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Estados Unidos, Arizona, Grand Canyon

Observando a luz do sol entrar, aos poucos, pelo fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Observando a luz do sol entrar, aos poucos, pelo fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Acampados, passamos uma noite fria no fundo do Grand Canyon. Ontem, quando voltamos da nossa caminhada vespertina até o mirante da Clear Creek Trail, já estava escuro. Mas antes do nosso jantar, ainda caminhamos até a borda do rio Colorado. Ali passamos quase uma hora, contando as estrelas e conversando sobre esses maravilhosos últimos 1000dias que tivemos, todos os lugares que passamos e pessoas que conhecemos. Mas nem toda essa elucubração resistiu ao frio que apertava e voltamos para a nossa barraca. Com muita eficiência e nosso fogareiro novo que agora funciona, a Ana rapidamente fez nosso jantar quentinho. Uma delícia! Pura energia para recuperar as calorias que perdemos ontem e as que precisaríamos hoje. Na verdade, parte delas já usamos de noite mesmo, tentando nos esquentar dentro dos sacos de dormir. Aliás, a Ana, sempre precavida, teve o bom senso de carregar até o fundo do Grand Canyon o meu saco de dormir antigo, além do dela. Assim, enquanto eu estreava o meu novo, comprado na REI de Seattle, próprio para temperaturas mais baixas, ela se enfiava em dois sacos de dormir, mais um saco-lençol que compramos também. Mesmo assim, reclamou do frio.

Acampando no Bright Angel Canyon, no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Acampando no Bright Angel Canyon, no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Esquentando água para o chá, no acampamento no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Esquentando água para o chá, no acampamento no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Hoje, antes de iniciarmos o caminho de volta, resolvemos nos esquentar com uma caminhada matutina. Seguimos pela trilha que adentrava o canyon em que está o acampamento. É a North Kaibab Trail, que segue até o alto do North Rim, 1.750 metros acima de nós, ao longo de 22 quilômetros. Certamente, não queríamos chegar até lá, até porque o North Rim está completamente fechado pela neve e gelo. Mas seguir alguns quilômetros canyon adentro, em trecho quase plano, seria um bom exercício. Além disso, conforme haviam nos dito, o visual era muito belo, um canyon estreito com paredes com centenas de metros. É aqui que temos a verdadeira sensação de um canyon pois, no Grand Canyon propriamente dito, tudo é tão amplo e vasto que a sensação é outra.

Percorrendo trilha ao longo do Bright Angel Canyon, um dos 'afluentes' do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Percorrendo trilha ao longo do Bright Angel Canyon, um dos "afluentes" do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Percorrendo trilha ao longo do Bright Angel Canyon, um dos 'afluentes' do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Percorrendo trilha ao longo do Bright Angel Canyon, um dos "afluentes" do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


A Ana seguiu mais lentamente, esquentando os músculos, tirando fotos e se poupando para a longa subida que nos esperava. Eu, ao contrário, me empolguei e, duma caminhada, passei a uma corrida. Correr por aquela trilha naquele canyon estreito e vazio, as primeiras luzes do sol iluminando as paredes mais altas foi, realmente, um momento mágico. Àquela hora, não havia ainda ninguém por ali, exceto o orvalho da manhã. Difícil foi tomar a dura decisão de parar e retornar. Algo dentro de mim quer sempre seguir em frente, ir até o final da trilha, qualquer que seja ela. Esses 1000ias e 1000 trilhas que temos passado tem sido um exercício contínuo de aprender a parar, respirar fundo e voltar, mesmo com a trilha me chamando a continuar. Que dureza! Enfim, já imaginei o belo desafio que seria, num mesmo dia, descer pela South Kaibab e subir pela North Kaibab. Atravessar todo o Grand Canyon em uma pernada só. Mais um desejo para a minha lista que, dificilmente, terei a chance de tentar. Mas a lista está lá, guardadinha. Crescendo a cada dia e pronta, quem sabe, para ser, hmmm... deixa prá lá.

Encontrando um pequeno cervo no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Encontrando um pequeno cervo no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Despedida de amigos na trilha ao longo do Bright Angel Canyon, um dos 'afluentes' do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Despedida de amigos na trilha ao longo do Bright Angel Canyon, um dos "afluentes" do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Enfim, corri de volta pela trilha, encontrei a Ana e juntos, voltamos para a barraca. Como bem haviam dito nosso casal amigo de ontem, pelo menos duas noites devem ser passadas lá embaixo. Mas nós tínhamos de voltar. Desarmamos a barraca, empacotamos tudo e partimos para a dura subida. Já era quase uma da tarde e estávamos bem atrasados para a trilha, os últimos a partir no dia de hoje.

Vista do acampamento no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Vista do acampamento no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


O rio Colorado no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

O rio Colorado no fundo do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Nos primeiros dois quilômetros, apenas acompanhamos o rio no seu longo caminho para o mar. Finalmente, quando chegamos no canyon lateral conhecido como Bright Angel, aí começa a subida. Como ontem, primeiro vem a subida do canyon interior, depois atravessamos o platô intermediário para, finalmente, enfrentarmos as temíveis paredes do canyon exterior.

A trilha serpenteia desfiladeiro acima, na subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

A trilha serpenteia desfiladeiro acima, na subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


A bela luz do fim de tarde bate nas paisagens grandiosas do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

A bela luz do fim de tarde bate nas paisagens grandiosas do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


De pouquinho em pouquinho fomos subindo, o caminho de hoje num canyon bem mais fechado que o de ontem. Paisagens bem diferentes, igualmente e diferentemente belas. Hoje, por um bom trecho, seguimos ao lado de um córrego, com cachoeiras e pequenas corredeiras. Passamos também por mais acampamentos e pontos de parada intermediários. Isso é bom, pois sempre nos dá um objetivo mais próximo a ser alcançado.

Metade do caminho na subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Metade do caminho na subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


A dura subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

A dura subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Apesar da saída tardia, o ritmo foi muito bom. Estamos em forma! Fomos subindo pelas encostas do canyon junto com as luzes de um sol que, cada vez mais, se aproximava do horizonte. Cruzamos com pessoas que também desciam atrasadas, elas bem mais longe do seu objetivo do que nós. Ultrapassamos pessoas que saíram bem antes, mas seguiam mais vagarosamente. Um zeloso pai carregava seu filho em uma mochila de crianças, enquanto a mãe vinha com a filha mais velha, perto de dez anos de idade. Incrível que tenham feito esse caminho. O pobre menino reclamava, chorava de frio ou de tédio. Só parava para ver, curioso, aquelas estranhas pessoas que passavam por ele. Mas logo retornou ao choro, que ecoava pelas paredes do canyon e podiam ser ouvidas por quem estava muitas voltas do ziguezague acima da família.

Trecho final da subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Trecho final da subida do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Já quase no alto, trecho de neve da trilha que sobre o Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Já quase no alto, trecho de neve da trilha que sobre o Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos


Já sem a luz do sol, um pouco antes da noite chegar, alcançamos o trecho de neve e gelo. Realmente, para subir, eles não atrapalham tanto. Poderíamos devolver nossas correntes antiderrapantes no supermercado e receber o dinheiro de volta. Tivemos ainda tempo para umas últimas fotos e, finalmente, chegamos ao alto do canyon. Felizes, sãos e salvos. Tudo o que desce, sobe! Outro quilômetro e chegávamos a Fiona, mais uma hora (com uma parada no supermercado!) e estávamos no nosso novo hotel, já na cidade de Cameron, no nosso caminho para o Zion National Park, alguns degraus e entrávamos no nosso quarto, o ponto mais alto do dia de hoje. O jantar foi o resto do macarrão de ontem, igualmente delicioso, e os sonhos, os sonhos foram sobre o Grand Canyon, merecidamente considerado uma das sete maravilhas do mundo natural.

Já quase escuro, chegando ao alto do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Já quase escuro, chegando ao alto do Grand Canyon, no Arizona, nos Estados Unidos

Estados Unidos, Arizona, Grand Canyon, Canyon, Parque, trilha

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Uma surpresa no caminho

Estados Unidos, Georgia, Ruby Falls

A fantástica Ruby Falls, na Georgia - EUA

A fantástica Ruby Falls, na Georgia - EUA


Depois de deixar Atlanta para trás, nosso objetivo de hoje era chegar em Nashville. Mesmo sendo uma segunda-feira, nossa ideia era pegar uma noitada na cidade, a capital mundial da música country. Nashville fica no Tennessee, estado vizinho da Georgia.


Mas, um pouco antes de cruzar a fronteira dos dois estados, outdoors na estrada começaram a chamar nossa atenção. Mostravam uma bela cachoeira na região, chamada Ruby Falls. Por coincidência, era bem a hora de parar para abastecer e eu verifiquei pelo GPS que estávamos a poucos quilômetros dali. É, não custava nada dar uma olhada...

