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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Praia repleta de lobos-marinho em Stromness, na Geórgia do Sul
Nossa caminhada de hoje terminou em um estranho lugar chamado Stromness, exatamente onde Shackleton finalmente conseguiu abrigo e ajuda para seus amigos deixados para trás há quase 100 anos. O cenário que ele encontrou naquele tempo, uma estação baleeira a pleno vapor com mais de 100 pessoas morando no local difere bastante do que vimos, prédios decrépitos e caindo aos pedaços frequentado apenas por pinguins, lobos e elefantes-marinho. Qual, afinal, é a história desse e de outros lugares parecidos espalhados pela costa norte da Geórgia do Sul?
A antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Elefante-marinho descansa em Grytviken, na Geórgia do Sul
Um desses lugares é Grytviken, para onde seguimos na tarde de hoje. As mesmas ruínas, mas pelo menos limpas de detritos e destroços mais perigosos para que turistas possam se aproximar e ver de perto como funcionavam essas verdadeiras máquinas de matar e processar baleias. Grytviken foi o primeiro, o maior e o último a deixar de funcionar entre todos os postos baleeiros da Geórgia do Sul, que tiveram seu auge na década de 20 e fecharam definitivamente as portas no início dos anos 60. Sua história resume bem o que passou com as outras estações baleeiras.
Um antigo barco da estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Pontas explosivas de arpão para matar baleias expostas no museu de Grytviken, na Geórgia do Sul
No final do séc. XIX o óleo de baleia era cada vez mais utilizado, desde na fabricação de cosméticos como sabonetes e loções até para a iluminação pública, passando pela produção de explosivos de nitroglicerina. Com a demanda cada vez maior, cresceu também a pesca comercial desse grande cetáceo, sendo desenvolvidas técnicas cada vez mais precisas e armamentos ainda mais mortíferos para abater as baleias. Pontas de arpão aliaram-se a granadas e cada vez menos os animais tinham chance de escapar depois de serem atingidos. Esse desenvolvimento tecnológico deu-se principalmente na Noruega, aonde baleias já vinham sendo caçadas há séculos, mas jamais nessa escala. Não demorou muito para que esses animais praticamente sumissem dos mares do norte.
As ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Busto do Capitão Larsen, fundador de Grytviken, na Geórgia do Sul
As baleias podem ter sumido de lá, mas a demanda por seus subprodutos só aumentava, assim como o preço pago por eles. Eis que, então, o norueguês Carl Larsen, ao participar de uma expedição cientifica nórdica aos mares do sul, percebeu que havia muitas baleias por aqui. Voltou para casa e não descansou enquanto não arrumasse financiamento para instalar na Geórgia do Sul a primeira estação baleeira nessa parte do mundo. Deu trabalho, mas ele conseguiu. O ano era 1904 e a nova instalação foi batizada de Grytviken.
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Um antigo baleeiro encalhado em Grytviken, na Geórgia do Sul
Os primeiros anos de operação foram absolutamente “fantásticos”. Para os investidores, claro! O retorno chegava a ser de 35% ao ano! É claro que uma bonança dessa logo atraiu a concorrência e, em poucos anos, já eram outras cinco estações operando na ilha. No início, nem precisavam ir longe para achar as baleias que eram abundantes ao redor da ilha. A preferida era a “right whale”, a nossa “franca”. O “right” quer dizer “certa”. “Certa” porque ela era lenta e nadava sempre próxima à superfície, sendo muito fácil de ser arpoada. Naquela época, baleias mais rápidas ainda conseguiam fugir de seus caçadores. Mas a tecnologia trabalhava a favor dos homens e logo a propulsão dos barcos baleeiros melhorou e possibilitou que todos os tipos de baleia fossem caçadas.
Fotos da antiga estação baleeira de Grytviken ainda em funcionamento, na década de 50, na Geórgia do Sul
Diagrama em japonês sobre como aproveitar uma carcaça de baleia, exposta no museu de Grytviken, na Geórgia do Sul
A técnica era, desculpe-me a expressão, “desumana”. Uma baleia era arpoada com aquele arpão-granada que a deixava fora de ação, mas ainda viva. Os baleeiros, então, injetavam ar na baleia, para que ela não afundasse. Depois, colocavam uma bandeira e um beep sobre seu corpo e iam caçar mais baleias. Depois de matar quantas pudessem carregar, recolhiam suas cargas pelo mar e as guinchavam para a estação na Geórgia do Sul. Aí eram levantadas por guindastes para terra firme onde finalmente morriam. Eram cortadas, fatiadas, e aproveitadas ao máximo, a gordura, a carne e até os ossos. Muitos dos baleeiros se compadeciam do seu sofrimento, especialmente um espécie que parecia chorar quando era arpoada. Mas o dinheiro falava mais alto. Um bom dinheiro.
As ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Chegando a Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
A matança só aumentava, ainda mais quando mais companhias entraram no negócio, operando diretamente em alto-mar e usando as instalações da Geórgia do Sul apenas para estocar. Baleias com mais de 30 metros de comprimento foram mortas e “industrializadas” em Grytviken. No seu primeiro ano de operação, foram 183 baleias mortas. Em 1931, foram 40.201 mortas em toda a região. As próprias empresas perceberam o exagero, notaram que estavam matando a sua galinha dos ovos de ouro. Resolveram, voluntariamente, impor-se cotas. Mas elas vieram tarde demais. As baleias estavam praticamente extintas nos mares do sul.
