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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Represa no Valle del Elqui, no Chile
Obviamente que o triste episódio do roubo da Fiona mudou nossos planos. Já não mais viajamos nesse sábado, já que tivemos de esperar pelo conserto dos vidros do carro, que só ficaram prontos no meio da tarde. Nesse meio tempo, acabamos descobrindo que nosso amigo Maxi estava aqui na cidade. Maxi é um argentino que viajou com sua esposa pela América de carro, num lindo projeto chamado America Sonrie. Nós os encontramos no México, lá em Playa del Carmen (veja o post aqui). Desde então mantemos algum contato por internet e ontem sua esposa Marianela nos disse que ele estava aqui. Eles moram em San Juan, aqui perto, mas do outro lado doas Andes. Assim como os argentinos do lado oriental do país costumam passar suas férias de verão nas praias brasileiras de Santa Catarina, os argentinos do lado de cá vem ao Chile, já que estão muito mais próximos do Oceano Pacífico que do Atlântico. Na época da economia forte argentina, várias famílias hermanas compraram casas de veraneio em La Serena e a família do Maxi foi uma delas. Justo nesses dias ele veio resolver algumas questões da casa da família por aqui enquanto sua simpática esposa, grávida de sete meses, ficou em casa esperando. E ontem, no meio da tarde, ao descobrir que estávamos em La Serena, tratou de nos botar em contato. Resultado: visitamos o Maxi ontem de noite e tratamos de mudar nossos planos novamente. Pelo menos, dessa vez foi por um bom motivo, hehehe! Combinamos de explorar juntos o Valle del Elqui durante o dia de hoje, domingo, e só viajarmos para o sul no final do dia, depois de deixa-lo novamente em La Serena.
Com o Maxi, vistando a represa no Valle del Elqui, no Chile
Com o Maxi, vistando a represa no Valle del Elqui, no Chile
Todo o norte do Chile é basicamente um grande deserto, espremido entre o mar e os Andes. Aqui e ali, rios que descem dos Andes em direção ao Oceano Pacífico criam vales que atravessam esse deserto, verdadeiros oásis em meio à paisagem árida. Os chilenos aproveitam ao máximo essas áreas verdes, fazendo uso da água e cultivando a terra, principalmente com frutas. São desses vales que saem boa parte das exportações frutíferas chilenas, uvas, pêssegos, melão, maçãs, etc. Um dos mais famosos desses vales verdes é o Valle del Elqui, bem na região de La Serena, um famoso polo turístico nacional. Apesar do pouco tempo, tínhamos de ir lá conhecer, pelo menos para sentir um gostinho. O Maxi sempre passa por lá, pois é esse vale que dá acesso ao Paso Aguas Negras, o caminho mais curto entre La Serena e San Juan, na Argentina e mais uma das belíssimas paisagens sobre os Andes. Mas na sua pressa de chegar à praia, ele e sua família nunca param por lá, então hoje também seria uma boa oportunidade para ele.
Mapa mostrando o Valle del Elqui, próximo a La Serena (norte do Chile), e o Paso Agua Negra, rumo à Argentina
Vista do Valle del Elqui, um oásis verde em meio a paisagem árida do norte do Chile
O Valle del Elqui é uma espécie de “Alto Paraíso” do Chile, atraindo místicos e ufólogos de todo o país. As visões de UFOs são frequentes, assim como a presença das mais variadas seitas e de seguidores da Era de Aquário. Aparentemente, uma estranha energia pulsa por ali. Mas para quem tem os pés no chão, e os olhos no céu, a região também tem seus atrativos. E como! Por ter as condições ideias, atmosfera seca e limpa, o Valle del Elqui possui vários observatórios astronômicos, que atraem renomados pesquisadores internacionais e também turistas, que podem visitá-los nas noites claras para observar Marte, Saturno e estrelas distantes. Infelizmente para nós a semana era de lua cheia, o que não favorece muito esse tipo de observação. Os UFOs também, parece, preferem a lua nova...