Lago reflete formações de caverna em Ruby Falls, na Georgia - EUA

Lago reflete formações de caverna em Ruby Falls, na Georgia - EUA


Fomos seguindo o GPS, que nos levava montanha acima. Aí, para a nossa surpresa, ao invés de chegar a uma cachoeira, chegamos a uma caverna! Maior estrutura do lado de fora, loja, restaurante e, claro, bilheteria. Entradas caras, by the way! Dezoito dólares! Já estava começando a desistir quando fui verificar a história da tal cachoeira do anúncio e foi só aí que entendi! Tinha uma enorme cachoeira sim, só que era dentro da caverna. Bom, tudo explicado, começamos a achar que valeria a pena, sim! Pagamos e entramos...

Belas formações na caverna de Ruby Falls, na Georgia - EUA

Belas formações na caverna de Ruby Falls, na Georgia - EUA


Aí, junto com um grupo e um guia, aprendemos a história toda. E que história! Há cerca de cem anos, existia uma caverna nesse morro que já era bem popular entre turistas. Na verdade, já era desde a Guerra da Secessão. Só que, nas primeiras décadas do século XX, fizeram uma ferrovia por aqui. A linha passava perto da caverna e uma das consequências do empreendimento foi o fechamento da boca natural da tal caverna.

Algumas formações tem até nome em Ruby Falls, na Georgia - EUA

Algumas formações tem até nome em Ruby Falls, na Georgia - EUA


Um arrojado empresário teve uma ideia. Fazer um outro acesso à antiga caverna, para poder explorá-la comercialmente. Então, já numa parte alta da montanha, começou a cavar um longo poço através do solo de calcário até atingir o teto da caverna. Iria fazer um elevador, para que todas as pessoas pudessem acessar a antiga atração turística. Operários trabalhavam noite e dia no poço, vencendo aos poucos, com muita dinamite, o solo de pedra. Mas, aí, antes de chegar ao teto da caverna, eles acabaram descobrindo outra caverna, bem apertada.

Visitando Ruby Falls, na Georgia - EUA

Visitando Ruby Falls, na Georgia - EUA


O empresário, que também era explorador, não pensou duas vezes. Se meteu, arrastando-se, caverna adentro. Foram seis longas horas se arrastando, até que ele chegou num local onde podia se levantar. Outras seis horas explorando a o túnel à frente e ele descobriu esse verdadeiro milagre da natureza, hoje chamado de Ruby Falls.

Observando formações na caverna de Ruby Falls, na Georgia - EUA

Observando formações na caverna de Ruby Falls, na Georgia - EUA


O nome é homenagem a sua esposa, que tinha esse nome. A natureza conseguiu criar esse enorme vão dentro da montanha, um enorme garrafão com 60 metros de altura, dez de largura e vinte de comprimento. Uma catedral subterrânea! Lá de cima, cai uma cachoeira, a maior do mundo subterrânea explorada comercialmente. É de uma beleza inacreditável!

A caverna de Ruby Falls, na Georgia - EUA

A caverna de Ruby Falls, na Georgia - EUA


Pois bem, o empresário tratou de comprar mais dinamite e abrir caminho até a Ruby Falls. Hoje, depois do elevador, é uma caminhada de pouco mais de 500 metros, onde vamos passando por diversas formações e uma linda paisagem subterrânea. O ápice, é claro, é a cachoeira. Tudo devidamente iluminado, a gente nem leva lanternas. Só se entra com guia em, quando chegamos à Ruby Falls, temos um tempo máximo para ficar lá, admirando e tirando fotos, pois a luz logo vai se apagar.

Visitando Ruby Falls, na Georgia - EUA. Uma cachoeira dentro de uma caverna!

Visitando Ruby Falls, na Georgia - EUA. Uma cachoeira dentro de uma caverna!


Com certeza, seria ainda mais incrível se fosse uma caverna não turística, sem luzes e sem um caminho tão artificial. Mas, mesmo assim, é uma das coisas mais incríveis que vimos nesses últimos tempos. Valeu muito mesmo ter parado lá.

Só completando a história, os trabalhadores continuaram a cavar o poço até a caverna antiga. Mas, diante da beleza da caverna nova, a outra ficou relegada às traças, e o elevador nem chega mais lá embaixo. Quanto ao empresário, que descobriu uma verdadeira mina de ouro, teve o azar de estar em plena época de depressão econômica nos EUA. Não conseguiu pagar os empréstimos para comprar tanta dinamite e acabou quebrando. Mas deixou para a humanidade esse lugar mágico: Ruby Falls.

Visitando Ruby Falls, na Georgia - EUA. Uma cachoeira dentro de uma caverna!

Visitando Ruby Falls, na Georgia - EUA. Uma cachoeira dentro de uma caverna!


E nós, depois de mais essa aventura e com tanat estrada, acabamos chegando em Nashville cansados e não animamos a sair do hotel Amanhã cedo já partimos para o Parque da Mammouth cave, o maior sistema de cavernas do mundo. Nossa experiência com a música country vai ter de esperar...

Estados Unidos, Georgia, Ruby Falls, cachoeira, Caverna, Nashville

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Petrolina - PE

Brasil, Pernambuco, Petrolina

Catedral de Petrolina - PE

Catedral de Petrolina - PE


A viagem de Feira até Juazeiro, no norte da Bahia, fronteira com Pernambuco, transcorreu sem problemas. Atravessamos um mar de sertão durante toda à tarde e uns 50 km antes da cidade cantada em prosa verso por Gonzagão, a noite caiu. Aí, o cuidado se redobrou para não passarmos em cima de algum jegue ou cabra que vivem cruzando as estradas do sertão. Com uma freada ou outra, chegamos incólumes.

O rio São Francisco, com Juazeiro ao fundo, visto do apartamento da Iolanda, em Petrolina - PE

O rio São Francisco, com Juazeiro ao fundo, visto do apartamento da Iolanda, em Petrolina - PE


Mas chegamos na hora errada. A ponte que cruza o São Francisco e liga a Bahia à Pernambuco, Juazeiro à Petrolina, estava engarrafada. Depois de cruzarmos a vazio do sertão durante horas e horas, passamos uma hora para andar alguns poucos quilômetros. A ponte está em reforma e o acesso à ela está muito complicado. As duas cidades estão muito próximas e são de grande porte e esta é a única ligação rodoviária entre elas. O resultado na hora do rush é esse.

O rio São Francisco, com Juazeiro ao fundo, visto do apartamento da Iolanda, em Petrolina - PE

O rio São Francisco, com Juazeiro ao fundo, visto do apartamento da Iolanda, em Petrolina - PE


Em Petrolina, fomos para o apartamento da Iolanda, mãe do Ênio, nosso amigo de Curitiba. O apartamento fica na orla do São Francisco, no décimo andar, e tem uma vista magnífica do rio, da ponte e também de Juazeiro, lá do outro lado. Ela nos recebeu de braços abertos e com um aperitivo e cerveja gelada na varanda. Uma delícia!

Com a Iolanda no Bodódramo, em Petrolina - PE

Com a Iolanda no Bodódramo, em Petrolina - PE


De lá, ainda de noite, seguimos para o "bodódramo", região de restaurantes da cidade que servem a especialidade da região: carne de carneiro. Como nos explicou a Iolanda, o carneiro é o único animal que, quando morre, muda de espécie; vira bode! Até é possível comer carne de bode mesmo por lá, mas o que todos comem é carneiro. Mesmo assim, é o bode que está em todos os lugares, decorando o restaurante. Enfim, a carne de carneiro-bode estava deliciosa!!!

Parreiral da FruttiHall, em Petrolina - PE

Parreiral da FruttiHall, em Petrolina - PE


Com a Iolanda e os últimos cachos de uva da temporada, na fazenda FruttiHall, em Petrolina - PE

Com a Iolanda e os últimos cachos de uva da temporada, na fazenda FruttiHall, em Petrolina - PE


No dia seguinte, fomos visitar a fazenda da família, a FruttiHall. É uma fazenda premiadíssima, de produção de uvas. Por poucos dias perdemos a colheita do final da safra. Uma pena! Mesmo assim, foi super interessante caminhar por entre os parreirais com a Iolanda e ouvir explanações sobre os tipos de uvas, técnicas de enxerto, como tratar as parreiras e como e quando devem ser colhidas as frutas. Além disso, ainda achamos vários cachos retardatários e deu para me entupir de uva. Doce como mel e sem caroços!

