1 Blog do Rodrigo - 1000 dias

Blog do Rodrigo - 1000 dias

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Tranquilidade em Suchitoto

El Salvador, San Salvador, Suchitoto

A pacata cidade colonial de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

A pacata cidade colonial de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador


A vantagem de estarmos em um país pequeno é que tudo fica pertinho. Assim, com menos de uma hora de carro já chegamos a lugares completamente diferentes, passamos o dia e ainda temos tempo de voltar para a nossa “base”. Assim foi o nosso dia de hoje, saindo de San Salvador no final da manhã, chegando à Suchitoto 40 minutos mais tarde e voltando para a capital ainda na luz do dia, antes da cinco da tarde.

Igreja matriz de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

Igreja matriz de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador


A pequena e pacata Suchitoto é a mais charmosa cidade do país. Ruas de paralelepípedo, construções centenárias, ótimos restaurantes, muitas galerias de arte e o frescor do clima de montanha atraem centenas de capitalinos nos finais de semana. Além disso, um enorme lago ao lado da cidade, um vulcão e algumas cachoeiras também atraem aqueles que gostam de ecoturismo.

Caminhando pelas tranquilas ruas da charmosa Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

Caminhando pelas tranquilas ruas da charmosa Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador


Hoje, terça-feira, tudo estava ainda mais tranquilo. Chegamos, caminhamos um pouco pelas ruas centrais ao redor da praça onde está a igreja matriz e, contaminados pela letargia que o ritmo da cidade inspira, desistimos de qualquer programa que requeresse um maior esforço físico. Dar a volta em alguns quarteirões já era o bastante, hehehe!

O lago Suchitlán, ao lado da cidade colonial de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

O lago Suchitlán, ao lado da cidade colonial de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador


Muito melhor ideia, encontramos um botequinho com ótima vista para o lago lá embaixo, na verdade uma represa artificial, e ficamos jogando conversa fora e fazendo planos de viagem. A preocupação era tanta que até deu tempo de jogarmos dama, coisa que não fazia há uns 25 anos!

Jogo de damas com vista para o lago Suchitlán, em Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador. A 'Água' ganhou da 'Cerveja'!

Jogo de damas com vista para o lago Suchitlán, em Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador. A "Água" ganhou da "Cerveja"!


Depois, hora de ir conhecer o lago de Suchitlán mais de perto. Claro que fomos de Fiona ao invés da caminhada de meia hora. Água verdinha, bem bonita, mas imprópria para banho. Vários barcos oferecem passeios aos turistas, mas nada que nos animasse a sair do nosso ritmo. Preferimos ir tratar do estômago num dos muitos restaurantes da região. Já meio enfastiados da vista do belo lago, passamos reto pelos restaurantes com essa paisagem e fomos direto a outro no meio de uma fazenda. Ali, cada cliente tem direito a um quiosque particular, cercado de plantas e com redes próprias. Esperamos nossos pedidos balançando, ritmo baiano total. Carne muito boa acompanhado de “casamento” (feijão com arroz) nos fez sentir ainda mais no Brasil...

Lago de Suchitlán, ao lado de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

Lago de Suchitlán, ao lado de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador


Voltamos felizes para San Salvador à tempo da segunda sessão de massagem da Ana. Para completar o dia estressante, sessão de cinema no shopping, mais peripécias do Tom Cruise no mediano Missão impossível 4. O jantar foi um enorme balde de pipocas...

Passeio na cidade de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

Passeio na cidade de Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador


Bom, depois de um dia como o de hoje, estamos com pique para um dia mais corrido amanhã. Duas ruínas maias (San Andrés e Joyas de Cerón) e um lago maravilhoso numa antiga cratera gigante de vulcão nos esperam. Aí vamos dormir, nossa última noite no país antes de chegarmos à Guatemala, última parada na América Central. Alaska, estamos chegando...

Artesanato e lembranças em Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

Artesanato e lembranças em Suchitoto, nas montanhas no norte de El Salvador

El Salvador, San Salvador, Suchitoto, cidade histórica, Lago

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Glória

Brasil, Minas Gerais, Caxambu

Hotel Glória em Caxambu - MG

Hotel Glória em Caxambu - MG


Houve um tempo, na primeira metade do século passado, em que era um programa muito comum nas classes mais abastadas se passar parte do ano em alguma das estâncias hidrominerais do sul de Minas. Era a "estação de águas". Cariocas e paulistas fugiam do calor em suas cidades natais e passavam temporadas em cidades como Poços de Caldas, Caxambu, Araxá, São Lourenço entre outras. Em várias delas foram construídos grandes hoteis que prosperaram por décadas, atendendo essa fiel clientela. Enquanto se curavam nas águas milagrosas de dia, se divertiam nos cassinos durante a noite. Foi uma época de ouro para essas cidades. De presidentes a artistas, o glamour cercava essas cidades durante a "temporada".

Aqui em Caxambu o hotel que atendia essa chique clientela era o Glória. O seu mais famoso cliente assíduo: Getúlio Vargas. Mas a proibição dos cassinos no Brasil e o avanço da medicina dos remédios tirou da moda as águas medicinais e todas essas cidades. Os hotéis decaíram, alguns chegaram a fechar.

Esse quase foi o destino do Glória. Ele veio se aguentando nas últimas décadas, com um ar meio decadente meio charmoso. Esteve a ponto de fechar as portas ano passado, afundado em dívidas e questões societárias. Mas um novo dono trouxe esperanças. O hotel está em processo de revitalização para alegria dos funcionários e da cidade.

E também de antigos hóspedes! Estive aqui acompanhado dos pais e do querido e saudoso irmão em 1983. Jamais me esqueci da mais limpa piscina em que havia nadado nem da saborosa água mineral servida nas refeições, mais gostosa que sucos de frutas.

Tanto tempo depois, cá estou com minha esposa querida para prestigiar esse patrimônio das Minas Gerais. Pena que por tão pouco tempo. Em plena segunda-feira, como dois dos poucos hóspedes presentes, somos tratados como reis!

Interior do Hotel Glória em Caxambu - MG

Interior do Hotel Glória em Caxambu - MG

Brasil, Minas Gerais, Caxambu,

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Rumo ao Vale do Pati

Brasil, Bahia, Vale do Pati (P.N. Chapada Diamantina)

A paisagem exuberante do Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA

A paisagem exuberante do Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA


A Chapada Diamantina é dinâmica. Ou... o turismo na Chapada Diamantina é dinâmico. A cada vez que volto aqui, novas atrações aparecem, outras atrações estão na moda. Na primeira vez que vim, em 91, a travessia Lençóis-Capão, passando pela Fumaça era o que estava na moda. Ninguém falava desse tal de Pati. Na segunda vez, em 98, o Pati estava começando a estourar. Na última, em 2001, o Pati era a grande atração. Caminhadas de até 5 dias! Como passei por aqui rapidamente, e não querendo ir contra a maré, só consegui dar uma arranhada no tal vale, numa corrida louca, quase desafio esportivo, de sair e voltar no mesmo dia de Andaraí, indo até o Cachoeirão por baixo (via Ladeira do Império).

Subida para se atingir os Gerais do Rio Preto e o Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA. A Fiona ficou lá embaixo ...

Subida para se atingir os Gerais do Rio Preto e o Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA. A Fiona ficou lá embaixo ...


Deata vez, as novas atrações são as cachoeiras do Buracão e da Fumacinha, ambas na parte sul do parque. O Vale do Pati, depois de sair em todas as revistas de turismo do país, virou um progama "normal". Bem, normal ou não, ele estava no top da nossa lista. Afinal, não poderia ser à tôa que ele fcou tão famoso. Muto daquele ar de aventura e descobrimento talvez tenha se perddo. Algum conforto passou a ser oferecido aos intrépidos caminhantes. pontos de apoio com colchões e chuveiros mornos. Para mim, já me aproximando da melhor idade, essas "facilidades" só valorizaram o roteiro!

Banho no Rio Preto a caminho do Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA

Banho no Rio Preto a caminho do Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA


De banheiro e colchão, eu gosto muito. Só não gosto é de multidões. Pode ser o caso do Pati, na época errada (verão e grandes feriados). Mas não é agora. Então, para mim, é uma "win-win situation" (nada a perder, só a ganhar). E para melhorar mais ainda, ter uma espécie de win-win-win situation", decidimos ir ao Pati com um guia. Depois das dificuldades da Fumaça via 21 (não estou fazendo propaganda da Embratel!!!), ter um guia parecia um ótimo conforto. Afinal, poderíamos nos concentrar nas belezas da paisagem e esquecer do melhor caminho. Mais do que isso, arrumamos um guia que é quase (literalmente) um chef de cozinha. Chega de sanduíche de queijo! De agora em diante, comida quente e variada!

Atravessando os Gerias do Rio Preto a caminho do Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA

Atravessando os Gerias do Rio Preto a caminho do Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA


Para melhorar mais ainda o Lúcio, nosso guia, é excelente pessoa e ótimo papo, desses que rola uma empatia desde o início e com quem podemos falar sobre tudo, desde trilhas e comidas até história e música, passando por política e ciência.

