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VICTOR (17/10)
Boa tarde, Prabéns pelo site Tenho frequentado a região de Delfin...
Carol (05/10)
Olá Rodrigo, tudo bem !! Amei suas fotos e dicas. Gostaria de saber o no...
carlos (26/09)
Bom dia, Adirei as dicas, se possível me envia o contato do Sr. da lanc...
Leidiane (17/09)
fabio furlan (14/09)
oLA´! NESTE JANIRO DE ANO 2017 VOU DE CARRO PRA CHAPADA DOS VEADEIRO E D...
Festa na praia de Palm Beach, em Aruba
Nosso primeiro dia inteiro em Aruba foi de relax total. Nós estamos ficando numa espécie de studio a uns dois quilômetros ao norte de Palm Beach, onde estão os grandes hotéis e resorts da ilha. Ontem de noite, quando fomos lá passear, passamos num pequeno mercado e compramos um pouco de comida. Assim, ficamos autônomos na nossa pequena casinha em Aruba.
Novamente, o belo mar do Caribe! (Palm Beach - Aruba)
Foi bom ter feito isso porque ainda não alugamos um carro (faremos isso amanhã!) e à pé, onde estamos, não dá para fazer muita coisa não, exceto ir e voltar da praia bem em frente ao studio. Aliás, o mar tem aquela cor típica do Caribe, um azul cor de piscina que chega a brilhar. Parece que tem uma luz de neon embaixo. Nunca vamos esquecer a definição de uma americana para essa cor, quando estávamos nas Bahamas, no início da viagem: "eletric blue".
Vida mansa na piscina do nosso "apartamento" ao norte de Palm Beach - Aruba
Enfim, o nosso dia foi "gasto" entre a piscina do nosso hotel (são vários studios ao redor de uma piscina), a praia em frente (praia de coral) e o vento gostoso da nossa varanda, onde podíamos trabalhar e correr atrás do atraso dos nossos blogs. Com paciência e determinação, estamos chegando lá, hehehe.
Nosso hotel ao norte de Palm Beach - Aruba
No fim de tarde, um pôr-do-sol fantástico, como que para nos lembrar que estávamos no Caribe novamente. O céu se pintou de vermelho sobre aquele marzão azul (já não tão elétrico no final do dia), palco perfeito para muitas fotos, nossas e de quem mais estivesse por ali.
Nós não éramos os únicos a fotografar o maravilhoso pôr-do-dol em Palm Beach - Aruba
De noite, caminhamos novamente até Palm Beach. Hoje sabíamos que haveria uma festa por lá, na praia, com DJ e tudo. Tivemos que ir lá conferir, claro! Apesar de tudo em Palm Beach lembrar os americanos, que são seus principais frequentadores, hoje eram os holandeses que estavam dominando o pedaço. Afinal, Aruba ainda é ligada à Holanda, assim como Bonaire e para cá viajam famílias e jovens holandeses fugindo do frio europeu.
Hotéis e kite surfing em Palm Beach - Aruba
Quem está vindo semana que vem é a rainha da Holanda e a ilha já se mobiliza para a visita real. A língua oficial de Aruba é o holandes, mas é o papiamento que é mais falado, além do inglês, que quase todos compreendem. Papiamento é uma língua muito estranha, falada nas três ilhas do ABC. Na verdade, para nós brasileiros, é "estranhamente familiar", pois quando prestamos atenção, conseguimos entender muita coisa. Isso porque a língua é uma mistura de espanhol, português, inglês e holandes. Assim, tirando essa última parte, todo o resto são palavras muito parecidas com as nossas. Uma diversão minha e da Ana aqui é ficar ouvindo a rádio para tentar entender o que estão falando.
Lindo pôr-do-sol em Palm Beach - Aruba
Voltando à festa, foi do lado do mar, com o pé na areia. Os DJs eram bem mais ou menos, mas a animação do povo era grande. Todos querendo aproveitar ao máximo seus dias de férias no paraíso tropical. Só que, um pouco depois da meia noite a polícia acabou com a festa. Acho que os velhinhos dos resorts não estavam gostando muito do som alto àquela hora. Também queriam aproveitar ao máximo os seus dias na praia, hehehe.
Jantar na praia de Palm Beach, em Aruba
Amanhã cedinho vamos alugar um carro para rodar a ilha e ver o "país de verdade". O preço de aluguel do carro é quase o mesmo de uma corrida de táxi até o aeroporto. Assim, além da autonomia que ganhamos, sai praticamente de graça, se pensarmos por esse ângulo. Vamos ficar com ele até o dia seguinte, para devolvê-lo já no aeroporto, onde devemos estar antes das sete da manhã, rumo à Bonaire.
Curtindo festa na praia de Palm Beach, em Aruba
A maior colônia de albatrozes-de-sobrancelha do mundo, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Enfim, tiramos nossas fotos de todas essas aves, divertimo-nos com os sempre engraçados pinguins, principalmente quando caminham, e seguimos para nosso principal objetivo nesse desembarque: a gigantesca colônia de albatrozes. Mas para chegar até lá, tínhamos uma caminhada pela frente. Caminhada toda já marcada com as tais bandeirinhas sinalizadoras para evitarmos pisar fora da trilha.
Caminhada rumo à colônia de albatrozes em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Chegando à colônia de albatrozes em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
A vegetação de Steeple Jason, e de forma geral de todo o arquipélago, é muito frágil, já tendo que aguentar condições extremas de temperatura ao longo de todo o ano. Muito vento, chuva e neve e temperaturas que oscilam tremendamente ao longo do mesmo dia criaram um ambiente sem árvores, apenas fungos, liquens, gramíneas e arbustos. Aí vivem e dele dependem vários tipos de aves, como os gansos que não voam. Destruir a vegetação, mesmo que seja apenas caminhando sobre ela, vai afetar muito mais do que simplesmente aquela grama ou arbusto que você danificou. Temos de lembrar que não são apenas os passageiros do Sea Spirit a passar por lá, mas de dezenas de outros navios. A vantagem que temos é que somos o primeiro barco da temporada e todos os lugares que passamos ou vamos passar estão com essa aparência quase virgem, pois desde a última temporada que não passam turistas por aqui. De qualquer maneira, temos de cuidar para que o ecossistema se afete ao mínimo com nossa passagem por aqui.
O Brian e sua pequena máquina fotográfica em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Visita à maior colônia de albatrozes-de-sobrancelha do mundo, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Hoje são muito mais pessoas a visitar essas ilhas isoladas do que éramos há um século. Mas, seguindo os cuidados e regras, temos sido bem menos danosos também. Há 150 anos, por exemplo, houve uma “exploração” dos pinguins das Jason islands. Em apenas dois anos, mais de 2 milhões deles foram mortos e cozinhados, para extração de óleo. Felizmente, essa prática semibárbara ficou para trás. Já faz mais de uma década que toda a ilha de Steeple Jason foi comprada por um milionário americano que a doou para um instituto de defesa da vida animal. Por isso vemos as aves tão tranquilas por aqui. A única coisa que causa um certo distúrbio no seu ecossistema são esses estranhos seres amarelos que vem aos milhares durante o verão para chegar perto deles par observar e tirar fotos. Somos quase todos “amarelos” pois essa é a cor da nossa “parka”, nome dado a espessa jaqueta que nos é presenteada no navio. Além de servir para nos proteger do frio, com essa cor “forte”, ajuda também os guias a nos vigiar de longe. Mas há espaço também para aqueles que gostam de se sentir diferentes. Eu, por exemplo, sempre que posso, prefiro minha jaqueta azul. Primeiro, pela história e conforto dela. Segundo, exatamente para não ser igual a todo mundo. Sou a ovelha azul no rebanho amarelo, hehehe. Freud explica...
Os passageiros do Sea Spirit observam a maior colonia mundial de albatrz-de-sobrancelha, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas (foto de Vladimir Seliverstov)
Com tantos pássaros a sua volta, o Jim, ornitologista do Sea Spirit, só poderia estar sorrindo! (em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas)
Visita à maior colônia de albatrozes-de-sobrancelha do mundo, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Enfim, tivemos a chance de caminhar um pouco, com o devido cuidado, por essa paisagem magnífica da ilha, exatamente como eu imaginava que seria as ilhas Malvinas. Vento, muitas colinas, algumas escarpas e sensação de isolamento, A falta de árvores nos ajuda a ver longe e, para onde olhamos, não há sinal de civilização. Apenas a natureza. A natureza e as “ovelhas amarelas”, ou pinguins amarelos, como é o jeito que nos denominamos, andando sempre em fila, como eles. Para fugir disso, basta andar na frente ou olhar para o outro lado, hehehe. Mas a preocupação com os pinguins amarelos acaba quando viramos a curva e damos de frente com um verdadeiro mar de albatrozes, nossos olhos e ouvidos tomados pela visão e audição de uma cena quase bíblica.
