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RENATO (01/02)
Estamos começando nossos planos para cruzar do Ushuaia ao Alasca de moto...
Sabrina (29/01)
É preciso ter curso avançado para realizar esses mergulho do live abord...
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Tentativa de enfrentar o mar e as ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Passamos hoje um dia espetacular na praia do Kalalau. No próximo post relato como foi, entre banhos de cachoeira, caminhadas e pescarias. Agora, vou falar apenas de um dos aspectos que me convenceram de que essa é a mais bonita praia que já vi em meus rápidos 43 anos de idade.
Enormes ondas estouram nos rochedos da Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Estou falando do mar e, especialmente, das ondas. Se já estavam grandes ontem, hoje estavam ainda maiores e mais ameaçadoras. Não é sempre assim. Tem época do ano que, ouço, isso é um aquário. Agora no inverno, ao contrário, é a época das ondas grandes na costa norte de todas as ilhas havaianas, incluindo o Kauai.
Mar violento e grandes ondas na Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Mar violento ao fundo e tranquilidade total na praia, em Kalalau, na ilha de Kauai, no Havaí
Mas, mesmo nessa época, todos os dias são diferentes. Hoje, por exemplo, estava mais forte do que ontem. Aparentemente, estava mais forte do que todos os dias anteriores da temporada. Quem disse foi uma das duas pessoas que vi entrar no mar e que saiu de lá com os olhos arregalados. “Nossa, quase morri ali!”. E ele tem estado na praia e entrado diariamente no mar há duas semanas.
Mar violento e grandes ondas na Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
A outra pessoa que entrou, foi logo atrás desse primeiro. Mas o mar e as ondas os separaram rapidamente. Dez minutos depois da primeira pessoa ter saído do mar, saiu a segunda. Obviamente, essa demora não foi por sua vontade, mas pela vontade e humor das fortes correntes e ondas. Numa aparente tranquilidade que escondia uma seriedade, ele falou ao amigo: “You left me there alone to die?”.
Um mirante avançado para melhor admirar as grandes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Essa fúria do lado de dentro contrasta com a tranquilidade e beleza do lado de fora. Praia enorme, areia boa para caminhadas, mar azul, espuma branca, visual bucólico. Não há problemas em molhar os pés, mas um metro a mais que se entre, cuidado com a corrente! As ondas aqui estouram (ou explodem) perto da praia. Não são ondas “surfáveis”. Desmoronam rapidamente, por inteiro. As maiores, algo entre três e quatro metros, uma parede de água despencando a meros 20 metros da areia, aonde a profundidade mal ultrapassa o metro e meio. Isso antes da onda passar, pois logo atrás dela, o mesmo lugar estará a 4-5 metros de profundidade para, logo depois, “esvaziar” novamente.
Um mirante avançado para melhor admirar as grandes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Enfim, um verdadeiro espetáculo para quem vê de fora e algo meio tenso para quem vê “de dentro”. Eu, fascinado que sou por água, mar e ondas, metido a desbravador, me achando o “amigo dos oceanos”, claro que quis ver as tais ondas dos dois ângulos. Pelo lado de fora, tratei de achar um “mirante avançado”, em cima das pedras. Ali vi o mar bombardeando as encostas, consumindo pouco a pouco a ilha que, um dia, voltará a ser mar.
Não é a toa que os barcos não chegam até a praia nessa época do ano, na kalalau beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Engraçado também foi ver um barco se aproximando. Enquanto no verão, é possível vir até aqui pelo mar e desembarcar tranquilamente, agora os barcos só ficam a uma distância segura. Os turistas vêm, fotografam e se vão. O Kalalau, no inverno, é daqueles que caminham. E só!
Grandes ondas estouram perto da praia em Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Voltando às ondas, ontem eu tive o prazer em enfrentá-las. Como disse, estavam menores, mas meu ouvido reclamou um pouco da diferença de pressão ao passar abaixo delas. Por cima, nem pensar!
Uma grande onda não estoura, ela explode na Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Tentativa de enfrentar o mar e as ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Hoje, estive ensaiando entrar por algum tempo. O coração mandava ir enquanto as pernas se recusavam. Espírito de aventura contra espírito de autopreservação. Por fim, a coragem me levou mar adentro, pelo menos até a frente das ondas. Mas não através delas. Ensaiei, respirei fundo, combati demônios interiores, mas não fui além. Aquela vozinha sensata dentro da cabeça, mais os conselhos da Ana e do Rafa falaram mais alto.
Batendo em retirada das enormes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Afinal, eu e a Ana tínhamos uma caminhada pela frente ainda hoje e o mar estaria lá amanhã, para uma nova tentativa. Enfim, aquela popular “amarelada”. Enquanto andávamos em direção às montanhas (estávamos fazendo uma trilha para uma cachoeira), eu olhava para trás, via o mar e as ondas e só conseguia pensar: “Que sensacionais! Só espero que não fiquem ainda maiores, pois amanhã, nada de sensatez!”
O Rafa pergunta: "Amarelou?". "Pois é... tá f...!" (Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí)
Admirada com os grafites de Granada, na Nicarágua
No final de dezembro de 2011, por nove dias cruzamos a Nicarágua, de sul a norte, no nosso caminho para os Estados Unidos. Passamos pela capital, estivemos na histórica Leon, exploramos a deliciosa ilha de Ometepe, subimos vulcões e até atravessamos o canyon de Somoto. Foram nove dias memoráveis que nos fizeram escolher o país como um de nossos destinos preferidos na América Central. Mas deixamos para trás, sem conhecer, justamente a mais visitada cidade do país, a joia arquitetônica de Granada. E o fizemos de propósito! Afinal, nosso caminho de volta passaria necessariamente pelo país e tínhamos de deixar algo para nosso retorno.
Viajando de Tegucigalpa à Granada. Na verdade, o google não consegue desenhar o caminho correto, que passou por Dani (em Honduras) e Ocotal (na Nicarágua)
De volta à Nicarágua, região de Granada, lá estão os vulcões e suas formas inconfundíveis!
Pois bem, o retorno chegou e ontem, vindos de Tegucigalpa, seguimos diretamente para Granada, na costa norte do maior lago da América Central, o mesmo onde está a ilha de Ometepe, o famoso lago Nicarágua. O sol se punha por detrás da silhueta de um vulcão, aquele formato cônico tradicional, coisa que há muito não víamos, mas que nos fez sentir em casa. Estávamos novamente na Nicarágua para, dessa vez, fazer nossas reverências à Granada.
Igreja de Guadalupe, em Granada, na Nicarágua
Interior da Igreja de Guadalupe, em Granada, na Nicarágua
Durante séculos a cidade disputou com León a primazia de ser a cidade mais influente no país, desde o período colonial até o século XIX. A disputa só se acalmou quando, em uma espécie de resolução salomônica, foi decidido construir uma nova cidade, a meio caminho entre as duas, para ser a nova capital do país, a atual Manágua.
O mais belo prédio da Calle La Calzada, em Granada, na Nicarágua
Prédios no Parque Central, a principal praça de Granada, na Nicarágua
Na época da disputa, partidos políticos se formaram, cada um associado a uma das cidades. O Partido Conservador tinha sua base em Granada enquanto o Liberal tinha sua base em León. Na década de 50 do século XIX, os Liberais de León resolveram pedir ajuda ao flibusteiro americano William Walker. O aventureiro americano trouxe para cá seu exército de mercenários e, após algumas batalhas, conquistou a histórica cidade. Depois de dar uma banana para seus antigos aliados de León, Walker proclamou-se líder da nação e fez de Granada a sua capital. Entre suas primeiras medidas como presidente estava e reinstituição da escravidão dos negros e a definição da língua inglesa como a oficial do país.
