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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
O ambientalista do século XIX, John Muir
Em 1849, com onze anos de idade, o pequeno John Muir migrou para os Estados Unidos, vindo da Escócia. Venho junto com os pais e numerosos irmãos e se instalaram no Wisconsin. Coincidentemente, foi o mesmo ano da Corrida do Ouro da Califórnia, que levou ao estado centenas de milhares de migrantes em busca do valioso metal. Ouro havia sido encontrado aos pés da Sierra Nevada e cidades foram criadas ali da noite para o dia, em detrimento do meio ambiente da região e de seus antigos habitantes, os indígenas, impiedosamente escravizados e massacrados. Felizmente, a maior joia do oeste da Sierra Nevada, bem próximo dos pontos de descoberta de ouro, o vale de Yosemite foi poupado desse surto exploratório. O mesmo não pode ser dito da tribo que aí habitava. Aliás, foi exatamente em uma das expedições punitivas contra esses índios que os brancos chegaram pela primeira vez a este vale mágico, ficando um tanto quanto impressionados com sua beleza e imponência.
A incrível beleza do vale de Hetch-Hetchy, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Anos mais tarde, o agora botanista John Muir, cada vez mais apaixonado pela natureza, decidiu que queria explorar e estudar a Amazônia e suas plantas. Para chegar até lá, resolveu seguir a pé do Wisconsin até a Flórida, de preferência longe das estradas, trilhas ou civilização. Sua épica viagem de 1000 milhas virou livro. Tudo correu bem durante a caminhada, mas assim que ele retornou à civilização, em busca de um barco que o levasse para a América do Sul, Muir contraiu malária. Já com 30 anos de idade, achou por bem desistir da Amazônia e trocou sua passagem por outra, que o levasse à Califórnia. Tinha lido sobre esse magnífico vale e queria vê-lo com seus próprios olhos. O clima puro de montanha seria o melhor remédio para a sua doença. O nome do vale: Yosemite.
A represa de Hetch-Hetchy no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Foi paixão a primeira vista. Yosemite passou a ser sua casa e seu templo e para essa região Muir dedicou o resto de sua vida. Quando ele ali chegou, em 1868, a região já era protegida, a primeira área dos Estados Unidos a ter esse status. Foi quatro anos antes, em plena guerra civil americana, que o presidente Lincoln assinou o decreto protegendo a “Mariposa Grove”, um bosque onde cresciam centenas de sequoias gigantes. Foi a preservação das árvores que inspirou o movimento pela proteção da área. O Vale de Yosemite, ali do lado, acabou beneficiado, apesar de não haver sequoias ali também.
Hetch-Hetchy, área no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Bom, a área era protegida, mas não tinha o status de parque nacional. Essa categoria só passou a existir em 1870, quando foi criado o Parque Nacional de Yellowstone, o primeiro do gênero em todo o mundo. A partir de então, Muir passou a lutar para que Yosemite também virasse parque. Sua maior preocupação era que o vale e as sequoias estavam liberados para a criação de rebanhos. Ou seja, não se podia derrubar árvores, mas podia-se criar vacas e ovelhas, o que estava destruindo a vegetação local. Muir era um grande escritor e muito bem relacionado. Trouxe para Yosemite um amigo seu, editor de uma das mais influentes revistas daquela época, onde ele pode observar ao vivo os efeitos danosos desses rebanhos. Ficou tão impressionado que abriu sua revista aos artigos de Muir. Não demorou muito para que o país inteiro passasse a acompanhar a sua luta. Menos de um ano depois, em 1890, o Congresso passou uma lei seguindo as recomendações de Muir, transformando toda aquela área, incluindo também o vale de Hetch Hetchy em Parque Nacional.
Túnel que dá acesso às trilhas na área de Hetch-Hetchy, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Mas, para decepção de Muir, essa mesma lei dizia que o parque deveria estar sob jurisdição das forças estaduais. Muir sabia que não funcionaria, pois a pressão econômica local faria com que a polícia estadual fizesse vista grossa para a criação de animais no parque. Muir continuou sua campanha, angariando o apoio de milhares de leitores que se impressionavam com sua habilidade de escrever e por seu amor à natureza e belezas selvagens.