A Ana fotografa a maior colônia do mundo de albatroz-de-sobrancelha em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas (foto de Jeff Orlowski)
A maior colônia de albatrozes-de-sobrancelha do mundo, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
São mais de 200 mil deles, até onde a vista alcança. Os albatrozes-de sobrancelha são a espécie mais comum desse tipo de ave e aqui é seu principal lar. O nome da espécie certamente vem dos olhos marcados, quase como se tivessem feiro uma maquiagem “matadora” para sair de noite e achar um parceiro. Chegam a ter cara de mal. Mas não são. Ao contrário, são extremamente graciosos no ar, sua envergadura uma das maiores do mundo, perdendo apenas para outras espécies de albatrozes. E em terra, nos poucos meses que moram por aqui, estão apenas preocupados em defender seus ovos e seus espaço.
Um albatroz-de-sobrancelha toma conta de seu ovo em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas (foto de Melissa Bartlett)
Um albatroz-de-sobrancelha choca seu ovo em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
O engraçado é que, entre eles, numa mostra clara de cooperação, vive um outro tipo de pinguim, bem menor que os gentoo. São os “Rockhoppers”, ou “saltadores de pedras”. O nome vem justamente daí. Enquanto outras espécies de pinguins preferem dar a volta em obstáculos como pequenas pedras e buracos, os rockhoppers não se intimidam e logo arriscam seu saltos. Se já são desajeitados caminhando, imagina pulando! Enfim, eles não parecem ter esse inútil senso de ridículo que nós temos, e pulam mesmo. Umas fofuras, na falta de melhor palavra!
Pinguins rockhopper caminham tranquilamente em meio à colônia de albatrozes em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Pinguins rockhopper em meio à colônia de albatrozes em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Pois bem, medindo apenas 50 cm e pesando 3 kg, eles são muito mais vulneráveis aos ataques de aves de rapina. Mas não aqui, no meio dos barulhentos, mas pacíficos albatrozes. E estes parecem apreciar sua companhia também, mais um par de olhos para proteger seu espaço e ovos. Os rockhoppers se caracterizam por umas penas, ou penacho amarelo na altura da sobrancelha. Também ficam com uma cara de mal, assim como os albatrozes. As vezes, é até por isso que combinam, hehehe. Numa primeira olhada, parece que as penas amarelas são seus olhos. Mas, na verdade, os olhos estão um pouco abaixo e tem coloração avermelhada. Quando fitamos os olhos de verdade, eles até parecem mais simpáticos. Quando fitamos as penas amarelas, aí parecem vilões. Ou que fazem parte de alguma banda de rock heavymetal!
Um dos pássaros com maior envergadura de asas do mundo, um albatroz-de-sobrancelha voa sobre sua colônia, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Um dos pássaros com maior envergadura de asas do mundo, um albatroz-de-sobrancelha voa sobre sua colônia, em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
O “black-browed albatroz” (nome em inglês) mede cerca de 90 cm de altura, mas tem uma envergadura de asas que chega aos 2,4 metros. Seu peso não chega aos 5 kg e ele vive quase 70 anos. Eles vivem em várias ilhas ao redor da Antártida, nos três oceanos, mas a maioria está aqui, nas Malvinas, em Steeple Island. Pelo menos na estação da reprodução. Senão, o seu ambiente é mesmo o mar aberto, onde acham a sua comida, frutos do mar em geral. Voltam à terra firme para se reproduzir e o casal se reveza para chocar o ovo da família. Serão 70 dias de encubação e depois, mais quatro meses até que o filhote aprenda a voar e tomar conta de si. Essa filhote retornará a colônia onde nasceu depois de dois ou três anos, para começar a praticar o namoro. Mas só estará realmente apto ao acasalamento depois de 10 anos.
Casal de albatrozes-de-sobrancelha em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Um casal de albatrozes troca carinhos em sua colônia em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Bom, aí ficamos, ao lado desse gigantesca colônia, observando, aprendendo e nos divertindo com os hábitos dessa lindas aves. O Jim respondia nossas perguntas e nos apontava coisas interessantes, ele mesmo felicíssimo de estar ali e podendo observar essa verdadeira maravilha da natureza. A soma dos barulhos é incrível, uma intensa comunicação entre eles, sempre dizendo: “Ei, chega para lá! Esse lugar é meu! Você viu minha esposa por aí? Não vem que não tem!”. Enfim, ao mesmo tempo que percebemos a tensão entre vizinhos, o carinho e confiança entre o casal também é explícito. E a fila de pinguins rockhoppers andando no meio essa confusão geral é hilária!
Albatrozes-de-sobrancelha descansam em sua colônia em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Um albatroz-de-sobrancelha emite um som estridente em sua colônia em Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas
Por fim, era hora de partirmos, muita coisa nos esperando pela frente, Isso foi apenas o começo. Um começo com chave de ouro, com tantos pinguins, caracarás e, principalmente, albatrozes. Todo mundo de volta para o barco onde um reconfortante chá quente nos espera. Depois, temos o almoço enquanto navegamos para a próxima ilha, Carcass Island.
Depois do passeio no frio da ilha de Steeple Jason, no noroeste das Ilhas Malvinas, um chá quente a bordo do Sea Spirit
Atravessando as planícies e enormes fazendas de Mato Grosso
No meio da tarde do dia 20, estávamos de volta à terra firme, ao solo brasileiro, na pacata cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia. Duas principais estradas saem daí: uma para o norte, ao longo da fronteira, até se encontrar com a rodovia que liga Rio Branco à Porto Velho. A outra vai na direção leste, cortando o interior do estado, passando pela linda região do Parque Nacional dos Pacaás Novos e se encontrando com a rodovia que liga Porto Velho à Mato Grosso.
Veja nossa rota por Rondonia e Mato Grosso num mapa maior. Saímos de Guajará-Mirim e seguimos para Porto Velho, onde dormimos. No dia seguinte, fomos até Vilhena, quase na fronteira. No dia seguinte, seguimos até Caceres, já no sul de Mato Grosso. POr fim, passando ao largo de Cuiaba, seguimos até Nobres
É claro que nossa melhor opção seria essa última, já que já tínhamos passado por Porto Velho antes. Além disso, teríamos a chance de conhecer e explorar mais um parque nacional. Pois é... seria! Não fosse um pequeno detalhe: a rodovia também atravessa território indígena e um trecho de uns poucos quilômetros está interrompido. Para passar por lá, só com o bom humor dos índios e um caro “pedágio”. Mas, pelo que nos informaram, faz tempo que eles não estão de bom humor e então, ninguém passa na estrada. Esse Parque Nacional vai ter de esperar e nós seguimos para o norte mesmo, de volta à Porto Velho.
Enfrentando filas por causa de obras nas estradas de Rondônia
O lado bom dessa história é que pudemos rever nosso amigo Rodrigo que, novamente, nos recebeu de portas abertas em sua casa na capital de Rondônia. Mas dessa vez, foi uma visita rápida, afinal tínhamos muito chão pela frente: cruzar todo o estado de Rondônia e boa parte do estado de Mato Grosso, até a região de Cuiabá, onde tínhamos muita coisa para ver e conhecer.
A Ana se delicia com uma picanha na chapa com muito queijo derretido, em Vilhena, em Rondônia
Assim, no dia 21 pela manhã, partíamos novamente. Seguindo pela principal rodovia do estado, passamos pelas maiores cidades de Rondônia depois da capital, Ariquemes, Ji-Paraná e, finalmente, Vilhena, quase já na fronteira. Estrada boa, fora um trecho em obra onde tivemos de amargar quase uma hora na fila. Paisagem quase sempre plana e de grandes fazendas, uma das mais ativas fronteiras agrícolas do país.
A Ana se delicia com uma picanha na chapa com muito queijo derretido, em Vilhena, em Rondônia
Chegamos à Vilhena já no escuro e aí resolvemos passar a noite. Cidade boa, bons hotéis, restaurantes e noite movimentada. Nós, morrendo de saudades já há tempos, fomos nos deliciar com uma picanha na chapa encoberta por queijo derretido. Não que estivesse espetacular, mas fazia tanto tempo que não víamos algo assim que, para nós, foi um verdadeiro banquete! Nossa despedida com chave de ouro do estado de Rondônia.