A vistosa Catedral de Granada, na Nicarágua
Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Walker sonhava alto. Queria governar toda a América Central como um só país e transformá-la em uma república aos moldes dos estados ao sul dos Estados Unidos, que nessa época ainda eram escravocratas. De lá vinha seu apoio, logístico e econômico. Mas os países vizinhos da Nicarágua resolveram se antecipar aos planos de Walker e uniram suas forças para derrotá-lo. Atacado pelo sul e pelo norte e sem o apoio local, o flibusteiro foi perdendo terreno, até refugiar-se apenas em sua capital, Granada. Ao perceber que também ela cairia frente aos exércitos invasores, não teve dúvida: ordenou que a cidade fosse incendiada e, antes de abandoná-la em chamas, ali deixou sua infame mensagem escrita em um cartaz: “Here was Granada” (Aqui Foi Granada), tudo o que encontraram seus perseguidores.
casas colorem as ruas de Granada, na Nicarágua
Um orgulhoso guarda faz a sua ronda nas ruas de Granada, na Nicarágua
Alguns anos mais tarde, Walker seria fuzilado em Honduras, quando fazia nova tentativa de se estabelecer na região, enquanto a outrora gloriosa Granada era reconstruída. Foi essa magnífica cidade que conhecemos hoje, com suas ruas de paralelepípedos, suas casas coloridas, suas igrejas coloniais, todos cercados pelo imenso lago ao sul e o grande vulcão a leste, um cenário de tirar o fôlego de qualquer um.
Caminhando pelas ruas coloridas da histórica Granada, na Nicarágua
Conhecendo a charmosa Granada, na Nicarágua
A parte central da cidade é sempre cheia de turistas, seja caminhado em suas ruas, explorando suas igrejas ou bebericando em seus bares. Granada tem uma rua peatonal com vários bares lado a lado, todos com mesas na calçada e que, de noite, são o principal ponto de encontro da cidade. Uma cena agitada que fazia muito que eu não via e que não imaginava encontrar em um país como a Nicarágua. Vivendo e aprendendo, Granada tem uma balada que não deve nada à muita metrópole por aí...
Depois de tanto tempo, o prazer de compartir uma grande garrafa de cerveja, a deliciosa Toña, em Granada, na Nicarágua
Outra coisa gostosa que encontramos por aqui foi a Toña. Quem é? Ora... trata-se da principal cerveja do país, muito gostosa por sinal. Mas o melhor: vem também em uma garrafa de litro! Há mais de um ano que só encontramos essas garrafinhas de cerveja individuais pela frente. Não tínhamos percebido a falta que faz uma cerveja para compartir com os amigos! Pois é, aqui encontramos! Saborear uma Toña de litro no calor de fim de tarde foi um prazer incomensurável!
O lago de Nicarágua, o maior da Améica Central, em Granada, na Nicarágua
Praia do lago Nicarágua, em Granada, na Nicarágua
Nós começamos o dia de hoje caminhando até a orla do lago Nicarágua, nosso velho conhecido dos tempos da visita à ilha de Ometepe. Olhamos para ele e só imaginamos os tubarões-touro que frequentam suas águas doces, um fenômeno quase único na natureza. Mesmo como os touros por ali, crianças aproveitam as praias do lago e não tenho notícia de nenhum acidente. As duas espécies coabitam em paz.
Subindo a torre da Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Uma espuma protege a cabeça dos mais distraídos ao descer a escadaria da torre da Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Depois do lago, uma longa caminhada pelas ruas históricas, com passagens por diversas igrejas. O ponto alto, literalmente, foi no alto da torre de uma delas. Uma belíssima vista da cidade e seu entorno, seus telhados vermelhos, o lago ao fundo e o imponente vulcão.
A Catedral e o Lago Nicarágua vistos do alto da torre da Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Os telhados da cidade e o vulcão ao fundo, vistos do alto da Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Realmente, bastaram 40 horas na cidade, duas noites agradáveis adocicadas pela Toña e um dia inteiro de caminhadas e explorações para entender o porquê da cidade ser o principal destino turístico no país. Sinto muito, William Walker, mas a sua frase não faz o menor sentido. Granada está mais presente do que nunca!
A Catedral e o Lago Nicarágua vistos do alto da torre da Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Em uma incrível e emocionante coincidência, uma nuvem desenha o mapa das Américas nos ceús de Granada, na Nicarágua. Espetacular!
P.S Levaremos de Granada uma lembrança inesquecível: enquanto compartíamos uma Toña, a Ana percebeu nos céus da cidade um verdadeiro e auspicioso milagre! Lá estava uma nuvem com o formato perfeito da América, o continente que temos viajado esses últimos 3 anos. Groelândia, Alasca, América do Sul, estavam todos lá! Incrível!!! Não poderíamos nos sentir mais homenageados e inspirados. Granada, São Pedro ou o acaso, ADORAMOS!
Visita ao alto da torre da Igreja La Merced, em Granada, na Nicarágua
Aproveitando o dia de sol no teto do catamaran de Ilha Grande para Angra dos Reis - RJ
Há cinco anos, numa tarde ensolarada na Ilha do Mel, depois de um dia muito gostoso pelas praias da ilha, eu e a Ana demos nosso primeiro beijo. Era o pontapé inicial numa bela história que hoje faz aniversário num dia frio e nublado aqui em Curitiba. Dois anos mais tarde, aproveitando a mesma data, demos um passo adiante e nos tornamos noivos. O "evento" foi num restaurante especializado em fondues aqui em Curitiba, com a presença da família dela e também da minha, via telefone. Hoje, três anos depois, voltamos ao mesmo restaurante para celebrar, um verdadeiro banquete de fondues variados e vinho francês. O duplo aniversário merecia!!!
Também hoje, numa bela coicidência, chegou nosso novo passaporte. Azul, moderno e com chip. Não vou ficar com o meu por muito tempo. Na segunda-feira ele segue para São Paulo, para o consulado canadense. A produção do "dossiê" está em fase final. Depois, falo mais disso. Além do passaporte, pegamos a Nikon também, novinha em folha e pronta para mais 20 mil fotografias, com o devido cuidado com a areia das praias e desertos...
A homenagem no post de hoje não poderia ser outra, né? Algumas fotos do casal nesses primeiros 450 dias de viagem:
Início da viagem, apaixonados em Miami
Balada no Nikki - South Beach
Primeira vez no Caribe, já entrando no clima praiano
Felizes na praia - Harbour Island - Bahamas
Enfrentando juntos o friozinho das montanhas do sul de Minas
Pôr-do-sol no Pico do Gavião em Andradas - MG
Sempre à procura de belas cachoeiras!
A bela Cachoeira do Bicame, na Lapinha, região da Serra do Cipó - MG
Juntos até embaixo d'água!
Mergulhando na Laje de Santos - SP
Devidamente abençoados!
Tradicional foto com o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro - RJ
A hora certa, no lugar certo, com a pessoa certa!
Felizes da vida, no Riacho Doce, fronteira da Bahia com Itaúnas - ES
O clima inspirador do sul da Bahia...
Pôr-do-sol em Caravelas - BA
Como diz a música: "Almoça junto todo dia..."
Almoçando no Daniel, na ilha de Boipeba - BA
Sem conforto, mas com muuuita vista!
No nosso local de acampamento, ao lado da queda da Fumaça, próxima à vila do Capão, na Chapada Diamantina - BA
Olha só a devoção!
Viva a Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Admirando, juntos, ao espetáculo diário da natureza. De cadeira cativa!