Um altivo lobo-marinho na praia de Stromness, na Geórgia do Sul
Na praia da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Para piorar sua situação, essa superprodução havia baixado bastante os preços dos derivados de baleia. Por mais eficiente que fosse a exploração, o custo de encontrar as poucas baleias existentes elevava o preço final. Produtos semelhantes apareciam para disputar com os derivados de baleia. As empresas começaram a fechar suas operações. Grytviken foi a que mais resistiu. Tinha gordura para queimar. Gordura nos dois sentidos. Gordura monetária acumulada nos anos de bonança e gordura de lobos e elefantes marinhos, que ela também começou a operar. Mesmo assim, as coisas não iam bem.
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Lobo-marinho não parece se importar com a placa na antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
O fundador, Larsen, não chegou a ver esses anos negros. Morreu a bordo de um navio, ainda na década de 20, procurando por baleias em novas regiões do oceano. Grytviken resistiu até o início dos anos 60, quando foi comprada por japoneses. Por dois anos, tentaram fazer com que ela ainda desse dinheiro. Mas no fim, perceberam que o futuro estava mesmo nos navios-fábrica, que matam e já processam a baleia ali mesmo. Produtividade ao máximo. Finalmente, Grytviken foi abandonada. Um lugar onde já moraram 500 homens, muitos acompanhados de suas famílias, agora era deixado para trás. O mesmo destino das outras estações.
Ruínas da antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Deixando a antiga estação baleeira de Stromness, na Geórgia do Sul
Meio século se passou desde então. Cinquenta anos para que o tempo e o mau tempo agissem sobre aquelas construções de metal. Vento, frio, chuva, neve e maresia, todos unidos para devolver à natureza aquilo que um dia foi dela. Se ela já fez isso nesse meio século, imagina só daqui a 500 anos. Ou 5 mil. Isso não é nada, é apenas um piscar de olhos no tempo das coisas. Enfim, só podemos ver como está agora. E imaginar como vai estar depois...
Chegando a Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
A boca aberta do elefante-marinho é mais efetiva do que a placa em Stromness, na Geórgia do Sul
E agora, bem, como eu já disse, parece uma cidade fantasma. Inacessível para nós, humanos. Os perigos lá dentro são tão grandes que as autoridades proibiram a entrada. Para nós, humanos. Hoje, quando chegamos a Stromness, uma névoa cobria o local, emprestando-lhe um aspecto ainda mais tétrico. Gosto de imaginar o lugar quando Shackleton lá chegou. Mas não imagino a fábrica de processamento de baleias. Apenas a casinha do administrador, lareira acesa, café na mesa e ele com a cara mais incrédula e estupefata do mundo ao ver aqueles 3 homens barbudos à sua porta, vindos sabe lá de onde. O resto, a tal fábrica, prefiro vê-la como está hoje, caindo aos pedaços.
Pinguins não parecem se incomodar com o barco encalhado na praia de Grytviken, na Geórgia do Sul
Elefantes e lobos-marinho ocupam as ruínas de Stromness, antiga estação baleeira na Geórgia do Sul
Mas o lugar não está deserto. Muito pelo contrário. Pinguins, elefantes e lobos marinhos circulam por lá à vontade. Fosse há um punhado de décadas atrás, também eles seriam “processados”. Mas hoje, aquele território lhes pertence. De direito!
Ruínas da antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Placas informativas espalhadas pela antiga estação baleeira de Grytviken, na Geórgia do Sul
Grytviken só não está igual porque foi feito um grande esforço para fazê-la segura aos turistas. Aqui podemos transitar mais perto das antigas instalações. Painéis informativos espalhados pelo local explicam cada passo do processamento das baleias. Ao mesmo tempo, entre um prédio e outro, ou então na praia, ossos de antigas baleias continuam espalhados por lá. Nas primeiras décadas de funcionamento, apenas a gordura dos animais era processada e o resto, a carcaça, era deixada ali mesmo, para a natureza. Os ossos, mais resistentes ao tempo, continuam ali para nos lembrar do que aconteceu naquele lugar.
Ossos de baleia ainda são comuns em Grytviken, na Geórgia do Sul
Elefantes-marinho descansam em Grytviken, na Geórgia do Sul
Nosso tempo em Stromness foi só aquele para esperar que os zodiacs nos levassem a todos de volta ao Sea Spirit. Enquanto isso (fomos na última leva), tivemos tempo para ver, fotografar e refletir. A quantidade de vida que há hoje onde ontem só havia morte é impressionante. Impossível não sorrir em ver a ironia da situação. A população de lobos e elefantes marinhos já se recuperou desde aqueles tempos sombrios, mas a de baleia ainda não. Mas ver aquela praia escura cheia de pinguins e lobos nos dá uma esperança que elas também, um dia, voltarão.
Tarde de sol em Grytviken, na Geórgia do Sul
Quando viajei por Nantucket ,principal cidade baleeira dos States , uma ilha ,a ênfase era dada às pobres esposas que
ficavam até anos sem ver os maridos caçando as baleias .Todas as casas tinham um terracinho lá em cima , onde passavam horas olhando o mar para ver se os maridos estavam vindo.Não me preocupei com as baleias. Porém o seu relato causou-me
horror e revolta ! Como puderam fazer esta imensa barbaridade? A tecnologia para matar com mais eficiência !
Porquê me espanto? É o que continuam fazendo , só que agora
é para exterminar , eficientemente , pessoas !!
Resposta:
Oi Mama
Pois é... difícil simpatizar com esses baleeiros. Judiavam das baleias e das esposas!
O pior é pensa que continuam pescando baleias;;;
Bejos e saudades
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