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Admirando as pasisagens da Inside Passage, trecho entre Sitka e Ketchikan, no sudeste do Alaska
A região sudeste do Alasca é uma ponta meio isolada do mundo que poucos ouviram falar, mas muitos conhecem. Como assim? A sua divisão geográfica mal aparece no mapa, pois é uma língua na costa oeste do Canadá que antes de ser americana foi ocupada pelos russos. O contrato de compra e venda do território colocava a fronteira apenas no meridiano que faz a linha reta que conhecemos entre o Canadá e o Alasca.
Os muitos caminhos da Inside Passage, ao longo do sudeste do Alaska. O nosso caminho sai de Haines, passa por Juneau e Sitka e segue para Ketchkan, antes de passar ao Canadá
Quando começou a corrida pelo ouro os Estados Unidos reivindicou estas terras pelo uso histórico russo, enquanto o Canadá as defendia por estarem a leste do tal meridiano. Enfim, o assunto foi para uma arbitragem internacional que acabou dando ganho de causa aos americanos e o território foi adicionado ao mapa do Alasca. Detalhe: a Rússia vendeu todo o Alasca por ridículos 7,2 milhões de dólares, menos de 0,16 cents por acre! Foi um negócio da China! Pois nestas terras onde aparentemente não havia nada, depois foram descobertos ouro e petróleo, além da imensa riqueza natural.
Navegando na Inside Passage, trecho entre Sitka e Ketchikan, no sudeste do Alaska
Toda a área é isolada entre uma cordilheira de montanhas e o Oceano Pacífico, e a forma mais fácil de conhecê-la é pelo mar. Aí surgiram os cruzeiros, desde o início do século XX grandes navios e barcos a vapor começaram a explorar turisticamente estas águas. Este cruzeiro só se tornou mais conhecido no Brasil nos últimos 5 ou 10 anos. O Alasca é um dos grandes mercados das empresas de cruzeiros, assim como o Caribe, a Grécia ou o Mediterrâneo. Várias destas cidades se desenvolveram inicialmente em torno da pesca do salmão e hoje a sua economia gira em torno do turismo e dos turistas vindos nestes grandes navios.
Nosso ferry na Inside Passage, trecho entre Sitka e Ketchikan, no sudeste do Alaska
Seattle é o porto de partida e a primeira parada ao norte, após cruzar todo o litoral da British Columbia no Canadá, é a cidade de Ketchikan. Nós estamos fazendo o roteiro inverso, vindo do norte para o sul, portanto nossa jornada começou na cidade de Haines. Cruzeiros, no entanto, não são exatamente o tipo de turismo que nós estamos procurando, além de terem um itinerário e cronograma muito amarrados, eles podem ser um pouco caros. Foi buscando por uma alternativa para explorar esta região que descobrimos a Alaska Marine Highway System, uma linha de ferry boats que transita toda a região conhecida como Inside Passage.
O mapa do nosso caminho pela Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska
A Inside Passage é formada por uma longa cadeia de ilhas que costeia o litoral do Alasca, criando um verdadeiro corredor marítimo, protegido das grandes tempestades que abatem a costa do Pacífico. Uma das teorias migratórias da colonização da América diz que teria sido esta a rota de passagem dos povos vindos da Ásia. Os povos nômades, pescadores e bons navegadores, teriam vindo em embarcações costeado todo o Estreito de Bering durante a glaciação, em busca de alimento.
Memorial Tinglit em Ketchikan, no sudeste do Alaska
Toda a população que faz parte das primeiras nações a habitarem esta região tem traços mongóis, são orientais com a pele mais escura. Seus chapéus de caça e cerimoniais são parecidíssimos com os chapéus chineses. A estrutura desta sociedade surgiu em torno da exploração dos recursos naturais: as divisões de clãs, tribos e povos com diferentes culturas, idiomas e rituais. Os Tinglíts, Haidas e Tsimshians são apenas os maiores grupos e todos se dividem em diversas tribos, clãs e famílias. A sociedade era seminômade, vivendo a temporada de verão nos acampamentos de pesca e o inverno nas suas vilas fixas em baías protegidas.
Mapa das culturas e línguas indígenas do Alaska, no Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska
Durante o inverno os clãs se reuniam em torno do fogo com seus grandes chefes e anciãos, tomando as decisões políticas e passando aos mais jovens a sua história e cultura. Assim floresceu a arte que registrou em traços fortes uma cultura marcada pela relação de sobrevivência com a natureza, seus recursos naturais, a disputa dos territórios e a relação de poder que foi formada pela sociedade. Totens cerimoniais não apenas celebram a vida, um casamento ou a morte, mas também contam histórias, lendas e marcam a posição de poder dos líderes de cada clã.