As novas amigas do lavajato em Vilhena, em Rondônia, que ajudaram a deixar a Fiona limpinha, depois de tanta poeira na Bolívia
No dia seguinte, pela manhã, a Ana levou a nossa Fiona para um delicioso e merecido banho, depois dos 1.000 km de estradas de terra na Bolívia. O pó havia entrado em todos os buracos da carroceria e nossas malas e mochilas estavam cor de adobe! Com a ajuda das meninas do lava-jato, as mais novas amigas da minha social esposa, a Fiona e as malas ficaram um brinco! Prontas para a próxima etapa da viagem.
As novas amigas do lavajato em Vilhena, em Rondônia, que ajudaram a deixar a Fiona limpinha, depois de tanta poeira na Bolívia
E assim, bem limpinhos, entramos em mais um estado da federação, o penúltimo que nos faltava nesses nossos 1000dias pelas Américas e pelo Brasil. Ficava para trás a região norte e adentrávamos a região Centro-Oeste, onde só havíamos estado em Goiás e Distrito Federal. Chegou a hora de fechar essa lacuna!
Chegando á fronteira de Rondônia e Mato Grosso, o penúltimo estado que ainda não havíamos visitado
O norte de Mato Grosso também é uma extensa planície, lotada de enormes e produtivas fazendas. A exceção é a Chapada dos Parecis, uma região de montanhas e paisagens grandiosas da qual, infelizmente, só pudemos passar ao largo e ver de longe. Para ser devidamente explorada, precisaríamos de alguns dias que realmente não temos agora. Mais um motivo para voltarmos para essas bandas!
Passando ao largo da Chapada dos Parecis, no Mato Grosso
Por fim, já no final do dia, chegamos à histórica Cáceres, na beira do rio Paraguai. Cidade conhecida de todos os amantes da pesca do Brasil e do mundo, afinal aqui se realiza um dos mais importantes torneios de pesca esportiva do mundo, todos os anos. “Matéria-prima” não falta, já que está na beira do Pantanal e de suas centenas de espécies de peixes.
Nosso restaurante com música ao vivo em Cáceres, no Mato Grosso
Aqui passamos a noite, já aprendendo a lidar com o forte e típico calor mato-grossense. Antes da cama, ainda fomos passear no centro e comer na praça, em um dos muitos restaurantes com mesas na calçada, a brisa que sopra do rio Paraguai o nosso ar condicionado natural. Aqui, tivemos direito à música ao vivo (sertaneja, é claro!) e um cardápio com vários pratos típicos, incluindo muitas opções com carne de jacaré! Antes que ecologistas reclamem, essa carne vem de fazendas onde os pobres bichinhos são criados exatamente para isso: terminar no prato de alguém, um gosto meio de frango com a consistência de peixe, mas um pouco mais firme. Carne da cauda, o filé do jacaré.
Carne de jacaré no cardápio de restaurante em Cáceres, no Mato Grosso
Na manhã de hoje, ainda demos outra volta na praça e nas ruas com casas centenárias. Na praça, em frente à igreja, um raro monumento ao Tratado de Madrid, de 1750, firmado entre Portugal e Espanha, um dos poucos que ainda existe no mundo. Esse tratado foi aquele que finalmente substituiu o Tratado de Tordesilhas, que já era letra morta há muito tempo. Afinal, segundo Tordesilhas, as terras portuguesas no Brasil terminavam muito mais à leste, cobrindo apenas parte dos atuais Nordeste e Sudeste brasileiros. A própria cidade de Cáceres, muito mais a oeste da linha imaginária, era a prova viva d que Tordesilhas já não valia mais nada. Foi o Tratado de Madrid que regularizou essa situação, definindo em boa medida os atuais contornos do Brasil. Esse monumento não poderia estar em melhor lugar e explica porque, em Cáceres, se fala português e não, castelhano!
Um dos raros monumentos ao Tratado de Madri que ainda estão de pé, na cidade de Cáceres, no Mato Grosso
Bom, caminhada feita, com direito a um sorvete gelado para combater o calor, era hora de, mais uma vez, pegarmos estrada. Afinal, a principal atração da cidade, a pesca, não é muito o nosso forte. Assim, pé na tábua em direção à região de Cuiabá. Aí sim queremos explorar muito! A própria capital, o Pantanal, ao sul, a Chapada dos Guimarães, ao norte, e a região de Nobres.
Monumento ao Tratado de Madri, que finalmente enterttou o Tratado de Tordesilhas, na praça central de Cáceres, no Mato Grosso
Pois é, era exatamente por Nobres que queríamos começar. Faz tempo que ouvimos falar desse lugar, suas cavernas e cachoeiras, rios de água transparente e a fama de ser uma nova “Bonito”. Olhando no mapa, seria o lugar mais lógico para começarmos.
E assim foi, chegamos com o dia escurecendo na periferia de Cuiabá e já tomamos a estrada para o norte, a famosa Cuiabá-Santarém. Após um dia longo de estradas, ainda tivemos de lidar com um complicado trânsito de grandes caminhões, as carretas que carregam a produção rumo ao norte, para serem embarcadas para o exterior no rio Amazonas.
O rio Paraguai, na cidade de Cáceres, no Mato Grosso
Com muita paciência, chegamos à pequena cidade, vimos de longe seus três hotéis e escolhemos o mais simpático deles. Estava bem cheio, sinal de que os turistas já descobriram o lugar, pensamos. Errado! Não eram turistas, mas trabalhadores de uma grande empresa na região. Aí, fomos falar com a simpática dona e ela nos revelou a surpresa: na verdade, Nobres não é em Nobres!
A igreja matriz de Cáceres, no Mato Grosso, na praça central da cidade
Como assim??? Pois é, todas as atrações e fotos que conhecíamos da cidade ficam no distrito de Bom jardim, a 60 quilômetros dali, por estrada de terra! Pior, para quem vem de Cuiabá, há uma estrada direta para lá, muito bem asfaltada e sem nenhum trânsito de caminhões. Embora o distrito pertença à Nobres, e por isso a fama da cidade, Bom Jardim tem vida própria, com suas pousadas e restaurantes. Ou seja, Nobres é em Bom Jardim!
Dia lindo na cidade de Cáceres, no Mato Grosso
Bom, naquela altura dos acontecimentos, decidimos dormir por ali mesmo. Amanhã cedo, então, enfrentamos a estrada de terra e vamos para a Nobres de verdade, a pequena Bom Jardim. Rios e cachoeiras nos esperam como recompensa desse último esforço!
O atual continente americano
Apesar de estarmos sempre falando em América do Norte, do Sul e Central, ou América Latina e Anglo-saxônica, o fato é que todas elas formam um só continente, a famosa América, aquela que estamos explorando por esses mil e tantos dias. Mas não foi sempre assim. Na verdade, até bem recentemente, pelo menos em termos geológicos, América do Sul e América do Norte eram, sim, continentes distintos, separados por um oceano.
Por bilhões de anos, continentes e oceanos tem sido criados, separados, destruídos e juntados novamente, num verdadeiro balé de dimensões planetárias. Se um de nós voltasse no tempo, apenas alguns bilhões de anos, e olhasse para o nosso planeta do alto, não o reconheceria, uma configuração geográfica completamente diversa da que temos hoje. Através de “marcadores” como o alinhamento magnético de rochas antigas, ou pela similaridade de fósseis pré-históricos, cientistas foram capazes de decifrar parte dessa história e de antigos supercontinentes. Épocas em que partes do Brasil encostavam com a Índia ou Austrália, ou que o nordeste dos Estados unidos tocava a África do Sul.
O possível aspecto do supercontinente de Rodinia, há um bilhão de anos
Obviamente, quanto mais antigos esses supercontinentes, menos se sabe sobre eles. Ur, Columbia, Rodinia, Pannotia são apenas alguns deles, cada um existindo por algumas centenas de milhões de anos e depois, separando-se outra vez. Finalmente, as ilhas e continentes se juntaram uma última vez, há cerca de 300 milhões de anos, num supercontinente chamado Pangeia, este sim, um pouco mais conhecido por todos nós. A união durou pouco e “apenas” 100 milhões de anos mais tarde, Pangeia se dividiu em duas, Laurasia ao norte e Gondwana ao sul. O que conhecemos hoje como América do Norte, junto com Eurásia (sem a Índia!), formava o continente do norte, enquanto a nossa América do Sul, junto com África, Austrália, Índia e Antártica, formava o gigantesco continente do sul.
