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Santiago de Cuba

Cuba, Santiago de Cuba

A bela vista do Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

A bela vista do Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Por muito tempo Santiago de Cuba foi a principal cidade do país. Tanto que até hoje é a principal sede da Igreja Católica na ilha. Foi palco também de alguns dos principais eventos da luta pela independência, da guerra hispano-americana e da Revolução Cubana. E, ao contrário de Havana, não sofreu um boom imobiliário nas décadas de 30 a 50, de forte influência americana, com seus arranha-céus. Assim, a arquitetura da grande cidade é bem mais fiel às origens.

Táxi em Santiago de Cuba, no leste do país.

Táxi em Santiago de Cuba, no leste do país.


Pois bem, eu e a Ana, assim quis o destino, só tínhamos o dia de hoje para explorar essa cidade tão rica em história e cultura. Isso porque quando fomos comprar nossas passagens de avião de Santiago à Havana, há uma semana, descobrimos que estavam esgotadas. Na verdade, haviam dois últimos lugares, e achamos mais justo que ficassem com a Laura e o Rafa. Afinal, eles voam de volta ao Brasil no dia 25 pela manhã. E nós, que pretendíamos voar para Havana na tarde do dia 24, o que nos daria dois dias por aqui, tivemos de comprar passagens de ônibus mesmo, 14 horas de viagem. Para chegar à Havana ainda no dia 24, vamos viajar durante a noite de hoje. Não podemos nos enrolar para chegar à Havana porque ainda queremos dar um pulo no lado oeste da ilha, na belíssima região de Pinar del Rio.

Porto de Santiago de Cuba, no leste do país. Ao fundo, a famosa Sierra Maestra

Porto de Santiago de Cuba, no leste do país. Ao fundo, a famosa Sierra Maestra


Vista do Balcón de Velázquez em Santiago de Cuba, no leste do país.

Vista do Balcón de Velázquez em Santiago de Cuba, no leste do país.


Bom, comecei o dia então indo na rodoviária para garantir nossas passagens. Na volta, passei por uma vizinhança operária tradicional para visitar a casa de Frank Pais. Esse foi, talvez, a pessoa que mais colaborou com o sucesso da revolução, apesar de tão pouco conhecido fora de Cuba. Jovem estudante, foi ele que organizou toda a luta clandestina em Cuba enquanto Fidel estava no México. Com o desastroso desembarque dos rebeldes do Granma no final de 56, quando quase todos foram mortos ou presos, foi Frank pais que comandou a guerrilha urbana que manteve viva as ideias do movimento revolucionário. Foi também através de sua rede que armas e novos recrutas foram enviados à Sierra Maestra, para formar um novo exército para Fidel.

Comprando ervas e verduras em Santiago de Cuba, no leste do país.

Comprando ervas e verduras em Santiago de Cuba, no leste do país.


Visitando o museu de La Lucha Clandestina, em Santiago de Cuba, no leste do país.

Visitando o museu de La Lucha Clandestina, em Santiago de Cuba, no leste do país.


Mas em Julho de 57 ele finalmente caiu, vítima talvez de traição. Junto com um companheiro, morreram crivados de balas pela brutal polícia de Batista, que já o procurava há muitos anos. O enterro do jovem estudante parou Santiago. Quem me contou os detalhes de sua vida e luta foi a diretora do museu, que está fechado para reformas. Diante da minha decepção em não poder visitá-lo recebi, como “consolação”, uma verdadeira aula. Foi muito legal!

Chegando ao Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

Chegando ao Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Continuei meu giro pela cidade, sofrendo com a poluição dos carros e caminhões que dividem com os pedestres as estreitas ruas do centro. Um verdadeiro martírio. Esses países comunistas, os de hoje (Cuba e China) e os de antes (antigo bloco da URSS), podem se gabar de seu sistema de educação, de saúde, etc, mas na questão ecológica, foram todos desastrosos. O extremo racionalismo de suas decisões macroeconômicas centralizadas só não levavam em conta os possíveis danos ecológicos. A destruição do Mar de Aral, antes um dos maiores lagos do mundo, na antiga URSS, e a gigantesca nuvem de poluição que paira sobre a China e cresce ano após ano são apenas os maiores exemplos (sem contar Chernobyl). Aqui em Cuba, a construção de pontes ligando a ilha a alguns cayos foi um verdadeiro desastre para a ecologia marinha e aviária, interrompendo correntes e o fluxo de água entre baías. Tudo para permitir que turistas chegassem a seus resorts de carro... Bom, voltando a minha caminhada pelo centro, a quantidade de fumaça negra que esses caminhões e ônibus velhos jogam no ar ao nosso lado é desesperadora!

