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Flavia (04/01)
Flavia (04/01)
Flavia (04/01)
Vinícius (30/12)
Po vocês são muito doidos de ir pra Groelândia ,mas to achando incrív...
Andreza (28/12)
Parabéns pelo site, Rodrigo e Ana. Confesso que descobri a pouco tempo e...
A moderna Catedral de Manágua, capital da Nicarágua
Atravessamos a Isla Ometepe hoje cedo em tempo de pegar o ferry das 09:00 da manhã, já com reserva antecipada para garantir o disputado espaço para a Fiona. De "volta" ao continente, era tempo de seguirmos ao norte do país. Passamos ao lado da histórica Granada, mas resolvemos deixá-la para a volta, daqui a uns 7-8 meses. A nossa primeira parada estava programada para a capital Manágua.
Bandeiras do país e da FSLN tremulam em Manágua, capital da Nicarágua
Durante boa parte da história do país, as duas mais importantes cidades da Nicarágua eram Granada e León. De tendências políticas opostas, elas disputavam continuamente o poder no país, conservadores contra liberais, muitas vezes levando a nação à guerra civil. Finalmente, em meados do século XIX, numa resolução por compromisso, as duas forças políticas aceitaram que a capital fosse transferida para uma terceira cidade, a pequena e pacata Manágua, situada entre León e Granada.
Estátua de revolucionário em Manágua, capital da Nicarágua
A tranquila vila logo cresceu para se tornar a maior cidade da Nicarágua, com um belo centro histórico,segundo relatos da época. Temos de nos fiar nesses "relatos" porque esse centro foi completamente destruído por um grande terremoto seguido por incêncio no final da década de 20 do século passado. Sobre as cinzas um novo centro foi construído, com o árduo esforço dos cidadãos de Manágua. A cidade era uma das mais dinâmicas da América Central quando um novo e devastador terremoto botou tudo abaixo, em 1972.
O grande lago de Manágua, capital da Nicarágua
Enquanto o ditador Somoza soube aproveitar a desgraça para faturar milhões com a especulação imobiliária que se seguiu a tragédia, com novos bairros sendo criados em locais mais "seguros", cientistas advertiam que uma nova reconstrução do centro estaria fadada a ser destruída por novos terremotos. Assim, essa área central foi deixada como área livre de novas construções, um lembrete da força destrutiva da natureza, passada e futura. A antiga Catedral, interditada desde então, é a lembrança viva deste fato.
Silhueta gigante de Sandino, líder revolucionário do país (em Manágua, capital da Nicarágua)
Resolvemos aproveitar as facilidades de um trânsito dominical para passarmos algumas horas na capital nicaraguense. Começamos nossa visita pela Laguna Tiscapa, uma antiga caldeira de vulcão em pleno centro de Manágua. Ali do lado, num promotório, a gigantesca silhueta de Sandino, o reverenciado herói nacional, observa toda a cidade. Com menos de 40 anos ele liderava um exército que por anos enfrentou os marines americanos sem se deixar capturar. Seu nome se tornou uma legenda na época, tanto na América Central como em todo o mundo. Comunistas da URSS ao México o glorificavam. Finalmente, com a saída dos gringos do país, Sandino estava negociando um acordo com o presidente liberal da época. Mas ao sair do palácio governamental após uma sessão de negociação, foi capturado pela Guarda Nacional de Somoza (o pai, fundador da dinastia) e morto em seguida. Pouco depois o presidente seria derrubado em um golpe e mais de 40 anos de feroz ditadura seguiriam. Fico imaginando o que diziam os livros de história da Nicarágua sobre essa interessantíssima figura (Sandino) na época em que a família Somoza ainda reinava no país...
Fotos de duas reverenciadas personagens do país: o poeta Dario e o revolucionário Sandino (em Manágua, capital da Nicarágua)
A moderna Catedral de Manágua, capital da Nicarágua
Bom, daí seguimos para a moderna Nova Catedral de Manágua, uma construção meio com cara de Niemayer. Aliás, Manágua lembra Brasília, muitas avenidas e poucas esquinas. Uma parada para fotos e rápida caminhada pelo enorme prédio e continuamos nosso tour para o antigo centro, a antiga Catedral ainda torta desde o terremoto de 72.
A antiga Catedral de Manágua, semi-destruída pelo grande terremoto de 1972 em Manágua, capital da Nicarágua
Ali do lado, em frente ao enorme e poluído Lago de Manágua, o Puerto Salvador Allende, com restaurantes e bares à beira d'água. Entre estátuas e textos homenageando o antigo presidente chileno, além de Sandino e do poeta Dario, tivemos uma agradável refeição, admirando ao longe, do outro lado do lago, o cone vulcânico mais perfeito da América Central, do vulcão Momotombo. Local concorrido pela classe média da capital num domingo de tarde, éramos os úncos turistas à vista, o que tornou o passeio ainda mais interessante.
Clima de natal em Manágua, capital da Nicarágua
De estômagos cheios, demos adeus à politizada capital e seguimos para León, quase 100 km ao norte, nosso destino final hoje. Seguimos pela estrada velha, um pedaço dela de terra, quase sem movimento, se desconsiderarmos bovinos e equinos. Devagarzinho chegamos à antiga capital do país, um dos berços do sandinismo honrando suas centenárias tradições liberais. Instalamo-nos no Lazy Bones e ainda fomos passear, pela noite, pelas históricas ruas do centro da cidade. O nosso primeiro gostinho dessa bela cidade foram a decoração natalina da praça central e a enorme catedral, a maior da América central, iluminada para a noite
A Catedral de León, norte da Nicarágua, a maior da América Central
Amanhã devemos ficar aqui no centro mesmo, passeando pela cidade, seus museus e igrejas. E quando cansarmos ou ficarmos com preguiça, estaremos sempre perto do Lazy Bones, estrategicamente posicionado entre as principais atrações e prédios históricos.
Clima natalino: presépio na praça central de León, norte da Nicarágua
Frequentador do boteco em Orominas, pequeno povoado na região de Nova Roma - GO
Segunda-feira, nosso último dia em Curitiba! Muito importante, por sinal! O passaporte, junto com o resto do dossiê, seguiu para São Paulo. Amanhã será entregue no consulado. Tivemos também uma importante reunião com os fornecedores do site. Tudo acertado para a "próxima" etapa! De tarde, o primeiro filme (cinema) de qualidade nos últimos 500 dias! Já não era sem tempo, portanto. Meia Noite em Paris é ótimo! Principalmente para os nostálgicos como eu... E de noite, vinho e pizza na casa da Dani e Dudu, com muitas brincadeiras com a sobrinha maravilhosa e risonha, a Luiza
Amanhã, de volta à estrada, em direção à Urubici, em busca de gelo e neve. E aí, volto à rotina do blog, com relatos e fotos do dia. Hoje, portanto, faço a última homenagem. Dessa vez, às pessoas que encontramos nesses 450 dias de périplo pelas américas...
Sarah e Daniel, casal super atuante na comunidade!
Sarah e Sarah, em North Caico. Esse casal é show!
O típico vaqueiro do sertão, saído de algum livro de Guimarães Rosa
Vaqueiro no Vale do Peruaçu, próximo à Januária - MG
Muito orgulhoso de de suas cocadas. Quem não estaria?
Vendedor de cocadas em Itacaré - BA
O arquétipo da baiana!
AS Baianas, em festa de rua em Cachoeira, no Recôncavo Baiano - BA
Imagina a história de vida!
