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Fidelis A (24/03)
Sônia (24/03)
AMEI SEU TEXTO. EMOCIONANTE! VIAJEI NELE. TENHO HA MUITOS ANOS VONTADE DE...
Roberto (10/03)
Rodrigo e Ana, Com satisfação vejo que estiveram no Açu, entre Petró...
Priscila (10/03)
Olá, bom dia! Trabalho com produção de cinema e preciso muito do conta...
Sandra (07/03)
Estou preparando minha viagem para Cuba, em maio/2016, e gostei dos relat...
O famoso "Castillo", a mais emblemática construção de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Dentre as centenas de sítios arqueológicos da cultura maya no Yucatán, nenhum se compara em fama e esplendor à antiga cidade de Chichen-Itza. Com seus enormes templos e palácios de pedra, ela vem cativando viajantes, exploradores e turistas desde a metade do século XIX, mas sua história é muito mais antiga do que isso, da época do apogeu da cultura maya, ainda no primeiro milênio da nossa era, até o período da conquista espanhola, quando suas construções de pedra serviram de refúgio, durante meses, para os conquistadores espanhóis sitiados pela população local.
A placa não deixa dúvidas: estamos na península do Yucatán, no México
A cidade começou a ser ocupada nos primeiros séculos depois de Cristo, mas foi só no ano de 600 ela começou a adquirir uma proeminência regional. Com a decadência ou queda das cidades-estado mayas da Guatemala. Chichen-Itza chegou ao auge de seu poder entre os anos 900 e 1.000, controlando o comércio e a economia de toda a região central do Yucatán, estendendo sua influência até o litoral. É dessa época a forma final de todos os prédios importantes que conhecemos hoje, como o Castillo, o Grande Jogo de Pelotas e o Grupo das Monjas.
Com a Val, caminhando nas ruínas mayas de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Depois do auge, a decadência, Chichen-Itza foi perdendo seu poder, população e influência até que, em meados do século XIII, foi conquistada pelo poder emergente de Mayopan. Perdeu força política, mas continuou um importante centro religioso, o seu “cenote sagrado” atraindo peregrinos de todo o mundo maya. Tamanha ainda era a sua importância na época da conquista espanhola que os ibéricos planejaram fazer dela a sua “capital imperial” na península.
O famoso "Castillo", a mais emblemática construção de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
A primeira tentativa de conquista da península, empreendida por um companheiro de Cortes na conquista do império asteca, falhou fragorosamente no ano de 1528, a resistência maya muito mais aguerrida que o esperado. O velho Montejo tentou novamente, três anos mais tarde, agora com um exército muito maior. Após o sucesso inicial, quando conquistou e estabeleceu sua capital na cidade portuária de Campeche, o velho conquistador enviou seu filho para conquistar o interior da península. O jovem Montejo marchou sobre Chichen-Itza, declarando-a sua capital. Pouco tempo depois, os mayas resolveram contratacar e sitiaram os espanhóis na antiga cidade. Aí eles resistiram por dois meses, mas por fim, se retiraram para o sul, até Honduras. Empolgados após vencerem o filho, os mayas se voltaram para o pai, forçando os espanhóis a se retirarem de toda a península. Mais uma vez, tinham resistido a uma tentativa de conquista.
As ruínas mayas de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Boa parte desse sucesso pode ser explicada pelo fato de que os mayas tinham, como estrategista, um espanhol. Gonzalo Guerrero foi um náufrago que chegou à região vinte anos antes. Acabou se integrando à sociedade local, inclusive casando-se com uma maya. Quando o momento chegou, preferiu aliar-se ao povo que o adotou contra seus irmãos de sangue. O caminho contrário tomou um outro náufrago, Aguilar, companheiro de barco de Guerrero. Oito anos depois de estar entre os mayas, teve a chance de unir-se a Cortes, no início de sua expedição. Tornou-se seu tradutor e conselheiro, de valor inestimável para o mais famoso dos conquistadores espanhóis, na sua epopeia de conquista do império asteca.
"Grupo de las mil Columnas", em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
O jovem Montejo voltou mais uma vez, em 1540, agora determinado a conseguir a conquista. Aproveitando-se das disputas internas entre as diversas etnias mayas, conseguiu o seu intento, boa parte pela ajuda dos mayas Xiu, os primeiros a se converter ao cristianismo. Ninguém sabe ao certo o destino de Gonzalo Guerrero mas, muito provavelmente, morreu lutando ao lado de seus companheiros mayas. Montejo, dessa vez, escolheu fundar uma nova capital, Mérida, e Chichen-Itza ficaria esquecida pelos próximos séculos.
As ruínas mayas de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Foi só a partir da segunda metade do século XIX que aventureiros e exploradores a redescobriram. Suas descrições e fotos logo se espalharam pelo mundo, atraindo a curiosidade de um número cada vez maior de pessoas sobre aquelas enormes construções de pedra escondidas por uma densa vegetação, sinais de uma misteriosa civilização perdida e, quem sabe, muitos tesouros.
A Plataforma de los Craneos, em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Mesmo com a fama da região aumentando, o cônsul americano no Yucatán foi capaz de comprar a fazenda onde se localizava as ruínas, em 1894. Por quase 30 anos ele desenvolveu extensas pesquisas arqueológicas no local, inclusive no Cenote Sagrado, enviando várias de suas descobertas para museus americanos. Seus planos de construir um hotel por ali só foram adiados pela Revolução Mexicana e, mais tarde, pela 1ª Guerra Mundial.
Visita às ruínas mayas de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Na década de 30 o governo mexicano tentou recuperar aquelas terras e a confusão se prolongou até o final da 2ª Guerra quando, finalmente, os herdeiros do cônsul venderam a fazenda para um empresário mexicano que queria investir em turismo. O que começou com dezenas de visitantes por mês, passou a centenas, milhares, milhares por semana, por dia e hoje, segundo estimativas, são mais de um milhão de turistas por ano a visitar as ruínas.
Chegando às concorridas ruínas mayas de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Muitos vendedores ambulantes em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Hoje, alguns dessa verdadeira multidão éramos nós. Além de abrir caminho entre tantos visitantes, também é preciso driblar os vendedores, que circulam livremente pelo local. Mas todo esse trabalho vale a pena para poder conhecer uma das novas sete maravilhas do mundo, escolhida em votação mundial pela internet. Para quem não acredita muito nessa classificação, Chichen-Itza é também um patrimônio da humanidade escolhido pela Unesco, essa sim uma classificação com mais credibilidade.
O Maracanã do mundo maya, El Gran Juego de Pelota, em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Sem dúvida, a construção de maior impacto visual é mesmo o Castillo, um primor arquitetônico, matemático e astronômico do povo maya. Foi construída com tal perfeição que os equinócios de primavera e outono são perfeitamente marcados por suas sombras. Além disso, o número de terraços somados nos quatro lados, mais o templo acima do pirâmide equivalem a 365, o número de dias do ano. O templo é dedicado ao deus Kukulkan, a versão maya de Quetzalcoatl, a serpente emplumada dos toltecas e astecas. Nos equinócios, e somente aí, uma sombra de serpente se forma sobre os degraus da face norte, um ritual que atrai dezenas de milhares de visitantes nesses dois dias do ano.
Uma das cestas do Gran Juego de Pelota, em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Infelizmente, não se pode mais subir no El Castillo. O acesso aos grandes prédios de Chichen-Itza foi sendo progressivamente fechado para turistas, e o Castillo foi exatamente o último deles, em 2006. A gota d’água foi a queda fatal sofrida por uma turista americana naquele ano. Pinturas e relevos famosos do templo que está acima da pirâmide podem apenas ser imaginados, hoje em dia. Ou então, admirados através de fotos antigas.
