Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
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Fabiane Teixeira (16/01)
Nossa... eu que fiquei com nó na garganta agora. Eu realmente senti falt...
Silvia (15/01)
Oi Rodrigo quero passar os dias de feriado de carnaval na Reserva do Supe...
Vanessa Tavares (15/01)
Que bom! Aguardaremos o retorno de vocês!!! Acompanho as viagens de vcs ...
Kevin (14/01)
Oi Gustavo gostaria de saber se vc indica este lugar ,talvez vou fazer in...
Silvan Jardim Luciano (13/01)
Olá amigos, ja faz parte de minha rotina diária nestes mais de 1000 dia...
Com o nosso guia Carlos no ponto mais alto da América Central, o cume do vulcão Tajumulco, a mais de 4.200 metros de altitude, na Guatemala
Com quase meia hora de atraso, mas ainda antes das cinco da madrugada, o nosso guia chegou ao hotel em Xela. Alguns minutos depois já estávamos todos a bordo a Fiona rumo à fronteira mexicana, perto da qual se localiza o vulcão Tajumulco que, com seus 4.220 metros, é o ponto mais alto da América Central.
Início da caminhada ao cume do vulcão Tajumulco, ponto mais alto da Guatemala e de toda a América Central
Foram necessários apenas poucos minutos de conversa e convivência com o Carlos, nome do nosso guia, para que a má impressão causada pelo atraso sumisse, sendo substituída pela amizade a admiração. Papo engraçadíssimo, conversa inteligente e muita informação, combinação ideal para um guia.
O vulcão Tacaná, na fronteira de Guatemala e México, visto do vulcão Tajumulco, ponto mais alto da Guatemala
Apesar da distância de apenas 75 km, as curvas e os benditos túmulos nos fizeram demorar quase duas horas para chegarmos ao pé da montanha. Lá, a Fiona fez o seu papel e nos levou duzentos metros verticais acima do ponto onde ficam os carros “normais” e, com isso, economizamos quase uma hora de caminhada na ida (e outra meia hora na volta) em estrada poeirenta. A nossa caminhada começava, portanto, dos 3.400 metros.
Aproximando-se do Tajumulco, a mais alta montanha da América Central, na Guatemala
A esta hora o dia já tinha raiado e estava lindo. Na verdade, ainda na estrada ele havia amanhecido nublado, deixando-me um pouco preocupado. Mas o Carlos logo disse: “Vamos estar acima delas, não se preocupe!”. Dito e feito, ali no começo da caminhada a vista era sublime, montanhas e pinheiros para todos os lados, uma névoa nas partes mais baixas do vale fazendo tudo ficar ainda mais encantado. Ao longe a figura do vulcão Tacaná, este sim justo na fronteira entre a Guatemala e o México, a América do Norte logo ali, o continente que nos levará até o Alaska.
A névoa e os pinheiros se combinam em paisagens fantásticas durante o trekking ao cume do Tajumulco, ponto mais alto da América Central, na Guatemala
Mas antes disso, o nosso negócio hoje era chegar no teto de outro continente, a América Central. O cume do Tajumulco parecia bem perto, pelo menos aos nossos olhos. A trilha para se chegar até lá não poderia ser mais agradável, uma das mais gostosas que já fizemos nesses 1000dias. Vamos subindo devagar, cortando campos e florestas de pinheiros, alternado trechos mais planos com outros mais íngremes, quase sempre na sombra, mas com muita vista. Essa é a vantagem da floresta de pinheiros, que é muito mais aberta que as florestas tropicais, permitindo que se veja muito mais longe.
Trilha ao cume do Tajumulco, na Guatemala
O Carlos foi nos mostrando os melhores pontos para fotos, tirando ele mesmo várias delas e, ao mesmo tempo, conversando sobre a Guatemala e sobre a nossa viagem. Quase sem percebermos, já estávamos na parte final da subida, finalmente nas rochas do vulcão. O Tajumulco andou soltando alguma fumacinha nessas últimas centenas de anos, mas nenhuma erupção comprovada, pelo menos na informação da Wikipedia.
Admirando a paisagem montanhosa na subida ao cume do Tajumulco, na Guatemala
Mas não na informação do Carlos, que disse que a cratera do vulcão teria sido criada na última erupção, no final do século XIX. Essa aí ele não viu, só ouviu falar. Mas, em compensação, estava presente ali durante outro fato histórico, a maior nevasca que se tem notícia no cume da montanha. Foi nas vésperas do natal de 2010 e atraiu até pessoas de outros países centro-americanos para lá, todos atrás da neve, algo raríssimo na América Central. Pois é, o carlos com mais dois turistas estava acampado no cume na noite da nevasca e até se emocionou ao contar como foi. Quase um metro de neve em alguns pontos, por quase uma semana fez a alegria de centenas e centenas de pessoas que acudiram à montanha.
Cumprimentando o nosso guia Carlos no ponto mais alto da América Central, o cume do vulcão Tajumulco, a mais de 4.200 metros de altitude, na Guatemala
Bom, a gente também se emocionou, mas foi com o dia maravilhoso que nos foi presenteado e pelas vistas fantásticas que tivemos durante a subida e lá de cima também. O México ali pertinho, o Oceano Pacífico ao longe, as nuvens que subiam para tomar o pico, as árvores escondidas pela névoa, a cratera do vulcão aos nossos pés, o ar puríssimo que respirávamos e toda a América Central abaixo de nós, tudo isso junto foi simplesmente inesquecível. Que maravilhosa maneira de nos despedirmos dessa simpática parte da América que divide o norte do sul!
Caminhando na crista do vulcão Tajumulco, a mais de 4.200 metros de altitude, na Guatemala
Ficamos lá encima curtido a vista por uma meia hora. Depois, demos a volta na cratera e descemos até o fundo dela, um lugar em que até seria possível jogar futebol, se tirassem as pedras do campo. Aliás, que legal seria, jogar futebol numa cratera de vulcão a 4.200 metros de altitude.
Entrevistando o nosso guia Carlos no ponto mais alto da América Central, o cume do vulcão Tajumulco, a mais de 4.200 metros de altitude, na Guatemala
Cratera do vulcão Tajumulco, na Guatemala
Por falar em altitude, não tivemos nenhum problema na subida, mas na descida a Ana teve um pouco de dor de cabeça. Enquanto isso, o Carlos recolheu todo um saco de lixo de sujeira de plásticos deixada lá nas festas de fim de ano. Infelizmente, a mentalidade ainda é porca entre os que frequentam essa belíssima montanha. O Carlos ajudou, mas seriam necessários mais um cem sacos de lixo para tirar todas as pets lá de cima. Que tristeza...
O Carlos carrega saco com lixo coletado na trilha do Tajumulco, na Guatemala
Por fim, um último presente dos céus, quando acabávamos de descer uma forte neblina tomou conta de tudo, mudando a paisagem completamente. Para nós que já tínhamos visto tudo, foi só uma nova maneira de ver aquela floresta mágica, agora com ares assombrados.
Muita neblina na descida do vulcão Tajumulco, na Guatemala
Tajumulco, do fundo do coração, muito obrigado pelo dia que nos deu! A celebração da chegada ao teto da América central e ao fim de mais uma etapa da viagem foi no delicioso Royal Paris, em Quetzaltenango. Infelizmente, sem fotos, mas a comida (francesa, claro!) estava ótima!
O belo visual durante a subida do vulcão Tajumulco, região de Quetzaltenango, na Guatemala
Arquitetura de Puerto Natales, no sul do Chile
Acordamos hoje para nossos últimos 11 quilômetros de trilha no Parque Nacional Torres del Paine, no Chile. Só precisávamos retornar ao acampamento Paine Grande, de onde viemos ontem, que é de onde parte o barco que atravessa o lago Pehoe e nos deixa perto da estrada que atravessa o parque. Ou seja, um caminho que já conhecemos e tudo indicava uma calma manhã.
