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Rua no centro de Havana, em Cuba
Voltamos à Havana, a vibrante capital cubana. Nosso ônibus chegou à garagem da Via Azul, em frente ao zoológico um pouco antes da 11 da manhã. Aí tomamos um táxi para a “nossa” casa em Havana, a Casa de Hóspedes da Dona Margarita, em Vedado. Nossos planos iniciais eram de chegar à Havana e, logo em seguida, alugar um carro para seguirmos para a região de Pinar del Rio, no oeste da ilha. Depois, talvez, voltaríamos na tarde do dia 26 para uma última noite na capital.
Reencontro com a Dona Margarita em Havana, em Cuba
Mas mudamos de ideia. Resolvemos ficar em Havana por hoje, viajar apenas amanhã e voltarmos no dia 27 mesmo, direto para o aeroporto. Assim, poderíamos ainda encontrar o Rafa e a Laura hoje, numa noite de sexta-feira que promete ser muito mais agitada. E ainda ganhamos o dia para outro passeio nas ruas centrais de Havana. O único porém é que, como não tínhamos feito reserva com antecipação, a Dona Margarita não tinha mais quartos para nós. Mas ela disse que nos colocaria na casa de uma conhecida, ali perto.
O imponente Capitólio, em Havana - Cuba
E assim chegamos à sua casa, já com o táxi pronto para nos levar a à nossa pesada bagagem ao novo endereço. Mas isso não foi necessário! A nossa querida anfitriã tinha tratado de “desviar” outras pessoas para a casa de sua amiga, livrando assim um quarto para nós, o mesmo que tínhamos ficado da outra vez. Que amor de pessoa, a Dona Margarita! Assim, instalamo-nos felizes no nosso quarto, batemos um longo papo com ela sobre nossas andanças por seu país e, enfim, seguimos para o centro da cidade, nosso passeio de despedidas por Havana.
Passarela sob as arcadas de um prédio no centro de Havana, em Cuba
Outra vez, passamos pelo charmoso Malecón, dessa vez com o mar bem tranquilo, e descemos no Parque Central, ao lado do Capitólio. Pelas próximas horas caminhamos livremente pelas ruas estreitas de Habana Vieja, com paradas estratégicas em frente ao mar, na restaurada Plaza Vieja e no concorrido Museo del Chocolate.
Famosa loja de chocolate no centro de Havana, em Cuba
Chama a atenção a diferença das ruas turísticas (restauradas) e das não turísticas (depauperadas) no centro de Havana. As duas tem suas belezas e charmes, ambas sempre muito seguras. Turistas caminham por todas elas, a maioria nas ruas bem urbanizadas, mas os alternativos, em busca de boas fotos, pelas não turísticas. São nessas que encontramos as famílias cubanas no seu dia a dia, roupa secando pendurada nas varandas, portas abertas sempre possibilitando aos passantes darem uma olhada no interior das moradias, crianças correndo e gritando pelas ruas. Já nas ruas turísticas, muito bem urbanizadas, é aí que encontramos restaurantes charmosos, lojas de artesanato e museus.
Moradia no centro histórico de Havana, em Cuba
Além as ruas, estreitas e sempre ladeadas de construções altas, o que nos dá uma sensação de aperto e pouco espaço, tem também as praças, grandes espaços abertos e cheios de vida. O nosso preferido é a Plaza Vieja, totalmente restaurada e com muitos restaurantes com mesas espalhadas pela calçada, ótimo lugar para ver a vida passar.
Pit-stop na agradável Plaza Vieja, no centro histórico de Havana, em Cuba
Processo de restauração da Plaza Vieja, co centro de Havana, em Cuba
Já no escuro, depois de aproveitar até o último minuto de luz naquele centro interessantíssimo, voltamos de táxi para El Vedado. Tínhamos de nos preparar para a “night havanense”. A ideia era ir no Jazz Café, famosa casa noturna com ótimos shows de, adivinhem!, jazz! Alí esperaríamos o Rafa e a Laura, que deveriam chegar no aeroporto um pouco depois das dez da noite.
Escolares atravessam a Plaza Vieja, no centro de Havana, em Cuba
E assim fizemos, o agradável Jazz Café num prédio em frente ao mar, em Vedado mesmo. Ali em frente, no Malecón, centenas de jovens cubanos se reúnem também, meninos e meninas fazendo charme para o sexo oposto. Adolescentes são iguais em qualquer lugar do mundo, não importa o regime político! Pelo menos ali em frente eles podem se reunir, de graça. Porque para entrar no Café, aí a coisa já fica bem mais elitizada.
"Confraternização" em recanto do centro histórico de Havana, em Cuba
A banda estava ótima e os expectadores eram turistas ou a minoria cubana mais abonada. Pela qualidade da música, beleza do ambiente e pela plateia ao nosso lago, poderíamos estar em qualquer grande metrópole do mundo, NY, são Paulo ou Paris. Mas estávamos em Havana, capital de Cuba. Muito legal!
Pensativo, observando a baía de Havana, em Cuba
O que não foi legal foi o que aconteceu com nossos padrinhos. Ao chegarem no aeroporto em Santiago, com duas horas de antecedência, descobriram que o voo deles havia sido adiado para o final da madrugada. Chegariam tarde demais em Havana para pegarem seu voo de volta ao Brasil. Depois de muito brigarem, conseguiram ser encaixados em outro voo, que depois dos atrasos, acabou chegando em Havana perto das duas da manhã. Para o voo internacional que tinham, deveriam estar no aeroporto um pouco depois das quatro da madrugada, três horas antes do horário de saída. Considerando a meia hora de táxi para vir à Vedado e outra meia hora para voltar ao aeroporto, perdeu qualquer sentido que saíssem de lá. Tudo isso conseguimos falar ao telefone. E assim foi nossa despedida, via celular... E eles ainda tem um longo caminho a percorrer, via Panamá, até chegarem de volta à Curitiba. Dificuldades de uma viagem à Cuba...
Show no concorrido Jazz Café, em Havana - Cuba
Quanto a nós, ainda tivemos tempo de ir para um outro bar, depois do show no Jazz Café. Se chama “Submarino Amarillo”, homenagem à eterna banda inglesa. O bar está todo decorado com motivos dos Beatles, algo que jamais esperávamos encontrar por aqui. Havan continuou a nos surpreender até o final!
Decoração de bar em homenagem aos Beatles em Havana - Cuba
Amanhã, logo cedo, vamos atrás de um carro que nos leve ao lado oeste da ilha, região de Pinar del Rio e Viñales. Tabaco, charutos, montanhas e cavernas nos esperam!
Prédio do Comando Naval, na Plaza Sotomayor, em Valparaiso, no Chile
A cidade portuária de Valparaiso, o segundo maior centro urbano do Chile, já era usada pelos espanhóis desde meados do séc. XVI, mas foi apenas depois da independência do país, no início do séc. XIX, que ela passou a se desenvolver. Tornou-se o centro da Armada do Chile e principal porta de entrada para os milhares de imigrantes que chegavam à nova nação. Alemães, ingleses, franceses, italianos e muitos outros ajudaram a moldar o caráter de uma cidade destinada a se tornar um dos principais centros culturais, não só do Chile, mas de toda a América Latina. Em suas ruas cosmopolitas de meados do séc. XIX, eram ouvidas diversas línguas europeias, se ergueram vários colégios para atender os imigrantes, construiu-se a primeira linha de telégrafo do continente, o primeiro corpo de bombeiros ao sul do Equador e o mais antigo jornal em língua espanhola do mundo que ainda circula nos dias de hoje.
