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Karina (27/09)
Olá, também estou buscando o contato do barqueiro Tatu para uma viagem ...
ozcarfranco (30/08)
hola estimado, muy lindas fotos de sus recuerdos de viaje. yo como muchos...
Flávia (14/07)
Você conseguiu entrar na Guiana? Onde continua essa história?...
Martha Aulete (27/06)
Precisamos disso: belezas! Cultura genuína é de que se precisa. Não d...
Caio Monticelli (11/06)
Ótimo texto! Nos permite uma visão um pouco mais panorâmica a respeito...
Na ruta 40, cuzando o deserto da patagônia rumo à Cueva de Las Manos, na Argentina
Depois do dia explorando o Parque Nacional Los Alerces, nós viemos um pouco mais para o sul, até a cidade de Trevelin, onde dormimos. Trevelin é mais uma daquelas pequenas cidades argentinas que foi fundada por imigrantes galeses (País de Gales!) no final do séc. XIX. Para quem nos acompanha e tem boa memória, vai se lembrar que nós também passamos por Gaiman, bem perto da costa atlântica, e que fiz um post de lá contando a história dessa exótica migração (se quiser rever, o post está aqui).
Centro de visitantes da cidade de origem galesa de Trevelin ("cidade do moinho"), na Argentina
Centro de visitantes da cidade de origem galesa de Trevelin ("cidade do moinho"), na Argentina
Apesar das dificuldades iniciais, a imigração deu tão certo na região de Gaiman e Puerto Madryn que os galeses resolveram expandir o “empreendimento”. Cruzaram o deserto patagônico do Atlântico até os Andes e, por aqui, praticamente na mesma latitude dos assentamentos a leste, fundaram várias vilas. Entre elas, Trevelin, que em galês quer dizer “Vila do Moinho”. Mas foi apenas três décadas após sua fundação, em 1918, que a cidade ganhou o nome com que é conhecida hoje. Foi quando o galês Daniel Evans inaugurou justamente o primeiro moinho de toda a região, facilitando muito a vida dos produtores de trigo. Daí para a cidade ser rebatizada, não demorou muito! A casa de Evans foi transformada em museu após a sua morte e o fechamento do moinho e hoje é a grande atração turística de Trevelin. Outra curiosidade histórica é que aqui foi feito um referendo em 1902 sobre se a região deveria ter soberania argentina ou chilena. As disputas fronteiriças entre os dois países ainda eram acaloradas naquela época (e continuaram a ser até o final do séc. XX!), mas aqui a vitória argentina, no voto, foi esmagadora.
Cruzando o longo e quase plano deserto da patagônia, rumo ao sul da Argentina, ruta 40
Saindo de Trevelin rumo ao sul da Argentina, encontro com outro carro (europeu) de viajantes
Nós tivemos uma noite tranquila, inspirados pelo clima sonolento da pequena cidade de 6 mil habitantes. Hoje de manhã, algumas fotos do centro da cidade e pé na estrada, rumo ao sul. Fomos até a vizinha Esquel, respiramos fundo e retomamos a ruta 40. Seriam mais de 600 km cruzando o deserto patagônico, uma vastidão sem fim ou limites e muito poucos carros na estrada. Quando achávamos um, a chance de ser de outros viajantes continentais era grande. Além dos poucos produtores locais e donos de estâncias, só mesmo turistas para andar por aqui. Até há alguns anos, toda a extensão da estrada era de rípio, mas o governo vem asfaltando a ruta 40 aos poucos e logo será possível cruzar a Argentina de norte a sul, ao lado dos Andes, sem nem empoeirar o carro. É o progresso e conforto chegando e deixando para trás uma época de romantismo e sentimento de exploração.
Bem, pelo menos por hora, ainda há muito rípio por aqui. Um dos perigos desse tipo de estrada é a quantidade de pedras no chão. Quando cruzamos com outros carros, sempre há o perigo de termos os vidros atingidos. Por isso, é costume desacelerarmos quando cruzamos com alguém, além de trocar sinais de luz. Já na hora de ultrapassar, o negócio é não se enrolar muito, não ficar tempo mais do que necessário atrás de alguém. Nós, com carro grande, estamos sempre ultrapassando os carros e estamos bem “espertos” nesse perigo.
