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Hoje era o nosso dia de alugar um carro para rodar pela ilha. Mas começa...
Um dos pontos altos de nossa rápida estadia em Villa Nueva foi o delicio...
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Dona Helen (30/12)
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Guto Junqueira (28/12)
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Lina (27/12)
Oi Ro, Feliz Natal para voce e a Ana!!! A Lalaue o Gera+criancas chegam...
lalau (26/12)
Sentimos falta de vocês na sempre divertida noite de Natal. Senti falta ...
Marcos Silva (23/12)
Fantástico relato! Principalmente as fotos da Catedral (moderna)! Só di...
O belíssimo Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Ontem, depois da longa e maravilhosa caminhada na região do Lake Louise, ficamos sem tempo de voltar à outra das maravilhas da natureza do parque: o Lake Moraine. Tínhamos estado lá rapidamente, com chuva, no final do dia de anteontem. E juramos que iríamos voltar, de tão bonito que era. Então, hoje cedo, ainda antes de partirmos para Jasper, mais ao norte, retornamos ao Lake Moraine.
O belíssimo Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
O nome vem da sua origem glacial. “Moraine” é o nome que se dá ao acumulo de pedras e entulho que uma geleira vai construindo ao longo do tempo. Esses verdadeiros rios de gelo carregam em suas costas pedaços das montanhas e vales pelos quais atravessa. Na sua luta para alargar o canal por onde passa, vai gerando desabamentos e as pedras que caem ficam sobre o gelo, que se desloca uns poucos metros por ano. Em algum ponto, na extremidade da geleira, o gelo derrete, É aí que ficam todas as pedras carregadas durante séculos. Acabam formando um monte de entulho que é o que chamamos de “Moraine”. Quando a geleira retrocede, por causa das mudanças climáticas, e deixa em seu lugar um rio, as “Moraines” acabam se transformando em diques naturais, favorecendo a formação de lagos. Como não tivemos glaciares no Brasil, essa não é uma palavra muito comum no nosso vocabulário, mas “moraine” em português é “morena”.
Caminhada pelo incrível Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Fascinado pelas cores do Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Bom, ainda bem que voltamos lá, pois o lago é uma das coisas mais lindas que já vimos nessa viagem. Ainda mais bonito que o Lake Louise, para falar a verdade. O seu verde é mais escuro e, sem vento por ali, é um verdadeiro espelho gigante, refletindo a paisagem de florestas verdes e montanhas nevadas ao seu redor. Uma verdadeira pintura! Palavras não podem fazer jus àquilo, mas as fotos mostram, pelo menos em parte, a beleza magnífica do lugar.
Pessoas esperam companheiros para poder completar o grupo e caminhar em área de ursos, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Aviso de que apenas grupos com 4 pessoas, no mínimo, podem caminhar nessa área na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Nós fizemos uma curta trilha pela sua orla, pela floresta de pinheiros, o lago maravilhoso sempre ao nosso lado. Como ainda estava cedo, quase não havia turistas por ali e a sensação de contato com a natureza era ainda maior. Pelo caminho, outras trilhas saiam em direção às montanhas, mas nós não teríamos tempo de percorrê-las. Nem que quiséssemos, seria muito simples. Isso porque somos apenas dois e, nessa época do ano, o mínimo por grupo são quatro pessoas. Tudo por causa dos ursos, que tendem a respeitar grupos maiores de pessoas. Se um ranger (o guarda do parque) te pega fazendo a trilha fora de um grupo, as multas são pesadíssimas. E, pelo jeito, as pessoas respeitam pois, numa das entradas, lá estava um casal acompanhado de seu cão esperando que mais gente aparecesse, para poder fazer a trilha. Até olharam com esperança para nós, mas teriam de esperar mais um pouco...
Mirante de observação do magnífico Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
feliz, durante passeio pelo Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Fizemos essa trilha na orla do lago e subimos novamente no alto da “morena”, onde está o mais acessível mirante para observar todo o lago. Um colírio para os olhos, muita fotos e até um encontro com um grupo de brasileiras que viajava pelo local. Conversamos bastante com a guia, que mora no verão por aqui, recebendo turistas enviados por agências brasileiras e, no inverno, na California, de onde acompanha turistas brasileiros para o Havaí. Que bela vida! Literalmente!
O magnífico cenário da estrada entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
Um dos muitos belos lagos na estrada entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
Ainda “flutuando” com tanta beleza, voltamos para a Fiona e pegamos a estrada em direção à Jasper, no norte. Logo que saímos da cidade de Lake Louise, mudamos de parques: deixamos o Banff National Park e entramos no Jasper National Park. O principal centro de apoio desse parque é a cidade de Jasper, 230 km ao norte de Lake Louise.
A incrível paisagem atravessada pela estrada que liga Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
Pode parecer longe, mas a estrada que liga as duas cidades passa por paisagens tão incríveis que a gente nem vê o tempo passar. São montanhas, lagos e geleiras que vão prendendo a nossa atenção, fazendo a gente querer parar em cada curva, fotografar ou simplesmente respirar aquela beleza incrível.
A geleira de Crowfoot, agora com apenas dois dedos, na estrada entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
Foto antiga mostra a geleira de Crowfoot ainda com três dedos, na estrada entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
A primeira parada foi em frente a geleira conhecida como Crowfoot, ou “pé do corvo”. Não demora muito para adivinhar a razão do nome. Mas, infelizmente, está faltando um dedo do corvo, que estava lá quando a geleira foi batizada, há um século. Podemos ver as fotos antigas e perceber como o gelo recuou nesses últimos 100 anos. Prova irrefutável de que algo está mudando no nosso planeta. O segundo dedo também está diminuindo, mas mesmo assim, a magnitude da geleira, pendurada na montanha, impressiona.
Lagos e montanhas na estrada entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
Mas à frente, passamos por diversos lagos, cada um mais belo do que o outro. Todos da família do Lake Louise, pela cor. Aliás, essa cor vem dos minerais presentes nas pedras trazidas pelas pequenas geleiras atuais. As pedras acabam se dissolvendo na água e tingindo o lago com essa cor mista de azul e verde. Uma beleza!
Estrada que corta as montanhas e a belíssima paisagem entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
Seguindo adiante, chegamos à maior geleira da região, originada em um enorme campo de gelo por detrás das montanhas chamado de Columbia Icefields. Olhando bem de longe, já ficamos impressionados com sua envergadura, principalmente quando, com muito trabalho e esforço, conseguimos discernir pessoas caminhando sobre ela, minúsculos pontos escuros naquela vastidão branca e gelada.
Admirado com a grandiosidade da paisagem entre Lake Louise e Jasper, em Alberta, no Canadá
minúsculas pessoas caminham na geleira de Columbia Ice Fields, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Para lá seguimos com a Fiona, loucos para matar nossa saudade de caminhar me geleiras. A última vez tinha sido na Islândia (trecho da nossa viagem que, vergonhosamente, eu ainda não relatei. Mas chego lá, pois as fotos do país são absolutamente maravilhosas e merecem ser mostradas!), em maio desse ano. Conforme vamos chegando mais perto, mais tomamos ciência do tamanho do rio de gelo. É de tirar o fôlego...
Pessoas caminham pelo Columbia Ice Fields, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Temos de estacionar a mais de um quilômetro de onde a geleira está e caminhar o resto do tempo. Primeiro, subir uma antiga e enorme “moraine” e depois, descer do lado de lá, até chegar ao ponto em que o gelo encontra a terra. No caminho, diversas placas marcam o ponto onde estava a geleira nos anos anteriores. É bem triste passar pelas marcas de 1982 e 1992 e ver o quanto a geleira retrocedeu nessas ultimas décadas. Triste e preocupante.
A caminho da geleira em Columbia Ice Fields, a placa marca até onde o gelo chegava em 1982 (no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá)
Explorando a geleira de Columbia Ice Fields, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Preocupação é o que sente os administradores do parque, colocando diversos cartazes dizendo que é proibido caminhar sobre a geleira, devido ao perigo de se cair em alguma das diversas fissuras escondidas por neve ou gelo fino. Mas os avisos são simplesmente ignorados pelas pessoas e nós fomos na onda, claro! Afinal, chegar até ali e não seguir para ver de perto seria um pecado. Com todo o cuidado, claro!
Caminhando pela fantástica geleira de Columbia Ice Fields, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Seguimos uns quinhentos metros geleira acima, pelo menos até o ponto onde não havia mais turistas ou pessoas à minha frente. Só aí, vendo aquela imensidão puramente branca defronte a mim, me dei por satisfeito. Aqui, o gelo é mais branco, pois até onde as pessoas caminham ele está bem sujo de pó e pedras. A beleza e a sensação de solidão são indescritíveis. A força da natureza que sentimos sob os nossos pés também. Ao contrário da Islândia, onde as geleiras eram cheias de fissuras e buracos em fundo, aqui ela era bem mais homogenia, uma enorme massa de água congelada em movimento. Uma força primordial da natureza, a qual só podemos respeitar e admirar.