Plaza Sotomayor, no centro de Valparaiso, no Chile
Os antigos trólebus ainda andam nas ruas de Valparaiso, no Chile
O grande impulso de crescimento veio de longe, mais precisamente da California, onde a corrida do ouro entre 1848-58 movimentou todo o mundo. Dezenas de milhares de americanos da costa leste, e também europeus, no afã de chegar ao novo eldorado, buscavam a longa rota marítima ao redor da América ao invés da perigosa travessia através do território dos índios americanos. Como naquela época ainda não havia o Canal do Panamá, os barcos que traziam multidões davam a volta no Estreito de Magalhães e aportavam no primeiro porto importante da costa no lado do Oceano Pacífico, Valparaíso. Não demorou muito para a cidade ser apelidada de “a San Francisco do Sul”.
Valparaiso, no Chile, construída sobre diversos cerros
Um dos muitos cerros de Valparaiso, no Chile
Não tendo mais para onde se expandir ao redor da área plana da zona portuária, a cidade passou a ocupar os diversos “Cerros”, ou morros, dos arredores. Hoje, são mais de 40 deles, cada um com sua personalidade, ruas e ruelas de pedra, becos e escadarias pitorescos, muros grafitados, pousadas e restaurantes charmosos, tudo isso num verdadeiro labirinto de caminhos estreitos que desafiam os melhores cartógrafos e são proibitivos para carros grandes e, em alguns casos, mesmo os pequenos.
o pomposo Museu da Marinha, em Valparaiso, no Chile
Os dias de glória de Valparaíso terminaram no início do séc. XX. Primeiro, um forte terremoto arrasou a cidade e matou mais de 3 mil pessoas. Alguns anos mais tarde, a inauguração do Canal do Panamá tirou de Valparaíso a sua principal força econômica: o movimento de seu porto. Os navios transoceânicos agora optavam pelo caminho mais curto e Valparaíso ficou “a ver navios”, ou melhor, a não vê-los mais. Não demorou para chegarem os difíceis tempos da decadência, famílias mais abastadas se mudando da cidade e antigas áreas nobres se tornando guetos perigosos.
O charme das ruas de Valparaiso, no Chile
Muita arte nas ruas de Valparaiso, no Chile
Mas a riqueza histórica, a tradição e a beleza de sua arquitetura acabaram falando mais alto. A cidade se tornou um magneto para artistas, poetas, filósofos, boêmios e estudantes. Várias universidades se instalaram ali e atrás desse movimento vieram os turistas, os restaurantes, os hotéis e todo a giro econômico e cultural que isso trás. Por fim, o porto ganhou nova vida, com uma inserção cada vez maior do Chile na economia internacional, com suas exportações de cobre e, cada vez mais, frutas. Valparaíso foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade, Centro Cultural do país e sua capital legislativa, sendo sede do Congresso Nacional.
O charme das ruas de Valparaiso, no Chile
Cerro Concepción, em Valparaiso, no Chile
Foi nessa fulgurante cidade que chegamos ontem, um pouco antes da meia noite, depois da longa viagem vindos de La Serena e do Valle del Elqui. Nossa ideia era achar logo um hotelzinho charmoso em um dos Cerros da cidade e depois, ainda aproveitar a boemia. Mas nossos planos não deram muito certo, não.
São vários cerros na cidade de Valparaiso, no Chile
Para começar, até o GPS apanha do labirinto de ruas da parte alta da cidade. Ele insistia em nos mandar por ruelas onde nem uma moto mais larga passava, imagina a Fiona. Aos trancos e barrancos, fomos achando as poucas ruas mais largas e chegando ao alto dos Cerros. Apenas para descobrir que a cidade morre nos domingos de madrugada, a única noite de descanso dos boêmios. Não apenas bares e restaurantes estavam fechados, mas também boa parte dos pequenos hotéis que procurávamos. Todo mundo dormindo. Os poucos onde ainda conseguimos achar alguém na recepção foram desalentadores: preço salgado e sem vaga para a Fiona. Como são construções antigas, vagas de carro são mercadoria rara por ali. E nós, depois do trauma em Totoralillo, não podíamos nem imaginar em deixar nosso carro desprotegido. Assim, acabamos por desistir de dormir em alto estilo na cidade e apelamos para o sempre eficiente Ibis, que é muito bem localizado na cidade e sempre tem vagas para carros. Fica no coração da área portuária, a poucos metros de várias ladeiras que dão acesso a alguns dos Cerros mais famosos de Valpo. Aliás, é assim que a cidade é conhecida entre os chilenos: Valpo!
Tentando se orientar pelo mapa nas ruas de Valparaiso, no Chile
Voltando para a parte baixa de Valparaiso, no Chile
Pois é, acabamos no Ibis e também sem a nossa esperada noitada, já que noitada não havia. Pelo menos, tivemos o prazer de poder rodar por aquelas ruas cheias de história e completamente vazias, um gato aqui, um fantasma ali e nada mais. Parecia que uma estranha “aura” de 200 anos de idade nos acompanhava em nosso périplo pela cidade.
Estação de funicular em Valparaiso, no Chile
Um dos muitos funiculares que dão acesso aos cerros de Valparaiso, no Chile
Hoje de manhã, estávamos loucos para retomar nossas explorações. Agora, sem a Fiona e com a ajuda da luz do sol. As ruas desertas desta vez estavam cheias de vida, mais na parte baixa, que é onde fica o comércio, que na parte alta. Para subir os Cerros, o caminho normal é tomar algum dos “funiculares”, um pequeno trem que sobe as ladeiras, quase como um elevador. Não são caros. Mas não era o que queríamos! Buscávamos os becos, as ruas calçadas com pedras pé de moleque, as escadarias apertadas entre dois muros cheios de grafite. De alguma maneira, queríamos beber daquela energia que paira sobre essa cidade encantadora.
Subindo escadaria para um dos cerros de Valparaiso, no Chile
Muita arte nas ruas de Valparaiso, no Chile
Como segunda-feira é o dia internacional dos museus fechados, ficamos só pelas ruas, mesmo. Mas não se enganem! Aí já há história suficiente para muitas e muitas semanas. Começamos pelo Cerro Alegre e Cerro Concepción, os mais próximos da área do porto. Cada rua, cada quarteirão, uma fotografia. Além dos detalhes das vielas, dos muros pintados e das casas centenárias, tem também a vista para o porto, para o Oceano Pacífico e para a vizinha Viña del Mar.
O nome do grande poeta Neruda está por toda parte em Valparaiso, no Chile
Cerro Concepción, em Valparaiso, no Chile
Nos muros, além de muita arte visual, também se encontram poemas. Não é a toa que essa era uma das cidades preferidas de Neruda. No mundo! Aqui ele tinha uma casa e passava temporadas para se inspirar. Hoje, são seus poemas e frases que inspiram novas gerações de poetas que escolheram essa cidade como lar. Afinal, quem não se inspiraria bebendo na mesma mesa de bar que costumava beber o grande poeta?
Restaurante com uma bela vista de Valparaiso, no Chile
Depois de muitas andanças, já que não tínhamos ficado no hotel dos nossos sonhos, resolvemos recompensar com um belo restaurante. Achamos o lugar perfeito no Paseo Iugoslávia, um restaurante cheio de janelas e virado para o mar, lá embaixo. Ficamos só nos aperitivos mais chiques, mas o local e a ocasião justificavam o investimento! Tudo acompanhado de deliciosas cervejas. Foi nossa maneira de tornar esse momento ainda mais sagrado.
Queijo camembert derretido co geleia de framboesa, em Valparaiso, no Chile
Deliciosa cerveja em Valparaiso, no Chile
Já de tarde, seguimos para outro Cerro, o Artilleria, onde se encontram grandes prédios históricos e há um mirante especial para ver o fim de tarde atrás do mar. Quem diria que até a visão de um porto movimentado também tem seu charme? Em Valparaíso, tem!
