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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Antigas árvores com 150 milhões de anos de idade transformadas em pedra, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Há 150 milhões de anos, o nosso planeta era bem diferente de hoje. O supercontinente de Pangea, que unia todos os continentes atuais, havia se partido apenas 30 milhões de anos antes. Agora, já quase no final da era jurássica, era a própria Gondwana que começava a se romper. Esse supercontinente reunia as atuais América do Sul, África, Índia, Antártida e Austrália. Ela também se dividiria em dois blocos, o Oceano Índico nascendo entre eles, América do Sul e África de um lado e os restantes do outro. A Patagônia, na atual Argentina e por onde estamos viajando nos dias de hoje, estava localizada na “Gondwana Ocidental”.
Estrada de rípio que nos leva ao Bosque Petrificado, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina. A linha de poeira ao fundo é um carro se movimentando
Chegando ao Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Naquela Patagônia frequentada por enormes dinossauros, o clima era bem diferente do atual. Muito mais úmida, enormes florestas cresciam onde hoje é quase um deserto. Entre as árvores que aqui cresciam, um bosque com enormes araucárias. Pois é, o mundo era diferente, mas também haviam coisas parecidas! Árvores muito semelhantes com as que hoje crescem no nosso Paraná, lá no sul do Brasil, eram comuns na Patagônia. Araucárias com 50 metros de altura e mais de mil anos de idade, diâmetro algumas vezes superando os dois metros.
Flores crescem no deserto onde está o Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Árvore torcida pelo vento quase constante no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Outra semelhança naquele mundo longínquo era a existência de vulcões. E um deles, bem ativo, fruto dos primeiros sinais de que as placas tectônicas de Nazca e América do Sul estavam para colidir (o que, um dia, levantaria os Andes), estava bem próximo de um pujante bosque de araucárias gigantes. Era nesse bosque que os jovens e pequenos mamíferos corriam para se esconder dos enormes dinossauros, a família de animais que ainda dominaria o nosso planeta por muitas dezenas de milhões de anos. Mas naquele dia específico, o bosque de araucárias não conseguiu defender os mamíferos e nem a si próprio. O perigo era muito mais terrível que os dinossauros.
Restos de antigas araucárias com 150 milhões de anos transformadas em pedra uma erupção vulcânica, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Restos de antigas araucárias com 150 milhões de anos transformadas em pedra uma erupção vulcânica, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Uma enorme explosão sacudiu o vulcão e toda a região ao seu redor. A onda de choque criada por essa explosão foi devastadora, uma espécie de tufão com ventos que corriam a centenas de quilômetros por hora. Tão forte que derrubou, de uma só vez, todo o bosque de árvores gigantes. Mas quilo era só o começo do pesadelo. Horas depois, uma chuva de cinzas que duraria semanas cobriu todas as planícies ao redor do vulcão. Metros e metros, toneladas e toneladas de detritos, sufocaram as árvores, vegetação e animais que, porventura, ainda estivessem vivos.
Examinando de perto antigas árvores de 150 milhões de anos transformadas em pedra no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Árvores que parecem ter caído ontem, mas que foram fossilizadas há 150 milhões de anos, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Toda essa cinza vulcânica criou sob si um ambiente anaeróbico, evitando assim que as árvores gigantes apodrecessem. Sem a ajuda dos micróbios e fungos decompositores, os tecidos orgânicos levariam muito mais tempo para se desfazer, desmanchar-se. Alguns milhares de anos, talvez. Tempo mais do que o suficiente para que o ambiente acima das cinzas se recuperasse. Agora, ainda com muita umidade, pântanos e rios se formaram por ali. A água entrou no solo levando consigo diversos minerais contidos nas cinzas vulcânicas. Com paciência milenar, essa mesma água também ocupava os pequenos espaços deixados pela matéria orgânica das árvores que se desfaziam. Rica em minerais, a água evaporava novamente, mas os minerais ocupavam as pequenas cavidades antes ocupadas pela matéria orgânica. Aos poucos, as ainda duras paredes de celulose que delimitavam as células vegetais agora continham minerais. Basicamente, pedra. Com mais paciência ainda, a própria celulose se desfazia e também ela era substituída por água rica em minerais e, mais tarde, apenas pelos próprios minerais.
Examinando de perto antigas árvores de 150 milhões de anos transformadas em pedra no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Examinando de perto antigas árvores de 150 milhões de anos transformadas em pedra no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Resumidamente, esse é o processo conhecido como “petrificação”, uma das formas de fossilização. Árvores de madeira, nos seus mínimos detalhes microscópicos até suas características macroscópicas, tudo isso transformado em pedra. Todo esse milagre ocorrendo abaixo de muitos metros de cinza, agora já transformada em solo.
Antigas árvores com 150 milhões de anos de idade transformadas em pedra, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Antigas araucárias com 150 milhões de anos no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Muitos milhões de anos se passaram e a Terra continuava a mudar. Dinossauros morreram e os mamíferos se tornaram os senhores do planeta. América do Sul e África se separaram criando o Oceano Atlântico. No oeste do novo continente que agora tinha personalidade própria, esse em que viajamos atualmente, a enorme cordilheira dos Andes se levantava, bloqueando os ventos úmidos do Pacífico e mudando completamente o clima na Patagônia. Rios secaram, bosques sumiram, fauna e flora se adaptaram para um clima desértico, o próprio solo mudou, ficando mais arenoso. Faltava apenas o capítulo final dessa história...