"Grupo de las mil Columnas", em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Outra construção que chama a atenção é o Grande Jogo de Pelotas, o maracanã do mundo maya. Essa espécie de precursor de futebol misturado com basquete era muito popular naquela época, um jogo de, literalmente, vida ou morte. Pode-se encontrar campos em que ele era jogado em diversos lugares do México, mas o maior de todos os “estádios” era aqui em Chichen-Itza. A gente passa por ele e imagina as multidões que vinham assistir, assim como os pobres integrantes do time perdedor, que tinham seu capitão sacrificado em seguida.
Os mayas também sabiam jogar jogo da velha! (em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México)
Passamos algumas horas passeando nas ruínas, uma parte dos prédios completamente restaurada, o que nos dá a noção de como eram na época de seu apogeu mas, ao mesmo tempo deixando de ser autênticas, já que foram remontadas. Visualmente, fica lindo e imponente, mas perde-se em veracidade. Além disso, temos de ter paciência com as outras centenas de turistas, a maioria deles vindos em excursão de Cancun, todos procurando os melhores ângulos para suas fotos.
Uma autêntica e simpática representante dos mayas, em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Enfim, com jeitinho dá. A área das ruínas é bem grande e sempre é possível achar um local mais tranquilo. Escapar de vendedores e grandes grupos de turistas seguindo bovinamente algum guia. Um pouco de asas à imaginação e podemos no teletransportar para o passado, quando os templos eram coloridos e sagrados, sacerdotes vigiavam atentamente os céus e jogadores jogavam por suas vidas. Que mundo diferente não terá sido! Tudo se passando naquele exato lugar, naquelas exatas construções, separado apenas por um mísero lapso de tempo.
Momento de descanso e leitura em um dos gramados de Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Aproveitamos até os últimos momentos por ali, a luz de fim de tarde fazendo tudo ficar mais bonito, a maioria dos turistas já tendo partido, seus ônibus de turismo sem muita flexibilidade de horário. Sentados no gramado em frente ao Castillo, foi o ponto alto da nossa visita. Até sermos enxotados pelos seguranças, loucos para poder voltar para casa depois de mais um dia de trabalho duro. Imagino que já estejam acostumados a, todos os dias, ter de lidar com algum chato que quer ficar lá até depois do horário.
Luz de fim de tarde no El Castillo, em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Enfim, cumprimos da melhor maneira possível o nosso “dever de casa” ao visitar Chichen-Itza, programa obrigatório para quem viaja pelo Yucatán. Agora, vamos em busca de outras ruínas, menos visitadas, menos restauradas, menos glamorosas. Mas, até para melhor admirar e entender essas outras ruínas, nada melhor do que passar uma tarde em Chichen-Itza que, com todos os seus poréns, não deixa de ser um espetáculo.
A Fiona em pleno mundo maya, em Chichen-Itza, na península do Yucatán, no México
Em direção ao Caribe pela terceira vez nesses 1000dias (em Bogotá - Colômbia)
O nosso táxi chegou exatamente na hora marcada, às 11 da manhã. Foi também a hora que tínhamos acabado de nos arrumar, depois da noitada de ontem. Hoje, um pouco mais cedo, a gente tinha se despedido do Douglas, que saiu para suas aulas de inglês e francês. A Clara ainda estava no apartamento, quando partimos. E a pequena e vibrante Amelie, despedimo-nos ontem de noite, para tristeza dela, que adorou a Ana. De nada adiantou dizer que em dez dias regressamos... E regressamos mesmo, pois a Fiona ficou por aqui, hehehe
Mapa mostrando as ilhas ABC - Aruba, Bonaire e Curaçao e sua posição relativa junto à Venezuela
Fomos para o aeroporto de Bogotá para voar de volta ao Caribe. Nossa terceira vez nessa região, e a mais curta delas. Dez dias para conhecer três ilhas, as chamadas ABC. Aruba, Bonaire e Curaçao. Tão próximas que estão da Venezuela, não é à tôa que o Chavez, de tempos em tempos, diz que elas são uma aberração colonial e que deveriam pertencer ao país.
Aeroporto de Bogotá - Colômbia
Mas assim não quis a história (para alegria de seus moradores!). As três ilhas foram ocupadas primeiramente pelos espanhóis, que acabaram por abandoná-las cerca de um século mais tarde. Logo em seguida foram ocupadas pelos holandeses e sua Companhia das Índias Ocidentais. Com os holandeses vieram os escravos, e dessa mistura entre índios nativos, negros e europeus vem boa parte da população atual
Propaganda no aeroporto de Bogotá, na Colômbia
Para viajar entre elas, apesar de tão próximas entre si, só de avião (ou no seu próprio iate, o que não é nosso caso...).E assim faremos, primeiro pelas praias e resorts de Aruba, depois aos mergulhos de Bonaire e finalmente à vida urbana e cultural de Curaçao.
De volta ao Caribe! (Aeroporto de Oranjestad, em Aruba)
Para chegar lá, voamos sobre a Venezuela, como já havíamos feito quando voamos do Suriname para Trinidad e Tobago. Um dos únicos países sulamericanos que ainda não visitamos nesses 1000dias, mas do alto já vimos bastante! Adiantamos o relógio uma hora para chegar à Oranjestad, capital de Aruba, um pouco antes das cinco. Aí, deixamos a capital para trás e seguimos para o norte da ilha, um pouco acima da praia de Palm Beach, onde estão os maiores hotéis de Aruba. A gente ficou num apartamento de frente à praia, com direito à cozinha. Vamos poder brincar de casinha, obaaa!
O primeiro coquetel em Palm Beach - Aruba
Dali, meia hora de caminhada nos leva ao coração de Palm Beach, mais americana impossível, com todas as redes de fast food e um ar de Flórida - Miami. Nessa mesma noite, tomamos nosso primeiro coquetel caribenho desde Abril, quando terminamos nossa segunda perna por lá, em Sint Maarten, coincidentemente também holandesa. Amanhã será dia de praia e piscina. É o duro processo de adaptação ao Caribe...
Um leão-marinho posa para a foto perfeita, em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul (foto de Jeff Orlowski)
Essa viagem para a Antártida passando por Falkland e Geórgia do Sul tem dois objetivos principais. O primeiro é observar a beleza das paisagens e a grandiosidade de cenários raramente vistos ou visitados. Por exemplo, as montanhas esplêndidas da Geórgia do Sul ou as geleiras majestosas da Península Antártida. O segundo é admirar a vida selvagem ao longo do caminho, dezenas de espécies de aves e mamíferos marinhos que chamam esses mares gelados de lar e que vivem aqui em quantidades inimagináveis para olhos acostumados com a vida em cidades, onde nos contentamos com passarinhos, cães e gatos.
Um grupo de pinguins rei caminha na praia de pedras de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Fêmea de elefante-marinho abre sua boca em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
As aves, já as temos visto desde que zarpamos de Buenos Aires. Mesmo em alto mar, são centenas delas, voando e nadando ao nosso lado. Nas Falklands, tivemos nosso primeiro contato com pinguins e aqui, na Geórgia do Sul, pelo menos nesse nosso primeiro desembarque, eles são tantos que preenchem o nosso horizonte. Vou falar disso no próximo post, pois nesse quero falar de outros animais que também vimos em grande quantidade, embora nada que se aproxime das centenas de milhares de pinguins. Refiro-me aos “pinípedes”.