Valparaiso, no Chile, vista do alto do cerro Artilleria
Valparaiso, no Chile, vista do alto do cerro Artilleria
Segunda de noite também é devagar, em qualquer lugar do mundo. Assim, foi mais fácil convencer a Ana, sob protestos, a ficarmos no hotel. Deste modo, vamos embora sem conhecer a aclamada boemia da cidade. Fica para uma próxima vez, agora que já sabemos nos movimentar pelo menos em parte desse misterioso labirinto cultural, carinhosamente chamado de Valpo. Amanhã, já vamos para a capital, passando por Viña del Mar no caminho. Temos um bom motivo para toda essa pressa: só faltam dois dias para voarmos para o meio do Oceano Pacífico!
Valparaiso, no Chile, vista do alto do cerro Artilleria
Praia de Moreré na maré baixa, na Ilha de Boipeba - BA
Muita gente associa civilização, entre outras coisas, ao nível de conhecimento. Isso pode ser verdade para algumas coisas, mas para outras é exatamente o contrário. Quando vivíamos em volta de fogueiras, vivendo da pesca e da caça, sabíamos muito mais coisas do céu e do mar que sabemos hoje. Estou falando do cidadão médio, que vive numa grande cidade e não dos cientistas e do conhecimento acumulado nas enciclopédias, claro!
Barcos visitam as pscinas de maré baixa na praia de Moreré, na Ilha de Boipeba - BA
Quem sempre viveu na cidade nunca viu um céu estrelado, não tem a menor idéia como reconhecer as constelações e jamais saberia se orientar no tempo e no espaço (a não ser que tenha um GPS!), se precisasse. Sabe vagamente que existe algo chamado "maré", mas não tem noção de como e porque ela ocorre, e se isso faz alguma diferença para a vida. Foram conhecimentos báscos que fomos deixando para trás, já que são bem menos importantes para nós do que saber dirigir um carro ou mudar o canal da televsão.
Maré baixa em Moreré, na Ilha de Boipeba - BA
Na nossa viagem dos 1000dias, gostamos de passar nos lugares pequenos, onde as pessoas ainda vivem muito mais próximas do ciclo natural das coisas do que nós, habitantes das grandes e iluminadas cidades. Olham para o céu com sabedoria, sabendo a época do ano em que estamos, e para onde ficam norte e sul, se é época de plantar ou de colher. Olham para o mar com sabedoria também, sabendo se é época de maré grande ou pequena, de sardinha ou de caranguejo, de mar bravo ou calmo.
Maré baixa, próximo aos recifes de Moreré, na Ilha de Boipeba - BA
Hoje de noite passei mais de uma hora conversando com um pescador. Eu perguntando, na minha eterna e faminta curiosidade, e ele respondendo. Deu-me uma verdadeira aula sobre a natureza local, mangues e marés, caranguejos e trilhas, mudanças no tempo e na paisagem. Algo que dificilmente eu aprenderia de forma tão clara em algum livro. Conhecimentos adquiridos de forma prática transmitidos por um sábio naquilo e daquilo que vive. Enfim, um espetáculo de aula, de conversa, de simplicidade e de praticidade.
Caminhando de Moreré para a praia de Cueira, na maré baixa, na Ilha de Boipeba - BA
Aqui no Moreré as marés falam mais alto. A cara da vila e redondezas mudam completamente da maré alta para a baixa. O mar recua uns quinhentos metros, deixando esposta uma longa planície de areia. Os pescadores aproveitam para a pesca de polvos e lagostas, presos entre os recifes expostos. Esse ciclo é acentuado nas grandes marés, de lua cheia e lua nova. Assim, todo mês há duas grandes marés e eles fazem a festa. Ao longo do ano, essas grandes marés também se alteram. No verão, são ainda maiores. Aí, é a época de se refestelar nos caranguejos e parentes próximos do mangue. Esses pequenos seres ficam encantados pela lua, saem perdidos por aí, se expondo para garças e pescadores.
Trilha em coqueiral entre a Cueira e Moreré, na Ilha de Boipeba - BA
As grandes marés se dão quando Sol, Terra e Lua estão alinhados. As gravidades da Lua e do Sol se unem para "ovalar" a Terra, ou a parte líquida dela (o mar). A face voltada para os astros e também a face oposta ficam mais gordas, com mais água, enquanto as outras duas faces "perdem" água. Como a Terra gira, a face voltada para os astros também vai mudando. Com isso, as marés vão "andando" pelo planeta afora, carregando consigo trilhões de litros d'água. Isso fica bem claro para nós na entrada de baías onde o estreitamento do canal de entrada vira um rio caudaloso, correndo para dentro ou para fora conforme a maré. Ao longo do ano, conforme o eixo da Terra se inclina para lá ou para cá, mudando as estações, isso também afeta as marés, ficando maiores ou menores.
Cruzando o rio para a praia de Cueira, na Ilha de Boipeba - BA
Isso tudo o pescador sabe na prática. Pois é esse ciclo que comanda a sua vida. E comanda também, pelo menos temporariamente, a vida minha e da Ana. Dependemos dele para saber a hora de ir e voltar pelas praias. Na maré alta, o rio fica maior e não podemos cruzá-lo. Na maré baixa, podemos caminha pela areia da praia, e não pela trilha que contorna a montanha. Na maré baixa, pode-se jogar futebol. Na maré alta, talvez o polo aquático...
Campo de futebol na maré baixa, em Moreré, na Ilha de Boipeba - BA
Campo de futebol na maré cheia, em Moreré, na Ilha de Boipeba - BA
Admirando a magnífica paisagem do rio Yukon e Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Hoje pela manhã, deixamos a cidade de Dawson, a capital dessa parte do mundo na virada do séc XIX para o XX. Para ver com são as coisas... quando estávamos chegando ao Alaska, há duas semanas, escolhemos a rota mais direta e decidimos que não valeria o esforço de chegar até aqui. Há poucos dias, quando fizemos nossos planos para ir embora do Alaska, também não incluímos Dawson no roteiro. Nossa ideia era ficar pelo sul do Alaska mesmo, até pegar o ferry. Mas São Pedro tinha outros planos e nos fez mudar de roteiro. Para nos convencer, mandou alguns raios e trovoadas. Assim que cedemos aos seus argumentos, ele nos recebeu com tempo limpo e as duas mais belas noites de Aurora das nossas vidas. E agora, na hora de deixar Dawson para trás, nenhum de nós duvida que essa foi a cidade mais interessante que encontramos no extremo norte do nosso continente. Nada como ter um roteiro “flexível”...
Rio Yukon, visto do alto do morro do Dome, em Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Ainda de ir embora da cidade, dirigimos até o Morro do Dome, de onde se tem uma fabulosa vista da Dawson e do vale do Yukon. Nessa época do ano, Outono por aqui, não poderia ficar mais bonito. Ter visto a Aurora aqui de cima teria sido sensacional. Mas, ao mesmo tempo, não teríamos tido o reflexo das luzes celestiais no rio Yukon. Não dá para ter tudo... Legal foi ver uma foto de 1899 com mais de cem pessoas aqui em cima, todo mundo posando para a foto. Dá para ver o rosto de cada um. Cada pessoa com seus sonhos, problemas e alegrias do dia a dia. Hoje, todo mundo sete palmos embaixo da terra. Lembrança que a vida é curta e devemos vivê-la da melhor forma possível porque, daqui a pouco, seremos nós embaixo dos sete palmos...
No alto do morro do Dome, em Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Seguimos viagem para o sul e, vinte minutos mais tarde, chegávamos ao início da rodovia Dempster Highway. Essa estrada nasce aqui e segue diretamente para o norte, num percurso de mais de 700 quilômetros ultrapassando o Círculo Polar Ártico, deixando Yukon para trás e entrando nos Northwest Territories, chegando à Inuvik, já bem perto do Oceano Ártico. Se vocês acham que nós chegamos ao fim do mundo, é porque não conhecem Inuvik. Deu aquela coceira danada de seguirmos para lá, desbravarmos a tundra novamente e chegarmos mais perto do Papai Noel. A paisagem da estrada certamente é belíssima, mas não muito diferente do que temos visto ultimamente. O que nos faria realmente pensar em seguir a estrada seria a chance de chegar ao Oceano Ártico e ver ursos polares. Mas, de novo, esse não era o caso...