Antigas árvores com 150 milhões de anos de idade transformadas em pedra, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Restos de antigas araucárias com 150 milhões de anos transformadas em pedra uma erupção vulcânica, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Esse papel coube aos fortes ventos que agora desciam secos das montanhas e varriam as estepes em direção ao oceano Atlântico. Some a força deles com eventuais e raras chuvas e alguns cursos de água e temos um trabalho de erosão que, sempre com a paciência dos milênios, limpou o solo onde estava o antigo bosque de araucárias gigantes. As árvores reapareceram para o mundo, mas agora eram de pedra. Toda uma floresta de árvores caídas e petrificadas. Das raízes aos galhos mais altos. Dos enormes troncos às frágeis folhas e sementes, as populares pinhas. Um dos raros casos no mundo de um bosque petrificado que continua em seu lugar de origem. O mais comum é que árvores, ainda em vida, sejam levadas por rios até pântanos e aí afundem e, com o tempo, se petrifiquem. Aqui não, estão exatamente no local onde nasceram, cresceram e caíram.
Examinando de perto antigas árvores de 150 milhões de anos transformadas em pedra no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Passeio no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Mais incrível ainda, doce coincidência providenciada pela mãe-natureza, os minerais que petrificaram as árvores e que dão cor a essas rochas têm uma cor muito parecida com a das árvores originais. Assim, esses gigantes de pedra não têm apenas a forma e desenho de árvores de verdade, mas também a própria cor. A nossa sensação ao vê-las é que elas caíram ali ontem ou, quando muito, no ano passado. Mas jamais há estonteantes 150 milhões de anos, quando ainda existiam dinossauros e a Gondwana. Absolutamente incrível!
Restos de antigas araucárias com 150 milhões de anos transformadas em pedra uma erupção vulcânica, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
parece madeira de verdade, mas é uma árvore transformada em rocha há 150 milhões de anos, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Pois bem, foi esse lugar mágico e com tanta história que visitamos na tarde de hoje. É o Bosque das Árvores Petrificadas, um parque nacional no meio da Patagônia, quase 300 km ao sul de Comodoro Rivadavia. O acesso é pela Ruta Provincial 49, 60 km de boa estrada de rípio que parte da Ruta 3. A região é desértica e isolada, sem cidades ou vilas por perto, sensação de estarmos no meio do nada.
Examinando de perto antigas árvores de 150 milhões de anos transformadas em pedra no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Antigas árvores com 150 milhões de anos de idade transformadas em pedra, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Há um pequeno centro de visitantes com explicações sobre o que aconteceu por ali desde que aquele vulcão explodiu. Aliás, ela ainda está no horizonte, hoje uma dócil e inofensiva montanha aplainada pelo tempo. O carro fica estacionado ali e nós percorremos uma trilha demarcada de cerca de dois quilômetros. O caminho nos leva para bem perto das árvores de pedra. No início, apenas alguns pedaços delas, tocos, mas depois, árvores inteiras, muitas dezenas de metros. Perfeitas, como se ainda vivessem até a véspera. Aparece até um sentimento de raiva do lenhador que fez aquilo tudo. Para quem não sabe, araucárias são quase sagradas hoje em dia, no Paraná, e derrubá-las sem um motivo muito justo é crime inafiançável.
Antigas árvores com 150 milhões de anos de idade transformadas em pedra, no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
As estranhas montanhas na região do Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
O parque foi criado para proteger esse tesouro natural, para impedir que cada visitante resolva levar uma “lembrancinha” para casa. Essa pilhagem ocorria até uma década atrás. Antes disso, talvez 10 mil anos antes, quem “pilhava” o local eram os primeiros humanos a chegarem à Patagônia. As pedras fantasiadas de árvores eram sua matéria-prima para confecção de pontas de flecha. Vários exemplares podem ser vistos no pequeno centro de visitantes, assim como as pinhas petrificadas.
Visita ao deserto patagônico no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
A grandiosidade da paisagem e do deserto patagônico no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Tivemos esse lugar só para nós por quase duas horas. Não só as árvores como a paisagem magnífica ao seu redor, para um lado as estepes sem fim, para o outro, montanhas escavadas e esculpidas pelo tempo. Ar puríssimo da Patagônia, jurássico, cretáceo e o paleoceno, todos convivendo em um mesmo lugar e ao mesmo tempo. Difícil imaginar uma tarde mais espetacular para nosso último dia do ano. Só faltava decidir aonde iríamos dormir, mas nossa vontade era ficar por ali mesmo, imersos naquela magia.
Descanso merecido e inspirado no Monumento Natural Bosques Petrificados, região de Caleta Olivia, no sul da Argentina
Só faltou conhecer a cidade de Mata no RS. http://cenasperdidas.blogspot.com.br/search/label/Mata.RS.Jardim%20Paleobot%C3%A2nico
Fantástico!!!!! Fico imaginando a sensação que vocês tiveram curtindo tudo isso...inacreditável mesmo, 150 milhões de anos .......
Resposta:
Oi Mabel
Foi mesmo emocionante!
Ainda mais em um lugar como aquele, no meio do deserto patagônico, longe de tudo e de todos.
Mágico!
Abs
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