Riacho atravessa a geleira de Columbia Ice Fields, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Rio corta canyon através de diversas camadas de rocha, em Athabasca Falls, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Os pequenos riachos que correm sobre o gelo são o lembrete de que ela está derretendo. De pouco em pouco, mas está derretendo. Esses pequeno riachos tornam o cenário ainda mais belo, formando até pequenas corredeiras e cachoeiras. Mas também nos alertam do perigo do gelo que pode ceder, então caminhamos cuidadosamente de volta à terra firme.
Atravessando antigo canyon criado (e abandonado) pelo rio, em Athabasca Falls, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Ainda havia mais atrações pelo caminho, antes de chegarmos à Jasper, então seguimos em frente. Agora, depois de tantas montanhas, lagos e geleiras, a próxima parada foi numa grande cachoeira, no principal rio da região, o Athabasca. Ao longo de milhares de anos de erosão, ele formou um impressionante canyon nessa parte do rio. Através de várias passarelas, podemos caminhar sobre essa maravilha natural e, através dos painéis explicativos, podemos viajar no tempo e entender como se dá a eterna luta entre a água e a rocha que tenta cercar o seu caminho.
O balé das águas na Athabasca Falls, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Normalmente, tendemos a ver essas paisagens de forma estática, como se aquilo tivesse nascido assim, como que por uma passe de mágica e que continuará da mesma maneira, pela eternidade. Nada disso! Pode ser assim na ridícula escala de tempo de nossas vidas, mas considere alguns poucos milhares de anos e logo percebemos o quão dinâmico e efêmero é isso tudo. As cachoeiras e canyons que estávamos vendo tem essa idade. E, para a nossa surpresa, não é apenas a água que vence essa luta. Ao lado do canyon onde passa o rio atualmente está um outro canyon, seco. Por ali passou a água por um bom tempo, mas acabou perdendo a batalha para a dureza da pedra e acabou seguindo por outro caminho, onde a rocha era mais mole. Caminhar por ali e imaginar os antigos turbilhões de água moldando e arranhando as paredes é bem legal. Entender como se dá todo o processo o torna ainda mais interessante, ao invés de “destruir a poesia”, como pensam alguns.
Um dos mirantes de Athabasca Falls, no Jasper National Park, em Alberta, no Canadá
Enfim, tantas atrações haviam no caminho que chegamos já de tarde em Jasper, sem tempo para ver uma sequência de lagos coloridos que requeriam uma trilha de meia hora para ser percorrida. Fomos diretamente para a cidade. Final de feriado, foi um pouco mais fácil encontrar hotel. Ainda tivemos forças para um jantar com vinho no bar do próprio hotel, com direito à música ao vivo da melhor qualidade. O músico mandava muito bem no francês e inglês, além de tocar diversos instrumentos, inclusive uma espécie de cavaquinho e um pandeiro que se toca com os pés. Incrível! Valeu cada gotinha do nosso vinho! Aliás, o dia de hoje valeu cada minuto do nosso tempo. Viva o Canadá!
Olha só a gente "perdido" no meio do Canadá!
A charmosa Goiás Velho - GO
Goiás Velho, Cidade de Goiás ou Vila Boa são todos nomes da mesma bela cidade, antiga capital do estado e patrimônio histórico da humanidade. Como não poderia deixar de ser, sua fundação está diretamente ligada à mineração, ocorrida principalmente no séc XVIII, para infortúnio dos índios goiases que ocupavam ateriormente a região e foram rapidamente extintos.
A charmosa Goiás Velho - GO
A cidade logo se desenvolveu, tornando-se capital da recém criada Capitania de Goiás, desmembrada da Capitania de São Paulo. E assim continuou por gerações, até a construção de Goiânia, no segundo quartil do séc XX. Mas, ainda hoje, como forma de homenagem, a velha cidade volta a ser a capital do estado por alguns dias, todos os anos.
Grande praça em Goiás Velho - GO
Nós também quisemos passar por lá, para render nossa homenagem à cidade. Normalmente muito menos badalada do que Pirenópolis, Goiás Velho também tem seus momentos de ferveção. Um deles é durante o FICA, Festival Internacional de Cinema Ambiental. Pousadas lotadas, ruas movimentadas, programação variada, a cidade se enche de vida. O FICA ocorre sempre no início de Junho e, neste ano, será na semana que vem. Deste modo, pegamos a cidade ainda vazia, mas se preparando para a intensa semana que está para começar...
Fiona descansa na sombra na quente Goiás Velho - GO
Estacionamos a Fiona na deliciosa sombra de uma árvore frondosa e fomos caminhar pelas ruas históricas. Como hoje é segunda, dia internacioal de fechamento de museus e outras atrações, estava quase tudo fechado, salvo umas poucas igrejas. Até a casa da poetisa Cora Coralina, que conheci a outra vez que aqui estive, estava fechada. Já início da tarde, fomos logo atrás de comida, antes que os restaurantes fechassem também. Comemos um delicioso empadão, uma das especialidades da culinária goiana e especialmente gostoso em Goiás Velho.
O delicioso empadão, comida típica em Goiás Velho - GO
Bem alimentados, a Ana foi fazer a digestão num salão, que há meses ela ansiava. Enquanto ela ficava ainda mais bonita, eu caminhei pela pacata cidade, procurando sempre as sombras para fugir do intenso calor e fotografando as ruas de pedra e construções históricas.
Igreja em Goiás Velho - GO
Já no fim da tarde estávamos juntos novamente, hora de partir para Rio Verde. Com a luz bem bonita, passamos pelo mirante de onde se pode admirar a famosa Serra Dourada, ao lado da cidade e que dá nome ao estádio em Goiânia. Exatamente na hora em que ela fica mesmo dourada.
A famosa Serra Dourada, região de Goiás Velho - GO
Depois, a paciente viagem até Rio Verde, uma das capitais da rica agricultura do estado, já bem no sul de Goiás. É aqui que vamos, amanhã, fazer a revisão dos 40 mil km da Fiona. Depois de tantas estradas de terra, bem que estava na hora de um bom alinhamento/balanceamento e também de uma limpeza do ar condicionado, que tem castigado bastante a Ana. Na cidade, fomos muito bem recebidos pelo Chico e pelo Nando no bar do Capim, no centro de Rio Verde. A conversa se estendeu bastante, acompanhada de boa comida e bebida. Finalmente, rumamos para a fazenda, céu absolutamente estrelado, maravilhoso, longe das luzes da cidade. Dormir numa fazenda é sempre rejuvenescedor!
O Nando e o Chico nos recepcionaram em Rio Verde - GO
Com nossos amigos franceses no cume do Pico Duarte, na República Dominicana, o ponto mais alto de todo o Caribe
O dia 27 foi de deslocamentos, mas ainda conseguimos chegar a tempo de, no final da tarde, acertar toda a estrutura de nossa caminhada no dia seguinte ao ponto culminante do Caribe: o Pico Duarte, na República Dominicana. Saímos cedinho de Cap-Haitiens, ainda no Haiti, em direção à Santiago, a segunda maior cidade da República Dominicana. Viagem tranquila e confortável, com direito a um café da manhã que foi um macarrão apimentado. Nossos estômagos e cérebros começam a se acostumar com essa esquisitice de comer macarrão logo de manhã. Passamos sem problemas pela fronteira, mudamos o “canal” de francês para espanhol e chegamos à Santiago. Aí, descemos do nosso ônibus internacional e, meia hora mais tarde, já estávamos em outro em direção à La Vega. A ideia era pegar um terceiro ônibus para a cidade de Jarabacoa, uma espécie de Campos do Jordão daqui, mas as passagens já estavam esgotadas e teríamos de esperar mais de duas horas até o próximo. Sem tempo a perder, pagamos um táxi mesmo e, 30 minutos mais tarde chegávamos a cidade mais alta do país, cercada de montanhas, rios e cachoeiras.
Macarrão bem temperado, nosso café da manhã no ônibus de Cap-Haitien (Haiti) para Santiago (Rep. Dominicana)
Nosso caminho de ônibus de Cap-Haitien (Haiti) para Santiago (Rep. Dominicana). Daí, outro ônibus para La Vega (C) e um taxi para Jarabacoa (D). Finalmente, uma carona para Cienega (E), onde começa a trilha para subir o Pico Duarte
Uma dessas montanhas é o Pico Duarte e foi ele que nos fez vir até aqui. Trata-se da mais alta montanha do Caribe, superando os 3.080 metros de altitude. Mais alto do que qualquer montanha no nosso gigantesco Brasil! Desde que iniciamos os 1000dias, sabíamos que, um dia, chegaríamos aqui. Esse dia chegou e agora, só faltava arrumar um esquema para subi-lo. A montanha fica no interior de um parque nacional e só se entra lá acompanhado de um guia. Além disso, para quem pretende fazer a caminhada até o pico, se insiste muito para que se leve uma mula. A ideia é que, caso algo passe lá encima, é muito mais fácil e barato trazer uma pessoa para baixo com a mula do que organizar um resgate. Desse modo, praticamente todo mundo sobe com a mula, chamada carinhosamente de “amulância”. Também recomenda-se muito uma segunda mula, para carregar o peso para o alto. Mochilas, barraca, sacos de dormir, comida, tudo isso vai no lombo dela. Os visitantes carregam sua máquinas fotográficas, alguma água e só.
