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Entre alugar um carro por algumas horas e rodar a ilha ou ficar tranquila...
Depois da nossa temporada em Boulder, no Colorado, era a hora de rumar pa...
Hoje foi um daqueles poucos dias da nossa viagem em que eu e a Ana nos se...
Tassiane (06/11)
A Editora Positivo esta em vias de aprovar um livro didático de Física ...
Gutenberg Lira (05/11)
olá, Tenho muita vontade de ir um dia a esse arquipélago. Suas fotos f...
mabel (05/11)
xHide (05/11)
Luana (05/11)
Achei muito legal, vi várias postagens de vocês e achei incrível a av...
Com nossa guia eslovaca na geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Com uma superfície de mais de 8 mil quilômetros quadrados, a geleira de Vatnajokull é a maior da Europa. São 100 km de largura por 80 km de lado, um verdadeiro mar de gelo com espessura média de 500 metros, mas que chega, em alguns pontos, a 900 metros! Escondida sobre ela, vales, platôs, montanhas, vulcões e até uma fenda que chega a 300 metros abaixo do nível do mar!
A geleita de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia, a maior da Europa
Aproximando-se da geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia, para fazer um trekking no gelo
Despontando para fora do gelo, de tão altos, estão a maior montanha da ilha e aquele vulcão que entrou em erupção alguns anos atrás fechando todos os aeroportos da Europa, numa luta espetacular entre as lavas ferventes e uma quantidade colossal de gelo ao seu redor.
Aproximando-se da geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia, para fazer um trekking no gelo
Animada no início da caminhada sobre a geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Tanta água doce há estocada aí, sob a forma de gelo e neve que, se toda a geleira fosse drenada pelo rio mais caudaloso da Islândia (que é grande! Nós ainda vamos conhece-lo, no norte do país), seriam precisos 200 anos para acabar a água! Okay, se pensarmos no rio Amazonas, o maior do planeta, seriam necessários “apenas” 5 meses...
Subindo um trecho inclinado da geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Uma das muitas "ladeiras" da geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Pois bem, foi esse colosso que fomos conhecer hoje. Agências de turismo oferecem aos turistas mais energéticos a possibilidade de uma caminhada sobre o gelo, as fendas e as belezas de Vatnajokull. Fornecem todo o equipamento necessário, exceto as roupas, e o guia para nos levar lá. No nosso caso, era uma guia, uma simpática moça lá da Eslováquia que já anda sobre o gelo e a neve desde pequenininha.
A geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia, corre em direção ao mar
As enormes montanhas que alimentam a geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Vamos de carro até uma das línguas que saem da geleira e vem até a planície litorânea e caminhamos até o gelo propriamente dito. Aí, com piquetas na mão, cordas na cintura e grampões nas botas, sempre em fila indiana seguindo nossa experiente guia, adentramos esse inverso branco, frio e escorregadio.
Pausa para descanso durante trekking na geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Pequena piscina de água gelada na geleira de Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Observando fissura no gelo da geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Aos poucos, vamos subindo, superando obstáculos, passando sobre fendas profundas e pequenos lagos de cor azul transparente, a mais pura água que se possa imaginar. Vamos também nos acostumando com a técnica de caminhar sobre o gelo. Eu e a Ana não somos experientes nesse tipo de atividade, caminhar sobre uma geleira, certamente nunca em uma desse tamanho. É preciso firmar bem o pé, ou os grampões, que evitam que a gente escorregue. Em trechos mais planos, não é difícil. Nas subidas sim, mas aí a piqueta e os conselhos da nossa guia ajudam bastante. Joelhos dobrados, corpo inclinado para frente! Na descida, claro, é o contrário!
Pose para foto durante caminhada na geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Enormes blocos de gelo em movimento na geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Quase cinco horas de caminhada na geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Após quase duas horas, atingimos um trecho mais plano. Para todos os lados, há apenas gelo e a vastidão do horizonte, o mar de um lado e as montanhas nevadas do outro. Sentimento total de insignificância perto da grandiosidade, da magnitude da paisagem que nos cerca. Aì nos sentamos para alguns minutos de admiração e respeito. E também para nos alimentar, pois ninguém é de ferro!
Muitas horas de caminhada na monumental geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Caminhando sobre a maior geleira da Europa, a Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Caminhando sobre a geleira Vatnajokull, no parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Hora de voltar. Ainda bem que a guia está lá, para descobrir os melhores caminho no meio daquele labirinto de gelo. Passamos por mais fendas, por mais poças de gelo derretido, uma beleza difícil dos olhos acreditarem. Sempre um convite para mais fotografias. Quase sem percebermos, já se foram cinco horas no total. Além de termos ficado perdidos no espaço, também ficamos perdidos no tempo. Naquela paisagem maravilhosa, perdemos todas as referências. Ficamos desnorteados. Perdemos a noção de escala. Assim, livre de todos esses pré-conceitos, fica muito mais fácil “sentir” a natureza que nos cerca. Uma experiência inesquecível!
Uma das línguas da maior geleira da Europa, a Vatnajökull, no Parque de Skaftafell, no sul da Islândia
Chegando perto da Cachoeira Iracema, em Presidente Figueiredo - AM
Hoje foi dia de explorarmos algumas das atrações ao longo da BR-174, que liga a Amazônia à Roraima. Decidimos ir diretamente para a Cachoeira Iracema, já que na mesma área podemos fazer uma trilha até outra cachoeira, a das Araras, além da existência de várias grutas e formações rochosas interessantes no mesmo trajeto.
Explorando as grutas da região da Cachoeira da Iracema, em Presidente Figueiredo - AM
De carro, após passarmos pela portaria e por quatro quilômetros de terra, chegamos bem próximos da Cachoeira Iracema. Aí, numa rápida trilha no meio da mata, passamos por várias grutas em forma de castelos, labirintos e palácios. Muito interessante mesmo, todas fruto da erosão da chuva ao longo de gerações.
Gruta em forma de labirinto, próxima à Cachoeira Iracema, em Presidente Figueiredo - AM
Logo após as grutas chegamos à caudalosa Iracema, tanta água como na Cachoeira da Neblina, ontem. De novo, um belo espetáculo, de fora da água. Refrescar-se, só se for com a bruma que vem da cachoeira. Encontramos no local um rapaz da Manaus que já havia estado ali dezenas de vezes. Ele nos disse que apenas uma vez havia visto tanta água caindo pela cachoeira. Normalmente, segundo ele, é até possível escalá-la, pelas laterais. Hoje, não dava para chegar nem perto.
Ao lado da Cachoeira Iracema, com muita água, em Presidente Figueiredo - AM
Seguimos por uma agradável trilha ao lado do rio, por cerca de um quilômetro, corrente abaixo. Lá está a Cachoeira das Araras, uma dupla queda d'água também com grande beleza cênica onde se pode sentir toda a força dos rios amazônicos.
Cachoeira das Araras, em Presidente Figueiredo - AM
Nadando contra a correnteza entre as cachoeiras Iracema e das Araras, em Presidente Figueiredo - AM
No caminho de volta, rio acima, já que não pude nadar nas cachoeiras, mergulhei num trecho mais tranquilo do rio. Tranquilo porque não havia quedas d'água ou corredeiras. Mas corrente havia, e muita, já que o rio se estreitava e se aprofundava. Água cor de coca-cola bem refrescante. Trecho bom para quem sabe e gosta de nadar e que esteja bem descansado, pois a corrente não dá descanso. Temos de ficar nadando constantemente para não sermos levados.
Refresco no rio Urubuí, abaixo da Cachoeira Iracema, em Presidente Figueiredo - AM
Sastifeita minha vontade de aventura, seguimos um pouco mais e chegamos em outro trecho, dessa vez mais raso, onde era possível sentar-se sobre uma pedra e sentir o rio passar sobre nós. Uma delícia! Cercados pela mata, no meio daquele rio avermelhado e selvagem, ninguém à vista, sensação total de contato com a natureza.