No último dia (em azul), caminhamos 11km do refúgio Grey para o Paine Grande, atravessamos o lago Pehoe de barco e fomos de van até a hosteria Las Torres, onde estava a Fiona
Depois de 80 kms de trilhas, sono merecido no parque Torres del Paine, no sul do Chile
Pois é, mas não foi bem assim. Para começar, choveu muito durante a noite e guardar uma barraca molhada (do lado de fora) não é fácil. Tinha gente em situação muito pior do que nós, com a barraca e equipamentos encharcados por dentro! Mas esse não era nosso maior problema. O ponto é que o barco que queríamos tomar só tem dois horários por dia, um no final da manhã e o outro no final da tarde. Então, nossa manhã tranquila acabou se tornando uma verdadeira corrida, pois não queríamos esperar até o final do dia. Então, literalmente corremos pela trilha para tentar alcançar o barco da manhã.
Fila para tomar o barco que faz a travessia do lago Pehoe, no parque Torres del Paine, no sul do Chile
Fila para tomar o barco que faz a travessia do lago Pehoe, no parque Torres del Paine, no sul do Chile
Apesar de esbaforidos, chegamos a tempo. A tempo de entrarmos na enorme fila de mochileiros esperando o barco. Aí, a tensão foi a da torcida de cabermos na pequena embarcação. A cabine lotou e eles foram nos empilhando no teto do barco. Ao final, para nossa felicidade e alívio, entramos. Mas quem estava no final da fila não entrou, o que nos fez ter certeza que aquela corrida tinha valido a pena!
Fazendo a travessia do lago Pehoe, no parque Torres del Paine, no sul do Chile
Frio e vento no teto do barco que faz a travessia do lago Pehoe, no parque Torres del Paine, no sul do Chile
Aí, foram uns 30 minutos passando frio no teto do barco, um vento gelado de não dar trégua. Mas chegamos vivos ao outro lado, um pequeno porto perto do Salto Grande que visitamos no nosso primeiro dia no parque. Aí, várias vans nos esperavam, a maioria de agências, mas umas poucas públicas também. Encontramos aquela que fazia a linha até a Hosteria Las Torres e embarcamos mais uma vez. Pelo menos agora estávamos protegidos do vento. Outra meia hora de condução e chegamos. Agora, só faltava mais um quilômetro de corrida para chegar ao local onde tínhamos deixado estacionada a Fiona. Um último esforço recompensado pela visão da nossa fiel companheira. Sem deixar o pique cair, trocamos de roupa e iniciamos nossa viagem rumo ao sul. Destino: Puerto Natales.
Mesmo com o vidro da frente cada vez mais partido, consequência da pedrada que levamos há uns 10 dias na ruta 40, na Argentina, a viagem foi bem tranquila. Foram 150 kms até a cidade de 20 mil habitantes na orla do fiorde Última Esperanza. Esse nome foi dado pelo navegante espanhol Juan Ladrilleros em 1557. Ele buscava desesperadamente a entrada ocidental do Estreito de Magalhães e, após várias tentativas, esse fiorde era sua última esperança. Para sua decepção, o Última Esperanza não era mesmo a passagem, mas apenas mais um dos intrincados fiordes que existem nessa região.
A rachadura no vidro da Fiona só está aumentando dsde a pedrada na ruta 40, saída de Trevelin, na Argentina
Chegando a Puerto Natales, no sul do Chile
Foi preciso esperar outros 300 anos para que os europeus reaparecessem nas águas do fiorde. Dessa vez, era o famoso barco Beagle, capitaneado por Fitz Roy e tendo como um dos cientistas a bordo o inglês Charles Darwin. Poucas décadas mais tarde, em 1878, quem também passou por aqui foi a primeira turista da patagônia, a escritora e feminista inglesa Lady Florence Dixie. E foi só com o séc. XX já começado, em 1911, que a cidade de Puerto Natales foi finalmente inaugurada. Um porto para a nascente indústria de lã de carneiro.
Paisagem plana, típica da patagônia, ao redor de Puerto Natales, no sul do Chile
Chegando a Puerto Natales, no sul do Chile. Nosso recorde de latitude sul só vai aumentando...
A ocupação inicial da região foi por alemães, ingleses e croatas. Só mais tarde vieram os chilenos do norte. As fazendas de criação de ovelhas e a indústria da lã prosperaram por boa parte do século, mas com sua decadência nas últimas décadas, foi o turismo que se tornou a principal força motriz da região. Puerto Natales é a principal base para quem vem de longe explorar o mundialmente famoso parque de Torres del Paine.
Placa de distâncias em Puerto Natales, no sul do Chile, mostra uma misteriosa Baden Baden, no Brasil
A Fiona se abasteceu em um posto Petrobras em Puerto Natales, no sul do Chile
A cidade é muito simpática, ruas largas, arquitetura interessante e sem prédios. Há muitas pousadas e restaurantes para atender os milhares de viajantes que aqui chegam buscando o parque mais ao norte. Uma boa parte deles chega de barco, o famoso ferry que, num percurso de 3 dias, viaja de Puerto Montt até aqui cruzando as belezas dos fiordes chilenos. Dependendo da estação ou do nível da cabine que se queira pagar, o preço dessa viagem varia de 200 a 2 mil dólares e assim que o barco chega a cidade se enche de vida. Para nós que chegamos em um feriado de natal e sem barco por perto, Puerto Natales estava uma tranquilidade só.
Arte nas ruas de Puerto Natales, no sul do Chile
Mas isso não nos impediu de achar um restaurante bem joia para almoçarmos deliciosamente. Almoço de natal em Natales, faz todo o sentido! Restaurante até com internet e conseguimos falar com nossas famílias via Skype. Perfeito! Viva o milagre da internet.
A mão enterrada, em Puerto Natales, no sul do Chile
Escultura de mão enterrada em Puerto Natales, no sul do Chile
Depois do almoço, caminhamos um pouco pelas ruas e orla da cidade. Tudo muito arrumadinho e tranquilo. Todo mundo celebrando em suas casas, vimos mais patos do que pessoas, as aves muito bem adaptadas às aguas geladas do Última Esperanza. Ali na orla também, uma escultura de uma gigantesca mão enterrada no solo, apenas os dedos aparecendo. Bem no estilo daquela que existe em Punta del Este, no Uruguay (onde ainda não estivemos, mas que está nos planos!).
Pequena e gelada praia em Puerto Natales, no sul do Chile
Patos parecem se dar bem com a água gelada da praia em Puerto Natales, no sul do Chile
Por fim, hora de partir. Ainda queremos chegar hoje em Punta Arenas, a grande metrópole aqui do sul, a cidade mais austral de terras continentais em todo o mundo. Na saída da cidade, placas indicavam direção e distância das atrações turísticas da região. Além do Torres del Paine, uma caverna, a Cueva del Milodón. Fica a uns 20 kms daqui, sentido norte. Na verdade, quando estávamos chegando, até vimos a entrada para a caverna, mas não animamos ir até lá, pela fome, pressa e cansaço que estávamos. Só ficamos curiosos. Depois, a internet, novamente a santa internet, nos ensinou do que se tratava...
A orla do fiorde que banha Puerto Natales, no sul do Chile
A rota do fim do mundo, de Puerto Natales a Punta Arenas, no sul do Chile
Em 1895, o alemão Hermann Eberhard explorava as terras que acabava de adquirir no sul do Chile. Foi ele que descobriu uma caverna ampla, com mais de 200 metros de profundidade, 80 metros de frente e 30 metros de altura. Mas a maior surpresa foi o que ele encontrou dentro da caverna: a pele, ossos e outros restos de um gigantesco animal que depois veio a ser identificado como o Milodón, uma preguiça gigante. Ele já era conhecido da ciência naquela época e imaginava-se que estivesse extinto há muito tempo. O problema é que aquela pele ainda cheia de pelos encontrada por Hermann estava muito bem conservada, quase fresca. Parecia que o animal havia morrido ali há muito pouco tempo!
Atrações turísticas na região de Puerto Natales, no sul do Chile. Nós perdemos a Cueva del Milodón...
Apesar de seus dois metros de altura e 200 kg, a Milodón não era uma das maiores espécies de preguiças gigantes
A notícia logo correu pelo mundo, muita especulação sobre a possibilidade de o Milodón ainda sobreviver nos confins perdidos da patagônia. Expedições científicas foram organizadas com o intuito de encontrar algum exemplar ainda vivo. Por muitos meses, jornais como o inglês The Sun relatavam essas expedições e alimentavam o imaginário mundial naquele final de século onde a ciência era cada vez mais importante. Infelizmente, testes feitos na pele encontrada indicaram que ela teria 10 mil anos de idade. A boa conservação devia-se ao clima frio e seco da caverna. O Milodón estava sim, extinto, muito provavelmente por ação da caça dos primeiros paleoíndios a chegar à região.