Passageiro em viagem pelo Rio Preguiças, entre Barreirinhas e Atins, nos Lençóis Maranhenses (MA)
Sabe tudo de pescaria!
Seu Domingos e sua pescaria, na praia da Ilha de Lençóis, nas Reentrâncias Maranhenses - MA
Felicidade em Cayenne
Fantasia de carnaval em Cayenne, na Guiana Francesa
Personagem tipicamente caribenho!
Socializando com o cozinheiro do Lion's Punch, bar em Cockleshell Bay, em St. Kitts, no Caribe
Tem mais flamenguistas no norte do que no Rio...
Explosão de alegria com a vitória do Flamengo! (em Presidente Figueiredo - AM)
Difícil saber quem entende mais de peixe...
Visitando o mercado de peixes em Manaus - AM
As mulheres são liiiindas!!!
Com a Januária, na Comunidade do Engenho, na Chapada dos Veadeiros, região de Cavalcante - GO
Com a Olga e o Alexandre em Maragogi - AL
De volta à pousada, a gente se despediu da Olga e do Alexandre, esses dois valentes viajantes septuagenários que continuam a rodar o mundo em busca de aventuras e conhecimento. Esperamos chegar lá com a mesma saúde e disposição!
Piscina da pousada Mariluz em Maragogi - AL
Depois, uma horinha na piscina que ninguém é de ferro. Aí, com a roupa e a cara lavadas, partimos rumo ao sul. Roupa lavada? Sim, a pousada também é uma lavanderia, com ótimos preços. Fizemos a festa! Ainda antes de partimos, passamos no restaurante mais tradicional de Maragogi, o Frutos do Mar, para nos despedir do Betinho, filho do fundador. Ele tinha visto nosso carro na rua, entrou no site e adorou. Quando chegamos das Galés, ele nos recebeu na praia, nos tratando pelo nome! Foi jóia! Ele nos contou que foi seu pai que, no início da década de 90, começou a levar pessoas para as Galés, aqueles que almoçavam em seu restaurante. O negócio for crescendo, assim como o tamanho dos barcos e catamarãs. Hoje, virou a indústria que é, transformando Maragogi no principal ponto turístico do norte do estado. E o Frutos do Mar continua lá, para mostrar onde tudo começou.
Esperando a balsa em Porto de Pedras - AL
Finalmente, pé na estrada. O caminho litorâneo entre Maragogi e Maceió passa por várias pequenas vilas, sempre com aquele mar verde esmeralda ao lado. Não é uma estrada rápida, mas com lindas vistas. Um obstáculo é cruzarmos o rio em Porto de Pedras. A ponte ali já foi construída várias vezes (paga!), mas nunca saiu do papel. Uma minúscula balsa faz o trajeto, de quatro a seis carros por viagem. Tivemos que esperar um pouco, mas conseguimos.
A Fiona aguarda a balsa chegar, em Porto de Pedras - AL
A fome foi apertando, mas onseguimos chegar até a Barra do Camaragibe, outra vilazinha. Ali comemos de frente à praia, bem no finalzinho da tarde. Barriga cheia, seguimos até Maceió, no hotel Íbis, onde conseguimos reservar duas noites. A noite do natal já estava lotada! Para garantir, a Ana reervou a nossa noite natalina na histórica cidade de Penedo. Assm, na rua não ficamos!
Encontro do rio com o mar em Porto de Pedras - AL
Foi uma pena termos passado tão rapidamente por esse litoral de águas tão verdes. Há pousadas caras no caminho e, para que tiver a chance e o bolso, certamente é uma boa pedida: uma infinidade de coqueiros, sol quase o ano inteiro, praias sossegadas, mar verde esmeralda com águas mornas. Dá para reclamar?
Pôr-do-sol na Barra do Camaragibe - AL
Café da manhã chique, ao som de marimba, em hotel de Antigua, na Guatemala
Depois da madrugada esticada de ontem, a primeira do ano, levantamos quase no horário-limite para podermos usufruir do meu valioso prêmio faturado na rifa do hotel onde fizemos a ceia. Ganhamos duas “entradas” para o famoso “desayuno dominical” do Hotel Camino Real, aberto até às onze da manhã.
Café da manhã em hotel de Antígua, prêmio ganho em rifa na noite de reveillon (Guatemala)
Lá estávamos na porta do Hotel Cinco estrelas ainda no tempo regulamentar, quase indo para a prorrogação. Não fomos os últimos, percebemos. Também, primeiro dia do ano, todos merecemos dormir um pouco mais! Café da manhã muito bom, buffet cheio de frutas e pães, cozinheiros preparando panquecas e waffles, garçons nos trazendo sucos. E, além dessa mordomia toda, uma banda de música de marimba tocando ao vivo. Quase que um café da manhã dançante!
Café da manhã em hotel de Antigua, na Guatemala
Depois dessa saúde toda, voltamos para o nosso hotel para transferir nossa bagagem para o novo hotel, aquele com um quarto delicioso. Tão joia que, aliado ao nosso cansaço da noite da virada, foi o maior estímulo para que passássemos boas horas da nossa tarde ali, descansando, dormindo e até trabalhando um pouquinho. Aproveitamos também para definir o nosso roteiro aqui na Guatemala.
Nosso roteiro na Guatemala
Amanhã, será dia de explorarmos algum dos vulcões que cercam Antigua. Aproveitamos para dormir mais um dia no nosso quarto aconchegante. Depois, viagem para Semuc Champey, um dos mais bonitos lugares do país. De lá vamos ao famoso lago Atitlán e finalmente à Xelá, apelido da cidade de Quetzaltenango. Será a última parada antes de seguirmos ao México. As ruínas de Tikal ficam para o nosso retorno, quando entraremos no país vindos de Belize.
Ruas tranquilas no primeiro dia do ano em Antigua, na Guatemala
No final do dia ainda fomos dar uma volta na charmosa Antigua, à pé. Muito mais tranquila do que ontem, já que todos os capitalinos já haviam retornado à Cidade da Guatemala. Jantamos uma deliciosa massa italiana (é difícil comer mal nessa cidade!) e voltamos para nosso hotel. Amanhã, chega de moleza e pé na trilha. Vamos em busca de um vulcão ativo!
Banho de sol na manhã do primeiro dia do ano em Antigua, na Guatemala
Sobrevoando a magnífica Kaiteur Falls, na Guiana
Sem dúvida nenhuma, a maior atração natural da Guiana atende pelo nome de Kaiteur Falls. É uma incrível cachoeira bem no meio de uma região montanhosa, em plena amazônia guianesa. Centenas de milhares de litros de água despencando a cada segundo num precipício com cerca de 250 metros de altura são uma visão que merece todo o esforço para se chegar até lá e que poucas pessoas conseguirão esquecer. Muitos, até, acham essa cachoeira ainda mais impressionante que Niagara Falls, nos EUA/Canadá, Vitória, na África e Iguaçu, no Brasil/Argentina.
Sobrevoando Georgetown e seu cinturão verde, na Guiana
Há duas formas de se chegar à esta maravilha da natureza. A primeira, com mais aventura, é indo por terra e caminhando e subindo rios numa excursão que leva de quatro a cinco dias. A volta, inclusive, é de avião. A outra é pegar um aviaozinho em Georgetown, voar por cerca de uma hora e pousar logo ao lado de Kaiteur Falls, com direito a sobrevôo da cachoeira. As duas maneiras são organizadas por agências, e ficamos sempre à mercê de um grupo. Infelizmente, não se chega lá de forma independente.