Observando rio cheio de corredeiras em Presidente Figueiredo - AM
Os dois devidamente banhados, seguimos para a Fiona e voltamos em direção à Presidente Figueiredo, até as corredeiras do rio Urubuí. As mesmas que tanto tinham nos impressionado anteontem, no nosso primeiro dia na cidade. Dessa vez, estávamos com nossos trajes de banho e decididos a enfrentar aquelas corredeiras.
Enfrentando as corrediras do rio Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
Encontrei um nadador local acostumado a descer aquele trecho e pedi que ele me guiasse por entre as pedras. De bermudas e camisa, pelo menos para me proteger um pouco, atirei-me atrás dele nas corredeiras, lá encima. Em poucos segundos, levado pela forte corrente, descemos a pequena cachoeira e muitas corredeiras, num trecho de quase cem metros. Adrenalina total! Adrenalina e algumas topadas aqui e ali. Topadas mais do que recompensadas pela realização do desafio que já me atormentava há dois dias, hehehe.
Descendo de bóia as corredeiras do rio Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
Bom, depois da descida, passei um bom tempo me divertindo nas corredeiras mais abaixo. O rio é raso em vários trechos e pequenas pedras fazem ondas no fluxo de água. É possível andar, com cuidado, até elas e ali nos divertir.
Divertindo-se nas corredeiras do rio Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
Depois, enquanto fui curtir as dores das topadas, a Ana desceu as corrdeiras de bóia e, em seguida, passou uma boa hora se divertindo nas mesmas corredeiras. Ao mesmo tempo, eu admirava a classe de dois meninos locais que desciam as corrdeiras com a maior classe, corriam sobre os trechos mais rasos e se jogavam sobre as grandes ondas. Cresceram por aqui e conhecem cada centímetro do rio. Para nós, forasteiros, resta tentar imitá-los. E, mesmo assim, ainda ganhar umas topadas...
Enfrentando as corrediras do rio Urubuí, em Presidente Figueiredo - AM
Visitando o Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Para todos os brasileiros, mochileiros ou não, seguindo na rota por terra entre Brasil e Machu Picchu, La Paz é uma parada obrigatória. E nos poucos dias passados na capital boliviana para se aclimatar à altitude, sempre se reserva tempo para uma visita à uma das grandes atrações da cidade: a paisagem bizarra do Vale da Lua, ou Valle de la Luna, em espanhol.
Caminhando pelas trilhas e meandros do Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Foi assim comigo também, em 1990, no mochilão que fizemos em um mês para Bolívia, Peru e Amazônia. Depois das 24 horas de ônibus entre Santa Cruz de La sierra e a capital, saindo dos 600 metros e chegando aos 4 mil, precisávamos de tempo para descansar e para nos aclimatar. Então, nada melhor que um passeio com uma das inúmeras agências para o tal vale, bem light. Vamos de van, caminhamos um pouco e voltamos ao centro, ainda em tempo de passear por ali. O outro passeio também muito procurado é o Chacaltaia. Mas esse aí é assunto para o próximo post.
Chegando ao Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
De volta à La Paz, depois de 23 anos, mesmo já devidamente aclimatados e vindos do outro lado, queria voltar ao Valle de la Luna. Com a Fiona devidamente estacionada em estacionamento no conturbado centro da capital, resolvemos dar uma folga para ela e seguir de ônibus mesmo. O Valle de la Luna fica no mesmo vale de La Paz, só que mais abaixo. Já há algum tempo que a capital cresceu e praticamente engoliu sua antiga “distante” atração. Então, para chegar até lá, podemos ir de ônibus urbano mesmo. Trinta minutos conhecendo outras partes da capital pela janela, sempre indo para baixo, e somos deixados em frente à entrada do Valle de la Luna.
A estranha paisagem do Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
É difícil descrever a paisagem com palavras. Por muito tempo (e há muito tempo!) havia um grande lago por ali, sobre o qual material trazido pelos rios das montanhas ao redor foi se sedimentando em diferentes camadas. O lago secou e aquelas camadas sedimentares passaram a sofrer com a milenar erosão causada pelo vento e pela chuva. Diferentes camadas, mais duras ou mais moles, reagiram de forma diferente à esta erosão. O resultado é o que vemos hoje: essa paisagem bizarra formada por pequenos vales e canyons de aparência arenosa, divididos e pontuados por paredes e torres arenosas também, formando passagens estreitas, penhascos e barrancos, salões escondidos e curiosas formações rochosas.
Caminhando pelas trilhas e meandros do Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Observando o bizarro Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Quando passei por aí em 1990, podíamos caminhar por onde quiséssemos, desde que houvesse possibilidade para isso. Agora, e sabiamente, os caminhos se limitaram à trilhas oficiais, com escadas, passarelas, pequenas pontes e corrimão. São duas trilhas e percorrê-las é mais do que suficiente para se conhecer esse mundo estranho. Pelo menos no dia e horário que ali estivemos, quase não haviam outros turistas e estivemos sós, na trilha, quase todo o tempo. Tivemos todas as chances para fotografar e admirar a paisagem ao nosso redor.
Túneis escavados na rocha no caminho para o Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
Feito o passeio, decidimos caminhar até um bairro ali do lado, perto do rio. Isso porque eu queria ver um túnel feito sobre a mesma rocha que forma o Valle de la Luna, uma das minhas fortes lembranças da antiga visita. Passamos pelos tuneis, saciei minha vontade e fomos encontrar um ponto de ônibus mais adiante. Trinta minutos mais tarde, dessa vez de subida, e voltávamos ao centro da cidade, em tempo para mais uma caminhada por ali. Com essas caminhadas e passeios de ônibus urbanos, fomos nos sentindo cada vez mais íntimos da cidade, tentando sentir um pouco como é viver por ali. Com apenas dois dias e meio para isso, é claro que não é possível, mas um gostinho, ao menos, dá para sentir!
Túneis escavados na rocha no caminho para o Valle de la Luna, em La Paz, capital da Bolívia
No cume do Pico da Bandeira, PN do Caparaó - MG/ES
Abril de 1990. Depois de mais de 25 anos, finalmente o Brasil é governado por um presidente eleito de forma direta, pelo povo. Logo na primeira semana de seu governo, uma de suas medidas acaba com sua popularidade, alcançada durante a campanha presidencial: o confisco das poupanças. Mas houve outra medida, pouco conhecida das pessoas, que me causou mais raiva ainda do nosso eloquaz presidente.
Cachoeira do Aurélio, na trilha capixaba de acesso ao Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó - MG/ES
Eu, meu primo Haroldo e os amigos Renato e Sakanaka, aproveitando um feriado, rodamos 800 km lá de Campinas, onde estudávamos, até Alto Caparaó, principal porta de acesso ao Parque Nacional do Caparaó e ao Pico da Bandeira somente para descobrir que o parque havia sido fechado para uma reestruturação no IBAMA. Nenhuma visita seria permitida, apesar do parque e do tempo estarem em ótimas condições. Ordem do amado presidente.
Aproximando-se das Duas Meninas, na trilha capixaba de acesso ao Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó - MG/ES
Após várias conversas com pessoas locais, todas insatisfeitas com o fechamento do parque, botamos em prática nosso plano B. Era madrugada quando invadimos o parque pelo rio que corre abaixo da portaria. Amanhecia e já estávamos bem acima, vencendo a enorme subida que leva até a Tronqueira, ponto mmais alto de acesso por carro. Tínhamos o parque apenas para nós, mas sempre com medo que fôssemos descobertos. Não fomos, dormimos no Terreirão, ponto de acampamento mais alto e chegamos ao pico na madrugada seguinte, bem a tempo de ver o nascer-do-sol mais bonito que já vi na minha vida. Apesar da proibição do nosso valente presidente.