Observando o Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA

Observando o Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA


Resumo da ópera. chegamos para o Pati para sadias caminhadas, vistas maravilhosas, comidas suculentas e conversas instrutivas, Assim foi o primeiro dia, que na verdade começou depois do meio-dia, depois da volta da Fumaça. Fomos de carro até a vila de Guiné, avançamos um pouco, deixamos a Fiona ali no campo, subimos para os Gerais do Rio Preto, caminhamos até o mirante e entramos no Vale do Pati rumo à Igrejinha, nosso ponto de apoo na região. Ali, nos instalamos em um confortável colchão e fomos alimentados com um delicioso strogonoff de frango e carne, misturados e muito bem temperados. Lá do mirante, ainda tivemos uma bela aula de geografia do Pati e de suas grandes atrações. Cenários cinematográficos, dignos de Avatar e de Harry Potter.

O Lúcio nos mostra a Igrejinha, nossa base no Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA

O Lúcio nos mostra a Igrejinha, nossa base no Vale do Pati, na Chapada Diamantina - BA


Como já dizia a música: "O Vale do Pati continua lindo...". Vamos conferir pelos próximos dois dias...

Brasil, Bahia, Vale do Pati (P.N. Chapada Diamantina), Chapada Diamantina, Igrejinha, Parque, Trekking, trilha

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Na Terra de Rondon e da Madeira-Mamoré

Brasil, Rondônia, Porto Velho

Com o Rodrigo e a Rosana, no parque nas antigas instalações da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Com o Rodrigo e a Rosana, no parque nas antigas instalações da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia


No finalzinho da década de 70, quando tinha dez anos de idade, comecei a me interessar por mapas e por geografia. Deliciava-me com o Atlas Geográfico Melhoramentos, dos meus irmãos mais velhos. Foi nele que decorei os nomes e localização dos estados e territórios brasileiros. Em 1981, quando cheguei à 5ª série, passei a ter a disciplina de Geografia na escola e foi a vez de comprar o meu próprio Atlas da Melhoramentos. Mas, no mapa do Brasil, ele vinha com uma notável diferença: o país tinha ganho um novo estado! Rondônia deixava de ser território federal a passava a ser o 23º estado brasileiro. No ano seguinte, em uma gincana disputada entre todas as salas da 6ª série, cada uma delas representaria um estado da confederação. Foram sorteados dois estados para cada sala e deveríamos escolher um deles para contar sua história, preparar suas comidas típicas, aprender e ensinar um pouco de sua cultura. Minha sala foi sorteada com Bahia e Rondônia. Infelizmente, eu fui a voz solitária em defender que deveríamos usar o nome de Rondônia. Não sei por que, todos os outros viram mais potencial no uso da Bahia, hehehe. Enfim, com Bahia fomos campeões, mas meu vínculo com Rondônia tinha sido criado...

Antiga igreja usada pelos trabalhadores da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Antiga igreja usada pelos trabalhadores da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia


Rondônia foi explorada por bandeirantes paulistas ainda na época do Brasil colonial, mas permaneceu completamente isolada do país até o final do séc. XIX. Mas o sossego das numerosas tribos indígenas que lá habitavam estava por terminar, por dois eventos quase concomitantes na virada do século: a construção da ferrovia Madeira-Mamoré e as explorações do militar e sertanista Candido Rondon, responsável por levar as linhas de telégrafo até o distante território.

Homenagem prestada à ferrovia Madeira-Mamoré, em em Porto Velho, capital de Rondônia

Homenagem prestada à ferrovia Madeira-Mamoré, em em Porto Velho, capital de Rondônia


Uma ferrovia que ligasse os trechos navegáveis dos rios Madeira e Mamoré já era um sonho boliviano há mais de meio século. Com ela, a Bolívia teria um acesso rápido e barato ao Oceano Atlântico, via Rio Amazonas, e aos mercados europeu e americano. Seria muito mais fácil escoar suas mercadorias por aqui do que através dos Andes até o Oceano Pacífico, a meio mundo de distância dos portos europeus e da costa leste americana, pois nessa época o Canal do Panamá era apenas um sonho. A grande barreira para isso é que o Rio Madeira (e seus afluentes), que nasce em território boliviano, tem um trecho de cerca de 300 quilômetros cheio de corredeiras e cachoeiras, já no lado brasileiro, não sendo apto à navegação. A solução: uma ferrovia que “desse a volta” nesse trecho complicado. Sonho acalentado desde meados do séc. XIX.

Fim de tarde no Rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia

Fim de tarde no Rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia


A oportunidade finalmente apareceu na virada do século, quando ocorreu a Revolução Acreana. Ainda vou falar disso quando chegarmos lá, mas o fato é que o Acre era originalmente território boliviano e, numa das cláusulas do tratado que deu a soberania da região ao Brasil, estipulou-se que nosso país construísse a sonhada ferrovia ligando os trechos navegáveis do Rio Madeira, uma das formas de compensar a Bolívia pela cessão do Acre ao Brasil.

O gostoso parque nas antigas instalações da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia

O gostoso parque nas antigas instalações da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia


E assim foi feito. Entre os anos de 1907 e 1912, cerca de 20 mil trabalhadores de 50 diferentes nacionalidades enfrentaram os rigores da selva amazônica para construir essa ferrovia de 366 km. Quase 1.500 deles morreram durante a construção, quase todos de doenças tropicais. A construção, comandada pelo americano Percival Farqhuar, foi considerada um grande feito da engenharia, já que a obra era considerada impossível por muita gente na época. Apesar do sucesso na construção, o Ciclo da Borracha (principal produto a transitar pela ferrovia) estava terminando e a ferrovia nunca operou com mais de 10% de sua capacidade total. Não demorou muito para a empresa do americano quebrar e se constatar que a ferrovia jamais teria a importância imaginada. Durante a 2ª Guerra Mundial, no esforço aliado de guerra, a borracha da região até recuperou sua importância (já que a concorrente Malásia estava na zona de conflito) e com ela a ferrovia. Mas não durou muito. Por fim, na década de 60, ela foi desativada.

Antiga locomotiva da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Antiga locomotiva da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia


Independente disso, foi a construção da Madeira-Mamoré que trouxe a primeira onda de imigrantes e desenvolvimento para a região. Boa parte do material usado na construção veio de barco. Inicialmente, tentou-se trazer esse material até um porto recém construído, quase aos pés da cachoeira de Santo Antônio. Mas depois, por razões de segurança, optou-se mesmo pelo porto antigo, alguns quilômetros rio abaixo. Era o porto velho, que deu origem a capital do estado, chamada apropriadamente de Porto Velho.

Antiga locomotiva da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Antiga locomotiva da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia


Nessa época também chegava ao estado a linha de telégrafo, depois de um amplo trabalho de exploração do território entre Mato Grosso e Amazonas pelo militar e sertanista Cândido Rondon. Ele já havia sido o responsável por explorar e levar o telégrafo de Goiás à Mato Grosso. Explorador nato, foi o idealizador do antigo SPI (Serviço de Proteção ao Índio), que mais tarde daria origem à FUNAI. Rondon foi o responsável pelo primeiro contato com inúmeras tribos que habitavam o sertão brasileiro e, enquanto viveu, foi um incansável defensor dos direitos indígenas. Dizia aos seus comandados nessa empreitada de explorações e contato com os indígenas que “se preciso for, morra, mas não mate!”. Pode parecer uma frase de efeito, mas o próprio Rondon foi atingido por uma flecha envenenada em uma de suas expedições e, ao invés de ordenar o combate, mandou que suas tropas recuassem, para evitar o conflito. Foi salvo da flecha pela bandoleira de couro de sua espingarda. Esse brasileiro notável recebeu inúmeras homenagens ainda vivo (morreu com 92 anos, em 1958), inclusive o título de “Marechal”, como todos o conhecemos.

Com o Rodrigo e a Rosana, no parque nas antigas instalações da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Com o Rodrigo e a Rosana, no parque nas antigas instalações da ferrovia Madeira-Mamoré, em Porto Velho, capital de Rondônia


Entre essas homenagens, o Congresso brasileiro resolveu mudar o nome do Território de Guaporé, formado por terras na fronteira de Mato Grosso e Amazonas, para Território de Rondônia, reconhecendo a importância de Rondon no desenvolvimento daquela região do país.

A usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia

A usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia


Os mesmos militares que optaram por desativar a ferrovia Madeira-Mamoré também foram responsáveis pela segunda onda de ocupação do ainda Território Federal. A imigração para Rondônia foi estimulada na década de 70, através da distribuição de terras. Dezenas de milhares de brasileiros de todas as regiões se mudaram para lá, apostando no futuro de Rondônia, no mais importante movimento migratório planejado dos últimos 50 anos. O resultado foi a explosão populacional do agora Estado de Rondônia e da rápida destruição de mais de 30% das florestas originais. Felizmente, nos últimos 15 anos, essa migração foi desacelerada, assim como a preservação de florestas nativas e territórios indígenas ganhou força. O belíssimo Parque Nacional dos Pacaás Novos é o melhor exemplo disso.

A usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia

A usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia


Foi nessa Rondônia que chegamos, diretamente à capital Porto Velho. Aqui, ficamos hospedados na casa do Rodrigo e da Rosana. O Rodrigo é amigo das antigas da Ana, lá de Curitiba, do tempo em que eram escoteiros. Há muito não se viam, mas a internet e o Facebook os reuniu, principalmente agora que viajamos pela América. O Rodrigo é tenente da Força Aérea Brasileira, piloto de helicópteros, e está baseado aqui em Porto Velho. Gentilmente, convidou-nos para ficar na sua casa, muito bem localizada no centro da capital.