A ruta 40 cruta as vastidões quase planas e desertas da patagônia rumo ao sul da Argentina
O vidro frontal da Fiona quebrado por uma pedra na ruta 40, ao sul de Esquel, na Argentina
O que a gente não esperava era ser atingido por uma pedra no asfalto mesmo, por um carro que vinha do outro lado. Ele sim, acabava de sair de um trecho de rípio e acho que ainda trazia alguns detritos. A mais de 150 km/h de velocidade relativa (100 km/h da Fiona e 60 km/h dele), a pedra veio como um tiro, bem no cantinho inferior do para-brisas, do lado da Ana. Pobre Fiona! Resistiu o quanto pôde, mas o vidro rachou. Rachadura pequena, mas a tendência é que vá aumentar com o passar do tempo. Vamos acompanhar... De qualquer maneira, esse evento só nos fez querer tomar ainda mais cuidado nas estradas de rípio que enfrentaremos de agora em diante.
Cruzando o longo e quase plano deserto da patagônia, rumo ao sul da Argentina, ruta 40
Vegetação típica do deserto da patagônia, chegando à Cueva de Las Manos, na ruta 40, na Argentina
É claro que, além dos perigos, há também as belezas. Essa região quase sem sinais da civilização é grandiosa. Na verdade, essa é a patagônia típica. Nada do mar que vemos na ruta 3 (lá no litoral atlântico) ou das montanhas andinas das regiões próximas à fronteira chilena. Não, a paisagem mais típica da patagônia é essa em que viajamos hoje. Uma vastidão quase plana, ligeiramente ondulada, um pequeno vale aqui, uma pequena elevação ali. Vegetação rasteira, pequenos arbustos. Estradas retas por longas extensões. Vento, muito vento. Vento forte. Tenho até pena dos ciclistas por aqui, principalmente quando pegam vento contra ou vento lateral. Em alguns pontos, mesmo a Fiona balança. O horizonte é longe, quase inatingível. A sensação de liberdade nos toma, um mundo sem fronteiras. Mas o mais belo não está ao nosso redor, está acima de nós. O céu da patagônia nos tira a respiração. Ficamos boquiabertos, admirando aquela paisagem que muda sem parar, nuvens se desfazendo e se redesenhando a cada instante. As nuvens são mais altas por aqui, quase nos confins da atmosfera. De alguma maneira, mesmo lá de cima, elas nos hipnotizam, estimulam nossa imaginação. Não sei como explicar, mas simplesmente o céu dessa patagônia é maior do que os outros céus. Talvez por ser capaz de envolver esse horizonte quase infinito que nos rodeia por aqui.
O glorioso céu patagônico na longa jornada entre Esquel e a Cueva de Las Manos, na patagônia argentina
A ruta 40 cruta as vastidões quase planas e desertas da patagônia rumo ao sul da Argentina
Foram mais de 6 horas “flutuando” nesse torpor e terreno mágicos até que chegamos à pequena cidade de Perito Moreno. Não confundir com o Parque Nacional Perito Moreno, não muito longe daqui, e nem com a mundialmente conhecida geleira de Perito Moreno, ainda mais ao sul, no Parque Nacional Los Glaciares (vamos visitar em alguns dias!). A cidade não era nosso destino final hoje, mas estávamos chegando perto. Algumas dezenas de quilômetros ao sul está um sítio arqueológico conhecido como Cueva de Las Manos. É para lá que queríamos ir. Já ouvimos maravilhas desse lugar tão pouco conhecido por nós, brasileiros. Mas é um ponto de parada obrigatório para viajantes overlanders. A cidade mais próxima é justamente Perito Moreno e fomos direto ao centro de informações. Queríamos saber sobre pousadas lá perto. Queremos já acordar por lá, para um longo dia de explorações. Mas a simpática mocinha que nos atendeu não sabia de nada, nem de pousadas, nem de estradas, nem de horários, nem de telefones. Então, meio no escuro, resolvemos arriscar e continuar.