Estátua em tamanho natural de um Milodón, na entrada da Cueva del Milodón, perto de Puerto Natales, no sul do Chile (foto de Claudio Fierro)
A caverna está aberta à visitação. Aí também foram encontrados restos de antigos cavalos, camelos, onças e até tigres dente-de-sabre. E de humanos também. Aparentemente, os antigos cavalos, bem menores que os atuais, eram sua refeição predileta. Já o Milodón, com 2 metros de altura e 200 kg de peso (e olha que, na família das preguiças gigantes, ele era apenas de porte mediano), que por milhares de anos soube muito bem se defender de predadores graças ao seu tamanho, garras e placas ósseas sob a pele espessa, deveria ser um prato especial, algo assim como um banquete ou ceia de natal. Como disse, ainda não foi dessa vez que o reencontramos vivo, infelizmente. Mas para quem quiser ver uma cópia em tamanho natural, basta ir visitar essa caverna. A gente não foi, mas a internet nos contou a história.
Felizes depois do almoço de natal em restaurante de Puerto Nateles com direito a ligação de Skype para a família no Brasil. Viva o milagre da internet!
Surfistas aproveitam o belo fim de tarde em praia Madero, em San Juan del Sur, na Nicarágua
A Nicarágua, de certa forma, fez parte da minha infância e formação. Ainda com nove anos de idade, começava a assistir com um pouco mais de atenção o Jornal Nacional. Notícias de economia ainda não me interessavam, mas o noticiário internacional, principalmente o de guerra, esse sim já era um ímã para minha imaginação.
Painel em casa na cidade de San Juan del Sur, na Nicarágua
Pois bem, o ano era 1979 e a sangrenta e odiosa ditadura da dinastia Somoza vivia seus extertores. Desde a década de 30 que pai e filhos governavam o pequeno país da América Central com mãos de ferro, saqueando as finanças da nação e deixando seus habitantes na penúria. A guerrilha sandinista, agora com o apoio das correntes de centro cansadas de tentar apear o ditador por vias pacíficas, ameaçava tomar conta do país. O que ainda segurava o tirano era o apoio financeiro americano. Aí, veio o golpe de morte: um jornalista americano da rede de TV ABC foi assassinado à sangue frio, na frente das câmeras, com um tiro na cabeça, desferido por um soldado do regime. A imagem dele se ajoelhando e depois deitando em um posto de controle da Guarda Nacional para, covardemente, levar o tiro fatal, tudo filmado secretamente pelo seu cinegrafista, correu o mundo. No Brasil, a voz grave do Cid Moreira narrou o fato enquanto a imagem era passada e repassada em câmara lenta, para nunca mais sair da memória da jovem criança que assistia o Jornal Nacional. Nos EUA, seu efeito foi muito mais devastador (para o governo Somoza!). A opinião pública passou a odiá-lo e não havia mais quem o defendesse. Poucos meses depois, caía o seu governo, com 40 anos de atraso. Exilou-se no Paraguai de Strossner para, poucos anos depois, ser morto com um tiro de bazuca num atentado feito por agentes sandinistas e organizado pela KGB. Poucas lágrimas foram derrubadas...
Rua de San Juan del Sur, na Nicarágua
Os sandinistas assumiram o poder do país num governo de coalizão, mas a paz não durou muito. Com a saída das correntes de centro da aliança e a chegada ao poder nos EUA dos republicanos de Reagan, obcecados em vencer a Guerra Fria (o que, eventualmente, conseguiram!), uma nova guerrilha passou a operar no país. Durante toda a década de 80, os "Contras", operando desde Honduras e Costa Rica e financiados pelos EUA, combateram o governo sandinista, apoiado por Cuba e URSS. A paz só chegou na década de 90, com o fim da URSS e da Guerra Fria e de eleições que tiraram os sandinistas do poder. Pouco mais de 10 anos mais tarde eles voltaram, agora chavistas e dessa vez por vias democráticas, e daí não sairam mais, depois de reformar a constituição para possibilitar reeleições repetidas.
Igreja decorada para o natal em San Juan del Sur, na Nicarágua
Essa imagem de um país em guerra de certa forma marcou e ainda marca a Nicarágua. Com isso, o turismo se afastou e é nítida essa diferença quando se cruza o país vindo da popular Costa Rica. Mas, para quem gosta de algo mais autêntico e também cheio de belezas, o país é o destino perfeito. Belas praias, vulcões imponentes, povo hospitaleiro, sensação de segurança, preços módicos e menos turistas. Era a América Central que estávamos procurando!
Praia do centro de San Juan del Sur, na Nicarágua
A passagem pela fronteira em Peñas Blancas, na rodovia panamericana, foi bem tranquila. Por enquanto ainda não experimentamos aquele "caos" que dizem ser as fronteiras aqui do centro da América. Mas ainda não podemos cantar vitória, claro! Pela frente, Honduras e El Salvador ainda nos esperam...
Praia Marseille em San Juan del Sur, na Nicarágua
Saímos de lá já no escuro, afinal tínhamos começado o dia fazendo trekking para o Rio Sereno, ainda na Costa Rica (post anterior) e só saímos do Parque Nacional Tenorio depois da uma da tarde. A luz do dia tem acabado antes das 17:30 e isso promete piorar, já que estamos indo mais para o norte e o inverno vem chegando. Enfim, mais uma vez, entramos num país já no escuro, assim como tinha sido na Costa Rica. Esperemos que isso não se torne um padrão! Felizmente, a primeira parada era logo ali, pouco mais de meia hora de estrada.
Praia Madero, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Estou falando da cidade costeira (Oceano Pacífico) de San Juan del Sur. É a mais concorrida região de praias da Nicarágua, principamente por mochileiros e surfistas do mundo todo. Achamos um hotel bem gostoso, fomos passear na praça com sua igreja já decorada para o natal e comemos uma pizza num restaurante italiano.
Nadando na praia Madero, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Hoje pela manhã deu para ver melhor a cidade. Bem pacata, ruas tranquilas e simpáticas, dezenas de opções de hospedagem, algumas absolutamente lotadas de mochileiros. A praia do centro é uma baía de águas calmas repleta de pequenos barcos. Mas as praias mais procuradas ficam mais ao norte, 10 km de estradas de terra até lá. Os mochileiros e surfistas lotam camionetes e taxis para chegar até lá, mas nós temos a nossa amiga Fiona para nos levar.
Passeando na bela praia Madero, em San Juan del Sur, na Nicarágua
As praias de Marsella e Madeira são muito bonitas, grandes formações rochosas ao fundo e faixas de areia boas para caminhar na maré baixa. Já na maré alta, aí sim as ondas aparecem e, com elas, legiões de surfistas, boa parte deles ainda em fase de aprendizagem. Em frente à praia, o arquétipo mais bem acabado de um hostal para surfistas, dezenas de pranchas penduradas em sua varanda e saindo por suas janelas. O hostal é muito concorrido e os que não conseguem vaga ali tem de se resignar em ficar no centro mesmo e repartir um taxi diariamente para lá.
Observando os surfistas no fim de tarde em praia Madero, em San Juan del Sur, na Nicarágua
A gente já ficou bem feliz foi em tomar uma cerveja por lá e admirar o fim de tarde na praia, nós e uma galera de surfistas e houlies. Clima descontraído total, sensação de paz e boa vida pairando pelo ar. Impossível imaginar que esse país já passou por tantas guerras...
Fim de tarde em Praia Madero, em San Juan del Sur, na Nicarágua
Bom, tínhamos experimentado duas das grandes atrações da cidade: suas praias e esse clima de surf town. Faltava a terceira, as suas tartarugas. Uma praia um pouco ao sul de San juan del Sur atrai milhares e milhares de tartarugas na época de desova. Justo agora! É um programa noturno e para lá iremos hoje bem de noite. A desova de tartarugas nos escapou no Brasil, na Guiana Francesa e em alguma ilha caribenha. Mas não nos escapará aqui, na Nicarágua!