Fiona se despedindo de Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Quando pensamos em ursos polares, logo pensamos que é fácil encontrá-los aqui no Canadá ou no Alaska. Pois é, descobrimos que não é! Tanto a estrada que leva a Prudhoe Bay, no Alaska, como essa aqui, a Dempster, nos levam para o norte, mas não a esses animais fantásticos. De ambos os lugares, seria ainda preciso pegar um avião para seguir ainda mais adiante. Aqui, se estivéssemos no Inverno, seria possível, com correntes, seguir com a Fiona em uma estrada no gelo até as próximas cidades e, aí sim, chegar ao Oceano Ártico. Seria bem legal, mas estaríamos no escuro, já que o sol não nasce durante o Inverno naquelas latitudes. Quem sabe, numa noite de lua cheia? E mesmo chegando numa praia do Ártico, ainda não é lá que estão os ursos brancos. Não tem jeito... tem de pegar o bendito aviãozinho.
Início da Dempster Highway, região de Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Agora sabemos que, sem contar os zoológicos, a maneira mais fácil de chegar perto dos ursos polares teria sido lá do outro lado do Canadá. De Toronto, pegar um trem para Churchill, nas margens da Hudson Bay. Dali, numa excursão em um daqueles ônibus árticos, com rodas gigantes próprias para andar no gelo, pode-se chegar, com segurança, perto desses animais. Os ursos polares são os únicos carnívoros da Terra que nos veem, sim, como uma refeição. Grizzlies, leões, tubarões, todos eles podem ter curiosidade por nós, mas não estamos no seu cardápio, pelo menos até a primeira vez em que eles tiverem provado. E para isso acontecer, só se estiverem com muita fome. Com ursos polares, a história é outra. Assim que entramos no seu campo de visão, viramos um alvo. E para um bicho daquele tamanho, haja bear spray! O negócio é estar mesmo dentro de um ônibus. Passeio para a nossa próxima vinda ao Canadá...
Painel explicativo sobre a Dempster Highway, na região de Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Assim, deixamos a Dempster Highway para trás e seguimos para o sul, rumo à Whitehorse. Mas ela não saía da minha cabeça. Só que agora, o motivo não era os ursos polares, mas um assunto bem diferente, a “Beringia”. A Dempster corta um bom pedaço dessa misteriosa região, por onde nossos antepassados chegaram às Américas há uns 15 mil anos. Sempre fui muito curioso sobre as teorias que tentam explicar o povoamento do nosso continente. A teoria mais aceita diz que o homem chegou da Ásia, caminhando por uma ponte natural entre Sibéria e Alaska, formada na última era glacial, quando o nível dos oceanos era bem mais baixo. O que eu não conseguia entender era como eles teriam caminhado sobre tanto gelo. Afinal, passamos por lugares muito mais ao sul, nos Estados Unidos, que eram cobertos por espessas geleiras naquela época. Se South Dakota já era coberta por geleiras, imagina como era a Beringia, uma terra entre o Alaska e a Sibéria???
Início da Dempster Highway, região de Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Pois é, por aqui, finalmente descobri a resposta. A Dempster Highway cruza um território que não é nunca foi coberto por gelo e neve. Não porque não seja frio, mas simplesmente porque não há precipitação! É muito seco! Toda a umidade é barrada por uma cadeia de montanhas e o lugar é como se fosse uma espécie de Deserto do Atacama dos polos. Assim, durante a última era glacial, o que aconteceu foi que formou-se um enorme corredor sem gelo, mas cercado de enormes geleiras, entre a Ásia e a América. Os animais passavam por aí, como bisões e mamutes, E atrás deles, como parasitas, uma população de humanos, que vivia da caça desses grandes herbívoros. O corredor da Beringia terminava em enormes paredes de gelo, uns poucos milhares de quilômetros adiante. Com o fim da era glacial, o estreito de Bering foi retomado pelas águas, fechando a passagem de volta para a Ásia. Em compensação, as planícies americanas se abriram para esses desbravadores. Tinham um continente inteiro pela frente!
Distância em quilômetros para as próximas cidades na Dempster Highway, na região de Dawson City, no Yukon Territory, no Canadá
Aqui, só um parêntesis. Depois de passar por tantos países e ter conhecido tantos sítios arqueológicos, do Brasil ao México, não estou entre aqueles que acreditam que os primeiros homens a pisar no continente foram esses aventureiros que cruzaram a Beringia, há 15 mil anos. Tudo parece indicar que o homem chegou aqui por outras rotas também. Pelo Pacífico Sul, pulando de ilha em ilha, pelo Atlântico Norte, via Groelândia, ou mesmo pela Beringia, em alguma glaciação anterior. Também é bom lembrar que minha conterrânea Luzia, um fóssil de uma mulher que habitou as Minas Gerais há mais de dez mil anos tem características negroides, muito mais próximas da África do que da Ásia. No Piauí, na Serra da Capivara, temos sinais claros da presença humana bem anterior à última era glacial. Enfim, é um mistério que ainda não foi resolvido e talvez nunca seja. Mas, independente de quando e como chegaram os primeiros homens na América, pesquisas genéticas parecem indicar que toda a população nativa do continente, do Chile ao Canadá, descende de um mesmo grupo de pessoas, pequeno, de poucas dezenas de membros, que teria chegado à América há 17-15 mil anos. O que pode ter acontecido é que essa nova população substituiu a antiga, seja por meio de guerras, maior adaptabilidade, melhor tecnologia resistência à doenças ou a combinação disso tudo.
Cores de Outono na estrada entre Dawson e Whitehorse, no Yukon Territory, no Canadá
Depois de tantas elucubrações, chegamos à Whitehorse, onde paramos para um almoço tardio, já nos sentindo íntimos da cidade, pois aí havíamos estado há duas semanas. Devidamente alimentados, seguimos para Haines Junction, na Alaska Highway, no único trecho de estrada repetida em todo esse looping que fizemos no extremo norte da América. Agora, nesse trecho da viagem, minha mente divagava sobre o futuro, e não mais o passado. Quando será possível cruzar novamente a Beringia por terra? Esperar até a próxima Idade do Gelo para cruzar para a Ásia me parece muito tempo para esperar. Apenas 85 km separam os dois continentes e acho um absurdo que não haja, até hoje, uma ligação entre eles. Já pensaram... ser possível sair de carro da Patagônia e chegar até a Cidade do Cabo, na África do Sul? A Europa não passa de uma grande península da Ásia e a África está ligada ao continente asiático pela Península do Sinai. Então, uma ponte entre Alaska e Sibéria unificaria praticamente todo o mundo! Ficariam de fora a Oceania e a Antártida, mas também, aí já é querer demais...
Curva e corredeiras do rio Yukon, na estrada entre Dawson e Whitehorse, no Yukon Territory, no Canadá
Pois bem, o projeto dessa ponte já existe! Assim como de um túnel. O Estreito de Bering, que separa os dois continentes, não é fundo, pouco mais de 50 metros de profundidade. Entre eles, há duas ilhas, uma americana e outra russa. As ilhas estão separadas por míseros 5 quilômetros entre si (quem diria que EUA e URSS, inimigos mortais, estavam tão próximos um do outro???), além de outros 40 km, cada qual do seu continente. Três pontes resolveriam isso. Custaria bem menos que manter as tropas americanas no Iraque por um ano. E essa conta já inclui as estradas que deveriam ser construídas das saídas da ponte até as próximas cidades. O que falta é, evidentemente, vontade política. Porque razões econômicas sobram. Certamente, não me refiro aos turistas que passariam por lá, mas aos bilhões de dólares de mercadorias entre um continente e outro. O ponto negativo seria o impacto sobre o meio ambiente dessa rota, dado a quantidade de trens e caminhões que transitaria por aí. É... pensando melhor, pelo bem da tundra, dos ursos polares, dos caribous e das paisagens fantásticas que vimos com nossos próprios olhos, melhor deixar essa história de ponte prá lá...