Caatinga vista do alto do Serrote do Urubu, próximo à Petrolina - PE

Caatinga vista do alto do Serrote do Urubu, próximo à Petrolina - PE


Depois de tanta uva, fomos até a beirada do Velho Chico, ainda dentro da fazenda. Um rio daquele tamanho verde! É uma beleza! Molhamos os pés, garantia que um dia voltaremos. De lá, já no caminho de casa, passamos no Serrote do Urubu. Uma pequena montanha de pedra que se ergue sobre a caatinga e nos proporciona uma bela vista da própria caatinga e do rio São Francisco. O sol é inclemente e uma caminhada por aqui equivale a três ou quatro na Chapada!

Rio São Francisco visto do alto do Serrote do Urubu, próximo à Petrolina - PE

Rio São Francisco visto do alto do Serrote do Urubu, próximo à Petrolina - PE


Ainda no caminho para casa, passamos por uma verdadeira salada de frutas, o que me fez ficar fã da região! À base de muita irrigação, o solo de Petrolina produz todos os tipos de frutas, quase. Vimos uvas, mamão, manga, abacaxi, acerola, goiaba, coco, cana, melão e muitas outras. Um colírio para os olhos. Tudo por conta das águas do velho Chico!

Observando o pôr-do-sol em Petrolina - PE, no apartamento da Iolanda

Observando o pôr-do-sol em Petrolina - PE, no apartamento da Iolanda


Chegamos em casa à tempo de assistir a um belíssimo pôr-do-sol da varanda do apartamento. Espetacular o céu aqui no sertão. De alguma maneira, ele parece maior do que o normal. Não sei explicar...

Pôr-do-sol no Velho Chico, em Petrolina - PE

Pôr-do-sol no Velho Chico, em Petrolina - PE


Tivemos uma ótima estadia em Petrolina graças à Iolanda que nos recebeu como filhos e nos fez sentir em casa. Além disso, foi nossa guia pelo dia e noite na cidade. E para melhorar mais ainda, ainda saímos de lá com as malas renovadas, todas as roupas limpinhas! Que bom seria se tivéssemos pit-stops como esse uma vez por mês...

Na beira do rio São Francisco, em Petrolina - PE

Na beira do rio São Francisco, em Petrolina - PE

Brasil, Pernambuco, Petrolina, Juazeiro

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O Paso San Francisco

Argentina, Fiambalá, Chile, Copiapo

Até a Fiona ficou impressionada com a beleza da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, uma das mais belas ligações andinas entre o país e a vizinha Argentina

Até a Fiona ficou impressionada com a beleza da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, uma das mais belas ligações andinas entre o país e a vizinha Argentina


Acordamos prontos para, finalmente, cruzarmos o famoso Paso de San Francisco, rumo ao Chile. Há pouco mais de dois anos, exatamente no dia 9 de Agosto de 2011 (veja o post aqui), tentamos essa travessia sobre os Andes, mas só conseguimos chegar até poucos quilômetros depois do posto da aduana argentina, bem antes da fronteira. A estrada ainda estava completamente tomada pela neve, reflexo do inverno que ainda não havia terminado e eu, a Ana e a Fiona tivemos de colocar o rabo entre as pernas e retornar rumo ao vale. A Laguna Verde, o Ojos del Salado, o Parque Nacional Tres Cruces e outras atrações dessa belíssima estrada teriam de esperar. Agora, dois anos, um mês e 23 três dias depois, estávamos prontos para tentar novamente!

Mais de dois anos depois, de volta à estrada do Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile

Mais de dois anos depois, de volta à estrada do Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile


Pronta para a grandiosa estrada do Paso San Francisco, entre Argentina e Chile

Pronta para a grandiosa estrada do Paso San Francisco, entre Argentina e Chile


A palavra “Paso”, em espanhol, quer dizer “passagem” e é comumente usada tanto para passagens fronteiriças como para o ponto em que uma trilha (ou estrada) vence uma cadeia de montanhas e passa a descer novamente. Aqui, quando cruzamos os Andes, esses dois significados se unem, já que passamos da Argentina para o Chile e, ao mesmo tempo, cruzamos as montanhas dos Andes. Essa longa cordilheira praticamente permeia toda a fronteira desses dois países, de sul a norte. São mais de 60 pasos fronteiriços entre Argentina e Chile, boa parte deles nas alturas das montanhas. O mais conhecido deles é o Paso Cristo Redentor (ainda vamos passar por lá!), na estrada que liga Santiago a Mendoza, um dos treze da lista de Pasos mais movimentados que aparece no mapa abaixo.

As principais passagens fronteiriças entre Argentina e Chile, os chamados 'Pasos'. À esquerda, os Pasos na metade norte dos páises, entre eles o mais movimentado , o Paso Cristo Redentor, entre Santiago e Mendoza. À direita, os Pasos da metade sul.

As principais passagens fronteiriças entre Argentina e Chile, os chamados "Pasos". À esquerda, os Pasos na metade norte dos páises, entre eles o mais movimentado , o Paso Cristo Redentor, entre Santiago e Mendoza. À direita, os Pasos da metade sul.


Os Pasos mais ao norte cruzam os Andes em altitudes mais elevadas, enquanto aqueles mais ao sul, como os da região de Bariloche, cruzam através de falhas na cordilheira, não necessitando ascender tanto. Aqui na parte norte, o Paso mais movimentado é o de Jama, que cruzamos da vez passada (veja o post aqui), quando o San Francisco nos fechou as portas. Também é muito belo, mas dizem ser o San Francisco o mais bonito de todos e hoje iríamos conferir isso.



São cerca de 480 km entre a pequena Fiambalá e Copiapó, a primeira cidade no Chile. Saímos dos 1.500 metros de altitude aqui na Argentina e chegamos aos pouco mais de 300 metros da cidade chilena. Parece fácil, mas no meio do caminho temos de vencer os 4.800 metros de altitude do Paso San Francisco, ponto mais alto da estrada. Daqui até a fronteira são duzentos quilômetros de estrada bem asfaltada, mas do lado de lá o asfalto dá lugar ao rípio e é preciso seguir com mias cuidado. É bom lembrar também que não há postos de combustível no caminho. Temos de sair com o tanque cheio!

A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile

A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile


A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile

A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile


Esse primeiro trecho da estrada, pelo menos até o posto da polícia, já conhecíamos bem. É lindíssimo! Deixamos o vale de aparência desértica para trás e para baixo e vamos subindo por entre encostas e montanhas coloridas, todos os tons entre o amarelo e o verde, entre o vermelho e o marrom, entre o laranja e o cinza presentes. Enfim, um verdadeiro arco-íris, ainda mais se adicionarmos o azul do céu e o branco da neve. Um verdadeiro espetáculo para os olhos e mentes.

Encontrando vicunhas ao longo da estrada que leva ao Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile

Encontrando vicunhas ao longo da estrada que leva ao Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile


Encontrando vicunhas ao longo da estrada que leva ao Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile

Encontrando vicunhas ao longo da estrada que leva ao Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile


Quando chegamos perto dos 4 mil metros de altitude, sempre no conforto da nossa Fiona, começamos a observar as vicunhas lá fora, muito bem adaptadas ao vento inclemente e às temperaturas próximas do zero. As vicunhas são selvagens, primas de lhamas e alpacas, que são animais domésticos e dos guanacos, que também são selvagens, mas vivem em menores altitudes. Todos eles da família dos camelídeos, mas bem menores que os camelos e dromedários africanos e asiáticos.

A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile

A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile


Balas de coca peruanas nos ajudam com a altitude do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile

Balas de coca peruanas nos ajudam com a altitude do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile


As vicunhas podem ser adaptadas à altitude, mas nós não somos. Por isso, a Ana providenciou balas de coca, que trazíamos desde nossa passagem pela Bolívia. Valeu a pena guardá-las! Foi quando estávamos saboreando uma delas que chegamos ao nosso conhecido posto de fronteira. Dessa vez, para a nossa alegria, tinha as cancelas abertas. Fizemos nossos papéis, conversamos um pouco com os guardas que se interessaram pela nossa viagem e até fotografamos nosso adesivo deixado ali há 25 meses. Agora sim, podíamos seguir em frente e conhecer terreno desconhecido para nós.

De volta ao Paso San Francisco, entre Argentina e Chile, lá está o adesivo do 1000dias, deixado ali há mais de dois anos!

De volta ao Paso San Francisco, entre Argentina e Chile, lá está o adesivo do 1000dias, deixado ali há mais de dois anos!


Passando pela imigração argentina, a caminho da fronteira com o Chile, no Paso San Francisco

Passando pela imigração argentina, a caminho da fronteira com o Chile, no Paso San Francisco


Vinte quilômetros e outros 700 metros de altitude nos levaram até a fronteira entre os dois países. Enfim, o Paso San Francisco. À nossa frente, uma longa descida até o Oceano Pacífico, pouco mais de 100 km até o posto da polícia fronteiriça chilena e uma paisagem de deixar o queixo cair. Dirigindo no rípio, esgueirando-se entre pedras e o forte vento, chegamos à Laguna Verde, o acidente geográfico mais belo dessa parte do planeta.