No pequeno avião, à caminho de Kaiteur Falls, na Guiana
Nós, já tão atrasados na nossa programação, escolhemos a forma mais rápida e prática: de avião. O problema é que ficamos completamente dependentes da agência e da companhia aérea. A primeira tem de conseguir encher o avião, senão ele não sai. A segunda, como todas as companhias aéreas, tem todo o poder na mão. Saem se e quando quiserem. Um inferno!
O avião que nos levou à Kaiteur Falls, na Guiana
Assim, o nosso vôo que era para ter saído à uma da tarde, foi atrasando, atrasando até que, finalmente, saiu um pouco antes das três. Graças à Deus. Porque se fosse adiado para amanhã, e quase foi, vários dos outros viajantes teriam desistido e aí, duvido que haveria clientes o suficiente. E nós teríamos de deixar a Guiana sem conhecer essa maravilha. Por falar em outros viajantes, os únicos estrangeiros de hoje éramos eu e a Ana. Aliás, nos nossos dois dias em Georgetown, não vimos mais nenhum estrangeiro. Bem diferente do Suriname, cheio de holandeses, e do Caribe, onde se vê mais estrangeiros do que locais...
Maravilhados com o esplendor de Kaiteur Falls, na Guiana
Bom, depois de muita reza forte, a companhia aérea arrumou um avião e partimos os treze turistas para a cachoeira. No caminho, um belo sobrevôo de Georgetown e do interior da Guiana. Típica paisagem amazônica, uma mata de se perder de vista e muitos rios, largos e caudalosos. Chegando perto do nosso destino, as montanhas aparecem, majestosas, sobre e infinita planície. Também elas verdes, cobertas pela mata.
Visitando Kaiteur Falls, na Guiana
E aí, no meio delas, aparece a incrível cachoeira! Kaiteur Falls, um nome que já andava pela minha cabeça desde que comecei a ler sobre as Guianas, no início da viagem. Finalmente estava ali, na minha frente, poderosa, cinematográfica. O nosso avião ainda fez dois sobrevôos dela, para delírio dos passageiros. Depois, pousou numa pequena pista de pouso quase ao lado dela.
Observando de perto Kaiteur Falls, na Guiana
Fomos recebidos por um guia local que, sem mais delongas, nos conduziu à três mirantes para se observar a cachoeira. Todos possibilitam visões incríveis e cada vez mais próximas dessa impressionante queda d'água. Infelizmente, pelo atraso do vôo, tivemos de fazer tudo às pressas. Mas deu para tirar muitas fotos e se deixar maravilhar pela cachoeira e a natureza ao seu redor.
O vasto canyon formado pela kaiteur Falls, na Guiana
Decolamos de volta para casa no último minuto possível. O avião não pode viajar de noite. Na volta, observando aquela vastidão lá embaixo, não pude deixar de lembrar que, amanhã, estaremos cruzando tudo isso de carro, com nossa querida Fiona. A estrada que liga Georgetown ao Brasil atravessa boa parte do país, em direção sudoeste, cruzando florestas e savanas. A maior parte da estrada é de terra e dizem que são 16 horas de viagem. Nós devemos começar um pouco depois das cinco e nossa idéia é dormir um pouco depois da metade do caminho, perto de uma reserva natural. No dia seguinte, sexta, chegamos à Lethem, onde está haveno um grande rodeio, e cruzamos para o Brasil. Será que vai dar certo nossa programação? Veremos... Internet, no caminho, nem pensar. Combustível, melhor levar todo daqui. Assim com água e comida, para alguma emergência. E vamos que vamos...
Região de kaiteur Falls, na Guiana
A primeira igreja da cidade, ainda dos tempos espanhóis, em Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos
Los Angeles, assim como várias das cidades costeiras da Califórnia, nasceu espanhola, mais uma missão franciscana nos limites da colônia para evangelizar a população indígena e garantir o povoamento e a segurança na fronteira norte da Nova Espanha (o Mèxico). O ano era 1781 e o nome de batismo, “La Reyna de Los Angeles”. Nascia assim a segunda maior cidade dos Estados Unidos enquanto, do outro lado do continente, na costa atlântica, uma nova nação travava uma guerra sangrenta para se livrar do jugo colonial.
Chegando ao pequeno downtown de Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos
Quarenta anos mais tarde, quando foi a vez do México se libertar da Espanha, a pequena Los Angeles ainda contava apenas com 600 habitantes. Não obstante, foi escolhida para ser a capital do estado da Alta California, o que gerou novo impulso de crescimento. Uma geração mais tarde e a guerra entre as duas jovens nações americanas terminaria de forma catastrófica para o México, que perdeu quase metade de seu território, enquanto os Estados Unidos se transformavam em uma nação continental. Entre suas novas posses, o atual estado da California e a futura megalópole de Los Angeles.
Enfrentando as congestionadas freeways de Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos
A chegada da ferrovia à cidade e a descoberta de petróleo nas imediações deram nova força ao crescimento de Los Angeles, que ultrapassou a marca de 100 mil habitantes na entrada do século XX. Nas primeiras décadas do século, um quarto do petróleo mundial era produzido na Califórnia, todo o movimento da indústria sendo capitalizado para a grande metrópole. Mas seria uma outra indústria, a do cinema, que marcaria para sempre a vida e a economia da cidade.
O belo prédio da Union Station, a estação de trens de Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos
Em 1920, nada menos de 80% da indústria mundial de cinema se concentrava nas cercanias de Hollywood, o mais novo bairro incorporado de Los Angeles. Foi o dinheiro gerado e movimentado por ela que ajudou Los Angeles a atravessar de maneira mais ou menos incólume a Grande Depressão que se abateu sobre o resto do país. Mas a crise econômica também acabou fazendo suas vítimas por aqui. Como sempre ocorre em todos os lugares do mundo, num momento de dificuldades, é preciso achar algum culpado, geralmente alguma minoria étnica. Aqui, os “culpados” foram a larga população hispânica, a maioria da qual já vivia na cidade há mais de um século. Afinal, Los Angeles havia nascido espanhola e crescida mexicana. Dezenas de milhares de pessoas, muitas delas de famílias radicadas na cidade há gerações, foram simplesmente deportadas para o México, sem nunca mais poder retornar. Mais uma das grandes injustiças cometidas na construção de um grande país...
O pomposo interior da Union Station, no centro de Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos
Mesmo com essa expulsão sumária de seus antigos moradores, a cidade ultrapassou o milhão de habitantes em 1930, um pouco antes de receber as Olimpíadas de 1932, a primeira a se converter em um sucesso comercial. A cidade continuou a se expandir horizontalmente, uma decisão sensata para uma área tão afeita a terremotos. O último deles foi em 94, causando mais de 70 mortes. Por isso, até hoje, para uma aglomeração urbana que supera os 10 milhões de habitantes, a concentração de prédios altos é surpreendentemente pequena, uma minúscula ilha de arranha-céus em meio a um mar de construções de poucos andares.
O pomposo interior da Union Station, no centro de Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos
Hoje foi o nosso dia de dar uma olhada nessa história, onde a cidade nasceu e esse “ridículo” centro financeiro. Uso a palavra “ridículo” no sentido do tamanho, quando nos lembramos dos prédios de Manhatann ou Chicago. Já passamos aqui nos EUA por cidades vinte vezes menores que Los Angeles, mas com um downtown com mais prédios do que ela.