A praça das caixas d'água, uma das atrações turísticas em Porto Velho, capital de Rondônia

A praça das caixas d'água, uma das atrações turísticas em Porto Velho, capital de Rondônia


Aqui, aproveitamos para fazer a revisão da nossa Fiona, que já estava meio atrasada. Depois de cruzar a BR-319, ela merecia! Quem também foi para a “revisão” foi a Ana, que estava com princípio de pneumonia. Entrou no antibiótico, depois de consulta no médico. O que também fizemos, aproveitando que estávamos num lar, foi lavar todas as nossas roupas. Vamos poder sair daqui zerados!

As famosas e enormes caixas d'água em Porto Velho, capital de Rondônia

As famosas e enormes caixas d'água em Porto Velho, capital de Rondônia


Por fim, o Rodrigo também arrumou um tempo para, junto com a Rosana, nos levar para passear e jantar em Porto Velho. A grande atração turística da cidade é o parque onde funcionava a ferrovia Madeira-Mamoré. Bem ao lado do Rio Madeira, é um ótimo lugar para se passar um preguiçoso entardecer, o sol brilhando sobre as águas do rio. Nessa hora, o parque está sempre cheio e é um ótimo lugar para namorar, tomar cerveja, jogar conversa fora ou simplesmente, admirar o espetáculo da natureza.

Além disso, claro, podemos admirar as antigas locomotivas e os trilhos já meio depauperados. Assim que a ferrovia foi desativada, muito de seu material foi vendido para o ferro-velho. Uma vergonha e desrespeito com a nossa história. Tentou-se uma linha turística de trem, com apenas 7 quilômetros, mas o projeto não prosperou. Finalmente, um movimento ganhou força para se tentar preservar o que havia restado. Atualmente, com parte dos recursos pagos pelas Usinas de Jirau e Santo Antonio, as novas mega-obras de Rondônia, a ideia é reativar a linha turística e restaurar antigas instalações, trilhos, locomotivas e vagões. Só podemos torcer para que dê certo dessa vez!

Despedida do Rodrigo e da Rosana, que nos deram um lar em Porto Velho, capital de Rondônia

Despedida do Rodrigo e da Rosana, que nos deram um lar em Porto Velho, capital de Rondônia


Falando nisso, o Rodrigo também nos levou à Usina de Santo Antônio, ao lado da capital. Aí funcionou aquele tal de “porto novo”, que acabou preterido pelo “porto velho” durante a construção da ferrovia. Justamente onde estava a primeira cachoeira do rio Madeira. Santo Antonio já está gerando e, junto com a Usina de Jirau, algumas horas rio acima, são responsáveis pela mais recente onda migratória à Rondônia. Grandes obras, empregaram e empregam milhares de trabalhadores. Ao mesmo tempo que fomentam a economia do estado, são promessa de novos problemas sociais para o estado, já que, assim como empregam, vão desempregar também, ao término da construção. São problemas para acompanhamos ao longo do tempo. Dessa vez, só pudemos admirar a grande obra que domou o rio que, agora, gera energia que é enviada diretamente ao sul do país. Energia necessária para o Brasil, reconheça-se, mas que intervém na natureza da região. O Rio Madeira nunca mais será o mesmo, para o bem e para o mal.

Com o amigo Rodrigo, no tradicional reataurante Remanso do Tucunaré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Com o amigo Rodrigo, no tradicional reataurante Remanso do Tucunaré, em Porto Velho, capital de Rondônia


Outra atração que fomos visitar é a praça das caixas-d’água, remanescentes também da época da construção da ferrovia. Armazenavam água para seus milhares de trabalhadores. Hoje, estão desativadas e servem para atrair turistas àquela praça, a insólita visão de três monstros de metal que mais parecem saídos de filme B de ficção científica sobre extraterrestres.

Um verdadeiro banquete no tradicional reataurante Remanso do Tucunaré, em Porto Velho, capital de Rondônia

Um verdadeiro banquete no tradicional reataurante Remanso do Tucunaré, em Porto Velho, capital de Rondônia


Por fim, o delicioso jantar foi no mais tradicional restaurante da cidade, o Remanso do Tucunaré. Peixes, peixadas e moquecas que atraem famosos quando vêm à cidade. Fotos a assinaturas na parede provam que o restaurante é mesmo popular entre políticos, músicos e esportistas. E agora, também com os viajantes do 1000dias. Mas ainda não temos o cacife necessário para sermos convidados a deixar nossos autógrafos, hehehe. A ótima comida foi nossa despedida dessa cidade, já que amanhã partimos para o Acre. Rodrigo e Rosana, nosso muito obrigado pela calorosa acolhida. Quem sabe, não passamos por aqui na nossa volta da Bolívia?

Despedida do Rodrigo e da Rosana, que nos deram um lar em Porto Velho, capital de Rondônia

Despedida do Rodrigo e da Rosana, que nos deram um lar em Porto Velho, capital de Rondônia

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A Vida Embaixo D'Água

Galápagos, San Cristóbal, Isla Santiago, Isla Isabel, Isla Darwin, Isla Wolf

Cardume de tubarões em mergulho em Darwin, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Cardume de tubarões em mergulho em Darwin, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


Certamente, o mar de Galápagos não é um lugar com visibilidade excepcional como o Mar Vermelho ou Fernando de Noronha e nem com tantas cores como a Barreira de Corais australiana. Além disso, a água é fria (em alguns pontos, gelada!!!), muito menos confortável que o Mar do Caribe.

Estrela-do-mar em mergulho em Santiago, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Estrela-do-mar em mergulho em Santiago, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


Baiacu em mergulho em Wolf, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Baiacu em mergulho em Wolf, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


O que realmente atrai tantos mergulhadores à esse arquipélago distante é a quantidade de vida. Principalmete, a de criaturas grandes. Galápagos fica na confluência de várias correntes marítimas ricas em nutrientes. É a base alimentar de uma extensa cadeia que começa com peixes pequenos, passando por tartarugas e leões-marinhos e chegando à golfinhos, tubarões e baleias, incluindo aí o maior peixe dos nossos oceanos, o Tubarão-Baleia.

Moréia em mergulho em Wolf, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Moréia em mergulho em Wolf, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


Peixe camuflado em mergulho em Wolf, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Peixe camuflado em mergulho em Wolf, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


É só a gente cair na água e olhar para os lados e eles começam a aparecer. Tartarugas e leões-marinhos estão em quase todos os pontos de mergulhos. Muitas vezes, podemos ver vários deles ao mesmo tempo, interagindo entre si. Ou estão acostumados conosco, e portanto não tem medo, ou são curiosos com a nossa presença, chegando bem perto para nos estudar melhor. No nosso primeiro mergulho, por exemplo, ainda em San Cristóbal, perto do porto, a visibilidade estava muito ruim e o mergulho ía se desenrolando monotamente. Eu já pensava com meus botões: "tudo bem, esse é apenas um mergulho de adaptação, a festa mesmo começa amanhã" quando dois leões-marinho apareceram, os primeiros que via em minha vida durante um mergulho. Tudo mudou! Aquele mergulho chato de repente se transformou num dos mais interessantes desses 1000dias!

Dois leões marinhos curiosos com a nossa presença em Cousin Rock, na Isla Santiago - Galápagos

Dois leões marinhos curiosos com a nossa presença em Cousin Rock, na Isla Santiago - Galápagos


Tartaruga marinha em mergulho na Isla Wolf, em Galápagos

Tartaruga marinha em mergulho na Isla Wolf, em Galápagos


Aos poucos, fomos nos acostumando com esses velozes mamíferos e também com as dezenas de tartarugas e moréias que víamos. Queríamos mais! Foi quando chegamos à Wolf. Aí, os mergulhos mudaram! A gente simplesmente ficava parado, acomodado em alguma pedra, vendo dezenas e dezenas de tubarões passando à nossa frente. O primeiro tubarão-martelo a gente nunca esquece! Depois, vem o segundo, o terceiro, o centésimo e começamos a nos acostumar também com eles...

Duas arraias-chita em mergulho na Isla Darwin, em Galápagos

Duas arraias-chita em mergulho na Isla Darwin, em Galápagos


Leão-marinho brinca conosco em mergulho em Isabel, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Leão-marinho brinca conosco em mergulho em Isabel, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


Aí, o interessante passa a ser a interação entre diferentes animais. Tartarugas em meio a grandes cardumes de peixes, um leão-marinho nadando ao redor de um tubarão-martelo, duas arraias chitas num perfeito balé sub-aquático, enormes cardumes de tubarão-martelo e tubarão de Galápagos misturados, pinguins "voando" dentro d'água enquando enormes arraias manta literalmente batem suas asas ao nosso lado.

O fantástico peixe-lua em mergulho na Isla Isabel, em Galápagos

O fantástico peixe-lua em mergulho na Isla Isabel, em Galápagos


Polvo em mergulho em Darwin, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Polvo em mergulho em Darwin, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)


Inesquecível também é ver um polvo (que animal mais estranho!) nadando, com seus oito braços, ou cavalos-marinho sempre agarrados a algum suporte, ou o peixe-lua, um enorme "círculo" que nada vagarosamente ao largo da Isla isabel, peixe diferente de tudo o que eu já tinha visto anteriormente.

