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mabel (16/08)
Aprendi muito!!!!!!!!!!A história dos geoglifos nunca tinha ouvido falar...
Claudia Boemmels (16/08)
Adorei esse mercado! Muito lindo e interessante. Deu fome também :o)) Bj...
mabel (15/08)
Muito bom relato!! Sempre aprendendo mais. Quase não reconheci a Fiona...
Rubens Werdesheim (15/08)
Estive por aí , em Porto Velho ,em 92 ,93...esse local era um amontoadao...
Rubens Werdesheim (14/08)
Indicações na trilha para o The Quill, em Statia - Caribe
Tem lugar onde a gente toma um café e depois vai caminhar na praça. Em outros, damos um pulo na praia. Coisa normal, do cotidiano. Praças, praias e, por aqui, vulcões, coisas do dia a dia, todo mundo acostumado...
Início da trilha para a subida do The Quill, em Statia - Caribe
Aqui no Caribe, principalmente nesta região, as ilhas são todas de origem vulcânica e o progenitor, em muitos casos, ainda está lá, cheio de saúde, meio dorminhoco. Ninguém se assusta. Assim era em Montserrat, uma pequena e pacata ilha muito parecida com essas que temos visitado (ainda vamos lá, numa outra temporada caribenha dentro desses 1000dias!). Por gerações e gerações o vulcão era só parte da paisagem, um ponto de referência. Até que, um belo dia, no final da década de 90, acordou e mudou para sempre a vida de todos. Acabou com a capital da ilha, expulsou quase toda a população do país e voltou a dormir. Simples assim. De nada adiantou toda a tecnologia do séc. XX, cientistas do mundo inteiro, canais de TV, etc... Numa hora dessa, voltamos a ser o que sempre fomos perto das grandes forças: formiguinhas indefesas.
A floresta no fundo da cratera do The Quill, em Statia - Caribe
Bom, aqui em Statia, felizmente, o The Quill anda dormindo profundamente nos últimos quinze séculos. O bastante para uma densa floresta se desenvolver nas encostas da montanha e, principalmente, no fundo da cratera. Ali, um microclima particular se encarrega de criar muita umidade, quase 3 mil mm de chuva por ano que, aliado à terra fértil, sustenta árvores grandes e pesadas. Do lado de fora, faz tempo que o homem branco devastou a floresta e agora ela cresce novamente, de pouquinho em pouquinho.
Cratera do The Quill, em Statia - Caribe
Pois então, eu e a Ana tomamos calmamente nosso café e seguimos em direção ao The Quill, palavra que vem do holandês e significa algo como "pinico". Uma longa rua asfaltada segue diretamente para as encostas do vulcão e nos leva para o início da trilha. Esta nos leva gentilmente através da mata renovada da montanha, ganhando altitude aos poucos. No caminho, pequenas lagartixas e o carangueijo ermitão, uma espécie engraçada que carrega sua casa nas costas. Quando ele se sente ameaçado, se espreme nela e vira uma bola. Os menores, parecem uma bola de pinqueponque. Os maiores, de tênis. Neste formato, simplesmente rolam montanha abaixo, tentando escapar. Muito engraçados!
Equilibrando-se sobre a cratera do The Quill, duzentos metros abaixo de nós! (em Statia - Caribe)
Sempre na sombra, seguimos até a parte mais baixa da crista do vulcão, a uns 430 metros de altura. Aí, a primeira vista da grandiosa caldeira. Como já disse antes, não é uma caldeira vermelha, de fogo, mas verde, de mata. O cenário deveria ser bem diferente há dois mil anos!
No alto do The Quill vive um galo! (em Statia - Caribe)
Além da beleza do cenário, algo mais nos chamou a atenção! O guardião da cratera nos esperava: um orgulhoso e vistoso galo de penas vermelhas. Não sei se ficou ali esperando alguma comida ou apenas nos vigiando, mas não parou de nos observar, desfilando suas belas penas entre nós. Sujeito engraçado!
Uma das dezenas de cobras que vimos na caminhada ao The Quill, em Statia - Caribe
Deste ponto saem três trilhas: a primeira, mais curtinha, para um mirante; a segunda para o fundo da cratera; e a terceira para o ponto mais alto da crista, chamado Mazinga, com exatos 600 metros de altura. Por esta última seguimos, ávidos por chegar ao ponto mais alto da ilha. Mas o nosso ritmo teve de diminuir bastante. Primeiro porque a trilha ficou bem mais rústica, serpenteando entre pedras e árvores na estreita crista. Mas principalmente pela enorme quantidade de cobras malhadas, com pouco mais de um metro de comprimento, não venenosas. A Ana foi se apavorando com elas quase tanto quanto elas conosco. Devemos ter visto umas cinquenta. Ao final, para mim, já eram como minhocas. Mas não para a Ana, que não conseguia se acostumar. Enfim...
A neblina encobre a Ana, na encosta do cume falso do The Quill, em Statia - Caribe
Pouco antes de chegar, o tempo fechou, muita neblina. Chegamos ao ponto onde havia a placa do tal de Mazinga e verificamos que se podia subir mais. A trilha ficou mais rústica ainda. Mas, na crista estreita, não tem como errar. Abrindo caminho nas folhagens, chegamos ao que parecia ser o pico, uma grande pedra se destacando do resto. Mas, eis que a neblina abriu um pouco e verifiquei que ainda havia outro ponto mais alto, um cocurucho à frente. A Ana resolveu ficar e eu segui, questão de orgulho. Dez minutos mais tarde, chegava aos 600 metros de altura. Junto comigo chegou uma mensasem de celular do primo Haroldo, que viaja pela região de Chamonix, na França. Naquele mesmo momento, estava a 3.600 metros de altura, dizia a mensagem. Isso é que é coincidência!!!
