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VICTOR (17/10)
Boa tarde, Prabéns pelo site Tenho frequentado a região de Delfin...
Carol (05/10)
Olá Rodrigo, tudo bem !! Amei suas fotos e dicas. Gostaria de saber o no...
carlos (26/09)
Bom dia, Adirei as dicas, se possível me envia o contato do Sr. da lanc...
Leidiane (17/09)
fabio furlan (14/09)
oLA´! NESTE JANIRO DE ANO 2017 VOU DE CARRO PRA CHAPADA DOS VEADEIRO E D...
Uma magnífica onça nos observa enquanto navegamos no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Nessas nossas andanças pelas Américas, uma das coisas que sempre procuramos é o contato com a natureza. Por isso, fazemos longas caminhadas em parques nacionais, subimos montanhas, mergulhamos em mares e rios, exploramos cavernas, cruzamos matas e desertos. As paisagens são sempre magníficas, em suas formas mais distintas, mas é o encontro com a vida selvagem, os verdadeiros habitantes dessas regiões lindas que visitamos, que nos dá a sensação verdadeira de estar ainda mais perto da natureza. Afinal, são eles que vivem ali há milhares de anos e encontrá-los nos deixa ainda mais perto do que era o mundo antes de chegarmos por aqui. São sempre encontros marcantes e inesquecíveis.
Pegada de onça em praia do Rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Emoção ao avistar nossa primeira onça em barranco no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Normalmente, são os encontros com os bichos “grandes”, sempre em seu habitat natural, os mais emocionantes. Assim foi com as diversas espécies de tubarões no mar do Caribe e, mais ainda, com os gigantescos tubarões-baleia em Galápagos. Assim foi com golfinhos em Noronha e com baleias no México e no Alaska. Assim foi com tartarugas gigantes em Galápagos e Nicarágua ou com uma enorme sucuri na Venezuela. Assim foi com ursos e alces no Canadá e no Alaska. Esses e muitos outros encontros fizeram a nossa viagem pelo continente muito mais emocionante, interessante e verdadeira.
Onça descansa em praia no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Mas há um tipo de animal que vinha nos despistando desde o início da viagem, por mais que o procurássemos: os grandes felinos. Basicamente, aqui na América temos duas espécies desses maravilhosos animais, que recebem os mais diferentes nomes conforme a região. O maior deles é a onça pintada, também conhecida por jaguar em todos os países de língua espanhola. O outro é o puma, cougar ou onça parda, nome dado aqui no Brasil. As duas espécies habitavam originalmente da Argentina aos Estados Unidos, embora já tenham sido extintos em muitas regiões, desde a chegada do homem branco.
Onça nos observa em praia no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Embora no Brasil as duas espécies sejam chamadas de “onças”, elas são apenas parentes distantes, pertencendo inclusive a gêneros distintos. A onça parda é do gênero “puma” e não sabe rugir. Já a onça pintada é do gênero “panthera”, o mesmo de tigres, leões e leopardos, os maiores gatos do mundo. Assim, é correto dizer que nossa onça pintada está muito mais próxima de um tigre asiático ou leão africano do que da sua vizinha onça parda. Esses dois animais convivem em muitas partes, mas a onça pintada é mais forte, alimenta-se de animais maiores e tende a afastar a onça parda de seu território. Já a onça preta, ou pantera, é apenas uma onça pintada de pele escura, uma variação genética que pode ocorrer até mesmo entre irmãos, assim como na espécie humana irmãos nascem com olhos claros ou escuros, filhos dos mesmos pais.
Uma magnífica onça nos observa enquanto navegamos no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Um enorme bocejo de onça em barranco no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Em vários pontos da nossa viagem, estivemos em territórios desses dois animais. Chegamos a ver muitas pegadas de onças pardas, seja no Vale do Ribeira, seja num parque americano, mas isso foi o mais perto que chegamos deles. No Yucatán e na Guatemala, os jaguares estavam ali, pertinho, mas não os vimos. Na Península de Osa, na Costa Rica, por questão de meia hora perdemos a chance de ver um puma, que muitos outros turistas no mesmo parque puderam ver e fotografar. Ele ficou ali, parado, posando para fotos, mas nós íamos por outra trilha. Mais recentemente, na Amazônia, na reserva do Mamirauá, encontramos um especialista em onças pintadas, que nos ensinou muito sobre o animal, mas não tivemos a chance de sair com ele e seu radio transmissor para encontrar um desses vistosos animais dependurado em um galho da floresta alagada.