Autofoto assistindo ao pôr-do-dol em Jericoacoara - CE
Ao lado de paredão colorido no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Saímos cedo de Paulo Afonso em direção à Pernambuco, passando por Alagoas e bem ao lado da fronteira de Sergipe. Imagino que essa tenha sido a nossa despedida final de todos esses estados, pelo menos durante esses 1000dias. Aliás, despedidas não faltaram essa manhã. Ao cruzar a ponte entre Bahia e Alagoas, deixamos para trás também um velho companheiro de viagens, o rio São Francisco. Boas lembranças e muitas fotos desse rio nos acompanharão. Depois, alguns quilômetros à frente, deixamos para trás a estrada que daria acesso ao vizinho e próximo estado de Sergipe. Olhamos para ela uma última vez, garganta apertada, pensando no nosso celular que lá ficou, nas mãos de Lampião. Nesses quase 280 dias de viagem ele sempre nos ajudou, como telefone, máquina fotográfica e meio de acesso à internet. Vai deixar saudades... Por fim, quem ficou para trás foi o estado das Alagoas. Mais uma vez, uma estrada em boas condições nos levou através do sertão e da caatinga, grandes pontes sobre grandes rios temporários. Um cenário que, de alguma forma, sempre me traz um sentimento de nostalgia. Hmmm... acho que é o ano que termina que me faz ficar mais suscetível à saudades e nostalgias. Ou então, o distante sangue português...
Leiro quase seco de um rio no interior de Alagoas. Visão comum no sertão
Chegamos à pequena Buique, em pleno sertão pernambucano. O que nos trouxe aqui foi o Parque Nacional da Serra do Catimbau, logo ao lado da cidade. Eu sempre gostei de mapas e desde criança os devoro. No início da vida adulta, comecei a me interessar por "manchas verdes" nos mapas. Geralmente representam algum parque nacional ou estadual. Portanto, são uma ótima pista para lugares belos e/ou interessantes para serem visitados. Desde que comecei a viajar, há vinte anos, várias "manchas verdes" novas apareceram nos mapas. Uma destas foi exatamente esse parque aqui no meio de Pernambuco. Só isso já era motivo suficiente para, quando tivesse a chance, passar por aqui. Mas havia outro...
Morro do Cachorro, no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
O nome do parque também me atraiu. "Catimbau" foi um nome muito forte na minha infância. Na fazenda da minha família, tinha um cavalo "sagrado" com esse nome. Sagrado porque eram poucas as pessoas que tinham acesso a ele. Primeiro, uma tia e depois, a irmã mais velha. Ninguém mais podia. Era um cavalo "bravo", diziam. Arisco e inteligente. O melhor marchador da fazenda e o que mais sabia "abrir porteiras". Além disso, invencível nas corridas de curta distância. Nas longas, cansava. Pois bem, esse cavalo foi envelhecendo e nós também. Com o tempo, todos nós passamos a montá-lo. Mesmo assim, ele mantinha uma dignidade. Quem nasce rei, morre majestade, já diz o ditado. E esse foi o caso do Catimbau. Lembro-me que, já bem velhinho, numa última corrida de uma temporada na fazenda, ele disparou na frente como era seu costume. Eu vinha atrás, em outro cavalo mais forte, jovem e resistente. Sabia que seria uma questão de tempo ultrapassá-lo. Ledo engano. Ele se manteve firme na ponta até a cocheira. Talvez porque quem o montava era o mais leve de nós. Ou, prefiro pensar assim, para mostrar aos cavalos jovens e aos meninos que adolesciam quem ainda mandava naquela cocheira. No dia seguinte, voltamos para nossas cidades. E, antes do início da próxima temporada de fazenda, chegou a notícia: o Catimbau tinha se "aposentado". Partiu como rei.
Pedras que lembram o casco de tartarugas, no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Olha aí o espírito do ano que termina me influenciando novamente... Bom, a gente se instalou na pousada e fomos logo para o pequeno distrito de Catimbau, 12 km de estrada de terra. Ali encontramos o Márcio, nosso guia neste parque nacional tão pouco conhecido aí no sul/sudeste do Brasil. É uma área de canyons e montanhas, estranhas formações rochosas, pinturas rupestres e muita caatinga. Caatinga que nesta época do ano está verdinha! Cenário magnífico!
Com o Márcio, nosso guia no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
O Márcio é um guia excelente. ALém da simpatia, foi nos dando verdadeiras aulas de geologia e de botânica, nos apresentando para as plantas da região, seus usos medicinais e alimentares. Ficamos boquiabertos com a riqueza deste bioma. Mais boquiabertos ainda ficamos com as formações rochosas, as vistas dos canyons e das torres de pedra. Para completar, as pinturas rupestres que mostram que os povos antigos também gostavam de frequentar esse lugar especial.
Pedras que lembram o casco de tartarugas, no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Hoje estivemos em quatro lugares incríveis. O primeiro foi numa área onde as pedras parecem cascos de tartaruga. Enormes áreas onde elas estão todas fraturadas em forma geométrica. Difícil acreditar que a natureza pode ser tão caprichosa. Mas foi. Cabe aos geólogos tentar entender como isso ocorre. Há várias explicações, algumas convincentes, mas nenhuma definitiva. E assim, podemos dar asas à imaginação...
Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Depois seguimos para uma pequena toca, a Casa de Farinha, onde pudemos observar pinturas da tradição agreste. Qual seria o intercâmbio que existia entre esses povos e aqueles que viviam na Serra da Capivara, tão distante daqui, há 5 mil anos? Certamente havia trocas. Culturais, inclusive. Nossa, é tão difícil imaginar como seria a vida cotidiana naquela época... É sempre bom lembrar que aquela cultura que fez essas pinturas por milhares de anos não é a mesma dos índios que habitavam o continente quando os portugueses chegaram. Nossos índios conhecidos não faziam e não fazem pinturas rupestres. O que terá acontecido com o povo que pintava?
Admirando o Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
No alto de formações rochosas no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Depois das pinturas visitamos as Torres, enormes pináculos de rocha que se erguem no alto da serra, nas mais variadas formas. Do alto, a visão de todo o vale é maravilhosa. Assim como o é caminhar por entre esse labirinto de pedras, a cada esquina uma nova forma e uma nova visão do vale lá embaixo.
Admirado com as incríveis rochas coloridas do Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Formações coloridas de erosão vertical no Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Por fim, descendo das Torres para o vale passamos pelos "Lapiais", uma região de barrancos e encostas coloridas, vários tons indo do branco ao preto, do amarelo ao vermelho, tudo separado em faixas e camadas, sinal de uma história geológica complexa e variada. Soma-se a isso processos de erosão horizontal e vertical e o resultado, visualmente falando, é absolutamente fantástico. Parece que estamos no meio de grandes pinturas, carregadas nas cores vivas.
Cores fortes, quase surreais, nos rochedos do Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
É um mundo magnífico, este que vivemos. É só sabermos para onde ir. Viva as manchas verdes no mapa. Viva os cavalos marcantes da infância. Viva o ano que se acaba e o outro que começa, trazendo mais tempo para que possamos conhecer mais manchas verdes...
Parque Nacional da Serra do Catimbau, em Buique - PE
Sob os olhos atentos do guia no zodiac, nosso grupo rema ao lado de um bloco de gelo em Half Moon Island, na Antártida (foto de Marla Barker)
Depois da longa volta na antiga cratera vulcânica de Deception Island enquanto almoçávamos e nos divertíamos, o Sea Spirit rumou para o norte outra vez, seguindo a cadeia de ilhas que forma o arquipélago de Shetlands do Sul. Essa foi a primeira região da Antártida a ser descoberta, ainda em 1819. Um ano depois e já eram centenas de navios, quase todos atrás dos lobos marinhos, uma caça e comércio que fez a fortuna de aventureiros naquela época. Os animais quase foram extintos, os aventureiros se foram e um novo continente havia sido descoberto!