Incrível figueira na cratera do The Quill, em Statia - Caribe
Voltei para a Ana, enfrentamos as cobras novamente e voltamos ao ponto inicial, agora para descer para a cratera. Fica a 280 metros de altura e tem árvores gigantes, verdadeiras maravilhas da natureza, dignas de contemplação e adoração! Árvores que já existiam quando escravos fugidos das plantations usavam a cratera como esconderijo. Aliás, que dureza ser escravo numa ilha pequena... Fugir para onde???
Belo fim de tarde em Oranjestad, em Statia - Caribe
Voltamos para a crista e de lá para a cidade, em tempo para admirar o belo fim de tarde. E com muita fome! Afinal, um passeio pelo vulcão pede um bom jantar, não? Amanhã, despedida do mar, da ilha e de volta a Siint Maarten. Nossa temporada caribenha se aproxima do fim. Chega de sol, praias e... vulcões.
O orgulhoso guardião do The Quill, em Statia - Caribe
Cachoeira Solitária no Paraíso Selvagem em Delfinópolis - MG
Saímos hoje cedo rumo à uma área cheia de cachoeiras conhecida pelo sugestivo nome de "Paraíso Selvagem". Mais uma vez, tínhamos em mãos um mapa desenhado pela Mariângela, mostrando estradas, trilhas e cachoeiras. Nesse caso, uma coleção delas. Esses mapas fizeram nossa vida em Delfinópolis muito mais fácil. Amanhã publico uma foto!
Subindo o rio em direção à Cachoeira Solitária, em Delfinópolis - MG
Bom, depois de muita poeira, passarmos pela vila de Olhos D'Água onde encomendamos um almoço para as quatro da tarde, chegamos no tal do Paraíso Selvagem, ao lado do Luquinha (outra área de cachoeiras!). Ali, já seguimos para o Salto Solitário. A trilha para lá chegar já é uma atração em si: um rio de águas cristalinas cheios de pequenos saltos e poços; depois, um canyon que vai se afunilando, paredes cada vez mais altas, vegetação se espremendo entre o rio e as paredes, e a trilha se espremendo mais ainda, entre o rio, as paredes e a vegetação. Finalmente, o gran finale: as paredes do canyon se fecham formando um belo lago de águas verde-transpantes sobre o qual despenca uma cachoeira, la´de cima. Cenário perfeito! Ou quase... Nessa época do ano, a luz do sol mal chega a iluminar o lago diretamente. A água é fria, mas nada que assuste quem acaba de passar uma temporada nas cachoeiras da Mantiqueira.
Poço no rio da Cachoeira Solitária na região do Paraíso Selvagem em Delfinópolis - MG
A gente seguiu direto para essa obra-prima, mas na volta tiramos um tempinho para nos divertir nos poços também. Especialmente naqueles onde chegava a luz do sol. Depois, descemos o rio até a cachoeira das Águas Claras. Mais um nome meio comercial, mas o original era melhor: cachoeira do Urubu (não agradava aos marketeiros do local). Tinha esse nome porque serve de moradia para enormes urubus-rei. Nossa, que pássaro lindo! Nada a ver com aquelas "galinhas" pretas desengonçadas que a gente vê em algumas praias. São quase todo brancos, olhar majestoso e um início de vôo que se pode ouvir de longe. Não é à tôa que tem esse nome majestoso.
Cachoeira dos Alpinistas no Paraíso Selvagem em Delfinópolis - MG
Da ex-cachoeira do Urubu voltamos para onde estava a Fiona. Já era hora de voltarmos para o nosso almoço tardio. Mas, pensando bem, ele poderia esperar mais um pouco... Seguimos para a cachoeira do Alpinista, dentro de outro canyon. Outra caminhada maravilhosa. Este canyon era ainda mais "canyon" que o anterior, se é que me entendem. Tanto que, em muitos trechos a trilha desaparece já que não há espaço e seguimos pelas pedras mesmo. Há sinais avisando que, em caso de chuva, deve-se sair de lá o mais rápido possível, antes que o rio suba e nos leve, ele mesmo, para fora do canyon. Bom, não foi o caso. Como também não era o caso de sol, neste final de tarde. Dada a beleza da cachoeira, haver sol ou não era irrelevante. Nadamos felizes e solitários na cachoeira do alpinista, ao contrário do Salto Solitário, em que tivemos platéia.
Cachoeira dos Alpinistas no Paraíso Selvagem em Delfinópolis - MG
Com a alma devidamente alimentada, fomos cuidar do estômago. Nosso almoço tardio foi às 17:30, no restaurante do Zé Gurita. Comida caseira deliciosa. Plenamente satisfeitos, chegamos bem tarde em Delfinópolis, após nova sessão de poeira, mas em tempo de encomendar da Mariângela novo mapa para a aventura de amanhã: Casca D'Anta, via Caminho do Céu, São Roque, Nascente do São Francisco e São João Batista, aonde pretendemos dormir. A partida será bem cedo, pois o caminho é longo. A Mariângela prometeu não só o mapa mas também o café da manhã reforçado para as 06:30. Isso é que é serviço VIP!
Vista da parte de cima da Cachoeira Águas Claras em Delfinópolis - MG
Dia de céu azul no Chaco paraguaio, região de Filadelfia
Iniciamos hoje nossa travessia do famoso "Chaco" , uma enorme planície que se extende do rio Paraguay até a fronteira com a Bolívia. Apesar de representar a grande maioria do território, apenas 3% da população do país vivem nessas terras inóspitas, alagadas durante os meses de chuva e seca nos meses de inverno. A mítica rodovia Transchaco já foi considerada uma das mais aventureiras do continente, mas hoje em dia está em grande parte asfaltada e a única dificuldade é não cair no sono nas suas intermináveis retas.