As muitas trilhas no setor de Hetch-Hetchy, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Tanto foi assim que, em 1903, o presidente americano, Theodore Roosevelt (o tio do outro Roosevelt, que governaria o país durante a Grande Depressão e a 2ª Guerra Mundial), veio conhecê-lo. Muir foi encontrá-lo no trem presidencial, algumas horas antes de chegar à região do Yosemite. Essas poucas horas de conversas já foram capazes de forjar uma amizade duradoura. Roosevelt também era um amante da natureza e grande explorador. Isso não o impedia de ser um grande caçador também. Ele fez grandes viagens exploratórias na África e também à Amazônia. Da primeira, ficou a fama de um safari de proporções gigantescas, literalmente milhares de grandes animais abatidos. Algo que o velho presidente de muito se arrependeria no final da sua vida. Da segunda, a desconhecida Amazônia, ficou a fama de exploração e aventura. Não é a toa que o nome de um dos principais afluentes do maior rio do mundo homenageia o presidente americano.
Descanso na sombra enquanto se admira a beleza do vale de Hetch-Hetchy, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Pois bens, ao chegar ao parque, Roosevelt pediu a Muir que lhe mostrasse o “Yosemite de verdade”. Sós, os dois caminharam pelo parque a acamparam ao lado de uma fogueira em um dos mais belos mirantes de Yosemite, o Glacier Point. Muitas horas de conversas e, não demorou muito, o parque passou a se administrado por forças federais.
Esquilo nos observa em trilha no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Essa foi uma grande vitória para Muir. Mas ele também conheceu suas derrotas, na sua luta de preservação. Uma de suas áreas preferidas, o vale de Hetch Hetchy, uma espécie de Yosemite em miniatura, corria grande perigo. O vale, tecnicamente, era perfeito para a criação de uma barragem para acumulação de água e energia para a metrópole de San Francisco. Por mais de uma década, os desenvolvimentistas brigaram com Muir, através de artigos e lobbies no governo central, para que ali se construísse a barragem. Num célebre artigo, Muir defendeu que, antes de inundar aquele “maravilhoso tempo natural”, que se transformasse os templos construídos pelo homem em San Francisco, igrejas e catedrais, em caixas-d’água”, afinal, se algum deles era sagrado, seria aquele construído por Deus”.
Admirando a beleza do vale de Hetch-Hetchy, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Muir conseguiu bloquear o projeto por bastante tempo, mas em 1906 os desenvolvimentistas ganharam uma ajuda inesperada. Um enorme terremoto, seguido por um trágico incêndio, destruiu a cidade de San Francisco, matando 3 mil pessoas. A necessidade de uma fonte segura de água para a nova cidade que nasceria dos escombros se tornou imperiosa. Da tragédia, veio a simpatia da opinião pública nacional e nem o velho Muir pode, através de seus artigos, conferências e amizades com ex-presidentes, impedir que o projeto fosse à frente. O seu vale do coração, agora, estaria abaixo de dezenas de metros de água. Poucos anos depois, morreria o patrono de todos os parques nacionais americanos, o líder e figura icônica do movimento conservacionista que nos legou tantas áreas naturais que hoje, mais de um século mais tarde, ainda estão aí, para nosso deleite e admiração.
Chegando à cachoeira de Wapama, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Acho incrível a luta e visão desse homem, tanto tempo atrás. Posso me identificar com algumas das lutas de entidades como o Greenpeace e WWF, mas é para John Muir que eu tiro o chapéu. Uma coisa, de muito mérito também, é lutar pela preservação ambiental em uma época em que isso é o “politicamente correto”, já parte da nossa cultura. A outra é romper um paradigma, um pensamento prevalescente de que a natureza deveria ser domada e colocada ao serviço do homem e da civilização. Foi contra essa “verdade” que Muir se insurgiu. E os parques nacionais americanos estão aí para mostrar a força da sua luta.
De tão gelada, a água até queima, na Wapama Falls, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Pois quis o destino que fosse exatamente no local de sua grande derrota que começássemos nossa visita ao Yosemite. A área de Hetch Hetchy é o maior lago do parque, a represa que, ainda hoje, fornece água limpa para milhões de pessoas na área da baía de San Francisco. Em um primeiro olhar, tudo é lindo, uma paisagem cinematográfica. Apenas depois de ler a história é que ficamos imaginando as belezas escondidas e mortas abaixo da linha d’água. Enfim, uma nova natureza de desenvolveu ao redor do novo lago. Flora, fauna, cachoeiras e montanhas, uma natureza selvagem que impressiona mesmo os mais radicais ecologistas.
