, como as vilas históricas, as lagoas coloridas repletas de pássaros avermelhados e o litoral dos sonhos para quem gosta de kite e wind surf.
O Cerro de Santa Ana, maior montanha da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela. Lá do alto, pode-se ver Aruba!
Foi a proximidade com as Antilhas Holandesas que marcou a história de Paraguaná. Por aqui passava o comércio, legal e ilegal, entre as ilhas e a Venezuela, desde os tempos de colônia até os de república. Ricas comunidades de comerciantes se estabeleceram e ainda hoje se pode admirar as pequenas vilas onde eles moravam. Esse foi o caminho que decidimos seguir, dando a volta pelo interior da península, passando ao lado do morro Santa Ana, o mais alto de Paraguaná e, finalmente, seguindo para o litoral e as lagoas coloridas.
Observando a igreja de Santa Ana, cidade histórica na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
A igreja de Moruy, pequena cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Cada uma das vilas tinha sua pracinha central e a charmosa igreja, entre elas algumas das mais antigas ainda de pé no país. Nós fomos fazendo nosso tour, tirando nossas fotos e fazendo as contas para controlar o combustível do carro. Principalmente agora que tínhamos decidido pelo caminho mais longo, para poder passar nas pequenas vilas. Estávamos bem no limite para podermos voltar até Coro quando descobrimos um pequeno posto ali mesmo. Melhor... com diesel! Finalmente, poderíamos abastecer pela primeira vez no país e ver com os próprios olhos como é encher o tanque gastando apenas 15 centavos de dólar. Atenção! Não estou falando do preço de um litro, mas de todos os litros necessários para encher o tanque da nossa Fiona.
Enchendo o tanque com 2,80 bolívares, ou 12 centavos de dólar, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Praça central da pequena Santa Ana, cidade histórica na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
O preço do combustível é uma das facetas do chavismo, bolivarianismo ou socialismo do século XXI, alguns dos termos usados para descrever o sistema político e econômico implantado no país por Hugo Rafael Chávez, o carismático e polêmico líder que governou a Venezuela por quase quinze anos, desde 1998 até sucumbir frente ao câncer no final do ano passado.
A igreja de Buena Vista, cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Após uma pujante década de 70, alavancada pelos altos preços do petróleo, a Venezuela enfrentava uma grave crise econômica na década de 80, depois da derrocada dos preços do barril de óleo enquanto os gastos internos continuavam os mesmos. A Venezuela se endividou e não tinha como pagar seus débitos. Na campanha presidencial do final da década, o tradicional político Carlos Andrés Perez prometeu repelir políticas neoliberais de corte de gastos, mas assim que venceu e assumiu o governo, parece ter mudado de ideia e recorreu ao FMI. O trágico resultado foi um aumento da pobreza e descontentamento social que culminou com manifestações em Caracas, reprimidas com violência e que resultaram em mais de cem mortos.
Propaganda nos muros de Moruy, pequena cidade na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Foi nesse clima cada vez mais tenso que um até então desconhecido militar, o Coronel Chávez, tentou um golpe militar no início de 1992. Várias instalações militares foram tomadas no interior do país, mas o objetivo de capturar o presidente Andres Peres e tomar as principais bases da capital falharam. Chávez acabou desistindo do golpe, ordenando a rendição dos revoltosos e evitando um banho de sangue. Mas negociou em troca um pronunciamento na TV quando, enfim, tornou-se conhecido na nação e conseguindo a simpatia de amplos setores da sociedade, decepcionados com os níveis de corrupção e ineficiência então vigentes no governo.
Flamingos e culhereiros na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Culhereiros na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Mesmo preso, Chávez ajudou na organização de uma nova tentativa de golpe, no final daquele ano. Dessa vez, os revoltosos foram mais aguerridos e o número de mortes aumentou bastante. O governo conseguiu controlar a situação, mas o desgaste político era cada vez maior. Com forte pressão da sociedade, Carlos Andres Perez sofreu um processo de impeachment dois anos mais tarde.
Um culhereiro na Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Nas eleições seguintes, foi eleito outro político tradicional, Rafael Caldeira. Entre as promessas de campanha, uma ampla anistia aos revoltosos de 1992. Promessa cumprida, Chávez e outros líderes foram postos em liberdade, mas impedidos de voltar ao exército. O governo de Caldeira também fracassou em melhorar a situação econômico-social da Venezuela e, nas próximas eleições, o agora político Chávez foi o grande vencedor. Agora de forma legal, chegava ao poder, com amplo apoio das classes menos abastadas, inclusive da classe média.