O supercontinente de Pangeia, há 300 milhões de anos
Não demorou muito para que também esses continentes se “quebrassem” em pedaços menores. A América do Sul separou-se, tornando-se uma enorme ilha-continente. Algumas dezenas de milhões de anos mais tarde, foi a vez da América do Norte separar-se da Eurásia, embora gigantescas pontes de gelo continuassem a uni-las a cada nova era glacial. Em cada um desses novos continentes separados, fauna e flora se desenvolveram e evoluíram separadamente, criando formas distintas de vida a partir de antepassados comuns, aqueles que habitavam a antiga Pangeia.
Pangeia se divide em dois supercontinentes: Laurasia, ao norte, e Gondwana, ao sul
Bem recentemente, um piscar de olhos em termos geológicos, América do Sul e do Norte se aproximaram uma da outra, fechando aos poucos a ligação entre os Oceanos Pacífico e Atlântico. Agora, apenas pouco mais de mil quilômetros separavam as Américas. Só estava faltando aquele pedaço de terra que hoje chamamos de América Central. Foi quando, há 3 milhões de anos, grandes erupções vulcânicas levantaram o Panamá e criaram a estreita ponte que une o sul ao norte. Nascia, enfim, a América!
A migração de espécies entre as duas Américas. Em verde, animais originários da América do Sul e, em azul, animais originários da América do Norte
Prontamente, a fauna dos dois continentes começaram a migrar pela nova ponte natural, tentando ocupar novos nichos. Predadores e presas, herbívoros e carnívoros, répteis, aves e mamíferos, todos queriam “explorar” novos espaços. Essa verdadeira mistura de espécies, o maior evento biológico desde a extinção dos dinossauros, aconteceu bem aqui, no nosso continente. De forma geral, a fauna do norte levou a melhor, enquanto que a fauna do sul, que havia estado isolada por mais tempo, tornando-se mais especializada, não resistiu às novas condições de competição. Com raras exceções, como por exemplo, as preguiças-gigantes, foi a fauna do norte que se impôs. Os grandes predadores do sul, como crocodilos gigantes e os “pássaros do terror”, tiveram seus ovos comidos pelos pequenos mamíferos do norte enquanto os grandes herbívoros do norte, já acostumados com seus próprios predadores. desalojaram os herbívoros do sul. A fauna marsupial, que havia se originado na América do Sul para depois migrar para a Oceania, ainda nos tempos da Gondwana, teve se se refugiar em pequenos nichos em sua terra natal.
Após essa mistura vitoriosa para o norte e catastrófica para o sul, a vida nas Américas se estabilizou, passando a conviver com as eras glaciais que iam e vinham a cada 20 ou 30 mil anos, alterando as condições de clima e vegetação do continente, nada com que as espécies não pudessem lidar, como mostra a história dos fósseis. Uma extinção aqui, outra ali, mas nada de chamar a atenção. Até que, ao final da última glaciação, há cerca de 12 mil anos, uma onda de extinções tomou conta de todo o continente, acabando com quase toda a megafauna que habitava as Américas há mais de um milhão de anos. O que teria sido diferente dessa vez?
Fóssil de uma antiga preguiça gigante, animal originário da América do Sul e que migrou para a Améica Central
Infelizmente, tudo parece indicar, foi a presença de um novo “fator”, ou ator, no continente. Bem nessa época chegavam por aqui os paleoíndios, vindos da Ásia e, possivelmente, do Pacífico. Os antepassados longínquos dos índios encontrados por Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral não eram assim, tão “ecológicos” como gostamos de imaginar. Caçando à exaustão espécies que já vivam sob o stress das mudanças climáticas da época, animais que já viviam por aqui há centenas de milhares de anos não puderam resistir e foram extintos. Animais como os famosos mamutes, mas também camelos, preguiças-gigantes, enormes tartarugas e tatus, entre tantos outros. Uma notável exceção foram as manadas de bisões na América do Norte. Talvez por isso e com esse duro aprendizado, acabaram se tornando animais quase sagrados para as populações locais, que agora sim, os respeitavam. Foi preciso a chegada do homem branco para que, também eles, quase fossem extintos.
A causa humana dessa catastrófica extinção em massa ainda não foi completamente provada. Mas, a coincidência de eventos semelhantes na Austrália, Nova Zelândia, Japão e outras ilhas menores, onde grandes extinções coincidiram com a chegada da nossa espécie, parecem ser um bom indicativo. É interessante notar também que, nas áreas do globo onde a presença humana é mais antiga e a própria fauna local evoluiu conjuntamente com a nossa espécie, como na África e no sul da Ásia, essas extinções não ocorreram. Lá, os grandes animais aprenderam, de alguma forma, a conviver com a mais perigosa das espécies. Em terras como a América ou a Austrália, onde os humanos apareceram de uma só vez, as espécies de animais não tiveram tempo de se adaptar ao novo predador e o seu destino foi implacável: extinção.
Paleoíndios caçam um antigo tatu gigante
Enfim, 200 milhões de anos depois da Pangeia se separar, 3 milhões de anos depois que os animais começaram a cruzar a novíssima ponte natural entre América do Norte e do Sul, 12 mil anos depois que humanos caminhassem de um continente ao outro, chegou a vez de nós, o 1000dias, passássemos do Panamá para a Colômbia, da parte norte para a parte sul desse continente chamado América. Assunto para o próximo post...
A Ana dá um mergulho na paradisíaca praia da sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Como bons curitibanos que somos, a Ana natural e eu, adotado, conhecemos e frequentamos bastante o litoral de Santa Catarina. Especialmente na sua parte norte, entre Florianópolis e a fronteira com o Paraná. Nesse trecho da costa, certamente se destaca a península de Bombinhas, com seu litoral entrecortado e cheio de praias, cada uma com personalidade própria. Pouco mais de duas horas de carro (sem trânsito!) nos levam de Curitiba até essa parte do litoral catarinense e fizemos esse passeio diversas vezes antes de começarmos nossos 1000dias. Ainda mais que uma tia da Ana tem casa na praia de Bombas. Além disso, em uma das muitas baías formadas na península, é realizada uma tradicional travessia de nadadores, esporte que eu a Ana sempre adoramos fazer.
Nosso curto caminho entre a península de Governador Celso Ramos e a península de Bombinhas, ao norte de Florianópolis, litoral de Santa Catarina
Enfim, talvez por causa de nos ser tão familiar, deixamos essas praias e esse trecho do litoral brasileiro para os últimos dias da nossa jornada pela América. Agora, depois de já termos batido a mão lá no Alaska e na Terra do Fogo, depois de termos explorado as praias quentes do Caribe e do Havaí e as praias frias da Groelândia e das Malvinas, chegou a vez de “re-explorarmos” nossas velhas conhecidas. Afinal, mesmo sendo nossa vizinha, Bombinhas também é parte da América e, por isso mesmo, do nosso roteiro!
Caiaque na praia de Bombas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Contornando o costão de pedras entre Bombas e Bombinhas, litoral de Santa Catarina. Ao fundo, a penha praia do Ribeiro
A península fica a umas poucas dezenas de quilômetros ao norte de Florianópolis e a uns poucos quilômetros ao sul de outro colosso do litoral catarinense, Balneário Camboriú (ainda chegaremos lá!). Ela forma o menor município do estado, com apenas 34,5 km2, chamado justamente de Bombinhas, também o nome de sua praia mais famosa. Até 1992, quando o município foi criado, era tudo parte de Porto Belo, a bela cidade (como já diz o próprio nome!) que fica na entrada da península, famosa por suas baías pitorescas e por ser o lar da família Schurmann, aquela que deu a volta no mundo de barco.
No nosso primeiro dia na península, uma caminhada pela praia de Bombas a Bombinhas, passando pela praia do Ribeiro. Depois, praias da Lagoinha e Sepultura e trilha até a ponta de pedra. Seguem-se Retiro dos Padres e Quatro Ilhas. A volta, de noite, foi pe
Nós chegamos ontem de tarde, vindos de Florianópolis com direito à parada nas praias de Governador Celso Ramos. Viemos diretamente para o apartamento da Tia Walkiria, que fica em outra praia da península, chamada Bombas. Engraçado esses nomes, “Bombas” e “Bombinhas”! Pode até parecer que “Bombinhas” tem esse nome porque é uma versão menor da praia de “Bombas”, mas não é isso. “Bombas” vem do barulho que as ondas fazem ao estourar nas pedras que delimitam essa praia. Já o nome “Bombinhas” vem do barulho que ouvimos ao caminhar e pisar nas areias dessa praia, formada por cristais de quartzo.