Arrumando as mulas para a subida do Pico Duarte, na República Dominicana
Último descanso antes do início da trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
Isso tudo já tínhamos lido nos livros e, assim que chegamos à Jarabacoa, procuramos uma pessoa para nos ajudar a organizar tudo. Acabamos encontrando o Ramón, vulgo Moche, que nos explicou detalhadamente como se dá o passeio. Acertamos um preço com ele e ele providenciou as mulas, o guia, nossa comida e sacos de dormir. Para nós, restou simplesmente o trabalho de acordar bem cedo no dia seguinte (ontem) e de caminhar montanha acima.
Mapa de ascensão do Pico Duarte, na República Dominicana
Ainda com o dia escuro, o Moche nos apanhou no nosso hotel em Jarabacoa e seguimos para Cienega, a pequena vila que fica ainda mais alta nas montanhas e onde está a entrada do Parque Nacional. Aí, fomos recebidos com um café da manhã e pelas mulas e guia que nos ajudariam nesse empreitada. Eram cerca de 8 da manhã quando pusemos o pé na trilha.
Descanso na trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
Encruzilhada na trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
São cerca de 25 quilômetros de caminhada da entrada do parque até o cume do Pico Duarte. Quase dois quilômetros de desnível, dos 1.100 metros de Cienega até os 3.087 metros do cume. Considerando que há vários sobes e desces no caminho, na verdade são bem mais de dois mil metros que subimos. Para quem começa cedo como estávamos começando, a programação mais comum é chegar até o refúgio que existe num lugar chamado “La Compartición”, a 2.450 metros, e dormir por aí. Na manhã seguinte, com o dia nascendo, acelerar até o pico para aproveitar as primeiras horas da manhã, quando a chance de bom tempo é maior. Depois da conquista, para baixo, com toda a ajuda da gravidade, até a entrada do parque.
Muita névoa na subida do Pico Duarte, na República Dominicana
Muita névoa na subida do Pico Duarte, na República Dominicana
Na verdade, as maiores agências que organizam excursões até o pico até o fazem com um dia a mais. Não começam tão cedo e a primeira noite é passada ainda em Los Tablones, pouco abaixo dos 1.300 metros. Mas nós, como sempre com pressa, começando cedo, com duas mulas e um guia para nossa ajudar, estávamos mais do que resolvidos em fazer em apenas dois dias e uma noite lá encima.
Refúgio para os alpinistas que sobem o Pico Duarte, na República Dominicana
Refúgio para os alpinistas que sobem o Pico Duarte, na República Dominicana
E lá fomos nós, quase sem peso, montanha acima. Passos largos, aproveitando o início da triha que sobe apenas suavemente, sempre ao lado de um rio caudaloso. O nosso guia vinha uns minutos atrás, tranquilão, montado em uma mula e trazendo a outra. O caminho é muito fácil de ser seguido, com apenas uma bifurcação, mas que está muito bem sinalizada.
Último trecho para chegar ao cume do Pico Duarte, na República Dominicana
O cume da montanha mais alta do Caribe, o Pico Duarte, na República Dominicana
Quando finalmente começamos a subir de verdade, deixando o rio para trás, encontramos um casal de franceses que tínhamos procurado bastante ontem, lá em Jarabacoa. Na nossa procura por guias, ontem, ficamos sabendo que havia esse casal procurando também. Tentamos achá-los, para dividir os custos, mas não conseguimos. Agora, lá estavam eles, o Jean e a Martine, também com seu guia e suas mulas. Casal muito interessante, proveniente da região dos Alpes, amantes da natureza e das caminhadas. Estão na faixa dos 50 e poucos anos, mas caminham muito bem. Também, com o “quintal” que têm em sua casa...
Neblina cobre a floresta no alto do Pico Duarte, na República Dominicana
A 3.080 metros de altitude, em meio à neblina, junto com o Duarte, no alto da montanha mais alta do Caribe, na República Dominicana
Acabamos por nos juntar, os quatro, enquanto os dois guias (e as quatro mulas) seguiam juntos um pouco atrás. Ela falava inglês, mas apenas arranhava o espanhol. Ele, só no francês mesmo. De modo que, mesmo de volta à república Dominicana, tratei de prtaicar o francês novamente.
No refúgio no fim de tarde, esquentando-se na fogueira (trilha do Pico Duarte, na República Dominicana)
Cozinhando nosso jantar no refúgio em Compartición, pouco abaixo do Pico Duarte, na República Dominicana
A caminhada que havia se iniciado com uma chuva fina, agora era entre as nuvens, as florestas cobertas por uma névoa que lhes emprestava um ar fantasmagórico. Ficamos em a paisagem distante, mas o ambiente próximo era fabuloso. Além disso, a ausência de sol facilitava bastante a subida, a altitude subindo para cima dos 2 mil metros.
Fogueira noturna, no refúgio um pouco abaixo do Pico Duarte, na República Dominicana. O pé que aparece na frente é o do Rodrigo, tentando esquentá-lo ao fogo!
Com tanta conversa interessante, as etapas foram passando rapidamente. Houve a esperada parada do lanche, cruzamos com muita gente descendo (muitos dominicanos tinham aproveitado o feriado para caminhar nas montanhas) e finalmente o tempo começou a se abrir, revelando um mar de montanhas à nossa volta.
O dia nasce um pouco antes de chegarmos ao cume do Pico Duarte, na República Dominicana
A caminho do cume do Pico Duarte, na República Dominicana, com o dia nascendo
Depois de chegarmos quase aos 2.700 metros, a mais longa descida da trilha (pelo menos na parte da ascensão!) até o refúgio em La Compartición. Era um pouco depois das duas quando lá chegamos. O refúgio, que havia estado bem cheio na noite anterior, agora só estava com um grupo de 10 pessoas, amigos que haviam subido até o cume durante o dia e resolveram dormir por lá mais uma noite, para voltar no dia seguinte. Conversei rapidamente com eles e descobri que não havia mais ninguém lá no alto. Além do mais, disseram-me que, caminhando rápido, eram pouco mais de uma hora até o cume do Pico Duarte.
A bela visão que se tem quase ao chegar ao cume do Pico Duarte, na República Dominicana
As montanhas que cercam o Pico Duarte, na República Dominicana
Foi o bastante para tomar minha decisão. Esperei um pouco por lá, esperando que a Ana e o casal de franceses chegassem, aproveitando para recuperar o fôlego. A Ana ficou meio na dúvida se atacaria o pico hoje também, mas achou melhor ficar no acampamento mesmo. Eu parti em ritmo acelerado para cima, cerca de cinco quilômetros e 600 metros de ganho de altitude.
Junto com o Duarte, no cume da montanha que leva o seu nome, na República Dominicana
Levei apenas uma jaqueta para chuva e a máquina fotográfica, além de uma garrafa d’água enchida em uma das fontes puras e deliciosas ao lado do acampamento. Foi só na metade do caminho que lembrei que deveria ter trazido algo para comer também. Ao menos, uma barra energética. Mas, enfim, não tinha levado e era melhor não pensar na fome. Se bem que não era exatamente fome que eu sentia, mas a minha energia acabando, o final da “bateria”.
No ponto mais alto do Caribe, o Pico Duarte, com 3.080 metrtos, na República Dominicana
Segui no orgulho, bem menos resistente que havia imaginado, mas em 55 minutos estava lá encima, no ponto mais alto do Caribe. Eu e a estátua do Duarte, o herói da independência dominicana dos haitianos, 170 anos atrás. Uma densa neblina nos envolvia e por bem poucos momentos ela se abriu para eu poder ver algo da paisagem. Mas não era atrás de vista que eu estava, mas da sensação de estar ali, solo, naquele lugar tão especial. Foi muito legal!
Vista do alto do Pico Duarte, na República Dominicana
Vista do alto do Pico Duarte, na República Dominicana
Junte a emoção e a falta de energia e eu resolvi sentar um pouco no pedestal do grande Duarte. Dois minutos depois, eu já sonhava profundamente. Sonhos especiais, muita natureza, alturas e liberdade. Bem combinado com o lugar que estava. Vinte minutos depois, acordei no susto, sem saber exatamente onde estava. Foram uns dois minutos pensando, tentando organizar os pensamentos e ideias e separá-los dos sonhos. Por fim, me achei no tempo e no espaço e vi que estava mais do que na hora de voltar, para não caminhar no escuro. Disse um até logo ao cume a à estátua e desci para o refúgio.
No alto do Pico Duarte, na República Dominicana
Lá cheguei recebido de braços abertos por todos, impressionados com a façanha. É que a Ana já tinha feito a maior propaganda, esposa coruja! Melhor foi a enorme fogueira que tinham armado, a fonte de calor que eu tanto ansiava, em meio ao frio que começava a apertar. Para completar, comida quentinha que os guias tinham preparado. Todos já tinham comido, mas a Ana providenciou um prato para mim. Ali, na frente da fogueira, comida saborosa e quentinha, ótima companhia, não precisava de mais nada!