A Fiona também vai `praia em em San Juan del Sur, na Nicarágua
Pedalando na zona rural a caminho da praia, na Ilha de Marajó - PA
Reconhecendo a veracidade do jargão, o Brasil é mesmo um "país de dimensões continentais". Vejam só: dentro de um dos vinte e sete estados do Brasil (tudo bem que é um dos maiores) tem uma ilha, pedaço pequeno do Pará, que é quase do tamanho da Suiça! E a Suiça não é um país tão pequeno assim. Dentro dele cabem quatro línguas, metrópoles como Genebra e Lausanne, muitos relógios, chocolates e deliciosos queijos com buraco.
Pedalando ao lado de búfalos na cidade de Soure, na Ilha de Marajó - PA
Pois bem, como eu estava doente ontem e empatei a nossa vida, só tínhamos hoje para conhecer a Suiça Marajoara (que é a nacionalidade de quem mora na ilha). Será que dá para conhecer a Suiça européia em apenas um dia? Bem, aqui é realmente um pouco mais fácil. Boa parte da Ilha de Marajó é composta de pântanos, terrenos alagadiços e mangues. Por isso os búfalos se deram bem por aqui. Apenas a costa leste é "aberta" ao turismo, com exceção de algumas fazendas no interior da ilha. Na costa leste, temos três principais vilas: Joannes, Salvaterra e Soure, a "capital".
Canoa leva nossas bicicletas, na Ilha de Marajó - PA
Joannes é a mais isolada e tranquila. Salvaterra é mais compacta e tem uma bela praia. E Soure é a que tem mais coisas para se ver e fazer, além do seu ar campestre, com avenidas largas repletas de mangueiras, pouco movimento e búfalos pastando nos canteiros. Há três belas praias ao norte da vila, duas delas a pouco mais de 5 km por estrada de terra e a outra a 11 km por estrada de asfalto.
Pedalando na praia de Araruna, na Ilha de Marajó - PA
Dispostos a recuperar o tempo perdido, alugamos duas bicicletas no próprio hotel, o Casarão da Amazônia, e seguimos paras as praias mais próximas, separadas por um igarapé. Foi em uma delas que, 21 anos atrás, eu, o Haroldo e o Marcelo fizemos uma bate-volta, à pé mesmo. A gente tinha vindo na barca da manhã, aportado em Soure (bons tempos!), e caminhamos rapidamente até lá, em tempo de voltar e pegar a barca da tarde, de volta à Belém. Foi uma corrida! O coitado do Marcelo, mais baixinho, não aguentava nosso ritmo de caminhada e tinha de correr, de tempos em tempos. No fim, deu tudo certo. Mas ir e voltar para Marajó, no mesmo dia, foi realmente uma loucura. O problema é que não tínhamos tempo...
Entrando no mar de água doce com uma vara para se proteger das arraias, na Ilha de Marajó - PA
Bem, hoje, de bicicleta, foi mais tranquilo. É bem pitoresco pedalar na zona rural da ilha, cruzar um búfalo aqui, uma manada de búfalos ali. Para quem já os estava vendo nas ruas da cidade, até que fomos nos acostumando. Não demorou muito para chegarmos à praia de Araruna. A ponte que existia para cruzar o igarapé está em ruínas. Mas uma canoa nos deu uma carona para atravessarmos nossas bicicletas. Longa e bela praia deserta. Pedalamos um pouco pela praia, achamos um lugar gostoso e demos um belo mergulho. Estranho mar de água doce, com ondas e tudo! É mais "estranho" ainda do que ver búfalos por aí. Só tem um problema: a praia é conhecida por ter muitas arraias, daquelas que ferroam. Então, temos de entrar com uma vareta e ir cutucando a areia à nossa frente, para afastá-las antes que pisemos em suas cabeças e sejamos ferroados. Pelo sim, pelo não, seguimos as recomendações e, com todo o cuidado, pudemos nadar. E pensar que toda essa água é apenas uma das bocas do rio Amazonas...
Ponte sobre o mangue, que dá acesso à praia de Barra Velha, na Ilha de Marajó - PA
Voltamos para o igarapé, conseguimos outra carona de canoa e seguimos para a praia ao lado, bem mais movimetada, a Barra Velha. Ali, em uma das barracas, ao som de muito tecno-brega, lanchamos e nos refrescamos com uma água de coco e uma cerpa. Realmente, entre os produtos típicos paraenses, preferimos a cerpa do que o tecno-brega...
Cervejinha na praia de Barra Velha, na Ilha de Marajó - PA
Renovados, pedalamos de volta para a cidade com o intuito de seguir para a outra praia, a Pesqueiro. Mas chegando na cidade, fomos atingidos por uma típica tempestade amazônica. Era água que não acabava mais, e nós ilhados embaixo de um toldo. Custou a passar e a gente na maior dúvida se enfrentava os nove quilômetros restantes até a praia ou se voltava para o conforto do hotel. Bem, hotel tem em todo o lugar, e Suíça, ou Marajó, são apenas duas. Então, para frente e avante até a praia.
Muita chuva no meio da tarde em Soure, na Ilha de Marajó - PA
Pedalando nas estradas da Ilha de Marajó - PA
Desta vez no asfalto, mas cruzando com búfalos da mesma maneira, seguimos até a praia, onde já chegamos no fim de tarde. Já estava bem vazia, mas julgando pela estrutura do local, deve receber bastante gente durante o dia. Bela praia, a última da costa. Para cima, só mangue. Tiramos fotos, descansamos, a Ana perdeu sua lente de contato, mais uma cerpa e voltamos para a cidade e para o hotel. Após mais de 30 quilômetros de pedaladas, nossas nádegas já reclamavam.
Manada de búfalos em estrada da Ilha de Marajó - PA
Fomos relaxar e comemorar o dia na piscina que tinha até hidromassagem e depois, uma pizza com muito queijo de búfala para jantar. Depois, cama! Afinal, o dia será longo amanhã. Alvorada às quatro da matina, para pegar o ônibus que nos levará até o ferry, dia passeando em Belém, vôo de madrugada para Macapá. Vamos ver se a gente aguenta...
Celebrando o dia de pedaladas na Ilha de Marajó, na piscina do hotel em Soure - PA
Bico de proa do barco em direção à Abrolhos - BA
Hoje foi dia de chuva. Bastante chuva. Conforme a previsão. Além disso, o ouvido da Ana não melhorou. Passamos o dia na pousada. Rearrumamos a Fiona. Sempre que encerramos uma temporada de mergulhos é tempo de rearrumação da Fiona.
Chegando em Abrolhos - BA
Ficamos aproveitando a internet para botar coisas em dia e planejar os próximos. Há muita coisa para fazer na região, mas a maioria pede dias de sol. Amanhã, a previsão é de mais chuva. Depois melhora. Se rumarmos para o norte agora, muita coisa fica para trás e não poderemos voltar. Se ficarmos aqui esperando, o tempo vai passando. Esse é o nosso dilema.
Pronta para o mergulho noturno em Abrolhos - BA
Início de mergulho noturno em Abrolhos - BA
Por fim, resolvemos avançar um pouco. Até Itamaraju. Fica perto o suficiente de atrações como o Corumbau e o Parque do Monte Pascoal, já significa um avanço rumo ao norte e, se decidirmos voltar para Curumuxatiba, nem é tão fora de mão, só um pouco.
Refrescando-se no mar em Abrolhos - BA
Itamaraju é daquelas cidades maiores que ficam na BR-101 nas quais eu jamais imaginei parar na minha vida. Cidades como Teixera de Freitas, Eunápolis ou Itabuna. São cidades de passagem cujo único significado para mim é que estou chegando perto da praia, de Porto Seguro, de Ilhéus, de Caravelas, etc...
Mergulhando no mar em Abrolhos - BA
Refrescando-se no mar em Abrolhos - BA
Pois bem, paguei minha língua e viemos dormir em Itamaraju. Encontramos uma cidade simpática com um povo amável que quer sempre ajudar e um hotel jóia, bem profissional. Um belo lugar para se pernoitar a caminho de algum lugar mais longe e evitar de se dirigir de noite por essas estradas.