Cavalo-marinho em mergulho na Isla Isabel, em Galápagos

Cavalo-marinho em mergulho na Isla Isabel, em Galápagos


Lindo cardume de pequenas barracudas em mergulho na Isla Isabel, em Galápagos

Lindo cardume de pequenas barracudas em mergulho na Isla Isabel, em Galápagos


Outra experiência marcante foram os grandes cardumes de peixes. Milhares de pequenas barracudas nos envolviam, curiosas, em alguns lugares. Mas, o maior e mais impressionante de todos certamente foi o cardume de salemas. Milhões delas! Ao entrar no cardume, parecia que estávamos numa caverna. Ficava tudo bem escuro, apenas eu e aquela quantidade infinita de peixes em todos os lados, a 1-2 metros de distância. Nadando vagarosamente entre eles (vão abrindo caminho), uma vazio aparece à frente: é a Ana, em sua própria caverna, maravilhada também com aquela explosão de vida. Deixo a caverna da Ana para trás e, de repente, um buraco se abre rapidamete à minha frente: é um leão-marinho se divertindo, nadando ele também em meio àquele cardume infinito. Essa cena incrível tive a sorte de filmar. Vou tentar postar em breve esse vídeo...

A inconfundível silhueta de um tubarão-martelo em mergulho na Isla Wolf, em Galápagos

A inconfundível silhueta de um tubarão-martelo em mergulho na Isla Wolf, em Galápagos


Dois tubarões-martelo em mergulho na Isla Darwin, em Galápagos

Dois tubarões-martelo em mergulho na Isla Darwin, em Galápagos


Por fim, não posso deixar de mencionar os golfinhos que vinham cercar as nossas pangas quando voltávamos ao barco. Que animais incríveis e inteligentes! Basta olhar nos seus olhos para sabermos que, atrás deles, algo realmente nos observa e tenta interagir conosco. Mais tarde, quem nos cercava, agora no Galápagos Sky, eram os tubarões, dezenas deles, atraídos pela luz e pela esperança de alguma comida fácil. Nossa, é muita vida num mesmo espaço!

Golfinhos acompanham nosso bote após mergulho em Darwin, em Galápagos (fotos retiradas de vídeos de Maria Edwards)

Golfinhos acompanham nosso bote após mergulho em Darwin, em Galápagos (fotos retiradas de vídeos de Maria Edwards)


Tubarões de Galápagos (quase inofensivos!) cercam nosso barco durante  a noite na Ilha de Darwin, em Galápagos

Tubarões de Galápagos (quase inofensivos!) cercam nosso barco durante a noite na Ilha de Darwin, em Galápagos


E a maior delas, o nosso objetivo maior, aquele que fazia a nossa alegria chegar ao limite, desses falo no post seguinte...

Tubarão-baleia em mergulho em Darwin, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Tubarão-baleia em mergulho em Darwin, em Galápagos (foto de Hnning Abheiden)

Galápagos, San Cristóbal, Isla Santiago, Isla Isabel, Isla Darwin, Isla Wolf, Equador, Mergulho

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O Caiaque em Fajardo - P. Rico

Porto Rico, Fajardo

Início do passeio de caiaque em direção à baía bioluminescente, em Fajardo - Porto Rico

Início do passeio de caiaque em direção à baía bioluminescente, em Fajardo - Porto Rico


Finalmente, chegou por email a foto que compramos do nosso passeio de Caiaque pelo mangue em direção à baía luminescente, em Fajardo, que descrevi no post abaixo "Show de la Naturaleza"

Foi surreal, remar no escuro, num estreito canal atravessando o mangue e chegar naquela laguna onde a água brilhava a cada movimento...

Porto Rico, Fajardo,

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A Patagônia e a Conquista do Deserto

Argentina, El Bolsón

Tropas argentinas se preparam para mais uma batalha na Conquista do Deserto, nome dado à guerra conttra os indígenas pelo controle da Patagônia (imagem da Internet)

Tropas argentinas se preparam para mais uma batalha na Conquista do Deserto, nome dado à guerra conttra os indígenas pelo controle da Patagônia (imagem da Internet)


Deixando El Bolsón para trás e rumando para o sul, estamos mergulhando de vez na Patagônia. Na verdade, essa região geográfica de nome tão famoso se estende muito mais para o norte (veja no mapa abaixo!), ocupando praticamente metade do território argentino e uma boa parte do sul do Chile. Mas é apenas ao sul de El Bolsón e de uma linha imaginária que liga essa cidade à Península Valdés, na costa atlântica, que o governo oferece subsídios para empreendedores e habitantes. Uma espécie de estímulo para que a região se desenvolva economicamente e seja ocupada por mais pessoas. Entre esses subsídios, até o combustível é mais barato. Bom para nós, turistas motorizados! Principalmente agora que os trechos de estrada serão muito mais longos cortando essa vasta região quase desabitada.

Mapa da Patagônia, ocupando boa parte da Argentina e do Chile. Mas é apenas ao sul da linha vermelha onde está El Bolsón que o combustível passa a ser subsidiado pelo governo

Mapa da Patagônia, ocupando boa parte da Argentina e do Chile. Mas é apenas ao sul da linha vermelha onde está El Bolsón que o combustível passa a ser subsidiado pelo governo


Para nós que nascemos no final do séc. XX, estamos acostumados com o mapa da Argentina mostrando esse grande país, o segundo maior da América do Sul e um dos maiores do mundo em extensão geográfica. Até imaginamos que foi sempre assim. Intuitivamente, pensamos que desde tempos coloniais, ainda sob domínio espanhol, os países que hoje conhecemos já existissem ali, pelo menos em seus contornos geográficos. Mas a intuição está errada. A América espanhola tinha outras divisões: Colômbia e Venezuela de um lado e todo o resto de outro, formando o vice-reinado do Perú. Foi apenas na segunda metade do séc. XVIII que foi criado o vice-reinado do Prata, embrião não só de Argentina, mas também de Uruguay e Paraguay, além de partes da Bolívia e Chile.

Mapa francês de 1862 mostra a Patagônia como terra de ninguém, apesar de reinvidicada pela Argentina. A Terra do fogo e extremo sul tem a mesma cor das Falkland e parecem pertencer à inglaterra (imagem da Internet)

Mapa francês de 1862 mostra a Patagônia como terra de ninguém, apesar de reinvidicada pela Argentina. A Terra do fogo e extremo sul tem a mesma cor das Falkland e parecem pertencer à inglaterra (imagem da Internet)


Quando veio o processo de independência no início do séc. XIX, os países, ao menos em teoria, tomaram suas formas mais ou menos parecidas com o que vemos hoje. Mas na prática, não era assim. Toda a região patagônica, tanto no lado argentino como chileno, nunca havia sido ocupada de fato pelos espanhóis. Pela pouca atratividade econômica dessas terras, assim como por uma resistência ferrenha dos povos nativos, eles permaneceram virtualmente independentes ao longo de todo o período colonial. E assim continuaram também por boa parte do séc. XIX. Nosso “enorme” país vizinho, a Argentina, se compunha apenas das regiões vizinhas a Buenos Aires e do norte do país, região que se desenvolveu em épocas coloniais para fornecer alimentos à Potosí, na Bolívia, principal centro econômico da América espanhola ao longo de séculos. Toda a metade sul do país era território desconhecido e habitado por indígenas gigantes (os “patagones”) e hostis.

Antes do tratado de 1881 o Chile ainda reinvidicava o controle de boa parte da Patagônia, incluindo todo o cone sul do continente (imagem da Internet)

Antes do tratado de 1881 o Chile ainda reinvidicava o controle de boa parte da Patagônia, incluindo todo o cone sul do continente (imagem da Internet)


No papel, eram terras argentinas. Pelo menos, nos “papéis argentinos”. Para os chilenos, era território chileno, como mostram mapas históricos daquele país. O Chile se imaginava dono de toda a “patagônia oriental”, correspondente ao sul argentino de hoje, do Atlântico ao Pacífico. Só faltava combinar isso também com os europeus. Um mapa francês de 1862 mostra toda a Patagônia como terra de ninguém, embora o próprio mapa admita que a área fosse reivindicada pelos argentinos. A Terra do Fogo, nesse mesmo mapa, parece pertencer à Inglaterra ou ao Chile, talvez. Sinal claro de que, assim como temiam argentinos e chilenos naquela época, as potências europeias estavam sim interessadas no sul do nosso continente.

Vestido com roupas mapuches, o advogado e auto-proclamado imperador do Reino da Araucania e Patagônia, o francês Orélie Antoine de Tounens (imagem da Internet)

Vestido com roupas mapuches, o advogado e auto-proclamado imperador do Reino da Araucania e Patagônia, o francês Orélie Antoine de Tounens (imagem da Internet)


Tanto é assim que, em 1860, um advogado (e aparentemente louco) francês, Orélie Antoine de Tounens, já há alguns anos radicado no Chile, decidiu declarar o “Reino da Araucania e Patagonia” tendo ele como rei, claro! Ele se entendeu com alguns índios mapuches, vestiu-se como eles e se imaginou imperador. O seu país nunca foi reconhecido por nenhum outro, mas ele fez tanto barulho que acabou incomodando as autoridades chilenas que acabaram por prendê-lo, dois anos mais tarde, e um manicômio. Solto com a ajuda do cônsul francês, voltou a seu país para procurar apoio. Por duas vezes voltou a seu reino, tentando ressuscitá-lo. Acabou morrendo e deixou o trono para um amigo. Por mais incrível que possa parecer, até hoje os descendentes desse amigo, que montaram um “governo de exílio na França”, reivindicam o trono perdido.