Umidade presa nas teias de aranha parecem flores! (trilha do Pico Duarte, na República Dominicana)
Com nossos amigos franceses, voltando do cume do Pico Duarte, na República Dominicana
Não fomos dormir tarde, já que o plano era madrugar para ir ao pico, nós quatro e um dos guias. O outro ficaria no refúgio, para nos aguardar com um café da manhã caprichado. No escuro ainda, todos com lanternas na cabeça, começamos a caminhar. O céu agora estava limpo e brilhava uma bela lua. Tão forte que quase já não precisávamos das lanternas.
Mulas descansam na área do refúgio do Pico Duarte, na República Dominicana
Planta na trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
Agora que eu já sabia o caminho e na companhia da esposa e amigos, muita conversa para esquentar e distrair, foi infinitamente mais fácil que no dia anterior. Com o sol nascendo, chegávamos no Vale de Lílis, último ponto de parada, 100 metros abaixo do pico. Quinze minutos depois, estávamos todos no teto do Caribe, o Duarte feliz por me rever. O céu estava azul e finalmente pude ver a incrível natureza que cerca a montanha, dezenas de quilômetros para todos os lados. Dizem que, em dias excepcionais, dá até para ver o mar, ao norte, e o Haiti, a leste.. Hoje não dava para ver tão longe, mas mesmo assim, estava magnífico!
Descendo a trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
Voltamos para o refúgio, nos esbaldamos no café da manhã e ganhamos força para a subida que nos esperava, o “reverso” daquela maior descida do trecho de ascensão. Chegando lá encima, só nos restava descer. A próxima parada foi a do lanche, no meio do caminho. Daí para baixo, desgarrei-me do grupo, descendo quase correndo, pura diversão na trilha cheia de curvas e pedras.
Encontro com tropa de mulas na trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
Os quase vinte quilômetros de descida passaram muito mais rapidamente que na subida (claro!) e cheguei á entrada do parque, onde logo procurei um boteco para uma merecida Presidente (a cerveja nacional da Rep. Dominicana). Uma hora depois chegava a Ana e , um pouco depois, os franceses. Antes mesmo da cerveja, eles foram direto para um mergulho nas águas geladas do rio. Eu também não resisti e logo chegaram mais cervejas, trazidas pelos nossos guias. Um final de outo para dois suados e deliciosos dias de trekking.
Um rio refrescante na trilha do Pico Duarte, na República Dominicana
Os franceses partiram em seu carro alugado enquanto nós fomos levados de volta à Jarabacoa pelo Monche. Amanhã, é nossa vez de alugar um carro para, nos próximos dias, explorar o litoral norte do país. Chega de montanhas, vamos às praias!
Depois da trilha, um merecido e gelado banho em um rio no final da descida do Pico Duarte, na República Dominicana
Pausa para fotos na viagem de Baños à Cuenca - Equador (olha só a felicidade da aniversariante!)
É nas datas importantes que percebemos que o tempo está passando. E hoje foi uma delas, talvez a mais importante do ano. A minha querida e jovem esposa está fazendo 30 anos de idade.
Celebração dos 30 anos da Ana no excelente restaurante Tiesto, em Cuenca - Equador
É seu segundo aniversário na estrada, nesses nossos 1000dias de andanças pelas américas. Há exatos doze meses celebrávamos seus 29 anos na cidade maravilhosa, nossa querida Rio de Janeiro. Hoje foi e vez de celebramos em Cuenca, uma das mais belas cidades equatorianas.
Celebração dos 30 anos da Ana no excelente restaurante Tiesto, em Cuenca - Equador
Tivemos a agradável companhia do Rafa e da Laura, nossos padrinhos de casamento e que vieram passar conosco 3 semanas aqui no Equador. A convivência tem sido ótima e a presença deles nessa data tão especial fez a celebração ter mais cara de festa, de aniversário.
Com o simpático chef do restaurante Tiesto, no aniversário da Ana, em Cuenca, no Equador
A comemoração foi no maravilhoso restaurante Tiesto, um ponto de visita obrigatório para quem passa por Cuenca. Além da comida, outra atração é o Chef, um figuraça de muita personalidade que faz questão de frequentar todas as mesas de seus clientes.
Mar de nuvens cobre o vale na viagem para Cuenca, no Equador
A viagem de Baños à Cuenca foi longa e tranquila com um visual maravilhoso na segunda metade do percurso. Passamos por vales e montanhas, vulcões e pequenas cidades. No fim de tarde, as nuvens cobriram os vales abaixo de nós e o céu avermelhado fazia tudo ficar ainda mais belo.
Bela paisagem no fim de tarde na viagem para Cuenca, no Equador
Chegamos na cidade já no escuro e amanhã devemos ir a um parque nacional aqui do lado. A visita ao afamado centro histórico de Cuenca fica para depois de amanhã. Mas, mesmo ainda sem conhecer a cidade, ela já está para sempre marcada em nossas memórias. Afinal, não é todo dia que se faz 30 anos. Long live my beautiful wife! Já brincamos de tentar adivinhar aonde estaremos daqui a um ano, na comemoração dos 31 anos. Tomara que passe bem devagar!
Celebração dos 30 anos da Ana no excelente restaurante Tiesto, em Cuenca - Equador
Cavalos esperam seus clientes sob a lua e um céu azul, aos pés de El Quemado, na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Ainda na noite do dia 18, quando chegamos à Real de Catorce, decidimos que faríamos um dos programas prediletos de quem visita a cidade: um passeio à cavalo pelas montanhas da redondeza. Ficamos amigos de um guia e combinamos de nos encontrar no dia seguinte, bem cedo, em frente ao nosso hotel, ele já com cavalos arreados e prontos para nós.
Cavalos prontos para nossa cavalgada na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Cavalgada na região de Real de Catorze, Pueblo Mágico ao norte do México
E lá estava ele, hoje, às oito horas. Em princípio, achei nossos cavalos meio pequenos, mas o Refugio, seu nome, foi logo explicando que, para aquelas trilhas inclinadas e cheias de pedra, cavalos menores são muito mais eficientes que cavalos grandes. Posso até ter desconfiado no início, mas bastaram dez minutos na trilha para verificar que ele estava certo: cavalos grandes ali seriam um desastre. Além do calçamento cheio de pedras soltas (aquilo já foi uma estrada...), muitas vezes estamos do lado de uma ribanceira. Um escorregão por ali não era uma opção.
Cavalgada na região de Real de Catorze, Pueblo Mágico ao norte do México
Cavalgada nas montanhas ao redor de Real de Catorze, Pueblo Mágico ao norte do México
Saímos dos 2.700 metros de Real e subimos outros 300 metros para chegar no alto do morro onde, além da magnífica vista para a cidade e seus arredores, está uma pequena cidade fantasma. Ali já funcionou uma fazenda mineira, com a casa grande dos donos, várias construções de beneficiamento e dezenas de casas de empregados e servos. Tudo em pedra. Uma visão diretamente para a história.
Chegando à Ciudad Fantasma, perto de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Explorando a Ciudad Fantasma, próxima de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Apeamos dos cavalos e passeamos pelas ruínas, o Refugio nos ensinando como era a vida por lá e como se tratava a prata. Vida boa para o senhor, dura para cavalos e servos e mortal para os escravos indígenas. Esses, depois de entrarem nas minas, só sairiam de lá mortos, meses a fio sem ver a luz do sol. A entrada da mina está fechada por uma grade, um poço com mais de cem metros de profundidade. Lá embaixo, apenas um escuro impenetrável e um vento frio que sobe continuamente, trazendo consigo o lamento centenário daqueles que ali trabalhavam e morriam.
Ruínas da Ciudad Fantasma, próxima de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Ruínas da Ciudad Fantasma, próxima de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Desse ponto, teoricamente, voltaríamos. Ir até a cidade-fantasma e voltar é um dos passeios mais tradicionais de cavalo. O outro é seguir para outra direção, até o “Quemado”, uma montanha sagrada para indígenas e que se tornou centro de peregrinação mística. O nosso passeio à cavalo estava tão bom que o Refugio nos propôs que continuássemos por ali, indo por trás das montanhas até a montanha mágica. Caminho muito pouco frequentado, algumas horas de cavalgada sem chance de encontrar outras pessoas. Foi nesse momento que decidimos ficar mais um dia na região e não perder essa chance de ouro. Montamos e seguimos em frente, para nossa alegria e tristeza dos cavalos.
Conversando com nosso guia nas montanhas de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Cavalgada nas montanhas ao redor de Real de Catorze, Pueblo Mágico ao norte do México
O calçamento da estrada acabou de vez e agora cavalgávamos por uma trilha que nunca foi mais do que isso mesmo. Em um trecho mais inclinado, agora de descida, até apeamos dos cavalos para seguir a pé. Mais fácil e seguro para todos nós. A vista que nos rodeava compensava qualquer esforço, assim como as histórias que ouvíamos do Refugio e mesmo o ar puro e saudável que respirávamos.
Trilha atravessa as montanhas da região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Um colorido cactus nas montanhas de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Aos poucos, fomos chegando perto da civilização novamente. Quer dizer, traços dela, na forma de ruínas de antigas fazendas, sempre colossais estruturas em pedra. Finalmente, ao longe, começamos a avistar o Quemado, um objetivo agora tangível para nossas pernas e nádegas que sofriam com o trote dos cavalos.