Estrada entre Whitehorse e Haines Junction, no Yukon Territory, no Canadá
No alto das Kelso Dunes, maravilhado com a paisagem desértica de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Uma das coisas que mais gosto nos Estados Unidos são os grandes espaços vazios, paisagens grandiosas, quase sem sinal da civilização. Apesar de estarmos em um dos países mais urbanizados do mundo, essa terra é tão vasta que ainda restam lugares que se pode dirigir por horas sem ver nenhuma cidade, pouquíssimos carros e raras pessoas. O melhor é que quase sempre se pode chegar lá no conforto do seu carro, pois as estradas cruzam o país de sul a norte e de leste a oeste. Mas a estrada pode estar completamente vazia, apenas você e esse mundão lindo sem porteiras.
De volta aos grandes espaços abertos, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
O lugar mais fácil de encontrar essas paisagens maravilhosas e com aparência de intocadas é no sudoeste do país, por onde passamos no começo da viagem, em Abril do ano passado. Quando se chega à região central do país, as grandes planícies férteis tomam conta e aí, são plantações atrás de plantações, fazendas atrás de fazendas. Mais para o leste, as cidades se tornam mais numerosas até que, perto da costa, é praticamente uma cidade só, uma grande mancha urbana que cobre quase toda a costa atlântica. Embora não tanto assim, o mesmo pode ser dito da região dos Grandes Lagos e da costa oeste. O centro norte, perto de Yellowstone, também tem paisagens fantásticas, mas passamos lá na época de férias daqui, então sempre havia mais movimento de carros.
Uma das entradas da área de preservação do deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Enfim, estava morrendo de saudades de poder dirigir só, no meio da natureza majestosa e esse momento finalmente chegou. Deixamos a megalópole de Los Angeles para trás rumo aos estados do Arizona, Utah e Colorado, onde meia dúzia de parques nacionais nos esperam, todos eles com seus cenários de cinema. Melhor ainda, entre eles, apesar de estarmos fora de parques, a paisagem também é sensacional. São semanas que prometem!
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Nosso único problema é conseguir fazer um roteiro que inclua todos esses parques que queremos passar. Vai ter de ser um ziguezague, e com tempo contado, pois o nosso prazo de saída do país está contando, no meio de Janeiro. Grand Canyon, Zion, Bryce, Arches, Mesa Verde, Canyonlands, Monument Valley, todos eles tem de estar no nosso caminho entre Los Angeles e Aspen, no Colorado. Quem deve dançar nesse roteiro é a bela cidade de Salt Lake City, um desvio muito grande para o norte, infelizmente. Não se pode ter tudo...
Chegando às dunas de Kelso, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Caminhada até as dunas de Kelso, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Nós saímos já bem de noite de Los Angeles, depois de assistir ao jogo do Lakers, e dirigimos até a cidade de Ludlow, já bem perto do deserto de Mojave, nosso velho conhecido. Hoje, tínhamos pela frente o maior trecho da viagem, até o Grand Canyon, no Arizona. Mas acordar já em uma cidadezinha perdida no meio do nada, horizontes a perder de vista, nos atiçou. Estávamos de volta aos grandes espaços vazios, região que pouco mudou desde que os primeiros colonizadores passaram por aqui. A vontade de explorar estava fervilhando no sangue.
Área de dunas no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
As enormes Kelso Dunes, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Pois é, isso não poderia acontecer em um local mais apropriado! Uma hora à frente, de carro, chegávamos à entrada da reserva de Mojave, uma das regiões mais belas e conservadas desse famoso deserto. Nossa primeira ideia era dar só uma olhadinha, pois tínhamos muita estrada pela frente. Que nada!
Subindo as Kelso Dunes, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
O lugar era muito mais belo (e vazio!) do que pensávamos. A primeira parada foi num grande campo de dunas, chamadas de Kelso Sand Dunes. Imponentes, elas dominavam aquela parte do deserto. Resolvemos nos aproximar, para fotografar melhor. Aí, umas fotos e painéis explicativos convidavam: subam! Vejam tudo lá de cima! Quem pode resistir a um pedido desses?
As belas Kelso Dunes, num dia ensolarado e gelado no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Quase no alto das Kelso Dunes, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
No deserto, as distâncias enganam. Elas pareciam perto, mas não estavam. Mas quanto mais caminhávamos, mais belas ficavam. E mais alto podia-se ouvir o seu chamado. Para melhorar, o dia tinha céu azul mas, mesmo estando em um deserto, a temperatura deveria ser de uns 8 graus. Assim, não passávamos calor enquanto nossos casacos nos protegiam do frio.
Quase no alto das Kelso Dunes, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Na crista das Kelso Dunes, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
De pouco em pouco fomos chegando, fomos subindo, fomos chegando. Uma hora mais tarde e duzentos metros mais altos, chegávamos ao topo das imponentes montanhas de areia. A recompensa da vista lá de cima pagava cinco caminhadas daquela que tínhamos feito. Lá longe, perdida no meio do deserto, estava a Fiona. E mais atrás, montanhas de pedra ainda mais altas do que nós. Outras pessoas? Nem sombra! Sinal de civilização? Lá lá lá longe, quase no horizonte, uma fumacinha. Era o lugar que eu queria estar e tanto ansiava. Apenas nós e o horizonte infinito.
No meio do deserto, minúscula, a Fiona nos espera! (em Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Caminhada pelas dunas de Kelso, no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
O passeio pelo deserto continuou. Como já tínhamos perdido a hora mesmo e não havia mais chance de chegar ao Grand Canyon de dia, não tínhamos mais porque correr. Demos uma longa volta pelo deserto, no conforto da Fiona. Deserto gelado, pois seguimos para a parte mais alta, onde a neve e o gelo cobriam a areia e as pedras. Surreal.
Vegetação que aguenta os rigores do frio e do deserto em Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Estradas cobertas de neve na parte alta do belíssimo deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Passamos por uma cidade fantasma, da época em que havia mineração por aqui. Passamos por estradas de terra secundárias e terciárias, tomadas pela neve e gelo. A Fiona também estava com saudades de aventura! Lugares que, em outras épocas do ano, recebem turistas e aventureiros, mas que agora, só recebem o vento. Canions secos por onde, há milhares de anos, passava um rio, mas que hoje, pertencem a um passado longínquo. As formações de pedra parecem fantasmas. Um filme de faroeste? De ficção científica ? Não, é apenas a Fiona nos levando para dar uma volta num deserto de areia congelado, nada de mais...
Estradas cobertas de neve na parte alta do belíssimo deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Vegetação que aguenta os rigores do frio e do deserto em Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Enfim, o Grand Canyon ficou para amanhã. Mas nós começamos com chave de ouro esse nosso retorno aos grandes espaços vazios. Mas, depois do sonho, a dura realidade. Ali, não poderíamos dormir. Muitas horas de estrada nos esperavam até o Arizona. Mãos à obra!
Dirigindo através de estrada secundária no deserto de Mojave, na Califórnia, nos Estados Unidos
Caminho de terra entre Barra do Turvo e Iporanga
Hoje foi o dia! Mesmo com quase tudo arrumado, dia lindo com céu azul, ainda ficamos nos enrolando. Deu até para passear com a Diana uma última vez. Carregamos os eletrônicos no carro, tiramos fotos de despedida e partimos, GPSs prontos para registrar tudo. Depois de tanto tempo parado, mal cabia na minha felicidade e alívio de estar partindo. Até esqueci o problema do visto canadense, tanta coisa para acontecer e ver antes disso.