A incrível beleza da pele de onça, em barranco do rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Uma magnífica onça nos observa enquanto navegamos no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Enfim, apostávamos todas as nossas fichas em ter esse “encontro” aqui no Pantanal Norte que, nessa época do ano, é o melhor lugar do mundo para se avistar uma onça pintada. Esse fato se tornou ainda mais real para nós quando, alguns dias atrás, cruzamos e conversamos com outros turistas na trilha das cachoeiras, na Chapada dos Guimarães. Eles estavam vindo daqui e tinham presenciado uma cena incrível: uma onça caçando um jacaré! Se tivessem apenas nos contado, ficaria meio desconfiado, mas o felizardo conseguiu fotografar toda a cena, a onça se aproximando sorrateiramente pelas costas, em uma praia do rio, e avançando sobre o jacaré. A luta não demorou muito, o jacaré de porte médio, quase cem quilos, sem nenhuma chance. A onça vitoriosa ainda carregou sua presa para o outro lado do rio. Tudo isso numa incrível sequência de fotos que nos deixou com a mais pura e positiva inveja.
Uma onça ruge para nós no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Pois bem, essa era a nossa chance! Por isso, não titubeamos em pagar o passeio de barco pelo rio Cuiabá. Com as águas mais baixas, aparecem praias e barrancos nas margens e é aí que se veem os animais, inclusive as onças. Nós ficamos no conforto e segurança do barco e podemos nos aproximar até poucos metros desses enormes felinos, se eles assim o permitirem. Os barqueiros já sabem onde esses encontros tem mais chance de ocorrer, pelo histórico dos últimos dias. Além disso, falam-se constantemente, ao longo do dia, para trocar informações, formando uma verdadeira rede.
Um enorme bocejo de onça em barranco no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Mesmo sabendo de tudo isso e também de todo o histórico de onças dos dias anteriores, a gente fica sempre com medo que hoje não seja o dia. Há casos de pessoas que tem a sorte de ver até 10 onças na mesma jornada, mas há o caso daqueles que não veem nenhuma! É sempre aquela questão de estar no lugar certo na hora certa. O que diferencia o Pantanal nessa época do ano, principalmente aqui no norte, é que há mais “lugares certos e horas certas”. Nossa chances são maiores.
A inconfundível silhueta de uma onça entre as folhagens de um barranco no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Onça nos observa em praia no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Então, todos disfarçávamos a tensão até que, enfim, depois de mais de uma hora no rio, veio a notícia dada por um outro barqueiro: há uma onça na margem esquerda algumas curvas a frente. O Tatu, nosso barqueiro, acelera para lá enquanto a gente parece não acreditar que seja mesmo verdade. Até que os olhos treinados do Tatu a localizam, ele nos indica onde ela está e nós vemos, com os próprios olhos, o elusivo animal. É mesmo uma onça, enorme, linda, imponente, senhora de si, sagrada. Como diz o anúncio, a primeira onça, a gente nunca esquece!
Onça macho descança ao lado de onça fêmea em barranco do Rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Depois da primeira, ficamos mais relaxados. O que vier agora, é lucro. Bom, se pensarmos dessa maneira, posso dizer que ficamos milionários hoje! A segunda onça estava muito mais próxima, e essa pudemos nos aproximar e fotografar à vontade. Ela ficou ali, posando para fotos, bocejando, abrindo sua enorme boca, nos mostrando a língua e até rugindo um pouco, coisa que só as espécies do gênero panthera sabem fazer. É um animal enorme, que pode chegar aos 150 quilos! É menor que leões e tigres, mas é maior que o leopardo. Em compensação, tem a mordida mais forte na sua família, deixando tigres e leões para trás. Por isso, é o único felino que também costuma matar suas presas mordendo diretamente o crâneo, transformando-o em pedacinhos. Leões, tigres e leopardos preferem morder o pescoço, sufocando a vítima. A onça também sabe fazer isso, dependendo do tipo de presa. Para outras menores, como cães, basta um tapa para matar, nem precisando usar a potente mandíbula.
Onça macho descança ao lado de onça fêmea em barranco do Rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Aliás, vendo de perto esse animal, deu para ver que a chance que uma pessoa teria contra ela é absolutamente zero. Ela corre mais, nada mais, sobe melhor em árvores e é muito mais forte. Nós estaríamos na classe dos cães, um simples tapinha para nos mandar dessa para melhor. Felizmente para nós, elas parecem gostar de cachorros, mas não de seres humanos. Os casos de ataque a pessoas geralmente estão relacionados a defesa de filhotes ou a indivíduos velhos e desdentados, já sem forças para caçar presas normais. É o desespero da fome que os levar a baixar seu nível de paladar.