Caminhando pelas montanhas da região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Enfim, chegamos ao ponto onde os cavalos ficam. Daí para frente, a parte final da montanha é feita caminhando mesmo. O esforço serve como um ritual de purificação para chegarmos lá encima mais leves e focados. El Quemado atrai dezenas de milhares de peregrinos anualmente, principalmente no período de festas e celebrações. Hoje, por exemplo, era um dia especial e alguns indígenas subiam para fazer suas oferendas e orações lá no alto.
Um burrito aguarda enquanto seus clientes sobem o El Quemado, montanha sagrada próxima de Real de Catorze, Pueblo Mágico ao norte do México
Cavalos e guias esperam seus clientes sob a lua e um céu azul, aos pés de El Quemado, na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
O Refugio ficou embaixo com os cavalos enquanto subíamos. Lá no alto, um labirinto formado por pedras nos mostra que é realmente um local de contemplação. Um pouco mais alto, uma pequena capela cheia de oferendas. Uma pessoa com seu tambor produzia sons que soavam mágicos naquela imensidão semidesértica. Falando em imensidões, a vista lá de cima é de tirar o fôlego, lá embaixo o famoso deserto potosino, uma planície que parece não ter fim. Não é a toa que a montanha é sagrada!
Labirinto místico de pedras na montanha sagrada da região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
A magnífica vista do alto de "El Quemado", a montanha sagrada da região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Caminhamos para baixo lentamente, saboreando cada minuto, cada momento. Sobre os cavalos outra vez, finalmente seguimos em direção à cidade. Passamos por umas últimas ruínas, entre elas um grande arco de características mouriscas. Pois é,,, qual seria a relação entre indígenas pré-colombianos e mouros? Ora, boa parte da península ibérica esteve ocupada por mouros durante séculos. Eles podem ter sido finalmente expulsos de lá, mas a cultura peninsular ficou irremediavelmente influenciada por eles. A cultura moura passou a fazer parte da cultura espanhola que foi trazida para o Novo Mundo junto com os conquistadores. E assim, em pleno interior do México, em antigas terras chichimecas, nada mais “normal” do que passar sob um arco mouro, como se estivéssemos no Marrocos ou na Tunísia. A globalização começou muito antes do que imaginávamos...
Oferenda à natureza no alto da montanha El quemado, na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
A pequena capela no alto da montanha sagrada El Quemado, na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Por fim, de volta à Real de Catorze e ao conforto do nosso hotel, agora com direito à quarto novo, como narro no próximo post. Nosso passeio à cavalo por cidades-fantasmas e montanhas sagradas não poderia ter sido mais mágico. Bom, na verdade, poderia sim. E foi!
El Quemado, a montanha sagrada na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Passando por arco mourisco na volta à Real de Catorze, Pueblo Mágico ao norte do México
Durante nosso passeio, tivemos a oportunidade de provar uma planta usada em rituais e também com fins medicinais pelos habitantes do deserto há quase 5 mil anos. Estou falando de um cactos rasteiro e sem espinhos chamado peyote que tem como efeito a potencialização de todos os nossos sentidos. Passamos a ouvir melhor, ver mais detalhes, sentir mais profundamente. Cores e formas ficam mais nítidas, odores ficam mais claros, sons ficam mais profundos.
Um colorido cactus nas montanhas de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Planta do deserto na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
O gosto de peyote não é bom, demasiadamente amargo para nosso paladar. Mas, com ajuda da água, acabamos por engolir. Os efeitos vem aparecendo paulatinamente, quase sem percebermos. Ao cavalgar, nossos rostos passam a sentir o vento de forma mais intensa. Ao reparar em cactos e plantas, passamos a ser capazes de perceber cada um de seus espinhos. É como se jogássemos nossa TV velha fora e a substituíssemos por outra, de alta definição.
O famoso peyote, espécie de cactus comum no região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
A magnífica vista do alto de "El Quemado", a montanha sagrada da região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
O momento mais belo e mágico de todos foi no alto da montanha sagrada. Sentados ao lado da pequena igreja lá encima, admirando a linda paisagem e ouvindo os sons tridimensionais do pequeno tambor tocado pelo nativo. Era como se estivéssemos em um filme do Wim Wenders. Naquele momento, só podíamos agradecer ao México a chance de estar vivendo aquilo. O nosso momento mais especial no país, algo de que sempre nos lembraremos, tão intensamente como estavam nossos sentidos. Agora sim, nada mais poderia melhorar o nosso mágico passeio.
Tocando tambor e reverenciando a natureza no alto de "El Quemado", na região de Real de Catorce, pueblo mágico no norte do México
Chegando de volta ao nosso hotel, depois de muito caiaque, trilha e cachoeira (região de Livingston, na Guatemala
Ontem pela manhã, ainda na cidade de Livingston, o Chris veio nos encontrar com seu barco para nos levar à “Round House”, sua pousada na beira do rio Dulce, longe de tudo e de todos. Nós havíamos ligado para lá na noite anterior, combinando com ele a carona e a estadia por lá. Essa foi uma valiosa dica do nosso amigo velejador Gaston, que sempre passa por lá no seu caminho para Rio Dulce, quando está fugindo dos furacões ou simplesmente indo passar umas férias na Europa. O Gaston havia dito para passarmos uns dias na cidade de Livingston mesmo, mas que não poderíamos deixar de passar uns dias na Round House também, escondida pela densa mata, longe de qualquer cidade ou estrada e bem em frente ao rio. Não resistimos á tentação e nem ao conselho!
A caminho da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala
O pier da Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala
O Chris é um inglês que já se mudou para a Guatemala há uns dez anos, sempre aqui na área do rio Dulce. Nas suas idas e vindas pelo rio, uma casa arredondada (e caindo aos pedaços) lhe chamava a atenção. Estava muito bem localizada, mas os donos quase nunca apareciam. Há uns dois anos, junto com um sócio americano, teve a chance de comprar a tal casa e, depois de uma boa reforma, a região ganhou uma nova e excelente opção de hospedagem: a Round House. Junto com sua bela e simpática namorada holandesa, a Dani, eles administram a pousada e a estão ampliando aos poucos, transformando-a num verdadeiro oásis a meio caminho entre Livingston e os lagos que alimentam o rio Dulce.
Olha o trânsito na frente da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala
Maravilhoso entardecer sobre o rio Dulce, em frente à Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala
Nós chegamos em plena Semana Santa, o feriado mais movimentado da América Central. É uma semana de férias e o turismo interno movimenta e lota todos os hotéis, principalmente aqueles na região do litoral. Já antecipamos grandes dificildades para nós, que nunca reservamos nada, para os próximos dias. Mas não aqui na Round House. O Chris e a Dani não gostam do tipo de movimento que essa semana trás e evitam reservas. Preferem descansar e estar prontos para as semanas seguintes, de movimento normal. Mas abriram uma exceção para nós. Para nós e para a Serena, uma simpática italiana que trabalha em um hostal em Livingston, mas resolveu tirar um fim de semana sabático. Ela também aguardava pelo Chris ontem de manhã e fomos todos juntos à Round House, onde a Dani nos esperava.
Hora do lanche na Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, no litoral da Guatemala
Nadando no rio Dulce, emfrente à Round House, na região de Livingston, no litoral da Guatemala
A pousada é realmente uma delícia! Descemos pelo píer e uma passarela e escada de madeira nos levam a um edifício redondo, todo de madeira também, já no meio das árvores. No andar de baixo, uma grande e confortável sala de estar com um charmoso bar no meio. Não há paredes, apenas folhagens de árvores que protegem as laterais. No andar de cima, outra área de estar que dá acesso aos quartos que a circundam. Um charme só! As refeições (café, lanche e jantar) são preparadas e servidas ali mesmo, no andar de baixo, sempre comida muito saudável.
A deliciosa "living room" da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala
Com a Dani, uma das donas da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala
Nossa rotina era de muito bate-papo na salona de estar, deitado em alguma rede ou sentado em algum sofá, intercalado com mergulhos no rio ali na frente, ora enfrentando a corrente rio abaixo, ora enfrentando a corrente rio acima, por causa da maré que entrava. A única coisa chata era que, nesses dias de Semana Santa, o tráfego de barcos aumenta bastante. Assim, além de me desviar dos patos e garças que nadam e voam por ali às dezenas, também tinha de me preocupar com os barcos. Enfim, nada que não pudesse ser administrado. A opção era fica ali perto do píer mesmo, caso da Ana, ou nadar até o meio do rio e não dar bola para os barcos, o que era o meu caso.
Reencontrando o Antoine, no pier fo Hotelito Perdido, em um tributário do Rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala
A Serena, nossa companheira de caiaque em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala
Nossa primeira ideia era passar apenas uma noite por ali, mas foi paixão a primeira vista e vimos que seria difícil ir embora. Depois da delicosa primeira refeição e das conversas já regadas à cerveja, já não tivemos mais dúvidas: ficaríamos outo dia” Uma paraíso desse merecia, certamente!