Pedágio para cruzar a ponte sobre o rio Paraguay, na periferia de Asunción
Saindo de Asunción a gente cruza a Ponte Remanso, sobre o rio Paraguay, paga um pedágio de 5 mil guaranis (uns dois reais) e temos à nossa frente as planícies infinitas onde as maiores elevações, pelo menos há dez anos atrás, eram as copas das árvores. Hoje, são as torres de comunicação, que podem ser vistas a dezenas de quilômetros. Fora isso, é tudo plano a se perder de vista.
Cruzando o Rio Paraguay, em direção à região do Chaco, no oeste do país (na saída de Asunción - Paraguai)
Logo no início da estrada, placas nos dão as distâncias. Tudo na casa das centenas de quilômetros, inclusive a fronteira com a Bolívia, nosso objetivo, que está a uns 800 km de distância. Para hoje, nosso objetivo foi a cidade de Filadelfia, a pouco mais de 400 km de Asunción.
À nossa frente, as infinitas planícies do Chaco paraguaio (na saída de Asunción - Paraguai)
A viagem transcorreu sem problemas e o grande evento fou uma parada ordenada pela polícia. Apesar dos vários avisos recebidos no Brasil e pela internet, fomos muitíssimo bem tratados e nem se falou em "propina". O único momento de tensão foi quando me perguntaram e insistiram sobre o tal "permiso" para viajar de carro no país, ao qual respondi e reiterei de que não era necessário, por sermos brasileiros em carro brasileiro, país pertencente ao Mercosul. Os guardas não mais insistiram e a conversa seguiu sobre os nossos planos de viagem. Com a bela e falante Ana ao meu lado, sempre fica mais fácil ficar amigo das pessoas, hehehe.
Rumo à Bolívia, quase 800 km à frente. Nosso objetivo hoje foi a cidade de Filadelfia (na saída de Asunción - Paraguai)
Chegamos na germânica Filadelfia no final do dia. Por aqui, tanto a arquitetura como a língua nos fazem crer estar na Europa e não no Paraguai. Mas a presença de população indígena sempre nos traz de volta à América do Sul, hehehe. Toda a região foi colonizada pelos menonitas, alguns vindos do Canadá, outros da Alemanha e outros da Ucrânia soviética, ainda nos anos 30. Por aqui ficamos no hotel Florida, o que fez aumentar a confusão mental: hotel Florida, em Filadelfia, Paraguai, habitado por ucranianos soviéticos e canadenses menonitas falantes de alemão. Hmmmm.... entendi, faz todo o sentido, hehehe Para completar, só faltava jantar no restaurante ao lado, onde servem churrasco no estilo brasileiro! Pronto! Estávamos prontos para dormir e partir rumo à Bolívia...
Estrada corta a infindável planície do Chaco paraguaio na região de Filadelfia
Caminhando na Praia da Conceição rumo à Praia da Cacimba, em Fernando de Noronha - PE
Metade da beleza de Noronha está acima do mar e a outra metade está abaixo do mar. Então, nada melhor do que poder aproveitar as duas partes, os dois mundos do arquipélago. Muita gente mergulha pela primeira vez exatamente aqui. Faz um batismo e fica encantado com o universo subaquático. Mas, melhor ainda é já saber mergulhar antes de vir para cá. Vai poder aproveitar bem mais a quantidade de mergulhos que a ilha oferece.
Preparando-se para mergulhar na Corveta, em Fernando de Noronha - PE
Além disso, quem mergulha a primeira vez por aqui vai ficar meio decepcionado com os outros mergulhos espalhados pela costa brasileira. O melhor é se acostumar com um mergulho "normal" para depois vir conhecer o paraíso. Senão, vai ficar muito mal acostumado.
Praia do Leão. em Fernando de Noronha - PE
Além dos mergulhos, Noronha possui algumas das mais belas praias do Brasil, como as praias da Cacimba, do Leão e do Sancho. Cada uma maravilhosa à sua maneira. Para os surfistas a época que começa agora é a melhor e muitos dizem que a Cacimba tem as melhors ondas do Brasil. É o nosso Hawaii. Mesmo com tantas ondas, a água continua limpa e para quem sabe nadar, entar no mar na Cacimba é inesquecível. Poder observar essas belas ondas com clareza de debaixo d'água é incrível. O desenho da onda vista por baixo, quando ela passa sobre nossas cabeças e estoura um pouco adiante é hipnotizante. Até perdemos um pouco a noção do perigo.
Fim do mergulho na Lage Noronha, em Fernando de Noronha - PE
Eu e a Ana já somos mergulhadores experientes, assim como conhecedores do arquipélago. É minha quarta vez por aqui e a segunda dela. Viemos para conhecer um pouco do que ainda não conhecíamos mas, sobretudo, ver e rever as maravilhas que já conhecemos. Além disso, estamos "apresentando" a ilha ao Haroldo, que viaja para cá pela primeira vez. A gente o convenceu a fazer um curso de mergulho antes de chegar aqui, para que pudesse nos acompanhar nas nossas explorações embaixo d'água.
Praia da Conceição, em Fernando de Noronha - PE
Montamos então nossa programação nesses seis dias tentando maximizar as duas Noronhas. Marcamos saídas de mergulho para quatro dias pela manhã, ficando com todas as tardes livres, além de um dia inteiro para explorar a superfície e suas praias. Nas noites, exploraremos os restaurantes e a vida noturna.
Magnífico fim de tarde nos Dois Irmãos, em Fernando de Noronha - PE
Nada mal a programação, né?
Como todos os que tem nos acompanhado sabiam, o dia 27 de Março era a data escolhida para o início da nossa viagem de 1000 dias. Desse modo, a data de chegada seria 21 de Dezembro de 2012 (27/03 + 1000), que é a data do fim do mundo segundo os maias (ou segundo algumas interpretações do calendário maia). A brincadeira era essa: não precisaríamos pagar nossas contas quando chegássemos. Mas ainda daria tempo de se despedir dos amigos e família.