Culhereiro sobrevoa a Laguna de Tiraya, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Chávez não perdeu tempo. Convocou eleições para uma assembleia constituinte e obteve uma grande vitória eleitoral para composição dessa assembleia. Em pouco tempo, o país tinha uma nova constituição, o primeiro passo rumo ao “bolivarianismo”. Ao mesmo tempo, preços internacionais favoráveis para o petróleo possibilitaram ao governo multiplicar os gastos sociais, melhorando a vida das camadas mais pobres e, ao mesmo tempo, consolidando seu apoio. Ao mesmo tempo, as enormes receitas de exportação de petróleo lhe permitiram praticamente zerar o preço do combustível no mercado interno, aumentando ainda mais sua popularidade. O chavismo que se iniciava agradava a muita gente. Mas também incomodava, produção de alimentos em plena derrocada...
A colorida Laguna Cumaraguas, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Enfim, assunto para um próximo post. O fato é que, apesar dos inúmeros problemas derivados do tal socialismo do século XXI, encher o tanque com apenas 15 centavos nos faz bem felizes. E foi com o tanque cheio que seguimos para o litoral, para a cidade de Adicora. Antes de descermos por lá, seguimos mais ao norte, para lagoas famosas por suas cores e pelas cores dos pássaros que neles vivem. A alimentação rica em camarões pinta as penas dos flamingos e colhereiros de vermelho. É nessa hora que sentimos mais falta de um bom zoom na nossa máquina fotográfica, mas, enfim, “fazemos o que podemos”!
A colorida Laguna Cumaraguas, na península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Além dos pássaros, também a água ganha cores, dependendo do ângulo de incidência da luz do sol. Um espetáculo, quase um arco-íris avermelhado nas águas salgadas da lagoa que também é uma salina.
Chegando à Adícora, cidade no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Agora sim, de volta à Adicora, a praia onde o vento nunca para. Para aqueles que sabem ler o vento, difícil imaginar lugar melhor. A cidade está em uma pequena península e, embora o vento esteja dos dois lados, as ondas ficam apenas do lado sul. Nesse lado ficam os praticantes de kite surf, enquanto os amantes do Wind surf preferem as águas mais calmas da parte norte.
O farol de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Depois de passearmos um pouco pelas areias e admirar os esportes náuticos e a arquitetura da pequena vila, acabamos tomando a decisão de continuar a viagem. A ideia original era dormir por ali mesmo, mas resolvemos voltar para Coro e seguir para o sul, para a Serra de San Luis, região que exploraremos amanhã. Do mar para a montanha, do calor para o frescor, ainda conseguimos chegar a tempo de observar o pôr-do-sol lá de cima, numa paisagem e ambiente completamente diversos daqueles onde tínhamos passado todo o dia de hoje. E olha que são apenas 100 quilômetros entre um lugar e outro, dois mundos completamente diferentes.
As casas coloridas da cidade de Adícora, no litoral da península de Paraguaná, ponto mais ao norte da Venezuela
Há apenas três dias no país e já andamos por metrópoles e cidades históricas, o maior lago do continente e um autêntico deserto, uma praia onde o vento nunca para e montanhas úmidas onde cresce vegetação tropical e precisamos de casacos. A viagem na Venezuela, onde encher o tanque do carro não custa nada, está mais intensa do que nunca!
O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela
Época de flores em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Dia 20 era o nosso dia de subir uma das Pitons. Quase todos os turistas que resolvem fazer esse enorme esforço escolhem a maior delas, onde há uma trilha e guias, a Gros Piton. Os mais aventureiros escolhem a escalaminhada da Petit Piton, onde até cordas são necessárias. Essa foi a nossa escolha. Hoje, 05:30 da madrugada, estávamos prontos para a programação de 4 horas. Nós estávamos, mas nosso guia não. Simplesmente não apareceu e nós voltamos para a cama para outras deliciosas e merecidas horas de sono. Vamos embora sem ter estado no topo de uma das Pitons. De alguma maneira, isso não é ruim. Elas continuarão com aquele ar de misteriosas, de proibidas, de sagradas para nós. A visão aqui de baixo já foi inesquecível e a visão lá de cima é um bom motivo para voltarmos...
Uma bela tartaruga durante mergulho em Soufriere, sul de Santa Lúcia, no Caribe
Ainda no final da manhã a Ana foi mergulhar novamente. Vai contar a história no seu post, mas entre outras coisas, esteve um bom tempo com uma grande tartaruga.
