0
Arquitetura Bichos cachoeira Caverna cidade Estrada história Lago Mergulho Montanha Parque Patagônia Praia trilha vulcão
Alaska Anguila Antártida Antígua E Barbuda Argentina Aruba Bahamas Barbados Belize Bermuda Bolívia Bonaire Brasil Canadá Chile Colômbia Costa Rica Cuba Curaçao Dominica El Salvador Equador Estados Unidos Falkland Galápagos Geórgia Do Sul Granada Groelândia Guadalupe Guatemala Guiana Guiana Francesa Haiti Hawaii Honduras Ilha De Pascoa Ilhas Caiman Ilhas Virgens Americanas Ilhas Virgens Britânicas Islândia Jamaica Martinica México Montserrat Nicarágua Panamá Paraguai Peru Porto Rico República Dominicana Saba Saint Barth Saint Kitts E Neves Saint Martin San Eustatius Santa Lúcia São Vicente E Granadinas Sint Maarten Suriname Trinidad e Tobago Turks e Caicos Uruguai Venezuela
Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Chegando à Morne Rouge, aos pés do vulcão Soufrière, na Martinica
Estamos em Abril de 1902. A bela cidade de St. Pierre, a capital de Martinica, é uma das cidades mais importantes dessa parte do mundo. Com pouco mais de 250 anos de história, ela é chamada de “a Paris do Caribe”. Exageros à parte, além da importância política e econômica, a cidade é um polo cultural. Seu pomposo teatro, recém reconstruído depois da destruição causada por um grande furacão no século anterior, atrai companhias de ópera da França e da Itália. Os quase 30 mil habitantes levam uma vida europeia, mas com clima caribenho.
Viajando pela bela Route de La Trace, no norte d Martinica
Mas tudo está para mudar. A cidade, um movimentado porto, está localizada nos pés da montanha Pelée, que na verdade é um vulcão meio dorminhoco. A bela e tranquila paisagem é retratada em muitos quadros e até nas recentes “photographias". Piqueniques são organizados nas encostas das montanhas, enquanto turistas mais intrépidos sobem até o alto da montanha, onde está o “Étang Sec”, ou lago seco, a grande cavidade que um dia já havia sido uma caldeira de vulcão.
A igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica
Mas agora, outra coisa atrai a curiosidade de moradores e turistas. Fumarolas aparecem em vários pontos da montanha. Não é um fenômeno raro, mas a quantidade delas, sim. Mas no dia 23 de Abril, cinzas do vulcão chegam até a cidade. Isso sim era estranho para a maioria das pessoas. Os mais velhos se apressam a dizer: “Foi assim em 1851!”. Alguns poucos até se lembram que, na época, seu avós se lembraram de fenômeno similar, em 1792. “Dura umas semanas e depois passa...” Ninguém parecia se importar que os índios Caribs, que viviam em Martinica há muito mais tempo, conheciam a montanha como “A Montanha de Fogo”.
O interior da igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica
As pessoas começam a ficar mais preocupadas dois dias depois, quando uma grande nuvem se ergue sobre a montanha e com a nova chuva de cinzas no dia seguinte. No dia 27, valentes excursionistas chegam ao topo da montanha e voltam com uma notícia alarmante: o tal lago seco agora estava cheio. Pior, uma estranha “torre de pedra” tinha se erguido na ponta do lago e, de lá, vertia uma cachoeira incessante de água fervente, a fonte de água do lago. De um buraco na tal torre, podia-se ouvir um forte barulho de água borbulhando, como se houvesse um enorme caldeirão abaixo da terra.
Mas, de certa forma, a vida seguia seu ritmo normal na cidade. O jovem Cyparis, preso por ferir um amigo numa briga de bêbados, é autorizado a sair da prisão durante o dia, com o compromisso de voltar de noite, para lá dormir. Ele e todos os habitantes de St. Pierre reclamavam do forte cheiro de enxofre que havia tomado conta da cidade.
Estado em que ficou o sino da antiga igreja de St. Pierre, na Martinica, após a trágica erupção de 1902
No dia 30, as pessoas já haviam se acostumado com o barulho de trovoadas que às vezes o vulcão emitia. Mas a notícia de que rios que lá nasciam haviam inundado duas pequenas vilas no interior não passaram despercebidas. Afinal, habitantes dessas vilas começaram a buscar refúgio na capital do país. As explosões foram muito maiores no dia 2 de Maio e a nuvem de fumaça negra tapou o sol por toda a metade norte da ilha. Felizmente, no dia seguinte, o vulcão se acalmou e o vento mudou de direção, limpando os céus sobre St. Pierre e aliviando o forte cheiro sobre a cidade. O jovem Cyparis resolveu se juntar a uma das festas celebrando a melhora da situação e a farra foi até o dia nascer, quando foi se apresentar na prisão. O delegado não gostou! A punição: uma semana de solitária!