Era um bom plano. Mas, para isso, precisaríamos sobreviver à nossa última semana em Curitiba. Foi uma correria danada! Além de terminar toda a burocracia da viagem, acabar de comprar os equipamentos, negociar com os apoiadores, equipar a Fiona, fazer festa de despedida, tentar montar o nosso site junto com nossos desenvolvedores, além de tudo isso, ainda tínhamos de organizar e efetivar a mudança do nosso apartamento alugado em Curitiba, apartamento que nos acolheu tão bem por tantos anos.
O grosso da mudança foi feito na véspera, levando nossos móveis para casa de parentes e também para um depósito. O dia, que deveria ter terminado no fim da tarde, só terminou no outro dia, às duas da manhã. Com isso, a partida para os 1000 dias ficou, por bem, adiado em um dia.
Santa inocência, a nossa. O dia seguinte, dia 27, também foi pesadíssimo. Ainda faltava configurar todo o nosso equipamento, além de distribuir camisetas e brindes para amigos e apoiadores. Resultado: também fomos para a cama às duas da manhã. Mas desta vez, dispostos a iniciar a viagem de um jeito ou de outro. E assim foi: dia 28 de Março, data inicial dos 1000 dias! Agora, para ser capazes de terminar a viagem, me desculpem os maias, mas o fim do mundo vai ter de esperar!
Tentativa de enfrentar o mar e as ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Passamos hoje um dia espetacular na praia do Kalalau. No próximo post relato como foi, entre banhos de cachoeira, caminhadas e pescarias. Agora, vou falar apenas de um dos aspectos que me convenceram de que essa é a mais bonita praia que já vi em meus rápidos 43 anos de idade.
Enormes ondas estouram nos rochedos da Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Estou falando do mar e, especialmente, das ondas. Se já estavam grandes ontem, hoje estavam ainda maiores e mais ameaçadoras. Não é sempre assim. Tem época do ano que, ouço, isso é um aquário. Agora no inverno, ao contrário, é a época das ondas grandes na costa norte de todas as ilhas havaianas, incluindo o Kauai.
Mar violento e grandes ondas na Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Mar violento ao fundo e tranquilidade total na praia, em Kalalau, na ilha de Kauai, no Havaí
Mas, mesmo nessa época, todos os dias são diferentes. Hoje, por exemplo, estava mais forte do que ontem. Aparentemente, estava mais forte do que todos os dias anteriores da temporada. Quem disse foi uma das duas pessoas que vi entrar no mar e que saiu de lá com os olhos arregalados. “Nossa, quase morri ali!”. E ele tem estado na praia e entrado diariamente no mar há duas semanas.
Mar violento e grandes ondas na Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
A outra pessoa que entrou, foi logo atrás desse primeiro. Mas o mar e as ondas os separaram rapidamente. Dez minutos depois da primeira pessoa ter saído do mar, saiu a segunda. Obviamente, essa demora não foi por sua vontade, mas pela vontade e humor das fortes correntes e ondas. Numa aparente tranquilidade que escondia uma seriedade, ele falou ao amigo: “You left me there alone to die?”.
Um mirante avançado para melhor admirar as grandes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Essa fúria do lado de dentro contrasta com a tranquilidade e beleza do lado de fora. Praia enorme, areia boa para caminhadas, mar azul, espuma branca, visual bucólico. Não há problemas em molhar os pés, mas um metro a mais que se entre, cuidado com a corrente! As ondas aqui estouram (ou explodem) perto da praia. Não são ondas “surfáveis”. Desmoronam rapidamente, por inteiro. As maiores, algo entre três e quatro metros, uma parede de água despencando a meros 20 metros da areia, aonde a profundidade mal ultrapassa o metro e meio. Isso antes da onda passar, pois logo atrás dela, o mesmo lugar estará a 4-5 metros de profundidade para, logo depois, “esvaziar” novamente.
Um mirante avançado para melhor admirar as grandes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Enfim, um verdadeiro espetáculo para quem vê de fora e algo meio tenso para quem vê “de dentro”. Eu, fascinado que sou por água, mar e ondas, metido a desbravador, me achando o “amigo dos oceanos”, claro que quis ver as tais ondas dos dois ângulos. Pelo lado de fora, tratei de achar um “mirante avançado”, em cima das pedras. Ali vi o mar bombardeando as encostas, consumindo pouco a pouco a ilha que, um dia, voltará a ser mar.
Não é a toa que os barcos não chegam até a praia nessa época do ano, na kalalau beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Engraçado também foi ver um barco se aproximando. Enquanto no verão, é possível vir até aqui pelo mar e desembarcar tranquilamente, agora os barcos só ficam a uma distância segura. Os turistas vêm, fotografam e se vão. O Kalalau, no inverno, é daqueles que caminham. E só!
Grandes ondas estouram perto da praia em Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Voltando às ondas, ontem eu tive o prazer em enfrentá-las. Como disse, estavam menores, mas meu ouvido reclamou um pouco da diferença de pressão ao passar abaixo delas. Por cima, nem pensar!
Uma grande onda não estoura, ela explode na Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Tentativa de enfrentar o mar e as ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Hoje, estive ensaiando entrar por algum tempo. O coração mandava ir enquanto as pernas se recusavam. Espírito de aventura contra espírito de autopreservação. Por fim, a coragem me levou mar adentro, pelo menos até a frente das ondas. Mas não através delas. Ensaiei, respirei fundo, combati demônios interiores, mas não fui além. Aquela vozinha sensata dentro da cabeça, mais os conselhos da Ana e do Rafa falaram mais alto.
Batendo em retirada das enormes ondas de Kalalau, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí
Afinal, eu e a Ana tínhamos uma caminhada pela frente ainda hoje e o mar estaria lá amanhã, para uma nova tentativa. Enfim, aquela popular “amarelada”. Enquanto andávamos em direção às montanhas (estávamos fazendo uma trilha para uma cachoeira), eu olhava para trás, via o mar e as ondas e só conseguia pensar: “Que sensacionais! Só espero que não fiquem ainda maiores, pois amanhã, nada de sensatez!”