Chegando à fronteira entre Argentina e Chile, no Paso San Francisco, a mais de 4.700 metros de altitude

Chegando à fronteira entre Argentina e Chile, no Paso San Francisco, a mais de 4.700 metros de altitude


A mais de 4.700 metros de altitude, no Paso San Francisco, entre Argentina e Chile

A mais de 4.700 metros de altitude, no Paso San Francisco, entre Argentina e Chile


Do lado chileno da fronteira, estranhamente a paisagem muda. Quase não há mais vegetação e a cor do solo fica mais acinzentada, perdendo as tonalidades coloridas do lado argentino. Até por isso, quando vislumbramos pela primeira vez o verde-azulado intenso das águas da lagoa de alta altitude, parece até uma miragem. Mas não é, ela é tão real quanto eu, a Ana e a Fiona. E infinitamente maior! Um colosso de água que não parece pertencer àquele lugar, mas que está lá. O que parecia a lua, de repente, parece ser a paisagem de outro planeta.

A fantástica paisagem da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile

A fantástica paisagem da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile


A fantástica paisagem da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile

A fantástica paisagem da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile


Tão belo e arrebatador é aquele cenário que resolvemos parar por ali mesmo. Tiramos algumas fotos do lado de fora do carro, respiramos aquele ar quase sagrado, mas a ventania e o frio nos empurram de volta para dentro. Agora, no sossego do interior da Fiona, armamos nosso piquenique. Um piquenique com vista para uma imensa tela de cinema. Tão grande como o horizonte. E tão bela como a perfeição.

Piquenique em frente à Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, no nosso caminho para a cidade de Copiapo

Piquenique em frente à Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, no nosso caminho para a cidade de Copiapo


A incrível cor da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile

A incrível cor da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile


Hora de seguir adiante. Muito rípio pela frente. Mas um detour à esquerda nos chama a atenção. É o caminho para um dos refúgios que abrigam alpinistas no seu caminho para a segunda mais alta montanha das Américas, o Ojos del Salado. Com seus 6.893 metros de altitude, ela só fica atrás do Aconcágua, algumas centenas de quilômetros ao sul. Tínhamos de ir lá prestar nossa homenagem a essa montanha sagrada, seguir em frente deixou de ser prioridade...

Até a Fiona ficou impressionada com a beleza da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, uma das mais belas ligações andinas entre o país e a vizinha Argentina

Até a Fiona ficou impressionada com a beleza da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, uma das mais belas ligações andinas entre o país e a vizinha Argentina


Chegando perto da segunda maior montanha das Américas, na fronteira entre Chile e Argentina

Chegando perto da segunda maior montanha das Américas, na fronteira entre Chile e Argentina


Em uma rústica estrada secundária, chegamos ao refúgio. Ao fundo, com o cume escondido pelas nuvens, lá estava a gigantesca montanha, três incríveis quilômetros acima de nós, que já estávamos a quase 4 mil metros de altura! Impressionante! Soberana e amedrontadora. Dirigimos o mais próximo possível dela, até que a neve e gelo nos detiveram. Dali para frente (e para cima!), só caminhando. Não estamos em temporada de escaladas. É preciso esperar o final da primavera e início do verão. Hoje, só poderíamos admirá-la. E bem de longe!

Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado (ao fundo, na foto), na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina

Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado (ao fundo, na foto), na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina


Nossa primeira visão do majestoso Ojos del Salado, a segunda maior montanha das Américas, na fronteira entre Chile e Argentina, região do Paso San Francisco

Nossa primeira visão do majestoso Ojos del Salado, a segunda maior montanha das Américas, na fronteira entre Chile e Argentina, região do Paso San Francisco


Voltamos ao refúgio para explorá-lo. Aí estiveram um irmão e um primo, na temporada passada. Os dois chegaram ao cume da montanha, na verdade um vulcão, o mais alto do mundo. Isso só me fez aumentar a vontade de, eu também, chegar lá encima. Mas o destino não quis que chegássemos aqui na época certa para uma empreitada tão dura como essa. Assim, tive de me contentar com a visita ao refúgio e a visão desse gigante. Mais uma promessa para o futuro...

Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado, na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina

Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado, na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina


Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado, na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina

Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado, na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina


O dia terminava e o bom senso dizia para seguirmos viagem. Uma noite ali no refúgio prometia ser uma “gelada”! Então, de volta para o calor da Fiona e, com ela, para a estrada principal. Uma hora mais tarde e chegávamos ao posto chileno da fronteira. O alívio de chegarmos lá foi substituído pela apreensão quando não achamos viv’alma por ali e as cancelas fechadas. Tínhamos perdido o horário de passagem!

Trilha de aproxima~]ao do Ojos del Salado, na fronteira entre Argentina e Chile

Trilha de aproxima~]ao do Ojos del Salado, na fronteira entre Argentina e Chile


Estrada de rípio no lado chileno do Paso San Francisco, ligação entre o país e a Argentina

Estrada de rípio no lado chileno do Paso San Francisco, ligação entre o país e a Argentina


Após alguns minutos de procura, encontramos alguém já recolhido em sua casa. A fronteira estava realmente fechada e ele nos perguntou aonde dormiríamos. Claro que não havia hotéis por lá, naquele fim de mundo gelado e dormir na Fiona era uma alternativa meio “apertada”. Foi quando ele mesmo nos sugeriu de dormir no prédio da aduana! Muito simpático, nos levou para dentro e nos liberou toda uma sala, o nosso “quarto”! Melhor ainda, nos trouxe um aquecedor elétrico, colchões e cobertores. Naquela situação e naquele lugar, sentimo-nos reis!

A Ana prepara nosso jantar no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo

A Ana prepara nosso jantar no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo


Para completar, tratamos de organizar nosso jantar, uma deliciosa macarronada acompanhada de um legítimo vinho argentino (os chilenos que não nos ouçam!!!). Foi uma maneira um tanto inusitada, mas incrível, de terminar um dia inesquecível: dormindo no prédio da aduana, ao lado do raio X por onde passam as bagagens dos viajantes.

Nosso delicioso jantar no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo

Nosso delicioso jantar no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo


Ficamos absolutamente sem palavras. Apesar do longo post...

Confortavelmente instalado no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo

Confortavelmente instalado no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo

Argentina, Fiambalá, Chile, Copiapo, Bichos, Estrada, Lagoa, Laguna Verde, Montanha, Ojos del Salado, Paso San Francisco

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Passeio nos Canyons

Brasil, Alagoas, Piranhas, Sergipe, Canindé do São Francisco

passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


O primeiro programa do dia foi o famoso passeio de catamarã pelo canyon do São Francisco, acima da represa de Xingó. Mais famoso do que eu pensava. E, consequentemente, concorrido...

Nosso catamarã lotado no passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

Nosso catamarã lotado no passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


Quando estive por aqui há dez anos, fiz esse passeio num pequeno catamarã onde havia umas quinze pessoas, talvez. Hoje, semana entre natal e ano novo, são três saídas de catamarã, cada uma com umas 150 pessoas.

A gente zarpa do lado de Sergipe, município de Canindé do São Francisco. Fomos de carro até o restaurante Carrancas e partimos pouco depois das nove da manhã. Nós e a torcida do Corinthias. Pior estava o catamarã das 11 da manhã, que cruzamos na volta. Aí, vinha com a torcida do Flamengo...

passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


Achamos um canto mais sossegado no segundo andar e fomos curtindo a paisagem. Deixamos o dique e a represa para trás e fomos entrando nos canyons. Água bem verde, convidativa.

Estátua de São Francisco durante passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

Estátua de São Francisco durante passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


Passamos pela estátua de São Francisco, colocada numa reentrância da rocha ao lado do rio e chegamos ao ponto onde se pode nadar, dentro de uma área delimitada, ao lado de altas paredes do rio. Na verdade, é um ponto que foi alagado, não faz parte do curso natural do rio. A água não corre e fica mais seguro para as pessoas nadarem.

Nadando nas águas verdes do rio durante passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

Nadando nas águas verdes do rio durante passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


Para nós, a graça foi ficar brincando de mergulhar, tentar chegar ao fundo, que chega aos 20-25 metros neste ponto. Embaixo, o esqueleto de antigas árvores que não tiveram tempo de se mudar morro acima... Nós levamos máscaras e foi bem divertido. Acho que até uns 20 metros eu consegui chegar. Mas lá embaixo, água mais fria, visibilidade de poucos metros e aquela aparência fantasmagórica esverdeada das árvores mortas não era muito hospitaleira não. Mais agradável era ficar bem patrão no alto do catamarã observando aquela multidão nadando com suas bóias e tomar uma cerveja gelada.