Onça macho descança ao lado de onça fêmea em barranco do Rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Ao longo do dia, tivemos vários outros encontros. Foram seis encontros no total, em praias ou barrancos. Num deles, vimos apenas a silhueta entre as folhagens, graças aos olhos treinados do Tatu. Mas quando ele nos aponta, fica inconfundível! Espero nunca ter esse encontro em terra firme, hehehe. Numa hora dessas, não podemos correr. A tática é levantar os braços, para parecer maiores, falar com firmeza, não tirar os olhos do animal e andar vagarosamente de costas, afastando-se aos poucos. Mas, mais do que tudo, reze! Pois se ela quiser te pegar, vai ficar difícil. Por sorte, na grande maioria das vezes, a onça se desinteressa e segue em caminho contrário.
Casal de onças "namora" em barranco do Rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Dois dos encontros foram os mais especiais. Num deles, não havia uma, mas duas onças! Era um macho e uma fêmea e nós pudemos observar o namoro entre eles, a famosa “corte”. A fêmea fazia-se de desinteressada, mas não ia embora. O macho a rodeava, brincava um pouco com ela e se afastava. Alguns minutos de descanso e voltava à carga. Nós estivemos nesse lugar por três vezes, num período de quase duas horas. Pelo visto, o pobre macho tem de ser bem paciente enquanto a fêmea faz doce, hehehe.
Ainda despercebida, onça avança sobre grupo de capivaras em barranco no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
O outro encontro foi ainda mais especial, o ponto alto do dia, da semana e do mês. Tivemos a chance de ver uma caçada! Do outro lado do rio, observamos com perfeição toda a ação, que durou uns poucos minutos. Uma família de capivaras estava no alto do barranco, descansando na sombra. A poucos metros dali, uma enorme onça espreitava, se aproximando silenciosamente. Nós víamos tudo, coração na mão e tentando abafar o barulho até da respiração. Uma parte da mente torcia para ver o ataque e sucesso da onça enquanto o outro queria, desesperadamente, avisar as pobres capivaras do perigo iminente. Nossa, o que fazer? Na dúvida, câmera e filmadora nas mãos, prontos para registrar tudo.
Ao perceberem a chegada da onça, capivaras se atiram no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
De repente, uma capivara se levantou, preocupada. Ela não sabia de onde vinha o perigo, mas sabia que estava por lá. Começou a emitir sons altos, quase um latido. Algo que nunca tinha visto, mesmo depois de já ter visto milhares de capivaras por toda a América. As outras capivaras se levantaram também enquanto a onça continuava a se aproximar, sem ruídos, escondida pelas folhagens.
Ao perceberem a chegada da onça, capivaras se atiram no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Onça observa capivaras se jogarem no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Foi a hora do bote. A onça avançou em disparada os poucos metros que restavam, mas as capivaras tiveram tempo de se atirar ao rio, um salto de cinco metros de altura, toda a família em uníssono. Muita poeira se levantou, filtrando os raios de sol que já eram filtrados pela folhagem acima. A onça ficou um pouco confusa enquanto as capivaras se estatelavam nas águas do rio. Elas trataram de afundar e só reaparecer muitos metros adiante, enquanto a onça perdeu segundos preciosos pensando se pulava atrás delas ou não. No fim, desistiu, reconheceu a derrota e voltou para a mata. O Tatu nos disse que já viu onças pularem no rio e alcançarem as capivaras, mas essa avaliou que tinha perdido muito tempo. Não valia o esforço.
Onça observa capivaras escaparem de seu ataque em barranco no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Fugindo de onça, capivaras nadam no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Para nós, foram vários segundos sem respirar, segundos que pareceram uma eternidade, o drama da vida passando em frente aos nossos olhos. Momentos que fizeram anos de procura valerem a pena. Tivemos a chance de ver um ataque e, ao final, entre mortos e feridos, salvaram-se todos! Na hora de ir embora, ainda passamos ao lado do grupo de capivaras, já no lado de cá do rio. Se nós estávamos excitados, imagina elas! Podia-se ver nos olhos. Tinham nascido novamente! Prontas para mais um dia de vida dura. Não deve ser fácil viver sabendo que, a qualquer momento, você pode virar comida de onça. De alguma maneira, esse medo ainda está escrito nos nossos códigos genéticos, afinal, foram duzentos mil anos fugindo dos grandes gatos nas planícies africanas. Hoje, deu para sentir de perto esses genes perdidos que todos carregamos desde então.
Do outro lado do rio Cuiabá, capivaras respiram aliviadas depois de escaparem de ataque de onça, na região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
Enfim, voltamos para o hotel no fim do passeio plenamente satisfeitos. Tínhamos conseguido muito mais do que imaginávamos. O dia perfeito no Pantanal. Uma experiência que nunca mais esqueceremos, um momento que se destaca mesmo entre os tantos que vivemos todos os dias nessa jornada maravilhosa pelas Américas.
Onça observa capivaras se afastarem no rio Cuiabá, região de Porto Jofre, no final da rodovia Transpantaneira, no Pantanal Norte, no Mato Grosso
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