Visão do acampamento da Pedra Queimada, local de início da trilha capixaba de acesso ao Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó - MG/ES
Novembro de 1999. Quase dez anos depois daquele inesquecível nascer-do-sol, estava no cume do Bandeira novamente. O companheiro dessa vez era o primo Dadinho. Era quase meio-dia, a vista era magnífica mas as nuvens vinham se aproximando. Decidimos subir também o Pico do Cristal. No meio do caminho, atravessando a crista que liga as duas montanhas, a neblina tomou conta de tudo. Tão forte que fez desaparecer uma montanha inteira. Por mais que tentássemos, simplesmente não achamos mais o Pico do Cristal. Incrível! Resolvemos voltar e logo achamos uma bonita trilha descendo o morro. Fomos seguindo por ela, toda a paisagem escondida atrás da neblina, a trilha meio diferente, mas o importante era descer. Finalmente, a neblina se abriu um pouco e lá embaixo vimos as casinhas do Terreirão. Êpa! Não era o Terreirão! Para nossa surpresa e grande tristeza, era outro lugar. Concluímos ser a Casa Queimada, acampamento do lado capixaba do parque. Ufff... não tinha remédio, precisamos subir tudo novamente, até quase o cume do Bandeira para pegar a trilha correta e descer do lado mineiro.
Observando a paisagem e as montanhas na trilha capixaba de acesso ao Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó - MG/ES
Outubro de 2010. Estranha coincidência; mais dez anos se passaram e cá estava eu no Bandeira novamente. Sem nunca ter planejado assim, verifiquei que essa montanha que tanto adoro me atrai a cada dez anos. Para minha felicidade, percebo que estou na mesma forma de 20 ou 10 anos atrás. Exceto pelos cabelos brancos, o tempo não tem passado muito por mim, hehehe.
Feliz da vida no cume do Pico da Bandeira, PN do Caparaó - MG/ES
Desta vez, estou acompanhado da minha amada esposa. Não precisamos invadir o parque, e optamos por subir pelo lado capixaba, pela mesma Casa Queimada que eu havia observado, decepcionado, 10 anos antes. A subida foi ótima e conto com mais detalhes no próximo post.
Descansando no cune do Pico da Bandeira, PN do Caparaó - MG/ES
Na chegada ao lado mineiro, fim da nossa travessia, eu vinha pensando nessa história de vir a cada 10 anos, e me vangloriando pela boa forma. Foi quando encontramos com dois senhores, perto dos seus 60 anos, em ótima forma. Conversa vem, conversa vai, um deles me conta sobre o seu pai, o Seu Jaber Werner, de 94 anos! Ele também estava ali e quando o filho o chamou, veio correndo, literalmente, até nós. Conversamos bastante com ele, que nos contou que sobe o Bandeira desde 1930, há 80 anos! A última vez tinha sido com quase 80 anos de idade. Desde então, não foi mais tão alto no parque, mas continua frequentando. Vendo ele se movimentando lá na Tronqueira, e conversando animadamente conosco, não tive dúvidas. Se ele quiser subir mais uma vez, sobe!
Com os novos amigos, Cícero, Ademar e o nonagenário Jaber Werner (esbanjando saúde), na Tronqueira, na trilha mineira de acesso ao Pico da Bandeira, no PN do Caparaó - MG/ES
E assim, as minhas três subidas, a cada 10 anos, perderam boa parte do seu charme e valor. Percebi que estou ainda no início da caminhada, que tenho muito por fazer até realmente poder me orgulhar da minha boa forma. No mínimo, mais quatro subidas ao pico, sempre a cada 10 anos. Para quem me conhece, sabe que agora isso virou um desafio. Podem me cobrar daqui a dez anos...
Visão das montanhas quase chegando à Tronqueira, na trilha mineira de acesso ao Pico da Bandeira, no PN do Caparaó - MG/ES
Enfim, sinto-me muito aventurado de ter estado no cume do Bandeira mais uma vez, agora com a Ana. E mais ainda de ter conhecido este senhor, o Jaber, que se tornou um exemplo de vivacidade e boa forma, já nonagenário. É como quero estar quando chegar lá.
Observando do alto do forte a cidade de St. George's, capital de Granada
Depois de muito confabularmos, decidimos alugar um carro somente amanhã, para dar uma volta nas redondezas e termos condução própria para irmos ao aeroporto na madrugada seguinte (nosso voo sai às 06:50!). Para hoje, a ideia era dar uma boa volta à pé pela capital St. George’s e, de tarde, irmos à mais movimentada praia do país, Grande Anse, de ônibus mesmo. Barato e prático!
A marina de St. George's, capital de Granada, vista do nosso hotel
Como todas as ilhas dessa parte do mundo, a história de Granada começou há uns 5 mil anos com índios coletores chamados de “siboney”. Já na era cristã chegaram os pacíficos Arawaks, vindos da Venezuela, seguidos pelos Caribs, muito mais guerreiros. Os Caribs conseguiram resistir ao pouco ímpeto espanhol, mas foram derrotados um século e meio mais tarde pelos franceses. O último e valente grupo que resistia preferiu o suicídio coletivo, atirando-se de um penhasco no mar a se entregar aos europeus.
Fort George, no alto de uma colina em St. George's, capital de Granada
Vencidos os índios, a briga ficou entre franceses e ingleses. Esses últimos venceram, embora a maioria dos colonizadores em Granada fossem franceses. Até hoje, boa parte dos nomes de praias e montanhas mostram bem essa origem francófila. Os franceses não se entregaram facilmente, como mostra a luta de um proprietário de terras chamado Fedon. Influenciado pelas ideias revolucionárias da pátria-mãe, esse descendente de africanos declarou a liberdade dos escravos e fez guerra de guerrilhas contra os ingleses, então no controle da ilha. Conseguiu capturar o Governador Geral e, junto com vários outros reféns, mandou todos para a guilhotina (olha aí mais influência da Revolução Francesa!). Com a ajuda de franceses da Martinica, conseguiu resistir por mais de um ano, mas acabou vencido. Vencido, mas não capturado! O destino desse herói nacional ainda é considerado um mistério, embora alguns acreditem que tenha fugido para a Martinica.
Estátua saúda os barcos aportados na Carenage, a baía onde está St. George's, capital de Granada
Quase duzentos anos mais tarde, já um país independente dentro da comunidade do Commonwealth, Granada passou por outro drama. Depois de ter chegado ao poder por um golpe de estado, Maurice Bishop, líder de um movimento marxista, tentava manobrar o país entre seus colegas mais radicais e a constante ameaça de intervenção americana, do hardcore Ronald Reagan. O centro da discórdia estava na construção de um novo aeroporto que os americanos diziam ser grande demais, com capacidade para pouso e decolagem dos grandes aviões militares soviéticos.
Observando a Carenage, a baía em St. George's, capital de Granada
Apesar do enorme apoio popular, Bishop foi afastado e preso pela ala mais radical de seu partido, que estava cansada de suas políticas “apaziguantes”. Um período de inquietação popular se seguiu e, durante uma manifestação, uma multidão o “soltou” de sua prisão domiciliar. Empolgado, junto com vários ex-ministros, ele liderou a manifestação até Fort George, o antigo forte francês no alto da cidade que ainda era o quartel-general da polícia do país. Os militares, nada comovidos com aquela manifestação de apoio popular, o prenderam novamente e, poucas horas depois, Bishop foi sumariamente fuzilado, junto com vários auxiliares, incluindo sua ministra da educação, amante e grávida de um filho seu.
Entrando em Fort George, em St. George's, capital de Granada
Poucos dias mais tarde chegavam os marines para botar “ordem na casa”. Apesar da surpreendente resistência, não demorou para que os líderes do golpe contra Bishop fossem presos. Entre eles, o amigo de infância e companheiro de lutas que, supostamente, foi quem deu a ordem do fuzilamento. Julgados, foram condenados à morte, mas tiveram as penas comutadas para prisão perpétua. Vinte e cinco anos depois, em 2008, foram colocados em liberdade. Desde a invasão, condenada pela esmagadora maioria dos países, incluído aí até a Inglaterra de Margaret Tatcher, o país se manteve como uma democracia estável desde então.