Região semi-desértica onde está a Cueva de Las Manos, a leste da ruta 40, na patagõnia argentina
Região semi-desértica onde está a Cueva de Las Manos, a leste da ruta 40, na patagõnia argentina
O “escuro” se refere às informações, e não à luz propriamente dita. Cada vez mais ao sul, o dia está mais e mais longo. Saímos de Perito Moreno depois das 19:00 e o sol ainda ia alto. Que delícia é isso de ter um dia com mais de 16 horas de luz. Rende muito mais! Enfim, arriscávamos tudo por uma estância transformada em pousada e que estaria bem mais próxima da Cueva de Las Manos. Para se chegar à Cueva de carro, temos de ir até Bajo Caracoles, 130 km ao sul de Perito Moreno (há locais para dormir aí) e tomar outra estrada para o norte, paralela à Ruta 40, por mais 45 quilômetros.
Um "atalho" em direção à Cueva de Las Manos, na patagônia argentina
A simpática Estancia Cueva de Las Manos, no coração da patagônia argentina
Mas há uma alternativa a esta volta toda, apesar do Google Maps não saber. Justamente através da estância que queríamos achar! E então, foram com os dedos cruzados que dirigimos por 60 km em direção ao sul, a partir de Perito Moreno. Foi aí que encontramos a placa mágica e salvadora na estrada! Cansados depois de um dia inteiro na estrada, a placa foi mesmo um colírio para os olhos. Se virássemos ali, seriam cinco quilômetros de terra até a estância. De lá, outros 17 km de terra nos levariam até a borda de um canyon de onde poderíamos ver a Cueva de Las Manos do outro lado. Um belo trekking de 40 minutos nos levaria até lá. A alternativa seria mais 110 km de estrada, tudo asfaltado, até a Cueva de Las Manos, com Bajo Caracoles no meio do caminho. Não foi difícil tomar nossa decisão...
A simpática Estancia Cueva de Las Manos, no coração da patagônia argentina
A simpática Estancia Cueva de Las Manos, no coração da patagônia argentina
Então, foram outros 5 quilômetros de dedos cruzados, torcendo que a estância estivesse aberta e que houvesse lugares para nós. Bingo e bingo! Chegamos a uma pousada simples e charmosa, no meio do nada, no coração da patagônia típica que eu descrevi alguns parágrafos acima. Nossa aposta não poderia ter sido melhor! Agora só faltava encontrarmos comida. Bem, já não mais faltava! A pousada oferecia uma jantar delicioso, com direito à sopa, prato principal e, claro (estamos na Argentina!), vinho de boa qualidade. Final perfeito para um dia tão bom (exceto pelo vidro da Fiona). Mas esse, na verdade, ainda não foi o fim...
Decoração no jardim da Estancia Cueva de Las Manos, na patagônia argentina
O charmoso bar-restaurante da Estancia Cueva de Las Manos, na patagonia argentina
Não, o fim do dia estava sobre nossas cabeças. Já falei sobre o céu da patagônia durante o dia, mas ele tem um outro lado. É o céu noturno, com suas milhares de estrelas e uma das Via Lácteas mais visíveis desses 1000dias. Longe de qualquer luz humana e com um céu desse tamanho, não é de se estranhar que a noite fosse tão espetacular por aqui. Mas, para nossa surpresa, mesmo sendo bastante otimistas, ela é ainda melhor. Para mim, tão ligado ao passado (o meu e o dos outros), só podia ficar pensando que aquele céu que eu admirava agora era o mesmo céu que, por incontáveis gerações, fora admirado pelo povo que 9 mil anos atrás pintou as maravilhas que vamos ver amanhã na Cueva de Las Manos. Como sei disso? Simples! Naquele tempo, assim como hoje, não há coisa mais inspiradora para se fazer por aqui durante a noite do que se embasbacar com o espetáculo de luzes sobre nossas cabeças. Essas estrelas nos levam até eles e os 9 mil anos desaparecem num instante! Amanhã vamos saber mais sobre eles, mas essa noite estrelada, de alguma maneira, já nos colocou juntos.
Jantar com sopa e vinho no restaurante da Estancia Cueva de Las Manos, na patagonia argentina
Exatamente o que eu procurava sobre vidros, obrigada
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