Muito esforço para coçar a pata em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Fêmeas de elefante-marinho descansam em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Basicamente, podemos dividir os mamíferos que habitam essa região do mundo em dois grupos. Ambos são marinhos, embora um deles também passe parte da sua vida em terra firme. O primeiro grupo, totalmente marinho, são os cetáceos, que incluem baleias, golfinhos e porpoises. O segundo grupo, que volta à terra firme para se reproduzir e ter filhos, são os pinípedes. O nome pode parecer estranho, mas todo mundo conhece. São as focas e assemelhados, como as morsas, leões e elefantes marinhos.
Leão-marinho solitário em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Os pinípedes descendem de algum animal terrestre parecido com o urso que, há dezenas de milhões de anos, passou a usar o mar como principal fonte de alimentação. Aos poucos, o corpo foi se adaptando a isso e as pernas se transformaram em verdadeiras nadadeiras. Ao mesmo tempo, pulmões e meios de armazenagem de oxigênio também evoluíram e hoje eles podem passar meses longe de terra firme e, alguns deles, mais de 20 min abaixo d’água, chegando a profundidades de mais de 2 mil metros, sempre em busca de algum alimento.
Lobo-marinho recém nascido em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul (foto de Brian Myers)
Os cientistas classificaram os pinípedes em três grandes famílias. A primeira delas incluem apenas as morsas (aquela “foca” com dentes enormes) que vive nas regiões árticas, no norte do planeta. As outras duas são os “Otariidae” e “Phocidade”. A diferença básica entre elas é que o primeiro grupo tem orelhas externas enquanto no segundo, o sistema auditivo é interno. Outra diferença importante é na locomoção abaixo d’água. Os Otariidae, como o leão-marinho, usam principalmente as nadadeiras da frente (os nossos braços) enquanto os Phocidade, como as focas, usam as nadadeiras de trás (as nossas pernas).
Um preguiçoso filhote de elefante-marinho em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Um preguiçoso filhote de elefante-marinho em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Pois bem, a Geórgia do Sul é o principal lugar do mundo onde se reproduzem membros dessas duas famílias. No caso dos Phocidade, ou “focas verdadeiras”, aqui vive a maior de todas as espécies, o elefante-marinho do sul. Ainda maior que seus primos do norte e também que as morsas, os maiores machos chegam a incríveis 8 metros de comprimento e quase 5 mil quilos. Pois é, são ainda maiores e mais pesados que os próprios elefantes terrestres!
Fêmea de elefante-marinho nos observa em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Fêmea de elefante-marinho dá um enorme bocejo em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Eu falei dos grandes machos porque esta é a espécie com o maior dimorfismo sexual entre todos os mamíferos. Isso quer dizer que machos e fêmeas são muito diferentes. Mesmo as maiores fêmeas não passam dos 3 metros de comprimento e 1.000 kg, cerca de 4 vezes mais leves que os machos adultos. É como se na raça humana as mulheres não passassem dos 80 cm e dos 20 kg (ainda bem que não somos assim, hehehe!). Bom, com uma diferença assim tão grande, não é de se estranhar que os machos tenham grandes haréns, algumas vezes com mais de 100 fêmeas!
Uma "família" elefante-marinho na praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul (foto de Vladimir Seliverstov)
O nome do “elefante-marinho” não vem apenas do tamanho e peso, mas também pela tromba que parece ter. Ela serve para aumentar ainda mais os sons dos rugidos dos machos, principalmente para afastar os rivais de seu precioso harém. Imagino que as “pequenas” (pequenas para eles, pois continuam sendo muito grandes para nós!) fêmeas também achem a tal tromba bem atrativa.
Um leão-marinho nos dá as boas-vindas à Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Além dos elefantes-marinho, quem também adora a Geórgia do Sul são os lobos-marinhos, membros da família Otariidae, aquela com orelhas. Algumas vezes também são chamados de leões-marinho, já que parecem ter uma juba e até de ursos-marinho. A nomenclatura em português é meio confusa. Em inglês, mais preciso, eles são os “Antartic Fur Seal”, o “Fur” se referindo aos longos e grossos pelos na região do pescoço da espécie.
Leão-marinho solitário em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Dois leões-marinho macho medem forças em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
O fur seal é bem menor que os elefantes-marinho, mas também existe um dimorfismo sexual na espécie, embora não tão exagerado. Os maiores machos chegam a ter 2 metros e pesar 200 kg. O tamanho do harém também não é tão grande, chegando a pouco mais de 10 fêmeas para aqueles com mais testosterona.
Leões-marinho e pinguins na praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
O fur seal quase chegou a ser extinto pelo homem no início do séc. XX, salvando-se apenas uma colônia deles, aqui em Bird Island, uma das pequenas ilhas ao redor da Geórgia do Sul. A caça era exatamente pelo “casaco de pele” que eles aparentam ter. Felizmente, a caça se tornou economicamente inviável e, mais tarde, foi proibida. Com isso a espécie se recuperou rapidamente, ocupando toda a área em que costumava viver. Essa rápida recuperação, infelizmente, tem a ver com outra tragédia: a quase extinção das baleias, que competem com a fur seal pelo mesmo alimento. Sem a concorrência, a espécie cresceu livremente e hoje, há quem defenda uma caça “controlada” dela.
Um preguiçoso filhote de lobo-marinho em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Um elefante-marinho parece tentar engolir um pinguim em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Hoje tivemos a prazer de ver vários deles no desembarque em Salisbury Plain, tanto elefantes como os lobos-marinho. Esta época do ano coincide com o fim da temporada de reprodução dos elefantes-marinho e o início da estação para os lobos-marinho, o que influencia bastante em seu comportamento. Os elefantes, agora que já cruzaram com todas as suas fêmeas, estão bem mais tranquilos, sem ter de se preocupar com seus rivais. Ficam dormindo e relaxando o tempo todo na praia de pedras, bem perto da água, um macho com muitas fêmeas ao redor, e já vários filhotes gerados na estação do ano anterior. Além da falta de orelhas, é fácil identifica-los pelo tamanho e por ficarem deitados, todo o corpo em terra.
Um filhote de elefante-marinho em Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Já os lobos-marinho, cujos grandes machos são pouco menores que as fêmeas médias dos elefantes-marinho, esses ficam com o peito levantado, apoiado nas nadadeiras dianteiras. Como estão em início de estação, cada um procura marcar seu território para poder atrair mais fêmeas. O resultado é que ainda há muita tensão no ar. Não apenas tensão, mas briga mesmo. Eles procuram se afastar dos elefantes-marinho e não se incomodam com o trânsito dos pinguins. Mas não parecem gostar muito de nós e, por isso, é sempre prudente manter uma certa distância. Seu ataque costuma ser mais para assustar do que para morder, uma espécie de exibição. A nossa reação deve ser de abrir os braços, para parecermos maiores, e fazermos algum barulho também. Duas pedras na mão e bater uma na outra parece ter o efeito de desestimulá-los do ataque e fazer com que recuem. Pelo menos, essa é a tática dos guias enquanto formam uma espécie de “corredor seguro” entre eles para que possamos desembarcar sem maiores incidentes e cruzar a praia até um lugar mais seguro, longe dos lobos.
Macho adulto de elefante-marinho descansa em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
E assim foi nossa primeira experiência com os pinípedes, aqui representados pelos preguiçosos elefantes e mal-humorados lobos. Muitas fotos e uma pequena distração das centenas de milhares de pinguins, eles sim a atração principal de Salisbury Plain.
Pinguins e elefantes-marinho em praia de Salisbury Plain, na Geórgia do Sul
Tartaruga Cabeçuda no Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
Tínhamos um bom motivo para começar o dia mais cedo hoje. Queríamos visitar o Projeto Tamar e para quem chegasse lá antes das 09:00, a entrada era na faixa. Assim, tomamos o café da manhã no belo jardim da Pousada dos Artistas e caminhamos até o vizinho Tamar onde chegamos 5 mintos antes do tempo regulamentar.