Território do 'Reino da Araucania e Patagônia', proclamado pelo francês Orélie de Tounens em 1860 (imagem da Internet)

Território do "Reino da Araucania e Patagônia", proclamado pelo francês Orélie de Tounens em 1860 (imagem da Internet)


Por mais pitoresca que possa parecer essa história, ela ajudava a assustar os governos chileno e argentino da época. Daí a estratégia chilena de criar a cidade de Punta Arenas no sul do continente, a fim de consolidar suas pretensões territoriais. Foi o único povoamento que realmente se desenvolveu naquela parte remota do mundo naqueles tempos. Outra ideia chilena foi a de estimular a ocupação patagônica pelos índios mapuche, da Araucania (região no sul do Chile). Notavelmente guerreiros, eles foram o único povo capaz de resistir ao avanço do império inca a também aos colonizadores espanhóis. Agora seriam usados para legitimar as pretensões territoriais do Chile sobre a tal “patagônia oriental”.

Um grupo de índios mapuche posa para foto ao final do século XIX (imagem da Internet)

Um grupo de índios mapuche posa para foto ao final do século XIX (imagem da Internet)


Desde tempos imemoriais, essa região já era ocupada pelos índios tehuelches, um povo nômade e de grande estatura (o que levou a criação da lenda dos patagones, os “gigantes” avistados pelos primeiros exploradores europeus). Povo pacífico e que vivia da caça de guanacos e emas, não foram páreo para os aguerridos mapuches. Na primeira metade do séc. XIX, a patagônia central sofreu um rápido e muitas vezes violento processo de “araucanização”, enquanto os tehuelches que não eram assimilados eram empurrados mais para o sul. Mas os tehuelches não eram as únicas vítimas do avanço mapuche.

Bando de mapuches ataca povoado argentino na fronteira dos Pampas e da Patagônia (imagem da Internet)

Bando de mapuches ataca povoado argentino na fronteira dos Pampas e da Patagônia (imagem da Internet)


Nos pampas orientais, fronteira de ocupação argentina de então, criollos (miscigenação de espanhóis e indígenas) e os primeiros imigrantes europeus estabeleciam seus ranchos e povoados. Estes eram continuamente atacados por guerreiros mapuches em busca de gado e cavalos que eram revendidos no Chile. Aí, os mapuches adquiriam de comerciantes chilenos e ingleses armas para continuar sua guerra no leste. Muito comum também nesses ataques era a captura de crianças e mulheres que serviriam de esposas ou escravos dos guerreiros mapuches. São inúmeros os relatos escritos dessa época de europeus escravizados nas planícies patagônicas. Esses ataques indígenas na fronteira aumentaram muito de escala durante a Guerra do Paraguay, entre 1864 e 1870, o maior conflito armado já ocorrido nesse continente e que manteve as tropas argentinas ocupadas no norte do país.

Julio Roca, comandante das tropas argentinas na conquista da Patagônia. Mais tarde, seria duas vezes presidente do país (imagem da Internet)

Julio Roca, comandante das tropas argentinas na conquista da Patagônia. Mais tarde, seria duas vezes presidente do país (imagem da Internet)


Com o fim da guerra, políticos argentinos pressionavam para resolver de uma vez por todas os problemas na fronteira sul do país. Aos poucos e depois de muitos debates parlamentares, foi organizada uma expedição militar liderada pelo general Julio Rocca, futuro presidente do país por duas vezes. O primeiro alvo foi a região dos pampas orientais, rico em pastagens e ainda bem próximo do centro de poder. Na época, a campanha foi vista como uma batalha entre a civilização e a barbárie e o objetivo era a total submissão dos índios, senão a sua aniquilação. Afinal, diziam os políticos e jornais da época, a tentativa de assimilação feita durante décadas não dera nenhum resultado. Com mais armamentos e estratégia militar muito superior, as forças indígenas pouco puderam resistir, centenas de guerreiros mortos e milhares de mulheres e crianças capturadas. Sem os pampas, os indígenas perderam o seu melhor território, o único mais propício para a criação de gado e cavalos.

O cacique Pincén, conhecido como o ''terror dos fortes militares' (imagem da Internet)

O cacique Pincén, conhecido como o ""terror dos fortes militares" (imagem da Internet)


O passo seguinte seria a conquista de toda a Patagônia. Mas aí a dificuldade seria maior, pois o Chile também reivindicava aquela área. Mas uma excelente oportunidade histórica foi muito bem aproveitada pelos argentinos. O Chile se envolvia no final da década de 70 em outra guerra, a segunda mais sangrenta do continente. De um lado, os chilenos, do outro a aliança de peruanos e bolivianos. A chamada Guerra do Pacífico, entre 1879 e 1883 tinha por maior objetivo as quase inesgotáveis minas de cobre no norte do Atacama. O Chile venceu a guerra e, de quebra, privou a Bolívia de seu litoral e chegou a ocupar Lima, a capital peruana, por alguns anos. Mas enquanto a guerra corria na sua fronteira norte, sua fronteira leste, com a Argentina, ficou desguarnecida. Os chilenos temiam que os argentinos se juntassem à aliança de Perú e Bolívia e quiseram negociar com o vizinho antecipadamente. Os argentinos souberam aproveitar o momento e negociaram um tratado que fixava a fronteira entre os dois países ao longo da cordilheira dos Andes. Sem saída no momento, o Chile aceitou e a Argentina garantiu para si a posse da “patagônia oriental” chilena.

Expansão territorial argentina após a Guerra do Paraguay. Até então, o governo central controlava apenas a área em azul claro. A 'Conquista do Deserto' expandiu as fronteiras do país rumo ao sul do continente (imagem da Internet)

Expansão territorial argentina após a Guerra do Paraguay. Até então, o governo central controlava apenas a área em azul claro. A "Conquista do Deserto" expandiu as fronteiras do país rumo ao sul do continente (imagem da Internet)


Livres do Chile, nossos vizinhos partiram para a ocupação do território na campanha chamada de “Conquista do Deserto”. Os índios resistiram o quanto puderam, mas ao final da campanha boa parte tinha sido morta ou capturada. Poucas décadas depois, os tehuelches estavam extintos e os mapuches sobreviveram apenas no Chile. Ao mesmo tempo, em menos de uma década, a Argentina tinha praticamente duplicado seu território de fato. E assim chegamos, finalmente, ao final do séc. XIX, nas fronteiras dos países como conhecemos hoje, a Bolívia sem mar, o Chile uma longa e estreita faixa de terra entre os Andes e o Pacífico e a Argentina como segundo mais extenso país da América do Sul, um dos maiores do mundo. A Patagônia na qual mergulhamos a partir de hoje praticamente toda “hermana” e seus antigos habitantes, apenas fantasmas do passado.

Pequeno grupo de índios tehuelches em fotografia de 1897, depois da conquista do deserto. Algumas décadas mais tarde e eles estariam extintos. (imagem da Internet)

Pequeno grupo de índios tehuelches em fotografia de 1897, depois da conquista do deserto. Algumas décadas mais tarde e eles estariam extintos. (imagem da Internet)


Realmente, é difícil imaginar um fim tão triste para uma raça que por milhares de anos vagou livre e orgulhosa pelas infinitas planícies patagônicas. Os mais de dez mil prisioneiros foram forçados a caminhar até Buenos Aires, muitos morrendo na dura marcha. Na capital, homens e mulheres foram imediatamente separados. Não deveriam ter mais a chance de “se reproduzir”. Os pouco menos de dois mil guerreiros ainda vivos foram enviados para uma prisão em uma ilha no Rio da Prata de onde pouquíssimos conseguiriam sair vivos. As mulheres também foram separadas de seus filhos e enviadas para trabalharem como servas nas casas de famílias mais abastadas e de classe média da capital. As crianças aprenderam um novo idioma e esqueceram o antigo. Na sua maioria, também viveriam como servos. Alguns poucos grupos restantes ainda vagaram livres, por poucas décadas, no extremo sul do continente. Eram uma curiosidade histórica perseguida por estudiosos e sociólogos do início do séc. XX. Poucas vezes na história a civilização havia se imposto de forma tão rápida e efetiva sobre a barbárie...

Argentina, El Bolsón, história

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A Lenda dos Vulcões

México, Amecameca

O casal 1000dias com o vulcão Popocatépetl ao fundo, perto de Amecameca, na região central do México

O casal 1000dias com o vulcão Popocatépetl ao fundo, perto de Amecameca, na região central do México


Há muito tempo atrás, quando os europeus ainda não haviam chegado à América e os astecas ainda iniciavam a construção de seu império, um importante chefe local tinha uma linda filha, chamada Iztaccihuatl. O mais bravo guerreiro desse chefe local, chamado Popocatépetl era apaixonado pela princesa e queria muito casar-se com ela. Para permitir esse casamento, o chefe local impôs uma condição: seu povo estava em guerra e ele enviou o valente guerreiro para a batalha. Deveria retornar com a cabeça do inimigo em mãos e aí sim, poderia casar-se com sua filha.

Quadro representando a lenda de criação dos vulcões Popo e Itza, um guerreiro e uma mulher deitada, em exposição no centro de visitantes do parque onde estão esses dois vulcões, perto de Amecameca, na região central do México

Quadro representando a lenda de criação dos vulcões Popo e Itza, um guerreiro e uma mulher deitada, em exposição no centro de visitantes do parque onde estão esses dois vulcões, perto de Amecameca, na região central do México


Destemido, Popocatépetl partiu para sua missão. Mas um outro guerreiro, também apaixonado pela princesa e invejoso de Popocatépetl, resolveu voltar antes que a batalha terminasse, dizendo que o destemido guerreiro havia sido morto na luta. A bela princesa não resistiu a dor de perder o seu amado e acabou morrendo de desgosto. Alguns duas depois, chegava Popocatépetl, alegre e saltitante, com a cabeça do inimigo em mãos, pronto para reclamar o seu prêmio e casar-se com sua amada. Ao descobri-la morta, não se conformou. Levou o corpo sem vida da princesa para uma região no campo, deitou-a no solo e ajoelhou-se ao seu lado, prometendo não mais sair daí para todo o sempre.