Ao lado do fosso defensivo do Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

Ao lado do fosso defensivo do Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Foi no parque Céspedes que encontrei novamente meus companheiros. Juntos, fomos a um mirante para observar a baía de Santiago, onde está o porto da cidade e, ao fundo, a gloriosa Sierra Maestra. Para ela seguiram os 11 revolucionários que sobreviveram após os primeiros combates com as tropas de Batista. Entre eles, os irmãs Castro, Cienfuegos e Chê. Embrenhados em suas matas, logo começaram a receber reforços de Frank Pais. Sem receber a devida importância do governo Batista, que menosprezou o movimento em seu início, tiveram tempo de respirar e de se estabelecer. Ficaram e agiram basicamente nessa área pelos próximos 23 meses. Com a Radio rebelde, implantada logo por eles, ganharam fama e apoio dentro do país. E com as entrevistas e visitas de jornais estrangeiros, a mais famosa do New York Times, ganharam fama e apoio internacional. O governo Batista acordou tarde demais e quando fizeram uma ofensiva em larga escala para esmagar o movimento, foram brilhantemente derrotados pelas forças muito menos numerosas de Fidel e Che. A incompetência estratégica do exército cubano ajudou muito nisso. Foi aí que os rebeldes passaram para a ofensiva, derrotando a ditadura em dois meses de lutas, colunas lideradas por Che e Camilo Cienfuegos cruzando o país. Assunto para outro post!

O imponente Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

O imponente Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Nós seguimos no nosso passeio, agora visitando o colégio onde Fidel estudou e o antigo quartel da polícia, atacado pelos homens de Frank Pais no dia planejado para o desembarque do Granma. A ideia era atrair a atenção das tropas de Batista para cá, possibilitando que os rebeldes que vinham do México pudessem desembarcar em paz. O plano só falhou porque o Granma se atrasou alguns dias, pesado que estava com o excesso de tripulação e mares bravios. Sem poder avisar do atraso, a “rebelião-disfarce” em Santiago perdeu seu sentido. Mas aumentou bastante o prestígio de Pais entre a população da cidade e também o ódio da polícia secreta contra ele. Esse quartel atacado se tornou, após o triunfo da revolução, o Museu da Luta Clandestina. Mais um ótimo lugar para se aprender sobre a luta de Frank Pais.

Belíssimo pôr-do-sol ao lado do Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

Belíssimo pôr-do-sol ao lado do Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Daí seguimos para a mais famosa construção da região, o Castillo San Pedro del Morro, fortaleza espanhola do tempo da colônia. Além do castelo estar muito bem conservado, o local onde está, no alto de um promontório, é magnífico. Visita obrigatória para quem vai à Santiago. Chegamos já no meio da tarde e emendamos o entardecer ali, o sol se pondo gloriosamente no mar, sendo substituído no céu por uma brilhante lua nova.

O glorioso entardecer no Castillo San Pedro del Morro, ao sul de  Santiago de Cuba

O glorioso entardecer no Castillo San Pedro del Morro, ao sul de Santiago de Cuba


Tudo isso assistimos de camarote, primeiro do alto do Castillo e depois de um restaurante com uma varandona de frente ao mar. Ali conhecemos dois médicos brasileiros em viagem pelo país depois de um mês de estágio em Havana. Muito legal ter conversado com eles sobre a experiência que tiveram, fãs do sistema de saúde do país. Logo depois, chegou mais um casal de brasileiros, lá do Rio Grande do Sul. Assim, lá estávamos nós, oito brazucas tomando cerveja e conversando sobre suas impressões e experiências nesse país único do mundo, utopia comunista que tenta sobreviver num mundo capitalista. Muito legal!

Acomodando-se no porta-malas do nosso carro em Santiago de Cuba, no leste do país.

Acomodando-se no porta-malas do nosso carro em Santiago de Cuba, no leste do país.


Já escuro, na hora de voltar (O castillo está a uns 15 km do centro de Santiago), sem muitas alternativas de transporte público, resolvemos encaixar todo mundo no nosso carro mesmo. Os médicos não pensaram duas vezes e se enfiaram no porta-malas! Fico pensando como reagiria a polícia cubana se visse isso. Talvez nem reclamassem já que vemos todo o tempo caminhões pelas estradas completamente abarrotados de pessoas, os paus-de-arara daqui. Enfim, chegamos ao centro sem problemas e nos despedimos dos novos amigos. Depois, rápido para a pousada e de lá para a rodoviária, onde 14 horas de viagem nos esperavam. O Rafa e a Laura entregarão o carro amanhã e devem nos encontrar em Havana amanhã de noite, se tudo der certo.

Reunião de brasileiros em Santiago de Cuba, no leste do país.

Reunião de brasileiros em Santiago de Cuba, no leste do país.

Cuba, Santiago de Cuba,

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Comentários (1)

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  • 07/03/2016 | 21:23 por Sandra

    Estou preparando minha viagem para Cuba, em maio/2016, e gostei dos relatos da sua viagem! Parabéns!

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