Depois de contornar o costão de pedras, chegando à praia de Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Bem, chegamos e nos instalamos no nosso lar pelos próximos dias. Tem muita praia para se explorar por aqui, a maioria das quais já conhecemos, mas também aquelas que ainda não tivemos a chance de ir. Dessa vez, nada vai escapar! E para começar, ainda ondem de noite, fomos até as areias da praia de Bombas. O apartamento da Tia Wal está a apenas dois quarteirões do mar e dá até para escutar o barulho das ondas. Irresistível! Então, para lá fomos, a segunda praia mais movimentada de Bombinhas. Nesta hora da noite, deserta como qualquer praia perdida. Mar tranquilo, poucas ondas, exceto em uma de suas extremidades, procurada por surfistas naqueles dias bons. Fizemos um bate e volta em suas extremidades, uma distância de quase dois quilômetros, sempre guiados pela noite estrelada. Tanto esforço foi recompensado com um delicioso jantar em um dos restaurantes a beira-mar.
Placa com o mapa mostrando a nossa localização em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
A Ana dá um mergulho na paradisíaca praia da sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Hoje, dia de sol, resolvemos dar uma folga para a Fiona e fazer nossas explorações a pé mesmo. As praias do norte da península podem ser conhecidas assim, numa longa caminhada. Começamos por Bombas mesmo, mas apenas o canto leste da praia, sentido das outras praias de hoje. Fomos de sandálias, para poder caminhar nas pedras e trilhas que separam uma praia da outra e descalços enquanto estivéssemos nas areias das praias do caminho.
O fantástico e bucólico visual da praia de Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
O fantástico e bucólico visual da praia de Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Entre Bombas e Bombinhas há um morro por onde sobe a estrada. Lá de cima, uma bela vista para as duas praias. Foi por aí que viemos de noite, já no nosso caminho de volta. Mas, pela manhã, enfrentamos mesmo o costão de pedras que separa as duas praias. Não é difícil, mas leva um pouco de tempo. Certamente, muito mais agradável do que subir e descer o morro a pé, desde que haja luz do dia para iluminar o caminho. No meio das duas praias mais famosas e urbanizadas da península, dividindo o costão de pedras em dois, a pequena praia do Ribeiro, onde o mar forma quase uma lagoa cercada de muito verde. Um convite irresistível para um mergulho refrescante. Depois, sandálias novamente e mais pedras para chegarmos à Bombinhas.
O fantástico e bucólico visual da praia de Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
O fantástico e bucólico visual da praia de Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Pouco mais de um quilômetro de areias, orla completamente urbanizada, prédios baixos e muitas famílias frequentando a praia. Assim é Bombinhas. Isso sem falar do mar azul esverdeado que faz a fama de toda a península! Aliás, foi essa beleza que atraiu Leopoldo Zarling, a primeira pessoa a construir sua casa de veraneio por aqui, na praia da Sepultura, em 1966. Hoje esse pioneiro virou o nome da principal avenida que liga Bombinhas a Bombas (aquela estrada que passa em cima do morro!) e daí a Porto Belo. Empreendedor, foi ele também que abriu o primeiro loteamento do município, na praia de Bombas, seguido pelo loteamento na para de Bombinhas. Daí para a emancipação política e para virar nome de avenida, foi um pulo!
O mar tranquilo da praia de Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Trilha da Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Caminhamos então por toda a extensão de Bombinhas e seguimos adiante. Como sabem, preferimos as praias menos urbanizadas! Um trilha ao longo do costão de pedras nos leva até a pequena praia da Lagoinha. Como já diz o próprio nome, o mar é tão tranquilo por aqui que parece que estamos em uma lagoa. Com muitas pedras e antigos corais, forma um pequeno aquário natural. Por isso, é muito frequentada para se fazer snorkel. Mas o nosso pique era continuar, ainda tínhamos um longo caminho pela frente.
Na ponta da Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Na ponta da Sepultura, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Logo após a Lagoinha, está a praia da Sepultura, aquela escolhida pelo pioneiro Leopoldo Zarling. O nome sombrio, aparentemente, vem da sepultura de um escravo que morreu aqui numa briga em meados do séc. XIX. Muito mais importante do que isso é a própria beleza da pequena praia, um lugar idílico, apenas uma minúscula extensão de praia cercada pelo verde da mata e pelo verde do mar. realmente, um pequeno paraíso que faz a alegria de fotógrafos e banhistas. Ponto alto da caminhada! Não é a toa que foi nessa pequena praia que demos nosso mais longo mergulho do dia.
No fim de tarde, chegando à praia de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
No fim de tarde, chegando à praia de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
A praia da Sepultura fica na entrada de uma pequena península com o mesmo nome. A área é uma reserva e uma trilha ecológica nos leva até a ponta da península. Depois da urbanidade da praia de Bombinhas, é um passeio bucólico por bosques e campos abertos até uma pequena ponta de pedras em meio ao mar azul. Uma delícia e um convite a reflexão, ficar sentado ali nas pedras admirando o oceano, embalado com o barulho das ondas.
Praia de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Depois, meia volta, volver! De volta para a entrada da reserva e daí para outra praia bem pouco frequentada na península, uma espécie de segredo. É a praia dos Ingleses ou o “Retiro dos Padres”. Esse nome vem do fato que, um ano após a chegada de Leopoldo Zarling, que chegou foram os padres salesianos que construíram nessa praia um retiro para eles. Muito bom gosto, tem esses salesianos! A praia não é grande, mas já é bem maior que a Lagoinha e a Sepultura. Muito antes dos padres, ainda no séc. XIX, um barco inglês ficou avariado no local, razão do nome original da praia.
A praia de Mariscal vista do mirante da praia de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
Para irmos até nossa última praia do dia, não teve jeito. Tivemos de deixar a areia e as pedras para trás e nos conformarmos com ruas e calçadas. Não foi um trecho longo e valeu muito a pena. Afinal, o destino era a mágica praia de Quatro Ilhas. Apesar de sua grande extensão, também ela escapou da urbanização sofrida por Bombas e Bombinhas. Há casas sim, especialmente no lado esquerdo da praia, mas o ar natural ainda predomina. Chegamos aí já no final da tarde, mas ainda tivemos tempo de caminhar pelo quilômetro de areias até sua extremidade sul, trecho mais deserto da praia. Aí, uma trilha sobe o pequeno morro e nos leva até um mirante de onde podemos observar bem todas as ilhas que dão nome à praia. Entre elas, as três que compõe a Reserva do Arvoredo (o nome da maior das ilhas), o principal ponto de mergulho do sul do país. Quer dizer, foi! Desde a criação da reserva, no ano de 2000, que o mergulho recreativo foi proibido por lá. Tristeza para os mergulhadores, alegria para os corais e fauna local, que vêm se recuperando desde então. É claro que o problema maior não estava nos mergulhos, mas na pesca que também era realizada. Hoje, apenas a parte sul das ilhas, fora da área da reserva, ainda permite essas atividades. Mas o mergulho por ali está longe de ter a qualidade que se tinha do outro lado.
No fim de tarde, um pássaro nos sobrevoa curioso, no mirante da trilha de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
No fim de tarde, um pássaro nos sobrevoa curioso, no mirante da trilha de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
O que também se pode ver do alto do morro é a próxima praia da costa, Mariscal. Mas essa estava longe demais para o nosso passeio de um dia. Fica para amanhã, de carro, quando vamos explorar essa outra parte da península. Hoje, queríamos mesmo era aproveitar as últimas luzes ali, tranquilos, vendo o mar e sendo observados por aves curiosas com os raros visitantes humanos que chegam até ali. Terminado o espetáculo, de volta para a entrada da praia, onde nos esbaldamos num bar tradicional de um argentino hippie que foi um dos pioneiros da praia. Depois, sem muitas alternativas, o longo caminho de volta para casa, dessa vez sob a segurança da iluminação pública, sempre pela avenida que homenageia o pioneiro empreendedor. Sobe morro, desce morro, estávamos de volta a Bombas e ao nosso lar, felizes com o dia cheio e saudável de praias e caminhadas. Bombinhas está só começando...
Trilha no final da praia de Quatro Ilhas, em Bombinhas, litoral de Santa Catarina
As magníficas paredes coralíneas durante mergulho na costa sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
O sol brilhava e nós navegávamos para a costa sul da ilha, onde há um parque nacional marinho protegendo as belíssimas paredes de coral, perfeitas para mergulhos. Até agora, tudo estava perfeito na nossa longa e intensa programação do dia, que tinha começado com uma caminhada até uma cratera de vulcão onde há um lago de águas ferventes, passado por um estreito canyon onde um rio esconde duas belas cachoeiras e que terminaria agora, com um mergulho relaxante nas águas tranquilas e transparentes de Dominica.