Fiona pronta para partir
Pois bem, passando do lado do Marcelo, do nosso site, cogitei ligar para ele. Foi quando a Ana se ligou que o celular tinha ficado para trás. Que beleza! Imaginem o meu ânimo. Achei que nunca mais sairia de Curitiba. Ela, sentindo-se meio responsável, deu a brilhante idéia de me deixar no Marcelo enquanto ela buscava o celular. Topei na hora! Assim, mais uns acertos sobre o site e, meia hora depois ela estava lá, já com o celular. Finalmente partimos. Desta vez, para valer. Aleluia, irmãos!!!
Marcelo, responsável pelo site 1000dias
O dia de céu azul fez a estrada ainda mais bonita. Cinquenta quilômetros mais tarde, ultrapassamos uma Defender toda adesivada, do Equador, em viagem pela América do Sul. Interpretamos como um sinal de boa sorte. Nunca tinha visto um carro do Equador no Brasil. Muito legal! Buzinamos, fizemos festa e logo retribuíram. Adorei tê-los visto, mas gostei também de ter escolhido viajar de Hilux. Mais rápida e confortável. Pelo menos,por enquanto!
Nossa primeira fronteira com a Fiona
Mais uns 80 quilômetros e deixamos a Régis para trás. Resolvemos chegar no Petar pelo caminho mais curto, via Barra do Turvo. Para isso, deveríamos enfrentar 30 km de estrada de terra. Mas a Fiona foi feita para isso, certo? A estrada, após período de chuvas, não seria fácil para carros mais baixos. Mas para a Fiona foi brincadeira de criança. Nada como carro alto!
Fiona enfrenta sua primeira estrada de terra
Chegamos ao Petar pouco depois das três da tarde. Se fosse em outros tempos, poderíamos ainda pegar uma caverninha. Dentro de caverna, tanto faz se é dia ou noite. Mas, isso são outros e saudosos tempos... Agora é tudo controlado, "civilizado". O parque fecha às cinco e não tem conversa. Visitas, apenas devidamente acompanhados de monitores. Das trocentas cavernas existentes, apenas uma dezena delas abertas à visitação. E, mesmo estas, apenas trechos mais seguros. Continua um espetáculo mas, para quem viu antes, dá uma dor no coração. Tudo em prol da conservação, já que bandos de vândalos frequentavam o local em feriados, não deixando pedra sobre pedra.
Já marcamos nossos programas para os próximos dois dias. Serão intensos, mas sempre com monitores. Precisamos dançar conforme a música. Mesmo assim, tenho certeza que vai ser legal. O Petar está bem vazio, o tempo está ótimo e vamos até uma caverna que eu ainda não conheço, no Núcleo Caboclos. As outras que vamos, já conheço todas, mas elas valem mais visitas. E ainda temos um bóia-cross pela frente.
Merecida cerveja após a viagem de 3 horas entre Curitiba e Iporanga, onde está o Petar
É a nossa viagem que começa a entrar no ritmo novamente...
O maravilhoso mergulho noturno com arraias manta, em Kona, na Big Island, no Havaí
Depois do passeio pela região da Green Sand Beach, chegamos à Kona com tempo contadíssimo para nossos compromissos. Um engarrafamento na entrada sul da cidade quase colocou nossa apertada programação a perder, mas no final deu tudo certo. Passamos rapidamente pelo nosso excelente Bed & Breakfast, com uma vista maravilhosa do litoral, deixamos a bagagem por lá e seguimos diretamente para a empresa de mergulho, no lado norte de Kona.
Ainda chegamos a tempo de fazer o check-in para o mergulho com as arraias, mas tivemos a triste notícia de que nosso mergulho com as criaturas abissais seria cancelado. Éramos os únicos clientes e o barco só sai com um mínimo de três mergulhadores. Após muito conversar com instrutores da empresa e sobre os aspectos que tornam esse mergulho tão especial, possibilidade única no mundo, resolvemos “bancar” o terceiro mergulhador. Comovidos com a nossa insistência, o pessoal da Big Island Divers aumentou ainda mais o nosso desconto (iríamos fazer os dois mergulhos com eles) e o tal “terceiro mergulhador” até que saiu barato. Melhor assim: nossos dois mergulhos ficavam dessa maneira garantidos, o segundo deles praticamente particular.
A caminho do nosso mergulho com as arraias manta, em Kona, na Big Island, no Havaí
Pois é, apenas nós dois no segundo mergulho, mas barco lotado para o primeiro. Não só o nosso barco, mas vários outros que se encaminhavam para o mesmo lugar, a baía das arraias mantas. Todos os dias, são dezenas de pessoas mergulhando e fazendo snorkel com esses graciosos animais da família dos tubarões, a maior espécie de arraias que habita os oceanos. Pior, todos caem na água no mesmo horário, um pouco depois de escurecer.
Lindo entardecer no barco a caminho do mergulho com as arraias manta, em Kona, na Big Island, no Havaí
Ao saber de toda essa multidão, fiquei meio decepcionado. Como quase todos os mergulhadores, não gosto de muvuca lá embaixo. Quanto mais gente, mais sujeira e menos peixes. Essa costuma ser a regra. Mas não nesse caso! Bastaram alguns minutos lá embaixo para eu aprender que esse é mesmo um mergulho diferente. Inclusive pelo fato que mais gente por ali só torna o mergulho ainda mais interessante!
A caminho do nosso mergulho com as arraias manta, em Kona, na Big Island, no Havaí
Tudo funciona da seguinte maneira: praticamente 75% das pessoas que vão ali só fazem snorkel. Eles ficam reunidos ao redor de boias apontando suas lanternas para baixo, imóveis. Nós, os mergulhadores, mergulhamos a uma profundidade de cerca de 12 metros, num grande campo de areia. Ali, encontramos alguma pedra, seguramos nela e ficamos imóveis também, lanternas apontadas para cima. Tantas luzes assim, no fundo e na superfície, fazem o mar parecer uma discoteca. Mas o melhor vem em seguida! As luzes das lanternas atraem os minúsculos seres marinhos, o plâncton. Atrás do plâncton vêm as enormes arraias. Batendo suas asas, elas nadam entre nós, em busca do alimento fácil que se reúne sobre nossas lanternas.
Lindo entardecer no barco a caminho do mergulho com as arraias manta, em Kona, na Big Island, no Havaí
E assim passamos meia hora lá embaixo, admirando esses animais maravilhosos. Eles dão verdadeiras rasantes sobre nós e, em seguida, já de ponta cabeça, atacam os plânctons do “andar de cima”, nas luzes das lanternas dos que fazem snorkel. Num verdadeiro balé subaquático, as arraias se alimentam ao mesmo tempo em que se desviam com perfeição de nós e das outras arraias. Um sentido apurado para o campo elétrico emitido por todos os seres vivos as faz desviar de nós com perfeição, ao mesmo tempo que podemos admirá-las bem de perto. Apesar da enorme boca, são absolutamente inofensivas.
Nessa noite, eram sete delas, nadando para lá e para cá. Para nós, que não as conhecíamos, pareciam dezenas, tamanho o alvoroço que faziam. Mas nosso instrutor é especialista em reconhecê-las. Cada uma delas tem suas manchas dorsais características, como se fosse uma impressão digital. São pouco menos de cem arraias na população local e nosso instrutor conhece quase todas elas, inclusive pelo nome. E eu que achei que elas migravam, que nada! Pelo menos essas daqui da Big Island, talvez contentes com a refeição fácil de todas as noites, daqui não saem. E não deixam a notícia correr os oceanos, para evitar a concorrência, hehehe! A gente até que tentou fotografar esse espetáculo, mas fotografia submarina noturna em movimento não é nossa especialidade. Fizemos filmagens também, que ficaram bem melhores, Mas ainda não tivemos tempo de fazer uma edição básica (um dia...). Então, melhor do que mil palavras, coloquei uma filme da internet. Só posso dizer que nossa sessão foi ainda mais legal que essa retratada pelo filme, pois havia mais arraias.