Gabriela Mistral, grande dama da literatura mundial, prêmio Nobel em 1945
Para quem prefere o campo das artes ao da magia e dos céus, o Valle del Elqui também tem seus encantos. Afinal, aí nasceu e cresceu Lucila Gogoy Alcayaga, mais conhecida pelo seu pseudônimo Gabriela Mistral. Essa valente senhora foi a primeira pessoa da América Latina a ganhar um prêmio Nobel de Literatura, em 1945. Até hoje, ainda é a única mulher latino-americana a ter sido agraciada com esse prêmio. Foi, inclusive, professora de Pablo Neruda, o outro chileno a ganhar o Nobel (além deles dois, ganharam o Nobel de literatura o colombiano Gabriel Garcia Marques, o peruano Mario Vargas Llosa e um guatemalteco. Brasileiro, chegamos perto com Drummond e olhe lá...). Como tantos outros grandes escritores da região, ela também trabalhou no serviço diplomático, viveu em vários países europeus e teve até uma temporada na nossa Petrópolis. Enfim, para os amantes da boa literatura, são vários os museus homenageando Gabriela espalhados pelas cidades da região.
Visitando a destilaria capel, no Valle del Elqui, no Chile
Destilaria Capel, grande produtora de Pisco, no Valle del Elqui, no Chile
Falando nas cidades, a principal delas é Vicuña e foi para lá que seguimos. No caminho, passamos por uma grande represa, lugar ideal para a prática de windsurfe e kitesurf, um dos programas prediletos da vasta comunidade de mochileiros internacionais que visitam a região. Além desses esportes, também são oferecidos passeios de bicicleta, a cavalo e trekkings que exploram cachoeiras, rios e outras belezas naturais do vale. Nós, que tínhamos apenas o dia de hoje para ver o Elqui, pois estamos com tempo contado até nosso voo para a Ilha de Páscoa, deixamos toda essa programação de lado e seguimos diretamente para Vicuña. Não por causa de sua simpática arquitetura, mas por uma pisqueria instalada nos seus arredores.
Destilaria Capel, grande produtora de Pisco, no Valle del Elqui, no Chile
Destilaria Capel, grande produtora de Pisco, no Valle del Elqui, no Chile
Pois é, essa é mais uma das inúmeras atrações dessa região: o Valle del Elqui é a principal região produtora de pisco, a bebida nacional do Chile. Essa forte bebida, fruto da destilação de vinho, tem teores alcoólicos regulados por lei entre 40% e 50%. Nós fomos à destilaria da Capel, uma cooperativa de pequenos produtores independentes que luta para concorrer com o império econômico da Mistral, a principal exportadora de pisco do mundo. Internamente, as duas disputam o mercado palmo a palmo, o menor fôlego financeiro da Capel sendo recompensado pela maior simpatia que uma cooperativa autônoma e tradicional gera entre as pessoas. A Mistral, pertencente a uma das famílias mais ricas do país que fez seu dinheiro no setor de mineração, até tentou comprar a Capel há uma década, quando a cooperativa estava quase quebrada. Mas uma boa campanha publicitária fez com que o governo intervisse e emprestasse dinheiro aos pequenos produtores e hoje, as duas vizinhas concorrem é pé de igualdade. Isso mesmo, são vizinhas, pois a Mistral também tem suas principais destilarias aqui no Valle del Elqui.