Mais uma vez os caiaques na água, dessa vez em Half Moon Island, na Antártida
Hora de mais um caiaque, dessa vez em Half Moon Island, na Antártida
Nosso destino era uma pequena ilha chamada Half Moon Bay, muito popular entre os navios turísticos que visitam a Antártida nos meses de verão. O Sea Spirit é apenas o primeiro dessa temporada, mas muitos seguirão. A ilha é pequena e já tem uma trilha demarcada que leva os turistas a uma colônia de pinguins chinstrap. No caminho, ainda se pode ver pinguins gentoo e, com sorte, alguma espécie de foca antártica, como a crabeater ou a weddell.
De volta às águas geladas antárticas, dessa vez em Half Moon Island
Desde o caiaque observando um dos rochedos da pequena Half Moon Island, na Antártida
Para nós, do seleto grupo do caiaque, foi mais uma chance de remar. Já era mais de 6 da tarde, mas o dia aqui escurece bem tarde e teríamos chance não só de remar como de percorrer a pequena trilha na ilha. Então, enquanto os outros passageiros seguiam diretamente para terra firme, nós fomos para a água. Como sempre, muito bem vestidos para enfrentar as baixas temperaturas, a saia de borracha para vedar nossa caiaque, luvas, gorros e câmeras!
Um bloco de gelo se equilibra sobre uma rocha no mar ao redor Half Moon Island, na Antártida
A segunda sessão de caiaque do nosso grupo hoje, dessa vez em Half Moon Island, na Antártida
Quando vamos fazer caiaque, eu e a Ana sempre levamos duas câmeras: a pequena e prática canon, que compramos agora no Chile, e a GolPro, que já nos acompanha faz tempo. Cada um fica com uma delas e, conforme for, vamos trocando durante o caiaque.. A GolPro vai amarrada na cabeça, filmando. De vez em quando, tiramos alguma foto. Mas as filmagens são melhores que as fotos. Com a canon, precisamos tomar mais cuidado. Vai dentro de um saco plástico pendurado no pescoço. Para fotografar, é preciso parar, tirar a máquina lá de dentro, fazer as fotos e guardar tudo de volta para, só então voltar a remar. Com o frio e a água gelada do mar vindo de todos os lados, mais as luvas, não é muito fácil. Enfim, com paciência vai.
De volta às águas geladas antárticas, dessa vez em Half Moon Island. Tudo devidamente registrado com uma GoPro!
Caiaque em Half Moon Island, na Antártida
Além das nossas fotos, contamos também com as fotos tiradas pelo guia que dirige o zodiac. Ele está sempre por perto e, de pé no barco, tem ângulos e uma estabilidade que nós não temos. Além dele, em dias como hoje quando remamos perto da costa onde estão os outros passageiros, também temos a chance de ser fotografados por eles. Cansados de pinguins e focas, muitas vezes eles se voltam para nós, fotogênicos que somos em meio a esta paisagem polar em nossos barcos de cores fortes. Depois, se as fotos saírem boas e eles estiverem de bom humor, até ganhamos essas fotos de presente!
Nosso grupo rema ao lado das encostas de Half Moon Island, na Antártida
Nosso grupo rema ao lado das encostas de Half Moon Island, na Antártida
Essa tarde, o mais interessante foi remar ao redor dos blocos de gelo, quase pequenos icebergs que disputavam o espaço do mar conosco. Depois de tanto tempo nesses mares polares, já estamos ficando acostumados com eles. É como se fossem troncos boiando em mares tropicais.
Remando ao redor de um bloco de gelo no mar ao lado de Half Moon Island, na Antártida
Contornando pequeno iceberg em Half Moon Island, na Antártida
Quando não tão gigantescos, podemos nos aproximar sem medo que ele se vire. Poder ver de perto e tocar nesse gelo que caiu sob forma de neve há milhares de anos no topo de alguma montanha, foi compactado até virar gelo, escorreu lentamente em uma geleira até o mar onde se tornou um iceberg para, finalmente, derreter novamente, é emocionante. De alguma forma, ele nos liga a épocas e eras muito distantes e a um mundo diferente do nosso.
Chegando perto de um bloco de gelo em Half Moon Island, na Antártida (foto de Brian Myers)
Além desse contato com o gelo, também é diferente ver os pinguins da água. Quando eles nos veem por aqui, parece que nos respeitam mais, seres aquáticos como eles. Com sorte, vemos algum nadando também, principalmente em águas transparentes como essa. No caiaque de hoje, podíamos ver o fundo do mar cheio de pedras abaixo de nós. E olha que nem mais havia sol para iluminar, tampado pelas nuvens. Essa transparência toda era um estímulo para um mergulho, mas bastava botar a mão na água para desistir da ideia. Congelaríamos em minutos, literalmente!
Água gelada, mas transparente, em Half Moon Island, na Antártida
Enfim, muitas fotos e icebergs depois, remamos para terra firme. Quase oito da noite, tínhamos mais uma hora para nossas explorações terrestres...
Remando ao lado de uma encosta gelada cheia de pinguins chinstrap, em Half Moon Island, na Antártida
Mesmo com o dia nublado, a incrível beleza de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Nosso plano de acordar cedo para subir a pé a Sulphur Mountain e chegar a tempo lá encima para voltar de graça no bondinho naufragou antes de começar. O tempo não estava bom e a montanha, completamente encoberta pelas nuvens. O lado bom foi que ganhamos horas deliciosas de sono atrasado (sempre!) na cama quentinha.
Fiona limpinha e de mapa atualizado, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Depois, decidimos mesmo por seguir viagem, a Fiona limpinha e de mapa atualizado, toda orgulhosa (e nós dela, claro!). O topo da Sulphur Mountain fica para a próxima, quando o preço da gondola estiver menos extorsivo. Ficamos passando vontade, mas muita coisa bela nos esperava na curta viagem até Lake Louise, ainda dentro do parque, mas na parte norte, já quase na fronteira com o Jasper National Park.
Caminhando pelas passarelas através do belíssimo Johnston Canyon, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Paramos logo na primeira atração, o Johnston Canyon. Nós e mais algumas centenas de turistas, todos atraídos pelas propaladas belezas desse canyon e do rio que corre em seu interior. Em pleno feriadão canadense, não tem muita chance de acharmos algum lugar mais tranquilo, então o negócio é entrar no clima.
Johnston Canyon, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Uma trilha quase inteiramente construída sobre passarelas nos leva através da estreita passagem que o rio construiu ao longo dos últimos milênios. Muito bem construída, estamos sempre ao lado de grandes paredes de pedra, sobre precipícios e com o rio de águas verdes e geladas ao nosso lado. A cada curva, novas chances de fotografias. Muito lindo! Só tínhamos de disputar espaço com os muitos chineses que percorriam o mesmo caminho. Aliás, nos impressiona muito aqui nesse lado do Canadá a quantidade de turistas chineses. Até ficamos amigos de uma deles e ela nos explicou que boa parte está no país fazendo intercâmbio, nas universidades. Aproveitam o feriado para conhecer um pouco mais do Canadá, onde vivem já há alguns anos, enquanto dura o curso.
Encontro com um casal de gaúchos no Johnston Canyon, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Quem encontramos também foi um simpático casal de gaúchos. Como eu tinha dito no post anterior, ela também achou Banff muito parecida com Gramado, pelo clima e arquitetura. E agora, nesse passeio do canyon, se lembrava de Canela. Cada um com sua beleza, mas o rio daqui certamente é mais bonito, pela limpeza das águas. Durante o longo caminho pela passarela, passamos por duas belas cachoeiras, sempre muito fotogênicas. Pena mesmo era a fila indiana (de chineses!) para fotografá-las. Imagino que vir aqui num dia de semana, sem concorrência, deve ser ainda mais espetacular...
