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Nati (19/07)
Passei dois meses (setembro e outubro 2008) na região de Haines Junction...
Regina Macedo (15/07)
Gostaria de saber como fizeram para chegar à ilha de lençois e quanto t...
RODRIGO (12/07)
Nelma Tavares (08/07)
Você saberia me informar qual é a espécie desta borboleta verde?...
Nelma Tavares (08/07)
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Fim de tarde glorioso nas ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Por volta do ano de 1400, enquanto cristãos ainda lutavam para expulsar os mulçumanos da Península Ibérica, numa guerra que já durava cinco séculos, o noroeste da América do Sul tinha um complicado mapa político. Essa região onde floresceram as primeiras e as mais avançadas civilizações desse continente estava toda dividida em pequenos reinos e áreas de influência. Certamente, o mais poderoso desses reinos era o Chimu, localizado onde hoje é o Equador. Entre os reinos de menor significância, estava um centrado na cidade de Cusco, no coração do altiplano peruano. Os nobres desse reino formavam uma rígida casta social conhecida como “Incas”. Séculos mais tarde, os conquistadores espanhóis generalizariam erroneamente esse nome para todo aquele povo e a civilização, destinada a se tornar a mais poderosa de todo o mundo pré-colombiano, para sempre ficou conhecida como civilização Inca.
As ruínas da antiga fortaleza de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Os incas haviam se estabelecido na região de Cusco há pouco menos de dois séculos e, desde então, vivam em constante guerra com seus vizinhos, sem nunca adquirir grande importância. Governados por uma monarquia autocrática e um imperador que mais se confundia com um deus, o atual governante já era o oitavo da dinastia e se chamava Viracocha. Tudo caminhava para que ele fosse sucedido pelo seu filho mais velho e os incas pareciam para sempre condenados ao anonimato e insignificância histórica. Foi quando um evento mudou para sempre a sua história.
Com o Gustavo, visitando as ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Cusco estava sitiada pelos arquirrivais dos incas, os Chancas. Tudo parecia perdido e Viracocha e seu filho mais velho deram no pé, querendo salvar a própria pele. Coube então a outro filho do imperador, o jovem Pachacuti, liderar o exército do reino, salvar a cidade e dar uma tremenda sova nos Chancas. Viracocha reconheceu o valor do filho mais novo e tratou de mudar a linha sucessória, nomeando-o seu sucessor. Foi o grande feito de sua vida, pois Pachacuti estava destinado a ser o mais importante dos Incas, levando o obscuro reino a tornar-se o mais vasto império da Terra quando morreu, algumas décadas mais tarde.
A "Pegada do Jaguar", nas ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Os enormes monolitos das ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Pachacuti não só levou uma vida de conquistas, levando o império até o Pacífico, no oeste, até Bolívia, no leste, e até o Equador, no norte, como reorganizou a cidade de Cusco, transformando-a numa verdadeira capital imperial e construindo seus mais importantes marcos arquitetônicos, como palácios e templos, aqueles que ainda hoje estão de pé na cidade. Ele também institucionalizou a tradição de dar o comando do exército ao filho eleito como sucessor, para que ele já fosse aprendendo (e sendo testado!) como líder militar.
O casal 1000dias assediado por fotógrafos durante visita às ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Pois seu filho não o decepcionou! Topa Inca, ainda com o pai em vida, derrotou e anexou o poderoso reino de Chimu, o único que ainda fazia frente aos Incas. Depois, já como imperador, no ano de 1480, criou uma grande frota que teria chegado às Ilhas Galápagos e, possivelmente, à Ilha de Páscoa. Mas foi no reinado de seu filho e sucessor, Huayna Capac, que o Tahuantinsuyu, como o império inca era conhecido em sua própria língua, chegou ao apogeu. Começava no norte da Argentina e do Chile e se estendia até o sul da Colômbia. Sua área de influência ia ainda mais além, descendo os Andes e entrando na Amazônia, chegando ao Acre e, muitos dizem, ao Pantanal! Não é a toa que os índios contatados pelos portugueses lá no Paraná, no início do séc. XVI, sabiam da existência de um rico e vasto império nas “montanhas ocidentais”.