Visitando a destilaria capel, no Valle del Elqui, no Chile
Venda de Pisco na destilaria Capel, no Valle del Elqui, no Chile
Nossa visita à destilaria foi muito legal. Não só para aprender como se faz o pisco (primeiro se faz vinho de uma uva branca bem adocicada, a Moscatel, e depois, se destila esse vinho) e depois saborear algumas de suas melhores marcas, mas também para aprender um pouco de sua história. Como sabem muito bem todos os amantes dessa bebida, existe uma disputa internacional entre Peru e Chile sobre onde e como foi inventada o pisco e a quem, legitimamente, pertence essa marca. O pisco é a bebida nacional dos dois países e no Peru tem até uma cidade importante, portuária, que se chama Pisco. Aliás, estudiosos concordam que o nome da bebida deriva do nome do porto, pois era daí que era exportada, já há vários séculos, essa bebida. Ao chegar aos portos europeus com a marcação do seu porto de origem, a bebida acabou ganhando o mesmo nome. Essa bebida exportada era produzida nesses vales verdes que cortam o deserto, então território peruano. Como a parte sul desse país foi conquistada pelos chilenos na Guerra do Pacífico (1879-1883) e hoje é chilena, acabou sendo gerada a confusão: o pisco é chileno ou peruano? É, para mim, não resta dúvida: a origem é peruana. O que não quer dizer que hoje o Chile não produza excelentes piscos! A discussão se estende também ao cocktail mais famoso derivado do pisco, o Pisco Sour. Os peruanos juram que ele foi inventado por um bartender americano radicado em Lima, em 1921. Já os chilenos, dizem que o criador foi um inglês, na cidade de Iquique, em 1872. Hoje, a cidade é chilena, mas naquela época era peruana. Enfim, deixem eles discutindo enquanto a gente se esbalda em Pisco Sour, seja em Lima, seja em Santiago, hehehe.
Um dos muitos parreirais no Valle del Elqui, no Chile
Chegando à restaurante com cozinhas solares, no Valle del Elqui, no Chile
Bom, a degustação de pisco nos deixou com fome! Dirigimos através de vastos parreirais para chegarmos a outra das atrações do Valle del Elqui: seus famosos restaurantes com fogões solares! Em uma região onde faz sol quase todos os dias do ano, nada mais inteligente que aproveitar a força do sol para tudo, inclusive cozinhar alimentos. Chapas de metal reflexivas e convexas concentram todo o calor do sol em apenas um ponto e aí se colocam as panelas ou qualquer coisa que se queira cozinhar. Funciona que é uma beleza! Batatas, ovos, carne, nada resiste ao calor do astro-rei e rapidamente deixam de ser crus a passam a ser apetitosos!
Uso do sol para cozinhae, no Valle del Elqui, no Chile
Uso do sol para cozinhae, no Valle del Elqui, no Chile
Os restaurantes são abertos e com vista para o vale e suas plantações abaixo. É lindo. Uma sombra e a brisa nos mantem frescos enquanto a comida é cozinhada ao sol. Nós resolvemos testar a especialidade da casa: empanadas de chivito (cabrito) e cordeiro. Como dizem por aqui: muy rico!
Com o Maxi, almoçando em restaurante de cozinha solar no Valle del Elqui, no Chile
Empanada de chivo (bode) em restaurante no Valle del Elqui, no Chile
Agora sim, de barriga cheia, felizes e com um bom gostinho do Valle del Elqui, regressamos para La Serena, deixamos nosso amigo Maxi em casa e seguimos para o sul. A despedida foi só um “até breve”, pois ele nos convenceu a passar em San Juan na volta. A viagem para o sul foi longa, mas em uma estrada muito boa. No caminho, muito deserto e um trecho com uma quantidade interminável de moinhos de vento. Já que não se pode cultivar no deserto, os chilenos trataram de aproveitar o vento, que quase nunca para por ali!
Despedida do Maxi em La Serena, no Chile
Produção de energia eólica na estrada entre La Serena e Valparaiso, no Chile
Chegamos ao nosso destino, Valparaíso, já bem de noite. Deu um certo trabalho encontrar hotel, mas no final, conseguimos. Depois do episódio de Totoralillo, uma garagem para a Fiona passou a ser fundamental e foi isso que nos dificultou. Conto no próximo post...
Olá Rodrigo,
O "chatinho" aqui se sente na obrigação de fazer uma pequena correção, Vargas Llosa é peruano e não equatoriano.
Novamente Parabéns pelo projeto e pelos Posts.
Claudio
(Um mineiro que mora em Campinas)
Resposta:
Oi Claudio
Chato nada!!! Ainda bem que vc está aí para não deixar passar uma barbaridade dessas! Muito obrigado pela correção. Já mudei o texto! Quando vc perceber outro erro desse naipe, por favor, me avise, hehehe!
Um grande abraço para você
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