Totem Tinglit em Ketchikan, no sudeste do Alaska
Quanto mais um líder fosse capaz de prover ao seu povo, roupas, comida, pele, etc, mais poderoso ele seria. Várias guerras ocorreram entre estes grupos que em épocas de caça e pesca mais escassa lutavam para ampliar suas fronteiras e garantir sua sobrevivência. Não é difícil entender onde tudo isso foi parar, pois hoje, mesmo que com diferentes tecnologias, rituais e nomenclaturas, as fronteiras, territórios, guerras e batalhas pelo poder se travam em torno do mesmo ponto: recursos, sobrevivência, riqueza e poder.
Centro de Tradição e Cultura Indígena, em Sitka, no sudeste do Alaska
Estou super ansiosa para ver toda esta cultura de perto, ver como evoluiu, como vive este povo, qual é a arte que foi preservada e qual ainda é produzida hoje em dia. A cada vila, uma nova história e novas informações, um mundo novo para descobrirmos. Nossa viagem começou na pacata vila de Haines, ainda ligada ao interior por uma rodovia. Dali pegaremos um barco para Juneau, a capital do estado, seguiremos para Sitka, a primeira cidade e capital do antigo território russo, e finalmente à Ketchikan, onde nos despediremos do Alasca rumo à costa do Canadá.
Aproveitando o calor do sol na Inside Passage, trecho entre Sitka e Ketchikan, no sudeste do Alaska
O itinerário do ferry é bem completo no verão e entre o final de setembro e o início de outubro inicia o seu novo calendário de inverno, com menos frequência, porém viagens mais baratas e menos lotadas de turistas. Nesta época os navios já se foram, muitos dos melhores tours já encerraram suas atividades, mas é quando você finalmente pode encontrar e interagir com os habitantes locais que estão viajando entre cidades e ilhas, para conhecer melhor o verdadeiro Southest Alasca.
Paisagens magníficas, apesar do tempo nublado na Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska
Já estamos com as passagens compradas e hoje começamos a nossa jornada pela Inside Passage. Primeira parada: Juneau!
DICAS PRÁTICAS
Tickets e Reservas: durante a alta temporada (junho a setembro), se você tem um roteiro apertado deve reservar com antecedência as passagens, principalmente se estiver viajando de carro. Esta é uma rota muito comum também para mochileiros europeus e canadenses, que sobem da British Columbia para o Yukon e descem por Haines pela Inside Passage.
Embarcando no ferry para a viagem entre Prince Rupert e Port Hardy, na Vancouver Island, sul da British Columbia, no Canadá
Ferry-boats: os ferries são como “mini-navios”. Além de oferecer cabines (80 a 100 dólares extras com 2 camas), possuem restaurante, cafeteria, bar, lounge, cinemas e um sun deck.
O deck principal do nosso ferry na Inside Passage, entre Junau e Sitka, no sudeste do Alaska
Overnight: Alguns dos trechos podem durar 18 ou até 24 horas. No verão uma ótima opção e bem popular, é reservar seu espaço no sun deck, também conhecido como solarium, colocando a sua barraca entre as outras dezenas de outros turistas. Você ganha um espaço mais reservado e confortável para ver as estrelas, o mar, as baleias e as belezas do caminho. Os nossos amigos Kombianos fizeram esta travessia durante o verão e escreveram um post bem bacana com dicas e relatos sobre essa experiência (veja aqui). Aos mochileiros de final de temporada, a dica para economizar é dormir nas salas reclináveis, como em um ônibus, ou trazendo seu saco de dormir para deitar no chão. Além de não estarem lotadas, você ficará mais protegido do vento gelado que já começa a soprar nesta época.
O solarium do nosso barco, apelidado de "chuvarium", na Inside Passage, trecho entre Sitka e Ketchikan, no sudeste do Alaska
Companhias: são duas companhias que percorrem o caminho entre Alasca e Vancouver Island, no Canadá. Todo o trecho americano da viagem pode ser feito com a Alaska Marine Highway System, eles também conectam a cidade de Bellingham, ao norte de Seattle, o primeiro porto americano dos Lower 48. Se você pretende parar no Canadá e conhecer também a região de Prince Rupert e Vancouver Island a companhia é a BC Ferries.
Dica de Roteiro Alternativo - Vancouver/ Whitehorse/ Inside Passage
Se você não tem muito tempo, mas quer ter um gostinho do Alasca, a dica é programar uma viagem para a British Columbia (Canadá) e dar uma estendidinha de dez dias para ver aurora, ursos, salmões, baleias e o mais a natureza te proporcionar! Uma boa ideia seria voar de Vancouver para Whitehorse no estado do Yukon, onde com sorte você pode ver a Aurora Boreal. De Whitehorse a cidade mais próxima no litoral do Alasca e com conexão via estrada é Skagway, há apenas 177km, por uma belíssima estrada cênica. Alugar um carro ou conseguir um ônibus não deve ser difícil e a partir de Skagway (ou Haines) é só fazer o seu roteiro de ferry pela Alasca Marine Highway e BC Ferry até Vancouver. Para checar informações de transporte rodoviário ou ferroviário o melhor caminho é o website do Yukon Visitor Center ou no White Pass & Yukon Route.
Roteiro Vancouver - Whitehorse - Inside Passage
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