Água azul e cachoeiras no Johnston Canyon, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Voltamos para o carro e seguimos viagem. Paisagem sempre muito bonita, apesar do tempo nublado. Não demorou muito e chegamos à Lake Louise, um dos mais famosos cartões postais do Canadá mas, antes de ir ver o lago, ainda fomos achar acomodação para nós. Em pleno feriado, não era tarefa fácil. No fim, achamos um meio estranho, mas com uma deliciosa e tentadora piscina de águas quentes, promessa de relaxamento no final do dia.
A segunda grande cachoeira, no surpreendente Johnston Canyon, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Com pouso garantido, corremos para o Lake Louise. O tempo piorou e, além das nuvens, agora tínhamos frio e chuva. Mesmo assim, a primeira visão do lago é fantástica, difícil de acreditar no que os olhos veem. Um grande lago de cor verde esmeralda em meio a montanhas, Não é a toa que esse lugar foi recomendado para nós por todos os canadenses que conhecemos nesses 1000dias pelas Américas “Não deixem de ir no Lake Louise!”. Bem, aqui estávamos e já completamente hipnotizados pela beleza do lugar. Amanhã voltamos com mais calma e, se São Pedro permitir, com o tempo mais favorável...
Admirando o Johnston Canyon, no Banff National Park, em Alberta, no Canadá
Antes de voltarmos para o hotel, ainda fomos conhecer outro lago, o Lake Moraine. Por incrível que pareça, suas águas ainda são mais bonitas que as do Lake Louise. Aqui, a cor é de um verde mais escuro que, de alguma maneira, parece mais natural, menos pintado. As montanhas em volta também são maravilhosas e era o tempo nublado que, mais uma vez atrapalhava. Tiramos fotos e prometemos voltar no dia seguinte. Merece!
Mesmo com o dia nublado, a incrível beleza do Lake Moraine, perto de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Então, voltamos para nosso quarto esquisito, de lá para o ótimo restaurante do hotel e, em seguida, para o relaxamento na piscina e na jaccuzzi de água bem quente. Músculos relaxados para nossa caminhada ao redor do Lake Louise, suas montanhas e geleiras. Faça chuva ou faça sol. Mas com sol seria melhor...
Um verdadeiro cartão postal, Lake Moraine, na região de Lake Louise, em Alberta, no Canadá
Com os pinguins rei de Gold Harbour, na Geórgia do Sul, ainda com as vestimentas do caiaque
A primeira regra que aprendemos antes de desembarcar nas áreas selvagens das Malvinas, Geórgia do Sul e Antártida é como devemos nos comportar com relação aos animais da região. Ao contrário dos animais selvagens das outras regiões do planeta que já conhecem bem o ser humano e acham por bem fugir de nós (por que será, hein?), os animais aqui do sul do planeta não nos veem como uma ameaça e, portanto, encontros com eles são bem comuns. E quando isso acontece, como devemos proceder?
Visita à fantástica Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Bom, a regra é bem simples. Foi definida consensualmente por todos os agentes envolvidos com a exploração turística da Antártida, além de organizações científicas e ecológicas. Os turistas não devem se aproximar a menos de 3-4 metros de animais como pinguins, albatrozes e filhotes de elefantes e lobos marinhos. Para animais maiores, o próprio bom senso já nos mantém um pouco mais afastados. Quando atingimos essa distância, devemos parar e esperar. Podemos ficar lá observando e fotografando a vontade, desde que o animal não se sinta incomodado com isso. Caso isto ocorra, devemos nos distanciar um pouco.
Cenário inspirador para uma pintura, em Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Visita à fantástica Gold Harbour, na Geórgia do Sul
O duro é conter nossos instintos de querer logo pegar um pinguim no colo ou acariciar um filhote mais fofo de elefante-marinho. Os guias estão sempre de olho em nós para nos “ajudar” a não esquecer essa regra de ouro. Essa e a outra de que os animais tem sempre preferência de tráfego. Assim, quando vamos cruzar com uma fileira de pinguins em sentido transversal, devemos parar e esperar que eles passem. Normalmente, a fila de pinguins caminha de forma muito ordenada e, ao nos ver, titubeiam um pouco. Mas quando percebem que estamos esperando pela passagem deles, logo retomam o passo.
Interagindo com um pequeno elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Brincando com um filhote de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de J P Salakari)
A única maneira de nos aproximarmos ainda mais desses simpáticos e destemidos animais é quando a decisão de chegar ainda mais perto parte deles. Quer dizer, nós não podemos caminhar até eles, mas eles podem sim caminhar até nós. A gente não precisa se afastar quando isso acontece. Ficamos parados e deixamos que eles matem sua curiosidade, examinando-nos de perto, nos tocando e cheirando.
Interagindo com um pequeno elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Olhando de perto um preguiçoso elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Pois bem, foi isso mesmo que aconteceu aqui em Gold Harbour hoje. Esse lugar maravilhoso, o tal éden que descrevi no post passado cercado de uma paisagem majestosa, ainda nos presenteou com o contato mais “íntimo” que tivemos com essa fauna que não teme os humanos. Pinguins e filhotes de elefantes marinhos se aproximaram e brincaram conosco, em um dos momentos mais especiais da viagem até agora. Até mesmo os gigantescos machos da espécie não se importaram com poses mais próximas de nossas fotografias. Foi espetacular!
Observando os turistas começarem a voltar para o Sea Spirit, em Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Chegando perto da cachoeira em Gold Harbour, na Geórgia do Sul (foto de John Pairaudeau)
Foi nosso último desembarque aqui na Geórgia do Sul. Não poderia ter sido mais especial. Começou com o caiaque ao lado dos elefantes-marinhos e abaixo da incrível geleira, continuou com as batalhas titânicas entre os machos por fêmeas e território e terminou com essa interação com a fauna, mais perto do que nunca. Por fim, ainda como um último suspiro, ao irmos embora de volta ao Sea Spirit, os zodiacs ainda nos levaram para mais perto da geleira e da cachoeira. Sem fôlego, voltamos ao nosso barco, já com saudades da Geórgia do Sul e ansiosos pela Antártida. Aliás, essa ilha incrível ainda nos reserva uma última atração: um passeio de barco por um extenso fiorde cercado de geleiras colossais e milenares por todos os lados. A nossa tarde promete...
Observando os filhotes de elefante-marinho na praia de Gold Harbour, na Geórgia do Sul
Condições ideais para a prática de kitesurf em Cumbuco - CE
Deixamos Fortaleza rumo ao oeste. Já passava do meio dia e, portanto, bastava seguir o sol, que foi nos mostrando praias cada vez mais belas, paisagens típicas desse pedaço do Ceará. A primeira, ainda dentro da grande Fortaleza, foi a Barra do Ceará. Mesmo vista apenas da estrada, pareceu paradisíaca, bem no encontro do rio com o mar. Fiquei impressionando dela não ter aparecido como indicação em nenhum dos nossos guias.
Aliás, esses guias muitas vezes ajudam. Mas, outras vezes, comem bolas incríveis! No Rio Grande do Norte, por exemplo, nem uma palavra sobre a região de Martins, a área de serra do estado. Lá está uma das maiores cavernas brasileiras, a Casas de Pedra. A gente só foi descobrir quando já tínhamos passado da região. Ficamos com uma raiva! Ficamos vendo aquela serra lá longe, no horizonte, e eu pensava: "Pô, tem de ter muita coisa por lá..." Quando descobrimos, já era tarde demais. Metade da droga do Guia Brasil fala de Rio e de São Paulo. Aí, não sobra muita coisa para o resto. Quem quer saber tanta coisa do Rio e Sâo Paulo não vai comprar o Guia Brasil; compra logo o Guia Rio ou Guia SP. O outro guia que temos, Lonely Planet, é muito bem escrito, em inglês. Mas só fala dos lugares mais conhecidos. Enfim, vamos falar de coisas boas...