Olvera Street, no centro da histórica Los Angeles espanhola (Los Angeles, na Califórnia - Estados Unidos)
Enfim, para chegar até lá, finalmente tivemos o gostinho de suas freeways engarrafadas. Mas, para quem está acostumado com São Paulo, não dá para reclamar, não! Alguns poucos minutos parados e já estávamos no centro, procurando algum estacionamento. Outros minutos e já caminhávamos pelas praças e ruas da antiga Los Angeles mexicana, simpaticíssima e com cara de cidade do interior. Mais uma bela surpresa que essa metrópole reservou para nós, para ajudar a compor esse verdadeiro quebra-cabeça infinitamente mais complexo e interessante do que o jeito simplista que eu imaginava a cidade.
Comércio no Pueblo de Los Angeles, centro histórico da cidade, na Califórnia - Estados Unidos
Começamos nosso tour pela pomposa Union Station, a principal estação de trem da cidade e do estado, cenário de diversos filmes de Hollywood. Foi a última grande estação de trem a ser construída no país e caminhar por seus grandes salões nos transporta para outra época. É também um lugar interessante para acompanhar o movimento da cidade, já que por lá transitam milhares de pessoas diariamente, vindas de todo o país, mas também pela própria cidade, já que ela está conectada com o sistema de metrô. Aliás, aqui foi o mais perto que chegamos do metrô da cidade que, em escala e alcance, se compara ao downtown, cabendo o mesmo adjetivo que usei acima para definir a aglomeração de prédios da cidade.
A mais antiga casa do Pueblo de Los Angeles, centro histórico da maior cidade da Califórnia - Estados Unidos
Depois da estação, fomos passear pelas ruas e ruelas da Reyna de Los Amgeles. A sensação era de se estar mesmo no México. Pelo menos hoje, não haviam por lá muitos turistas e o clima era de total tranquilidade. A rua principal é a Olvera St., toda rodeada de restaurantes mexicanos (claro!). Ali jantamos e nos regozijamos com aquele clima de interior. Tinha até uma orquestra tocando, para delírio das velhas senhoras que passavam por ali.
Orquestra e ouvintes na rua Olvera, a principal do Pueblo de Los Angeles, centro histórico da maior cidade da Califórnia - Estados Unidos
A rua desemboca na Plaza de Cultura y Artes, onde ocorriam festas típicas mexicanas de celebração do fim do ano. Aí também passamos um bom tempo vendo as crianças participarem das brincadeiras organizadas, observados por orgulhosos e felizes familiares. A língua mais ouvida era o espanhol e parecia mesmo que aquela terrível guerra de 165 anos atrás não havia ocorrido, que a cidade ainda era parte do estado da Alta California.
Menino participa de Piñada, brincadeira típica mexicana, em festa organizada no Pueblo de Los Angeles, centro histórico da maior cidade da Califórnia - Estados Unidos
Hora de voltar para casa, passando ao lado do estádio/ginásio do Lakers, uma verdadeira instituição aqui na cidade. Já temos compromisso marcado ali, amanhã. Compramos ingressos para um jogo da NBA onde os Lakers vão receber os Bobcats. Será o gran finale de um dia que promete muitas explorações pela cidade. É aquele dia extra que resolvemos ficar em Los Angeles e que há de valer a pena!
Jantando em restaurante no Pueblo de Los Angeles, centro histórico da maior cidade da Califórnia - Estados Unidos
Região montanhosa ao redor do El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Depois da praia de ontem, hoje era dia de montanha! É essa variação que tentamos sempre fazer para tornar nossa viagem mais interessante. Um dia na cidade, outro na praia, outro na montanha, outro embaixo d'água, e assim vamos driblando a rotina.
Pequena casacata na trilha para subir o El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Resolvemos subir a segunda montanha mais alta da ilha e do país, o El Tucuche, com 936 metros de altura. Ligeiramente mais baixo que o Cerro del Aripo, mas muito mais bonito. Chegamos a sondar a possibilidade de tentar chegar lá sozinhos, mas logo percebemos que um guia com seu próprio transporte seria muito mais prático. Assim, por intermédio da nossa Guest House, entramos em contato com o Emile, que disse que poderia nos levar ao pico hoje. Sábia decisão e golpe de sorte ao mesmo tempo, já que o Emile, além de excelente guia, se tornou um grande amigo que nos deu aulas sobre o país e nos ajudou com várias outras coisas.
Junto com o Emile, nosso guia no El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Ele chegou ao Monique's (nossa Guest House) pouco antes das 07:30 à bordo de uma prima da Fiona, uma Hilux verde cabine dupla também. Hehehe, isso já nos fez sentir em casa! Ele foi logo explicando que havia três vias para se chegar ao cume do El Tucuche, algumas mais rápidas e duras, outras mais demoradas e tranquilas. Optamos pela mais bonita que, coincidentemente, era a mais fácil. Fácil porque a ascensão é bem demorada. São quase quatro horas de caminhada para se chegar lá em cima, e outras quatro para descer. Ou seja, caminharíamos o dia inteiro!
Mar do Caribe visto da trilha para o El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
O El Tucuche fica no norte da ilha, região montanhosa que é um prolongamento dos Andes. Pois é... não é que nosso primeiro contato com essa majestosa cordilheira durante a viagem dos 1000dias foi aqui em Trinidad? Quando estivermos cruzando com ela para lá e para cá no segundo semestre desse ano certamente vamos nos lembrar daqui!
No pico do El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Fomos de carro até pouco mais de 300 metros de altura e de lá começamos a caminhar. A trilha segue pelo meio de uma rica e viçosa floresta o tempo todo, serpenteando entre encostas íngrimes e vales profundos, aqui e ali possibilitando uma bela vista do mar do Caribe, ao longe, lá em baixo. A subida não poderia ser mais suave e a gente mal percebe que vai ganhado essa altitude toda, quase 600 metros até o cume. No caminho, cruzamos alguns riachos, água fresquinha vindo lá de cima, ótima para matar a sede.
Com o Emile, descendo o El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Pouco antes de chegar no cume, São Pedro resolveu nos chatear e fechou o tempo. Assim, a bela vista lá de cima acabou não acontecendo, escondida atrás do manto branco das nuvens. Isso não nos impediu de ter um gostoso piquenique lá em cima. Pelo menos aí o santo lá de cima ajudou e esperou que terminássemos antes de mandar a chuva. Ai, já estávamos embaixo da floresta protetora, muito melhor do que qualquer guarda-chuva. A mata lá no alto, envolta em neblina, ficou ainda mais bonita. É impressionante a sensação de vida que temos ao andar numa floresta dessa. A nossa e a da natureza. Uma abundância!
Descendo o El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Conversando com o Emile, na trilha, contamos que íamos embora de Trinidad amanhã e que não tínhamos visto nenhuma cahoeira, infelizmente. Mas aí, trocando uma idéia e calculando o horário do ferry, chegamos à conclusão que daria para fazer uma visita sim, pela manhã. Ele se prontificou a nos pegar bem cedo e depois, além de nos levar para a GuestHouse, também nos levaria ao terminal de ferries. Opa! Agora, só faltava escolher qual cachoeira...
Um dos enormes troncos na trilha do El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Não foi difícil. Na volta para o hotel, passamos na casa dele para ver fotografias das várias cachoeiras. Acabamos escolhendo ir na Rio Seco, bem perto da costa atlântica de Trinidad, região que ainda não conhecemos. Desse modo, matamos vários coelhos com uma cajadada só!
Floôr ao longo da trilha do El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
E assim foi: planejamos uma montanha, mas ganhamos também uma cachoeira e uma praia no atlântico. Não dá para reclamar, né? Mas o dia vai começar cedo...