Nosso catamarã no passeio pelo rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

Nosso catamarã no passeio pelo rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


Na volta, ficamos amigos de uma simpática família campineira. O filho quer estudar na Unicamp e os pais gostam muito de viajar também. Mas concordaram que, 1000dias, só sem filhos...

Amizade com família campineira durante passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas

Amizade com família campineira durante passeio de catamarã no rio São Francisco em Canindé do São Francisco, divisa de Sergipe e Alagoas


Fim do passeio, primeira etapa do dia vencida. Agora, o rumo era rio abaixo, em direção à Grota do Angico!

Brasil, Alagoas, Piranhas, Sergipe, Canindé do São Francisco, Rio São Francisco

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Arraial e Porto

Brasil, Bahia, Trancoso, Porto Seguro, Arraial d'Ajuda, Santo André

Igreja no Quadrado de Arraial d'Ajuda - BA

Igreja no Quadrado de Arraial d'Ajuda - BA


O dia começou com um café da manhã bem patrão, na varanda do nosso quarto na simpática Pousada Jequitibá, em Trancoso. Depois, despedida das amigas cariocas e pé na estrada rumo à Arraial.

Foto de despedida das amigas, em Trancoso - BA

Foto de despedida das amigas, em Trancoso - BA


Arraial d'Ajuda, ou simplesmente "Arraial", ou também "Ajuda", tem uma história parecida com a vizinha Trancoso, mas sempre uns anos na frente. Foi fundada um pouco antes, virou point dos descolados um pouco antes, foi tomada pelas pousadas e turistas um pouco antes também. E foi aqui que os grandes resorts chegaram antes também.

Casario antigo em Arraial d'Ajuda - BA

Casario antigo em Arraial d'Ajuda - BA


Como Trancoso, foi construída sobre um platô de onde se tem uma vista estupenda do mar. Também há um "Quadrado", menor que o de Trancoso, onde os carros podem chegar. Na ponta do Quadrado também há uma igreja, mais bonita que a de Trancoso. As lojas não são tão chiques e há uma rua calçada bem famosa, conhecida como "Broadway".

A 'Broadway', em Arraial d'Ajuda - BA

A "Broadway", em Arraial d'Ajuda - BA


Quando estive aqui em 89, já tive a impressão de ter chegado atrasado. Imagine hoje... De qualquer maneira, a vista é magnífica, a visita é agradável, há bem menos ônibus da CVC que em Trancoso e as praias também tem águas quentes e são ladeadas por fileiras de coqueiros.

Arraial d'Ajuda - BA

Arraial d'Ajuda - BA


Depois de caminharmos pela vila e pela praia, tirarmos fotos e comprarmos cangas (já não era sem tempo!), pegamos a balsa para Porto Seguro e seguimos direto para o centro histórico, ou Cidade Alta. Ali, com ou sem ajuda de guias, podemos caminhar entre igrejas e outros prédios com cerca de 300 anos de idade. Todos no meio de praças e ruas gramadas, sempre com a bela vista do mar e da cidade baixa. É uma caminhada super agradável, onde vamos mergulhando na história vendo as construções e lendo os painéis explicativos.

Praça com ruínas do antigo colégio jesuíta no centro histórico de Porto Seguro - BA

Praça com ruínas do antigo colégio jesuíta no centro histórico de Porto Seguro - BA


Em um deles, fico estupefato com a explosão populacional de Porto Seguro. De 5 mil habitantes em 1980, a população aumentou para 60 mil em 2000 e 125 mil em 2010. O motor do crescimento foram as estradas que aqui chegaram trazendo turistas, no início ávidos por história e hoje ávidos por festas. Porto Seguro se especializou em receber pacotes de viagens de estudantes em formatura, ou simplesmente gente que vem atrás de festas. Há uma todos os dias na cidade. Quem vem atrás de sossego, só passa em Porto para pegar a balsa para Ajuda e Trancoso.

Casario no centro histórico de Porto Seguro - BA

Casario no centro histórico de Porto Seguro - BA


A população de Porto em 80 me fez lembrar a longa viagem de carro que meus pais fizeram em 83 (ou 82?), junto com um casal de alemães, desde São Paulo até o Ceará. Tão vendo, eu tive a quem puxar! hehehe. Fico imaginando as estradas, os lugares, os hoteis. Acho que quase não havia pousadas naquela época. Enfim, fico imaginando a Porto Seguro que eles conheceram, literalmente dez vezes menor que a de hoje. Que bom seria se pudéssemos, além de viajar no espaço, viajar no tempo...

Interior de igreja no centro histórico de Porto Seguro - BA

Interior de igreja no centro histórico de Porto Seguro - BA


Bom, depois do passeio na Cidade Alta e de uma rápida passagem na Passarela do Álcool, seguimos para o norte. Em todas as praias há hoteis e grandes barracas. Muita estrutura para festas e para pacoteiros. Por fim, junto com a chuva, e que chuva!, chegamos à Cabrália e, de lá, pegamos a balsa para Santo André. Na balsa, enquanto cruzávamos os canais pelo mangue, o céu desabou sobre nós. A chuva só parou quando chegamos à Pousada Jacumã, de um casal italiano.

Admirando a vista do centro histórico de Porto Seguro - BA

Admirando a vista do centro histórico de Porto Seguro - BA


Santo André vem se desenvolvendo ultimamente, mas ainda bem mais calma que suas vizinhas do sul. As pousadas são super charmosas, um convite ao ócio e à vida saudável. A nossa nos lembrou a Grajagan, na Ilha do Mel. Pé na areia também, bela decoração, ambientes mais que aconchegantes. Já que chovia, aproveitamos o final da tarde e início da noite para uma deliciosa, quase divina degustação de pães e azeites. Nossa... um desbunde! No jantar, massa itaiana e um bom vinho. Bem tratado assim, quem precisa de sol?

Atravessando a balsa entre Arraial d'Ajuda e Porto seguro - BA

Atravessando a balsa entre Arraial d'Ajuda e Porto seguro - BA

Brasil, Bahia, Trancoso, Porto Seguro, Arraial d'Ajuda, Santo André,

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Nossa Casa em Cartagena

Colômbia, Cartagena

Nosso hostal em Cartagena, na Colômbia

Nosso hostal em Cartagena, na Colômbia


Quando estivemos em Cartagena há 18 meses, no nosso caminho para o norte, a cidade estava em pleno período de festas. Uma das consequências foi a dificuldade de achar um hotel perto da cidade amuralhada. Além disso, estávamos de Fiona e precisávamos de algum lugar com garagem. Demorou, mas achamos. Não era dos mais convenientes, mas quebrou nosso galho.

O gato preto descansa sobre um livro no balcão do bar do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

O gato preto descansa sobre um livro no balcão do bar do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


Dessa vez, sem a Fiona e viajando leve, com pouca bagagem, queríamos ficar mais bem localizados e com um preço mais em conta. A boa dica veio do casal de suíços que, ainda no Panamá, nos falou do Hostel que pretendiam ficar por aqui. O Mamallena é um dos hostales mais populares entre os mochileiros que passam por Cartagena, tem seu próprio bar, está no coração de Getsemani (o bairro central e vizinho da cidade amuralhada) e, para nós, tornou-se o ponto de encontro com nossos “sócios de contêiner”.

O lindo cão do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

O lindo cão do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


Assim que chegamos na cidade, viemos para cá e garantimos um quarto duplo com banheiro pelo preço de 45 dólares, uma barganha pela localização. Aqui encontramos os suíços (nossos vizinhos de quarto!) e dezenas de outros viajantes. Foi tão conveniente que decidimos voltar para cá depois da ida à Playa Blanca e aqui ficar até o dia da partida, ao final do resgate da Fiona.

O gatinho do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

O gatinho do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


Mas não foi a conveniência da localização, o quarto com banheiro (que nem era grande coisa mesmo), o reencontro com o Marco e a Tina, o convívio com outros viajantes e o clima descontraído do hostel o que mais gostamos por aqui. Não, o que mais nos cativou foi a fauna do Mamallena. E quando digo “fauna”, quero dizer “fauna” mesmo, e não alguma metáfora para me referir aos estranhos cortes de cabelo ou quantidade de piercings de outros viajantes que aqui estavam.

O papagaio do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

O papagaio do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


No hostel, além do constante movimento de viajantes que chegam e que partem, o movimento é dado pelos mascotes que lá vivem: dois gatos, um cachorro, um papagaio e um coelho. E mais interessante do que eles próprios é a interação entre eles, que vivem todos soltos, os verdadeiros donos do lugar.

O simpático coelho do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

O simpático coelho do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


O contraste entre o grande cachorro completamente branco e o gato adulto, completamente preto, era marcante. Mais ainda quando se recostavam um no outro. Já o gatinho, a cada vez que cruzava com o cão, se ouriçava todo, como em desenho animado. Era o único momento de tensão entre a bicharada toda. O gatinho ficava mais relaxado na hora de estressar o papagaio que, por medida de segurança, ficava mais no alto, pelo menos enquanto o gatinho estivesse por perto, olhos fixos na ave esmeralda. Aliás, o papagaio é jovem e está aprendendo a falar. Turistas ficavam horas com ele, tentando transformá0lo em uma ave poliglota.