O Rafa pergunta: "Amarelou?". "Pois é... tá f...!" (Kalalau Beach, na Na'Pali Coast, costa norte de Kauai, no Havaí)
Subindo Agulhas Negras com Prateleiras ao fundo - RJ
Bem cedinho partimos os três casais e o Anderson rumo á entrada do parque. Fomos divididos em dois carros para enfrentar a péssima estrada: a Fiona e o sempre valente Fusca, do Anderson.
Grupo no alto de Agulhas Negras - RJ
Lá na entrada do parque, uma notícia ruim, seguida por outra boa. Havia uma multidão na guarita, além de quatro ou cinco vans. Só me faltava essa: em pleno dia de semana um congestionamento nas Agulhas Negras. Depois, a notícia salvadora: a multidão estava indo para Prateleiras. Ufa! Mas que coicidência! Quando vimos a multidão, os novos amigos logo olharam para mim, sorrindo. Isso porque, na noite anterior, durante o jantar, tivemos uma longa discussão sobre turismo. Mais especificamente, sobre o acesso dos turistas às atrações. Eu dizia que reconhecia o direito das pessoas de irem à todos os lugares mas que, ao mesmo tempo, adorava chegar em alguma cachoeira, caverna oumontanha e não encontrar ninguém. Disse que a precariedade da estrada para o parque cumpria essa função: afastar as massas dali! E não é que chegamos lá e damos com 50-60 pessoas?!?
Cooper a 2.500 metros de altitude
Bom, passado o susto e a guarita todos passaram para a Fiona pois, a partir dali, nem o Fusca enfrentaria a péssima estrada. O pessoal veio para a Fiona e eu saí, percorrendo os 3 km até o Abrigo Rebouças correndo. nada como um cooperzinho a 2.500 metros de altitude para desenferrujar.
Exército praticando no Parque de Itatiaia - RJ
De tão ruim a estrada que eu cheguei antes da Fiona no abrigo. Ele está ocupado pelo exército, que está fazendo treinamentos na região. Cerca de 300 cadetes estavam lá em cima fazendo toda sorte de exercícios, subindo e descendo pedras com mochilas pesadas e rifles pendurados no pescoço. Enfim, toda a área em volta do refúgio estava bem movimentada. Esse parque é praticamente o quintal da AMAN. Não é à tôa que eles tem esse nome!
Início da subida para Agulhas Negras. Prateleiras ao fundo - RJ
Olhando para Agulhas Negras - RJ
A subida ao pico foi em gostosa e tranquila. Os dois casais andavam muito bem e não demorou muito para chegarmos lá em cima. Em dois trechos, para maior segurança, usamos corda.
Descendo Agulhas Negras - RJ
Lá de cima a vista estava maravilhosa. Para trás das Prateleiras, um mar de nuvens cobria a paisagem. Para os outros lados, identificamos o Pico do Papagaio, em Aiuruoca e a Pedra da Mina, nosso próximo objetivo.
No alto de Agulhas Negras - RJ
Foi minha quinta vez neste parque pai de todos os outros aqui no Brasil, que a minha mãe já visitava na década de 50! Sempre subi no pico, entre outras atrações da parte alta do parque: cachoeiras, Prateleiras, Couto, etc. Mas foi apenas na primeira vez, num distante 1989, que eu consegui assinar o livro de registro, no alto da montanha. Isso porque, quando chegamos lá no alto, descobrimos que o pico verdadeiro fica um pouco adiante. E para chegar lá é necessário descer uma pedra bem exposta e subir outra. Qualquer escorregão e são dezenas de metros para baixo. Um estrago! Não sei como mas, na primeira vez, com dois amigos da Unicamp, consegui fazer isso sem cordas. Depois, nunca mais! E olha que eu pelejei! Desta vez, junto com o Anderson e com a ajuda de cordas, voltei ao mesmo lugar e assinei o nome! Tirei um espinho encalacrado da garganta!
Último esforço para se chegar ao livro no topo das Agulhas Negras - RJ
Assinando o livro no alto das Agulhas Negras - RJ
Assinando o livro no alto das Agulhas Negras - RJ
Lá do alto, fiquei imaginando toda aquela região, já tão linda, nevada. Seria inacreditável! Vocês sabiam que de 11 para 12 de Junho de 85, portanto nem tão antigamente assim, nevou por 9 horas sem parar por aqui. Foi capa do Globo e do Jornal do Brasil (os jornais estão lá na Pousada dos Lobos). O pessoal, os sortudos que estavam aqui, faziam bonecos de neve e guerras de bolas de neve. Os carros pararam de funcionar e várias pessoas acampadas se refugiaram no Alsenne (naquele tempo, os chatos do ICMBio não tinham embargado o hotel). Será que veremos isso novamente?
No topo das Agulhas Negras - RJ
Bom, devaneios à parte, descemos a montanha, eu fizmais um cooper e voltamos para a Pousada dos Lobos. Antes de partir para Passa Quatro ainda deu tempo de ver a Argentina de Don Diego Maradona ganhar mais uma e conhecer mais um simpático casal que acabara de chegar: a Mirim e o Rogério. Nesses lugares, quase 100% das pessoas que conhecemos são muito interessantes.
No topo das Agulhas Negras - RJ
Com o sol de pondo, partimos de volta às Minas Gerais,em direção à Passa Quatro e à Pedra da Mina, a mais alta montanha da Serra da Mantiqueira.