Uma bela tartaruga durante mergulho em Soufriere, sul de Santa Lúcia, no Caribe
Já eu, iniciei meu período de férias das férias. Por três dias, do dia 20 até hoje, tivemos um delicioso descanso, sem muitas atividades, fora uma gostosa caminhada no dia de hoje, no parque de Pigeon Island, aqui em Rodney Bay, onde passamos os últimos dois dias, no norte de Santa Lúcia.
Nosso percurso em Santa Lúcia
Logo depois da Ana voltar do mergulho, um pouco de sol na piscina e uma cerveja gelada para começar bem o período sabático, saímos de viagem novamente. Nosso destino era o norte da ilha, mas começamos indo para o sul, até a ponta de Santa Lúcia. Lá está um farol, na cidade de Vieux Fort, de onde se tem uma ampla visão do marzão que nos separa da próxima ilha da cadeia, São Vicente.
Visita à ponta sul de Santa Lúcia, em Vieux Fort
De lá, ao lado do aeroporto internacional de Santa Lúcia, seguimos pela estrada para Castries, a capital da ilha. Chegamos por uma estrada alternativa, no alto do morro, de onde tivemos uma visão belíssima da cidade. Não é à toa que o Governador-Geral resolveu construir sua casa por ali, hehehe.
Vista de Castries, capital de Santa Lúcia
Cruzamos Castries, passamos pelo aeroporto regional de onde voaremos amanhã e chegamos, no fim da tarde, à Rodney Bay, o centro turístico dessa área bem mais movimentada da ilha, onde bacanas do mundo inteiro vem passar temporadas em resorts ou, melhor ainda, aportam seus “barquinhos”.
Casa do governador-geral de Santa Lúcia, em Castries
Na verdade, o mais caro resort de todos está no sul, ali perto de Soufriere. É onde ficava a Amy Winehouse, tomando todas e dando suas populares baixarias, enquanto fazia seus shows maravilhosos. Mas é no norte que se concentram a maioria dos resorts.
Com a Marília em sua casa na marina de Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Mas nós não tivemos de ficar em nenhum resort. Ao contrário, ficamos muito melhor instalados! Nossos amigos lá de Barbados, a Rosa e o Roberto, tinham nos passado o contato de um casal aqui em Santa Lúcia. A brasileira Marília e o inglês David nos receberam na casa deles, bem na marina de Rodney Bay.
Com a Marília na marina de Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Eles têm uma história de vida interessantíssima, que nos fez ver que ainda temos de comer muito feijão. O David trabalha numa firma de consultoria e, por isso, vivem mudando de lugar. Ele já passou pela Polônia Comunista, por lugares “sem graça” como Londres e Paris, pelas brasileiras Rio, São Paulo e Paraíba e por lugares um pouco mais inóspitos como a Líbia, Iraque, Líbano e Paquistão. Sim, lá no Paquistão estiveram na vizinhança do Bin Laden duas semanas antes de matarem o líder terrorista. Na Líbia, eram vizinhos do Khadafi, no Líbano e no Iraque, seus hotéis foram bombaerdados um pouco depois de saírem de lá. Enfim, quanta experiência!
Ruínas da antiga fortificação inglesa em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Além disso, a Marília conviveu com gente como a Madre Tereza de Calcutá, na Venezuela, ou Paulo Francis, em Nova York, Nara Leão e Chico, no Rio dos anos 60, o parente feioso Paulo Zulu e todos os jornalista do Pasquim dos anos 70.
Ruínas da antiga fortificação inglesa em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Enfim, passamos dois dias maravilhosos ouvindo suas histórias e nos divertindo com o humor inglês do David, embalados com bom uísque e vinho, mimados até não poder mais com um delicioso quarto e refeições em bons restaurantes. Fica difícil saber se devemos agradecer aos nossos anfitriões, que nos deram uma aula sobre como passar nossa curta vida aqui na Terra, ou à Rosa e ao Roberto, o simpático casal que nos colocou em contato com eles! Brincadeiras à parte, agradecemos aos dois casais, pessoas que só conhecemos porque estamos viajando por esse enorme continente, sempre abertos a conhecer pessoas novas, gente que vive diferente das pessoas que passam boa parte da vida dentro de um escritório.
Caminhando em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Parte alta de Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
O dia 21 foi assim, conversando boa parte do dia com a Marília, e socializando também com o David de noite. Quando muito, um pulinho na praia da Rodney Bay, onde fomos até o boteco no final da praia e, ao longo de algumas cervejas, ficamos amigos da dona e de seus ajudantes, todo mundo sangue muito bom, o melhor escritório do mundo bem em frente, a paisagem cinematográfica da praia, mar azul, veleiros e iates e a Pigeon Island ao fundo.