O gatinho sempre de olho no papagaio, no Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

O gatinho sempre de olho no papagaio, no Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


A mais interessante das interações era o gatinho perseguindo o coelho, como num jogo de esconde-esconde. Aliás. O coelho foi o animal que mais me surpreendeu. Nunca tinha visto um coelho tão interativo. Acho que crescendo entre gatos e cachorro, ele se acha um deles e age como tal. Quando se cansava do gato, ía descansar no cachorro. Ou então, sem o menor pudor, se aboletava no colo de algum hóspede. Sempre achei coelhos um animal tão sem graça, esse aí me fez mudar os conceitos...

Amizade entre o cão e o coelho no Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

Amizade entre o cão e o coelho no Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia


Enfim, por todos esses dias, o Mamallena foi a nossa casa e a bicharada, os nossos animais de estimação. Certamente, ficaremos com saudades, mas eles, com o fluxo constante de hóspedes por lá, nem darão pela nossa falta. Vida boa, tem esses bichos...

Dois dos mascotes do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

Dois dos mascotes do Hostal Mamallena, em Cartagena, na Colômbia

Colômbia, Cartagena, Bichos

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Atravessando o País

Jamaica, Treasure Beach, Port Antonio

Cruzando a Jamaica de carro

Cruzando a Jamaica de carro


Deixamos Treasure Beach logo cedo, dispostos a atravessar a ilha da Jamaica, saindo da sua costa sudoeste para chegar ao seu litoral nordeste, passando pela capital Kingston no caminho. A primeira parte do trajeto seria por um emaranhado de estradas secundárias, passando por pequenas vilas, trechos montanhosos e asfalto de qualidade duvidosa. Depois de alguns dias, já estou “quase” craque de dirigir na mão inglesa. O “quase” é porque ainda tenho uma certa dificuldade de desviar dos buracos no caminho, acertando “quase” todos, hehehe.

Antes de partir, olhamdo no mapa o longo caminho entre Treasure Beach e Port Antonio, na  Jamaica

Antes de partir, olhamdo no mapa o longo caminho entre Treasure Beach e Port Antonio, na Jamaica


E assim, mapa na mão e algumas paradas para pedir informações e conseguimos chegar na estrada principal, aquela que dá a volta em toda a ilha. Aqui passamos numa Jamaica menos turística, mais autêntica, todos vivendo suas vidas independente de visitantes estrangeiros. Enfim, começávamos a ver uma Jamaica mais “jamaicana”...

Estrada secundária na região de Treasure Beach, no sul da Jamaica

Estrada secundária na região de Treasure Beach, no sul da Jamaica


A tal estrada principal também tem seus buracos e a situação só melhorou mesmo quando chegamos à autopista, uns 40 km antes da capital. Pois é, autopista mesmo, muitos carros, pista dupla, pedágio, mais uma peça para nos ajudar a montar esse quebra-cabeça chamado Jamaica.

Escolares caminham em rua de pequena cidade na Jamaica

Escolares caminham em rua de pequena cidade na Jamaica


Passagem tranquila pela capital Kingston e logo estávamos cruzando as Blue Mountains, rumo ao norte da ilha. Estrada bem estreita, cheia de curvas, daquela que temos de buzinar antes de cada virada. Com paciência (e fome!), chegamos ao litoral onde encontramos novamente uma estrada mais larga. Aí, tapetão até a pacata Port Antonio, local onde nasceu o turismo no país, já há muitas décadas.

Prédio da prefeitura de Port Antonio, no nordeste da Jamaica

Prédio da prefeitura de Port Antonio, no nordeste da Jamaica


Felizmente, o tal turismo logo migrou para Montego Bay, Ocho Rios e Negril, deixando Port Antonio relativamente à salvo dos grandes resorts e da descaracterização que eles trazem. Estamos agora na Portland Parish, considerada a mais bonita do país e, mesmo assim, uma das mais bem preservadas!

A movimentada praça central de Port Antonio, no nordeste da Jamaica

A movimentada praça central de Port Antonio, no nordeste da Jamaica


Aqui chegando, fomos direto nos alimentar, de frente a uma das muitas belas baías da região. Aí sim, de estômagos forrados, fomos procurar algum lugar para ficar. Finalmente, pudemos nos livrar dos hotéis mais caros e achamos uma Guest House super simpática, na península de Titchfield, a mais agradável vizinhança de Port Antonio. Ainda tivemos tempo de, caminhando, conhecer o centro da cidade, sua bela igreja anglicana, a movimentada praça e a marina que recebe veleiros do mundo inteiro. Depois de tantas praias e hotéis, foi uma delícia estarmos novamente em uma cidade normal, com gente normal.

A bela igreja anglicana Port Antonio, no nordeste da Jamaica

A bela igreja anglicana Port Antonio, no nordeste da Jamaica


A ideia, amanhã, é ir logo conhecer a famosa Blue Lagoon e depois, dar uma passada rápida em alguma praia. Afinal, ainda queremos pegar estrada para ir dormir no alto das Blue Mountains, com vista para Kingston!

Céu de fim de tarde sobre o Mercado de Port Antonio, no nordeste da Jamaica

Céu de fim de tarde sobre o Mercado de Port Antonio, no nordeste da Jamaica

Jamaica, Treasure Beach, Port Antonio,

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Cobras, Cachoeiras e Buracos

Venezuela, Sierra de San Luis

A enorme cobra Cazadora que encontramos nas estradas da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

A enorme cobra Cazadora que encontramos nas estradas da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Poucas dezenas de quilômetros ao sul de Coro, a Serra de San Luis se ergue rapidamente, saindo quase do nível do mar para altitudes superiores aos mil metros. Nas suas encostas, a umidade se condensa e o clima muda rapidamente, do seco para o úmido, do calor para o frio. Não é a toa que a vegetação se transforma radicalmente, dos cactos, gramíneas e cerrado lá de baixo para uma floresta verde e densa, típica dos trópicos. Rios correm por todos os lados, formando cachoeiras e quedas d’água, e as estradas têm de serpentear entre cristas e vales, curvas intermináveis sempre seguidas de paisagens de tirar o fôlego, quando as nuvens baixas davam uma chance.

O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela

O belíssimo entardecer na Sierra de San Luis, ao sul de Coro, no noroeste da Venezuela


Nosso hotel em Curimagua, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Nosso hotel em Curimagua, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Para nós, que tínhamos passado a manhã nas dunas dos Médanos de Coro e nas planícies da península de Paraguaná, o contraste foi ainda mais forte. O esforço de chegar aqui ainda ontem foi recompensado com um entardecer inesquecível, mas logo escureceu e tudo o que podíamos “ver” era o clima frio à nossa volta. Dormimos na cidade de Curimagua, em um hotel que deve ter tido seus dias de glória antes da era Chávez, há uns 20 anos, e que agora, assim como boa parte da infraestrutura turística espalhada pelo país, é visivelmente super dimensionado para o número de visitantes atuais. Hotéis, estradas, parques, todos eles parecem pertencer a um país que já existiu, um forte clima de nostalgia e decadência no ar. O resultado disso são preços baratos, infraestrutura meio danificada e envelhecida, um certo charme decadente dos anos 70 e a sensação de que algo tem de mudar...

Painel informativo sobre o Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Painel informativo sobre o Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Chegando ao Haitón de Guarataro, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Chegando ao Haitón de Guarataro, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Bom, de noite, aproveitamos para matar as saudades de um cobertor e, pela manhã, nos regozijamos com o ar de montanha, frio e úmido, nosso hotel cercado por montanhas, vegetação e muitas nuvens, uma fina garoa deixando tudo molhado. Nossa ideia era passar o dia explorando a região e, no final da tarde, voltar para o litoral, para a região do Parque Nacional de Morrocoy. Assim, agenda apertada com o sempre, com sol ou com chuva, não tínhamos tempo a perder!

O enorme buraco natural conhecido como Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

O enorme buraco natural conhecido como Haitón de Guarataro, com mais de 300 metros de profundidade, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Deixamos Curimagua para trás em direção à San Luís, o mais charmoso povoado da serra, justamente aquele que dá nome à região. Bem no meio do caminho, uma parada para observar umas das mais estranhas atrações daqui, um gigantesco buraco no solo, uma espécie de caverna vertical em meio a uma floresta densa. Na verdade, existem diversas formações como essa espalhadas pela Serra de San Luis, conhecidas aqui como “Haitón”, e essa que paramos para conhecer é a maior delas, com pouco mais de 300 metros de profundidade!