Observando o local onde foi fusilado Maurice Bishop, primeiro-ministro de Granada, no forte da capital St. George's
A maior ameaça veio com o furacão Ivan, em 2004, que mudou seu curso na última hora atingindo em cheio a ilha. A devastação foi enorme, assim como o período de desordens e saques que se seguiu. Desde então, lentamente, a economia vem se recuperando, baseada principalmente no turismo e na produção de temperos como a nóz-moscada. Granada é o principal produtor mundial desse saboroso condimento e vem dai o apelido de “Spice Isle”, ou Ilha dos Temperos”.
St. George's, capital de Granada e, ao fundo, a praia de Grande Anse
Nós caminhamos de volta para St. George hoje pela manhã, desde a área da marina até a Carenage, o nome da bela baía em forma de ferradura em volta da qual a cidade se desenvolveu. Muitas fotos depois, seguimos para o Fort George, no alto de uma colina bem ao lado da entrada da baía. Sob o sol ardido do meio-dia, não foi fácil a caminhada, mas a vista que se tem lá de cima faz valer com folgas o esforço. Mais do que a vista, eu estava mesmo interessado era em ver o local dos últimos momentos do popular ex-primeiro-ministro. Fiquei ali, olhando aquele pátio interno, pegado ao paredão onde houve o fuzilamento, tentado imaginar e reviver aqueles últimos e tensos momentos da vida de Bishop. Ainda me lembro como se fosse hoje, o Cid Moreira anunciar, no Jornal Nacional, a notícia da invasão americana. Agora estava ali, e a história me parecia mais real do que nunca...
Noz-moscada e outros temperos no mercado de St. George's, capital de Granada
Descemos para o outro lado da cidade, onde aportam os navios-cruzeiro durante a temporada. Chegam a ser mais de 20 em um mês, movimentando a economia da cidade e do país. Mas nessa época, nadica de nada! O único movimento está no popular mercado, o melhor local para se ver, pegar e cheirar todos os temperos produzidos na Spice Isle. Já fazia um bom tempo que não visitávamos mercados e foi muito legal ter estado nesse, assim como ter caminhado nas ruas movimentadas do centro, sem turistas, mas cheia de granadinos.
Muitos temperos da "Spice Isle" no mercado de St. George's, capital de Granada
Aproveitamos essa nossa maior “intimidade popular” e já entramos no terminal de ônibus central. Aí mesmo, achamos um que nos levasse até Grande Anse, a magnífica e popular praia cinco quilômetros ao sul da cidade. Tão gostoso como chegar lá foi o modo em que fomos, numa dessas vans com música Soca de ótima qualidade e em grande altura, a melhor trilha sonora possível para cruzar aquelas ruas apertadas, movimentadas e de paralelepípedo dessa pequena e pulsante capital caribenha. Sem meias palavras, foi um espetáculo ter estado ali. Observar a vida da cidade através das janelas daquela discoteca ambulante nos fez sentir dentro de um filme. Só que era real! Muito joia!
A bela praia de Grande Anse, em Granada
Grande Anse, sempre ocupada por milhares de turistas na alta estação (o pessoal baixa dos cruzeiros e vai direto para lá) estava praticamente deserta. Sol, céu azul, areias claras, água caribenha, cartão-postal caribenho. Não poderia haver melhor lugar para passarmos nosso fim de tarde, o penúltimo no Caribe. Difícil (e muito triste!) acreditar que em dois dias não estaremos mais pulando de ilha em ilha, conhecendo paisagens e pessoas incríveis. Felizmente, ainda temos um dia inteiro pela frente e ele promete! Mergulho no chamado “Titanic do Caribe”, seguido de cachoeiras e montanhas do interior. Só depois disso vamos pensar no mundo fora do Caribe...
Fim de tarde na praia de Grande Anse, a mais famosa de Granada
Descendo o rio para visitar a Toca do Angico, próxima à margem sergipana do rio São Francisco
Durante cerca de 20 anos Lampião e seu bando aterrorizaram boa parte do sertão nordestino. Viviam de roubos, sequestros, extorsão, "proteção". O tamanho do bando variava, chegando a reunir 150 cangaceiros, incluindo algumas mulheres. Nos primeiros dez anos, circulou mais pelos estados de Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. A coisa começou a apertar por lá e o bando passou a aterrorizar Bahia, Sergipe e Alagoas.
Nossa pousada em Piranhas - AL
Quase sempre estavam no mato, em tocas ou lugares de fácil proteção ou fácil fuga, para o caso de serem encontrados pelas volantes, que eram grupos de policiais que os caçavam. É de se esperar que dormissem bem atentos...
Piranhas - AL
Pois bem, no final de Julho de 38 estavam acampados na Grota do Angico, distante uns 600 metros da margem do São Francisco, terras sergipanas. Para se chegar até lá, era preciso subir um bocado, através da dura e densa caatinga. Na madrugada de 24 de Julho, pouco mais de 40 policiais conseguiram se aproximar sem ser ouvidos e cercar os pouco mais de 30 cangaceiros. Levaram consigo até uma pesada metralhadora Até hoje, ninguém sabe explicar como nenhum dos experientes cangaceiros acordou com o barulho. E olha que a caatinga é barulhenta! Só se sabe que foram pegos de calças curtas. Lampião foi logo metralhado. Maria Bonita correu para ajudá-lo e foi atingida por um tiro. Onze cangaceiros caíram, contra um policial. Os outros conseguiram fugir. Maria Bonita, ainda viva e agonizante, teve a cabeça cortada. Assim como seu marido, que nesta hora já estava bem morto, e os outros nove, Felizes com o resultado, e mais ainda com o butim (os cangaceiros sempre tinham muito ouro), a volante nem se incomodou com os que tinham fugido. As cabeças foram levadas para Piranhas e os corpos deixados aos urubus. Por incrível que pareça, as cabeças de Lampião e Maria Bonita, depois de expostas por alguns dias em praça pública em Piranhas, circularam por vários lugares do nordeste e continuaram expostas por aí até a década de 70, mais de trinta anos depois! Aí, finalmente, descanso...
Grota do Angico, local onde Lampião e Maria Bonita foram mortos, em Canindé do São Francisco - SE
Eu e a Ana, chegamos do passeio dos canyons em Piranhas, desocupamos nosso quarto na pousada, tiramos algumas fotos da simpática cidade e descemos de barco para a Grota do Angico, loucos para saber mais detalhes dessa e de outras histórias do cangaço.
Dessa vez, ao invés da multidão da manhã, descemos com apenas mais um casal, no barco do simpático Célio. Passeio e rio bem mais bonitos que o da manhã, diga-se de passagem!
Com os especialistas em cangaço, na Grota do Angico, região do Canindé do São Francisco - SE
Lá embaixo, ainda no restaurante à beira do rio, encontramos os amigos de ontem, cearenses. Devidamente acompanhados de dois dos maiores especialistas na história do cangaço, o Alcino e o Vilela. Muito simpáticos, nos deram até uma entrevista que a Ana logo irá postar.
Grota do Angico, local onde Lampião e Maria Bonita foram mortos, em Canindé do São Francisco - SE
Eles regressarm para Piranhas enquanto nós seguimos para a Grota, guiados pelo Junior. Foi emocionante estar lá, ver o local da batalha (na verdade, massacre) e até as marcas de balas nas rochas. Ali há até duas cruzes e uma placa homenageando os mortos (?). Estando lá, vendo de perto, fica ainda mais difícil entender como eles foram pegos de surpresa. Estavam bêbados? Pode ser, mas esses homens estavam permanentemente bêbados e sabiam viver e se cuidar neste estado também. Teriam sido dopados por algum traidor? Muita gente duvida. Enfim, este é talvez o maior mistério da Grota do Angico.