Atobá na ilha de Santa Bárbara em Abrolhos - BA
Atobá na ilha de Santa Bárbara em Abrolhos - BA
O chato é que, de noite, o ouvido da Ana piorou. Ela falou com a Patrícia, sua mãe e médica também e juntas, descobriram que o médico de Caravelas fez o diagnóstico correto mas receitou o remédio errado. Amanhã cedinho, vamos à uma farmácia e tudo vai se resolver!
Veleiro em baía de Abrolhos - BA
O belo e forte luar refletido no mar em Abrolhos - BA
Não podemos controlar o tempo (tarefa de São Pedro), mas posso controlar as fotos que coloco no meu post. Assim, resolvi ilustrar esse com belas fotos ainda não usadas de nossa estadia em Abrolhos. Para amanhã, fotos fresquinhas!
O João fotografando, em Abrolhos - BA
João tirando fotos em Caravelas - BA
Deixando Santa catarina e voltando definitivamente ao Paraná. A última fronteira da expedição 1000dias
Hoje, dia 1º de Abril, dia da Mentira, atravessamos a última fronteira dos 1000dias. Pois é, parece mesmo mentira que está tudo acabando. Depois de 1.400 dias fora de casa, de dezenas de países percorridos de carro, de cruzarmos a América de ponta a ponta, de quase 180 mil km de estradas, caminhos e trilhas, estamos chegando ao ponto de partida. Curitiba é logo ali, a menos de uma hora de carro, quase já dá para ver a cidade, embora ainda vamos passar alguns dias aqui na planície litorânea do estado.
Despedida da tia Walkiria, que nos recebeu tão bem em Joinville, Santa Catarina
Despedida de Santa Catarina, de Joinville, da tia Wal e dos primos Luis Felipe e Vitoria. Rumo ao Paraná e ao fim dos 1000dias
Pois é, chegamos ao estado do Paraná. Essa foi a última fronteira a que me referi, Santa Catarina ficando para trás. Não é uma fronteira internacional, claro! Desse tipo, a última que cruzamos foi lá no Chuí, vindos do Uruguai e entrando no Rio Grande do Sul no dia 24 de Fevereiro, há exatos 36 dias (ver post aqui). Também foi um momento emocionante. De volta ao país, a última das mais de 120 fronteiras internacionais que passamos durante a viagem, 59 delas a bordo da nossa Fiona.
Nossa última fronteira nesses 1000dias, na viagem entre Joinville (SC) e Guaratuba (PR)
Voltando ao Paraná nos últimos dias de nossa volta pelas Américas
Mas hoje, dia da mentira, foi a vez de mais uma fronteira estadual. Depois de tantas fronteiras internacionais, uma fronteira estadual não parece grande coisa. Pode ser... Mas para um país com dimensões continentais como o Brasil, viagens interestaduais também têm o seu valor. Nossos estados são maiores do que a maioria dos outros países americanos que visitamos, principalmente as ilhas caribenhas e as pequenas nações da América Central. Estados como o Pará e a Amazonas só são menores, na nossa América do Sul, que a Argentina.
Divisa de estado entre Pernambuco e Alagoas, chegando em Maragogi
Divisa entre Pernambuco e Ceará, na Chapada do Araripe
Chegamos longe! Fronteira de Pernambuco e Piauí
Quando eu era pequeno e viajava de carro com a minha família, saíamos lá de Belo Horizonte e era preciso quase cinco longas horas de estrada para chegarmos ao estado vizinho, São Paulo, Rio ou Espírito Santo. Era uma verdadeira jornada! Passar por mais de dois estados na mesma viagem, então, era um feito! É claro que estou falando de viagens de carro e não de avião. Lá de cima, fica tudo pequenino mesmo, voamos sobre as fronteiras e nem as percebemos. O choque está só no aeroporto de chegada. Mas de carro, a cada vez que nos aproximamos de alguma fronteira e lá está a placa anunciando um novo estado, pelo menos para mim, sempre foi uma emoção.
Fronteira Minas-São Paulo em estrada de terra
Chegamos na divisa Bahia-Sergipe!
rio Guaju, na fronteira entre Rio Grande do Norte e Paraíba
A diferença com as fronteiras internacionais é que não há papelada e burocracia no caminho. Apenas uma placa para anunciar a novidade. É muito mais ágil. Além disso, claro, é a mesma língua falada dos dois lados da linha imaginária. Por isso, não resta dúvida, cruzar uma fronteira internacional de carro é muito mais marcante. Mas as fronteiras estaduais também são um importante ponto de referência e nos indicam, deixam claro, o quanto já andamos e o quanto estamos longe de casa.
Entrando no estado do Acre
Chegando á fronteira de Rondônia e Mato Grosso, o penúltimo estado que ainda não havíamos visitado
Depois de nos despedir de nossos queridos anfitriões em Joinville, a tia Wal e seus filhos Luís Felipe e Vitória, nós pegamos logo a estrada para o Paraná. Mas ao invés de seguirmos pela rodovia principal, a BR-376 que subiria e Serra do Mar e nos levaria diretamente a Curitiba, optamos pela pequena estrada de Garuva, que segue pelo litoral e nos leva para Guaratuba, o mais movimentado balneário paranaense. Menos de meia hora de strada e chegamos na temida fronteira, essa tal que está merecendo um post especial. Mas o post não é só para ela não. É também para as outras 74 fronteiras estaduais que passamos aqui no Brasil, lá do Acre e do Amapá até o Rio Grande, do Mato Grosso à Paraíba. Apesar de serem “apenas” 27 estados, nessas nossas idas e vindas, “vais e voltas”, ziguezague país afora, o número de fronteiras acabou sendo bem maior.
Chegando ao Maranhão!
Placa receptiva na fronteira do Espírito Santo
Com essa derradeira de hoje, foram 75, das quais, 71 com a Fiona. Quais foram as outras quatro? Bom, para quem não se lembra, logo no início da nossa viagem, na nossa primeira fronteira estadual dos 1000dias, nós nadamos entre o Paraná e São Paulo, mais especificamente entre a Barra do Ararapira e a Ilha do Cardoso, ida e volta (post aqui). Foi em 30 de Março de 2010, 4 anos atrás! A outra vez foi caminhando, entre o Espírito Santo e a Bahia, lá em Itaúnas, indo e voltando para Riacho Doce (post aqui). As outras todas foram com a Fiona mesmo, seja numa estrada, seja numa balsa.
Fronteira entre Maranhão e Pará. Estamos longe!
Chegando ao Rio Grande do Sul, nosso 23o estado nesta viagem
Chegando ao Mato Grosso do Sul, o último estado que nos faltava conhecer nesses 1000dias pela América e Brasil
As fotos desse post, com exceção das primeiras, são a nossa lembrança desses momentos especiais explorando todos os cantos e confins do nosso gigantesco e maravilhoso país. Rever essas fotos e ler essas placas nos faz viajar e nos emocionar novamente. Ainda mais agora que estamos tão pertos do fim...
Sorria, você está na Bahia! (fronteira de Itaúnas - ES com Bahia)
Linda paisagem montanhosa na região da Pedra da Mina em Passa Quatro - MG
Ontem de noite, no caminho para Passa Quatro, paramos em um posto de Itamonte. Curioso sobre a Fiona, o frentista puxou papo. Conversa vem, conversa vai, disse a ele sobre os planos de subir a Pedra da Mina ainda hoje. Ele recomendou muito que passássemos na Hárpia, uma loja em Passa Quatro. Mais do que isso, ele ligou para lá e deixou que eu falasse com o Alessandro, um dos proprietários da loja. Combinamos de nos encontrar ainda ontem, na própria loja.
Aqui chegando, a primeira surpresa com a cidade: é uma loja super bem equipada de equipamentos para ciclistas e alpinistas. Digna de cidade grande! E Passa Quatro deve ter, no máximo, umas 10 mil pessoas vivendo em sua área urbana. O Alessandro também é guia das montanhas aqui perto. Como eu e a Ana fizemos belas compras na sua loja e ele estava com dificuldade de encontrar um guia para nós àquela hora da noite, resolveu ele mesmo nos guiar.
Achado o guia, passamos à etapa seguinte: encontrar uma pousada. O Rodolfo, também da Hárpia nos recomendou o São Rafael. Segunda boa surpresa com a cidade: que bela pousada! Ótima estrutura e conforto e um atendimento perfeito dos donos, o César e a Suzana. Rapidamente, nos sentimos em casa.