Depois desse inesquecível mergulho, o barco voltou para a marina, onde todos os outros passageiros desceram. Aí, apenas conosco e o instrutor, ele rumou para alto mar, para nosso próximo mergulho. Alto mar, no Havaí, significa apenas 3 milhas. Aì, a profundidade do mar já é abissal, chegando aos três mil metros! Afinal, a ilha em que estamos é apenas a ponta de uma enorme montanha submarina. É por isso que esse tipo de mergulho não pode ser feito no continente, cercado pela plataforma continental, sempre rasa. É preciso estar sobre grandes profundidades, pois é de lá que vem os seres vivos que queremos observar. Todas as noites, na maior migração de matéria orgânica existente no planeta, cem milhões de toneladas de seres vivos nadam das produndezas escuras para perto da superfície, onde se encontram para se alimentar e procriar. Antes do sol nascer, voltam lá para baixo.
Mergulhando com seres luminescentes abissais, em Kona, na Big Island, no Havaí
São esses os seres que queremos ver. Completamente diferentes dos que conhecemos, de dia ou de noite, nos corais. Ou, se comparados com o que vemos em terra, aí sim estamos em outro mundo! Como bem definiu um pesquisador, o mundo extraterrestre mais perto de nós não está em alguma estrela distante, mas bem aqui no nosso quintal, a poucos metros de nós, escondidos sob as águas dos oceanos. Se pensarmos bem, em terra, somos todos parentes próximos. Um crocodilo, um macaco, um sapo ou uma gavião, todos tem cabeça, tronco e quatro patas (ou duas patas e duas asas, no caso dos pássaros). Sinal que que somos muito próximos! Os peixes são um pouco mais diferentes, mas lá está a coluna vertebral que nos une a todos. Mesmo insetos, com suas muitas patas, olhos e boca, cérebro, também nos são familiares. Mas, como definir uma água-viva? Ou qualquer outra daquelas incríveis criaturas que vemos flutuando pelas águas escuras que nos rodeiam?
O estranho mergulho funciona de um modo diferente do que estamos habituados. O barco nos leva para um local de grande profundidade, o que no Havaí é bem perto da costa. Aí, ele desliga os motores e simplesmente segue junto com a corrente, silenciosamente. Os mergulhadores são presos a cordas nas extremidades do barco, um em cada canto. A corda tem um peso, para ficar esticada para baixo. Todos temos nossas lanternas e ficamos variando nossa profundidade entre 10 e 15 metros, sempre ao redor de nossas respectivas cordas. Iluminando para um lado e para o outro, logo achamos esses seres de outro planeta, ou bioluminescentes ou com grande capacidade de refletir luz (no caso, a luz de nossa lanternas). Normalmente, são seres pequenos, com até 15 centímetros. Mas podem se reunir em grandes colônias, chegando a atingir vários metros.
Ficamos ali, por uns quarenta minutos, em meio à escuridão total do oceano, apenas nossas lanternas a iluminar estreitas faixas de água, observando esses exóticos animais que dividem conosco o mesmo planeta. Como se locomovem sem membros? Como enxergam sem olhos? Como tomam decisões sem cérebros? Que mundo estranho! E tão perto de nós! Talvez, 0,1% da população humana já tenha feito algum mergulho e observado peixes em seu habitat. É uma minoria absoluta que passou a saber que o mundo é muito maior que nosso quintal. Pois bem, dentro dessa minoria, talvez outros 0,1% tenham feito esse mergulho noturno com seres abissais. É bom lembrar que a superfície da Terra tem ¾ de sua área coberta pelos Oceanos, a enorme maioria disso em grandes profundidades. Esse planeta em que vivemos não é nosso, é deles! Dos seres abissais. E apenas 0,1% de 0,1% das pessoas já deu uma olhadinha nos verdadeiros terráqueos. É... temos todos muito o que aprender... Por falar em aprender, nossas fotos dos verdadeiros terráqueos ficaram um desastre. Os filmes, nem tanto. Mas, de novo, precisam daquela ediçãozinha básica. Enquanto isso, outro vídeo do YouTube, pelo menos para ajudar a ter uma ideia do que vimos hoje. Sem dúvida nenhuma, o mais estranho mergulho que já fizemos. Inesquecível!
Mapa das Ilhas Virgens Americanas (USVI) e Britânicas (BVI)
United States Virgin Islands ou, mais fácil, USVI. Os americanos gostam de chamar tudo pelos seus acrônimos e, em alguns casos, facilita bastante! USVI é um arquipélago de ilhas a leste de Porto Rico, a menos de 100 km de distância dessa ilha. Área somada das ilhas de 350 km2 (como um quadrado de 19 km de lado) com uma população de pouco mais de 100 mil pessoas, na maioria negros.
São três ilhas principais: St. Thomas, St. John e St. Croix. A últma fica bem mais afastada, ao sul. As outras duas estão bem próximas entre si e próximas também do quase-país vizinho, as Ilhas Virgens Britânicas, ou BVI. A maioria da população está em St. Thomas e St. Croix. St. John tem umas 5 mil pessoas e foi para cá que viemos, após pousarmos em St. Thomas, onde está o aeroporto internacional do arquipélago.
Interessante é a história dessas ilhas. Pelo menos, eu achei. Quando pensamos na colonização do continente, sempre lembramos dos portuguêses (afinal, somos brasileiros!), espanhóis e inglêses. Francêses (Quebeq e Guiana Francesa) e holandêses (Suriname e Nova York) já são algo mais... exótico. Pois bem, quem diria, houve também outros povos colonizando ilhas por aqui! Dinamarqueses e suecos. No caso das USVI, foram os primeiros. Apesar de nos parecerem povos mais "civilizados", eram iguaizinhos a seus irmãos europeus: grandes plantações tocadas com mão-de-obra escrava, negra. Só não consegui descobrir se os escravos daqui falavam dinamarquês. Isso sim, seria ainda mais exótico.
Bom, os dinamarqueses chegaram aqui no final do séc XVI, logo após a Espanha, descobridora das ilhas, ter tomado aquela sova da lnglaterra na Europa (a tal Invencivel Armada, destruída logo na sua primeira batalha, lembram?). Com isso, perderam várias de suas colônias, inclusive Santa Úrsula e suas 11 Mil Virgens (primeiro nome daqui, dado por Colombo). Então, dinamarqueses, franceses e ingleses fizeram a festa nessas 11 mil virgens (quem não faria?). Um século mais tarde, os franceses venderam suas virgens (St. Croix - daí o nome!) para os dinamarqueses, formando assim a atual USVI, antigamente, Ilhas Virgens Dinamarquesas.
Os dimamarqueses quiseram passar suas virgens no cobre, no final do séc. XIX, mas os americanos acharam muito caro e o negócio não foi feito. Mas, bons de negócio, tentaram novamente, por ocasião da 1a Guerra Mundial. Aproveitaram o medo dos americanos que a Alemanha invadisse a Dinamarca e, por tabela, essas ilhas paradisíacas aqui, e enfiaram a faca. Dessa vez, os americanos toparam. Nascia as USVI.
Hoje, têm uma situação semelhante à de Porto Rico. São um "estado associado", não votam para presidente mas têm cidadania americana. O dólar reina por aqui, assim como as marcas americanas mais famosas, da Texaco à Coca-Cola. Aparentemente, só um detalhe escapou dos olhos do Tio Sam: os carros são dirigidos na mão inglêsa! Por quê? Não sei... será que para marcar uma identidade? Vou pesquisar...
Cachoeira da Fumaça vista de longe, no parque estadual em Ibitirama - ES
Ressaca de eleições, felizes com alguns resultados, tristes com outros, começamos o dia mais tarde, aproveitando o frio da serra capixaba para descansar um pouco mais. Além disso, o dia não parecia longo pois, depois de conversar bastante com a Venus, do staff da nossa pousada, sobre os atrativos da região, montamos um roteiro meio light.