Café da Manhã na Pousada dos Artistas, na Praia do Forte - BA
Pelo menos para quem vê de fora, o Projeto Tamar é uma história de sucesso. Quase fazendo trinta anos de idade e espalhado por toda a costa brasileira, o projeto indiscutivelmente atingiu seu maior objetivo: salvar as tartarugas que frequentam a nossa costa da extinção. Essa é uma luta constante e não se deve baixar a guarda, mas 10 milhões de tartaruguinhas devolvidas ao mar mais tarde, não há dúvidas que a situação da espécie (ou das cinco espécies) é bem melhor que a situação de 30 anos atrás.
Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
Tão ou mais bonita que essa luta foi o trabalho feito com as comunidades de pessoas que vivem e convivem com as tartarugas. Com um paciente trabalho de conscientização, a começar pelas crianças, essas comunidades foram trazidas para dentro da luta pela proteção. Quem antes caçava e comercializava esses simpáticos répteis hoje está à frente da luta para protegê-los. Além disso, várias atividades econômicas foram estimuladas como o artesanato local e o turismo.
Painéis informativos no Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
O sucesso foi tanto que projetos irmãos apareceram, como aqueles que protegem os golfinhos rotadores, as baleias jubarte e os peixe-bois. Longa vida a todos eles e que repitam o sucesso alcançado pelo Tamar!
Tubarão Lixa e tartaruga no Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
Passamos algumas horas por ali, vendo e aprendendo sobre tartarugas e outras espéces, como arraias e tubarões lixa. É muito legal ver os cinco tipos de tartarugas uma ao lado da outra, descobrir suas diferenças de tamanho e aparência, como eram caçadas pelos nossos índios e colonizadores. As pobres tartarugas eram embarcadas nas naus e serviam de almentação, carne fresca contra o escorbuto nas grandes explorações transoceânicas. Nossa... como eles gostariam de ter capturado uma daquelas tartarugas pré-históricas de 4 metros de envergadura e algumas toneladas de "carne fresca". Bom, nem tão fresca assim, já que essa espécie sumiu dos mares já há algumas dezenas de milhões de anos...
AS cinco espécies de tartaruga que vivem no Brasil, no Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
Tartaruga pré-histórica gigante, no Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
Ao final da visita, uma passagem pela ótima loja do Tamar (tenho a impressão que essa base do Tamar na Praia do Forte é a maior e mais completa de todas...). Ali, a Ana comprou algumas roupas e presentes, nossa maneira de contribuir com o projeto, com a produção local e ainda adquirir produtos de qualidade.
Tubarões Lixa interagindo no Projeto Tamar, na Praia do Forte - BA
Finalmente, uma rápida passagem no famoso Bar do Souza. A fama de seus bolinhos de peixe realmente é merecida. Acompanhado de uma caiprinha de mangaba ou caipiroska de umbu e com aquela vista maravilhosa da Praia do Forte, ninguém poderia pedir mais...
Uma câmera na mão e uma caipirinha na cabeça! (na Praia do Forte - BA)
No saguão do aeroporto de Nassau, indo para Long Island
Mais uma vez, tivemos de madrugar. O nosso vôo era às 07:40 e, para chegar ao aeroporto tínhamos um longo curto caminho. Cinco minutos nos separavam desde a pousada até o porto. Mas eram cinco minutos puxando nossa tralha de mergulho, toda acomodada em uma caixa devidamente encaixada em um carrinho. Além disso, mochila grande nas costas (eu carrego a da Ana, que é mais pesada e ela carrega a minha) e mochila pequena no peito, com máquina fotográfica, lap top, livro, documentos e uma muda de roupa. Deixamos um bilhete para o John e seguimos vagarosamente pela rua esburacada, cuidando para não derrubar o carrinho de duas rodas com a caixa de mergulho e aproveitando, como vingança dos dias anteriores, para acordar os galos da cidade, já que o sol ainda não raiou.
No porto, uma pequena espera e logo tomamos o táxi náutico. O táxi terrestre já nos espera do outro lado. No aeroporto, longa negociação com a atendente da Bahamas Air, que quer cobrar excesso de bagagem. O equipamento de mergulho, tão eficiente embaixo d'água, que sempre nos poupa na hora de não alugarmos equipamento e nos dá segurança e conforto lá embaixo, na hora de ser transportado acima d'água se transforma num estorvo, principalmente nas viagens de avião nacionais. Jogamos o maior lero e conseguimos embarcar sem pagar. Não tínhamos conseguido na vinda.
A bordo do avião para Long Island - Bahamas
Voamos para Nassau e de lá para Long Island. Para quem olhar no mapa, verá que é um caminho meio português (com todo respeito aos nossos irmãos lusitanos). Esse é um problema de viajar em Bahamas: não há vôos diretos entre as ilhas; sempre precisamos voltar para Nassau, mesmo que isso signifique duplicar o caminho e o tempo. A julgar pelo número de passageiros, até dá para entender. Os vôos tem menos de 10 pessoas. Mesmo aviões pequenos ficam bem vazios. Depois de Long Island, iremos para Turks e Caicos. Novamente, voltaremos para Nassau e voltaremos de novo, passando sobre Long Island, em direção a Providenciales (principal cidade daquele país). O que ocorre numa escala estadual, nas Bahamas, também ocorre numa escala nacional, no Caribe. Para seguir de Turks e Caicos, ao lado de Porto Rico, para este país, vamos fazer escala em Miami(?!?). Haja paciência...
Bom, mesmo neste vôo de Eleuthera para Nassau, demos uma volta. Mas foi bem vinda. Fomos primeiro para um aeroporto no sul da ilha para depois seguir viagem. O avião vôa bem baixo, o bastante para admirar a água transparente que cerca essa ilha ccom mais de 100 km de cumprimento e menos de 2 km de largura. Na água, de tão transparente, é até possível observar as sombras dos peixes maiores. Tubarões?
Em Nassau, temos tempo para, depois de despachar as malas para Long Island (sem pagar novamente, após novo 171 - viva!), ir passar algumas horas em Cable Beach. Quem nos leva é a Dede, uma motorista de táxi que cresceu em Miami e que é uma figuraça, meio rasta. Ela não só nos levou como também nos buscou e deve nos encontrar novamente, no nosso próximo pitstop por lá. Em Cable Beach, com o tempo bem nublado, aproveitamos para passar 90 min na internet, num Starbucks, que fica muito mais em conta que qualquer internet café.
O tempo na internet era necessário para eu resolver um problema que já me atrapalhava há dias. Meu cartão Visa deixou de funcionar. Simplesmente, parou. Lá de Eleuthera foi impossível eu conseguir falar com alguém. Só se pagasse muito caro pela ligação internacional. Mas consegui de Nassau, primeiro com alguma atendente da Visa em Miami, falando um português esforçado mas sofrível e depois com alguém do Banco Real. Tudo a partir de um telefone público no aeroporto. Apesar de reclamar bastante da tecnologia em Eleuthera, hoje fiquei admirado com ela. Enfim, descobri que foi minha própria agência que bloqueou meu cartão!!!
Aí, entrou em cena outro anjo da guarda. Via internet, conectei-me com a Beth, que trabalhava comigo em Curitiba. Com alguns telefonemas, ela descobriu a razão do imbroglio e o resolveu. O banco queria ter sido avisado da viagem ao exterior e em quais países passaria. Não sei o que ele achou da lista de 50 países, mas disse que o cartão voltaria a funcionar. Ainda não testei. Mas, de qualquer maneira, muito obrigado, Beth!!!