A caminho dos maravilhosos pontos de mergulho nas parades submersas de Dominica, no Caribe
Pulamos na água acompanhado de um guia e seu assistente, ninguém mais no mar. Bastaram alguns segundos para nos convencer que aquele seria um mergulho especial, visibilidade beirando os 30 metros e uma enorme quantidade de vida, de cores e de formas, um gigantesco aquário para ser explorado.
Muitos corais, vida e cores nas águas transparentes do mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Depois de ter passado por quase todas as ilhas do Caribe e de ter mergulhado numa boa parte delas, já temos as nossas preferidas. E não demorou muito para Dominica entrar na nossa “top 3”, junto com Turks and Caicos e Little Cayman, não necessariamente nesta ordem.
Peixes e corais durante mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Foi difícil segurar o dedo e já comecei a fotografar desde o início, querendo registrar da melhor maneira possível aquele mundo de paz e maravilhas, tão perto de nós e, ao mesmo tempo, tão longe das pessoas comuns. Já a Ana, feliz com seu “brinquedo” novo, uma Gol Pro, também já estava filmando, apontando a câmera para todos os lados.
Enormes esponjas durante mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Foi aí que, depois de tudo tão perfeito até agora, tivemos nosso pequeno grande revés do dia. A bateria da máquina simplesmente acabou. Fui mostrar para a Ana e ela, decepcionada também, me mostrou a Gol Pró apagadinha também...
Explorando ass paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Puxa vida! Essa foi demais! As duas máquinas sem bateria. E nós, apenas no inídio do primeiro mergulho de dois que faríamos. Ninguém merece!
Incrível combinação de luz e transparência, de peixes e corais durante mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Enfim, as fotos que ilustram esse post são dos primeiros 10 minutos de mergulho, quando já estávamos empolgadíssimos com o que víamos. O melhor ainda estava por vir... Tudo muito bem guardado nas nossos memórias, mas sem uma mísera foto. É, esse dia e esse mundo são “quase” perfeitos...
Muita vida durante mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Enfim, mergulhamos ao longo de uma parede cheia de corais e de peixes coloridos. Aí vimos os maiores drum fishes das nossas vidas, várias moreias e uma incrível profusão de corais de todas as cores e formas. Além disso, com a grande visibilidade que tínhamos, também se podia admirar o cenário, a paisagem lá de baixo, uma espécie de visão mais ampla, a parede baixando para o azul infinito e milhares de peixes entre nós e a luz da superfície. Uma maravilha!
Enorme drum fish durante mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
O segundo mergulho também foi num lugar muito especial. Dominica está sobre uma “hotspot”, como bem vimos hoje pela manhã. Isso também pode ser observado no mundo submarino! Existe uma fonte de água quente (um pequeno vulcão!) e minerais abaixo d’água e podemos ver claramente dezenas de colunas de bolhas e borbulhas. A água fica mais rente próximo delas, assim como a areia ao seu redor. Com todo o cuidado, sentimos com as mãos esse calor vindo de dentro das entranhas da Terra. Naquela transparência toda, as colunas de bolhas e os pequenos peixes coloridos nadando ao seu redor nos faziam mais ainda sentir que estávamos num grande aquário! Pois é, um “aquário” do tamanho de 70% da superfície do planeta, e nós numa das partes mais belas desse gigantesco ecossistema. Sem fotos...
Fazendo filmagens durante mergulho nas paredes submersas ao sul de Roseau, em Parque Nacional submarino em Dominica, no Caribe
Voltamos extasiados para nosso hotel em Roseau. A qualidade do mergulho aqui em Dominica realmente nos surpreendeu. Ainda bem que fizemos todo o esforço para chegar em tempo e não perder essa parte do programa. Assim como não poderíamos, de maneira nenhuma, ter perdido a caminhada para o Boiling Lake. Duas das melhores experiências nesses 1000dias, e as duas na mesma ilha e no mesmo dia. Foi de perder o fôlego!
Um magnífico fim de tarde no nosso último dia em Roseau e em Dominica, no Caribe
Para fechar tudo com chave de ouro, mais um magnífico pôr-do-sol visto do nosso hotel. Ficamos ali, com a mente dividida entre a admiração daqueles momentos e daquele dia e sem entender como Dominica não está no circuito principal de viajantes aventureiros e mergulhadores do Brasil. Só pode ser por desconhecimento... E nós, amanhã, deixamos a ilha rumo à outra, um pouco mais famosa, a francesa Martinica, tão presente em filmes de piratas. De volta à Europa, à França, aos queijos e aos vinhos!
Delicioso Rum Punch para se despedir de Dominica, no Caribe
Filhotes de elefantes-marinhos brincam na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
A origem do conceito de “Éden” vem do livro Gênesis, da Bíblia. Ali Deus fez um maravilhoso jardim onde acomodou suas mais novas criações, Adão e Eva. O casal acaba por comer o fruto proibido da Árvore do Conhecimento e o Criador, furioso, o expulsa para sempre do jardim. Estava criado o “pecado” e a “vergonha”.
Algumas das muitas fêmeas de elefante-marinho de um harém na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Pinguins rei e um grande elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Em tempos modernos, o conceito se ampliou um pouco. Hoje, a palavra “Éden” é comumente associada a um local paradisíaco onde vivem muitos animais em perfeita harmonia. Não sei se este lugar existe realmente, mas se existir, não deve ser muito diferente de Gold Harbour, na Geórgia do Sul. Pelo menos, essa foi a sensação que tivemos ao visitar essa baía simplesmente fantástica, rodeada por montanhas e glaciares, cercada por um mar azul e frequentada por elefantes-marinhos, pinguins e muitas outras aves, todos mais felizes do que nunca. Especialmente os filhotes, cheios daquela energia e felicidade próprios da infância, curiosos com tudo o que os rodeia e felizes com o sol que os esquenta. De todos os lugares do mundo, é exatamente ali que gostariam de estar, seu paraíso quase particular.
Elefante-marinho descansa na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
A grande geleira em Gold Harbour, na Geórgia do Sul
A exceção para toda essa harmonia contagiante, claro, é a briga entre os grandes elefantes-marinhos machos que relatei no post anterior. Dentro do conceito de “Éden”, essa é a falha. Mas não se enganem: as brigas eram a exceção e a harmonia era a regra. Nós estávamos interessadíssimos nas batalhas entre esses enormes animais, mais foi impossível não ficarmos hipnotizados também pela quantidade enorme de animais convivendo e interagindo entre si, todos rodeados por uma paisagem de grandiosidade indescritível.
Uma multidão de pinguins rei na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Pinguim rei se estica todo na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Mais uma vez (e agora foi nossa última vez, a despedida mesmo!), centenas de pinguins rei, sempre elegantes com suas vistosas manchas amarelas. Andam sempre em grupos, parecem ter seus amigos e sua turma. Para nós, é impossível diferenciá-los, mas entre eles, com certeza se entendem. Ora descansam, ora vão passear pela praia, andando em fila de maneira ordenada. No caminho, se interessam por uma bola fofa de gordura e pelos que se espreguiça e depois rola para lá e para cá. É um filhote de elefante-marinho, também ele muito interessado nessas simpáticas aves.
Um filhote de elefante-marinho interage com pinguins rei na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Pequeno elefante-marinho se espreguiça entre pinguins rei na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Os pinguins seguem o seu caminho, agora passando ao lado de seus primos, os pinguins gentoo. É o encontro da 2ª e 3ª maiores espécies de pinguins que coexistem em tantos lugares. Tem uma relação cordial, mas a curiosidade não dura muito. Cada grupo para seu lado, acho que falam línguas distintas.
Cuidadosamente, pinguins rei atravessam a "zona de guerra" de elefantes-marinhos na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Cuidadosamente, pinguins rei atravessam a "zona de guerra" de elefantes-marinhos na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Um pequeno pinguim gentoo caminha na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
A relação é um pouco menos amistosa com as skuas, ave de rapina sempre a procura de um almoço. Mas elas não ousam enfrentar um pinguim adulto. Preferem os ovos, as crianças e os cadáveres. Adulto com adulto, há um tenso respeito entre eles.
Pinguins rei observam um albatroz na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Pinguim rei e elefante-marinho macho parecem se medir em praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Por fim, um delicioso banho no mar. Afinal, já é quase verão por aqui e a água parece muito apetitosa. O que para nós seria congelante, para eles é apenas refrescante! Cuidado maior deve ser tomado na volta, quando tem de cruzar o possível campo de batalhas de dois grandes elefantes-marinhos. O grupo todo para, olha para um lado, para o outro e tratam de acelerar naquele terreno mais perigoso. Uma graça de se ver!