Início da subida para Agulhas Negras. Prateleiras ao fundo - RJ
Cara de Bahia, mas é a praia de Grande Anse, em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Tecnicamente, voltamos à Europa (e portanto, deixamos A América!). Tudo aqui, dentro do Caribe, com um voo de 20 minutos. Saímos de Antígua e chegamos à Guadalupe (em francês: “Guadeloupe”). A primeira, uma ex-colônia inglesa, hoje país independente dentro da comunidade do Commonwealth (o que significa que a Rainha ainda é a Chefe de Estado da ilha). A segunda, uma ex-colônia francesa, já há bastante tempo transformada em “departamento” (o equivalente ao que chamamos de “estado”, no Brasil, ou de “província”, na Argentina). Ou seja, Guadalupe, juridicamente, é um estado francês, como qualquer outro lá na Europa, como a Bretanha, a Alsácia ou qualquer outro. Elege seus deputados e senador, vota para presidente.
Chegamos na França! (no aeroporto internacional de Guadalupe, no Caribe)
Essa diferença é fruto das distintas políticas de emancipação de suas ex-colônias das duas grandes potências colonialistas de outrora. A Inglaterra, quando percebia que o negócio começava a esquentar em alguma colônia, corria lá e “concedia” a independência, mas tentando manter o país em sua comunidade (a tal Commonwealth), o que lhe trazia vantagens comerciais. Já a França, dizia a sua colônia: ”Mas vocês não são colônia, vocês são a própria França!”. Essa tática funcionou bem aqui no Caribe e América do Sul. Hoje, além de Guadalupe, temos Martinica e Guiana Francesa como departamentos franceses na região. A Europa em plena América. Mas, em alguns lugares, essa mudança de nome não funcionou bem não, e acabou gerando sangrentas guerras de libertação. O melhor exemplo é o caso da Argélia.
Parece a Serra da Mantiqueira, mas é a Cascade aux Ecrevisse, no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
A gente sente essa mudança de continente logo que chegamos à ilha. Foi muito similar ao que sentimos quando entramos na Guiana Francesa. Lá, saímos da doce bagunça do Amapá para entrarmos numa “Amazônia arrumadinha”. Aqui, saímos da bagunça caribenha de Antígua para entrar no “Caribe arrumadinho” de Guadalupe, com organização europeia. Percebemos isso no aeroporto, no porte das estradas, no padrão de sinalização e por aí vai.
Mata tropical no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Outra mudança que logo percebemos, essa mais pelos ouvidos do que pelos olhos, é a língua. E não falo apenas da mudança do inglês para o francês. É a atitude, mesmo. Nos países de língua espanhola, obviamente falávamos seu idioma. Mas se quiséssemos, poderíamos nos virar no inglês mesmo. Nos países de língua holandesa, então, era só inglês! Mas aqui, que nada! É raro encontrar alguém que faça o mínimo esforço em falar inglês. É até mais fácil falar espanhol, pois se encontram muitos imigrantes de países de fala espanhola. Então, o negócio foi desenferrujar meu francês mesmo, Algumas vezes, muito divertido, outras, bastante aflitivo, pela falta de vocabulário. A Ana até se impressionou com a velocidade que falo. Mas eu sei muito bem o tanto que “não estou falando”! Para complicar, a não ser que eu peça expressamente, meus interlocutores falam rapidamente, como seu eu fosse francês nativo. A técnica é pescar palavras-chave e, com muita agilidade, deduzir o significado e sentido do que dizem...
Delicioso banho de cachoeira na Cascade aux Ecrevisse, no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Nós chegamos cedinho no aeroporto, vindos de Antígua, e passamos acelerados pela alfândega, uma olhadinha rápida nos passaportes e aquele carimbo mágico que nos dá o direito de entrar no país. Acho que foi a fronteira mais expedita que já passamos! Um pouco depois já estávamos de carro alugado dirigindo pelas autoestradas da ilha. Pois é, nossa primeira autoestrada numa dessas pequenas ilhas caribenhas, chique demais!
Nosso roteiro planejado para os 4 dias em Guadalupe
No próximo post vou falar um pouco da geografia interessante da ilha, mas Guadalupe tem o formato de uma borboleta de asas abertas. A capital, Ponte-à-Pitre e o aeroporto ficam quase no centro, no “encontro das asas”. Nós seguimos diretamente para a “asa” oeste, chamada de “Basse Terre”. “Basse” só no nome, pois é aí que estão as montanhas de Guadalupe. Além de montanhas, muita mata tropical, rios, cachoeiras e praias mais selvagens.
Refrescando-se na cachoeira de Cascade aux Ecrevisse, no Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Para proteger toda essa natureza, foi criado um parque, o “Parc National de la Guadeloupe”. Uma estrada corta o parque em dois, a “Route de La Traversée”, e foi por ela que seguimos, nosso primeiro contato com a natureza exuberante dessa parte da ilha. Seguindo no sentido leste-oeste, logo chegamos à bela cachoeira conhecida como “Cascade aux Ecrevisses”, um convite irrecusável para um banho refrescante. Foi a primeira das muitas cachoeiras que devemos encontrar nessas ilhas daqui para o sul, até Santa Lucia, cada vez mais “tropicais”!
Chegando ao mar do Caribe logo após atravessar o Parque Nacional em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Seguindo adiante, muita mata, alguma chuva e mirantes prejudicados pela presença de neblina. Não demorou muito e estávamos já na costa oeste de Basse Terre, nosso primeiro contato de verdade com o litoral franco-caribenho. Começamos seguindo para o sul, até uma região transformada em parque em homenagem ao lendário documentarista Jacques Costeau. O velho lobo do mar uma vez afirmou que ali era um dos melhores pontos de mergulho do mundo! E olha que ele mergulhou por todos os sete mares e oceanos da Terra!
Cara de Bahia, mas é a praia de Grande Anse, em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Mesmo apesar dessa afirmação um tanto patriótica, estávamos mais para praia do que para mergulho e resolvemos seguir para o norte, até Grande Anse, considerada por muitos a mais bela praia de Guadalupe.