Igreja da pequena cidade de san Luis, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Igreja da pequena cidade de san Luis, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


O Haitón de Guarataro está no final de uma pequena trilha na mata e só percebemos o gigantesco buraco quando já estávamos em sua borda. Isso porque, apesar da profundidade, ele é bem estreito, doze metros de diâmetro. Mesmos sendo domingo, éramos os únicos visitantes, o que nos deu tranquilidade de pular a cerca de proteção e chegar mais perto dessa verdadeira imagem de pesadelo, um enorme buraco negro, aparentemente sem fundo, entrando nas entranhas da terra. De tão fundo, não consegui ouvir o barulho de nenhuma das pedras que joguei para baixo, apenas o som suave da água da chuva que escoava buraco adentro. Uma placa informativa nos dá os números exatos dessa caverna vertical, inclusive de algumas galerias horizontais que foram encontradas a mais de cem metros de profundidade. Nossa... quem será que desceu lá embaixo nesse lugar assustador?

Com a Morela e sua filha Rosa, na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Com a Morela e sua filha Rosa, na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Depois da caminhada e do buraco, a fome aumentou ainda mais a vontade de chegarmos à San Luís. O tempo finalmente começou a abrir, tornando mais bela a chegada à pitoresca vila escondida no meio de montanhas e florestas. Fácil chegarmos até a igreja, sua torre alta a primeira coisa que vemos de longe, se erguendo sobre as árvores da floresta, mas nada de restaurantes à vista. Imagino que se estivéssemos nos Estados Unidos, seríamos recebidos num lugar lindo como esse com uma rua cheia de lojinhas, pousadas e restaurantes, turistas caminhando para lá e para cá. Aqui, uma simpática praça, mas bem vazia. Finalmente, encontramos um policial que, simpaticamente, nos ensinou como chegar ao único restaurante que estaria aberto, o Don Pepe.

A simpática Rosa, do restaurante onde comemos na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

A simpática Rosa, do restaurante onde comemos na pequena cidade de San Luis, Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Mas estava fechado. Insisto, bato palmas e, quase desistindo, eis que aparece a simpática Rosa, que logo chama sua mãe Morela. Estavam fechados porque ontem serviram um grupo maior de visitantes, todos venezuelanos, e a comida tinha acabado. Mas se compadeceram de nós e a Morela tratou de arrumar algo, uma simples e deliciosa comida caseira. Era tudo o que queríamos e ainda tivemos a chance de uma longa conversa com mãe e filha. A Morela faz um curso de “chef” em Coro, espírito empreendedor à espera de melhores tempos. A Rosa quer ser médica. Têm saudades do Chávez, que fez muitas coisas boas, como construir casas, de graça, para os mais necessitados. Desconfiam bastante do Maduro e sabem que algo tem de mudar no país. Mas não acreditam que seria com o Capriles...

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Saímos de San Luís alimentados, com duas novas amigas e preocupados com o futuro desse país e desse povo que admiramos cada vez mais. Nosso destino são as Cataratas de Hueque, as mais populares cachoeiras dessa região serrana. Finalmente, pleno domingão, encontramos movimento, várias famílias que vieram fazer seu piquenique e farofa ao lado do rio. Para nós, turistas estrangeiros com acesso ao câmbio paralelo, o preço de entrada beira o ridículo, cerca de 30 centavos para os dois. Lá dentro, ao longo de um mesmo rio, inúmeras cachoeiras e cascatas, água bem fria e trilhas mal conservadas.

Visitando as cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Visitando as cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Tiramos nossas fotos, mas não nos animamos para um mergulho. O céu nublado e o longo caminho que nos esperava não são estimulantes. Melhor seguir em frente e deixar o banho de cachoeira para quando chegarmos à Gran Sabana. Voltamos para a Fiona e iniciamos as horas de viagem que ainda nos esperam, crentes que tínhamos terminado as “atrações” do dia.

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

As belas cataratas de Hueque, na Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Que nada! Alguns minutos na estrada esburacada e vemos algo estranho se movendo no asfalto, bem à nossa frente. É uma cobra! Enorme! Uma “cazadora”, espécie perigosa comum na região. Essa aí, tinha tido o azar de cruzar uma estrada e estava meio perdida entre os carros que passavam. Na verdade, furiosa, pois tinham atropelado a sua calda, coitada. Tentava morder qualquer coisa que se aproximasse, inclusive a Fiona, ao invés de correr logo para o acostamento e para a mata salvadora. Nós só podíamos torcer, além de tirar fotos (claro!), para que ela fizesse isso e não fosse atropelada novamente. Nessa hora, queria ser um daqueles apresentadores do Discovery Channel, que não tem medo desses animais e logo os pegam com as mãos, para poder salvá-la. Mas ela não queria conversa não e eu, desajeitado que sou, só pude chegar a poucos metros de distância. Infelizmente, acho que ela não duraria muito tempo, animal magnífico. Partimos antes de assistir o seu fim.

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela


Agora sim, partimos para Morrocoy. Algumas horas de estrada e muitos assuntos na cabeça, desde nossos medos primitivos de buracos sem fundo e serpentes vorazes até um país com paisagens magníficas e um povo vibrante, mas que parece meio perdido, ideologia e incompetência no caminho de um futuro que tinha (e tem!) tudo para ser promissor.

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Uma enorme cobra Cazadora que encontramos em uma estrada da Sierra de San Luis, região de Coro, no noroeste da Venezuela

Venezuela, Sierra de San Luis, Bichos, cachoeira

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A Tragédia do Mt. Pelée

Martinica, Saint-Pierre

Chegando à Morne Rouge, aos pés do vulcão Soufrière, na Martinica

Chegando à Morne Rouge, aos pés do vulcão Soufrière, na Martinica


Estamos em Abril de 1902. A bela cidade de St. Pierre, a capital de Martinica, é uma das cidades mais importantes dessa parte do mundo. Com pouco mais de 250 anos de história, ela é chamada de “a Paris do Caribe”. Exageros à parte, além da importância política e econômica, a cidade é um polo cultural. Seu pomposo teatro, recém reconstruído depois da destruição causada por um grande furacão no século anterior, atrai companhias de ópera da França e da Itália. Os quase 30 mil habitantes levam uma vida europeia, mas com clima caribenho.

Viajando pela bela Route de La Trace, no norte d Martinica

Viajando pela bela Route de La Trace, no norte d Martinica


Mas tudo está para mudar. A cidade, um movimentado porto, está localizada nos pés da montanha Pelée, que na verdade é um vulcão meio dorminhoco. A bela e tranquila paisagem é retratada em muitos quadros e até nas recentes “photographias". Piqueniques são organizados nas encostas das montanhas, enquanto turistas mais intrépidos sobem até o alto da montanha, onde está o “Étang Sec”, ou lago seco, a grande cavidade que um dia já havia sido uma caldeira de vulcão.

A igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica

A igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica


Mas agora, outra coisa atrai a curiosidade de moradores e turistas. Fumarolas aparecem em vários pontos da montanha. Não é um fenômeno raro, mas a quantidade delas, sim. Mas no dia 23 de Abril, cinzas do vulcão chegam até a cidade. Isso sim era estranho para a maioria das pessoas. Os mais velhos se apressam a dizer: “Foi assim em 1851!”. Alguns poucos até se lembram que, na época, seu avós se lembraram de fenômeno similar, em 1792. “Dura umas semanas e depois passa...” Ninguém parecia se importar que os índios Caribs, que viviam em Martinica há muito mais tempo, conheciam a montanha como “A Montanha de Fogo”.

O interior da igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica

O interior da igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica


As pessoas começam a ficar mais preocupadas dois dias depois, quando uma grande nuvem se ergue sobre a montanha e com a nova chuva de cinzas no dia seguinte. No dia 27, valentes excursionistas chegam ao topo da montanha e voltam com uma notícia alarmante: o tal lago seco agora estava cheio. Pior, uma estranha “torre de pedra” tinha se erguido na ponta do lago e, de lá, vertia uma cachoeira incessante de água fervente, a fonte de água do lago. De um buraco na tal torre, podia-se ouvir um forte barulho de água borbulhando, como se houvesse um enorme caldeirão abaixo da terra.

Mas, de certa forma, a vida seguia seu ritmo normal na cidade. O jovem Cyparis, preso por ferir um amigo numa briga de bêbados, é autorizado a sair da prisão durante o dia, com o compromisso de voltar de noite, para lá dormir. Ele e todos os habitantes de St. Pierre reclamavam do forte cheiro de enxofre que havia tomado conta da cidade.