Depois de um mormaço na praia, voltamos ao aeroporto. Na sala de espera, conhecemos mais pessoas interessantes: um americano que já vive aqui há mais de 15 anos e um bahamense, como sempre, muito simpático. Tratam muito bem as pessoas de fora. Depois, o embarque é meio confuso. Colocam os oito passageiros num teco-teco, mas a hélice esquerda não funciona. Resolvem nos levar para um avião ainda menor, agora só um teco. E o teco funciona, para alegria nossa. Com alguns solavancos, atravessamos as nuvens e 90 min depois chegamos em Long Island.
Avião para Long Island. A hélice não funcionou e tivemos de trocar para um avião menor
E eu, pelo menos enquanto o avião vôa abaixo das nuvens, aproveito para procurar tubarões na águas transparentes abaixo de mim. E aproveito também para viajar nas Bahamas. Se movimentar por aqui já é uma viagem...
Onde as águas se encontram, na praia de Setiba, em Guarapari - ES
Depois de um mergulho mais complicado, nada melhor que aproveitar o sol que brilhava em praias que marcaram nossas infâncias! Ainda mais que elas estavam ali, tão pertinho uma da outra e também do ponto onde mergulhamos.
A praia de Setiba, em Guarapari - ES
Primeiro, foi a vez de Setiba. Faz tempo que a Ana fala dessa praia. Quando ela tinha uns 10-11 anos, os pais da Ana se encheram de coragem, botaram as três filhas num carro e saíram para uma longa viagem desde o Paraná até Minas, Rio e Espírito Santo. Foi cerca de um mês na estrada e eu vivo ouvindo histórias da Ana sobre trechos e fatos dessa longa viagem. Um dos trechos preferidos foi o litoral capixaba e foi exatamente dessa praia, Setiba, que as meninas mais gostaram. Só que todas elas guardam o trauma de não ter podido nadar aqui porque eles estavam com uma programação mais apurada e tinham se programado para ir a outro lugar. Por mais que insistissem, os pais resolveram continuar. Setiba acabou virando sinônimo de uma praia linda que não pôde ser desfrutada. Quase que a Terra Prometida de Moisés, que nunca chegou lá.
A Ana na praia de Setiba, em Guarapari - ES
Vinte anos mais tarde, chegamos à Terra Prometida da Ana, a praia de Setiba. E ela continua uma gracinha mesmo! Do modo que ela tinha descrito, embora com "umas" casas a mais. Em um lado da praia há uma pequena ilha, bem próxima da areia. Tão próxima que acaba virando uma península, unida à praia por uma pequena língua de areia. Este ponto é o mais bonito. As ondas vêm dos dois lados e passam por cima da língua de areia, se encontrando. Muito jóia mesmo. Adoramos! Tanto que ficamos lá o resto do dia. Corremos, nadamos nos dois lados da ponte de areia, exploramos a península/ilha, tomamos uma cerveja pra celebrar. Vidinha bem difícil...
Praia de Setiba, em Guarapari - ES. A Ana é o pontinho ao fundo, nadando.
Bem no final da tarde, já a caminho de Iriri, no sul, paramos em Guarapari, na famosa, bela e em processo de reurbanização Praia do Morro. Fim de tarde bem bonito, céu meio avermelhado e nós, na praia, nos deliciamos com uma maravilhosa empadinha.
Comendo uma empadinha na Praia do Morro, em Guarapari - ES
Eu tinha estado em Guarapari há quase 40 anos!!! É claro que eu não me lembro, pois tinha só um ano de idade. Mas me lembro muito bem das fotos tiradas dessa temporada, do lindo nenê que eu era, disputado pelas irmãs. Fotos em preto e branco emoldurando porta-retratos e álbuns espalhados pela minha casa. Isso acabou tornando a cidade, pelo menos na minha cabeça em formação, uma coisa meio mítica. Seis anos mais tarde, passando uma temporada na pequena Carapebus, um pouco ao norte, eu já era um "adulto", seis anos de idade. Daí sim, tenho muitas lembranças. Inclusive de um passeio que fizemos à Guarapari, para revisitar os lugares que tínhamos frequentado anos antes. Engraçado... quando lembro disso, lembro de já me achar um cara mais velho, experiente. Com seis anos! Hoje, dou risada... Estranho também é pensar que, naquela época, achava os 5 anos que me separavam da outra vez uma eternidade. Nossa, hoje, cinco anos são ontem...
Praia do Morro, em Guarapari - ES
O tempo vai passando e nossas referências, tanto espaciais como temporais, vão mudando. O que era enorme, ficou pequeno. O que era uma eternidade, virou um lapso. Que saudade da minha infância, que lembro tão bem e que saudade da infância da Ana, apesar de não tê-la vivido. Deve ser o sangue português em minhas veias...
Observando os prédios de Guarapari, na praia de Setiba, em Guarapari - ES
Aos poucos, a BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho, vai ficando mais e mais estreita
Logo que deixamos o Igapó-Açu e iniciamos o trecho de hoje na BR-319, já deu para notar que seria diferente. Até o ponto em que dormimos ontem, ainda há um certo tráfego de carros. Daqui para frente, só uns gatos pingados, e olhe lá!
Aos poucos, a BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho, vai ficando mais e mais estreita
A estrada fica bem estreita, muito mais parecida com uma trilha do que com uma rodovia. Em muitos pontos, mal passa a Fiona entre os galhos das árvores que insistem em retomar seu antigo espaço. O piso é quase sempre de terra, mas o asfalto nunca some. Aqui e ali, vemos manchas de cinza, até mesmo a antiga pintura da faixa amarela no centro da estrada. Depois, a terra e as pedras tomam novamente seu lugar. E o asfalto aparece novamente, por alguns poucos metros...
Aos poucos, a BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho, vai ficando mais e mais estreita
O problema disso, essa alternância de asfalto-terra-buracos-pedras-asfalto é que não podemos acelerar. Como sabem os conhecedores de estradas, muito melhor uma estrada pura de terra que uma estrada de asfalto destruído. A velocidade raramente passa dos 40 km/h, a média ficando perto dos 20 km/h. Qualquer empolgação, qualquer descuido e lá se vai a suspenção ou os pneus...
Atravessando uma das centenas de pontes da BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
À cada poucos minutos, uma ponte sobre algum igarapé. As pontes são todas de madeira, mas estão em ótimo estado, algumas com aquele cheiro de nova. Devem ter sido refeitas bem recentemente, agora que a temporada de chuva acabou. Em alguns dos igarapés, vemos as pontes antigas, completamente acabadas. Fico imaginando como era quando era sobre elas que os carros passavam. Vi alguns vídeos na internet: aterrador.
Atravessando uma das centenas de pontes da BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Era isso que eu via nos meus pesadelos. Pontes podres nas quais precisaria equilibrar a Fiona. Mas não foi assim. Graças à manutenção da equipe da Embratel. Aliás, cruzamos com o jipe deles hoje, um dos raros encontros nos pouco mais de 200 km que percorremos.
Cruzando com o jipe que faz a manutenção das torres da embratel na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
A cada trinta e poucos quilômetros, uma torre da Embratel dá o sinal de civilização na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
O principal sinal de civilização que encontramos são as torres da Embratel. A cada hora, ou pouco mais do que isso, lá está ela, um sinal de que dirigimos mais trinta e poucos quilômetros. Embaixo de cada torre, uma pequena casa. São nessas casas que dormem quem se aventura nessa rodovia. Monta seu acampamento ou rede na varanda e fica protegido da chuva ou vento.
Sinal de vida (embora não houvesse ninguém por lá!) na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Outro sinal da civilização são placas de propriedade. Antigas chácaras doadas pelo INCRA na época da colonização, hoje completamente entregues à mata. Mas as propriedades continuam lá e seus donos fazem questão de se fazer notar. Quem sabe um dia, quando (se) o asfalto voltar... Uma dessas placas até anunciava uma pousada! A construção estava lá, mas não havia o menor sinal de vida...