Agora, faltava jantar. A Suzana nos encaminhou para a pizzaria Seis e Meia. Terceira boa surpresa com a cidade: pizza da melhor qualidade!
Bom, fomos dormir de barriga cheia, acordamos e tivemos um delicioso café da manhã. Encontramos o Alessandro, fizemos compras de mantimentos e seguimos para o início da trilha para a Pedra da Mina, a 15 km da cidade (12 km de terra),já a 1.550 m de altitude.
Placa na entrada da trilha da Pedra da Mina em Passa Quatro - MG
Mochilas carregadas, botas novas, começamos animados. A primeira parte da trilha é quase plana, sempre sob a sombra da mata. Chegamos a um rio de águas cristalinas e geladas (prá variar...). O banho ficou para a volta. A partir daí a trilha começa a subir e uma hora mais tarde chegamos no último ponto de água. Abastecemos as garrafas, 3 litros por pessoa, incluindo a água para cozinhar de noite. A partir daí, só subida braba, uma pirambeira atrás da outra. Muita pedra e mato.
Pit-stop na subida da Pedra da Mina em Passa Quatro - MG
Logo aparecem as bolhas. As minhas, controlo com band-aids. As da Ana, um horror. A subida fica cada vez mais pesada. tiramos peso damochila da Ana. Devagar, vamos seguindo. Por fim, quase oito horas após começarmos a andar, chegamos ao topo da Pedra da Mina. Foram 1.250 metros de ascensão vertical ao longo de pouco mais de 12 km de trilha bem dura para atingir o ponto mais alto da serra da Mantiqueira, a 2.796 metros. Engraçado que até pouco tempo atrás não se sabia a altura correta da Pedra da Mina. Considerava-se Agulhas Negras a maior montanha da região. Ledo engano, corrigido na era dos GPSs e satélites.
No alto da Pedra da Mina em Passa Quatro - MG, a 2.800 m de altitude
Chegamos bem a tempo de armarmos nossas barracas e assistirmos a um belíssimo pôr-do-sol. Depois, a Ana preparou o prato que é sua especialidade: macarrão ao molho de gorgonzola. Só que aqui ela acrescentou um ingrediente a mais: pedrinhas. he he he. Ficou uma delícia. Tão bom que atraiu os únicos outros mamíferos que estavam naquelas alturas: camundongos! Do que será e como vivem esses bichinhos por lá? Essa noite, por exemplo, que nem teve vento,fez zero graus! Confesso que fiquei surpreso e admirado!
Pôr-do-sol no alto da Pedra da Mina em Passa Quatro - MG
Bom, como disse, mesmo sem vento, a noite estava gélida. A lua estava quase cheia. A vista era deslumbrante! Pode-se ver dezenas de cidades lá de cima. De um lado, o sul de Minas. Do outro, o Vale do Paraíba, a mais de 2 mil metros verticais abaixo de nós. As várias cidades através do Vale parecem uma avenida, visto lá de cima. Naquelemomento éramos, muito provavelmente,os brasileiros mais altos dentro do país!
Nossa barraca armada durante o pôr-do-sol no alto da Pedra da Mina em Passa Quatro - MG
Armados, ou vestidos com várias camadas de roupas, ficamos lá curtindo a noite clara e gelada. Depois, nos recolhemos para o quentinho de nossos sleepings e barracas. Ainda tínhamos metade da caminhada pela frente!
Saborosa degustação de vinho tinto no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Como vocês já devem ter notado pelas fotos desse blog, eu e a Ana gostamos de tomar um bom vinho. Aliás, quem não gosta? Brasileiros que somos, entendemos mais dos vinhos chilenos e argentinos, nossos vizinhos aí na América do Sul. Mas o mundo dos vinhos é muito maior do que isso e essa é uma das belas surpresas que temos tido nesses 1000dias de viagem pelo continente. O mundo inteiro está se sofisticando nesse setor e hoje achamos bons vinhos em países que, antes, nem uva tinham. Além do Brasil, cujos vinhos mais e mais se aproximam em qualidade dos nossos vizinhos do cone sul, encontramos excelentes vinhos em países como a Bolívia, Peru e México.
Nessa época do ano, encontramos abóboras em várias lojas de estrada (Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá)
Outros lugares para se refestelar nessa deliciosa bebida são os países que foram (ou são!) parte da França. A produção não é local, mas os vinhos vem direto da antiga metrópole, sempre com preços bem razoáveis. É o casa de Guadaloupe e Martinica, no Caribe, e até da Guiana Francesa, na América do Sul. Sem esquecer, claro, da região de Quebec, aqui no Canadá. Depois de passar por todos esses lugares, até começamos a entender um pouco mais dos vinhos franceses, também.
Maçãs! Além das uvas, outras frutas também são cultivadas no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Outro país de referência nesses setor são os Estados Unidos, principalmente na região conhecida como Napa Valley, na California. Ainda não passamos por lá, mas ela está certamente no nosso roteiro! E mesmo sem termos chegado lá ainda, os vinhos da região já chegaram às nossas mesas! Afinal, já viajamos por alguns meses pelo país e sempre procuramos a bebida nacional, quando bebemos vinho.
As pitorescas paisagens dos vinhedos do Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
E assim foi no Canadá! Procuramos o bom vinho nacional, perguntando à garçons, maitres e sommelies, nas ocasiões especiais em que uma boa garrafa de vinho de faz necessária. Por exemplo, no meu aniversário! Em todas essas vezes, o vinho sugerido e escolhido vinha da mesma região produtora, o Okanagan Valley. Nossa curiosidade foi se atiçando e, depois da segunda vez, fomos descobrir aonde era esse vale dos vinhos canadenses. Para a nossa surpresa e felicidade, descobrimos que era aqui na Columbia Britânica, a meio caminho de Alberta, bem próximo da fronteira com os Estados Unidos. Não demorou muito para decidirmos que a gente poderia colocar o tal vale no nosso roteiro, a nossa especial despedida desse lindo e gigantesco país, o Canadá. Apenas quatro horas de viagem de Vancouver e, melhor ainda, passando por Chilliwack, onde moram nossos novos amigos. Juntamos o útil ao agradável ao saboroso e aqui estamos, no Okanagan Valley!
Os parreirais estão carregados nessa época do ano no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Visitando os vinhedos do Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá. Já até compramos um vinho!
Pelo seu clima ameno, principalmente para padrões canadenses, a região já faz sucesso há muito tempo entre aqueles que procuram lugares para suas férias de verão. O vale é repleto de lagos com extensas praias, um paraíso para esportes náuticos ou simplesmente para um bom mergulho. No verão, claro! No resto do ano, são bons para fotografias. Pois bem, de tanto passar as férias por aqui, muita gente acabou se mudando em definitivo, principalmente os aposentados. Que melhor lugar haveria para descansar no final da vida? Tranquilo, clima ameno e o constante cheiro de pomares.
Admirando a bela praia lacustre em Petincton, no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
A praia de Petincton, no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Pois é, o mesmo clima que atrai as pessoas também é o ideal para o cultivo de frutas. Maçãs, peras, pêssegos, entre outros, todas elas vemos nas plantações, tornando ainda mais idílica a paisagem. Mas foi outra fruta que começou a ganhar destaque há poucas décadas: a uva!
Bucólico passeio de bicicletas pelos vinhedos do Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
O Okanagan Valley se tornou a meca dos enólogos canadenses. São dezenas e dezenas de vinícolas ao longo das encostas e terraços que cercam os lagos do vale. A região é chamada de “o Napa Valley do Canadá”. Como disse, ainda não conhecemos o original, mas se ele for parecido com esse aqui, vamos gostar muito, hehehe!
São dezenas e dezenas de vinículas al longo do Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Nós chegamos meio fora de estação, o que traz vantagens e desvantagens. A vantagem é que não há multidões. A desvantagem é que algumas vinícolas não estão recebendo visitantes, fechadas para a estação. Quando chegamos ontem, já no final da tarde, tivemos a chance de admirar uma belíssima paisagem, os parreirais ao redor do lago e as montanhas de vegetação baixa, pois o clima seco não é propício para matas. Mas tivemos de procurar bastante até achar uma vinícola aberta, a maioria delas fechando entre as quatro e cinco da tarde. Mas achamos! Experimentamos vinhos brancos e tintos e fomos “compelidos” a comprar uma garrafa, hehehe.