Grota do Angico, local onde Lampião e Maria Bonita foram mortos, em Canindé do São Francisco - SE
Mas não é o único. Hoje nosso querido celular sumiu por lá. Talvez no restaurante, talvez na Grota, onde não o usamos, mas poderia ter caído, sei lá. Depois de esgotadas as outras possibilidades (nossa esperança foi até o fim...), gosto de pensar que foi o Lampião mesmo. Isso porque, lá na Grota, em conversa com a Ana, o Junior e o casal que nos acompanhava, andei duvidando da virilidade do Rei do Cangaço. Disse que talvez ele não fosse espada, e por aí foi... Estava mexendo com o guia, que tirou as brincadeiras de letra. Acho que quem não gostou foi o capitão (assim era chamado por seus comandados). De noite, quando tentava ligar para o nosso número, na esperança que alguém atendesse (lá na Grota não tem sinal), ficava imaginando qual seria minha reação se fosse o próprio Virgulino a atender: "E aí, espertão, vamos ver se vc é cabra macho mesmo. Venha agora, aqui na Grota, buscar". É, adoraria ouvir isso, mas acho que não iria lá não. Não de noite.
Fim de tarde no São Francisco, em Piranhas - AL
Enfim, os maiores mistérios do Angico: como Lampião e seu bando vacilaram desse jeito e, onde foi parar nosso querido celular??? Buáááááá... Aos amigos e parentes, estamos incomunicáveis para o reveillon. Um feliz ano novo para vcs todos! E, se receberem mensagem do nosso celular, chequem se não é de Lampião ou Maria Bonita...
Foto de Lampião e Maria Bonita exposta em restaurante próximo a Grota do Angico, em Canindé do São Francisco - SE
Um belíssimo e verdejante bosque na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Quem acompanha nossa viagem de perto sabe que, apesar de termos dirigido até o Alaska e a Terra do Fogo, o 1000dias é muito mais feito de pernas do que de rodas. Sim, foram mais de 160 mil quilômetros rodados até aqui, mas se toda essa quilometragem for distribuída ao longo da viagem, são cerca de 110 quilômetros por dia. Não é muito e há bastante gente que roda mais do que isso sem nunca sair de sua cidade ou estado, apenas na sua rotina diária de trabalho. Na média, isso significa, talvez, 1h 30min diários dentro da Fiona e o resto, fora dela! É onde os 1000dias realmente acontecem, conosco perambulando entre montanhas e florestas, praças e museus.
A cidade de Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, vista do alto do parque Cerro Santiago (sul do Chile)
Caminhando pela praça central de Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Pois bem, digo isso porque os últimos 10 dias de nossa viagem foram bem atípicos nesse sentido. Desde nosso último dia cheio em Torres del Paine, exatamente na véspera de natal, que temos dirigido todos os dias. Fomos até a Terra do Fogo, cruzamos o sul da Argentina, entramos no Chile e chegamos à Carretera Austral sempre a bordo da nossa querida Fiona. Apenas em Punta Arenas e Ushuaia passamos mais de uma noite, mas mesmo nessas cidades, durante o dia cheio que nelas passamos, foi nosso carro que nos levou até o ponto extremo da América do Sul, na primeira, e ao Parque Nacional Tierra del Fuego, na segunda. Sim, caminhamos também, não só em Ushuaia como também no Bosque Petrificado ou nas passarelas de Caleta Tortel, mas a Fiona foi bastante usada todos esses dias. Enfim, uma correria, mas uma correria sobre rodas!
A charmosa e rústica arquitetuta de Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Embalado por cerveja, trabalhando um pouco no computador em nosso albergue em Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Então, merecidamente, vimos a chance aqui em Villa O’Higgins de quebrar um pouco esse ritmo. Esticar as pernas de verdade e dar um descanso à Fiona. Não poderíamos escolher melhor lugar, pois a cidade que fica no extremo sul da Carretera Austral está circundada por uma natureza exuberante e quase virgem. Bosques, geleiras, rios, lagos e montanhas formam o entorno dessa cidade perdida no meio da patagônia chilena e que se autodenomina “a porta de entrada do Campo de Gelo Sul”. Pois é, nós já estivemos em outras “portas de entrada” desse enorme campo gelado, como El Chaltén e El Calafate, ambos do lado argentino. Mas aqui desse lado da fronteira, é mesmo Villa O’Higgins a principal via de acesso ao segundo maior banco de gelo do planeta fora das regiões polares.
Nosso albergue em Villa O'Higgins, também muito frequentado por ciclistas que viajam pela Carretera Austral, no sul do Chile
Nosso albergue em Villa O'Higgins, também muito frequentado por ciclistas que viajam pela Carretera Austral, no sul do Chile
Nós chegamos aqui no dia 2 às 21:00 e ainda aproveitamos a luz de fim de tarde (viva o dia “esticado” da patagônia!) para dirigir até o fim da estrada, alguns quilômetros ao sul de Villa O’Higgins. Foi só depois disso que viemos para a pequena cidade de 600 habitantes para nos instalar no aconchegante El Mosco Hostel. É um misto de albergue e hostel, muito popular com os ciclistas que fazem a travessia daqui para a Argentina, ou vice-versa. Tem quartos coletivos e para casais e infraestrutura para cozinharmos as próprias refeições. Todo em madeira, é uma delícia!
Despedida da Fili, proprietária da nossa casa em Villa O'Higgins, o Hostel Rio Mosco (sul do Chile)
Despedida da Fili, proprietária da nossa casa em Villa O'Higgins, o Hostel Rio Mosco (sul do Chile)
A dona do hostel é a simpaticíssima Fili e conversamos bastante com ela nessa noite e na manhã seguinte. Foi ela que nos indicou o excelente “Entre Patagones”, um restaurante delicioso que jamais imaginei encontrar nesse verdadeiro fim de mundo (no bom sentido!). Aí nos refestelamos com comida e vinho chilenos, nós e muitos dos viajantes de passagem por aqui. Todos celebrando estar no lugar onde estamos. Mas, voltando a Fili, foi ela também que nos deu um panorama geral da questão da Hidroaysen, as hidrelétricas que querem construir na região. Muito ponderada, nos mostrou prós e contras tentando não influenciar nossa própria opinião. Uma ótima e agradável conversa, um dos pontos altos de nossa estadia por aqui.
Mirante no alto do parque Cerro Santiago, em Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
A caminho do Glaciar do rio Mosco, perto de Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Foi também ela que nos orientou sobre os diversos trekkings existentes na região. Conforme já esperávamos, a caminhada até o Campo de Gelo Sul dura vários dias, tempo que infelizmente não dispomos. Vamos mesmo ter de voltar à patagônia algum dia só para conhecer essa que é uma das mais fascinantes e inexploradas regiões do mundo. Por outro lado, ela também deu várias dicas de caminhadas de apenas um dia pela região e foi assim que escolhemos o nosso trekking de hoje: uma trilha pelo vale do Rio Mosco até o glaciar onde nasce o rio. Certamente, não é uma trilha tão impressionante como o trekking até o Campo de Gelo, mas ainda sim mais belo do que a maioria das trilhas espalhadas pelo nosso continente.
Marcações na trilha para o Glaciar do rio Mosco, em Villa O'Higgins, no sul do Chile
Atravessando um bosque na trilha do Glaciar do rio Mosco, em Villa O'Higgins, no sul do Chile
Foi assim que, devidamente agasalhados e com sanduíches na mochila, saímos a caminhar hoje, primeiro pela própria cidade e depois subindo o vale do rio Mosco. O primeiro destino foi o Cerro Santiago, o parque municipal de Villa O’Higgins. Aí subimos um pequeno morro de onde temos belas vistas da cidade e ruas retas e ordenadas e construções baixas e de madeira. Era daí que partia a nossa trilha, devidamente sinalizada com tinta em árvores e pedras a cada 50 ou 100 metros.
Trecho aberto da trilha para o Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Durante a caminhada para o Glaciar do Rio Mosco, uma visão do belo vale onde está Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Durante a caminhada para o Glaciar do Rio Mosco, uma visão do belo vale onde está Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Aqui ou ali, alguma bifurcação e a dúvida sobre por onde seguir. Principalmente no trecho inicial, ainda perto de fazendas e gado que cria suas próprias trilhas. Mas, aos poucos, fomos nos afastando da civilização e a trilha ficou bem clara ao cruzar bosques ou subir e descer encostas.