Izta, a mulher de branco deitada, vulcão próximo à Amecameca, na região central do México

Izta, a mulher de branco deitada, vulcão próximo à Amecameca, na região central do México


Comovidos com a história, os deuses intervieram. Transformaram os dois amantes em enormes montanhas que ficariam, para sempre, lado a lado. Iztaccihuatl quer dizer “mulher de branco” e tem a forma de uma mulher deitada, vestida de branco, dormindo pacificamente. Popocatéptl, ou “montanha fumegante”, é o vulcão ao seu lado, nervoso e irrequieto, pronto para sempre proteger a sua amada. E o guerreiro invejoso que causou essa tragédia? Não, os deuses não se esqueceram dele! Também foi transformado em uma montanha, a mais alta do México, para que, de longe, pudesse sempre ver os dois amantes juntos, unidos para sempre. É ele o Pico Orizaba, condenado à solidão eterna, mas não tão longe que não pudesse ver os amantes juntos.

Chegando perto do vulcão Popo, que solta funaça há 15 anos, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)

Chegando perto do vulcão Popo, que solta funaça há 15 anos, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)


Uma bela visão do Izta, a terceira mais alta montanha do país, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)

Uma bela visão do Izta, a terceira mais alta montanha do país, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)


Foi nesse cenário shakespeariano que chegamos ontem de noite, junto a 2ª e a 3ª maiores montanhas do país, com a maior de todas elas um pouco mais distante, a nos observa E hoje cedo o Gera nos levou para o parque cuja sede fica bem no meio das duas montanhas sagradas, o Popo (diminutivo de Popocatépetl) e o Izta (apelido de Iztaccihuatl), de onde se tem uma vista fantástica e privilegiada desses dois vulcões.

Aos pés do fumegante vulcão Popo, no dia da nossa subida ao Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Aos pés do fumegante vulcão Popo, no dia da nossa subida ao Izta, perto de Amecameca, na região central do México


Rodrigo, muito feliz entre a Ana e a Valéria, com o vulcão Iztaccihuatl ao fundo, perto de Amecameca, na região central do México

Rodrigo, muito feliz entre a Ana e a Valéria, com o vulcão Iztaccihuatl ao fundo, perto de Amecameca, na região central do México


Pois é, as montanhas são mesmo vulcões. O Izta, como a lenda diz, dorme pacificamente há mais de 10 mil anos. Com pouco mais de 5.200 metros de altura, é a única montanha mexicana, além do Pico Orizaba, a possuir glaciares permanentes. Seu cume é formado por diversos picos, todos com nomes das partes da mulher deitada com que se parece. Os “pés”, o “joelho”, o “umbigo”, os “peitos” (os mais altos!) e a “cabeça”. O Popo, também em acordo com a lenda, é um vulcão muito ativo. Com mais de 5.400 metros de altitude, já teve ao menos 15 grandes erupções desde que os espanhóis chegaram à região, em 1519. Quando “descansa” um pouco, as geleiras logo se formam, como ocorreu na segunda metade do século XX. Mas ele despertou novamente em 1991 e, desde 93, emite uma fumaça tóxica sem parar. A geleira permanente derreteu, restando a neve que sempre cai naquelas grandes altitudes. A intensa atividade turística nas encostas da montanha também foram suspensas e, de tempos em tempos, quando a montanha se torna ainda mais ativa, grandes evacuações são realizadas nos povoados próximos. Todos temem a fúria do antigo guerreiro.

Preparando quesadillas em um restaurante aos pés do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Preparando quesadillas em um restaurante aos pés do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México


Restaurante rústico aos pés do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Restaurante rústico aos pés do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México


Antes de subir o vulcão, comendo quesadillas de massa escura em um restaurante aos pés do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Antes de subir o vulcão, comendo quesadillas de massa escura em um restaurante aos pés do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México


Bom, se não podemos nos aproximar muito do Popo, sua linda amante recebe muito bem os visitantes. O Gera já havia estado por aqui e, novamente, foi nosso excelente guia no dia de hoje, não só pelos caminhos e trilhas no Izta, mas também na programação completa, que incluiu uma passagem pelo centro de visitantes e um café da manhã reforçado aos pés da montanha, numa rústica e tradicional lanchonete. Aí nos alimentamos de quesadillhas preparadas com uma massa escura e saborosa, típica da região. Nós e os diversos outros montanhistas e turistas que foram passar o dia nessa magnífica montanha.

O mapa da trilha que sobe a mulher deitada, o vulcão Iztaccihuatl, perto de Amecameca, na região central do México

O mapa da trilha que sobe a mulher deitada, o vulcão Iztaccihuatl, perto de Amecameca, na região central do México


Início da subida no vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Início da subida no vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México


Nossa ideia era subir a montanha o mais alto que pudéssemos, de preferência superando os 5 mil metros de altura. Tudo parte do processo de aclimatação para subir o Pico Orizaba em alguns dias. Em teoria, passaremos dois dias por aqui, fazendo caminhadas. Depois, um dia de descanso, subida até o refúgio no Orizaba e, de madrugada, partir para seu cume. A Ana e a Valéria, sem essa “noia” de chegar ao cume da mais alta montanha mexicana, hoje estavam aqui mais tranquilas, quase a passeio. Amanhã, partem para a Cidade do México e depois de dois dias por lá, voltam para me reencontrar em Puebla, de onde seguimos viagem para o sul.

Início da subida no vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Início da subida no vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México


De camarote, em rochedo do Izta, admirando o maravilhoso vulcão Popo, perto de Amecameca, na região central do México

De camarote, em rochedo do Izta, admirando o maravilhoso vulcão Popo, perto de Amecameca, na região central do México


Saímos então para a bela caminhada, cada um com seu objetivo. As meninas ficaram logo para trás, tirando fotos e conversando. Ainda precisavam de muito tempo para botar o papo de 3 anos em dia! Um lugar bonito e inspirador como esse não poderia ser melhor para isso, com toda a calma de um dia inteiro a ser vivido.

Com o vulcão Popo ao fundo, admirada e feliz com a paisagem na subida do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México

Com o vulcão Popo ao fundo, admirada e feliz com a paisagem na subida do vulcão Izta, perto de Amecameca, na região central do México


durante a subida do vulcão Izta, temos vistas magníficas do vulcão Popocatéptl, perto de Amecameca, na região central do México

durante a subida do vulcão Izta, temos vistas magníficas do vulcão Popocatéptl, perto de Amecameca, na região central do México


Eu e o Gera seguimos em frente, cada um em seu ritmo também. A trilha é bem marcada e com várias outras pessoas pelo caminho. Mas, o melhor de tudo, é como ela se desenrola. A montanha tem uma área enorme e, além de subirmos, também temos de nos deslocar bastante horizontalmente. Desse modo se intercalam vários trechos de subida tranquila com algumas ladeiras íngremes que temos de vencer. De tempos em tempos, chegamos a trechos ou pontos chamados de “portais”. De aí, sempre uma vista magnífica grandiosa nos espera, cada hora para um lado da montanha. É sempre um objetivo a ser alcançado, como se “quebrássemos” a caminhada até o cume em trechos menores, cada um com sua recompensa. Muito joia!

Subindo o vulcão Iztaccihuatl e com visão para o vulcão Popocatépetl, perto de Amecameca, na região central do México

Subindo o vulcão Iztaccihuatl e com visão para o vulcão Popocatépetl, perto de Amecameca, na região central do México


Visão da crista que leva ao cume do Izta, vulcão perto de Amecameca, na região central do México

Visão da crista que leva ao cume do Izta, vulcão perto de Amecameca, na região central do México


E assim segui, passando e fotografando o 1º portal, o 2º e o 3º, cada vez mais alto, chegando e ultrapassando a simbólica marca dos 5 mil metros. Quanto mais alto também, mais bela a vista do Popo ali do lado, sempre com uma coluna de fumaça saindo por sua cratera, como que avisando para ninguém abusar de sua amada. Bem ao longe, no horizonte, por cima de uma capa de céu acinzentado, também apareceu o Pico Orizaba, majestoso. Enfim, para onde se olhasse, era de encher os olhos.

Do alto do Izta, a visão da maior montanha mexicana, o Pico Orizaba, na região central do país

Do alto do Izta, a visão da maior montanha mexicana, o Pico Orizaba, na região central do país


Ao longo do caminho eu ía perguntando aos que desciam sobre as condições da trilha adiante, principalmente por causa da neve e do gelo que começavam a tomar conta da paisagem. Perguntava pelo tempo para se chegar ao alto também, mas logo vi que as informações ou estimativas eram bem conflitantes e, geralmente, pessimistas. Melhor perguntar apenas das condições do caminho, logo percebi.