As pitorescas paisagens dos vinhedos do Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
A noite passamos em Petincton, uma das melhores bases para se explorar o longo vale de mais de 150 km de extensão. Primeiro, porque está exatamente na orla do Okanagan Lake, o lago que dá nome a todo o vale. Em frente ao nosso hotel, uma longa e simpática praia de areia. Só faltou tempo (e um pouco de coragem!) para darmos ao menos um mergulho. Também, nós viemos para cá para beber, e não para nadar, hehehe! Segundo, porque já é uma cidade um pouco maior e com mais estrutura. De noite, achamos um magnífico restaurante italiano, onde pudemos comemorar o aniversário de um familiar próximo com um bom vinho e um bom prato. E, por último, porque daqui sai uma pequena estrada em direção à vila de Naramata. São cerca de 15 quilômetros cercados de parreirais bucólicos e algumas das melhoras e mais charmosas vinícolas do vale, afastadas do movimento da estrada principal que atravessa o vale.
Pronto e ansioso para mais uma degustação de vinhos no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Degustação de vinhos em vinícula do Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Foi nessa pequena estrada que passamos memoráveis momentos hoje, nossos últimos aqui no Canadá. Um verdadeiro deleite para os sentidos da visão, olfato e paladar! Para quem tem mais tempo, o ideal é fazer a trilha de bicicleta, como vimos alguns afortunados fazendo. De vinícola em vinícola, sempre “abastecendo” o espírito para ter forças e ganas para seguir até a próxima. Deve ser uma delícia! Nós fizemos de Fiona mesmo, tirando fotos admirando a paisagem e escolhendo uma das vinícolas para testar seus vinhos. Foi muito joia!
Degustação de vinho branco no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Daqui seguimos para o sul, para os Estados Unidos que estavam logo ali, a cerca de uma hora de viagem. Nossa viagem chega a uma nova e triste fase. Estamos definitivamente deixando os países para trás. Antes, enquanto subíamos o continente, sempre sabíamos que, na volta, passaríamos outra vez por aquele país. Agora não, a despedida é definitiva, pelo menos nesses 1000dias. E o Canadá foi o primeiro a ficar para trás. Vai deixar muitas saudades. Mas também levamos muitas memórias. Memórias, experiências, fotografias, amigos, uma garrafa de vinho e dois potes de geleia, presente do Len e da Irmi que vamos saborear aos poucos ao longo dos próximos dias. Enfim, o Canadá fica para trás, mas trazemos um pedaço dele conosco! Agora, é hora de mudar o canal interno da nossa cabeça para os Estados Unidos!
Degustação de vinho tinto no Okanagan Valley, no sul da British Columbia, no Canadá
Felizes da vida com o dia de sol e a beleza da paisagem a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
O dia hoje realmente estava lindo. Céu azul e sol radiante, o que aqui na Geórgia do Sul significa algo próximo dos 10 graus. Quando não está ventando, claro! Depois da maravilhosa manhã remando e caminhando pela pitoresca Ocean Harbour, era hora de voltarmos ao Sea Spirit e navegarmos um pouco mais adiante nesse nosso cruzeiro pela costa norte da ilha. Ainda tínhamos o programa da tarde, um desembarque em St Andrews Bay, local da maior colônia do mundo de pinguins rei.
Passageiros a caminho do Sea Spirit em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Voltando para o Sea Spirit após passar a manhã em Ocean Harbour, na Geórgia do Sul
Então, que assim seja. Todos de volta ao nosso barco cruzando uma última vez as águas calmas de Ocean Harbour a bordo dos velozes zodiacs. Quase todos na tradicional jaqueta amarela e o pequeno grupo dos “caiaquistas” na roupa fashion a lá Top Gun. Depois, chegando no Sea Spirit, nada de distinção: todos limpando muito bem as botas de borracha na pequena piscina de água tratada que mata 98% das bactérias. Depois, direto para nossas cabines para trocar de roupa e ficarmos prontos para o almoço, já em tempo de ser servido.
O Sea Spirit em St Andrews Bay, na Geórgia do Sul. Aí se vê bem o deck onde abordamos os zodiacs (1), o deck principal onde está o nosso quarto e os zodiacs são guardados(2), o deck da sala de estar e do bar(3) e o deck da piscina (4)
Em dia de céu aberto a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul, almoço no deck externo do Sea Spirit
Com o céu azul que tínhamos hoje, muita gente optou por almoçar ao ar livre, lá no último andar, onde também fica a piscina. Assim, comemos e ao mesmo tempo, admiramos a paisagem exuberante da ilha, enquanto navegamos para St Andrews. Essa será nossa penúltima chance de desembarque aqui na Geórgia do Sul. Amanhã pela manhã teremos mais uma oportunidade, inclusive com nova chance para caiaque, se as condições do mar permitirem. Depois, de tarde, vamos navegar pelo mais profundo fiorde da Geórgia do Sul, mas sem desembarques. Vai ser apenas para apreciarmos o visual da paisagem, com dezenas de geleiras que desembocam no tal fiorde. Depois, marcha a ré até mar aberto novamente e aí, direto para o sul, rumo a Antártida.
Nosso roteiro e pontos de parada na Geórgia do Sul
As maiores montanhas da Geórgia do Sul, vistas do Sea Spirit a caminho de St Andrews Bay
Obervando a paisagem grandiosa a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Temos então de aproveitar ao máximo o tempo que nos resta nessa ilha incrível. E essa navegação entre Ocean Harbour e St Andrews foi ótima para isso. Pudemos ver as maiores montanhas da Geórgia do Sul em todo o seu esplendor, aproveitando o dia limpo. Oportunidade imperdível para fotos também. Principalmente por que o mar estava calmo e sem ondas, um verdadeiro “mar de almirante”.
A bordo do Sea Spirit, com muito sol e uma paisagem magnífica a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Felizes da vida com o dia de sol e a beleza da paisagem a caminho de St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Depois, um drinque com nosso grande amigo Gunar, nosso companheiro brasileiro no navio e uma verdadeira inspiração para nossas viagens, já que ele sempre nos contar de todos os pedaços do mundo que ele já conhece.
Junto com o brasileiro Gunar, na sala de estar do Sea Spirit. AO fundo, a biblioteca do navio (em St Andrews Bay, na Geórgia do Sul)
A enorme geleira em St Andrews Bay, na Geórgia do Sul
Por fim, chegamos à famosa St. Andrews Bay. Aqui de longe, já dá para ver que há açgo de “estranho” na longa praia. Algo parecido com ver Copacabana num domingo de sol bem de longe. A gente sabe que a praia está cheia, mas não dá para ver bem do quê. Mas as semelhanças para aí, na praia. Por que, atrás da praia, nada de prédios ou morros verdejantes. Montanhas, há sim, mas brancas e muito mais altas. E também uma enorme geleira, a Ross Glacier. Enorme hoje, mas menor do que ontem. Ela é mais um exemplo de geleiras que estão retrocedendo aqui na Geórgia do Sul. Enfim, é para lá que vamos em seguida. Nossa última chance de ver pinguins rei. E algo me diz que vai dar para matar a vontade...
St Andrews Bay, na Geórgia do Sul, local da maior colônia de pinguins rei do mundo
Celebrando a última noite do ano com um vinho e jantar no hotel de Pico Truncado, no sul da Argentina
Como disse no final do último post, estávamos até com vontade de dormir no próprio Parque Nacional Bosques Petrificados, mas isso não é permitido. A alternativa mais próxima era um camping a 20 km dali, já na nossa direção de volta ao asfalto da ruta 3. Imaginamos que seria uma ótima ideia para nosso último réveillon dos 1000dias, passarmos a noite em um lugar no coração da patagônia, longe da civilização, mas bem perto do céu. Nós carregávamos conosco uma bela garrafa de vinho, comprada ainda pela manhã lá em Rio Gallegos com o intuito de celebrar a passagem do ano, mas não tínhamos comida. Umas poucas bolachas, talvez, mas isso não aplacaria nossa fome. Nossa esperança é que houvesse algo para se comprar no camping.