Estado em que ficou o sino da antiga igreja de St. Pierre, na Martinica, após a trágica erupção de 1902
No mesmo dia, o 4 de Maio, nova e intensa chuva de cinzas, tão forte que os barcos passaram a temer em navegar pela costa próxima. Justo quando passaram a ser mais exigidos, já que muitos habitantes mais ricos começaram a enviar seus filhos para as cidades do sul, nos barcos de linha. Mas o número de pessoas saindo era menor que o de pessoas entrando. Principalmente quando, no dia seguinte, o Étang Sec se rompeu e suas águas desceram montanha abaixo, se transformando em lama e enterrando uma pequena vila, matando 150 pessoas. Sobreviventes e a população de outras vilas próximas procuravam a segurança da capital. Nesse mesmo dia, um estranho fenômeno: o mar retrocedeu algumas centenas de metros por alguns minutos para, em seguida, voltar com força total e inundar partes da cidade...
Copo derretido pela trágica erupção de 1902, exposto no museu de St. Pierre, na Martinica
No dia 7, os barulhos vindos do vulcão aumentaram. Pior, uma densa nuvem negra começou a sair do alto da montanha. Ficava ainda mais aterrorizante pelas dezenas de descargas elétricas no seu interior, que lhe davam uma coloração alaranjada quando os raios a iluminavam. Mas os jornais traziam duas boas notícias: um vulcão na vizinha ilha de Saint Vincent entrara em erupção, certamente aliviando a pressão na crosta terrestre em toda a região; e o governador geral da Martinica estava chegando à cidade, junto com a sua esposa, para mostrar que ela era realmente segura.
Parafusos derretidos e fundidos pela trágica erupção de 1902, expostos no museu de St. Pierre, na Martinica
Mas nem todos estavam convencidos disso. No porto, o Capitão Marina Leboff zarpa com seu barco ainda carregado pela metade, apesar das ameaças da empresa e dos oficiais portuários, Iriam caçar o seu registro! Quem tentava sair por terra era ameaçado de prisão, por tentativa de disseminar o pânico.
Ruínas do antigo teatro de St. Pierre, na Martinica, destruído na erupção de 1902
No dia 08, pela manhã, a pequena Anne, de 11 anos, acompanha sua mãe até a igreja, mas antes de lá chegar, sua mãe pede que vá até a casa de uma tia. No caminho, resolve dar uma olhada num enorme buraco, atração turística no alto da cidade. Na mesma hora, Cyparis espera a sua “ração da manhã”, passada pela pequena e única abertura de sua cela escura. A jovem Anne segue até a antrada do poço, sempre de olho na coluna de fumaça de sai do vulcão. Pouco antes de chegar, gritos de dentro do poço lhe chamam a atenção. Ela olha e vê uma “piscina amarelada” no fundo. Pessoas subiam correndo as escadas, mas uma nuvem de vapor que vem de baixo parece engoli-las. Ela já não olha mais. Está em louca disparada ladeira abaixo. Mas um forte estrondo, o maior que já ouviu em sua vida, faz com que olhe para trás novamente. Incrédula, ela vê o Monte Pelée se abrir, e pela rachadura, uma enorme nuvem preta sair em direção à cidade.
St. Pierre, na Martinica, antes de ser destruída pela erupção de 1902 do vulcão Soufrière
Era um fluxo piroclástico. Milhões de toneladas de rochas, cinzas, água e gases aquecidos a mais de 1.000 graus centígrados desciam em corrida desvairada em direção à Paris do Caribe. Com uma velocidade de quase 600 km/h, essa massa fervente demorou menos de um minuto para cobrir os 6 km de distância até St. Pierre. Foi o mesmo tempo que levou a pequena Anne para correr até o mar, saltar em um pequeno barco e remar os poucos metros até uma pequena caverna nas pedras da orla onde costumava bricar com os amigos.
St. Pierre, na Martinica, logo depois de ser destruída pela erupção de 1902 do vulcão Soufrière, quando morreram 30 mil pessoas
Em segundos, 30 mil pessoas morreram. Entre elas, o governador e sua esposa, os oficiais do porto e os policiais da prisão, a mãe de Anne e o vigia do teatro. O que não estava enterrado, estava queimado. Uma testemunha que viu tudo de alto mar relatou: “A cidade simplesmente sumiu na frente dos nossos olhos”. Num mundo sem internet ou twitter, as notícias eram desencontradas. Ninguém parecia acreditar no tamanho da tragédia...
Escultura do antigo teatro de St. Pierre, na Martinica. Parecia antever a destruição trágica da cidade...
Apenas oito horas mais tarde um barco de guerra conseguiu aportar e pessoas desceram na cidade. O calor ainda era intenso. Poucas horas mais tarde e um pequeno bote com uma jovem menina, toda queimada, mas viva, foi encontrada já em alto mar. Para encontrar Cyparis, o único sobrevivente no centro da cidade, foram necessários quatro dias...