Na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, um mirante para o vale onde está Villa O'Higgins, no sul do Chile
Retornando à cidade depois de fazermos a trilha para o Glaciar do Rio Mosco, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Do ponto mais alto do caminho, tivemos uma belíssima visão do vale onde está Villa O’Higgins, desde a própria cidade até o lago onde chegamos ontem, ponto de término da Carretera Austral. Ao fundo, do outro lado do vale, as montanhas que escondem atrás de si o Campo de Gelo Sul. Um dia, chegamos lá... Já olhando para o outro lado, para a direção em que caminhávamos, as montanhas e o glaciar do Rio Mosco. Ele está longe de ser grande como os glaciares que nascem no Campo Sul, como o Viedma, o Grey ou o Perito Moreno, mas não deixa de ser uma visão impressionante, aquele rio de gelo pendurado entre as montanhas longínquas. Acho que brasileiros nunca vão se acostumar ou achar “normal” a visão de uma geleira. Mesmo nós que vimos tantas delas nesses últimos anos, no norte e no sul do nosso continente.
Um belíssimo e verdejante bosque na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Um belíssimo e verdejante bosque na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Dessa parte alta descemos para o vale criado pela própria geleira alguns milênios atrás, mas que hoje é percorrido apenas pelo rio de mesmo nome que nasce na sua linha de frente. A partir daí, entramos em bosques maravilhosos e por eles caminhamos durante horas, acompanhando as curvas do terreno e as curvas de nível. Muitos córregos e pequenas cascatas no caminho, mas o mais impressionante mesmo é o verde exuberante do bosque.
Encontrando o rio Mosco, na trilha que leva ao Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
No meio do bosque, o refúgio Puesto Rivera, na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Chegando ao refúgio Puesto Rivera, na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Por fim, chegamos à uma pequena casa de madeira no meio da floresta. Era o refúgio Puesto Rivera, nome que homenageia um dos pioneiros da região e que também usava essa mesma trilha que caminhamos hoje muito tempo atrás. Era um dos caminhos que levava à terras argentinas, do outro lado das montanhas. O refúgio é bem simples e rústico, mas convidativo o suficiente para lancharmos lá dentro. Não sei como seria passar a noite por ali, certamente algo entre o aventureiro e o amedrontador, o clima meio parecido com a Bruxa de Blair, principalmente no meio daquele bosque e totalmente longe da civilização.
Interior do refúgio Puesto Rivera, com direito até a chaminé para fazzer uma fogueira, na trilha para o glaciar do rio Mosco, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Lanche para recuperar as energias, no refúgio Puesto Rivera, na trilha para o Glaciar do Rio Mosco, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Mas nossos planos nunca foram mesmo dormir ali. Continuamos um pouco mais adiante, até a beira do rio Mosco que agora corria ao nosso lado. Daí voltamos a ter uma vista mais ampla, o glaciar já bem mais perto de nós. Foi o ponto final da nossa trilha, já bastante satisfeitos com a esticada de pernas, com o ar puro ingerido, o contato com a natureza e a sensação total de liberdade. Hora de retornar.
O rio Mosco, na trilha que leva ao glaciar de mesmo nome, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
O rio Mosco, que nasce no glaciar de mesmo nome, ao fundo, na região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Poucas horas mais tarde e chegávamos ao hostel. Além de uma cama mais confortável e de mais calor humano do que no refúgio no meio da floresta, ali tínhamos material para um nutritivo jantar. Muito macarrão, cerveja gelada e o sempre bom e barato vinho nacional, uma das grandes vantagens de se estar no Chile. Podíamos não estar tão isolados como se estivéssemos ainda no Puesto Rivera, mas, mesmo assim, ficar bebericando aquele vinho numa varanda nessa cidade perdida no meio da patagônia chilena entre ciclistas de todo o mundo foi mais do que o suficiente para saciar nossos “instintos selvagens”.
O Glaciar do Rio Mosco, região de Villa O'Higgins, no sul do Chile
Fim de tarde e de caminhada, hora de merecido lanche acompanhado de vinho e cerveja no nosso albergue em Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
A Fiona ganhou seu dia de descanso, assim como nossos corações e espíritos. Apenas quem se cansou foram as pernas, mas o motivo foi justo, hehehe. Amanhã, elas terão seu descanso, já que retomaremos a estrada. Dessa vez, rumo ao norte. Para nós, a Carretera Austral começa aqui e agora e seu final está a 1.250 km ao norte, lá na distante Puerto Montt. Será uma viagem e tanto...
Fim de tarde e de caminhada, hora de merecido lanche acompanhado de vinho e cerveja no nosso albergue em Villa O'Higgins, última cidade da Carretera Austral, no sul do Chile
Até a Fiona ficou impressionada com a beleza da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, uma das mais belas ligações andinas entre o país e a vizinha Argentina
Acordamos prontos para, finalmente, cruzarmos o famoso Paso de San Francisco, rumo ao Chile. Há pouco mais de dois anos, exatamente no dia 9 de Agosto de 2011 (veja o post aqui), tentamos essa travessia sobre os Andes, mas só conseguimos chegar até poucos quilômetros depois do posto da aduana argentina, bem antes da fronteira. A estrada ainda estava completamente tomada pela neve, reflexo do inverno que ainda não havia terminado e eu, a Ana e a Fiona tivemos de colocar o rabo entre as pernas e retornar rumo ao vale. A Laguna Verde, o Ojos del Salado, o Parque Nacional Tres Cruces e outras atrações dessa belíssima estrada teriam de esperar. Agora, dois anos, um mês e 23 três dias depois, estávamos prontos para tentar novamente!
Mais de dois anos depois, de volta à estrada do Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile
Pronta para a grandiosa estrada do Paso San Francisco, entre Argentina e Chile
A palavra “Paso”, em espanhol, quer dizer “passagem” e é comumente usada tanto para passagens fronteiriças como para o ponto em que uma trilha (ou estrada) vence uma cadeia de montanhas e passa a descer novamente. Aqui, quando cruzamos os Andes, esses dois significados se unem, já que passamos da Argentina para o Chile e, ao mesmo tempo, cruzamos as montanhas dos Andes. Essa longa cordilheira praticamente permeia toda a fronteira desses dois países, de sul a norte. São mais de 60 pasos fronteiriços entre Argentina e Chile, boa parte deles nas alturas das montanhas. O mais conhecido deles é o Paso Cristo Redentor (ainda vamos passar por lá!), na estrada que liga Santiago a Mendoza, um dos treze da lista de Pasos mais movimentados que aparece no mapa abaixo.
As principais passagens fronteiriças entre Argentina e Chile, os chamados "Pasos". À esquerda, os Pasos na metade norte dos páises, entre eles o mais movimentado , o Paso Cristo Redentor, entre Santiago e Mendoza. À direita, os Pasos da metade sul.
Os Pasos mais ao norte cruzam os Andes em altitudes mais elevadas, enquanto aqueles mais ao sul, como os da região de Bariloche, cruzam através de falhas na cordilheira, não necessitando ascender tanto. Aqui na parte norte, o Paso mais movimentado é o de Jama, que cruzamos da vez passada (veja o post aqui), quando o San Francisco nos fechou as portas. Também é muito belo, mas dizem ser o San Francisco o mais bonito de todos e hoje iríamos conferir isso.
São cerca de 480 km entre a pequena Fiambalá e Copiapó, a primeira cidade no Chile. Saímos dos 1.500 metros de altitude aqui na Argentina e chegamos aos pouco mais de 300 metros da cidade chilena. Parece fácil, mas no meio do caminho temos de vencer os 4.800 metros de altitude do Paso San Francisco, ponto mais alto da estrada. Daqui até a fronteira são duzentos quilômetros de estrada bem asfaltada, mas do lado de lá o asfalto dá lugar ao rípio e é preciso seguir com mias cuidado. É bom lembrar também que não há postos de combustível no caminho. Temos de sair com o tanque cheio!