Descendo o El Tucuche, a segunda mais alta montanha da ilha de Trinidad
Enorme árvore petrificada no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Durante a tarde de hoje visitamos um mundo bem antigo, muito diferente do nosso. Geralmente, quando pensamos num mundo antigo, mas antigo mesmo, nossa mente logo nos remete aos dinossauros. Essas feras dominaram o mundo por quase 150 milhões de anos, numa época em que os mamíferos viviam apenas nas sombras, sempre tentando se esconder dos seus “primos” maiores. Mas um meteoro, bem maior do que aquele que visitamos a cratera na manhã de hoje, ajudou a por fim nesse longo reinado, há pouco mais de 60 milhões de anos. Seu cataclísmico impacto na península do Yucatán foi particularmente devastador para os dinossauros e os mamíferos souberam aproveitar a oportunidade.
Madeira petrificada há mais de 200 milhões de anos, no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Mas o mundo que visitamos hoje é ainda mais antigo que essa história toda. Estou falando da época que os cientistas chamam de “triássico tardio”, há cerca de 225 milhões de anos. Nesses tempos, os dinossauros ainda “engatinhavam” e eram eles que viviam nas sombras, se escondendo dos verdadeiros senhores daquela época, enormes anfíbios e phytossauros, répteis da mesma família dos crocodilos. Esses monstros comiam dinossauros no café da manhã e mamíferos na sobremesa.
Observando troncos petrificados no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Naquela época, essa área que hoje é um deserto colorido no leste do Arizona fazia parte do sudoeste do supercontinente Pangeia e estava localizada muito mais próxima do equador. Seu clima era semi-tropical e muito mais úmido do que é hoje. Densas florestas de coníferas, árvores primas nas nossas araucárias paranaenses, cobriam a região pantanosa e cheia de rios. Foi exatamente esse terreno pantanoso que ajudou a preservar toda essa história que hoje conhecemos através dos fósseis.
Observando troncos petrificados no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Normalmente, quando um ser vivo morre, sua matéria orgânica é logo decomposta e não sobra nada para contar a história. Mas, em raros casos, há um processo de fossilização, e os restos podem durar centenas de milhões de anos. O segredo está em proteger o corpo rapidamente, após a morte, da ação de bactérias, fungos e outros agentes decompositores.
Caminhando no surpreendente Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Era exatamente o que acontecia por aqui, há 225 milhões de anos! Grandes troncos e corpos de animais mortos eram trazidos pelos rios até os pântanos, onde muitos deles afundavam na lama pegajosa e anaeróbica do fundo, onde nem bactérias sobrevivem. Aí, a água subterrânea circulava lentamente pela porosa matéria orgânica dos troncos ou ossos, levando consigo minerais dissolvidos de origem vulcânica. Lá dentro, já sob a forma de cristais, eles iam se “encaixando” exatamente nos locais em que a matéria orgânica se “dissolvia”. Resumindo, com o passar dos tempos, a antiga madeira, ou o cálcio, era substituído por pedra, mantendo o formato original. Estava feita a mágica, após algumas centenas de anos: uma árvore ou osso de pedra! Com a mesma aparência da forma criadoura!
Gigantesco tronco petrificado, picotado por caçadores de cristais no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Milhões e milhões de anos de depósitos de material depois, todos esses fósseis estavam enterrados a quilômetros de profundidade. Aí, aconteceu o outro fator que nos permite admirar a maravilha que é esse parque nacional hoje: forças tectônicas passaram a levantar toda essa região, trazendo de volta à superfície material que foi enterrado há mais de 200 milhões de anos. Na verdade, o que veio à tona foi um grande planalto, mas algumas centenas de milhares de anos de erosão pela água e pelo vento foi limpando o terreno, derretendo a terra mais mole e deixando apenas as pedras mais duras (os fósseis!) inteiros.
Admirando a belíssima paisagem do Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Fim da mágica, temos uma floresta inteira de árvores petrificadas e, entre elas, ossos dos monstros que reinavam por aqui, além das pequenas criaturas que comiam (os dinossauros!). Esse foi o parque que visitamos hoje, o “Petrified Forest National Park”, criado na década de 60, mas que já fazia a festa dos turistas há mais de um século! Pois é, aqui do lado passava uma das mais antigas ferrovias transcontinentais do país e muitos passageiros, já no início do século passado, paravam por aqui um dia e faziam um day-tour oferecido pela própria companhia ferroviária para admirar as estranhas e coloridas árvores petrificadas.
O deserto colorido do Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Coloridas porque os minerais de origem vulcânica que ocuparam o lugar da matéria orgânica nos fósseis são avermelhados ou amarelados e formam lindos cristais coloridos dentro dos troncos. O problema é que isso sempre atraiu (e continua atraindo) colecionadores que vem saqueando a área desde então. Afinal, ter uma mesinha de café na sua casa, feita de madeira colorida petrificada há 225 milhões de anos é muito chique! Ainda hoje, mesmo com toda a proteção, cerca de 12 toneladas de madeira petrificada são roubadas anualmente do parque, infelizmente.
Fiona nos leva através do magnífico Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Se hoje já ficamos impressionados com a quantidade de árvores petrificadas que se pode ver em certas áreas do parque, imagine como era quando os primeiros europeus chegaram por aqui. Os antigos relatos são sempre de pessoas extremamente impressionadas com a riqueza arqueológica que se via na região. Hoje está mais difícil saquear o parque, mas no início do século passado, as pessoas não se acanhavam em dinamitar os troncos para picotá-los e extrair suas partes mais coloridas. É por isso que boa parte dos troncos que vemos está todo repartido, como se tivessem sido picotados à machado ontem, para fazer lenha. Mas a aparência engana! A madeira, na verdade, é pedra, o machado é dinamite e o ontem faz 100 anos! Incrível!
Admirando a belíssima paisagem do Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Além da floresta petrificada e do mundo triássico que ela retrata, há duas outras grandes atrações no parque. Primeiro, sua impressionante beleza cênica. O mesmo processo tectônico e de erosão que trouxe de volta “à vida” as árvores de 225 milhões de anos atrás, criou também um cenário de canyons e montanhas coloridas, com diversas camadas geológicas com características distintas à vista. Observá-las e caminhar entre elas é o mesmo que caminhar pelo tempo, além de ser um colírio para os olhos.
Ruínas de antiga cidade dos Pueblos, povo misterioso do sudoeste americano (no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos)
A outra atração é a história da ocupação humana. Por aqui viveu passou a mais adiantada civilização pré-colombiana em território americano, os Pueblos. Tanto falamos e pensamos em mayas, astecas e incas que pouca gente sabe que aqui no Arizona havia um povo que construía pequenas cidades de pedra, cultivava o milho e deixou para a posterioridade algumas das mais belas pinturas rupestres dos Estados Unidos. Aliás, isso é até engraçado... justo no mais belo painel de pinturas, o acesso é proibido. No lugar do acesso, temos uma luneta para ver o painel bem de longe. Ver pinturas rupestres de luneta é fogo!
A mais famosa pintura rupestre americana, no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Outro aspecto histórico são as ferrovias e a famosa Rota 66 que passava por aqui. A ferrovia ainda está em uso e são mais de 20 enormes comboios que passam pelo parque diariamente. A Rota 66 já foi desativada faz tempo no seu trecho pelo parque e a vegetação está retomando seu lugar.