Estado em que ficou o sino da antiga igreja de St. Pierre, na Martinica, após a trágica erupção de 1902

Estado em que ficou o sino da antiga igreja de St. Pierre, na Martinica, após a trágica erupção de 1902


No dia 30, as pessoas já haviam se acostumado com o barulho de trovoadas que às vezes o vulcão emitia. Mas a notícia de que rios que lá nasciam haviam inundado duas pequenas vilas no interior não passaram despercebidas. Afinal, habitantes dessas vilas começaram a buscar refúgio na capital do país. As explosões foram muito maiores no dia 2 de Maio e a nuvem de fumaça negra tapou o sol por toda a metade norte da ilha. Felizmente, no dia seguinte, o vulcão se acalmou e o vento mudou de direção, limpando os céus sobre St. Pierre e aliviando o forte cheiro sobre a cidade. O jovem Cyparis resolveu se juntar a uma das festas celebrando a melhora da situação e a farra foi até o dia nascer, quando foi se apresentar na prisão. O delegado não gostou! A punição: uma semana de solitária!

Estado em que ficou o sino da antiga igreja de St. Pierre, na Martinica, após a trágica erupção de 1902

Estado em que ficou o sino da antiga igreja de St. Pierre, na Martinica, após a trágica erupção de 1902


No mesmo dia, o 4 de Maio, nova e intensa chuva de cinzas, tão forte que os barcos passaram a temer em navegar pela costa próxima. Justo quando passaram a ser mais exigidos, já que muitos habitantes mais ricos começaram a enviar seus filhos para as cidades do sul, nos barcos de linha. Mas o número de pessoas saindo era menor que o de pessoas entrando. Principalmente quando, no dia seguinte, o Étang Sec se rompeu e suas águas desceram montanha abaixo, se transformando em lama e enterrando uma pequena vila, matando 150 pessoas. Sobreviventes e a população de outras vilas próximas procuravam a segurança da capital. Nesse mesmo dia, um estranho fenômeno: o mar retrocedeu algumas centenas de metros por alguns minutos para, em seguida, voltar com força total e inundar partes da cidade...

Copo derretido pela trágica erupção de 1902, exposto no museu de St. Pierre, na Martinica

Copo derretido pela trágica erupção de 1902, exposto no museu de St. Pierre, na Martinica


No dia 7, os barulhos vindos do vulcão aumentaram. Pior, uma densa nuvem negra começou a sair do alto da montanha. Ficava ainda mais aterrorizante pelas dezenas de descargas elétricas no seu interior, que lhe davam uma coloração alaranjada quando os raios a iluminavam. Mas os jornais traziam duas boas notícias: um vulcão na vizinha ilha de Saint Vincent entrara em erupção, certamente aliviando a pressão na crosta terrestre em toda a região; e o governador geral da Martinica estava chegando à cidade, junto com a sua esposa, para mostrar que ela era realmente segura.

Parafusos derretidos e fundidos pela trágica erupção de 1902, expostos no museu de St. Pierre, na Martinica

Parafusos derretidos e fundidos pela trágica erupção de 1902, expostos no museu de St. Pierre, na Martinica


Mas nem todos estavam convencidos disso. No porto, o Capitão Marina Leboff zarpa com seu barco ainda carregado pela metade, apesar das ameaças da empresa e dos oficiais portuários, Iriam caçar o seu registro! Quem tentava sair por terra era ameaçado de prisão, por tentativa de disseminar o pânico.

Ruínas do antigo teatro de St. Pierre, na Martinica, destruído na erupção de 1902

Ruínas do antigo teatro de St. Pierre, na Martinica, destruído na erupção de 1902


No dia 08, pela manhã, a pequena Anne, de 11 anos, acompanha sua mãe até a igreja, mas antes de lá chegar, sua mãe pede que vá até a casa de uma tia. No caminho, resolve dar uma olhada num enorme buraco, atração turística no alto da cidade. Na mesma hora, Cyparis espera a sua “ração da manhã”, passada pela pequena e única abertura de sua cela escura. A jovem Anne segue até a antrada do poço, sempre de olho na coluna de fumaça de sai do vulcão. Pouco antes de chegar, gritos de dentro do poço lhe chamam a atenção. Ela olha e vê uma “piscina amarelada” no fundo. Pessoas subiam correndo as escadas, mas uma nuvem de vapor que vem de baixo parece engoli-las. Ela já não olha mais. Está em louca disparada ladeira abaixo. Mas um forte estrondo, o maior que já ouviu em sua vida, faz com que olhe para trás novamente. Incrédula, ela vê o Monte Pelée se abrir, e pela rachadura, uma enorme nuvem preta sair em direção à cidade.

St. Pierre, na Martinica, antes de ser destruída pela erupção de 1902 do vulcão Soufrière

St. Pierre, na Martinica, antes de ser destruída pela erupção de 1902 do vulcão Soufrière


Era um fluxo piroclástico. Milhões de toneladas de rochas, cinzas, água e gases aquecidos a mais de 1.000 graus centígrados desciam em corrida desvairada em direção à Paris do Caribe. Com uma velocidade de quase 600 km/h, essa massa fervente demorou menos de um minuto para cobrir os 6 km de distância até St. Pierre. Foi o mesmo tempo que levou a pequena Anne para correr até o mar, saltar em um pequeno barco e remar os poucos metros até uma pequena caverna nas pedras da orla onde costumava bricar com os amigos.

St. Pierre, na Martinica, logo depois de ser destruída pela erupção de 1902 do vulcão Soufrière, quando morreram 30 mil pessoas

St. Pierre, na Martinica, logo depois de ser destruída pela erupção de 1902 do vulcão Soufrière, quando morreram 30 mil pessoas


Em segundos, 30 mil pessoas morreram. Entre elas, o governador e sua esposa, os oficiais do porto e os policiais da prisão, a mãe de Anne e o vigia do teatro. O que não estava enterrado, estava queimado. Uma testemunha que viu tudo de alto mar relatou: “A cidade simplesmente sumiu na frente dos nossos olhos”. Num mundo sem internet ou twitter, as notícias eram desencontradas. Ninguém parecia acreditar no tamanho da tragédia...

Escultura do antigo teatro de St. Pierre, na Martinica. Parecia antever a destruição trágica da cidade...

Escultura do antigo teatro de St. Pierre, na Martinica. Parecia antever a destruição trágica da cidade...


Apenas oito horas mais tarde um barco de guerra conseguiu aportar e pessoas desceram na cidade. O calor ainda era intenso. Poucas horas mais tarde e um pequeno bote com uma jovem menina, toda queimada, mas viva, foi encontrada já em alto mar. Para encontrar Cyparis, o único sobrevivente no centro da cidade, foram necessários quatro dias...

Cyparis, protegido pela cela solitária onde estava preso, foi um dos únicos sobreviventes da trágica erupção vulcânica de 1902, que destruiu St. Pierre, na Martinica

Cyparis, protegido pela cela solitária onde estava preso, foi um dos únicos sobreviventes da trágica erupção vulcânica de 1902, que destruiu St. Pierre, na Martinica


Pois é, foi nessa Pompéia moderna que chegamos hoje. Diretamente para o museu, onde lemos histórias, vimos fotos da cidade antes e depois da tragédia, observamos objetos encontrados posteriormente, como o sino distorcido que antes tremulava orgulhoso na catedral da cidade, um amontado de pregos que derreteram e viraram uma amalgama ou uma taça de vinho retorcida. Dali seguimos para o antigo teatro, do qual só sobraram as colunas. Uma escultura de pedra parece se retorcer em dor, triste coincidência. Ao lado do teatro, a prisão onde estava Cyparis. Alguns meses depois da tragédia, com sua pena perdoada pelo novo Governador, foi contratado por um circo americano para ser exibido pelos palcos e picadeiros como o único sobrevivente da tragédia que abalou o mundo.

Orla de St. Pierre, na Martinica

Orla de St. Pierre, na Martinica


Antes de chegarmos à cidade, vindos pela bonita Route de La Trace, já tínhamos passado na pequena vila de Morne Rouge, destruída pelo mesmo vulcão em Agosto daquele mesmo ano de 1902. Dali pudemos admirar o Mt. Pelée atual, em toda a sua grandeza e indiferença por nós, míseros humanos e reles mortais. Mas foi por pouco tempo, pois logo se escondeu atrás das nuvens. Felizmente, nuvens normais, de vapor de água, e não de nuvens vulcânicas. Na igreja da cidade, um vitral foi, de certa forma, a imagem mais forte do dia: mostra o vulcão em erupção, as pessoas em desespero, algumas se agarrando num padre que segura um crucifixo.

Mosaico bem representativo das erupções do vulcão Soufrière, no interior da igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica, cidade que já foi parcialmente destruída numa erupção

Mosaico bem representativo das erupções do vulcão Soufrière, no interior da igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica, cidade que já foi parcialmente destruída numa erupção


Os padres de St. Pierre morreram incinerados. Mas foi a equipe liderada por um padre que encontrou Cyparis. Queimado, esfomeado, mas vivo.

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