Brincando com borboletas na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Com paciência seguimos, pensativos, horas à fio. O que quebra o marasmo são os animais alados. Entre eles, algumas milhões de borboletas amarelas. Quando o dia esquenta, elas começam a voar, infinitas. Quando nos ultrapassam, é um lembrete do quão devagar estamos dirigindo. Para me divertir, acelero, tento apostar corrida com elas. Algumas vezes, reúnem-se às centenas em alguma poça na estrada. É a chance de pararmos o carro e a Ana ir lá, no meio delas, para tirarmos algumas fotos.
Muitos pássaros ao longo da BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Um lindo casal de araras coloridas na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Os outros animais alados são os pássaros. Muitas vezes, solitários, de cima de uma árvore, observam aquele estranho animal de quatro rodas que passa por ali, lento e barulhento. Outras vezes, os vemos em enormes revoadas, centenas deles, lá no alto. Alguma migração, ou apenas admirando a selva amazônica lá de cima. Mas são os casais de pássaros os que mais chamam nossa atenção. Tucanos, com aquele bico pesado, de voo tão improvável, mas que, contra qualquer lei da gravidade, dão um show de aerodinâmica. Ou as araras, vermelhas ou azuis, ou vermelhas e azuis, colorindo aquele mundo verde que nos cerca.
Encontrando tráfego na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Aos poucos, quando mais para o sul chegamos, mais a floresta vai se afastando da estrada, sendo substituída por pastos e por gado. Não é uma cena feliz. Aquelas vacas não parecem estar no lugar certo. Cadê a floresta que estava aqui? Quantas árvores derrubadas para que possamos comer nosso churrasco? Aqui, mais do que em qualquer lugar, fica claro que algo está errado nessa equação.
Cada vez mais gado na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Preparando acampamento em torre da Embratel na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Por fim, o dia está terminando. Precisamos achar algum lugar para descansar, para dormir, para passar a noite. A opção óbvia são as torres da Embratel. Acabamos de deixar uma para trás, temos de dirigir mais uma hora até a próxima. Coragem! Os sinais de civilização estão aumentando do nosso redor, sob a forma de fazendas e gado. Mas ainda tem muita estrada pela frente. Lá no horizonte, acima da copa das árvores, aparece a bendita torre. Entre vê-la e chegar até lá, são mais uns 20 minutos.
A torre da Embratel onde dormimos em nossa segunda noite na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Minha rede já está estendida na casinha da Embratel, na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
O portão está trancado, mas há uma abertura na grade. A Fiona vai ficar do lado de fora, mas nós entramos. Chegamos até a varanda da casinha. Fazemos nosso jantar. Eu armo a minha rede, amarrada nos buracos do concreto. A Ana prefere o chão. Quer dizer, o chão não, pois ela tem um colchão inflável. Antes de dormirmos, aproveitamos o incrível céu estrelado que nos envolve. Cercados pela selva, naquela pequena ilha de civilização, alguns barulhos de telefone dentro da casa fechada. Falta apenas mais um dia para voltarmos ao asfalto. Estamos perto do mundo novamente. Mas ali, sós, acampados e isolados, estamos mais longe do que nunca do mundo. Estrelas e barulhos da mata nos cercam. Estamos na Amazônia!
Céu completamente strelado na nossa noite na torre da Embratel, na BR-319, a rodovia que liga Manaus à Porto Velho
Cruzeiros ancorados em Nassau
Não faz muito tempo um dos astronautas que passou uma temporada na Estação Espacial Internacional afirmou que, visto do espaço, o mar mais bonito do planeta era o do Caribe. Viajando de avião de Miami para Nassau, entendi o que ele disse. Os nossos olhos simplesmente não querem acreditar na cor do mar. É impressionante! Me desculpem os habitantes das ilhas gregas, da polinésia ou de Seycheles, mas o astronauta tinha razão: esse mar não existe!
Começando do começo, arrumamos o melhor possível a bagunça que tínhamos feito no apartamento do Marcelo e da Su, deixamos algumas coisas lá para pegar na volta e fomos para o aeroporto de taxi. O embarque, apesar das costumeiras revistas, é super eficiente (como quase tudo por aqui) e logo já estávamos livres para passear e enrolar no aeroporto. Para minha surpresa e decepção, não encontramos nenhuma rede wi-fi gratuita no aeroporto. Mas descobri que, por 9,95, vou ter acesso a maior rede de redes wi-fi dos EUA (aeroportos, hoteis, Starbucks, McDonalds, etc...), por todo o período que estiver por aqui, com a Fiona, no ano que vem. Parece um bom negócio!
Por fim, embarcamos no ônibus que nos levaria ao avião e, das 10 pessoas ali presentes, 5 eram brasileiros. Depois de não ver nenhum em Key West, já estava ficando com "saudades".
O vôo sobre o Caribe foi aquele desbunde! Outros passageiros do avião, já acostumados com o paraíso, devem ter se divertido com o nosso entusiasmo olhando pela janela. Depois, chegando ao aeroporto, também ficamos muito bem impressionados com a alfândega. Enquanto esperávamos a nossa vez na fila, tinha uma banda de música local tocando no saguão. Muito jóia mesmo!
Banda de música no lopbby do aeroporto
Aqui em Nassau o nosso simpático motorista de táxi nos levou a dois hotéis que não tinham vagas e ainda sugeriu o terceiro, que foi aonde nos hospedamos, o Towne Hotel, bem no centro. Nós temos reservas para vários lugares do nosso tour caribenho, mas aqui foi uma das cidades que eu deixei para ver na hora. E foi uma boa escolha: 95 dólares para um hotel bem localizado, com piscina e terraço, banheiro no quarto e café da manhã.
Bem instalados, fomos passear no pequeno centro da cidade, que é todo preparado para receber as hordas diárias de milhares de turistas que chegam para passar o dia, a bordo dos vários barcos-cruzeiro que navegam pela região. Mercados de artesanato e lojas de bebidas, jóias e perfumes duty-free. Falando em cruzeiros, tinham 5 ancorados por aqui ontem, inclusive o maior do mundo. Todos lado a lado, em suas vagas de "estacionamento". É uma visão grandiosa! O incrível é que, mesmo com todo esse movimento,a água do porto continua transparente. Parece uma pintura.
Adolescentes brincando no pier com cruzeiros ao fundo
Já no final da tarde, eu e a Ana fomos à praia aqui perto do centro. No caminho, fizemos um pitstop num botequinho onde conhecemos o Fred e a Karen, tio e sobrinha que tomam conta do lugar. Ficamos impressionados com a simpatia deles. O livro que temos já havia advertido da simpatia do povo das Bahamas, mas mesmo assim ficamos surpresos. Imagino que tenha algo a ver com o paraíso natural em que vivem... A praia também foi muito, muito legal. Água verde transparente, paradinha e com temperatura bem agradável. Final de tarde, o sol se pondo majestosamente no oeste, pouquíssimas nuvens para atrapalhar o espetáculo. E, como nada está tão bom que não possa ser melhorado, bem perto de nós um grupo de adolescentes locais se divertia dançando, cantando e se jogando de um pier no mar maravilhoso. Cantavam a alegria de viver nesse lugar. E para contrastar com essa imagem bucólica, logo atrás deles no nosso campo de visão, partiam, um a um, os enormes cruzeiros para seu destino de amanhã, onde seus passageiros poderão comprar mais perfumes, bebidas e jóias duty-free. Esses barcos gigantescos, com mais de 200 metros de cumprimento, passavam ali, do nosso lado, nas mesmas águas que estávamos nadando. Pitoresca, a situação.