A chuva ameaça cair no deserto na área do Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
O camping era ainda mais desestruturado do que havíamos imaginado. O simpático senhor dono da propriedade nos recebeu muito bem, mas não tinha nenhuma comida para vender. Apenas mais um casal estava por lá, gringos e com pouca vontade de socializar. Nós procuramos um lugar para colocar nossa barraca, já tentando imaginar alguma maneira de driblar a fome. Na verdade, o maior problema era outro, um vento forte e constante, cada vez mais frio com o sol se aproximando do horizonte. Nós não conseguimos encontrar nenhum lugar mais protegido e começamos a nos questionar se era mesmo aquilo que queríamos. Ao final, desistimos de dormir por ali e decidimos seguir viagem, encontrar um lugar entre quatro paredes que nos protegesse do vento implacável.
Seguimos de Bosques Petrificados para Pico Truncado (218 km) porque amanhã seguiremos para Los Antiguos. Caleta Olivia (+60 km) ou Comodoro Rivadavia (+136 km) teriam sido opções mais animadas para nosso reveillon...
Como se sabe, a patagônia é um dos lugares de menor densidade populacional do mundo. Não é fácil encontrar povoados, cidades ou casa por aqui. Apenas a vastidão quase infinita das estepes assoladas pelo vento, tudo isso envolto por um céu ainda maior. Outros quarenta quilômetros de rípio nos levaram até a ruta 3 e aí tomamos o rumo norte. Quase 100 km em alta velocidade já nas últimas luzes do dia e do ano e com os estômagos roncando cada vez mais altos e chegamos a uma bifurcação. Para o norte, Caleta Olivia, cidade litorânea, a segunda maior da província de Santa Cruz. Um pouco mais adiante, a conhecida Comodoro Rivadavia. Na direção noroeste, a desconhecida (para nós!) Pico Truncado, sequer citada em nosso livro-guia. Esse também era o nosso sentido em direção à cidade de Los Antiguos, já na fronteira com o Chile, nosso destino amanhã. Um pouco indecisos, acabamos por seguir o menor caminho e fomos para Pico Truncado.
Extração de petróleo em Pico Truncado, no sul da Argentina
A cidade vive em função da extração de petróleo ao seu redor. No passado, foi um ponto importante da linha de trem que por aqui passava, mas que já foi desativada. Enfim, está longe de ser um atrativo turístico da região. Chegamos já no escuro e nosso GPS nos levou para os dois únicos hotéis cadastrados. Ainda eram do tempo da ferrovia, devem ter tido seus momentos de glória, mas hoje são amedrontadores. Assim como suas vizinhanças, ao lado dos antigos trilhos e na periferia da cidade. De qualquer maneira, estavam fechados. Fomos então ao centro da cidade, um pouco mais simpático, e aí encontramos um terceiro hotel, o Namastê. Com uma cara bem mais nova, mas fechado também. A solução foi dar mais uma volta pelo centro, mas nada encontramos. A última esperança foi voltar no Namastê e insistir na campainha.
Depois de um longo dia, véspera de ano-novo, finalmente chegando à pequena Pico Truncado, no sul da Argentina
Para nossa surpresa, a resposta não veio de dentro do prédio, mas de trás de nós. O vizinho da frente veio falar conosco. Identificou-se como gerente do hotel e nos esclareceu que ela ainda não estava pronto. Sugeriu outros lugares na cidade, mas eram exatamente aqueles hotéis antigos que já havíamos visitado. Ele disse que provavelmente ninguém na cidade estava esperando turistas para a última noite do ano. Quem viaja para cá está a negócios, algo relacionado com o petróleo. Pico Truncado não está nas top lists de destinos de feriados.
Chegando à Pinco truncado, cidade petroleira no sul da Argentina
Enfim, reconhecendo nossa situação quase miserável, resolveu abrir o hotel para nós. Ele e seu pai, o verdadeiro gerente, são imigrantes de origem paraguaia e muito simpáticos. O quarto estava bom, mas teríamos de usar um banheiro dos fundos, ainda em obras. Tudo bem para nós! Perguntamos de restaurantes, mas eles foram céticos. Indicaram duas ou três possibilidades, mas logo verificamos o que eles já suspeitavam: estavam fechados. O filho, então, sugeriu que ceiássemos com eles. Combinamos de tomar banho e depois, nos encontrar em frente ao hotel. Mas enquanto nos arrumávamos, o pai apareceu. Acho que ficou meio constrangido em nos receber em sua humilde residência e resolveu trazer a comida para nós. Agora, já tínhamos nossas “quentinhas”, uma garrafa de vinho e a TV sintonizada na CNN mostrando a celebração do réveillon nas grandes cidades do mundo, fogos explodindo ao vivo mundo afora, Copacabana e Nova York os grandes destaques.
Primeira manhã do ano, em frente ao nosso hotel em Pico Truncado, no sul da Argentina
Aqui também, na pequena Pico Truncada, perdida no meio da patagônia, ouvimos o barulho de alguns rojões. Passada a meia noite, fomos para a rua conversar com nossos amigos paraguaios. Apareceu então o dono do hotel, um jovem e promissor empresário indiano. Com amigos e amigas, inclusive o filho do gerente, estavam seguindo para as festas em Comodoro Rivadavia, a 130 km daqui. Até nos convidaram. Voltaríamos com o sol nascendo. Ir de Fiona, nos deu muita preguiça, principalmente depois de tantos quilômetros rodados hoje e mais tantos a serem rodados amanhã. Ir com eles, a possibilidade de rodar aqueles 130 km em menos de uma hora (conforme nos garantiram), na ida e na volta, temperados com champagne e caipirinhas, achamos melhor deixar para a próxima. Endim, resolvemos que nossa celebração ficaria mesmo restrita ao Namastê, nosso lar em Pico Truncado.
O simpático gerente do nosso hotel em Pico Truncado, no sul da Argentina
E assim foi nossa última noite do ano, nosso último réveillon dos 1000dias. Não dá para querer ser glamoroso sempre. Mas o que não tivemos em glamour dessa vez, tivemos em calor humano, essa família paraguaia salvando nossa pátria e nossos estômagos. A pequena e petrolífica Pico Truncado acabou por entrar no nosso mapa das Américas e de forma muito especial. Bebericando nosso vinho, a TV com a CNN já sem som, tratamos de relembrar nossos réveillons anteriores, sempre em algum lugar distinto do nosso continente. Essa já é nossa quarta passagem de ano na estrada, a última delas. Quatro anos de viagem, quatro réveillons.
O simpático gerente do nosso hotel em Pico Truncado, no sul da Argentina
O primeiro foi lá no sertão da Paraíba, na mística região do Pai Mateus. Ainda estávamos na fase brasileira da nossa viagem, descobrindo e nos surpreendendo com as belezas do interior nordestino. Para quem quiser dar uma olhada e relembrada, o post está aqui.
Ceia de reveillon no Hotel Fazenda Pai Mateus, em Cabaceiras - PB
O segundo foi na América central, na charmosa cidade histórica de Antigua, na Guatemala. Muita festa, fantasia e um delicioso jantar. Vivíamos tempos hispânicos dos nossos 1000dias. Para quem quiser rever, o link do post está aqui.
Muita festa na virada do ano em Antigua, na Guatemala
Por fim, o réveillon do ano passado foi na glamorosa Aspen, nos Estados Unidos. Já estávamos descendo a América, depois de ter batido a mão lá no Alaska. Quase um ano inteiro praticando nosso inglês na América Anglo-saxônica do Tio Sam e do Canadá. Gelo e neve para dar bem o clima de réveillon do hemisfério norte. Para quem quiser passar um pouco de frio, o link está aqui.
Celebrando os últimos minutos de 2012vna pequena basalt, ao lado de Aspen, no Colorado, nos Estados Unidos
E agora, cá estamos em Pico Truncado, mais um ano que começa, o primeiro do resto de nossas vidas, o ano para voltarmos para casa. Ainda temos alguns poucos meses pela frente, mas o frio na barriga do final da jornada está cada vez maior. Bem, jornadas tem de terminar algum dia e outras virão pela frente. Vamos ver o que esse 2014 traz para nós...
Celebrando a passagem de ano na cidade de Pico Truncado, no sul da Argentina
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