Um grupo de piinguins rei caminha para o mar em Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Steve Denver)
Pinguins rei enfrentam as ondas da praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Alison Metherell)
Ainda mais interessante ainda de se observar são os filhotes de elefantes-marinhos. Com poucos meses de vida e já tem um peso parecido com o nosso. Rolam para lá e para cá, seus enormes olhos negros atentos a tudo. Brincam entre si, aproximam-se de pinguins e de nós, humanos, e voltam para o aconchego de suas mães. No intenso olhar, não há medo, apenas curiosidade. De novo, o único perigo para eles são as brigas entre os grandes machos da espécie. Podem ser literalmente atropelados. Nada de estar no lugar errado na hora errada. Felizmente, nós não vimos nenhum atropelamento ao vivo, mas os restos de um pequeno filhote que fazia a alegria das skuas era a prova de que acidentes como esse acontecem sim. Mesmo no éden.
Filhote de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Ken Haley)
Um jovem elefante-marinho faz graça para o fotógrafo na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Wayne Purcell)
Filhotes de elefante-marinho brincam na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de Susan Pairaudeau)
O incrível cenário de Gold Harbour, na Geórgia do Sul, com sua cascata de gelo, pinguins e elefantes-marinhos
Por fim, já falei, mas não custa lembrar: Éden que é éden tem de ser bonito. E beleza é o que não falta nesse lugar, uma grandiosidade de tirar o fôlego, para onde quer que se olhe. Um cenário que não deve nada àqueles de filmes como O Senhor dos Anéis. Gigantescas geleiras que terminam em fotogênicas cachoeiras que escorrem para um mar azul, tudo isso cercado por montanhas nevadas de um lado e uma praia repleta de animais do outro. É, era aqui mesmo que eu queria nascer se eu fosse um elefante-marinho. Com o devido cuidado com os adultos, claro!
Um casal de elefantes-marinhos dorme na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Ana aproveitando a sombra para ler sobre USVI, em para de Luquillo - Porto Rico
Nosso plano hoje era ir conhecer Culebra e a praia Flamenco, considerada a mais bonita do país. Culebra é uma ilha a cerca de uma hora de barco, na costa leste de Porto Rico. Antigamente, junto com outra ilha, Vieques, era conhecida como Ilhas Virgens Espanhóis.
Confusão para abordagem do Ferry para Culebra - Porto Rico
São três ferries diários indo para lá, saindo aqui de Fajardo. O primeiro horário de saída é às 9 da manhã. Seguindo as recomendações aqui da nossa pousada, chegamos ao porto com uma hora de antecedência. Doce ilusão! As passagens já se haviam esgotado fazia tempo e, mesmo assim, havia uma enorme fila para um possível ferry extra. Hoje é sábado e nós subestimamos isso. Famílias inteiras indo para lá passar o dia, toda a farofa acomodada em isopores e coolers. Uma enorme confusão no porto. Basicamente, um programa de índio (com todo o respeito!).
Desistindo do Ferry para Culebra - Porto Rico
Não dava para encarar e partimos para o plano B: ir à praia em uma cidade aqui pertinho, chamada Luquillo. Não poderíamos ter tomado decisão melhor! Praia super tranquila, muito sol, água limpa, bonita e com temperatura agradável. Aliás, é impressionanmte como a água do mar em Porto Rico é mais quente que nas Bahamas e em Turks e Caicos.
Playa del Sur, em Luquillo - Porto Rico
A praia é toda ladeada de palmeiras que fornecem sombras refrescantes. A gente se aboletou em uma delas e lá ficamos por várias horas, se revezando em corridas pela praia, natação no mar, leitura do guia sobre nosso próximo destino e um soninho também. Horas preguiçosas e deliciosas, sob medida para nos ajudar a nos recuperar da correria dos últimos dias. E que fique registrado: o trecho da praia entre Playa del Sur e Luquillo é dos mais bonitos da viagem! Escapamos da farofa e caímos no paraíso.
A bela paisagem da Sierra Nevada, a caminho do Yosemite, na Califórnia, nos Estados Unidos
Dia de despedidas da região do Lake Tahoe. Dia de viajar para um dos mais famosos parques nacionais do mundo, o Yosemite. Dia para cruzar novamente a bela e selvagem Sierra Nevada.
Essa era a rota que queríamos fazer, passando pelo Mono Lake e cruzando a parte alta do Yosemite. Mas o Tioga Pass estava fechado e tivemos de desistir
Como diria o filósofo, comecemos pelo começo! Logo pela manhã, demos uma caminhada para tirar fotos pela vila de Squaw Valley, onde ficamos hospedados. Essa vila teve um início glorioso, como Vila Olímpica dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1960. A primeira vez em que os melhores esquiadores do mundo ficaram sob um mesmo teto!
A Vila Olímpica no Squaw Valley, no Lake Tahoe, na Califórnia, nos Estados Unidos
Logo depois dessas Olimpídas, a Vila Olímpica foi transformada em um resort de inverno. Abertura oficial da estação: próximo final de semana. Assim, estava quase tudo fechado, mas decoração e testes a pleno vapor, para receber os turistas. Com muito sossego, pudemos tirar nossas fotos, observar a movimentação, imaginar o burburinho, tanto da época da inauguração como o da próxima semana.
A Vila Olímpica no Squaw Valley, no Lake Tahoe, na Califórnia, nos Estados Unidos
Depois, pé na estrada. Pela última vez, percorremos a costa oeste do lago, rumando para o sul. Fizemos a parada obrigatória no mirante da Emerald Bay, tiramos mais fotos aproveitando o dia esplendoroso que fazia e seguimos viagem. Era a hora de cruzar a Sierra Nevada e são muita as estradas que fazem isso.
As cadeirinhas esperam os esquiadores no Squaw Valley, no Lake Tahoe, na Califórnia, nos Estados Unidos
Despedida do belo Lake Tahoe, na Califórnia, nos Estados Unidos
Nosso caminho preferido seria seguir até o Mono Lake, região de rara beleza e destino bem alternativo aqui da Califórnia e, de lá, pegar a estrada que cruza toda a parte alta de Yosemite. Essa estrada tem duas famas: a de ser maravilhosa e a de estar sempre fechada. O problema é que ela cruza o Tioga Pass, a mais de 3 mil metros de altitude. A neve costuma chegar cedo aí, algumas vezes no início de Outubro e o degelo pode esperar até Julho do ano seguinte para acontecer. O pessoal do parque não vê muito sentido em gastar suas energias para limpar a estrada se, no dia seguinte, a neve pode vir novamente. Assim, abençoados aqueles que tiveram a oportunidade de fazer essa estrada...
Sierra Nevada, região de Lake Tahoe, na Califórnia, nos Estados Unidos
Este ano, por exemplo, ela foi fechada a uma semana, sem previsão para abertura. Os dois últimos dias de sol nos deram uma pequena e vã esperança. Nada feito! Com isso, acabamos desistindo também da visita ao Mono Lake, pois a volta seria muito grande. Principalmente quando descobrimos que a próxima alternativa, que cruza a Stanislau National Forest também estava fechada. O negócio era pegar logo a estrada para Jackson, ainda mais ao norte, antes que ela também fechasse. Assim, por causa da neve, acabamos ficando sem o Mono Lake e sem a parte alta de Yosemite (cujo único acesso, além de por caminhadas quilométricas, é pelo Tioga Pass). Razão mais do que suficiente, na verdade obrigatória para, um dia, voltarmos à Califórnia. Quem viver, verá!
Nosso caminho hoje, atravessando a Sierra Nevada mais ao norte, passando por Jackson e por onde ocorreu a Corrida do Ouro de 1849
Enquanto esse dia não chega, o negócio é aproveitar o que está aberto mesmo! A nossa estrada cruzando a Sierra Nevada nos levou através de paisagens grandiosas também. Lagos, montanhas, florestas e campos nevados, tudo aquilo que faz dessa região um dos lugares mais belos do país.
Sierra Nevada, região de Lake Tahoe, na Califórnia, nos Estados Unidos
Muitas fotos e quilômetros depois, chegamos ao outro lado da Sierra, à cidade de Jackson. Daí fomos para o sul, para a entrada do Yosemite National Park conhecida como “Big Oak Flat”. Esse caminho cruza a região onde ocorreu a grande corrida do ouro de 1849, que precedeu em duas gerações aquela de que já tanto falamos, a Klondike Gold Rush, rumo ao Alaska e Canadá. Talvez por isso e também pela falta de fotografias, essa corrida do ouro californiana tenha menos marcas no nosso inconsciente coletivo, mas na verdade ela até movimentou mais gente que a gold rush de final do século.