Andando de caiaque em afluente do rio Dulce, perto do nosso hotel Round House, na reguão de Livingston, na Guatemala
Durante passeio de caiaque, encontro com garça em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala
E assim foi, 48 horas de muita saúde e diversão. O dia começava com um bom mergulho, antes que os barcos começassem a passar, seguia com o café da manhã, pausa para leitura, muita conversa, cerveja gelada, mais mergulhos, agora com barcos, lanche delicioso, a sagrada hora da siesta, mais mergulho com barcos, cerveja, pôr-do-sol, conversa mole, jantar deliciso, cerveja com um toque de tequila e, com a lua quase cheia, mais mergulho no rio, sem barcos, barulho da selva ao longe (selva, de noite, é bem barulhenta!) e pensamento nos tubarões-touro, conhecidos por subirem até aqui, apesar de não haver registro de ataques. Eu não queria ser o primeiro, mas também não deixaria um medo infantil me privar de um mágico mergulho noturno num rio iluminado pela lua. Mas, pelo sim, pelo não, e pelo tal medo infantil, não me enrolava muito na água, não, hehehe.
Cabana em afluente do rio Dulce, perto de Livingston, na Guatemala
A paradisíaca cachoeira perto da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala
A única quebra na rotina foi um grande passeio de caiaque que fizemos hoje. Eu e a Ana em um caiaque duplo e a Serena nos acompanhando, em um caiaque simples. Subinos o rio Dulce cerca de um quilômetro e entramos em um afluente, aí já bem longe do movimento chato de barcos. Mais alguns minutos e chegamos a outro hotel famoso por aqui, o Hotelito Perdido, onde reencontramos um amigo feiro em Livingston, o francês Antoine, um ótimo papo. Foi só o tempo de recuperarmos o fôlego e retomamos o caminho, um longo percuso ainda à frente. Nossa ideia era chegar até o fim desse afluente, mais uns seis quilômetros de remadas. Sempre atravessando um bucólico e tranquilo cenário, águas calmas e garças voando ou nos observando.
A paradisíaca cachoeira perto da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala
Refrescando-se em uma bela cachoeira, depois de muito caiaque e uma trilha para lá chegar (perto de Livingston, na Guatemala)
No fim do rio, bem mais longe do que havíamos antecipado, a Serena já teve de voltar. Ela tinha de pegar um barco de volta à Livingston, onde trabalho a esperava. Já eu e a Ana, amarramos nosso caiaque por lá e, carregando os remos, fizemos uma trilha de cerca de um quilômetro até uma belíssima cachoeira que nos havia sido indicada pelo Chris.
Felizes da vida, depois de chegar na cachoeira em afluente do rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala
Andando de caiaque em afluente do rio Dulce, perto do nosso hotel Round House, na reguão de Livingston, na Guatemala
Incrível como as expectativas influem no nosso conceito final de algum lugar. Essa cachoeira, por exemplo: tanto o Chris como o Antoine disseram que ela era mais ou menos, que o caminho para se chegar lá, remando pelo rio, era mais interessante. Então não esperávamos muito. Eis que ali chegamos e adoramos! Água verdinha e refrescante, vinda diretamente das montanhas. Uma ótima piscina para nadar! Para quem não esperava muita coisa, não poderia ter sido melhor a surpresa. Por mais de meia hora, nós nos refestelamos no poço e na cachoeira, fazendo valer todo o esforço de ter chegado até lá.
Noite regada à tequila, com o Chris, um dos donos da nossa pousada no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala
Olha só o tamanhozinho da garrafa de tequila, no bar da Round House, nosso hotel no rio Dulce, região de Livingston, na Guatemala
Na foto de satélite abaixo, aparece marcado o local da Round House, o afluente do rio Dulce que percorremos por inteiro, o local onde deixamos nossos caiaques e a cachoeira deliciosa. No zoom máximo, é até possível ver nosso hotel e a própria cachoeira. Afastando um pouco a imagem, aparecerá Livingston e é fácil perceber aonde está localizada a Round House, logo após o canyon cheio de curvas no final do rio Dulce.
Ver rio Dulce num mapa maior
Foi com dor no coração que deixamos a Casa Redonda. Facilmente passaríamos outros dias por lá, em companhia tão agradável e ambiente tão gostoso. O Chris, além de ter feito (e estar fazendo!) um ótimo trabalho na Round House, como engenheiro, arquiteto, marceneiro e faz tudo, tudo o mais ecologicamente responsável possível, também é um cervejeiro de mão cheia. Ele tem uma micro-cervejaria ali mesmo e nossas longas conversas sobre a vida no país, a violência, o desenvolvimento da região, o turismo e até mesmo sobre a vida animal das redondezas (assunto em que a Dani é expert!) era sempre acompanhada de cerveja da melhor qualidade. Quem é que quer deixar um lugar desses, com comida, bebida, rio e cachoeiras para nadar, muita sombra e brisa correndo por uma sala aberta e cheia de sofás e almofadas?
Com o Chris e seu sócio, donos da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala
Hora da partida da Round House, perto de Livingston, no litoral da Guatemala
É... mas tínhamos de seguir em frente. Em Rio Dulce nos esperava a Fiona e, do outro lado da fronteira, era chegada a vez de conhecermos Honduras, o único país que ainda não estivemos aqui na América Central. Afinal, cruzamos o país em apenas poucas horas, na subida para o Alaska. Não dá para dizer que já conhecemos. Mas agora sim, vamos ver o país com a devida calma. Honduras, aí vamos nós!
A caminho de Rio Dulce, depois de quatro dias em Livingston, na Guatemala
Observando o Buraquinho, próximo à Chapada Gaúcha - MG
Saímos cedo de Chapada Gaúcha resignados para enfrentar os mais de 150 km de estradas de terra e areia até Januária, ao lado do Velho Chico.
No caminho, duas paradas previstas: uma no "Buraco" e outra no "Buraquinho". São os nomes de dois acidentes geográficos, parecidos com vales ou canyons, por onde passam rios, se formam veredas e moram comunidades distantes de tudo e de todos. É o nosso Brasilzão, este que temos tentado conhecer em nossas andanças.
Atravessando a Vereda "Buraco" próximo à Chapada Gaúcha - MG
Realmente, é uma experiência e tanto, um dia estar na capital federal, circulando entre os políticos mais poderosos do país e, logo no outro dia, parar numa estrada de terra perdida, encontrar um caboclo, pedir informações e não conseguir entender metade das coisas que ele fala. E olha que eu tento, me concentro mas tem uns sotaques que são fueda.
Estrada de areia em Bonito de Minas, entre Chapada Gaúcha e Januária - MG
Dos "buracos", seguimos pela reta interminável de terra, cortando o mar de cerrado. Planícies intermináveis. Aí, achamos um atalho, pura areia, só para 4x4, que nos levaria até o asfalto. Para isso, nos embrenhamos no cerrado e, para nossa surpresa, cruzamos um rio caudaloso que não fazíamos idéia que estava ali, tão perto de nós. Bem na hora de atravessar a ponte, uma bóia, tipo câmera de trator, com dois meninos, passam pelo rio. Não sei quem está mais surpreso de se ver, naquele momento. Todo mundo com cara de que está vendo um ET. De certa forma, todos estão.
Bom, chegamos ao asfalto e à civilização. Meia hora depois estamos em Januária. Quinze anos fizeram diferença e o rio não é mais aquele que eu tinha conhecido. No seu antigo leito, uma mata. As águas estão afastadas, o rio assoreado. Mas está lá. Há até uma praia do outro lado do rio. Sendo Domingo, está bem movimentada.
Praia do Rio São Francisco em Januária - MG
Achamos um hotel bem gostoso na frente do rio. Com o calor que está fazendo, mais gostoso ainda é a sua piscina. Relaxados, vamos dormir sem saber o que faremos amanhã. Temos o Plano A e o Plano B. Mas isso fica para o próximo post...
Piscina do hotel em Januária - MG
Mesmo em dia nublado, as paisagens grandiosas do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Em 1878 chegava ao sul da Patagônia o primeiro grupo de turistas de que se tem notícia. Entre os integrantes, a famosa escritora, jornalista e feminista inglesa Florence Dixie. Naquela época, Dixie já dizia que homens e mulheres deveriam ter os mesmos direitos, de votar, de estudar, de trabalhar, de como se vestir e até de viajar. Seus livros, mesmo os de viagens, faziam muito sucesso na época. Sua descrição sobre as belezas da patagônia, especialmente sobre a região de Torres del Paine, cativaram e interessaram muitos leitores e incentivaram a vinda para cá de inúmeros cientistas, como geólogos e glaciologistas. As enormes torres de granito que fazem a fama do parque foram chamadas por ela de “As Agulhas de Cleópatra”.