Uma luneta para observar pinturas rupestres inacessíveis à turistas, no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Foi uma tarde incrível nesse parque maravilhoso. O interessante foi ver que, por mais que estejamos falando de períodos tão grandes de tempo, é fácil ver que as coisas continuam “acontecendo”. O melhor exemplo é uma ponte natural criada pela erosão. A água e o vento escavaram um desfiladeiro, levando a terra mole embora. Mas lá ficou um tronco petrificado unido os dois lados do pequeno canyon. Uma ponte natural que apareceu apenas há um século, mas com um tronco de mais de 200 milhões de anos!!!
Tronco petrificado forma ponte natural no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Mas nem tudo muda, pelo menos no período da nossa ridícula vida de 70-80 anos. Num dos mirantes do parque, lá está um painel com duas fotos tiradas com um intervalo de sessenta anos. O garoto virou um senhor respeitável. A mesma posição, o mesmo ângulo, o mesmo sorriso na boca. A primeira foto foi tirada pelos seus avós, a segunda por seus netos. No fundo da foto, exatamente a mesma encosta, com as mesmas camadas geológicas expostas. Pelo menos pelos próximos milhares de anos...
A mesma pessoa e a mesma paisagem do Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos, em fotos com60 anos de intervalo
Bom, enquanto esses milhares de anos não passam, eu e a Ana seguimos viagem, entramos no Novo México, jantamos comida australiana em Albuquerque e chegamos à Santa Fé. Infelizmente, todos os hotelzinhos charmosos já estavam fechados às 11 da noite e a gente teve de apelar para os sempre confiáveis e sempre abertos hotéis de rede. Amanhã, chega de estrada, é dia de cidade!
Fim de tarde no Petrified Forest National Park, no Arizona - Estados Unidos
Animação na primeira festa no Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Ao todo, somos pouco mais de 70 “hóspedes” no Sea Spirit, um grupo pequeno de viajantes compartilhando um mesmo sonho: conhecer o sétimo continente. Além do sonho, compartilhamos outras coisa também, pelo menos pelas próximas 3 semanas: a mesma casa, o mesmo espaço, o mesmo navio. Almoçamos e jantamos juntos todos os dias, participamos das mesmas palestras, dividiremos os mesmos zodiacs nos pontos de descida do barco. Um grupo de pessoas de diversas partes do mundo e diferentes idades, cultura e gostos distintos, mas irremediavelmente unidos aqui, no meio do oceano, a milhares de quilômetros da próxima cidade.
O holandês Sail fotografa pássaros um dia antes de chegarmos às Ilhas Malvinas
Começamos a nos conhecer ainda em Buenos Aires, na noite do tango e no city tour pela cidade. Mas foi rápido e superficial, muitas outras coisas para nos distrair a atenção, as pessoas mais se estudando do que falando, geralmente ainda se mantendo entre os conhecidos. Isso porque boa parte dos viajantes veio em casais, em família ou em grupos de amigos e apenas uma minoria de forma solitária.
O brasileiro Gunnar relaxa com um drinque no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Vladimir Selivestov)
Aqui no navio isso começa a mudar. A convivência é intensa e diária, 16 horas por dia, tirando apenas a noite de sono. Os guias, que já sabem lidar com isso, pois viajam várias vezes por temporada há vários anos, tratam de ajudar a quebrar o gelo. Organizam eventos sociais, como coquetéis e festas. Puxam assunto, perguntam, interagem. Os mais sociais entre nós logo entram no jogo. Rapidamente, já fazem amigos. Os mais tímidos acabam indo na onda. Num espaço tão pequeno, o melhor logo é conhecer as pessoas.
A Val, nossa guia de caiaques, e a escocesa Rowan se confraternizam no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Marla Barker)
A simpática Rukimini, representante da Índia na nossa viagem, fotografa o fim de tarde no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Jeff Orlowski)
A grande maioria dos viajantes é mais velha, entre 50 e 65 anos. O próprio preço de uma viagem como essa serve como filtro. Tem de ser gente já “estabelecida” na vida. Mas o nosso barco veio vazio, talvez por ter sido o primeiro da temporada e também, o primeiro a sair de Buenos Aires. O normal para esse tipo de expedição é zarpar de Ushuaia. A Quark resolveu fazer essa experiência esse ano e não sei se ficaram muito felizes com o resultado...
A Cheli, líder da expedição, apresenta o capitão do nosso barco durante evento no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Vladimir Selivestov)
Durante coquetel, conhecendo o 1o e o 2o capitão do navio, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Enfim, nós ficamos. De qualquer maneira, pelo pequeno número de passageiros, a empresa baixou os preços pela metade poucas semanas antes do início da viagem. Com isso, mais gente apareceu. Agora sim, um pessoal mais jovem. Ao todo, uns vinte de nós. Digo “nós”, mas na verdade, com meus 44 recém feitos, estou a meio caminho dessas duas gerações que se encontram aqui no Sea Spirit. Além disso, eu e a Ana já tínhamos garantido nossos lugares antes que o desconto fosse oferecido. Isso por causa do caiaque, que queríamos fazer de qualquer maneira. Vou falar disso no próximo post.
Fazendo amizades no navio. Essa é a sul-africana Kim, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Conversando com o Gunnar, o outro brasileiro que participa da expedição. (no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas)
Bem, rapidamente, esses jovens trataram de se enturmar. Não só os jovens, mas também alguns representantes da 3ª idade que são muito mais sociais e animados do que eu, que sempre joguei no time dos tímidos. Para compensar isso, a minha amada esposa joga no time dos super sociais. Então, basta eu grudar nela que me arranjo também. Assim tem sido nesses 1000dias por toda a América e não seria diferente por aqui.
Nossos guias preparados para uma "Festa da Fantasia" no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Marla Barker)
Nossos guias demonstram que também tem outras habilidades, durante festa no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
As refeições no navio são sempre uma boa oportunidade de conhecer os outros viajantes. Os guias tem como norma tentar variar de mesas todos os dias, de novo com o intuito de ajudar nessa interação. Mas nós, passageiros, sentamos onde quisermos (desde que haja espaço, claro!). São diversos tamanhos de mesa no restaurante e podemos ficar a sós, num grupo pequeno de 4-5 pessoas ou num grupo maior, de até 8 pessoas. De refeição em refeição, vamos conhecendo mais gente e um padrão vai se estabelecendo: todo mundo aqui é muito viajado. Até por isso é que estão aqui. Depois de tantos lugares, falta a Antártida!
Todo mundo se divertindo na nossa primeira festa a bordo do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Animação na primeira festa no Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Como já falei em outro post, americanos, britânicos e australianos são as nacionalidades mais comuns. Fatores variados explicam isso. A própria empresa “fala” inglês, o que atrai os anglófilos e afasta os francófonos, por exemplo. O preço da viagem também acaba filtrando, atraindo mais gente de países desenvolvidos. E o fato do nosso percurso passar pelas Malvinas, ou melhor, Falkland nesse caso, é um grande atrativo para os britânicos.
Confraternizando durante nossa primeira festa no Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
A Ana, feliz da vida, na nossa primeira festa da viagem, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Mas outras nacionalidades estão representadas também. Holandeses, como nosso amigo Sail, que veio sozinho e se encaixa naquela categoria de 3ª idade bastante animada, finlandeses, japoneses, um simpático casal indiano, uma falante sul-africana e um único representante da América Latina além de nós, o Gunnar, brasileiro também. Muito simpático, descendente de suecos e viajante inveterado, já esteve no dobro de países que eu estive (e eu conheço quase 100!) e só na Antártida já esteve mais de 10 vezes. Com tanta bagagem, não vai faltar assunto pelas próximas 3 semanas, seja com ele, seja com tantos outros viajantes profissionais a bordo!