Trutas em tanque da Tecnotruta, em Ibitirama - ES
Começamos visitando o maior trutário (existe essa palavra?) do Brasil, o Tecnotruta, que fica no distrito de Santa Marta, bem próximo de Ibitirama. Uma beleza de lugar, trutas para alimentar um estádio inteiro. Mas demos o azar de chegar lá bem no dia em que a cozinheira não estava. Resultado, apesar de tantas trutas, muita água na boca. E só. Até poderíamos comprar algumas, congeladas, mas a Fiona ainda não tem microondas. Fica para a próxima...
Visitando a Cachoeira da Fumaça, parque estadual em Ibitirama - ES
De lá seguimos para o Parque Estadual da Cachoeira da Fumaça. Nem preciso dizer qual a principal atração do parque, certo? Ela tem quase cem metros, o carro chega até bem pertinho e só precisamos caminhar uns cem metros para chegar aos melhores pontos de fotos. Com o tempo nublado e frio e a água meio barrenta, nem pensamos em nadar. Deixamos o desafio de enfrentar a água fria para o dia seguinte.
Chalé ao lado da Cachoeira do Firmino, em Ibitirama - ES
Todas essas atrações, assim como a própria Ibitirama ficam no lado leste da Serra do Caparaó. Nosso objetivo agora era dar a volta na serra e no parque nacional que a protege para chegar ao lado mineiro do parque, onde se encontra a trilha de acesso ao Pico da Bandeira. É um belo caminho que alterna trechos de asfalto e de terra, sempre com muito verde e com alguns pontos que possibilitam a visão do ponto mais alto do Brasil ao sul do equador. Isso, em dias de sol, claro. Hoje, acima dos 1.500 metros, só se via nuvens. Era engraçado (ou triste?) ver as placas de sinalização do Pico da Bandeira e ficar imaginando ele, escondido atrás das nuvens.
Cachoeira da Fumaça, parque estadual em Ibitirama - ES
Fomos dando a volta na serra e vendo cachoeiras e pequenas cidades. Uma delas, Patrimônio de Penha, foi especialmente interessante, aparentemente ocupada por uma comunidade mais alternativa, cheia de pousadinhas simpáticas, hortas orgânicas, centros holísticos, oficinas de desenho. Muito legal, mesmo. Deu para ver que a região vale uma boa semana de explorações. No caso desse lugar em especial, de vivências.
Enfim, chegamos a Pedra Menina, cidade na fronteira do espírito Santo e de Minas. Daí, ou seguíamos para Alto Caparaó, em MG, principal entrada do parque e onde já estive algumas saudosas vezes ou íamos conhecer a entrada capixaba do parque. Já era tarde, quase escurecendo, mas resolvemos testar a entrada capixaba. Lá, fomos recebidos por dois simpáticos guarda-parques e, meia hora de conversa depois, mudamos nossos planos. Resolvemos dormir por aqui mesmo, em Pedra Menina, e amanhã fazer a travessia do parque.
Vamos subir pelo lado capixaba, que dizem ser mais bonito e que eu não conheço ainda e descer pelo lado mineiro. Vamos contratar alguém para levar o carro de um lado ao outro. O lado capixaba é mais curto, porém mais íngrime. A previsão de tempo também não é das melhores mas temos esperança da parte alta do parque estar acima das nuvens... Para finalizar, como gostamos de desafios, nosso intuito é, além de fazer a travessia, realizar o maior número possível de "side trips", indo à cachoeiras e ao Pico do Cristal. O ritmo da marcha vai dizer o que será possível fazer ou não. Como não vamos dormir lá em cima, não precisamos carregar peso, o que é uma grande vantagem. Enfim, precisamos sair bem cedo, dedos cruzados para que não chova e, melhor ainda, tenhamos belas vistas lá de cima. Torçam por nós!!!
Passeando entre os tanques de trutas, na Tecnotruta, em Ibitirama - ES
Groelândia e Islândia, lá no alto da América do Norte
O nosso objetivo formal nesses 1000dias de viagem é conhecer todos os países e territórios do continente americano. Na grande maioria deles, podemos chegar de Fiona, dirigindo. Mas há também as ilhas e não faz muito sentido (principalmente para o bolso!) tentar levar o carro para lá. Então, voamos. Para quem nos acompanha faz tempo, sabe que já estivemos quatro vezes no Caribe, viajando por suas ilhas. São inúmeros países e territórios e seria muito caro, cansativo e monótono fazer todos eles em uma só viagem. Por isso, estamos indo em etapas.
Além do Caribe, há outras ilhas ao redor do nosso continente. No lado do Pacífico, já estivemos nas maravilhosas Galápagos e ainda queremos ir no Hawaii e na Ilha de Páscoa. No Atlântico Sul, estivemos na nossa querida Fernando de Noronha e em Abrolhos, e também queremos ir na Malvinas e na Geórgia do Sul (um sonho!).
Embarcando em Orlando (EUA) para Reykjavik, na Islândia (nem parece verdade!)
Falta citar uma outra ilha, que de tão grande, é quase um continente. Aliás, em muitos mapas, essa ilha parece maior que toda a América do Sul, por causa das distorções de projeção cartográfica. Estou falando da Groelândia! Apesar de ser um território dinamarquês, quem jogava War quando criança sabe muito bem que ela faz parte da América. E se faz, está no nosso roteiro!
Embarcando em Orlando (EUA) para Reykjavik, na Islândia (nem parece verdade!)
Pois é, mal podemos acreditar, mas chegou a hora de ir conhecer essa gigantesca ilha que fica no topo do mundo. Chegar lá não é fácil. Os voos são caros e só saem da Islândia e da Dinamarca. Quem nos ensinou isso foi um islandês que conhecemos no barco que descia de Manaus à Santarém. Local meio inusitado para conhecer um islandês, mas assim foi. Com conhecimento de causa, pois ele é piloto de avião. Desde esse encontro, a gente vem planejando como chegar na distante ilha.
Fazendo hora no aeroporto de Reykjavik, na Islândia
Descobrimos que, tão difícil como chegar lá, é viajar por lá! Não há estradas e todo o transporte interno é feito com aviões, helicópteros ebarcos. Com as enormes distâncias, os barcos são uma opção demorada. E com o tempo instável, cancelamentos de voos são muito frequentes. Tentar marcar todos os voos e hotéis independentemente ficava uma fortuna. A solução foi contratar um pacote. Como eles compram bastante, conseguem preços mais baratos. Assim, compramos um pacote saindo da Islândia e passando pela capital Nuuk e pelo principal centro turístico, Ilulissat, já acima do Círculo Polar Ártico. O pacote inclui hotéis e passagens aéreas. O resto é por nossa conta. Ninguém viajando conosco, ninguém nos recebendo ou nos paparicando. Assim, até esquecemos que estamos num pacote.
Planejando e estudando nosso roteiro pela Islândia
Na Islândia é diferente. Estradas cortam todo o país e lá, alugando um carro, podemos ser donos do nosso próprio nariz. Mas, a melhor notícia para nós foi descobrir que a ilha também faz parte da América! Não politicamente, claro, como mostram todos os mapas. Mas geomorfologicamente, sim! A ilha está localizada justamente no encontro das placas tectônicas da América e da Eurásia. Essas placas estão se separando de dois a três centímetros por ano, dividindo o país em dois. A capital, Reykjavik, está do “lado americano” da ilha! Pois é, são tão “americanos” esses islandeses que foi de lá que saíram os descobridores da Groelândia, no ano 900, e da América, no ano 1000, muito antes de Colombo!
Planejando e estudando nosso roteiro pela Islândia (até parece uma local!)
Todas essas histórias eu vou contar nos próximos posts. Serão quatro dias na gigantesca Groelândia e outros oito na Islãndia, dando a volta na ilha de carro, conhecendo também a parte europeia do país (já que estamos aqui, claro que vamos dar uma “escapadinha”, né!) e até mergulhando no local onde as placas tectônicas estão se separando. Não podíamos perder a chance de ver o ponto onde a América começa!
A Islândia está bem no encontro das placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia
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