A incrível beleza do vale de Hetch-Hetchy, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Hetch Hetchy fica em um canto isolado do parque de Yosemite, bem menos visitado que as atrações principais.. É uma espécie de joia escondida e secreta. Tem sua entrada particular, regras próprias e, se alguém quiser caminhar de lá (não há estradas!) até o Vale de Yosemite, por dentro do parque, são mais de 60 quilômetros de trilhas pelo alto das montanhas. Uma aventura e tanto!
Um dos três bosques de sequoias no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Nós não tínhamos esse tempo, infelizmente. Optamos, então, pela mais popular das trilhas dessa área, uma caminhada ao redor do lago até a Wapama Falls. Passamos por cima da barragem onde diversos painéis explicativos cantam as glórias daqueles que foram inimigos em vida: Muir e os defensores e construtores da barragem. Bem, ninguém pode negar que a barragem, efetivamente, trouxe muito bem à milhões de pessoas.
As raízes de uma sequoia que já caiu há mais de 100 anos no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Logo após a barragem, um grande túnel na rocha nos leva para o início de muitas trilhas. Por aí seguimos, sempre ao lado daquele lindo lago que refletia as enormes montanhas e paredes de pedra ao seu lado. Na trilha, cuidado para não pisar nas fezes de urso negro, muito comuns no parque. Uma hora de caminhada nos levou até a cachoeira e onde encontramos as outras únicas pessoas nesse parte do parque, um casal com dois filhos. Enfim, foi um passeio maravilhoso em meio a uma natureza exuberante. Se pudesse, diria a Muir que sua derrota não foi tão grande assim (fico imaginando a tristeza de Muir ao ver as nossas Sete Quedas sendo inundadas pela represa de Itaipu...)...
Depois de tantos meses, reencontro com as gigantescas sequoias, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Voltamos para a Fiona e aí, pela estrada ao redor do parque, rumamos para a entrada principal. Mas antes de chegar lá, passamos por um dos três bosques no qual crescem as gigantes sequoias. Como sempre, absolutamente divinas! Lá se vão sete meses da nossa visita ao Parque Nacional das Sequoias, um pouco ao sul de Yosemite, também na Sierra Nevada. Tempo mais do que suficiente para nos dar muitas saudades dessas magníficas árvores avermelhadas. Mesmo já tendo visto antes, impossível não se impressionar com seu tamanho. Os pinheiros normais, ao seu lado, parecem meros gravetos!
Um túnel feito em um tronco de uma gigantesca sequoia morta, no Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Em um gigantesco tronco de uma sequoias que já estava morta, mas ainda de pé, construíram um túnel. Por aí, até a primeira metade do século passado, passavam carros! Uma forma de atrair turistas para o parque. Um belo cartão postal que rodou o mundo! Hoje, apenas pessoas passam ali e ver a Ana embaixo da árvore dá uma ideia do tamanho dessa árvore que viveu por milênios.
A primeira visão do imponente El Capitán, a montanha mais conhecida do Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Depois de matar a saudade das sequoias, seguimos para o vale de Yosemite. O dia estava acabando, mas ainda tivemos o nosso momento mágico de entrar no vale justo quando as últimas luzes do sol iluminavam a mais famosa montanha e big wall da Sierra Nevada, ´El Capitán. Uma parede de granito de 900 metros de altura, o “sonho de consumo” de todos os rock climbers do mundo. Vê-la ali, na nossa frente, iluminada pelo sol de fim de tarde, foi fantástico! E emocionante também!
A primeira visão do imponente El Capitán, a montanha mais conhecida do Yosemite National Park, na Califórnia, nos Estados Unidos
Demos uma volta rápida no vale, de carro e, já no escuro, fomos procurar um local para dormir. Muito caro dentro do parque, achamos um lodge algumas milhas para baixo, na estrada. Amanha é o dia de explorar, a pé, uma pequena parte desse fantástico vale, obra-prima da natureza que tem encantado gerações de pessoas, desde o pioneiro Muir até os retardatários e abobalhados integrantes da expedição 1000dias. Mal podemos esperar para acordar...
John Muir no parque que ajudou a criar, o Yosemite National Park, na Califórnia
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