Uma das estradas que cortam a Sierra Nevada, na Califórnia, nos Estados Unidos
San Francisco, por exemplo, era uma cidade com menos de 1000 habitantes antes da descoberta de ouro. Rapidamente, se transformou no porto mais movimentado desse lado do Pacífico, chegando aos 30 mil habitantes em 1850 e aos 100 mil dez anos depois. Dezenas de vilas foram criadas e prosperaram aos pés da Sierra Nevada e, assim que o ouro acabou, passaram a ser verdadeiras cidades-fantasma. Índios, sempre eles, foram impiedosamente escravizados e mortos. Ao contrário do que ocorreu no Yukon 50 anos depois, onde a polícia canadense manteve o controle da ordem, aqui virou uma verdadeira terra sem lei. Além dos índios, as maiores vítimas foram os milhares de imigrantes que também correram para a mineração, principalmente chineses e latino-americanos. Entre esses, destacavam-se os mexicanos, que até poucos anos antes eram os senhores da terra, mas que entregaram a California e os estados em volta como butim da guerra que perderam para os americanos, justamente nessa época.
A bela paisagem da Sierra Nevada, a caminho do Yosemite, na Califórnia, nos Estados Unidos
Os milhares de imigrantes vinham pela longa trilha por terra ou então, pelo mar, dando a volta na América do Sul. Outra rota que foi estabelecida foi de navio até o Panamá, onde o istmo era cruzado por uma ferrovia que foi rapidamente construída e, uma vez no Pacífico, de barco novamente para San Francisco. Rapidamente, a Califórnia foi reconhecida como o 31º da União. Já os imigrantes, eram conhecidos como “fortyniners”, pelo ano da corrida, 1849. Até hoje, o número dá nome à equipes esportivas e escolas. Assim como o estado ficou para sempre conhecido como “Golden State”, a terra dos sonhos, do recomeço e da fortuna rápida.
Bastante neve nas estradas que cortam a Sierra Nevada, na Califórnia, nos Estados Unidos
Toda essa história só “cruzou o nosso caminho” porque a neve nos impediu de passar pelo Tioga Pass. Assim, viajamos pela terra das cidades-fantasma, hoje grande atrativo turístico, assim como os vinhedos que começam a se desenvolver na região. Mas as nossas mentes já estavam completamente focadas no Yosemite, e para lá seguimos sem demora. Já estava escuro quando nos instalamos em um lodge bem próximo dessa entrada secundária do parque, conhecida como Hetch Hetchy. Por aqui começaremos nossas explorações do segundo mais antigo parque nacional dos Estados Unidos.
Cruzando a Sierra nevada, de Lake Tahoe para Yosemite, na Califórnia, nos Estados Unidos
Atravessando parte mais estreita da Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
As minas de prata de Potosí sustentaram o vasto império espanhol por séculos . Por volta de 1560 o metal foi descoberto no Cerro Rico, uma montanha que chega aos 4.500 metros de altitude. Quase que instantaneamente a população da então pacata e isolada vila começou a se multiplicar, transformando-a numa das maiores cidades das américas, chegando a ter, naquela época, quase 200 mil habitantes.
Entrada da Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
Os espanhóis transformaram a descoberta numa verdadeira indústria. Fala-se que, naquela época, a quantidade de prata era tão grande que ela chegava a aflorar na superfície. Utilizando-se do trabalho forçado dos indígenas, que chegavam a trabalhar dezoito horas por dia nas piores condições, toneladas e toneladas do metal eram retiradas e enviadas para a Espanha, via Argentina. Em Potosí se diz que a quantidade de prata retirada seria o bastante para pavimentar uma estrada de ida entre a cidade e a Espanha. A estrada de volta seria pavimentada com o suor e sangue dos que aqui morreram para escavar esse metal.
Pronta para entrar na Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
O consequência de toda essa mineração foi transformar Potosí na mais rica cidade do continente. Dezenas de igrejas e palacetes foram construídos. Mas, finalmente, a prata se acabou e a cidade entrou m franca decadência. Afinal, se não for pela prata, de que adiantaria se viver numa cidade a 4 mil metros de altitude? Pois é, esse foi o dilema de Potosí até que, em meados do século passado, outro metal ganhou importância no mercado mundial: o estanho.
Com nossa guia Roberta, na mina em Potosí - Bolívia
Com isso, a cidade ganhou renovada importância e a população voltou a crescer, chegando novamente aos 200 mil habitantes. As condições de trabalho continuam terríveis, mas o uso do mercúrio, que tantos índios matou, acabou. Mesmo assim, a expectativa de vida de um minerador continua muito baixa, principalmente pelo pó que se respira dentro das minas, que destrói pouco à pouco os pulmões.
Explorando a Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
As minas são uma das grandes atrações turísticas de Potosí e todos os dias dezenas de turistas entram montanha adentro para ver de perto como as pessoas ainda hoje trabalham. Agências organizam grupos, advertem sobre as condições claustrofóbicas, ajudam na compra de presentes para os mineiros e levam curiosos turistas para o Cerro Rico.
Com o protetor espiritual da Mina Rosário, o diabo "Tio Jorge", em Potosí - Bolívia
E assim fomos nós, guiados pela Roberta, apenas nós três. Ela nos levou à uma venda onde compramos folhas de coca, para nós e para os mineiros e também refrigerantes. Ali ela também nos mostrou explosivos, detonadores e álcool, todos ítens de primeira necessidade para esses trabalhadores. De lá seguimos para um depósito onde nos vestimos apropriadamente para entrar nas minas, botas, macacão e capacete com lanterna.
Afloração de estanho na mina Rosário, em Potosí - Bolívia
Subimos então até os 4.300 metros, onde está a entrada da Mina Rosário, uma das muitas dentro do Cerro Rico. Um dos primeiros grupos à chegar, fomos logo entrando naqueles túneis escuros e apertados. No início, ainda há paredes de pedra do tempo dos espanhóis. Impossível não imaginar as milhares de pessoas que já passaram por ali nesses quase 450 anos de funcionamento da mina. Quantos não morreram lá dentro? Como era a vida e os sonhos dessas pessoas? Que realidade viviam? Os pensamentos e sentimentos parecem ecoar pelas paredes. Ahhnnn se elas falassem...
Junto aos mineiros na Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
Caminhamos mais de um quilômetro pelos túneis da mina. Alguns mais largos, outros mais estreitos. Quanto mais para dentro, mais quente fica. Nos pontos onde estão os trabalhadores, o calor chega a 40 graus! os turistas não chegam até lá. Cruzamos com mineiros descansando um pouco em áreas menos quentes. Ou então, andando apressados para seus postos de trabalho ou conduzindo carros lotados de minério pelos trilhos que seguem pelos túneis. Quando se ouve o barulho deles chegando o negócio é pular logo para o lado, se encostar nas paredes e esperá-los passar. Se não, passam por cima mesmo! Tem mais o que fazer do que ficar pajeando turistas...
Junto aos mineiros na Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
Conversamos com alguns deles. Parecem resignados ao seu trabalho. Alguns já estão lá há vinte anos, São os mais experientes, responsáveis pelos trabalhos de maior responsabilidade e técnica, como a detonação de explosivos. Outros são bem jovens, às vezes adolescentes. Fazem o trabalho mais pesado, carregando peso para lá e para cá. Todos mascam coca continuamente. Nos intervalos, bebem bebidas fortes. Até mesmo álcool puro.
Sulfato de cobre na Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
Quem os protege é o Diablo. Cada parte da mina tem o seu. São os chamados "tios". Na parte que visitamos, quem reina é o "Tio Jorge". Para ele se fazem oferendas e pedidos. Uma estátua o simboliza e nós também o homenageamos. Com várias fotos!
Potosí - Bolívia, vista do Cerro Rico
Três horas de mina foram o suficiente para nós. Saindo, cruzamos com grupos grandes de turistas, de até 15 pessoas. A visita deve ficar bem mais difícil, assim. Mas o resultado é o mesmo, para nós e para eles. Quem entra naquela mina pela primeira vez certamente sai diferente. É um tapa na cara, bem dado, sobre um modo de vida bem mais duro do que possamos imaginar, sem ter estado lá. É incrível cmo o ser humano se adapta. Quatrocentos anos de história de muito sofrimento para muitos e riqueza para poucos. mas as minas continuam lá, atraindo trabalhadores jovens de toda a Bolívia. A produção precisa continuar. Prata ou estanho, alguém tem de fazer o serviço...
Trabalhador de 16 anos na Mina Rosário, em Potosí - Bolívia
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