Muito sol e vento em Cumbuco - CE
Da linda Barra do Ceará, seguimos para Cumbuco. A única chateação é despistar os rapazes que ficam na entrada da cidade tentando, à todo custo, nos fisgar e nos levar para suas barracas. Depois que passamos por eles, temos aquela linda praia para curtir. O local não poderia ser mais perfeito para a prática de Kite Surf, principalmente nesta época do ano. Muito sol, vento constante, lagoas com águas tranquilas para os iniciantes e o mar ondulado para quem já sabe surfar. São várias escolas e hoje, dezenas de praticantes. Alguns, muito bons mesmo. Fazem parecer fácil! Deslizam para lá e para cá, fazem manobras, voam, passam pertinho uns dos outros, vem até a praia no meio de banhistas, tudo isso como se estivessem atravessando uma rua.
Condições ideais para a prática de kitesurf em Cumbuco - CE
A gente até animou de fazer o curso. A Ana foi checar os preços, para ter uma idéia. Quem sabe em Jeri, onde vamos passar alguns dias? Seria tão bom já nascer sabendo! Vendo os caras bons, parece que é só montar e sair deslizando. Ouço que é bem mais complicado que isso. Vamos ver...
Jangada disputa espaço com kitesurf em Cumbuco - CE
Almoçamos por lá, dividindo nosso tempo entre nos defender das moscas e admirando os kite surfistas. Aliás, de longe, indo para lá e para cá, eles até me lembraram as moscas que teimavam em atacar o nosso peixe. Pelo menos, não fazem o barulho dos jet skies, esses sim, insuportáveis. Difícil foi ver algum wind surf. Com o aparecimento do kite, o wind praticamente acabou. Até vimos um, mas ao compará-lo com a performance do kite, realmente parecia algo do século passado. Outra coisa perdida no meio do enxame de kite surfistas era uma jangada. Ela, que já foi a rainha soberana desses mares, hoje parece um peixe fora d'água. Uma pena...
Fim de tarde na praia da Lagoinha - CE
Deixamos Cumbuco para trás e viemos para a Lagoinha. Nossa... que praia! Absolutamente magnífica! Aqui não venta tanto, tornando a praia muito mais agradável para banhistas. Além disso, é ótima para se caminhar. Chegamos no final da tarde e tivemos um dos mais belos fins de tarde da viagem. Cores incríveis no céu, praia quase deserta. Pena que estávamos sem a máquina, pois tínhamos ido correr pela praia. Amanhã tiramos fotos, mas não sairão belas como hoje, infelizmente. A única coisa triste é o enorme hotel que estão construindo, praticamente na beira do mar. Um monstro. Não tem absolutamente nada a ver com a paisagem. Mas, como dizem por aí, "money talks"... Vai trazer muitos turistas para cá, gente com dinheiro. Vai gerar empregos, criar serviços, trazer desenvolvimento. Adeus, Lagoinha de antigamente. Veremos como fica a nova...
Fim de tarde na praia da Lagoinha - CE
Chegando ao Alaska, depois de mais de 2 mil quilômetros na Alaska Highway através do Canadá
Acordamos cedo no dia 5, ainda em Hinton, na saída do Jasper National Park, prontos para iniciar a longa maratona à nossa frente: os 3 mil quilômetros que nos separavam de Fairbanks, no Alaska. Boa parte desse caminho seria através da mítica Alaska Highway, com cerca de 2.400 km, ligando Dawson Creek, na British Columbia, à Delta Junction, já no coração do Alaska.
Nosso longo caminho até o Alaska
Nossa ideia era fazer todo esse caminho em apenas 3 dias, ou seja, 1.000 km por dia, em média. A estrada é de pista simples, mas o asfalto é de boa qualidade e, quanto mais ao norte, menos movimento. Então, o que precisávamos eram de 10 horas de direção por dia. Bastante tempo para conversarmos e pensarmos na vida, hehehe.
Ponto inicial da rodovia Alaska Highway, em Dawson Creek, pequena cidade na British Columbia, no Canadá
O primeiro trecho, ainda no estado de Alberta, não foi na famosa rodovia. Na verdade, ela só começa em Dawson Creek, já na Columbia Britânica. Foram cerca de 450 km até lá, passando por belas paisagens e estradas praticamente desertas. Muitas vezes, não só aqui mas em toda a viagem até o Alaska, passamos por trechos e até 200 km sem postos de combustível, então é muito importante prestar atenção nesse aspecto. A Fiona, com sua autonomia de cerca de 700 km, tirou de letra. Mas um olho nosso estava sempre no marcador de combustível.
Placa informativa sobre a Alaska Highway, em Dawson Creek, na British Columbia, no Canadá
Pensativo, saindo do centro de informações no marco zero da rodovia Alaska Highway, em Dawson Creek, na British Columbia, no Canadá. Só faltam 2.400 quilômetros...
Enfim, chegamos em Dawson Creek já no início da tarde e aí, oficialmente, estávamos na famosa rodovia. Um monumento, um museu e um centro de informações marcam o ponto 0 da estrada, parada obrigatória para fotos e também para pegarmos mapas e informações sobre o caminho. O principal é uma tabela mostrando exatamente onde estão as cidades, restaurantes, motéis e postos de combustível ao longo dos 2,4 mil quilômetros a frente e, informação essencial, que época do ano estão abertos ou fechados. Pois é, estamos no final da temporada de verão e, bem agora em Setembro, vários dos estabelecimentos deixam de funcionar para só abrir novamente em maio do ano que vem.
A linda paisagem da Alaska Highway, na British Columbia, no Canadá
Interessante também é ver e ler sobre a história da longa rodovia. Depois da corrida do ouro no final do século XIX, os Estados Unidos nunca tinham dado muita bola para o Alaska, que vivia em isolamento no extremo norte do continente. O acesso era feito apenas por avião e barcos. Mas a 2ª Guerra veio a mudar tudo isso. O risco de uma invasão japonesa do continente fez o exército americano se apressar em construir uma estrada, para facilitar o envio de tropas para lá.
A linda paisagem da Alaska Highway, na British Columbia, no Canadá
Aliás, foi para minha grande surpresa que descobri que, realmente, os japoneses chegaram a invadir o Alaska. Na verdade, não a parte continental, mas duas das ilhas Aleutas, aquela longa cadeia de ilhotas que parece ligar o Alaska à Ásia. Quando chegarmos à Anchorage, vou tentar descobrir mais detalhes e escrevo sobre isso. Mas, enfim, logo no primeiro verão após o início da guerra, os americanos vieram para o Canadá e, em apenas 11 meses, construíram essa enorme estrada. Ainda era de terra, mas suficientemente boa para garantir a defesa do território frente à ameaça de invasão. Não só isso, serviu também para a construção da base área americana de onde partiram todos os aviões arrendados pelos americanos à união Soviética de Stalin, que travava uma luta de vida ou morte com Hitler. Os mais jovens podem não saber, mas Estados Unidos e União Soviética já foram aliados...