As águas tranquilas e calmas da praia de Grande Anse, em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Bom, não sabemos se é a mais bela, mas que é linda, isso é! Ela nos lembrou muito as praias de Ubatuba, com o mata chegando até a praia de areias grossas e amareladas, inclinada para entrar no mar. Mas duas coisas davam um toque “especial”. Primeiro, a presença de muitos coqueiro, conferindo um certo “ar baiano”. E a segunda, a incrível transparência da água. Mas, ao invés do tradicional azul caribenho, a cor era verde mesmo, como no litoral norte de São Paulo e região de Paraty.
Praia de Grande Anse, em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe. Uma mistura de Bahia com litoral norte de São Paulo. Uma beleza!
Nessa época do ano, está bem tranquila, quase sem turistas. Resolvemos ficar por ali mesmo, acomodados numa das muitas sombras da praia, antes de encontrar algum hotel para nós. Foi só no fim de tarde que fizemos o esforço supremo de sair da praia para achar um hotel. Hotel não, que isso é coisa rara por aqui. Fomos a um “gite”, a maneira mais comum de hospedagem no mundo francês. São pequenos chalés que são alugados quase sempre por semana. Tem cozinha completa, mas sem serviços de hotel, como limpeza ou café da manhã. Muitos deles não aceitam hóspedes para ficar pouco tempo. Querem, no mínimo, três ou quatro dias. Mas, nessa época de baixa temporada, feles ficam mais “maleáveis”.
Praia de Grande Anse, em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe. Uma mistura de Bahia com litoral norte de São Paulo. Uma beleza!
Enfim, encontramos um gite bem simpático para nós e fomos ao mercado comprar suprimentos. Por “suprimentos”, leia-se “queijos, vinho e pães”! Assim, de noite, pudemos celebrar em grande estilo, com vinho e queijos nacionais, nossa chegada à Europa, à França e à exuberante Guadalupe!
Lanche de queijos e vinho, enquanto trabalhamos um pouco em Grande Anse, em Basse Terre, em Guadalupe, no Caribe
Nadando no Encanto Azul, próximo à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
Tivemos uma manhã mais tranquila hoje, descansando e trabalhando no computador. Estava na hora! A alergia da Ana melhora aos poucos e as minhas costas tiveram uma recaída, depois dos saltos nas cachoeiras, ontem. Tandrilax nelas!
Montanha em formato de mesa, próxima à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
De roupas lavadas (sempre motivo de comemoração!), deixamos a Pousada do Lajes para trás e tomamos nossa velha conhecida Transamazônica, na sua porção nordestina e asfaltada, na direção leste, até o município de Riachão. Oitenta quilômetros de bom asfalto, mais dez de asfalto esburacado nos levaram até essa cidade, que também fica na Chapada das Mesas. Lá chegando, pegamos uma pequena estrada de terra para o norte, trinta quilômetros até uma propriedade onde está o Poço Azul e a Cachoeira Santa Bárbara. Aqui também há alguns chalés e é onde vamos passar a noite, ótima sugestão do Zezinho, nosso simpático guia de dois dias atrás.
O riacho que nasce no Encanto Azul, próximo à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
Mas nossa parada por aqui foi rápida. Seguimos mais sete quilômetros de areia até o início de uma trilha que nos leva até uma nascente de águas cristalinas que tem o singelo nome de Encanto Azul. O nome é modesto, o lugar é fabuloso!
A maravilhosa nascente de águas cristalinas chamada Encanto Azul, próximo à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
Para começar, já estávamos felizes só por estar caminhando sozinhos numa trilha no meio do cerrado. Fazia tempo que isto não acontecia e a sensação de liberdade e de exploração aumenta bastante. Depois, a trilha segue até um vale com um riacho de águas transparentes. A gente sobe um pouco o riacho e a primeira visão do tal Encanto Azul parece uma miragem. No meio de um canyon com paredes altas e íngrimes, uma piscina de águas azuis e transparentes, cercada do verde da vegetação e do vermelho das paredes. Que coisa mais linda!
Encanto Azul, debaixo d'água, na Chapada das Mesas, região de Riachão - MA
O incrível Encanto Azul, na Chapada das Mesas, região de Riachão - MA
Parece os poços de águas azuis que há na Chapadas Diamantina e em Bonito. Com a maravilhosa diferença de que aqui não há placas ou fiscais proibindo que a gente entre na água. Até quando? Até o turismo de massa chegar mais perto. Portanto, venham logo pois a Chapada das Mesas é a bola da vez dessas gigantes do turismo! Não é à tôa que está saindo em todas as revistas especializadas...
As águas incrivelmente transparentes do Encanto Azul, na Chapada das Mesas, região de Riachão - MA
Encanto Azul, nascente de águas cristalinas, na Chapada das Mesas, região de Riachão - MA
A gente se esbaldou por lá por um bom tempo, sem pressa de sair. Mesmo na sombra (a luz do sol só bate diretamente na água perto do meio dia), a temperatura da água é uma delícia. Sem máscara, mas com oclinhos, deu para explorar a parte iluminada do lago, visibilidade de água mineral. Só não deu para entrar na caverna subaquática, escura como breu, pois não estávamos com nossas lanternas submarinas.
Admirando a região de cerrado próxima à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
Bem no final da tarde, tivemos de abandonar aquele local mágico. Sempre a parte mais difícil. Perto disso, subir a trilha de volta foi fichinha. Lá no alto, com a luz avermelhado do final do dia, o cerrado e o vale ficaram ainda mais bonitos.
Cruzando o cerrado próximo à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
Voltamos para nosso chalé. Somos os únicos hóspedes do local. A lua está quase cheia, o barulho do rio e do cerrado soam como música e temos a sensação de estar no lugar certo na hora certa. Se fosse no sábado da semana que vem, não seria assim, já que todos os chalés foram reservados pelo pessoal de uma igreja de Balsas, cidade próxima daqui. Ufa....