A bela vista que se tem de Cusco do alto das ruínas de Saqsaywamán, no Peru
A bela vista que se tem de Cusco do alto das ruínas de Saqsaywamán, no Peru
O vasto império estava muito bem organizado, ligado por uma incrível rede de estradas que cortavam planícies, planaltos e montanhas. Tudo indicava que mais um século de glórias se seguiria, quem sabe o império chegando à América central, no norte, a ao Brasil, no leste. Mas um acontecimento completamente inesperado e imprevisível colocaria fim a essa expansão, de maneira abrupta e trágica. Ainda mais rápido do que havia se formado e crescido, o império se desfaleceria. Um inimigo cruel e impiedoso se aproximava, vindo do outro lado do Oceano. Seu nome: varíola. Seu portador: os conquistadores espanhóis.
O incrível encaixe das construções incas nas ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Há três décadas Colombo já havia chegado ao Caribe. Há vinte anos, os europeus já tinham feito seus primeiros contados no norte da América do sul. No México, Cortez havia subjugado o Império Asteca há apenas 8 anos, botando de joelhos um reino com quase 20 milhões de habitantes. Alheio a tudo isso, Huayna Capac levava seu império até a Colômbia, junto com seu filho e provável sucessor. Ali, além de novas glórias militares, eles se encontraram com uma estranha e misteriosa peste que estava matando milhares de pessoas, muito antes que qualquer tribo sul-americana fosse atingida pelas espadas espanholas. Era a varíola, que não fazia distinção entre pobres e ricos, mulheres ou homens, simples agricultores ou poderosos imperadores. Huayna e seu filho preferido caíram doentes. No seu leito de morte, sabendo também que seu primogênito não sobreviveria, Huayna ainda teve a chance de escolher, entre os mais de cem filhos, um outro sucessor. Era costume entre os Incas ter muitas mulheres oficiais, além de dezenas de concubinas. Quanto mais filhos, melhor. Ter mais de cem deles era comum, entre imperadores e nobres poderosos. Huayna acabou dividindo seu império em dois, entre um filho “oficial”, Huascar, que ficaria com Cusco e as províncias do sul, e um filho com uma concubina, Atahualpa, que ficaria com Quito, a segunda cidade mais importante do império, e as províncias do norte. Essa divisão, somada com a impressionante mortandade causada pela varíola, marcaria o fim dessa gloriosa civilização.
Turistas visitam, no fim da tarde, as ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Como os espanhóis sabiamente se aproveitaram disso, é um assunto que vou tratar nos próximos posts, enquanto conhecemos algumas das ruínas deixadas pelos incas, em Cusco e no Valle Sagrado. Ontem e hoje, por exemplo, visitamos duas das mais famosas ruínas dos tempos do maior de todos os Incas, o grande Pachacuti: a fortaleza de Sacsayhuaman e o Palácio de Qorikancha.
O Gustavo aproveita um escorregador natural nas ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Com um nome tão complicado, Sacsayhuaman acabou ganhando um apelido dos turistas que o visitam: “sexy woman”. Desse modo, fica muito mais fácil lembrarmos do nome. Nossos amigos holandeses, por exemplo, logo disseram que estavam acampados perto do “sexy woman”, quando nos escreveram para ensinar como chegar até lá. Foi para a tal “mulher sexy” que fomos com o Gustavo, depois da visita ao acampamento dos overlanders, ontem de tarde.
Descansando em um dos muitos tronos reais nas ruínas de Saqsaywamán, em Cusco, no Peru
Na verdade. Sacsayhuaman não foi uma criação de Pachacuti, pois templos e construções já existiam por lá antes mesmo dos Incas chegarem à região de Cusco no séc. XII. O beleza do local, num platô com vista para todo o vale onde hoje está a cidade já inspirava os primeiros habitantes há alguns milênios. Mas foi Pachacuti que expandiu suas fortificações e construções, transformando-a na grande fortaleza que conhecemos hoje.