Cyparis, protegido pela cela solitária onde estava preso, foi um dos únicos sobreviventes da trágica erupção vulcânica de 1902, que destruiu St. Pierre, na Martinica
Pois é, foi nessa Pompéia moderna que chegamos hoje. Diretamente para o museu, onde lemos histórias, vimos fotos da cidade antes e depois da tragédia, observamos objetos encontrados posteriormente, como o sino distorcido que antes tremulava orgulhoso na catedral da cidade, um amontado de pregos que derreteram e viraram uma amalgama ou uma taça de vinho retorcida. Dali seguimos para o antigo teatro, do qual só sobraram as colunas. Uma escultura de pedra parece se retorcer em dor, triste coincidência. Ao lado do teatro, a prisão onde estava Cyparis. Alguns meses depois da tragédia, com sua pena perdoada pelo novo Governador, foi contratado por um circo americano para ser exibido pelos palcos e picadeiros como o único sobrevivente da tragédia que abalou o mundo.
Orla de St. Pierre, na Martinica
Antes de chegarmos à cidade, vindos pela bonita Route de La Trace, já tínhamos passado na pequena vila de Morne Rouge, destruída pelo mesmo vulcão em Agosto daquele mesmo ano de 1902. Dali pudemos admirar o Mt. Pelée atual, em toda a sua grandeza e indiferença por nós, míseros humanos e reles mortais. Mas foi por pouco tempo, pois logo se escondeu atrás das nuvens. Felizmente, nuvens normais, de vapor de água, e não de nuvens vulcânicas. Na igreja da cidade, um vitral foi, de certa forma, a imagem mais forte do dia: mostra o vulcão em erupção, as pessoas em desespero, algumas se agarrando num padre que segura um crucifixo.
Mosaico bem representativo das erupções do vulcão Soufrière, no interior da igreja de Morne Rouge, ao norte de Martinica, cidade que já foi parcialmente destruída numa erupção
Os padres de St. Pierre morreram incinerados. Mas foi a equipe liderada por um padre que encontrou Cyparis. Queimado, esfomeado, mas vivo.
Olá!
Espetacular esse texto.
Parabéns pelo conteúdo e experiência.
Além do livro de vocês, agora espero um filme sobre esse vulcão, alguém deveria ler o seu relato e se interessar, seria show!!
Parabéns pela escrita, emocionante e o lugar é lindo....
Resposta:
Oi Sheila
Hehehe, primeiro o livro, depois o filme! Um de cada vez. Será que os estúdios de Hollywood vão se interessar?
Enfim, eu fiquei impressionado mesmo com esse lugar, especialmente sobre essa enorme tragédia do início do séc. passado. Quanta coisa temos para aprender, não? Quando viajo e aprendo coisas novas, tento passer essas histórias para frente. É minha maneira de tentar agradecer a chance que estamos tendo...
Um abraço
Parabens pelo texto e imagens incriveis sobre esta tragedia que abalou este lugar.Esive nesta cidade nos pes da montanha Pelee e pude apreciar estas mesmas nuvens normais de vapor de agua,tive uma sensasao medo e encantamento,misturado.
Parabens pelo blog,lindo de viver
Resposta:
Olá Mara
Legal que vc tenha gostado do texto. A história desse lugar me deixou muito impressionado e eu tentei passar um pouco disso no post
Incrível o poder da natureza e de como somos insignificantes perto dela...
Abs
Grande relato, Rodrigo! Que história e que personagens! Abraços, Guto
Resposta:
Oi Guto!
Vindo de vc, o elogio vale em dobro!
Grande abraço!
Eu já havia lido alguns relatos deste local em livros de navegadores de volta ao mundo, mas, fotos nada. Elas impressionam!
Abraço.
Resposta:
Pois é...
E ver com os próprios olhos e sentir com os próprios pés é ainda mais impressionante!
Abs
Fala Rodrigo! Voltaram ao paraíso? Estou de volta acompanhando a viagem. Espero fazer o Caribe navegando e "pulando" de ilha em ilha. Então, Costa Rica furou. Iremos para Espanha e Portugal por uns 25 dias.
Resposta:
Oi Luis!
Achei que vc tinha sumido de vez! Por onde andou?
Essa viagem pelo Caribe com o próprio veleiro deve ser um sonho! Encontramos várias pessoas por aqui fazendo isso
Espanha e Portugal por três semanas promete! Na Espanha, nos Pirineus, tem umas caminhadas fantásticas!
Grande abraço
Muito bom o relato Rodrigo.
Quanta generosidade, compartilhar as informações, imagens e os fatos que chamaram a atenção de vocês nos lugares onde passaram.
Realmente, muito bom!
Obrigada.
Beijão para este casal incrível.
Higia
Resposta:
Oi Higia
Quanta generosidade um comentário sim! Obrigado pelo estímulo em continuarmos com nossos relatos!
Um grande abraço!
2012. Todos os direitos reservados. Layout por Binworks. Desenvolvimento e manutenção do site por Race Internet