Para chegar ao cume do Izta, é preciso atravessar essa grande geleira (perto de Amecameca, na região central do México)

Para chegar ao cume do Izta, é preciso atravessar essa grande geleira (perto de Amecameca, na região central do México)


Dois alpinistas atravessam a geleira que dá acesso ao cume do Iztaccihuatl, vulcão próximo à Amecameca, na região central do México

Dois alpinistas atravessam a geleira que dá acesso ao cume do Iztaccihuatl, vulcão próximo à Amecameca, na região central do México


Fui subindo, subindo, deixando os portais para trás, assim como os pés e o joelho da “mulher de branco”. Finalmente, cheguei à crista do alto da montanha, de onde já podia observar os peitos e o caminho para se chegar até lá. A vista para os dois lados era estupenda, o ar da altitude bem claro, já acima dos 5.400 metros. O problema era o gelo no solo, que eu tinha de lidar sem sapatos feitos para isso. Aliás, apenas depois de 20 minutos de trilha que eu percebi que tinha esquecido de colocar minhas botas. Estava de tênis mesmo! Não quis voltar para o carro e decidi seguir calçado assim mesmo, até onde desse.

Quase no cume do vulcão Iztaccihuatl, perto de Amecameca, na região central do México

Quase no cume do vulcão Iztaccihuatl, perto de Amecameca, na região central do México


Bom, e deu bastante, com mais cuidado aqui e ali. Cheguei ao segundo ponto mais alto do Izta, mas daí a trilha abaixava para cruzar um glaciar. Glaciar de tênis, realmente não dá. Mas já estava bem feliz de chegar ali, sentindo-me pronto para o Orizaba que me observava de longe. Iniciei o caminho de volta e, ao chegar às ruínas de um antigo refúgio, ainda no alto da crista da montanha, encontrei o Gera.

Com o Gera no alto do vulcão Izta, com o Popo ao fundo, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)

Com o Gera no alto do vulcão Izta, com o Popo ao fundo, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)


Daí voltamos juntos até um refúgio que ainda está em funcionamento e, na verdade, bem concorrido, com dezenas de montanhistas disputando o espaço de seus dois triliches. Essa é a principal base para quem parte de madrugada rumo ao cume verdadeiro, pouco mais de meia hora à frente de onde eu havia retornado. Agora, de tarde, o que acontecia por ali era uma grande “social”. Imaginei o quanto minha adorada esposa não gostaria de estar ali, conversando com tanta gente de tantos lugares ao mesmo tempo...

Na parte alta do vulcão Iztaccihuatl, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)

Na parte alta do vulcão Iztaccihuatl, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)


Descendo uma das encostas do vulcão Izta, região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)

Descendo uma das encostas do vulcão Izta, região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)


Falando nela, nesse ponto me separei do Gera novamente, dessa vez acelerado para encontrar a Ana e a Valéria. Eu as achei no 1º portal, depois de terem chegado até o 2º e retornado para lá. Um pouco depois chegava o Gera, tiramos nossas fotos e seguimos caminho até a fiel Fiona, todos muito felizes com o dia de caminhadas.

O refúgio de alta altitude no vulcão Iztaccihuatl, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)

O refúgio de alta altitude no vulcão Iztaccihuatl, na região de Amecameca, no centro do México (foto de Geraldo Ozorio)


Tão felizes que até mudamos nossos planos. Não achamos mais necessário voltar aqui amanhã, para nova sessão de aclimatação. O Gera até aventou a hipótese de voltarmos amanhã e tentarmos subir parte do Popo, apesar de ser proibido. Mas ao descobrirmos que tem até uma cerca eletrificada para dificultar o acesso, achamos melhor não. Então, decidimos que ele voltaria com as meninas para a Cidade do México, amanhã cedo, já que tem coisas para resolver por lá, enquanto eu vou passar o dia viajando para Puebla e encontrando um lugar para fazer o bendito alinhamento da Fiona, que ainda não fizemos desde a malograda tentativa lá no Texas. Depois de amanhã pela manhã, o gera vai me encontrar em Puebla e vamos juntos para o Orizaba, já dormir no refúgio da montanha. Subimos ela na madrugada seguinte, voltamos para Puebla, de onde ele retorna à capital e eu encontro a Ana e a Valéria, que viajam para lá no mesmo dia.

Nas encostas do Izta, com o Gera e a Val, com o Popo ao fundo, perto de Amecameca, na região central do México

Nas encostas do Izta, com o Gera e a Val, com o Popo ao fundo, perto de Amecameca, na região central do México


Enquanto acertávamos nossa nova programação, já no caminho de volta para Amecameca, ainda fomos presenteados com um duplo espetáculo celeste: de um lado, uma maravilhosa lua cheia nascendo, prateada e inspiradora, enquanto do outro, no mesmo momento, um sol avermelhado se escondia atrás do horizonte. O difícil era saber para que lado olhar! Uma maravilha!

A belíssima montanha de Iztaccihuatl, perto de Amecameca, na região central do México

A belíssima montanha de Iztaccihuatl, perto de Amecameca, na região central do México


Uma belíssima lua cheia nasce perto de Amecameca, na região central do México

Uma belíssima lua cheia nasce perto de Amecameca, na região central do México


Final de dia perfeito no meio dessa montanhas mágicas que nasceram de um romance que, de tão bonito e sincero, foi eternizado pelos deuses. Popo, com todo o respeito, a sua Izta é mesmo linda!

A lua nasce de um lado e o sol se pôe do outro, num fim de tarde glorioso perto de Amecameca, na região central do México

A lua nasce de um lado e o sol se pôe do outro, num fim de tarde glorioso perto de Amecameca, na região central do México

México, Amecameca, montanha, Izta, trilha, vulcão

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Choque de Realidade

Haiti, Cabaret

O movimentado mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

O movimentado mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


Depois da manhã de paz e tranquilidade na praia paradisíaca do Hotel Obama, rumávamos de volta à Port-au-Prince, juntos com a Lana e o Eric no carro chamado por ele. A Lana é uma cozinheira de mão cheia, pratos exóticos aprendidos em suas viagens pelo mundo que agora fazem sucesso no hotel do casal em Pétion-Ville, bairro onde ficam os turistas que viajam à capital haitiana. Sabendo que passaríamos ao lado do mercado na cidade de Cabaret, ela insistiu que parássemos por lá para nos abastecer de ingredientes para suas deliciosas receitas.

O movimentado mercado de Cabaret, cidade ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

O movimentado mercado de Cabaret, cidade ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


Um taptap nas ruas de Cabaret, cidade ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

Um taptap nas ruas de Cabaret, cidade ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


Cabaret é a antiga Duvalierville, e retomou seu nome original depois que Baby Doc, a segunda geração da família tirana, fugiu do país, em 1986. O pai, o notório e sanguinário Papa Doc, havia mudado o nome da cidade em sua homenagem, logo depois de uma visita à Cabaret no ano de 1962. Prometeu diversos investimentos e uma nova era de progresso, o que obviamente nunca aconteceu, mudou o nome de alguns edifícios e avenidas para o de sua esposa e o nome da cidade para o seu, na maior cara de pau. Quer dizer, ele era mesmo ególatra, mas não tanto como seu colega ditador da vizinha República Dominicana, que havia sido assassinado no ano anterior. Trujillo não havia se contentado com uma cidade pequena. Não! Ele tinha mudado o nome da capital do país para auto homenagear-se. Algo que nem Stálin havia pensado em fazer. Felizmente, ditadores como Strossner, Trujillo, Duvalier e Lenin se vão e as cidades retomam seus nomes originais.

O movimentado mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

O movimentado mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


Mais tarde, buscando informações na internet sobre a cidade, li artigos escritos por jornais americanos logo depois da fuga de Baby Doc e da volta do nome da cidade para o original. Foi triste ver as entrevistas dadas em 86, as pessoas esperançosas de um tempo melhor e mais próspero, com o fim da ditadura. Mal sabiam as agruras e dificuldades que os esperavam pelos próximo 25 anos, ou seja, até hoje.

O movimentado mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

O movimentado mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


Bem, foi por essa Cabaret de hoje que passamos, seu mercado de rua completamente lotado, ali do lado da estrada. “Quem compra tanta coisa?”, é tudo o que me vem à cabeça quando vejo esses movimentados mercados haitianos. Foi o nosso carro encostar no acostamento que fomos cercados por dezenas de ávidos vendedores, todos curiosos com aquele carro cheio de pessoas brancas que ali estava.

Uma elegante vendedora no mercado de Cabaret, cidade ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

Uma elegante vendedora no mercado de Cabaret, cidade ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


O Eric, no banco de passageiros, logo abriu sua janela e mandou ver no seu creolle fluente, para surpresa dos vendedores (na verdade, vendedoras, já que as mulheres formavam a grande maioria). Recobradas da surpresa inicial, elas logo partiram para o “ataque”, tentando enfiar todos os tipos de produto. AO mesmo tempo, a Lana, que não fala uma palavra da língua local, notava algo mais que queria comprar e pedia ao Eric que providenciasse. Bombardeado por todos os lados, ele passou a lista de compras ao motorista e pediu que ele descesse e se virasse. Eu e a Ana, de camarote, no banco de trás, observando toda a cena que se desenrolava em frente aos nossos olhos, o gostinho de Haiti finalmente chegando às nossas bocas.

Detalhes de haitianos no mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

Detalhes de haitianos no mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


O motorista desceu e se perdeu naquele mar de gente. Eu respirei fundo, peguei a nossa máquina fotográfica e saí do carro. Era onde eu queria estar, no meio daquela gente e bagunça toda, o único branquinho no meio daquela África americana. Mais curiosos do que eu com eles, eram eles comigo.