Rodrigo, com navio cruzeiro ao fundo, em Nassau
Por fim, de noite, fomos a um bairro típico daqui, cheio de restaurantes frequentados basicamente por locais (de noite, restam poucos turistas aqui, já que as hordas invasoras já retornaram aos seus barcos). Eu e a Ana comemoramos aqui exatos 11 meses de casados, ouvindo música caribenha, tomando Sand (cerveja local) e comendo conch salad (comida bem local também). Mild, porque a spicy, acho que não conseguiríamos.
Um dia inesquecível para celebrar essa data, que também foi nosso 13o dia de viagem. Dia da sorte, diria o Zagalo.
Estrelas do mar em Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
No meio da tarde do dia 13, deixamos o Parque Nacional Corcovado para trás e regressamos de barco à Bahía Drake, onde nos esperava a Fiona e toda a nossa bagagem. Nossa ideia era seguir viagem imediatamente, rumo ao Panamá, e bastaram 10 minutos para arrumarmos nossas coisas e partirmos. Mas, eis que, ao cruzar o minúsculo centrinho da pequena cidade, cruzamos com a alemã Tanee caminhando pela rua. Tanne é aquela nossa amiga que conhecemos em San Juan del Sur, lá na Nicarágua, e para quem demos carona para a Costa Rica, onde ela leciona na capital San Jose. Sabíamos que ela tinha uma viagem programada para a Península de Osa por esses dias, mas já tínhamos desistido de reencontrá-la. Nós sim, mas o destino não! Foi joia vê-la novamente. A América não é tão grande assim, hahaha. Fizemos festa, fizemos fotos, contamos de nossas respectivas experiências no parque (ela esteve lá um dia antes de nós) e nos despedimos com um “Até logo!”. Nunca se sabe, né?
Reencontro com a alemã Tanee, em Bahía Drake, na Península de Osa, no sul da Costa Rica
Depois de tanto tempo, voltando ao Panamá, agora vindos da Costa Rica
Depois, pé na estrada. De terra até a estrada principal da península, de asfalto até a rodovia pan-americana e, de lá, até a fronteira que não estava longe. Burocracia mais ou menos rápida por nossa última fronteira na América Central já nas últimas luzes do dia, meu passaporte já tão sem espaço ganhando dois carimbos: um para mim e outra para a Fiona (???).
Nosso caminho entre a Península de Osa, na Costa Rica, e Bocas del toro, no Panamá
Da fronteira, ainda esticamos até a cidade de David, uma das maiores do país. Nada muito turístico por ali, mas muitas atrações nos arredores. Para nós, apenas um lugar para passar a noite no nosso caminho para Bocas del Toro, no litoral norte do país. Quase sempre que encontramos algum viajante e contamos da nossa viagem, ao falar que já tínhamos passado no Panamá, lá vinha a pergunta: “Panamá? Foram à Bocas del Toro?”. E a gente não tinha ido, um enorme buraco no nosso currículo de “viajantes das Américas”. Pois é, chegava a hora de tapar esse “buraco”, algo que já tínhamos planejado desde que passamos por aqui, na ida, para ter algo para ver na nossa volta. E aí, de agora em diante, quando ouvirmos aquelas perguntas, poderemos responder: “Claro, por supuesto!”.
Represa em meio à Cordilheira Central, no Panamá, entre David e Bocas del Toro
Ontem de manhã, partimos cedo para o norte do país, litoral do Atlântico, onde está o famoso arquipélago. Para chegar até lá, temos de cruzar a Cordilheira Central, que não só divide o estreito país em duas partes ainda mais estreitas, como separa os dois maiores oceanos da Terra. Foi do alto das suas montanhas, de cima de uma árvore, que o famoso pirata inglês Francis Drake avistou pela primeira vez o Oceano Pacífico, em meados da segunda metade do século XVI. Até então, esse vasto oceano ainda era um segredo militar de espanhóis e portugueses, em um dos momentos mais marcantes da vida de um dos principais aventureiros daquele século, cavalheiro da rainha Elizabeth e inimigo público número um dos reis de Espanha.
Ancoradouro em Almirante, na costa norte do Panamá, à caminho do arquipélago de Bocas del Toro
Com a ajuda de uma cerveja gelada, esperando a lancha entre Almirante, na costa norte do Panamá, e o arquipélago de Bocas del Toro
A nossa jornada foi no sentido contrário e não tão épica assim. A região é muito linda e merece alguns dias de explorações, mas nós não tínhamos esse tempo, infelizmente. Estamos na pressa de conhecer Bocas del Toro e chegar à Cidade do Panamá, de onde já temos voo marcado para a República Dominicana (falo dessa “novela” nos próximos posts...). Tiramos algumas fotos e descemos para o lado de lá, até a cidade de Almirante, de onde saem os barcos para Bocas del Toro.
Viagem entre Almirante, na costa norte do Panamá, e o arquipélago de Bocas del Toro
Na lancha rápida, a caminho de Bocas del Toro, na costa norte do Panamá
Nossa ideia original era cruzar com a Fiona, mas logo mudamos de planos ao descobrir que o próximo ferry seria apenas na terça-feira (ontem era Domingo). Assim, achamos um estacionamento para nossa companheira de viagens e cruzamos de lancha mesmo. Barcos saem a cada hora de lá, um terminal que muito me lembrou daquele para quem atravessa para a Ilha do Mel. Como reza a tradição nesse tipo de travessia, logo compramos nossas cervejas geladas, para já ir entrando no clima.
Casas coloridas em Bocas del Toro, na costa norte do Panamá
Praça central de Bocas del Toro, na costa norte do Panamá
A lancha atravessa os canais da cidade, cercado de casas sobre palafitas e cheio de pessoas movimentando-se em suas canoas. A cena bucólica acabou quando chegamos em mar aberto. Aberto, mas com águas paradas como se fosse uma lagoa. As ilhas do arquipélago protegem a área das ondulações do oceano e o mar totalmente plano permite que a lancha acelere ao máximo. Não demorou muito e chegávamos à Isla Colón, a principal do arquipélago.
Pronta para pedalar até Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
Vencido pela subida e pela bicicleta defeituosa, no caminho para Boca del Drago, praia de Bocas del Toro, no litoral norte do Panamá, lado do Atlântico
Vinte minutos caminhando pelas simpáticas ruas cercadas de um casario colorido e histórico e encontramos um lugar para ficar que nos apetecesse. A charmosa cidade atrai surfistas e mochileiros de todo o mundo e tem muitos bons restaurantes para esse tipo de público (sem muito dinheiro no bolso). Mas as praias estão mais afastadas, tanto aqui na ilha como em outras, para onde só se pode seguir de barco.
Nosso caminho de bicicleta cruzando a Isla Colón até a praia de Boca del Drago
Pelo avançado da hora, ficamos por ali mesmo, curtindo nossa pousada em uma casa bicentenária e caminhando pelas ruas de Bocas el Toro (a cidade tem o mesmo nome do arquipélago). Aproveitamos também para decidir nosso roteiro por aqui. Para o dia de hoje, decidimos por uma longa “bicicletada”, até a praia de Boca del Drago, a mais bonita de Isla Colón. Para o dia seguinte, um passeio de barco por algumas das paisagens paradisíacas de Bocas del Toro.
Chegando à Boca del Drago, praia de Bocas del Toro, no litoral norte do Panamá, lado do Atlântico
Depois de muita pedalada, chegando à Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
E assim foi! Hoje cedo, alugamos duas bicicletas e fomos enfrentar a estrada que cruza toda a ilha até a praia famosa pela quantidade de estrelas do mar. São quase quinze quilômetros que, com uma boa bicicleta, não assustam. Mas esse não era o caso! Minha bicicleta estava permanentemente freada, o que dificultava muito, principalmente nas subidas. Tive de me render algumas vezes, descer da bicicleta e empurrar mesmo! Mas, com paciência, chegamos!