Fotografando o pôr-do-sol no cerrado, próximo à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
Amanhã cedo, antes que o pessoal da cidade chegue aqui para aproveitar o domingão, teremos o Poço Azul e a Cachoeira de Santa Bárbara só para a gente. O negócio é acordar cedo e aproveitar! Depois, rumo à Balsas, Alto Parnaíba, Chapada das Mangabeiras e Jalapão...
Pôr-do-sol no cerrado, próximo à Riachão, na Chapada das Mesas - MA
O gigantesco monumento em construção de Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
A história é escrita pelos vencedores. Mas, os tempos mudam, as mentalidades mudam, novos pontos de vista aparecem e, às vezes, nosso entendimento de um processo ou fato também muda. A conquista do oeste americano é um bom exemplo disso. Aliás, o termo “conquista” não poderia ser melhor colocado. Afinal, o oeste já era ocupado, há milhares de anos, pelos índios norte-americanos. Quando o país avançou para o oeste, após se tornar independente da Inglaterra, o fez em detrimento dessa antiga população. Aos poucos, foram sendo expulsos de suas terras, forçados a migrar e a abandonar seu antigo estilo de vida.
Índios fazem perfomance de dança típica Sioux, em frente ao monumento em construção de Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
Ao mesmo tempo, foi se criando a ideia de que os índios eram selvagens, que precisavam ser civilizados, educados e cristianizados. Por falta de entendimento mútuo entre duas culturas distintas que se antagonizavam, criaram-se desconfianças e mitos. Um índio não era confiável, não gostava de trabalhar, era um empecilho na marcha do progresso, era mal. Índio bom era o índio morto.
Índios fazem perfomance de dança típica Sioux, em frente ao monumento em construção de Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
Duas gerações após a tal “conquista do oeste”, esse arquétipo do índio ainda prevalecia. Os filmes da Hollywood das décadas de 20 a 50 sempre trataram os índios como os vilões. Na minha infância, eram esses os filmes em preto e branco que passavam na Sessão da Tarde. No famoso seriado Rin-Tin-Tin, era sempre um alívio ouvir a música da corneta da 7ª cavalaria que chegava, para salvar os pobres colonizadores e perseguir os índios malvados, que sempre batiam em retirada com a chegada dos soldados mocinhos. Era uma delícia ver os tiros serem disparados, derrubando os selvagens de seus cavalos.
Índios fazem perfomance de dança típica Sioux, em frente ao monumento em construção de Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
Essa visão histórica mudou bastante nas últimas décadas. Infelizmente, não há como mudar o passado, mas ao menos é possível colocar os pingos nos is. O massacre da população indígena já começou na época do primeiro presidente, Washington, quando se deu a conquista da região ao sul dos Grandes Lagos. Daí para frente, só foi parar com a conquista total do que é hoje os Estados Unidos, aniquilando quase completamente a cultura e os povos que aí existiam.
Vestimenta típica da nação Sioux, durante apresentação de música e dança em frente ao monumento Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
Tratados eram feitos apenas para serem quebrados alguns anos depois, para empurrar os índios um pouco mais para o oeste. Foram confinados em pequenas reservas onde não era possível manter seu estilo nômade e caçador. Aliás, a principal caça, o bisão, foi praticamente extinta pelos caçadores brancos, que o faziam por esporte, e não para alimentação. Os filhos eram tomados dos pais e enviados para escolas distantes, onde aprenderiam a viver de modo “civilizado”.
Vestimenta típica da nação Sioux, durante apresentação de música e dança em frente ao monumento Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
Qualquer sinal de revolta era tratado a ferro e fogo, quase sempre com vitória branca. Houve exceções, como a famosa derrota do general Custer e sua 7ª cavalaria. Mas, de modo geral, foi um massacre após o outro, o pior deles em Wounded Knee, relatado já em outro post. Nada como conhecer a história para saber que aquele ditado “Aqui se faz, aqui se paga” é conversa mole. A história é uma sucessão de injustiças cometidas pelos mais fortes contra os mais fracos. Assim é, assim será. A conquista do oeste é só mais um exemplo disso.
Vestimenta típica da nação Sioux, durante apresentação de música e dança em frente ao monumento Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
No final do dia de hoje, estivemos no monumento que se constrói em homenagem à Crazy Horse. Mais um valente guerreiro e líder indígena que, à traição, foi esfaqueado por trás por um soldado branco, enquanto negociava uma trégua. O monumento, que no ritmo que anda, vai ficar pronto daqui a uns 300 anos, retrata o guerreiro sobre seu cavalo. Quando (se) ficar pronto, será o maior monumento do mundo, maior que a pirâmide de Queóps. Ele está localizado nas Black Hills, bem próximo ao Mount Rushmore, que homenageia os grandes líderes cara-pálidas que conquistaram o oeste.
Índios fazem perfomance de dança típica Sioux, em frente ao monumento em construção de Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos
Depois de 50 anos de trabalho e muita dinamite, apenas o rosto está pronto, Afinal, é uma montanha inteira a ser moldada. Ali, assistimos curiosos a apresentação de uma dança ritual Lakota, a etnia Sioux que aqui vivia. Tendo como pano de fundo o grande monumento e um espetacular céu de fim de tarde, foi bem emocionante. Ao final, junto com outros visitantes, a Ana até arriscou uns passinhos, enquanto eu filmava tudo. E eu saí de lá com um livro sobre a história da conquista do oeste. Só preciso arrumar tempo para ler, pois curiosidade não falta. De qualquer maneira, os dólares que lá deixamos servirão para comprar um pouco mais de dinamite e tirar (explodir) mais um pedacinho da montanha. Nossos tataranetos poderão observar o resultado final da lua, com um bom par de binóculos...
Modelo de como deverá ficar o monumento Crazy Horse, na região das Black Hills, em South Dakota, nos Estados Unidos, quando estiver pronto
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