A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile
A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile
Esse primeiro trecho da estrada, pelo menos até o posto da polícia, já conhecíamos bem. É lindíssimo! Deixamos o vale de aparência desértica para trás e para baixo e vamos subindo por entre encostas e montanhas coloridas, todos os tons entre o amarelo e o verde, entre o vermelho e o marrom, entre o laranja e o cinza presentes. Enfim, um verdadeiro arco-íris, ainda mais se adicionarmos o azul do céu e o branco da neve. Um verdadeiro espetáculo para os olhos e mentes.
Encontrando vicunhas ao longo da estrada que leva ao Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile
Encontrando vicunhas ao longo da estrada que leva ao Paso San Francisco, entre Fiambalá, na Argentina, e Copiapo, no Chile
Quando chegamos perto dos 4 mil metros de altitude, sempre no conforto da nossa Fiona, começamos a observar as vicunhas lá fora, muito bem adaptadas ao vento inclemente e às temperaturas próximas do zero. As vicunhas são selvagens, primas de lhamas e alpacas, que são animais domésticos e dos guanacos, que também são selvagens, mas vivem em menores altitudes. Todos eles da família dos camelídeos, mas bem menores que os camelos e dromedários africanos e asiáticos.
A magnífica paisagem do lado argentino do Paso San Francisco, na região de Fiambala, a caminho do Chile
Balas de coca peruanas nos ajudam com a altitude do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile
As vicunhas podem ser adaptadas à altitude, mas nós não somos. Por isso, a Ana providenciou balas de coca, que trazíamos desde nossa passagem pela Bolívia. Valeu a pena guardá-las! Foi quando estávamos saboreando uma delas que chegamos ao nosso conhecido posto de fronteira. Dessa vez, para a nossa alegria, tinha as cancelas abertas. Fizemos nossos papéis, conversamos um pouco com os guardas que se interessaram pela nossa viagem e até fotografamos nosso adesivo deixado ali há 25 meses. Agora sim, podíamos seguir em frente e conhecer terreno desconhecido para nós.
De volta ao Paso San Francisco, entre Argentina e Chile, lá está o adesivo do 1000dias, deixado ali há mais de dois anos!
Passando pela imigração argentina, a caminho da fronteira com o Chile, no Paso San Francisco
Vinte quilômetros e outros 700 metros de altitude nos levaram até a fronteira entre os dois países. Enfim, o Paso San Francisco. À nossa frente, uma longa descida até o Oceano Pacífico, pouco mais de 100 km até o posto da polícia fronteiriça chilena e uma paisagem de deixar o queixo cair. Dirigindo no rípio, esgueirando-se entre pedras e o forte vento, chegamos à Laguna Verde, o acidente geográfico mais belo dessa parte do planeta.
Chegando à fronteira entre Argentina e Chile, no Paso San Francisco, a mais de 4.700 metros de altitude
A mais de 4.700 metros de altitude, no Paso San Francisco, entre Argentina e Chile
Do lado chileno da fronteira, estranhamente a paisagem muda. Quase não há mais vegetação e a cor do solo fica mais acinzentada, perdendo as tonalidades coloridas do lado argentino. Até por isso, quando vislumbramos pela primeira vez o verde-azulado intenso das águas da lagoa de alta altitude, parece até uma miragem. Mas não é, ela é tão real quanto eu, a Ana e a Fiona. E infinitamente maior! Um colosso de água que não parece pertencer àquele lugar, mas que está lá. O que parecia a lua, de repente, parece ser a paisagem de outro planeta.
A fantástica paisagem da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile
A fantástica paisagem da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile
Tão belo e arrebatador é aquele cenário que resolvemos parar por ali mesmo. Tiramos algumas fotos do lado de fora do carro, respiramos aquele ar quase sagrado, mas a ventania e o frio nos empurram de volta para dentro. Agora, no sossego do interior da Fiona, armamos nosso piquenique. Um piquenique com vista para uma imensa tela de cinema. Tão grande como o horizonte. E tão bela como a perfeição.
Piquenique em frente à Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, no nosso caminho para a cidade de Copiapo
A incrível cor da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, passagem andina entre Argentina e Chile
Hora de seguir adiante. Muito rípio pela frente. Mas um detour à esquerda nos chama a atenção. É o caminho para um dos refúgios que abrigam alpinistas no seu caminho para a segunda mais alta montanha das Américas, o Ojos del Salado. Com seus 6.893 metros de altitude, ela só fica atrás do Aconcágua, algumas centenas de quilômetros ao sul. Tínhamos de ir lá prestar nossa homenagem a essa montanha sagrada, seguir em frente deixou de ser prioridade...
Até a Fiona ficou impressionada com a beleza da Laguna Verde, no lado chileno do Paso San Francisco, uma das mais belas ligações andinas entre o país e a vizinha Argentina
Chegando perto da segunda maior montanha das Américas, na fronteira entre Chile e Argentina
Em uma rústica estrada secundária, chegamos ao refúgio. Ao fundo, com o cume escondido pelas nuvens, lá estava a gigantesca montanha, três incríveis quilômetros acima de nós, que já estávamos a quase 4 mil metros de altura! Impressionante! Soberana e amedrontadora. Dirigimos o mais próximo possível dela, até que a neve e gelo nos detiveram. Dali para frente (e para cima!), só caminhando. Não estamos em temporada de escaladas. É preciso esperar o final da primavera e início do verão. Hoje, só poderíamos admirá-la. E bem de longe!
Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado (ao fundo, na foto), na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina
Nossa primeira visão do majestoso Ojos del Salado, a segunda maior montanha das Américas, na fronteira entre Chile e Argentina, região do Paso San Francisco
Voltamos ao refúgio para explorá-lo. Aí estiveram um irmão e um primo, na temporada passada. Os dois chegaram ao cume da montanha, na verdade um vulcão, o mais alto do mundo. Isso só me fez aumentar a vontade de, eu também, chegar lá encima. Mas o destino não quis que chegássemos aqui na época certa para uma empreitada tão dura como essa. Assim, tive de me contentar com a visita ao refúgio e a visão desse gigante. Mais uma promessa para o futuro...
Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado, na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina
Um dos refúgios de apoio aos alpimistas que tentam subir o Ojos del Salado, na região do Paso san Francisco, entre Chile e Argentina
O dia terminava e o bom senso dizia para seguirmos viagem. Uma noite ali no refúgio prometia ser uma “gelada”! Então, de volta para o calor da Fiona e, com ela, para a estrada principal. Uma hora mais tarde e chegávamos ao posto chileno da fronteira. O alívio de chegarmos lá foi substituído pela apreensão quando não achamos viv’alma por ali e as cancelas fechadas. Tínhamos perdido o horário de passagem!
Trilha de aproxima~]ao do Ojos del Salado, na fronteira entre Argentina e Chile
Estrada de rípio no lado chileno do Paso San Francisco, ligação entre o país e a Argentina
Após alguns minutos de procura, encontramos alguém já recolhido em sua casa. A fronteira estava realmente fechada e ele nos perguntou aonde dormiríamos. Claro que não havia hotéis por lá, naquele fim de mundo gelado e dormir na Fiona era uma alternativa meio “apertada”. Foi quando ele mesmo nos sugeriu de dormir no prédio da aduana! Muito simpático, nos levou para dentro e nos liberou toda uma sala, o nosso “quarto”! Melhor ainda, nos trouxe um aquecedor elétrico, colchões e cobertores. Naquela situação e naquele lugar, sentimo-nos reis!
A Ana prepara nosso jantar no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo
Para completar, tratamos de organizar nosso jantar, uma deliciosa macarronada acompanhada de um legítimo vinho argentino (os chilenos que não nos ouçam!!!). Foi uma maneira um tanto inusitada, mas incrível, de terminar um dia inesquecível: dormindo no prédio da aduana, ao lado do raio X por onde passam as bagagens dos viajantes.