A linda paisagem da Alaska Highway, na British Columbia, no Canadá
Fiona resolve se refrescar na água gelada e aproveita para posar ao lado de um barco e um hidroavião, em lago ao longo da Alaska Highway, na British Columbia, no Canadá
Depois da guerra, paulatinamente, a estrada foi passando para mãos civis e sendo asfaltada. Apesar do nome, o seu maior trecho está no Yukon Territory (ou seja, o nome mais justo para ela seria “Yukon Highway”!) e o segundo, na British Columbia, restando apenas um pequeno trecho no Alaska propriamente. Mas foi para chegar ao Alaska que ela foi construída, nesse gigantesco e memorável esforço de guerra com mais de 25 mil pessoas envolvidas nos trabalhos. É a prova viva de que, quando não faltam dinheiro e vontade, o homem pode muito...
Deve´se ter cuidado com alces na Alaska Highway!
Cuidado com bisões! (Alaska Highway, na British Columbia, no Canadá)
Bom, depois dessa parada para respirar, completamos o dia com mais 500 km até Fort Nelson, ainda na Columbia Britânica. É justamente até aí que ainda encontramos movimento na estrada, pois são várias pequenas comunidades ao longo do caminho. A partir de Fort Nelson, a estrada ganha ares de isolamento e aventura, a natureza nos cercando por todos os lados. E que natureza!
Bisões descansam ytanquuilamente ao lado da Alaska Highway, na British Columbia, no Canadá
São paisagens magníficas e grandiosas. Florestas se alternam com montanhas, sempre com lagos e rios bem azuis cortando a região. As cores do outono vão aparecendo, conforme seguimos para o norte. O verde vai ficando amarelado, e o amarelo vai ficando avermelhado. É um verdadeiro deleite para os olhos e posso até imaginar o porquê da Nova Inglaterra ser tão famosa no Outono...
A fabulosa paisagem ao longo da Alaska Highway, no Yukon Territory, no Canadá
Num dos mais belos trechos que passamos, um lago com cores de piscina brilhava entre montanhas. Turistas aí chegam de hidroavião, para uma temporada no lodge construído na orla do lago. Imagino que seja bom para a pesca, pelo menos no verão, mesmo com a água geladíssima. Mas a Fiona não tem medo de água fria e até arriscou um “mergulho”, hehehe. Para tirá-la da água, só na tração 4x4. Além do susto, ótimas fotografias!
A fabulosa paisagem ao longo da Alaska Highway, no Yukon Territory, no Canadá
Nem só de belezas naturais vive a rodovia. Na pequena cidade de Watson Lake, está uma das principais atrações da Alaska Highway. Um americano que vivia que na época da guerra, saudoso da sua casa, colocou uma placa que apontava para a sua cidade, com nome e tudo. De certo, isso o fazia sentir mais perto do lar. A moda pegou e, ao longo de décadas e décadas, pessoas foram trazendo placas e sinais de todo o mundo para deixar ali. Hoje, são milhares de placas, com lembranças de lugares e cidades de todo o mundo. Uma verdadeira floresta de placas, batizada de “Sign Post Forest”. Virou uma tradição todos os viajantes deixarem algo por lá. A gente não podia ser diferente e, depois de uma boa meia hora passeando pela floresta, procurando por sinais de cidades conhecidas, resolvemos deixar por ali, além do nosso adesivo, uma das placas da Fiona, comprada lá em Miami. Prova concreta de que nossa valente companheira passou por aqui, hehehe!
A famosa Sign Post Forest, em Watson Lake, pequena cidade na Alaska Highway, no Yukon Territory, no Canadá
Placa da fiona, junto com milhares de outras, na Sign Post Forest, em Watson Lake, cidade do Yukon Territory, no Canadá, por onde passa a Alaska Highway
A parada no segundo dia, depois de outros 1000 km percorridos, foi na cidade de Whitehorse, já em pleno Yukon Territory. Nas estradas, além de uns poucos carros, a fauna estava sempre presente. Bisões de floresta, um pouco menores que os bisões das pradarias e, pelo menos em teoria, muitos alces, embora só o tenhamos visto em placas e, ao vivo, bem longe, do outro lado de um lago.
Encontro com o fotógrafo de ursos alemão e sua esposa na Alaska Highway, no Yukon, no Canadá
Acordamos hoje dispostos a fazer os últimos 1.000 km e chegar, enfim, ao Alaska. A paisagem continuava de tirar o fôlego e, por muitas vezes, dirigíamos por longos períodos sem cruzar ninguém. Uma notável exceção foi um trailler dirigido por um casal de alemães. Paramos no mesmo posto e conversamos um pouco. Ele é fotógrafo de natureza, especializado em ursos. Mostrou-nos um livro seu, com incríveis fotos de ursos negros, grizzlies e até polares. Incrível! Eles seguiam para nova expedição fotográfica, dessa vez na ilha de Kodiak, onde estão os maiores ursos grizzly do mundo.
Cores e paisagens de Outono, no trecho americano da Alaska Highway
Fairbanks está cada vez mais próxima, na Alaska Highway. Mas agora, as distâncias voltam a ser em milhas!
Enfim, chegamos à fronteira com o Alaska. Novo ponto de parada obrigatório para fotos e mais painéis explicativos sobre a rodovia, a fauna e a flora de região. Enfim, chegávamos ao Alaska, o estado com dimensões de país, o território mais isolado do continente, a ponta da América do Norte. Depois daqui, um pedacinho de mar e lá está a Rússia. Não dá nem para acreditar...
Chegando ao Alaska, depois de mais de 2 mil quilômetros na Alaska Highway através do Canadá
Montanhas nevadas começaram a aparecer no nosso horizonte. De certa forma, isso parecia nos dizer: “Pois é, vocês chegaram! Isso é o Alaska!”. Só para “conferir”, paramos logo no Centro de Informações, na primeira cidade do estado, Tok. Aì nos abastecemos de mapas e informações com a simpática atendente. E, conforme desconfiávamos, está tudo fechando por aqui. Chegamos praticamente na última semana de trabalho de muita gente em hotéis, parques e centros de informação. Em outubro, já será inverno por aqui, com a neve chegando rapidamente e o sol se escondendo por vários meses.
Nosso prineiro fim de tarde no Alaska, trecho final da Alaska Highway
Montanhas nevadas na Alaska Highway, sinal de que já estamos no Alaska!
Mas não hoje! Pelo contrário, tivemos luz até as 9 da noite. E olha que atrasamos o relógio duas horas desde que saímos de Jasper, há três dias. Mesmo assim, já estava escuro quando chegávamos à Fairbanks, a maior cidade na parte norte do estado. Uns poucos quilômetros antes, passamos por outra cidade, com o sugestivo nome de North Pole. Pois é, Fairbanks é tão longe, mas tão longe que, para chegar lá, precisamos ir primeiro ao “Polo Norte”. Quinze milhas depois, só aí chegamos. By the way, North Pole recebe dezenas de milhares de cartas em dezembro. É o endereço “oficial” do Papai Noel aqui nos Estados Unidos.
Viajando pela Alaska Highway no Yukon, no Canadá
Finalmente chegávamos à Fairbanks. Cidade meio estranha, principalmente de noite, com boa parte do centro em obras e as ruas bem desertas. Tivemos um certo trabalho em achar um hotel mas, enfim, nos instalamos. Sem dúvida, emocionados por termos chegado depois da epopeia de 3 mil km em apenas três dias. Mas a maior emoção foi na noite anterior, ainda do lado canadense, em Whitehorse.
Antes de chegar à Faibanks, no Alaska, passamos pelo Polo Norte! (na Alaska Highway)
Aí tivemos nosso primeiro contato com um fenômeno que há muito ansiávamos por ver: a mágica Aurora Boreal, ou “Northern Lights”, como dizem por aqui. Batemos na trave lá na Groelândia e Islândia, primeiro por causa do sol, que nunca se punha por lá, e depois pela lua cheia que nossa acompanhou na nossa semana islandesa. Mas a Aurora não nos escaparia aqui, no norte da América do Norte! Só não imaginávamos que seria tão cedo...