A Ana durante a primeira festa a bordo do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas (foto de Marla Barker)
Além das refeições a equipe da Quark trata de nos animar com eventos sociais. Na nossa segunda noite a bordo, houve um coquetel de boas-vindas, chance de conhecermos o nosso capitão ucraniano, o Oleg. Muito simpático, ele e a Cheli, a líder da nossa expedição, já se conhecem de outras viagens e fizeram várias piadas e gozações entre si, ajudando a descontrair o ambiente. Foi joia e também a nossa chance de fazer aquela clássica foto com o capitão do navio.
Noite de festa no Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Com a Kim, Greg e Anna durante festa no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Já na terceira noite no navio, fomos surpreendidos com uma grande festa da fantasia. Todos os nossos guias vestiam suas perucas e óculos ridículos que haviam trazido para esse fim e foi engraçado vê-los assim, depois da sobriedade das palestras pela manhã. Muita música, muita dança, muitas fotos, muita cerveja e outras bebidas, logo todo mundo estava no clima. Não só no clima, mas também nas fantasias, as perucas circulando a ajudando a animar e descontrair as pessoas.
Com a Rowan e o Dave durante festa no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Com a Anna e o Greg, casal americano, durante uma Festa da Fantasia no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
Esses três dias no navio, incluindo os dois eventos sociais, já nos ajudaram a ver quem é quem. Grupos mais animados começam a se formar, aqueles que sempre vão se encontrar depois do jantar para dar uma esticada no bar. Entre eles, claro, minha querida esposa, a sul-africana Kim, a escocesa Rowan, os americanos Brian e Sara, o holandês Sail, entre outros. De modo geral, é uma turma ótima e a convivência com tanta gente interessante assim deve tornar essa viagem ainda mais especial, tenho certeza!
No sentido horário, a Kim (sul-africana), Rowan (escocesa), Sara (americana) e a Ana (brasileira) na nossa primeira festa a bordo do Sea Spirit, no trecho entre Buenos Aires e as Ilhas Malvinas
A noite cai e as luzes se acendem em Buenos Aires, capital da Argentina
A primeira vez que eu estive em Buenos Aires foi em Fevereiro de 92. De lá para cá foram outras seis vezes, o que dá uma boa pista sobre se eu gosto ou não dessa cidade... A última vez foi em 2007, na primeira viagem internacional que eu e a Ana fizemos juntos. Aliás, a foto que ilustra o blog dela, no alto da página, é dessa viagem, de um simpático bar no bairro de San Telmo. Enfim, cá estamos mais uma vez, agora dentro do nosso projeto dos 1000dias. Esta cidade que tanto gostamos calhou de ser nossa última capital federal nessa jornada por todos os países das Américas. Capitais estaduais, ainda temos Porto Alegre e Florianópolis pela frente.
O nome do post simboliza muito bem o que sentimos pela capital argentina. Mas, muito mais do que isso, é uma homenagem a um dos mais populares tangos do insuperável Carlos Gardel, que apesar de uruguaio, era argentino do coração. O estilo da música, o tango, é a própria cara do país, uma leitura da alma do povo que aqui vive. A letra da música, bem, essa não preciso dizer a quem homenageia, certo? Enfim, era essa a música que tínhamos em mente enquanto fazíamos uma longa caminhada pela cidade hoje, revendo lugares que já conhecíamos e, como sempre acontece nessa charmosa metrópole, aprendendo e vendo coisas novas.
O Obelisco e o rosto de Evita, em Buenos Aires, capital da Argentina
Um dos mais movimentados cruzamentos do centro de Buenos Aires, capital da Argentina
A cidade de Buenos Aires foi fundada duas vezes, e no mesmo lugar. A primeira foi pelo espanhol Pedro de Mendoza, em 1536. Ele cruzou o oceano com vários colonizadores especialmente para isso, fundar uma cidade na desembocadura do Rio da Prata, descoberto alguns anos antes, para garantir o controle espanhol da região. Mas a hostilidade dos indígenas locais fizeram esses primeiros colonizadores mudar de ideia rapidinho. Eles partiram rio acima, seguindo o leito do rio da Prata, entrando pelo Paraná e rio Paraguay até chegarem ao local da atual Asunción, onde fundaram a cidade que seria a mais importante do sul do continente pelos próximos dois séculos. Enquanto isso, a pequena Buenos Aires sumiu do mapa pelos próximos 50 anos. Até que, numa ironia da história, habitantes de Asunción desceram o rio para “refundar” a antiga cidade de onde haviam partido, duas gerações antes, os fundadores da própria Asunción.
Chegando à Plaza Libertador San Martín, em Buenos Aires, capital da Argentina
Torre de Los Ingleses, em Buenos Aires, capital da Argentina
Apesar da localização estratégica, Buenos Aires sofreu com a política espanhola de centralizar todo o comércio com suas colônias sul-americanas em Lima, no Perú. Assim, todos os produtos importados ou para exportação tinham de fazer o duro caminho através da Bolívia e dos Andes até chegar à cidade peruana. A consequência disso foi que a atual capital argentina não se desenvolveu, tornando-se, na verdade, um centro de contrabando. A situação só mudou em 1776, quando a cidade tinha 20 mil habitantes e foi escolhida para ser a capital do Vice-reinado do Prata, agora com licença para comercializar diretamente com a Espanha.
O teatro Cervantes, em Buenos Aires, capital da Argentina
Sinagoga em Buenos Aires, capital da Argentina
O próximo grande evento aconteceu 30 anos mais tarde, já no séc. XIX, no contexto a era napoleônica na Europa. França e Espanha eram aliadas contra a Inglaterra e as tropas de sua majestade resolveram ocupar a capital portenha em represália. Eles até conseguiram, por um curto período, mas foram surpreendidos por uma revolta popular contra a ocupação, Os habitantes da cidade, quando perceberam que só estavam “mudando de patrão”, botaram os ingleses para correr, uma vitória que ainda é celebrada nos dias de hoje. Não apenas essa, mas também quando resistiram a nova invasão no ano seguinte, em 1807.
A enorme e centenária figueira ao lado do Teatro Colón, em Buenos Aires, capital da Argentina
PLaza Libertador San Martín, em Buenos Aires, capital da Argentina
Conscientes da própria força, resolveram ir além! Em maio de 1810, quando o rei espanhol foi deposto por Napoleão, aproveitaram o ensejo e decretaram o corte de relações com a antiga metrópole. Seis anos mais tarde, no congresso de Tucumán, foi a vez de oficializarem a independência, que se concretizou depois de uma guerra sangrenta com as tropas realistas. Mas a Argentina não era um país, e sim uma confederação de províncias. Buenos Aires, portanto, apesar de ser a cidade mais poderosa, só era a capital de sua própria província. Mas com muita influência nas outras províncias. Essa situação meio confusa se manteve pelos próximos 30 anos, enquanto a corrente dos federalistas e unitaristas disputava o governo e o país. Nesse período conturbado, por duas vezes a cidade sofreu o bloqueio naval por parte de potências estrangeiras (França e Inglaterra), aliadas de províncias rebeldes. Mas, para orgulho local, os portenhos não se curvaram e nenhum soldado estrangeiro jamais colocou os pés de volta na cidade, desde a expulsão dos ingleses em 1807.