Caminhando pela praia em Boca del Drago, na Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
Caminhando pela praia em Boca del Drago, na Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
O esforço valeu a pena! Outra vez, mar de águas paradas, uma verdadeira piscina. Uma tonalidade verde-azulada difícil de descrever, linda! E lá estavam mesmo as estrelas do mar, dezenas delas, bem pertinho da praia. O estranho é que elas se concentram em apenas um curto trecho da praia. O que será que as atrai até lá? Não sei a resposta, mas sei que o resultado visual é magnífico, estrelas de várias cores, todas as tonalidades entre o branco e o vermelho, grandes e pequenas, uma verdadeira constelação!
Estrelas do mar, uma das atrações em Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
Uma das centenas de estrelas do mar em Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
Ficamos ali um bom tempo, entre o calor da praia, o frescor da água e o gelado da cerveja. Já no final da tarde, na hora de ir embora, descolamos uma condução, bicicletas encima da van e nós confortavelmente instalados lá dentro. O esforço para se chegar até lá pela manhã já havia sido o suficiente, hahaha.
Estrelas do mar em Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
A bela praia de Boca del Drago, a mais bela da Isla Colón, em Bocas del Toro, no litoral norte do Panamá, lado do Atlântico
Mas nossa ida até lá teve outra grande atração, além das estrelas. Um reencontro ainda mais impressionante do que aquele com a Tanee, dois dias antes. Caminhávamos tranquilamente pela praia quando alguém me chamou pelo nome. Demorei a reconhecer, mas ela deu a pista e tudo voltou à memória. Era a Elise, a luxemburguesa (minha única conhecida desse pequeno país!) que fez a caminhada conosco lá em Huaraz, no Perú há mais de 20 meses!. Por quatro dias cruzamos a Cordillera Blanca, numa das mais belas caminhadas desses 1000dias, e ela fazia parte do nosso grupo. Estudante de medicina, naquela época fazia um estágio em Lima, capital do país. Agora, já completando o curso, fez estágio em San Jose, na Costa Rica. O estágio terminou e ela aproveitou seus últimos dias no continente para conhecer Bocas del Toro. Está a caminho da Cidade do Panamá, de onde voa para a Europa. Acaba de ganhar uma carona para lá, de Fiona! Esse sim foi um reencontro impressionante! Quais eram as chances de acontecer? É ou não é um mundo pequeno? Muito legal! Infelizmente, ainda não tiramos uma foto com a antiga amiga, mas oportunidades não faltarão nos próximos dias!
Nadando entre estrelas do mar em Boca del Drago, praia de Isla Colón, em Bocas del Toro, no Panamá
Neve, por enquanto, só em fotos! (em Urubici - SC)
Nossa grande prioridade nesse giro rápido pelas serras catarinense e gaúcha é encontrar a neve. Assim, estamos sempre com um olho na previsão de tempo e com o outro no céu, olhando nuvens e montanhas. E sem esquecer o termômetro, claro! Nos intervalos dessa procura, aproveitamos para conhecer uma das regiões mais belas do Brasil!
Trabalhando no quentinho do hotel enquanto lá fora faz friiiio (Urubici - SC)
Mas, para aqueles que não são tão fanáticos por neve, esta não é a melhor época para visitar as serras. Afinal, fica muito difícil fazer as belíssimas caminhadas pelos campos de altitude e bordas dos canyons com o frio úmido que está fazendo. A neblina esconde as paisagens cnematográficas e não dá muita vontade de sair dos ambientes fechados. Cachoeiras, então, só de longe. Até o vapor que sai delas já é congelante, brrrrrrrr
Neblina na área campestre de Urubici - SC
Em compensação, para quem gosta de uma lareira, chocolate quente, vinho ou fondue, é a hora certa no lugar certo. Resumindo, é difícil fazer exercícios e muito fácil comer, comer e comer. Uma ótima chance para quem quer ganhar uns quilinhos a mais.
A Cachoeira Véu a Noiva, no caminho para o Morro da Igreja, em Urubici - SC
A previsão de neve é só para o domingo, se vier. Para ela ocorrer, tem de esfriar e, ao mesmo tempo, haver umidade suficiente. Umidade tem bastante, nesses dias. O frio vai chegar bem forte no domingo, mas junto com um ar muito seco. Então, a única chance será no domingo cedinho, quando ainda restar um pouco de umidade. Depois, com o frio ainda mais intenso, a promessa é de geadas bem fortes, tudo branquinho de gelo, mas não de neve.
Frio, vento e nuvens no alto do Morro da Igreja, ponto mais alto da região sul do país (em Urubici - SC)
Nós resolvemos hoje mudar de ares. Sair da cidade mais fria de Santa Catarina para a cidade mais fria do Rio Grande do Sul, o vigésimo terceiro estado brasileiro nesta nossa viagem. Ainda antes de deixar Urubici, no final da manhã, voltamos mais uma vez aos 1.800 metros do Morro da Igreja. Tudo branquinho lá em cima. Mas não era nem de neve nem de gelo. Só neblina! E um frio de 6 graus que, com o vento, deveria ser algo próximo de zero.
Observando a Pedra Furada com a visão infravermelha, no alto do Morro da Igreja, ponto mais alto da região sul do país (em Urubici - SC)
No caminho, ainda passamos em mais uma das belas cachoeiras da região, uma das 1.047 cachoeiras brasileiras com o nome de Véu de Noiva. Muito bela para fotos e um desafio aos mais corajosos entre os corajosos fanáticos por banho de cachoeira. Não é o nosso caso, pelo menos hoje...
Placa de trânsito comum na região de Urubici - SC
Depois, rumo ao Rio Grande, à cidade de São José dos Ausentes, onde está o ponto mais alto do estado, o Monte Negro, com pouco mais de 1.400 metros de altura. O caminho foi o mesmo de ontem, até Bom Jardim da Serra. De lá, estrada de terra e super bucólica, atravessando os campos de altitude entre os dois estados. Paisagem linda, os campos povoados por araucárias majestosas, árvore que é a cara do sul do Brasil.
Atravessando a bucólica fronteira entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no caminho entre as cidades mais frias do país
Nesta estradinha rural, numa ponte de madeira super pitoresca, cruzamos a fronteira. Lugar belíssimo! Engraçado é observar as pessoas aqui no interior desses estados e comparar com o que víamos no Nordeste e Norte, há apenas alguns meses. Que diversidade dentro de um mesmo país! Enquanto por lá víamos crianças morenas e mulatas, algumas com traços indígenas, correndo sem camisa e descalços pelos campos, aqui vemos crianças encapotadas, apenas umas mechas loiras escapando por entre os casacos e a touca de lã, olhos azuis que brilham de longe. Êêêê, Brasilzão!
Chegando ao Rio Grande do Sul, nosso 23o estado nesta viagem
A gente se instalou num hotel fazenda, bem ao lado do ponto mais alto do estado. Se for nevar, aqui é o lugar! Entrando no hotel, já fomos reconhecidos por um simpático casal de gaúchos, a Ana e o Orlei, que tinham visto nosso carro em Urubici e acessado nosso site. Juntos, tivemos um delicioso jantar de comida típica gaúcha no próprio hotel que oferece pensão completa, já que estamos bem longe da cidade. Para sexta e sábado, o negócio é aproveitar as belezas aqui por perto sem ligar para a neblina que promete cobrir tudo pelos próximos dois dias. Contagem regressiva para a neve de domingo de manhã!
As lojas aproveitam para vender artigos para o frio, em Urubici - SC
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