É possível ver as Pitons no horizonde, do alto de Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Aliás, foi aí que fomos passar o dia de hoje. Um parque nacional que protege uma península que já foi uma ilha, até que aterrassem uma pequena passagem há três décadas. Pigeon Island teve papel fundamental na história de Santa Lúcia e de todo o Caribe e hoje toda a área é um parque, protegendo não só a natureza, mas também as ruínas da antiga fortaleza.
No alto de Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Foi aqui que, depois de muitas idas e vindas, os ingleses conseguiram se estabelecer “solidamente”. Construíram uma bela fortaleza e daí conseguiam vigiar Fort-de-France, a principal base naval francesa no Caribe, em Martinica, 40 km ao norte.
Uma das muitas placas informativas sobre a história de Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Na Guerra dos Sete Anos, na década de 1760, franceses e ingleses estavam, em verdade, disputando a supremacia mundial, assim como foi a guerra entre eles. Os ingleses venceram e os franceses perderam sua posses no Canadá e na Índia (o que atesta o caráter mundial da disputa). Pois bem , alguns anos mais tarde veio a chance da desforra, a Guerra de Independência Americana. Franceses logo se aliaram aos revolucionários e Washington teve ajuda decisiva do exército comandado pelo general francês Lafayette. Não é à toa que, até hoje, os americanos tem essa dívida de gratidão com os franceses.
É possível ver as Pitons no horizonde, do alto de Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Pois bem, essa também foi uma “guerra mundial” e boa parte dela se deu Caribe. Enquanto em terra, na América do Norte, Washington e seu amigos franceses ao final venceram, no Caribe a história foi outra. Aqui, ingleses, de maneira geral, venceram a aliança de americanos, franceses, espanhóis e holandeses.
No alto do antigo forte em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Por exemplo, boa parte dos suprimentos para os revolucionários americanos passavam pela ilha de Sint Eustatius (nós passamos por lá, podem ver nos posts!), inclusive mercadorias contrabandeadas da própria Inglaterra. Os ingleses tomaram essa ilha dos holandeses, num ataque surpresa, destruindo boa parte das instalações comerciais pertencentes à comunidade judaica da ilha. Inclusive, e isso não era comercial, à mais antiga sinagoga do continente. Um ano mais tarde, em 1782, os franceses retomaram a ilha para os holandeses.
No alto do antigo forte em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Mas, a grande batalha pela posse do Caribe era outra. Franceses e espanhóis planejavam tomar a Jamaica, principal base inglesa na região. Mas quando a esquadra francesa zarpou de Fort-de-France, na Martinica, os ingleses logo saíram em seu encalço. Estavam estacionados em Pigeon Island, sob comando do Almirante Rodney, o mesmo que havia tomado Sint Eustatius. Ele mesmo subia, todos os dias, ao ponto mais alto de Pigeon Island para, com sua luneta, observar os franceses da Martinica.
Experimentando chapéus em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Depois de muita espera, saiu com sua frota poucas horas depois dos navios franceses zarparem e, alguns dias depois, os derrotou em uma batalha ao largo das ilhas de Les Saints, em Guadalupe. Foi uma vitória decisiva que manteve a posse da Jamaica e, mais do que isso, a supremacia inglesa em todo o Caribe.
Gato descansa tranquilamente à beiramar, em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
A fortaleza onde Rodney ficava hoje é um parque. Por aí caminhamos por algumas horas, lendo todos os painéis explicativos e nos deliciando com a mesma visão que tinham os ingleses, 235 anos atrás. Ao final, relaxamos no lendário restaurante em que a inglesa Josset Agnes recebia velejadores de todo o mundo nas décadas de 50 a 70 do século passado. Um lugar sagrado na comunidade! A atriz acabou voltando para morrer na Inglaterra, quase centenária, mas seu sonho de preservação foi consolidado com a transformação de toda a área em um parque.
Pequena e bela praia em Pigeon Island, parque próximo à Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
Amanhã partimos para San Vincent, de avião. Fim de mais uma etapa nessa perna caribenha, muitas histórias novas aprendidas (o Caribe é um mundo à parte!) e, mais importante do que tudo isso, dois dias de agradável e enriquecedora convivência com esse casal incrível, que nos recebeu tão bem, a Marília e o David.
Com o David e a Marília, nossos queridos anfitiões em Rodney Bay, norte de Santa Lúcia
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