Nossa inesquecível primeira Aurora Boreal, em Whitehorse, Yukon Territory, no Canadá, ao longo da Alaska Highway
Alertados pelo gerente do hotel dessa possibilidade, ficamos animados. Mas, até um pouco depois da uma da madrugada e nada! A Ana foi dormir e eu, trabalhar um pouco. Depois, um banho para dormir. Antes de entrar na cama, para desencargo de consciência, um último passeio pelo estacionamento mais escuro do hotel. Bingo! Lá estava o show de mágica cósmica! No começo, os olhos não querem acreditar. Num só fôlego, voltei correndo para o quarto e avisei a Ana aos berros. Segundos depois, já estávamos lá fora, completamente extasiados com o que nos olhos viam. Luzes verdes com o aspecto de nuvens rodavam pelo céu, as vezes mais, as vezes menos brilhantes. Para quem está acostumado com elas, essa noite não parece ter sido grande coisa. Mas para nós, brasileiros, que nunca vimos nada parecido, foi uma das maiores emoções desses 1000dias. Dá vontade de chorar! E isso foi só o começo! Depois de vê-las em Whitehorse, nos convencemos de vez a seguir mais para o norte, de onde se tem uma melhor visão do fenômeno. Amanhã, depois da nossa noite em Fairbanks, seguimos para o Círculo Polar Ártico e, daí, ainda mais para cima. Queremos ver neve, queremos ver tundra e, acima de tudo, queremos ver mais auroras!!!
Absolutamente maravilhados com a nossa inesquecível primeira Aurora Boreal, em Whitehorse, Yukon Territory, no Canadá, ao longo da Alaska Highway
Paisagem da Toca do Catitu II, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
O Parque Nacional da Serra da Capivara é espetacular! Um dos mais antigos (1979) e bem organizados parques do país, atração de nível internacional, tem como principais atrativos os sinais dos mais antigos habitantes das américas além de paisagens dramáticas, grandes rochedos que se erguem sobre a caatinga e são testemunhos de outras épocas, quando a região tinha clima tropical e era habitado por preguiças gigantes e tigres dente de sabre.
Procurando a sombra durante caminhada na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
O parque é fruto da luta de uma mulher, meio brasileira meio francesa, uma heroína de nossa época, a arqueóloga Niède Guidon. Desde o início dos anos 70 ela frequentava e pesquisava os sítios arqueológicos da região e conseguiu, ainda no tempo do General Figueiredo, que um parque fosse criado para proteger os tesouros arqueológicos da Serra da Capivara. Aliás, o próprio nome da serra vem das pinturas onde os antigos moradores indentificavam capivaras, apesar de não existir nenhuma aqui por perto, nem em registros fósseis.
Pintura de veado galheiro na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Observando pinturas rupestres na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
São centenas de paredões que se erguem sobre a caatinga, vários deles repletos de pinturas rupestres, algumas com 10 mil anos de idade. As pinturas retratam animais que viviam aqui naquele tempo, cenas do cotidiano daqueles povos, como rituais, caça e sexo ou desenhos abstratos que talvez nunca conheçamos o real significado. São mais de mil sítios arqueológicos, pouco mais de uma centena deles abertos à visitação. Em alguns sítios é possível passar horas admirando e tentando entender as pinturas. Em outros, passamos as mesmas horas admirando a natureza esplendorosa ao nosso redor. Por isso, é um parque que exige bastante tempo para se conhecer. O melhor a fazer e contratar um guia experiente, combinar o que se deseja ver e deixar que ele mesmo faça o roteiro para pelo menos arranhar um pouco a superfície desse verdadeiro universo de conhecimento.
Pintura Rupestre de macaco e filhote, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Foi o que fizemos. Temos três dias para passear pelo parque e contratamos o Rafael, um excelente guia, tanto no trato como no conhecimento, para nos guiar por essa região fantástica. Dissemos à ele que queríamos pinturas e paisagens, além de todo o conhecimento possível que ele pudesse passar. Formado em Geografia pela Universidade do Piauí e conhecedor da geologia, história e estórias da região, ele foi nos dando aulas e aulas enquanto andávamos pela quente caatinga ou nos refrescávamos nas sombras das tocas, ou "cuestas" onde se encontram as pinturas.
Toca com várias pinturas rupestres na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Discutimos bastante também sobre a teoria da chegada do homem às américas. A teoria antiga e ainda vigente nos livros mais tradicionais diz que o homem chegou no nosso continente por Bering, entre Sibéria e Alaska, há uns 13 mil anos. Mas Niède diz que os homens já estavam por aqui há muito mais tempo, perto de 100 mil anos atrás. Teriam vindo da África diretamente pelo Atlântico. E também da Polinésia, pelo Pacífico. No parque há sinais indiretos da presença do homem por aqui de 50 mil anos (restos de uma fogueira). O debate é acalorado, mas de uma coisa podemos ter certeza: a teoria tradicional está completamente furada e certamente a data de chegada deve ser "empurrada" para trás. Quanto para trás, esta é a questão. E é aqui, no interior do Piauí, onde está uma das fronteiras que vão nos ajudar a entender melhor a nossa história. Nossa, do homem das américas e de toda a raça humana.
Ruínas de antigo forno de farinha sob toca na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
No nosso primeiro dia no parque, estivemos em várias tocas para observar as pinturas. Tocas como da Roça do Brás, do Macaco, do Sítio do Meio e do Boqueirão Pedro Rodrigues, entre outras. Muitas tem o nome de seus antigos proprietários, maniçobeiros que desbravaram a região. Maniçoba é uma prima da seringueira e dela se faz borracha. Era o que impulsionava a economia da região há 100 anos. Essas pessoas muitas vezes viviam sob as tocas e ali faziam suas fogueiras e fabricavam suas farinhas. As pinturas acima não tinham muito valor para eles e muitas se perderam pelo desgaste. Foi a criação do Parque que salvou esse tesouro, para alegria da civilização e tristeza de muitos dos proprietários e antigos senhores da região.
Setas indicativas na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Passamos também por partes da principal trilha do parque, a Hombu, que corta vales, canyons, caatinga, tocas e leitos de antigos rios. Estivemos em mirantes que nos proporcionaram vistas fantásticas da paisagem do lugar, com suas pedras e rochedos que tanto lembram a Capadócia, exceto pelo verde da caatinga. Aliás, esse verde serviu para desmontar o mito arraigado em mim de que a caatinga é sempre seca e desfolhada. Caatinga quer dizer Floresta (tinga) Branca (Caa), mas nessa época ela é bem verdinha!
Paisagem da Toca do Catitu II, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
Os mirantes mais belos que estivemos são o da Toca Catitu II e o do "Alto do Fundo do Baixão da Pedra Furada". Lá de cima, ficamos tentando imaginar como era a região há 10 mil anos, com rios caudalosos, mega fauna e floresta tropical. Os rochedos são testemunha disso tudo e cabe a nós tentar ouvi-los e entendê-los nas suas "lembranças", na forma de sedimentos e camadas estratigráficas.
Paisagem na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
No fim do dia, ainda fomos visitar o Museu do Homem Americano, que guarda algumas das principais descobertas arqueológicas da regiãos, desde ossos humanos e de animais pré-históricos até utensílios usados por esses nossos primos distantes numa época em que o mundo era bem diferente do que conhecemos hoje.
Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato - PI
Cartazes no Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato - PI
Um dia cheio que encheu nossas mentes de indagações e admiração. E nos deixou sedentos para voltar ao parque e continuar nossas explorações...
Beijo na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
A famosa Pedra Furada, na Serra da Capivara, próximo à São Raimundo Nonato - PI
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