O Gustavo fotografa o pátio interno do Templo Mayor Inca, o Qorikancha, em Cusco, no Peru
Uma visita a este local está em todos os roteiros de quem visita Cusco. Com efeito, lá estive há 23 anos, uma das lembranças mais fortes que tinha daquela época. Daquela vez, fomos em um tour, pois Sacsayhuaman está longe demais para se ir a pé. Agora, com a Fiona, ficou mais fácil e chegamos no finalzinho da tarde, com os outros turistas já indo embora. Contratamos uma guia ali mesmo e, por uma hora, caminhamos pela fortaleza, ela nos dando as informações históricas e técnicas. O que mais impressiona é o tamanho das pedras usadas nas construções. Como foram levadas até lá encima por um povo que não utilizava a roda e nem tinha animais de carga continua um mistério. Assim como o é a precisão com que essas pesadas pedras foram cortadas e encaixadas entre si. Não é a toa que há tanta gente que ainda acredita na ajuda de seres extraterrestres para fazer isso. Pessoalmente, acredito que acabamos por desmerecer essas engenhosas antigas civilizações ao dar os créditos aos ETs, e não a elas, por essas incríveis construções.
Pátio interno do Templo Mayor Inca, o Qorikancha, em Cusco, no Peru
Por fim, foi exatamente em Sacsayhuaman que se deram algumas das mais sangrentas batalhas entre incas e espanhóis, o local onde europeus sofreram grandes baixas e os incas aprenderam que seus rivais não eram invencíveis. Foi durante o famoso “Cerco de Cusco”, em que o irmão de Pizarro foi morto. Mas também foram mortos milhares de guerreiros incas que, durante dias, tiveram seus corpos comidos por aves de rapina. O nome complicado da fortaleza vem daí: “local onde se alimentam os falcões”. Alimentavam-se de pessoas mortas...
Jardins do palácio Qorikancha, em Cusco, no Peru
Hoje em dia, aí são feitos os festivais que comemoram o solstício de inverno, numa grande festa de cores e tradições incas. Para quem não chega justo nessa época, o maior atrativo é mesmo o encaixe das enormes pedras. Parecem coladas umas às outras e nem uma faca pode entrar entre elas. É mesmo incrível...
Foto em parede do Templo Mayor, no mesmo lugar de 23 anos atrás, em Cusco, no Peru
A mesma técnica perfeita de encaixe pode ser observada no Qorikancha, o Templo Mayor do Incas, onde estivemos hoje. Esse sim, obra de Pachacuti, desde a sua fundação. Aqui, a técnica perfeita de construção nos mostrou mais um segredo: são a prova de terremotos! E a prova disso veio num grande tremor de terra na década de 50.
Caminhando pelo Qorikancha, ou Templo Mayor Inca, em Cusco, no Peru
Quando os espanhóis conquistaram a cidade, muitas das construções incas foram destruídas ou desmontadas, e suas pedras usadas para a construção de ruas, praças e grandes mansões dos conquistadores. Outras, foram simplesmente cobertas por construções espanholas, como foi o caso do Qorikancha, usado como base para uma igreja dominicana. E lá permaneceu praticamente esquecido por quase 400 anos quando um grande terremoto botou a baixo boa parte das edificações coloniais da cidade. Mas o que ruiu, eram apenas as construções espanholas. As construções incas continuaram de pé, praticamente intactas.
Caminhando pelo Qorikancha, ou Templo Mayor Inca, em Cusco, no Peru
Esse acabou sendo o lado bom do grande terremoto. Foi como se a cidade se desnudasse e um grande tesouro arqueológico reapareceu. Certamente, o de maior destaque foi o Qorikancha, que hoje podemos todos visitar, um dos maiores atrativos de Cusco, reminiscência de um período de glórias que só conhecíamos pelos relatos espanhóis daquela época. Também ele faz parte das visitas “obrigatórias” para quem vem à Cusco.
Relíquia Inca no Qorikancha, ou Templo Mayor, em Cusco, no Peru
Mas a cidade oferece muito mais, e nem tudo são ruínas. Praças, ruas charmosas e vizinhanças envolventes. Assuntos para o próximo post...
Visita ao Qorikancha, ou Templo Mayor, em Cusco, no Peru
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