O famoso Teatro Colón, em Buenos Aires, capital da Argentina
Cores de fim de tarde nos céus de Buenos Aires, capital da Argentina
A unidade do país finalmente veio na segunda metade do século, com os presidentes Urquiza e Mitre, e com ela uma maior estabilidade política e econômica. Já como capital de todo o país, Buenos Aires começou a se desenvolver rapidamente, tanto com as exportações de carne e grãos pelo seu porto, como com a chegada de dezenas de milhares de imigrantes, provenientes principalmente da Itália e da Espanha. Esses novos moradores se instalaram principalmente no sul da cidade, nos bairros de San Telmo e La Boca, enquanto a elite e alta sociedade se mudava mais para o norte, bairros do Retiro e Recoleta. Com o passar do tempo, a crescente classe média também teria os seus bairros, como Palermo e Belgrano.
Teatro Colón, em Buenos Aires, capital da Argentina
O Obelisco da Av. 9 de Julio, em Buenos Aires, capital da Argentina
Enfim, na entrada do séc. XX, Buenos Aires vivia um boom. Foi a primeira cidade latino-americana a superar um milhão de habitantes, parques se espalharam pela cidade, assim como grandes mansões e enormes prédios públicos e teatros. A magnífica arquitetura clássica de influência francesa que vemos hoje vem toda dessa época de glória, como aqueles que foram, durante muito tempo, o mais alto prédio da América Latina, o Kavanagh, e o maior teatro de todo o hemisfério sul, o Colón. Hoje, quando caminhamos pela Av. Córdoba ou Santa Fé e olhamos para os belos prédios que nos cercam, estamos vendo 100 anos atrás.
PLaza Libertador San Martín, em Buenos Aires, capital da Argentina
PLaza Libertador San Martín, em Buenos Aires, capital da Argentina
A cidade continuou a crescer durante o séc. XX, agora atraindo cada vez mais imigrantes internos, do vasto interior. Linhas de metrô foram sendo escavadas desde o início do século para dar vasão ao movimento que só aumentava. Na década de 30, todo o espaço entra duas ruas paralelas foi derrubado para dar lugar a avenida mais larga do mundo a 9 de Julio, que chega a ter 16 pistas com seu característico e enorme Obelisco ao fundo. Hoje são quase 4 milhões de habitantes, mas se considerarmos todas as cidades que foram engolidas pela grande metrópole, esse número chega a assustadores 15 milhões. Mas para os turistas e visitantes, quase tudo o que interessa está num espaço pequeno e que se pode caminhar, pelo menos para aqueles com mais energia.
Foi o que fizemos hoje, eu e a Ana. Foram cerca de 10 km de caminhada pelas charmosas ruas, avenidas e parques da cidade. Saímos lá do nosso hotel em Palermo, caminhamos até a Av. Santa Fé e por ela viemos até o centro. Não sem antes pararmos na magnífica livraria El Ateneo. Desde que sou criança e minha mãe viajou para cá pela primeira vez, ainda nos tempos de Isabelita na década de 70, que ouço falar das livrarias da cidade. Quando vim pela primeira vez, fui forçado a concordar que elas são mesmo maravilhosas e essa, a Ateneo, talvez seja o melhor exemplo. Sempre que venho para cá, perco (ou, na verdade ganho!) um bom tempo por lá.
Chegando a uma das mais charmosas livrarias de Buenos Aires, capital da Argentina
Interior do "El Ateneo", a mais bela livraria de Buenos Aires, capital da Argentina
Bom, seguimos a caminhada até centro, mais especificamente até o parque San Martin, um enorme jardim no norte da região central, cercado por diversos prédios clássicos e monumentos. Um dos mais belos, já na direção do rio da Prata, é a Torre dos Ingleses, um dos marcos arquitetônicos da cidade. Aproveitamos para pausar um pouco, respirar o ar puro e recuperarmos o fôlego para o longo caminho de explorações que ainda tínhamos pela frente.
PLaza Libertador San Martín e Torre de Los Ingleses, em Buenos Aires, capital da Argentina
Momento de descanso na Plaza Libertador San Martin, em Buenos Aires, capital da Argentina
Percorremos então a Florida, o famoso calçadão comercial que corta o centro da cidade e que também começa no parque San Martín. É um dos melhores lugares para se ver gente, turistas e locais, além do sempre presentes “arbolitos”, como são apelidados os cambistas. Aí na Florida também está a galeria Pacífico, um shopping center centenário, com ares clássicos e tetos cobertos de belos afrescos. Por muito tempo esteve fechado e abandonado, mas foi recuperado por empresários e hoje faz a alegria de visitantes como nós.
Calle Florida, em Buenos Aires, capital da Argentina
Os belos afrescos no teto da Galeria Pacífico, na Calle Florida, em Buenos Aires, capital da Argentina
Seguimos então pela Av. Córdoba, onde cruzamos a 9 de Julio mais uma vez (sempre uma longa travessia!) e chegamos aos imponentes teatros Cervantes e Colón, além da maior sinagoga da cidade. Nessa região é onde está a maior concentração de prédios monumentais, lembranças de tempos áureos da cidade. Os dois teatros podem ser visitados em tours, mas bom mesmo é assistir um espetáculo no sempre concorrido Colón, quando ele não está em reformas. As reservas devem ser feitas com semanas de antecedência!
O famoso Teatro Colón, em Buenos Aires, capital da Argentina
Teatro Colón, em Buenos Aires, capital da Argentina
Por fim, seguimos para a Plaza de Mayo, onde estão os prédios públicos mais famosos, como o antigo Cabildo (a prefeitura) e a famosa Casa Rosada, sede do governo federal. Quantas vezes não vi essa praça pela TV, manifestações de jubilo na época das Malvinas ou da abertura democrática de Alfonsín. Ou em cenas de cinema, com Perón e Evita acenando para dezenas de milhares de empolgadas pessoas. Na verdade, a frente da Casa Rosada está para o outro lado, mas é a sacada nas suas costas, virada para a praça, o lugar mais emblemático.
Cabildo de Buenos Aires, capital da Argentina
Plaza de Mayo, em Buenos Aires, capital da Argentina
Chegamos aí no fim do dia e acompanhamos as luzes de iluminação serem ligadas. Como não poderia deixar de ser, as luzes da Casa Rosada são rosas! E dessa cor ela fica, ainda mais forte, durante a noite, algo entre o kitsch e o tradicional, afinal, esta é a Casa Rosada.
A Casa Rosada, sede do governo federal, iluminada a carater, na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, capital da Argentina
O relógio marca 8 da noite na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina
E assim foi o nosso dia, caminhando por essas ruas que nos são cada vez mais familiares. Mas, como já disse, é sempre um prazer andar por aqui e, mais ainda, encontrar um bom café e não caminhar, apenas ver a vida passar, apressada, ao nosso lado. Acompanhado de uma boa media luna e empanada, não tem programa melhor.
ATravessando a avenida mais larga do mundo, a famosa 9 de Julio, em Buenos Aires, capital da Argentina
Pausa para café durante passeio a pé em Buenos Aires, capital da Argentina
Já de noite, voltamos de metrô para Palermo. Ainda temos de caminhar na Recoleta, em San Telmo e na Boca, mas temos tempo para isso. A noite, aí já estamos mesmo no lugar certo, Palermo. Aí estão dezenas de bares e restaurantes para todos os gostos. Conforme havia combinado com a Ana, a cada noite por aqui, um bom restaurante. O que não significa caro, mas charmoso. É o que não falta aqui em Palermo. Esta noite foi dia de tapas. E vinho, claro! Um brinde a Buenos Aires!
Nosso delicioso restaurante na segunda noite em Buenos Aires, na Argentina
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