Detalhes de haitianos no mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti

Detalhes de haitianos no mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti


Fotos para lá e para cá, situação intensa, quase inebriante, imagens, sons e cheiros cercando-me por todos os lados. Lá estava eu em meus devaneios quando alguém me toca nas costas. Era o motorista e nós já estávamos prontos para partir. Voltamos para o carro e seguimos em frente, eu saboreando aqueles cinco minutos de Haiti que tinha acabado de vivenciar. A experiência tinha valido o dia!

Um taptap, forma mais comum de transporte no país (no mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti)

Um taptap, forma mais comum de transporte no país (no mercado de Cabaret, antiga Duvalierville, ao norte de Port-au-Prince, no Haiti)

Haiti, Cabaret,

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Viajando ao Sul do Chile

Argentina, El Calafate, Chile, Torres del Paine

Entrando no Chile mais uma vez, agora a caminho do parque Torres del Paine

Entrando no Chile mais uma vez, agora a caminho do parque Torres del Paine


Uma das regiões mais bonitas do nosso continente é o sul do Chile, onde está localizado o famoso parque nacional de Torres del Paine. O parque e a região sempre estiveram no roteiro dos 1000dias, desde que começamos nossa viagem há mais de três anos. Não só no nosso, mas de todas as pessoas que viajam ao sul da América. E se não estiver, deveria estar!

A caminho do parque Torres del Paine]

A caminho do parque Torres del Paine]


Já se veem as famosas torres de granito que dão nome ao parque Torres del Paine, no Chile

Já se veem as famosas torres de granito que dão nome ao parque Torres del Paine, no Chile


A única questão é como chegar aqui, especialmente para quem estiver de carro, como nós. Para quem estiver voando, não há problema, o aeroporto de Punta Arenas, a principal cidade por essas bandas, recebe até mesmo voos internacionais. Mas para quem viajar por terra, o sul do Chile não tem nenhuma ligação com o resto do país. As estradas que chegam aqui passam pela Argentina. Mesmo para os chilenos, não tem outro jeito. Se quiserem visitar seu próprio país em seus carros, tem de vir pelas terras de seu amado vizinho. Na verdade, existe sim, uma alternativa, mas é bem mais cara. Pode-se embarcar o carro em um ferry lá em Puerto Montt e navegar mais de 1.000 km para chegar aqui. Caro e demorado.

Esse mapa mostra por que não é possível chegar ao sul do Chile sem passar pela Argentina. O Campo de Gelo Sul e o emaranhado de ilhas e fiordes impede a passagem de qualquer estrada no lado chileno

Esse mapa mostra por que não é possível chegar ao sul do Chile sem passar pela Argentina. O Campo de Gelo Sul e o emaranhado de ilhas e fiordes impede a passagem de qualquer estrada no lado chileno


Na época do Pinochet, os chilenos se esforçaram para trazer sua ligação rodoviária o mais ao sul possível. A estrada avançou bastante, de Puerto Montt rumo ao sul. É a chamada “Carretera Austral”, considerada uma das mais belas estradas do mundo. Nós ainda vamos conferir isso nessa viagem, quando estivermos rumando para o norte na nossa volta ao Brasil, em poucas semanas. A Carretera Austral conseguiu chegar até Villa O’Higgins, no norte do parque nacional Bernardo O’Higgins (veja mapa neste post), mas aí encontrou um obstáculo intransponível. De um lado, um labirinto de canais e fiordes na costa do Pacífico. Do outro, o Campo de Gelo Sul nas montanhas andinas. O custo econômico de se vencer barreiras tão formidáveis fizeram os chilenos desistirem. Ainda bem!

Viajando de El Calafate, na Argentina, para Torres del Paine, no Chile

Viajando de El Calafate, na Argentina, para Torres del Paine, no Chile


Ainda na Argentina, jé é possível ver, atrás das ovelhas, o maciço de montanhas do Torres del Paine, no Chile

Ainda na Argentina, jé é possível ver, atrás das ovelhas, o maciço de montanhas do Torres del Paine, no Chile


Enfim, não tem mesmo jeito. Para quem quiser conhecer o Torres del Paine, a cidade de Punta Arenas ou a Terra do Fogo chilena e quiser vir de carro ou ônibus, terá de vir pela Argentina. Isso pode até ser uma vantagem, pois será uma oportunidade de conhecer o maravilhoso Parque Nacional Los Glaciares. Foi o que nós fizemos e hoje, enfim, viajamos rumo ao isolado sul do Chile, partindo de El Calafate.

Ainda não avisaram o GoogleMaps qye se pode atravessar a fronteira na altura de Tapi Aike. Esse percurso entre El Calafate e Torres del Paine tem 270 km, muito mais curto que se fomos até Puerto Natales, como sugere o Google

Ainda não avisaram o GoogleMaps qye se pode atravessar a fronteira na altura de Tapi Aike. Esse percurso entre El Calafate e Torres del Paine tem 270 km, muito mais curto que se fomos até Puerto Natales, como sugere o Google


Para fazer esse caminho, o GoogleMaps insiste em nos mandar até Puerto Natales e somente de lá, de volta para o norte, onde está o Torres del Paine. Puerto Natales é a base de todos os que querem chegar ao famoso parque nacional e sua economia gira em torno disso. Mas ninguém avisou ao Google que, para quem vem de El Calafate e não se importa com estradas de terra, existe um caminho muito mais curto. Vai economizar uns 150 km, pelo menos, e cruzar a fronteira muito mais ao norte, perto da pequena Tapi Aike. Aliás, é aí também que há uma última e estratégica chance de encher o tanque de combustível. Se perder esse posto, só mesmo em Puerto Natales, pois não há abastecimento na região do Torres del Paine.

Fronteira entre Argentina e Chile, a caminho do parque Torres del Paine

Fronteira entre Argentina e Chile, a caminho do parque Torres del Paine


Coleção de adesivos deixados por expedições nessa remota fronteira entre Argentina e Chile, a caminho do parque Torres del Paine

Coleção de adesivos deixados por expedições nessa remota fronteira entre Argentina e Chile, a caminho do parque Torres del Paine


Ainda do lado argentino a gente já começa a ver as montanhas do chamado “Maciço Azul”. É aí que estão as torres de granito que se erguem mais de dois quilômetros acima das estepes patagônicas e que dão nome ao parque criado para proteger toda essa beleza natural. Elas lembram muito o Cerro Torre, lá em Chaltén e, em linha reta, essas formações não estão distantes uma da outra. É a gente que tem de dar uma volta mais longa. O Torres del Paine está na extremidade sul do Campo de Gelo Sul, o mesmo gelo continental que alimenta as geleiras de Viedma (El Chaltén), Perito Moreno (El Calafate) e Grey (Torres del Paine). Resumindo, é todo mundo irmão!

Coleção de adesivos deixados por expedições nessa remota fronteira entre Argentina e Chile, a caminho do parque Torres del Paine

Coleção de adesivos deixados por expedições nessa remota fronteira entre Argentina e Chile, a caminho do parque Torres del Paine


Fronteira repleta de adesivos de expedições, na rota entre El Calafate, na Argentina, e Torres del Paine, no Chile

Fronteira repleta de adesivos de expedições, na rota entre El Calafate, na Argentina, e Torres del Paine, no Chile


A entrada no Chile é sempre um pouco mais complicada, já que eles são bem rígidos no controle da entrada de alimentos e materiais orgânicos. É legal ver nesse posto fronteiriço, no meio do nada, a quantidade de adesivos de expedições de viajantes. Todo mundo querendo deixar sua lembrança nesse lugar tão remoto. É claro que nós deixamos o nosso também!

Encontro com guanacos no nosso caminho para o parque Torres del Paine, no sul do Chile

Encontro com guanacos no nosso caminho para o parque Torres del Paine, no sul do Chile


Encontro com guanacos no nosso caminho para o parque Torres del Paine, no sul do Chile

Encontro com guanacos no nosso caminho para o parque Torres del Paine, no sul do Chile


A partir daí, rumamos para o norte, cada vez mais próximos das belíssimas e imponentes montanhas do parque. A estrada é de rípio e a paisagem, completamente bucólica e rural. Aqui e ali, pastando tranquilamente, bandos de guanacos. Algumas fazendas de ovelhas e bem poucos carros na estrada, alguns de transporte local e outras trazendo turistas de Puerto Natales e Punta Arenas. Aliás, esse será o nosso roteiro, ao contrário, aqui no sul do Chile. Vamos passar alguns dias explorando o Torres del Paine, depois vamos à pequena Puerto Natales e, por último, à cidade mais austral do continente, Punta Arenas. Na verdade, Ushuaia ainda está mais para baixo, mas ela já é na Terra do Fogo, uma ilha. Nós vamos para lá também, para a Terra do Fogo. Há um ferry que nos leva de Punta Arenas para essa grande ilha no extremo sul do continente. Aí, já na ilha, voltamos para a Argentina (a Terra do Fogo é compartilhada entre os dois países) e chegaremos de volta à Ushuaia, agora sim com a Fiona. Enfim, muito por ver e fazer aqui no sul. Dias excitantes nos esperam. E essa temporada no sul vai começar com o considerado mais belo parque do continente, o Torres del Paine!

Entrando no tão famoso parque Torres del Paine, no sul do Chile

Entrando no tão famoso parque Torres del Paine, no sul do Chile

Argentina, El Calafate, Chile, Torres del Paine, Estrada, Patagônia

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