Foto clássica do parque Torres del Paine, tirada em dia de sol e do lago Pehoe (foto da internet)
Foto clássica do parque Torres del Paine, tirada em dia de sol e do lago Nordenskjold (foto da internet)
Esse era o nome que se dava (e continua assim!) aos obeliscos egípcios que foram enviados a Paris, Londres e Nova York poucos anos antes da viagem de Dixie à patagônia. Na verdade, eles são muito anteriores à Cleópatra e quando a famosa rainha egípcia nasceu eles já tinham quase 1.500 anos. Mas no final do séc. XIX, tudo que vinha do Egito era associado à sua mais conhecida rainha e assim foi com os obeliscos também. As enormes montanhas em forma de torres no sul do Chile realmente se parecem com os obeliscos, mas o nome sugerido por Dixie não pegou e eles ficaram mesmo conhecidos como Torres del Paine. “Paine” é uma forma antiga de dizer “azul” e se refere á cor do granito em dias nublados, coisa muito comum por aqui.
Estrada interna do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Estrada que corta o parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Mesmo com a chegada de cada vez mais visitantes para conhecer essas formações tão belas, a área não era protegida até 1959. Ao contrário, várias fazendas de pastoreio ocupavam a região, a mata nativa sendo destruída para dar lugar para comida de ovelha. Finalmente, com a criação do parque de 2.500 km2, a situação começou a se reverter. A flora e a fauna local se recuperaram e o número de turistas não parou mais de crescer, algum número perto de 170 mil pessoas por ano, mais de 60% delas estrangeiros. A absoluta maioria desses visitantes vem durante os meses de verão, de Dezembro a Março, quando o clima é mais ameno e o dia tem muito mais horas de luz. O resultado é um certo congestionamento no parque, principalmente ao longo das atrações, trilhas e refúgios mais conhecidos.
Lagoas e montanhas do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Lago Sarmiento, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
O parque protege uma área de lagos, rios, geleiras e estepes, mas a grande estrela é, sem dúvida o maciço Paine. Suas torres de pedra atraem alpinistas do mundo inteiro enquanto a chance de vê-las mais de baixo atrai pessoas do mundo inteiro. Uma rede de trilhas foi criada para dar acesso a todos os ângulos possíveis de observação dessas montanhas, enquanto refúgios e campings atendem a todos os caminhantes. A organização é quase americana, com opções para todos os bolsos. A única necessidade é fazer a reserva com bastante antecedência, principalmente nos meses de verão.
Pousadas mais chiques dentro do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Pousada com direito a hidromassagem na beira do lago no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Há também uma rede de estradas, para aqueles que não querem fazer muito exercício. Elas levam a lagos, cachoeiras, mirantes de observação e aos hotéis mais caros. Sim, exatamente como nos EUA e diferentemente do que ocorre no Brasil, há hotéis chiques dentro da área do parque nacional para aqueles que querem conhecer um dos lugares mais belos do mundo em alto estilo. Mas para quem quiser ver essa maravilha de perto mesmo, aí não tem jeito: vai ter de botar o pé na trilha e suar um pouco (ou, muitas vezes, passar frio!).
Mesmo em dia nublado, as paisagens grandiosas do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Parada em mirante ao lado da estrada no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Geleira desce montanha no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Já faz alguns anos que esse parque passou a ser o queridinho dos gringos que visitam a nossa América do Sul. Tanto por suas belezas naturais como pela infraestrutura e organização criada para desfrutá-la. O Torres del Paine virou um símbolo e motivo de orgulho para o Chile. Mas com tanta gente entrando no parque e caminhando livremente por suas trilhas, a chance de acontecer algo errado não é pequena. Por duas vezes em anos recentes, turistas que acampavam não cuidaram bem de seus fogareiros e inadvertidamente botaram fogo no parque, queimando mais de 150 km2 de vegetação e, inclusive, matas nativas. Em 2005 foi um turista tcheco e em 2011, um viajante de Israel. A repercussão foi tão grande que, nos dois casos, seus países de origem arcaram com os custos e enviaram especialistas para ajudar na recuperação da vegetação destruída. Hoje, fogueiras são proibidas em qualquer lugar de Torres del Paine e fogareiros só podem ser acesos em locais de camping. Turistas são terminantemente proibidos de caminhar fora das trilhas designadas e o acesso a algumas regiões mais sensíveis do parque só pode ser feita acompanhada de guias credenciados.
Mesmo queimada, a bela vegetação do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Nosso roteiro (de carro e pequenas trilhas) no primeiro dia no Parque Torres del Paine: Portaria Sarmiento - Mirante - Salto Chico - Praia do Lago Grey - Salto Grande - Refúgio Las Torres. Amanhã, começamos o famoso trekking do W, também mostrado no mapa
Eu já tinha estado aqui uma vez, há pouco mais de 20 anos. Foi durante uma viagem de um mês por Argentina e Chile e as memórias das andanças no Torres del Paine ainda estão vivas, um dos pontos altos daquela jornada. Ainda não havia tantos turistas naquela época e os refúgios eram bem mais rústicos que os de hoje. Mas sempre sonhava em voltar. Aquela história de que figurinha repetida não preenche álbum não vale para esse lugar especial. Enfim, agora tão bem acompanhado da Ana, finalmente o sonho se realizou.
Passarela de madeira que leva ao Salto Chico, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Salto Chico (nem tão "chico" assim!) no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Mesmo com chuva e frio, visita ao Salto Chico, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Como chegamos bem na semana do natal, o parque não está assim, tão lotado. Nós viemos para percorrer o famoso circuito do W, o trekking mais conhecido e disputado do Torres del Paine. O circuito tem esse nome, “W”, exatamente porque o caminho se parece com essa letra do alfabeto, contornando a parte sul do maciço de montanhas e entrando no centro delas, justamente a perna do meio do W. Ainda vou falar disso nos próximos posts, mas decidimos pelo W pelo tempo que dispúnhamos, não mais do que quatro dias.
Praia do lago Grey, sempre com muitos icebergs, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
A Ana atravessa praia do lago Grey rumo a um iceberg, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Pois bem, a gente chegou hoje aqui no meio da tarde e não poderíamos começar a caminhar ainda hoje. Ao mesmo tempo, nessa época do ano a tarde vai longe por aqui e resolvemos aproveitar essas horas extras. Hoje foi o dia de percorrermos as estradas do parque no conforto da nossa Fiona, parar em locais estratégicos e percorrer pequenas trilhas. Ficamos longe das montanhas, mas elas estão sempre ali, no nosso horizonte. E estariam gloriosas, se o tempo não estivesse tão fechado, muitas vezes até chovendo. Então, o maciço e suas torres estavam sempre entre nuvens, mostrando parcialmente sua cara uma vez ou outra.
A Ana fica pequena perto de um iceberg em praia do lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Um enorme iceberg flutua no lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
O parque tem muitos lagos, mas são quatro os principais: Sarmiento, Nordenskjold, Pehoe e Grey. As estradas circulam entre eles e as atrações tem sempre relação com esses lagos. Nós entramos no Torres del Paine pela portaria Sarmiento e logo paramos em um belo mirante com vista para pequenas lagos e para o Nordenskjold, com as montanhas ao fundo. Aliás, esse nome esquisito é uma homenagem ao jovem cientista sueco que veio no início do séc. XX na esteira do livro da Florence Dixie e passou um bom tempo por aqui estudando a região. Daqui ele partiu para uma viagem ainda mais ao sul e vários acidentes geográficos na Geórgia do Sul e Antártida também o homenageiam.
Debaixo de chuva, caminhando em praia do lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Observando icebergs no lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Daí seguimos para o Salto Chico, uma poderosa cachoeira que de pequena não tem nada. É ela que traz as águas do lago Pehoe para o rio Pehoe. Uma rápida caminhada na chuva em uma passarela de madeira nos levou até lá. Tiramos nossas fotos molhadas e voltamos para a Fiona, agora para passar pela administração do parque e seguir até o fim da estrada. É daí que sai uma trilha de uns três quilômetros que atravessa uma praia do lago Grey e dá visão para a geleira Grey, lá no fundo, a maior da região. Quando fizermos o W, vamos chegar lá perto! Hoje, por causa chuva, mal deu para ver ela direito.
Icebergs parecem formar uma frota de navios-fantasma em praia do lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Um turista se aproxima de iceberg em praia do lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
De qualquer maneira, o ponto alto dessa trilha não era ver a geleira de longe, mas sim a praia e os diversos e grandes icebergs que boiam por ali. Esses enormes pedaços de gelo vieram justamente da geleira alguns quilômetros adiante e ficam ali perto da praia, encalhados, pelo menos até derreterem, ficarem menores e seguirem rio abaixo. São de gelo azul e num dia acinzentado como hoje, estavam lindos e elegantes, uma cena quase surreal diante da lente de nossa câmera, uma pintura no lugar de uma fotografia.
Iceberg e seu reflexo nas águas do lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Icebergs que parecem pinturas flutuam no lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Como havíamos chegado ao final da estrada, só nos restava voltar. Já passava das 19:00 e ainda nem tínhamos lugar para dormir. Mas isso não nos impediu de fazer uma última parada, dessa vez no Salto Grande, o estreito canyon que faz a ligação entre as águas do Nordenskjold e do Pehoe. Já o tínhamos fotografado de longe, mas agora eu queria chegar lá pertinho. A Ana se rendeu ao cansaço do dia longo e à chuva e decidiu esperar na Fiona. Uma rápida corrida em meio a chuva, várias fotografias e outra corrida, agora na descida, encerraram rapidamente essa última etapa do passeio pelo parque.