Nosso delicioso jantar no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo
Ficamos absolutamente sem palavras. Apesar do longo post...
Confortavelmente instalado no prédio da aduana chilena, no Paso San Francisco, a caminho de Copiapo
Quarta praia em Morro de São Paulo - BA
As praias em Morro de São Paulo são conhecidas pelo seu número: Prmeira, Segunda, Terceira e Quarta. A vila histórica aqui fica encima do morro e se estende pela Primeira e Segunda Praias. Morro já é conhecida dos gringos e turistas há mais de uma década e hoje é o terceiro destino turístico do estado da Bahia, após Salvador e Porto Seguro.
Segunda Praia, em Morro de São Paulo - BA
Eu e a Ana, diferentes que gostamos de ser, saímos em caminhada hoje em direção à distante Quinta Praia, longe do alcançe da maioria dos turistas. Passamos pela urbana Primeira Praia, pela badalada Segunda Praia, pela em processo de desenvolvimento Terceira Praia e pela longa Quarta Praia, com a mais famosa piscina natural da ilha.
Mergulhando na piscina natural na Quarta Praia, em Morro de São Paulo - BA
Caminhando na Quarta Praia, em Morro de São Paulo - BA
Tudo isso à caminho da pouca conhecida, selvagem e bela Quinta Praia, a quase cinco quilômetros do centro. Na maré baixa, uma enorme planície de areia cortada por um riacho de mangue e aquele marzão verde esmeralda. Incrível que num destino tão turístico ainda seja possível achar um lugar onde se possa esquecer as marcas humanas e imaginar-se num mundo selvagem, só com praias, mar e coqueiros.
Riacho da Quinta Praia, em Morro de São Paulo - BA
Só na imaginação mesmo porque, apesar da vila e do movimento estarem longe, há várias pousadas ali perto. Se não podemos vencê-las, vamos aproveitá-las, e tivemos uma deliciosa água de coco e uma refeição de peixe inesquecível.
Água de coco na Quarta Praia em Morro de São Paulo - BA
De lá voltamos para a vila e para o morro do farol. A intenção original eram fotos da vila e do astro-rei mas a Ana animou de usar a mais alta tirolesa das Américas (é o que diz a propaganda), descendo de 75 metros direto para o mar. Ela desceu e eu fiquei lá encima para fotos do pôr do sol e da igreja, na descida.
A famosa Tirolesa da Primeira Praia em Morro de São Paulo - BA
Pôr-do-sol em Morro de São Paulo - BA
É duro ser o mais velho, preocupado com nossas parcas economias. Tudo bem, um dia mando isso tudo para os ares... A noite foi jóa, lual com nossos amigos belgas (eles ficaram de nos mandar as fotos) na Segunda Praia. Daqui para Salvador e depois, aquela dúvida: litoral norte baiano ou Chapada Diamantina... Tenho a impressão que, de qualquer maneira, vamos nos dar bem...
Nossos amigos belgas em Morro de São Paulo - BA
O Ojo del Inca, lago de águas termais próximo à em Potosí - Bolívia
Tomando coragem para tirar a Fiona de sua segura garagem no hotel, fomos hoje passear pelas redondezas de Potosí, na direção noroeste. Depois de negociar e driblar o trânsito caótico do centro histórico, chegamos à estrada que liga a cidade à La Paz. É por ela que se chega ao "Ojo del Inca".
Lhamas caminham ao lado da estrada, em Potosí - Bolívia
Trata-se de uma lagoa com águas termais para onde vinha, conta-se, o Inca banhar-se em suas águas e barro medicinais. Considerando a distância de Potosí à Cuzco, onde o Inca morava, e que naquela época não havia avião e nem carro, e que nem cavalos os incas possuíam, é fácil concluir que a tal lagoa realmente deve ser especial. Esse passeio nos foi muito recomendado pela Roberta e seu marido, que tinham nos levado às minas de Potosí. Mas eles nos aconselharam também a ficar apenas nas bordas da lagoa, já que haveria um redemoinho em seu centro que costumava engolir turistas incautos. O gerente do nosso hotel foi mais incisivo: "Apenas olhem e fotografem! Não é para nadar. Se quiserem nadar, sigam adiante e nadem nas piscinas dos balneários". Pois é, alguns quilômetros vale abaixo, foram construídos balneários com piscinas "seguras" para o banho.
A magnífica paisagem nas estradas próximas à em Potosí - Bolívia
E lá fomos nós para a lagoa. No caminho, para ajudar a nos lembrar aonde estamos, rebanhos de lhamas. Mais pitoresco, impossível! A isso se soma a incrível beleza da paisagem, onde as cores são mais vivas do que nunca e o passeio já vale à pena por si só. Perto dos 4 mil metros, onde o ar é mais rarefeito, a atmosfera fica mais limpa, o céu é muito mais azul, pode-se ver muito mais longe, as formas são mais definidas, enfim, a paisagem é um colírio para os olhos.
A magnífica paisagem nas estradas próximas à em Potosí - Bolívia
Saindo por uma estrada de terra da estrada principal, chegamos à lagoa. Lá, o administrador nos explica que aquela é a maior lagoa de águas termais do imperio inca. Seria a boca de um antigo vulcão, pouco mais de 50 metros de diâmetro e 22 metros de profundidade, na sua parte mais profunda, bem ao centro. Diz também que a história do redemoinho é bobagem. De certo, conversa inventada pelos donos dos balneários, penso eu...
O Ojo del Inca, lago de águas termais próximo à em Potosí - Bolívia
A temperatura externa estava pero de uns 12 graus. Com o vento, muito menos. Mas a água, hmmmmm, que delícia!, estava perto dos 30 graus. Fomos logo entrando e nadando por ela. Cercada de montanhas, o visual é inesquecível. Numa parte menos profunda, fui até o solo e busquei a lama "sagrada" para a Ana passar em sua pele. Se era boa para o Inca, seria boa para ela também!
Visitando o Ojo del inca, lago de águas termais próximo à Potosí - Bolívia
Logo chegaram mais duas vans com turistas. Todos sabendo da história do redemoinho, foram só alguns que se arriscaram nas águas "perigosas". Mas quem o fez, não se arrependeu! Difícil mesmo é sair e enfrentar o frio e o vento do lado de fora. Depois de muita enrolação nós tivemos de fazer isso. E, na volta, demos carona para três simpáticas espanholas que tinham chegado até ali de ônibus.
Nadando no Ojo del inca, lago de águas termais próximo à Potosí - Bolívia
Viemos em conversa animada com as duas Marias e uma Ana, todas de Múrcia, até a entrada da cidade quando uma das Marias me perguntou sobre como era dirigir ali, que era preciso muita coragem. Quando estava lhe respondendo que, mais do que coragem era preciso paciência, bem ali, na nossa frente, em câmara lenta, todos assistimos um ônibus arrebentando a frente de um carro. Era um cruzamento caótico como outros, carros vindos de todas as direções, querendo virar para todas as direções. Coisa normal por aqui. O ônibus virou mais do que devia e o carro, parado entre outros, sem ter para onde fugir, levou a pior.
As Anas e as Marias, amigas espanholas no Ojo del Inca, em Potosí - Bolívia
O trânsito, que já estava terrível, piorou mais ainda. Com muita paciência, conseguimos passar e deixar a confusão para trás e seguir adiante. A paciência continuou para passar por ruas de mão dupla onde só cabe um carro (e não uma Fiona!) e mercados onde os pedestres tomam conta de tudo. Mas, enfim, chegamos e deixamos a Fiona novamente em seu porto seguro.
Canyon estreito na estrada que leva ao olo del Inca, próximo à Potosí - Bolívia
De noite ainda fomos a um bar (La Casona) onde se ouvia boa música boliviana e voltamos já depois da meia noite. Amanhã cedo, rumamos para o sul, para a cidade de Tarija, centro da região produtora de vinho da Bolívia, já bem próxima da Argentina.
A magnífica paisagem nas estradas próximas à em Potosí - Bolívia
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