Icebergs que parecem pinturas flutuam no lago Grey, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Faltava só o lugar para dormir. Como pretendemos começar o W logo pela manhã, tínhamos de dormir em alguma de suas extremidades. Logisticamente, é muito mais fácil ir até o lado leste da trilha, pois o carro chega até aí. Para chegar ao lado oeste, só de barco e, a esta hora, é claro que não havia mais barcos. Então, ficou fácil: rumo à Hosteria Las Torres, no extremo leste do circuito.
Visto de longe, o Salto Grande, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
O salto Grande, onde as águas do lago Nordenskjold caem no lago Pehoe, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
O salto Grande, onde as águas do lago Nordenskjold caem no lago Pehoe, no parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
A hosteria é, na verdade, um complexo. Há um hotel mais caro, um refúgio com quartos coletivos e um camping. Tudo para atender a demanda que não para de crescer. A chuva e o frio nos desestimularam a buscar o camping (montar barraca naquele estado de cansaço, frio, chuva e escuridão, ninguém merece!) e o hotel, mesmo com preços salgados, estava lotado. Já os refúgios, só por que era a semana de natal e estava chovendo, havia umas últimas vagas para nós. O preço? O roubo de 50 dólares por pessoa, sem direito a cobertor! Realmente, a barraca teria saído muito mais em conta, mas nossa falta de ânimo valeu esses 100 dólares. Àquela hora, o restaurante tipo bandejão já tinha fechado e a gente se virou com um lanche mesmo. Depois, fomos achar nosso beliche em um quarto cheio de gringos, alguns começando a caminhada, outros terminando. Dormindo em nossos sleepings, buscamos descansar porque, a partir de amanhã, não tem mais moleza não. Uma longa trilha de 3 dias em meio às Agulhas de Cleópatra, uma das mais cênicas do mundo, nos aguarda...
Atrás de uma colina, as famosas montanhas de granito do parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile
Explorações durante mergulho em Pedras Secas I, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Nosso plano original de mergulhos em Noronha era de três dias, com o gran finale sendo na corveta. Mas a água está tão limpa, nós sendo tão bem tratados pelo Fernando e pela Noronha Divers e o Haroldo tão animado com essa nova atividade que resolvemos mergulhar mais uma manhã.
Esponja gigante durante mergulho em Iúias, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Nesta época do ano o Mar de Fora não é tão revolto como de costume. Então para lá partimos, rumo à Iuias, que deve ter sido uma antiga ilha que foi devorada pelo mar e de volta à Pedras Secas, um dos melhores pontos de mergulho do nosso continente na minha opinião.
Várias lagostas durante mergulho em Iúias, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Dessa vez o Mateus da Ciliares nos acompanhou novamente, o que me liberou de levar minha câmera e poder me concentrar totalmente nas belezas submarinas do Mar de Fora. A água estava transparente, visibilidade de 50 metros, e os dois mergulhos foram show de bola.
Cardume durante mergulho em Iúias, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Em Iuias, passamos por canyons e enormes blocos de pedra amontoados. Peixes e corais coloridos. Tartarugas que não temem humanos e lagostas que nos enfrentam com suas antenas.
Tartaruga durante mergulho em Iúias, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Em seguida, Pedras Secas I, aquela que o Haroldo não pode conhecer por ter terminado seu ar. Ali o mergulho é mais raso, bem próximo da rebentação em alguns pontos. A água é incrivelmente limpa. Os corais fazem um verdadeiro labirinto de tocas, cavernas e canyons. Os peixes bricam nas correntes e todos nós parecemos estar voando sobre um mundo alienígena.
Explorações durante mergulho em Pedras Secas I, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Nossa imaginação vai longe durante o mergulho. Só fui trazido de volta pelo susto que passei quando tentei me aproximar de uma enorme barracuda que nadava bem próximo à superfície, encostado nas pedras. Ao subir demais fui surpreendido por uma forte corrente ascendente que me puxou com força para cima. Só deu tempo de pensar:"Xiiiii... vou ver na prática porque o nome daqui é Pedras Secas!" Um pouco antes de ser tragado para a superfície a corrente inverteu e eu aproveitei para mergulhar com força até uma profundidade segura. O coração acelerou!
Barracuda gigante durante mergulho em Pedras Secas I, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Outra cena maravilhosa é observar a rebentação lá de baixo. Uma espécie de "poeira branca" se forma na água. Mais do que nunca, parece que estamos fara d'água e que aquilo que vemos são nuvens contra um céu claro. Difícil descrever a beleza da cena.
Mergulhando sob as ondas em Pedras Secas I, em Fernando de Noronha - PE (foto de Mateus Harfush - Ciliares)
Assim fechamos essa série de mergulhos fantásticos em Noronha. Para quem planeja viajar para cá meu conselho é: aprenda a mergulhar antes de chegar aqui e descubra esse incrível mundo subaquático que cerca a ilha! Não vai se arrepender...
Com o Fernando, nosso guia de mergulhos e o Mateus, fotógrafo da Ciliares, em Fernando de Noronha - PE
Foto com a equipe da rádio que entrevistou a Ana em um posto de San Pedro Sula, em Honduras
De volta ao continente na manhã de hoje, pegamos estrada para nosso próximo destino: as famosas ruínas mayas de Copán! No caminho, outra vez a cidade de San Pedro Sula, a segunda maior do país, com quase um milhão de habitantes, atrás apenas da capital Tegucigalpa. San Pedro pode ser a segunda em população, mas sem dúvida, é o principal centro econômico de Honduras, responsável por quase 2/3 do PIB do país. Infelizmente, não é sua força econômica que lhe trás fama atualmente, mas a violência em suas ruas. San Pedro de Sula é considerada a cidade mais violenta do mundo, com 159 homicídios para cada 100 mil habitantes, em 2011. Para se ter uma ideia e comparação, essa mesma taxa, para São Paulo (dados de 2010) é de 13 homicídios, 24,3 para o Rio, 55,5 para Salvador e 109 para nossa “campeã”, a alagoana Maceió.
Npsso caminho entre La Ceiba e Copán Ruinas, passando outras vez por San Pedro Sula
Por causa dessa fama, sempre imaginei como seria nossa passagem pela cidade. Mas aqui, como nas capitais brasileiras, o importante é saber aonde ir e, mais ainda, aonde NÃO ir. Nada de dar sorte ao azar e nem de estar no lugar errado na hora errada. Boa parte da violência e dos mortos estão entre as gangues que peleiam entre si. Raramente turistas são vítimas. Quando nós passamos aqui na vinda, além de não termos tido nenhum problema, ainda nos apaixonamos por uma rádio que só tocava boa música. Agora na volta, muito antes de entrarmos na cidade, já a sintonizávamos novamente. Uma das nossas diversões durante as viagens de carro por todos esses países é exatamente isso: ouvir e tentar encontrar boas rádios pelo caminho. Essa de San Pedro foi uma das melhores do continente! Será uma das lembranças que levaremos da cidade, e não a tal violência, que só vimos pelos números e não com nossos olhos.
Foto com a equipe da rádio que entrevistou a Ana em um posto de San Pedro Sula, em Honduras
Mas há outra lembrança que levaremos daqui, também. Parei em um posto da cidade para abastecer e, tanque cheio, fui com a Ana na loja do posto comprar mantimentos. Lá de dentro, percebemos uma movimentação perto da Fiona, pessoas tirando fotos. Enquanto eu pagava, a Ana foi lá socializar. Quando finalmente cheguei lá perto, ela estava sendo entrevistada! Ao vivo! Eu podia ouvir na rádio de outro carro minha esposa mandar ver em seu espanhol, falando do 1000dias. Um pessoal de uma rádio (não aquela que tínhamos ficado fãs) que estava fazendo uma promoção ali no posto adorou a Fiona e colocaram a Ana no ar, para o país inteiro! Muito legal! No fim da tarde desse dia, lá em Copán Ruinas, umas pessoas vieram falar conosco sobre isso, ao reconhecer a Fiona na rua.
Fazendo um teste de bafômetro em estrada entre San Pedro Sula e Copán Ruinas, em Honduras
Seguimos a viagem, deixando San Pedro para trás. A “temida” cidade só nos deu bons momentos e lembranças! Ainda houve um outro fato, já a meio caminho do nosso destino final. Depois de atravessar umas dez barreiras policiais da operação Semana Santa, uam delas nos parou e o simpático guarda veio logo com um bafômetro para cima de mim. Pois é, nem aqui em Honduras estamos livres dessa geringonça! Mais sóbrio que um bebê, não pestanejei: fui logo soprando e conseguindo o índice zero! Segurança total nas estradas daqui, pelo menos nessa semana. E pensar que um conhecido guatemalteco sugeriu que atravessássemos a fronteira novamente para o lado de lá, para fazer esse trecho até Copán, só pela segurança... Ainda bem que não lhe demos ouvidos! Honduras, por enquanto, tem nos tratado à pão de ló!
Verificando o resultado do teste de bafômetro em estrada entre San Pedro Sula e Copán Ruinas, em Honduras
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